14 Anos de Silêncio: A \"Guerra ao Terror\" e a Tragédia dos Refugiados no Oriente Médio

Share Embed


Descrição do Produto

11/09/2015

SRZD | 14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio | Notícia | Mundo

Login Cadastro Anuncie Fale Conosco

Home

Carnaval

Arte e Fama

FutRJ

Esportes

Rio+

Brasil

Mais

Blogs

Home > Editorias > Mundo

11/09/2015 08h38

14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio Carlos Frederico Pereira da Silva Gama* But it's been 14 years of silence It's been 14 years of pain It's been 14 years that are gone forever And I'll never have again... Guns N'Roses, "14 Years" Na quinta-feira, véspera de mais um aniversário dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, Austrália, Canadá, França e Reino Unido fizeram anúncios idênticos. Os quatro países - membros da aliança militar OTAN e importantes aliados dos Estados Unidos na "guerra ao terror" iniciada há 14 anos - anunciaram que receberão dezenas de milhares de refugiados em fuga da guerra civil na Síria. A Austrália prometeu receber imediatamente 12 mil refugiados. A França, 24 mil. O Reino Unido, 20 mil (nos próximos 5 anos). O Canadá, 10 mil até o fim de 2015. Os governos dos quatro países foram duramente criticados ao longo de 2015 por dificultar a chegada de refugiados. Desde 2012, 2 milhões de pessoas deixaram a Síria, fragmentada entre as forças leais ao ditador Bashar Al-Assad e inúmeros grupos rebeldes, dentre os quais o mais infame é o "estado islâmico" ou ISIS, atualmente controlador de grandes porções dos territórios de Síria e Iraque. O conflito sírio já ceifou as vidas de 300 mil pessoas. O êxodo massivo de refugiados do conflito sírio é considerado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) uma catástrofe humanitária. A estimativa do ACNUR para atender os refugiados era de US$ 1,3 bilhão. Apenas 1/3 desse valor foi obtido até o momento. O destino mais comum dos refugiados é a Europa. Desde janeiro, 340 mil pessoas entraram no território da União Europeia fugindo do governo Bashar ou dos grupos rebeldes. As promessas de Austrália, Canadá, França e Reino Unido foram bem-recebidas, especialmente por ONU e UE, organismos internacionais contestados. A ONU, completando 70 anos, é considerada lenta, cara, ineficaz. A EU teria padrões duplos para refugiados. Além de privilegiar ex-colônias, haveria resistência em aceitar pessoas oriundas do Oriente Médio no ano do "Je Suis Charlie" e do fortalecimento de movimentos políticos fascistas e de extrema-direita - o Pegida na Alemanha, o Front National na França, a Aurora Dourada na Grécia, o UKIP no Reino Unido e o Jobbik na Hungria. A Europa-fortaleza, livre de "indesejáveis", é o espectro que paira sobre as crises simultâneas na maior parte dos estados-membros da UE.

http://www.sidneyrezende.com/noticia/254709

1/5

11/09/2015

SRZD | 14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio | Notícia | Mundo

Ao mesmo tempo em que prometiam acolher refugiados - por vezes, no mesmo discurso -, Austrália, Canadá, França e Reino Unido anunciaram sua participação em ações militares no Oriente Médio. Os quatro farão parte do grupo de estados que bombardeia (ilegalmente, pelos padrões internacionais) Síria e Iraque. O Reino Unido, num ataque de drones, acaba de matar um cidadão britânico acusado de ser recrutador do "estado islâmico" - assassinato seletivo que viola tanto leis internacionais quanto leis britânicas referentes a seus cidadãos. Em meio a flashbacks do dia 11 de setembro de 2001, o fracasso da "guerra ao terror" é visível. A guerra que seria travada contra terroristas "onde quer que se encontrassem". A guerra "sem limites" na qual haveria uma escolha a ser feita - "conosco ou com os terroristas". A guerra iniciada por George W. Bush em meio à fumaça dos escombros do World Trade Center - onde jaziam 3 mil inocentes de 90 diferentes estados, vítimas de Osama Bin Laden e colegas de AlQaeda - multiplicou a contagem dos mortos, além de um arsenal de horrores - tortura, tratamentos cruéis, inumanos, degradantes e humilhantes, rotineiramente praticados em lugares como Guantánamo e Abu Ghraib. No dia seguinte aos atentados, a ONU aprovou unanimemente o uso da força contra a Al-Qaeda no Afeganistão. 220 mil afegãos morreriam. Bin Laden não seria nem capturado, nem levado à justiça. Em 2003, o Iraque seria invadido ilegalmente por uma coalizão liderada pelos EUA de Bush e pelo Reino Unido de Tony Blair. Baseada em mentiras - relatórios forjados de armas de destruição em massa em posse do ditador Saddam Hussein - a invasão matou 1 milhão de pessoas e forçou outros 4 milhões a sair de suas casas no Iraque ou procurar refúgio nos países vizinhos. Diante de números e efeitos devastadores, discursos de uma guerra "ao terror" se tornaram trágicos, inúteis e inconvincentes. A permanência da retórica "anti-terror" fortalece o extremismo e dificulta decisões no plano internacional - como na catástrofe humanitária na Síria. Barack Obama foi eleito em meio a uma crise econômica com três promessas: além de acabar com a crise, retirar os EUA de Iraque e Afeganistão - revertendo a herança maldita de Bush. Sete anos depois, os EUA estão de volta aos dois estados, bem como a OTAN. Não foi criado um arcabouço político-jurídico que defina o terrorismo como um crime internacional, ou como ameaça à paz e segurança internacionais, nos termos da ONU. A crise persiste, amplificada. Bin Laden seria morto em 2011 no Paquistão - aliado dos EUA na "guerra ao terror". Um dos trunfos do primeiro governo Obama (e de sua secretária de estado Hillary Clinton), a perseguição e execução do líder da Al-Qaeda levou a 90 mil mortes em ataques de drones no território paquistanês. O rastro da "guerra ao terror" de 2001 leva até a Síria e o Iraque de 2015. Além de inviabilizar diversas formas de organização social duradoura, a longa invasão transformou a região num oásis para jihadistas. O ISIS ("estado islâmico no Iraque e Síria", em inglês), dissidência da Al-Qaeda, é o mais bem-sucedido exemplo. Muitos jihadistas, ironicamente, são cidadãos norte-americanos e britânicos. Alimentada por discursos extremistas, a espiral de violência de 2001 se multiplicou. No momento em que Obama buscava retirar as tropas dos EUA do Iraque, a Primavera Árabe eclodia na Tunísia, depois Egito, Líbia, Marrocos, chegando à Síria. A contestação política da ditadura Bashar foi considerada, pelos membros da OTAN, como oportunidade para mudança de regime via invasão (como ocorrera na Líbia em 2011, onde a ONU autorizou o uso da força para proteção de civis).

Mais Lidas

Mais Comentadas

14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio

Homem 'sequestra' amiga para mostrar perigos de encontros às cegas

Papa simplifica procedimentos para anular casamentos católicos

Federação suíça vai doar a migrantes 455 euros por cada gol marcado em campeonato

Descoberta nova espécie do gênero humano: Homo Naledi

O conflito sírio se tornou um microcosmo da "guerra ao terror" na atualidade, com destaque para o impasse no Conselho de Segurança da ONU. Rússia (aliada da Síria, a qual apoia militarmente) e China buscam evitar intervenções externas na região sem, porém, propor alternativas. Reino Unido e França (ex-potências coloniais) apoiam a iniciativa dos EUA de bombardear a Síria e o Iraque como se fosse 2003. Pano de fundo desse impasse, a catástrofe humanitária aumenta a cada dia. As dezenas de milhares de refugiados que membros da OTAN prometem acolher em 2015 foram produzidas por decisões políticas anteriores que persistem. Se há esperança de mudar esse quadro, depende da dura contabilidade da crise. Cabe aos responsáveis assumir seu quinhão na catástrofe. 1,5 milhão de mortos e 6 milhões de refugiados. Dentre eles, Aylan Kurdi. Além dos holofotes da mídia mundial e da comoção nas redes sociais (que aumentou o volume de

http://www.sidneyrezende.com/noticia/254709

2/5

11/09/2015

SRZD | 14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio | Notícia | Mundo

doações às ONGs humanitárias), o menino Aylan encontrou silêncio nas praias gregas/europeias. Além do silêncio da morte de uma criança, que cala fundo as expectativas de futuros sustentáveis. Havia um segundo silêncio, sobre sua condição de refugiado da guerra na Síria. Não se tratava de um "imigrante", como insistiram tanto a imprensa quanto o governo da França. Havia um terceiro silêncio, sobre sua condição de vítima da indiferença internacional e de perseguição política doméstica. Aylan era membro de uma minoria étnica - os curdos perseguidos em todos os estados da região (incluindo a Turquia - membra da OTAN - e a própria Síria). A comunidade internacional continua negando aos curdos o que lhes foi prometido há 100 anos, durante a Primeira Guerra Mundial: o direito de autodeterminação. Um quarto silêncio não seria o último: os estados que prometem acolher refugiados da Síria estão bombardeando o território onde Aylan habitou seus poucos anos. Novos mortos, novos deslocados internos, novos refugiados se seguirão. Mesmo estados que não estão participando dos bombardeios e que mantêm uma distância segura da "guerra ao terror" têm contradições para lidar com a crise humanitária. Como Alemanha e Brasil. A primeira-ministra Angela Merkel sofreu grande pressão da sociedade civil para acolher mais refugiados após a divulgação de fotos dramáticas do menino Aylan e grupos de refugiados obrigados a deixar o território da Hungria na fronteira com a Áustria. Em 2015, Merkel ocupou as manchetes de todo o mundo ao fazer uma menina palestina chorar, num programa de TV. Apesar de se solidarizar com a situação da criança, a mandatária disse que não poderia acolhê-la em seu país. Em 2015, a Alemanha acolheu 450 mil pessoas provenientes da Síria e Iraque. Mesmo assim, Merkel foi alvo de críticas. A mandatária conseguiu reverter, em parte, a percepção pública de indiferença diante dos refugiados ao acolher 20 mil pessoas fugindo da Síria apenas no último fim de semana. O mesmo ocorreu no Reino Unido, após David Cameron comparar os refugiados com uma praga. O discurso similar ao utilizado por fascistas e extrema-direita arranhou a imagem do recém reeleito primeiro-ministro. A promessa de acolher 20 mil refugiados em 5 anos trouxe calma momentânea. Por sua vez, Dilma Rousseff afirmou que o Brasil está "de braços abertos" para receber refugiados da Síria e criticou países (como a Hungria e a República Tcheca) que "erguem barreiras". Dilma afirmou que o menino Aylan foi morto por essas barreiras, erguidas pelos estados europeus. O Brasil acaba de acolher 2 mil refugiados da Síria (o maior número, na América Latina). O total de refugiados que o país acolheu em 2014 (8 mil) é o maior de sua história. Ao mesmo tempo, o Brasil no governo Dilma foi responsável pela menor contribuição, dentre as 10 maiores economias do mundo, para a crise humanitária na Síria. A verba já modesta em 2012 (US$ 500 mil) foi reduzida à metade em 2013 e manteve-se baixa em 2014 (US$ 300 mil). O Itamaraty justificou os valores como resultado de cortes orçamentários. Vale lembrar que, em dezembro de 2014, a ONU pediu a seus membros US$ 8,4 bilhões para lidar com as crises na região. Os números do Brasil estão longe de impressionar. Acolhemos mais refugiados que Grécia e Portugal, mas bem menos que a Austrália e o Canadá, países mais distantes do Oriente Médio que o Brasil. O discurso de que a "Europa" fechou suas portas aos refugiados e o Brasil "abre seus braços" não corresponde à realidade, mas é confortável. Ao associar a solidariedade com refugiados com responsabilidades históricas (na Síria, ex-colônia de países europeus), o Brasil, país emergente sem pretensões imperais, transforma suas decisões em altruísmo e não se dispõe a fazer mais. A situação de Dilma é mais confortável do que a dos colegas. Os primeiros-ministros de Austrália, Canadá, França, Reino Unido e Alemanha enfrentam intensa contestação doméstica. A sociedade britânica considera que acolher 20 mil refugiados (em 5 anos) num país de 60 milhões de habitantes significa pouco. Dilma tem na Síria um dos poucos temas de sua política externa que não lhe anda causando dores de cabeça. Acolher 2 mil pessoas (num universo de 2 milhões) não motiva protestos (ainda que ONGs brasileiras questionem esses números, diante de uma demanda bastante maior). Esse conforto, porém, tem alto preço - tanto para os refugiados como para um país emergente. Os números brasileiros parecem satisfatórios porque a pressão da opinião pública e a ação da

http://www.sidneyrezende.com/noticia/254709

3/5

11/09/2015

SRZD | 14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio | Notícia | Mundo

sociedade civil são menores que em outros lugares. O desinteresse pela situação dos refugiados (em particular) e por questões internacionais (em geral) deveria ser motivo de vergonha, não de alívio. Desinteresse preocupante, ao vermos armamento brasileiro utilizado na guerra civil da Síria. Mesmo fora da "guerra ao terror" e se propondo pacifista, o Brasil é um grande exportador de armas leves. Refugiados não são um "problema europeu" do qual podemos ficar confortavelmente distantes. Países como o Brasil - que lutam por mais espaço nas questões internacionais e que criticam o conservadorismo dos poderes tradicionais - não podem se conformar com pouco. Fazer pouco autoriza o conforto dos que fazem mais e diminui o efeito de críticas. Se pretendem mudar estruturas internacionais, emergentes têm que fazer mais do que poderes já estabelecidos. O Brasil de 200 milhões de habitantes (como outros BRICS) decerto pode fazer mais em favor dos refugiados. Oportunidades não devem ser perdidas - especialmente no caso brasileiro, que acolheu milhares de pessoas oriundas do Império Otomano no século XIX, boa parte delas advindas da região atualmente ocupada pela Síria. Essas pessoas trouxeram contribuições inestimáveis à vida do país. O mesmo continua valendo em 2015. Haja vista o interesse em acolher refugiados em grande número por parte da Alemanha - país que, como o Brasil, jamais colonizou a região. A solidariedade abstrata das palavras de soberanos têm prazo de validade curto para 2 milhões de pessoas expulsas de casa. Desprovida de números e decisões, a solidariedade permanece fronteirizada nas zonas de conforto, onde braços abertos são insuficientes. A derrota da "guerra ao terror" continuará ampliando sua contagem enquanto o silêncio se reproduzir na comunidade internacional. Quem cala, consente. Leia também: - 11 de setembro: Obama decreta três dias de oração em homenagem às vítimas do atentado

*professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins e pesquisador associado do BRICS Policy Center, em colaboração voluntária ao SRZD Curta a página do SRZD no Facebook: Curtir

Compartilhar Paula Olivieri, Rômulo Diego Moreira e outras 34.880 pessoas curtiram isso.

Comentários

0

de 0

Comentar

Nome: Email:

Responda a pergunta da imagem Isso evita spams e mensagens automáticas.

enviar http://www.sidneyrezende.com/noticia/254709

4/5

11/09/2015

SRZD | 14 anos de silêncio: A 'guerra ao terror' e a tragédia dos refugiados no Oriente Médio | Notícia | Mundo

Últimas notícias em Mundo

11 de setembro: Obama decreta três dias de oração em homenagem às vítimas do atentado

Carnaval

Arte e Fama

FutRJ

Esportes

Rio+

Carnaval/RJ Carnaval/SP Carnaval/BA Carnaval/ES Carnaval/MG Carnaval/RS Carnaval Virtual

Blog da Ana Carolina Garcia Blog do Cláudio Francioni Blog do Nyldo Moreira Blog do Octavio Caruso Blog da Ticiana Farinchon

Blog do Carlos Molinari

Futebol Americano Blog do Aloisio Villar Blog do Hélio Ricardo Rainho Blog do Hélio Rodrigues

Brasil

Mais Economia Mundo Viagem e Turismo Chico Rezende Games Homem Bombando na Web

Blogs Aloisio Villar Aloisio V. - Flamengo Ana Carolina Garcia Ana Cristina Von Jess Cadu Zugliani Carlos Molinari Carlos Nicodemos

© 2006-2014. Todos os direitos reservados ao SRZD. Este material não pode ser publicado, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização. XCMS Publicador de notícias ByJG.

http://www.sidneyrezende.com/noticia/254709

5/5

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.