2015 começa sob a égide do descontentamento surdo – e por enquanto praticamente mudo (artigo MBC Times)

September 21, 2017 | Autor: Rodrigo Contrera | Categoria: Political Science, Politics
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2015 começa sob a égide do descontentamento surdo – e por enquanto praticamente mudo
Rodrigo Contrera
2015 começa sob a égide do descontentamento.
Todos ou praticamente todos os manuais de escrita de artigos ou crônicas dizem que não se pode – ou não se deve – começar um artigo ou crônica com a frase do título. Preciso, neste momento, discordar. Por um motivo óbvio: isso é óbvio.
Dilma reassume a presidência hoje, após articulações infindas para montagem dos ministérios e detalhes dantescos a ela relativos, sem o apoio de praticamente metade da população brasileira, que votou em seu contendor, e de muitos formadores de opinião, que tentaram, sem sucesso, capitalizar o descontentamento em movimentos radicais ou de matiz que se provou quase fascista.
Essa ausência de apoio, que pode por alguns ser minimizada por meio de argumentações baseadas em pesquisas de opinião ou coisas que o valha, é extremamente perigosa por traduzir-se num descontentamento que aparentemente ainda não assumiu uma voz específica na opinião pública. Ou seja, embora quase metade da população não esteja contente, ninguém parece ouvir esse queixume, e isso porque ninguém, ao menos aparentemente, não consegue traduzi-lo em palavras e demandas.
O noticiário relativo à nova posse deixa claro o clima de déjavu. Tudo parece como era antes. Tudo parece que vai continuar o mesmo. Mas todos sabem que não pode continuar. E muitos sabem que querem algo que, ao menos aparentemente, Dilma não está disposta a oferecer. Esses muitos, claro, são os que votaram em Aécio – e este pensa bem diferente, com respeito a muitos assuntos, do que o PT. O PT, que faz 35 anos, está em grande medida em crise, também; e não se sabe muito bem o que ele pode fazer para se reerguer em imagem – especialmente com respeito à classe média e jovem, que, durante a eleição, aderiu em peso contra o partido.
O ano será visivelmente turbulento de diversas formas. Na economia, como todos sabem. Na política, também, pelas defecções recentes no PT e por questionamentos éticos diversos, inclusive os que envolvem a relação do governo com os recentes escândalos que afetam a Petrobras. Mas outros aspectos também podem ser ressaltados, além dos da economia e da política: a ausência de política econômica de resultados efetivos e a ausência de opção a ela, por parte do governo, parece fazer crer que o governo petista não sabe aonde se direcionar. E, como corolário a todos esses problemas, a insistência do novo governo Dilma em descumprir promessas de campanha podem socavar ainda mais um apoio que desde já é bastante frágil.
Alguém pode se perguntar: mas e daí? Afinal, a política não é, afinal de contas, determinada por satisfações resultantes do desempenho econômico do país e de acertos com grupos de influência na sociedade, por meio de conluios de poder diversos e toma lá-dá cá de âmbito geral? Pode ser. Ocorre que a história recente já mostrou: descontentamentos focalizados podem acabar sendo incontroláveis e se traduzir em movimentos cujas consequências são imprevisíveis – especialmente a longo prazo.
Daí o conselho de sempre: nunca deixe certas mensagens internas aos envolvidos em qualquer relação passarem despercebidas e sem expressão concreta. Pois um dia elas podem vir à tona e causar um prejuízo em última instância incalculável. Isso vale para país, estado, município, bairro, condomínio, relações familiares e – pasmem alguns – relações amorosas existentes ou mesmo mal-sucedidas (ou mal-resolvidas, apenas).

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