2014 - RESTRIÇÕES GRAMATICAIS DO CODE-SWITCHING EM AKWE XERENTE/PORTUGUES: CS DENTRO DE CONSTRUÇÕES VERBAIS COMPLEXAS

Share Embed


Descrição do Produto

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2014) 

954 - 958

RESTRIÇÕES GRAMATICAIS DO CODE-SWITCHING EM AKWEXERENTE/PORTUGUÊS: CS DENTRO DE CONSTRUÇÕES VERBAIS COMPLEXAS Rodrigo MESQUITA1; Silvia Lúcia Bigonjal BRAGGIO (orientadora) [email protected]; [email protected] Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da Faculdade de Letras – Universidade Federal de Goiás Órgão financiador: CNPq, processo 140682/2011-2 Palavras-chave: contato linguístico; língua akwe xerente; code-switching; restrições gramaticais. INTRODUÇÃO Algumas restrições sintáticas quanto à ocorrência do code-switching (CS) foram propostas em estudos sobre o assunto realizados ao longo dos anos. Assim, considerando as configurações tipológicas das línguas xerente (Jê) e portuguesa, aplicamos algumas análises recorrentes que foram realizadas em outros pares de línguas com tipologias diversas. Neste trabalho discutimos uma delas, ou seja, CS no interior de construções verbais complexas. Consideramos, para efeito de análise, as noções de língua matriz (ou matrix language - ML) e língua encaixada (ou embedded language – EL) tais como propostas por Myers-Scotton (1993a). Conforme a autora, as línguas em contato dentro do CS possuem posições assimétricas, sendo a ML responsável por fornecer o quadro sintático no qual a EL é encaixada. Esta exposição é parte de um estudo maior, ainda em desenvolvimento, que procura investigar os aspectos gerais do CS entre o referido par de línguas e que, além dos aspectos gramaticais, considera os aspectos sócio-históricos e a atual situação sociolinguística dos Xerente. Partimos do pressuposto de que o amplo 1

Bolsista do CNPq, processo 140682/2011-2 e integrante do Projeto LIBA - Línguas Indígenas Brasileiras Ameaçadas, sob a coordenação da Profa. Dra. Sílvia Lúcia Bigonjal Braggio.

Capa

Índice

954

entendimento do CS e do modo de vida bilíngue do povo akwe pode ajudar a elucidar se há conflitos diglóssicos revelados na prática deste e outros fenômenos linguísticos. CODE-SWITCHING DENTRO DE CONSTRUÇÕES VERBAIS COMPLEXAS Segundo Timm (1975, apud. REDOUANE, 2005, p. 1922), os code-switches entre verbos auxiliares e principais e ainda entre verbos finitos e formas verbais adjacentes no infinitivo foram considerados malformados em análises específicas. Conforme Sousa Filho (2007), há em xerente construções seriais constituídas por mais de um verbo, como no exemplo:

(1)

toka

tza

-kadur(i)-kazum(ã)-pibumã

nõz

você 2FUT.IMP.IRRE milho

2-pegar-socar-PRPS

‘Você vai pegar milho para socar.’

(SOUSA FILHO, 2007, p. 144)

No entanto, estas construções parecem ser pouco produtivas na língua e não possuem correspondentes em nosso corpus, em ocorrências de CS. Ao contrário, o português

apresenta

inúmeros

estudos

(RIBEIRO,

1993;

BORBA,

1996;

GONÇALVES e COSTA, 2002; MACHADO VIEIRA, 2004, entre outros) que demonstram a produtividade de estruturas perifrásticas na língua. A estrutura com verbo auxiliar aparece em alguns exemplos onde o português é a ML com inserções ilhas de ELxerente ((2) e (3)) ou mesmo em ilhas de MLportuguês (4) :

(2)

aluno tahã wapte [...], so rowahã-ku, mais... [tanere

pikõ

pode ta trênano]

aluno aquele jovem só tarde-ALA mas enquanto isso mulher pode estar treinando rmakrãr até amzumre, ar rowahãku ambâ si. manhã

até meio-dia

e

tarde

homem somente

‘Os alunos jovens (...), só à tarde, mas... enquanto isso as mulheres podem estar treinando de manhã até meio dia, e à tarde só os homens.’

Capa

Índice

955

(3)

eu vou comer kri-pra. Eu vou comer casa-INES ‘Eu vou comer na (dentro da) casa’

(4)

ti-respeita! kutõr-kba

wa [tu vai sabê comigo].

1-respeitar perder/acabar-2NSG CONJ tu vai saber comigo ‘Me respeite! Quando acabarem, tu vai saber comigo’. Nosso corpus é composto de 1.064 exemplos de CS, com configurações tipológicas diversas. Deste total, apenas um exemplo parece contrariar a restrição proposta. Como segue, há um switch envolvendo o verbo português ‘poder’, na forma finita com marca da terceira pessoa do singular, tempo presente do modo indicativo, juntamente ao verbo xerente mme (‘falar’) sem qualquer especificador, o que coloca esse verbo na forma infinitiva:

(5)

[pod(e)

mme],

poder.3SING falar

sazê(i) kõd i-kmã aconpanhãt.

mais da-t

mas 3-ERG confiar NEG 1-POSP acompanhante

‘Pode falar, mas ele não me escutou, acompanhante’. Cabe ainda uma observação quanto às estruturas formadas com o verbo ir que são recorrentes no português e que, no CS, ganham uma configuração diferenciada. Segundo Oliveira (2008), o verbo ir funcionando como verbo auxiliar contempla, pelo menos, construções que caracterizam o futuro do presente, futuro de pretérito e pretérito imperfeito.

As categorias que especificam o verbo em

xerente são expressas através da expressão TAMP, em que estão marcados o tempo, aspecto, modo e pessoa (SOUSA FILHO, 2007). Assim, há uma diferença fundamental quanto à marcação de tempo nas duas línguas que dificulta a correspondência entre formas verbais complexas, mas que proporciona construções em que o tempo é marcado na expressão TAMP e é seguido por um verbo principal em português:

(6)

r

-za ku

tmã arrumá.

coisa (TC) 3-FUT CIT ALA arrumar.

Capa

Índice

956

‘Diz que a coisa vai arrumar’.

(7)

-za vencê, w

mamãe?!

3-FUT vencer MD (CONF) mamãe ‘Vai vencer (funcionar), não é mesmo mamãe?!’ O morfema –za também marca, em xerente, o habitual imperfectivo e tem comportamento similar à marcação do futuro combinada com verbos de ação portugueses.

(8)

diret

-za

liga.

Direto (sempre) 3-HAB.IMP.IRRE ligar ‘Direto ele está ligando.’(‘Está sempre ligando’). Callahan (2004) demostra a possibilidade de ocorrência de CS entre construções verbais complexas inglês-espanhol com 24 contraexemplos. A autora argumenta, inclusive, sobre a possibilidade de haver um critério relativo à direcionalidade, segundo o qual o padrão espanhol>inglês (16 ocorrências) facilitaria o CS dentro das construções em relação ao padrão inglês>espanhol (8 ocorrências). Com apenas um contraexemplo, com MLportuguês, podemos afirmar que esta restrição é mais forte no par xerente-português. CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado das análises aponta para o reconhecimento da restrição quanto à ocorrência de CS dentro de construções verbais complexas aplicada ao par xerenteportuguês. No entanto, identificou-se um contraexemplo, o que é suficiente para justificar uma maior atenção aos fatores que o tornam possível, sejam eles de ordem gramatical ou sócio-pragmática. Isso deverá ser esclarecido em trabalhos futuros. Desta forma, este estudo contribui para a teoria geral sobre o contato entre as gramáticas de línguas tipologicamente distintas dentro do CS intrassentencial e, em particular, para as configurações do contato (assimétrico) entre as línguas xerente e portuguesa.

Capa

Índice

957

REFERÊNCIAS BORBA, Fransisco da S. Uma gramática de valências para o português. São Paulo: Ática, 1996. CALLAHAN, Laura. Spanish/English Codeswitching in a Written Corpus. Amsterdan / Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2004. GONÇALVES, Anabela P. M. & COSTA, Teresa da. (Auxiliar a) Compreender os verbos auxiliares: descrição e implicações para o ensino do Português como Língua Materna. Lisboa: Colibri, 2002. MACHADO VIEIRA, Marcia dos Santos. Perífrases verbais: o tratamento da auxiliaridade. In: VIEIRA, S. & BRANDÃO, S. (orgs.). Morfossintaxe e ensino de Português: reflexões e propostas. Rio de Janeiro: In-Fólio, 2004, p. 65-96. MYERS-SCOTTON, Carol. Duelling Languages: Grammatical Structure in Codeswitching. Calendon Press: Oxford, 1993a. OLIVEIRA, Vinicius Maciel de. A gramaticalização do verbo ir em predicações complexas. In.: Cadernos do CNFL, Vol. XI, nº 12. Rio de Janeiro, 2008, p. 34-45. RIBEIRO, Ilza. A formação de tempos compostos; a evolução histórica das formas ter, haver e ser. In: KATO, M. & ROBERTS, I. (orgs.) Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: UNICAMP, 1993, p. 342-386. REDOUANE, Rabia. Linguistic Constraints on Codeswitching and Codemixing of Bilingual Moroccan Arabic-French Speakers in Canadá. In.: COHEN, James; McALISTER, Kara T.; ROLSTAD, Kellie; MAcSWAN, Jeff. (eds.). Proceedings of the 4th International Symposium on Bilingualism. Somerville, MA: Cascadilha Press, 2005, p. 1921-1933. SOUSA FILHO, Sinval Martins. Aspectos Morfossintáticos da Língua Akwén-Xerente (Jê). Tese de doutorado. Goiânia, GO: Universidade Federal de Goiás, 2007.

Capa

Índice

958

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.