4Laps: Desenvolvimento de uma linguagem de performance para quarteto de laptops

May 31, 2017 | Autor: James Correa | Categoria: New Interfaces for Musical Expression, Contemporary Music, Live Electronic Music
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4Laps: Desenvolvimento de uma linguagem de performance para quarteto de laptops Dr.James Correa, Dr.Rogério Constante, Ms.Jorge Meletti e Ms.Carlos Soares LabComp - Centro de Artes - Universidade Federal de Pelotas

In 2011 we create the laptop quartet 4Laps with the idea to offer a conception of performance where the physical gesture and the musical gesture are organic related. This conception demands the dissolution of the boundaries between performance, composition and instrument making. This paper discuss how this conception of performance is forging the 4Laps quartet's creative process, a mix of instrument building, composition and performance. Our research is now focus in the investigation of the game controller wiimote and the computer keyboard as gestural interfaces for the instruments design in the environment Max, we will present six new instruments, and also the first results of our notation system which still in early stage of development. Palavras-chave: computação musical, luthieria digital, composição, gesto, performance James Correa é professor do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas desde 2009. Doutor em composição musical pela SUNY at Buffalo (EUA) e bacharel em violão pela UFRGS. É coordenador do bacharelado em música do Centro de Artes, coordenador do LabComp e membro do NuMC - Núcleo de Música Contemporânea da UFPel. Rogério Constante é professor do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas desde 2005, nas disciplinas de Análise Musical e Composição. Bacharel em violão (1997); Mestre em composição (2000), e Doutor em composição (2006) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É Diretor adjunto do Centro de Artes e co-fundador e integrante do NuMC – Núcleo de Música Contemporânea da UFPel. Carlos Walter Soares. Professor Assistente do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas desde 2009. É doutorando em composição musical no Programa de Pós-graduação em Música da UFRGS. Bacharel e Mestre em Composição Musical na mesma instituição. Jorge Geraldo Rochedo Meletti é Professor Assistente do Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas desde 2009. É mestre com Composição Musical pelo Programa de Pós-Graduação em Música da UFRGS e Bacharel em Música/Composição Musical pela mesma instituição.

Com o desenvolvimento das tecnologias de informação nos últimos anos abriram-se novas possibilidades de utilização de computadores como instrumentos musicais em tempo real. Isso levou ao surgimento de uma nova categoria de ensembles utilizando apenas computadores e periféricos como meios de produção sonora, em 2005 foi criado na Universidade de Princeton o primeiro grupo de laptops denominado Princeton Laptop Orchestra. Surgem, então, outros grupos com diferentes propostas de performance em várias partes do mundo. Este tipo de manifestação musical admite uma grande variedade de modalidades performáticas, podendo ir desde o controle de softwares em tempo real à completa automação da performance musical. Em 2011, no Laboratório de Composição da UFPel criamos o quarteto 4Laps onde optamos por uma concepção performática que pressupõe oferecer ao ouvinte uma referência gestual/visual que é associada à manifestação

sonora. Esta concepção demanda a dissolução de fronteiras entre as atividades envolvendo performance, composição e criação de instrumentos, instigando uma atitude artística menos linear e mais holística do processo criativo. O presente trabalho discute como essa concepção de performance tem moldado os processos criativos do quarteto 4Laps - luthieria digital, composição e realização. Atualmente as pesquisas estão concentradas na utilização de wiimotes e teclados alfanuméricos como interfaces gestuais para os instrumentos desenhados na plataforma Max1. Considerando que a formação quarteto de laptops não possui um gestual de performance definido a priori e tampouco familiar para o expectador, em cada composição os instrumentos criados, suas interfaces e suas respectivas particularidades gestuais estabelecem um novo referencial visual/auditivo. Quanto à notação musical, estamos desenvolvendo um sistema notacional digital e dinâmico, integrado ao próprio ambiente de composição, permitindo a vizualização, ao mesmo tempo, das orientações prescritas pelo compositor, dos dados que indicam parâmetros controlados em tempo real e das indicações referentes à sincronia entre os quatro performers. No estágio atual da pesquisa nosso objetivo é a criação de um repertório gestual organicamente relacionado à gestualidade sonora, desenvolvendo assim nossa identidade e linguagem de performance. Em uma fase inicial de experimentações práticas observamos que nossa utilização do controlador wiimote suscitava uma série de questões de performance. A mais reveladora delas foi a constatação de que as implicações da relação entre gesto2 e som eram muito mais importantes do que imaginávamos a priori, pois, refletindo sobre a experiência, percebemos haver um descompasso entre o resultado sonoro, a gestualidade musical e sonora, e a gestualidade corporal. Constatamos que precisávamos desenvolver instrumentos e controladores nos quais a gestualidade fosse um objeto expressivo e comunicador entre o grupo e os expectadores. Segundo Emília Maria Freitas: Na sua acepção atual, o gesto é associado a um movimento que extrapola a ação motora, pois é carregado de intenção. Geralmente relacionado às expressões da face, braços e mãos, o gesto estabelece comunicação e tece 1 2

http://www.cycling.com. “A etimologia da palavra gesto provém do latino gestu, que significa movimento do corpo. Em seu plural, gesta, ganha o sentido de ações, mas também de grandes feitos, proezas, acontecimentos históricos, como as “canções de gesta” da Idade Média”. (Emília Maria Freitas)

significados construídos e compartilhados socialmente. “Como tentativa de melhor entender as diferentes manifestações de gestos musicais, ZAGONEL (1990) propõe uma categorização em três tipos básicos: o gesto físico, admitido como a ação corporal que, em contato com um objeto, provoca uma reação sonora; o gesto mental, aquele produzido apenas pelo pensamento; e o grafismo, a imagem do gesto musical desenhado sobre o papel (Zagonel apud Martins)”. Ainda na esfera de uma classificação do gesto, DELALANDE (In: Zagonel, 1992, p.22; IAZZETTA, 200, p.262) indica três níveis do gesto em música: (1) O gesto que efetua, necessário para a produção mecânica do som; (2) O gesto que acompanha, referente aos movimentos produzidos pelo corpo do instrumentista, mesmo aqueles que não se relacionam diretamente à produção sonora e (3) O gesto figurado, relacionado a aspectos metafóricos do gesto musical. Até o presente momento, optamos por uma concepção performática que pressupõe oferecer ao ouvinte uma referência gestual/visual que é associada à manifestação sonora. Esta concepção demanda a dissolução de fronteiras entre as atividades envolvendo performance, composição e criação de instrumentos. Em nossas experimentações com os controladores, lidamos com três aspectos gestuais. (A) O gesto associado à produção do som e análogo ao gesto que efetua; (B) O gesto que dispara um excerto com duração variada; (C) O gesto que controla parâmetros de software, sendo este último mais apropriado para músicas com um direcionamento paramétrico lento, situando-se com o Gesto figurado de DELALANDE e (D) O gesto que contraria a resultante sonora. Nesta última tipologia, ainda no plano conceitual, aventamos a possibilidade de dialogar com o referencial gestual contrariando as expectativas entre visual e sonoro, por exemplo, gestos suaves e delicados que acionam sonoridades violentas, manipulando assim a atenção do público por meio de novas conexões entre gesto e som. Em relação ao gesto como acompanhamento, não descartamos um trabalho de cena, supervisionado por um profissional do teatro, pois como lidamos com outras possibilidades de interação entre gesto e percepção há espaço suficiente para desenvolver várias possibilidades cênicas. Pois como afirma DELALANDE: O performer usa o corpo não apenas para produzir sons, mas também para recebê-los. O performer percebe com as mãos, boca, respiração, cavidade toráxica e assim por diante. Entre produção e recepção, uma estreita imbricação é estabelecida […] ( DELALANDE, 2003 p.314).

Se fizermos uma analogia com os instrumentos tradicionais existe uma série de signos codificados ao longo dos séculos que conectam expectadores e músicos. Por exemplo, em um quarteto de cordas, o público aprendeu uma série considerável de gestos que resultavam em sonoridades relativamente precisas. É possível citar as arcadas, a pressão nas cordas, velocidade nos ataques e mesmo a expressão facial e física dos músicos como elementos de comunicabilidade tripartida: gesto – sonoridade – percepção. DELALANDE afirma que: “o primeiro significado relativo ao som de um instrumento é produzido pelo gesto! “ Atualmente nossas pesquisas estão concentradas na utilização de wiimotes e teclados alfanuméricos como interfaces gestuais para os instrumentos desenhados na plataforma Max. Considerando que a formação quarteto de laptops não possui um gestual de performance definido a priori e tampouco familiar para o expectador, em cada composição os instrumentos criados, suas interfaces e suas respectivas particularidades gestuais estabelecem um novo referencial visual/auditivo. É necessário, no entanto, uma etapa de aprendizado por parte dos integrantes do quarteto, para que se possa desenvolver as potencialidades dos mesmos. O aprendizado de um instrumento começa pela aquisição de uma técnica gestual necessária à produção do som. […] É por isso que o intérprete procura aperfeiçoar ao máximo seu gesto, para reproduzir o mais exatamente possível o som que possui na mente: ele procura uma adequação do gesto ao som. Tal adequação dependerá do controle desses gestos mecânicos; que será possível graças aos conhecimentos adquiridos dos efeitos dos seus gestos em contato com o instrumento. (Zagonel, 1992, p.22) Dessas reflexões sobre o gesto desenvolvemos até o momento os seguintes instrumentos: wii-granular, wii-sticks, type-a-sound, type-a-serie, type-a-sequence e type-agesture. Assim com nas décadas de 70 e 80 a música eletroacústica se beneficiou do desenvolvimento de sintetizadores comerciais, a música feita com computadores hoje tem se beneficiado do desenvolvimento de controladores multiparamétricos da industria de video games. Nos últimos anos a pesquisa na área dos video games tem se direcionado ao desenvolvimento de controladores gestuais que oferecem uma experiência mais interativa para o jogador. Para suprir a demanda dos consumidores de videogames esses controladores possuem uma resposta ao comando dado rápida e precisa, essas

características são também importantes quando estamos desenvolvendo instrumentos para performace. No atual estágio de nossa pesquisa no quarteto de laptops 4 Laps, estamos desenvolvendo instrumentos utilizando os controladores wiimote e nunchuck desenvolvidos pela Nintendo para sua plataforma de games Wii. Por usarem o protocolo de comunicação sem fio bluetooth é possível utiliza-los como interface em outras plataformas. O wiimote possui sensores que captam o movimento e a velocidade do gesto em três dimensões, botões de ativação e seleção e uma câmera infravermelha, o nunchuck possui os mesmos sensores menos a câmera infravermelha. Todos esses parâmetros são acessíveis de modo independente, proporcionando um grande número de possibilidades de mapeamento de gestos físicos em comportamentos musicais. Até o momento desenvolvemos dois instrumentos utilizando esses controladores como interface: wiigranular, wii-sticks. Todos os instrumentos possuem a parte de geração de áudio programada no ambiente de programação Max. O wii-granular foi o primeiro instrumento que desenvolvemos, utiliza um patch de síntese granular como gerador sonoro. O processo de “construção” desse instrumento iniciou-se com o desenvolvimento do sintetizador granular, esse sintetizador possui vários parâmetros de controles, alterando os valores de cada parâmetro podemos gerar uma ampla gama de timbres. Foram utilizados os valores de cada coordenada do wiimote e nunchuck para controlar parâmetros independentes do sintetizador, essa técnica do mapeamento demonstrou não ser eficaz para estabelecer uma interação orgânica entre o gesto físico e o gesto musical. A prática com o instrumento mostrou ser impraticável mover os controladores em uma direção sem afetar as outras cordenadas tornando o gestual do instrumento artificial e pouco expressivo. O wii-sticks utiliza os controles wiimote e nunchuck para reproduzir a gestualidade performática normalmente associada ao uso de baquetas nos instrumentos de percussão. Para tanto, o instrumento detecta o movimento de batida dos controles sobre uma superfície imaginária, associando-o ao disparo de amostras sonoras pré-definidas. Nas experiências iniciais com versões preliminares do instrumento, havia uma separação de funções entre os controles utilizados. O controle wiimote era utilizado para reproduzir o movimento percussivo, enquanto o controle nunchuck controlava o parâmetro referente à intensidade com que eram reproduzidas as amostras sonoras, ou ganho, através da leitura de seu ângulo de inclinação. O resultado foi considerado satisfatório em contextos em que os eventos disparados eram isolados ou relativamente separados temporalmente. No

entanto, em contextos em que precisavam ser disparados rapidamente eventos em sucessão, optou-se pelo movimento alternado entre os controles wiimote e nunchuck, em um gestual semelhante ao rufo de percussão. Nesta nova configuração, o parâmetro intensidade necessitou ser controlado de outra maneira. Experimentou-se associar o parâmetro intensidade à velocidade da sucessão dos gestos percussivos dos controles, de modo que, quanto mais veloz fosse a sucessão, mais intensas seriam as reproduções das amostras sonoras. A conexão entre o aspecto visual da performance e o resultado sonoro foi considerada adequada, uma vez que a intensidade do movimento físico ficou convincentemente associada à intensidade do resultado sonoro. A versão atual do instrumento oferece duas possibilidades de utilização ao performer, selecionadas durante a performance através de um botão específico. Para contextos em que os eventos sonoros são disparados isoladamente ou em sucessão lenta, utiliza-se o wiimote para o movimento de baqueta e o nunchuck – especificamente seu ângulo de inclinação – como controlador de intensidade. Em contextos em que os eventos sonoros são disparados rapidamente, utiliza-se o movimento de batidas alternadas com os dois controles. Neste último caso, a intensidade sonora está associada à velocidade da sucessão de batidas. Além disso, particularidades desta relação velocidade-intensidade são determinadas por uma curva de resposta configurável, acessível através da interface do instrumento. Uma das questões discutidas após as primeiras experimentações com o wiigranular foi a necessidade de estabelecer uma relação mais direta entre o gestual da performance e o consequente resultado musical. A partir desta necessidade, além de desenvolver outros instrumentos com o wiimote/nunchuk, optou-se pelo estudo da utilização do teclado alfanumérico como instrumento musical. Neste caso, a possibilidade de relacionar o gesto/ação de teclar a um resultado sonoro imediato pareceu-nos eficiente como solução performática. Com o propósito de contemplar interesses específicos de performance e composicionais, foram desenvolvidos quatro instrumentos baseados no teclado alfanumérico, denominadas type-a-sound, type-a-serie, type-a-sequence e type-a-gesture. O primeiro estudo resultou no type-a-sound. Ele foi criado também para suprir as demandas de uma performance relacionada ao projeto Intervenções3. No

Intervenções,

algumas obras para piano preparado de John Cage são utilizadas como eixo estrutural para 3 Intervenções é um projeto colaborativo interinstitucional que une integrantes do NuMC/UFPel, da UFRGS e da UNICAMP.

uma performance coletiva com diversos momentos de improvisação que interligam estas obras. Assim, com o objetivo de facilitar a integração com os demais instrumentos desta performance coletiva, as qualidades buscadas na criação do type-a-sound envolveram prioritariamente as de executar sons semelhantes aos do piano preparado (no envelope e em outros aspectos do timbre) e de permitir agilidade e precisão rítmica. No type-a-sound o teclado alfanumérico é utilizado para disparar amostras de som, controlar níveis de intensidade, a randomização dos níveis de intensidade e a randomização das frequências das amostras de som.

Figura 1: type-a-sound, teclado alfanumérico.

A figura 1 apresenta as teclas utilizadas para controlar o instrumento, destacadas em diferentes cores, de acordo com sua função. Considerando que parte dos compositores do quarteto utiliza frequentemente procedimentos seriais nas suas composições, e que os primeiros instrumentos desenvolvidos são mais propícios para outros sistemas de organização dos parâmetros musicais, iniciou-se um trabalho para construção de novos instrumentos que pudessem contemplar esta demanda de maneira mais eficiente. O type-a-serie foi o primeiro deles. Os instrumentos seguintes, ao contrário do wiigrão e do type-a-sound, não geram sinal de áudio, mas mensagens MIDI que podem controlar diferentes sintetizadores. O type-a-serie permite a execução de sequências de alturas a partir de 4 formas de uma série pré-definida (além de suas transposições), em até 6 oitavas. Cada forma da série está atrelada à uma fila de teclas específica. As filas são divididas em grupos de duas teclas,

cada qual correspondendo a diferentes oitavas.

Figura 2: type-a-serie, teclado alfanumérico.

A figura 2 demonstra a disposição e os agrupamentos das teclas utilizadas no type-aserie. Cada vez que as teclas de uma mesma fila são tocadas, independentemente do agrupamento por oitavas, uma nova nota da forma correspondente da série é enviada. Um dos benefícios buscados é a possibilidade de improvisação serial sem a necessidade de preocupação com a ordenação das notas, permitindo ao executante concentrar-se nos parâmetros duração, registro, intensidade e textura. Este instrumento foi pensado para controlar o Sintetizador Dodecafônico4, integrando a ordenação serial das notas dada pelo type-a-serie c o m o sistema serial de constituição do timbre deste sintetizador. O type-a-sequence permite ao intérprete executar uma sequência predefinida de notas que pode corresponder a uma peça inteira ou a seções de uma peça. Os parâmetros nota e velocidade MIDI são pré-determinados pela sequência. No momento da performance, o intérprete controla os ataques, as durações das notas e as alterações no timbre. A sequência pode ser executada no sentido original e no retrógrado. Também é possível permanecer executando as mesmas notas da sequência sem progredir em nenhum sentido.

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O Sintetizador Dodecafônico permite a aplicação de uma estrutura serial dodecafônica, por correspondência, aos diversos parâmetros da síntese sonora aditiva. Foi desenvolvido em outra pesquisa do NuMC.

Figura 3: type-a-sequence, teclado alfanumérico.

N o type-a-gesture o intérprete dispara gestos musicais com alturas, durações e intensidades pré-definidas. É possível pré-determinar até 43 gestos acionados individualmente por cada tecla.

Figura 4: type-a-gesture, teclado alfanumérico.

Uma vantagem deste instrumento é possibilidade criar previamente gestos musicais com texturas que seriam muito difíceis ou impossíveis nos instrumentos anteriores. Embora neste instrumento um número maior de parâmetros é definido previamente, é possível controlar após o disparo do gesto musical as alterações no andamento. Para tanto, o intérprete deve tocar repetidamente a mesma tecla. As variações de velocidade ao repetir a

mesma tecla corresponderão às oscilações no andamento. O paradigma de notação musical adotado para as performances do quarteto de laptops foi desenvolvido durante a fase inicial de experimentações musicais do grupo. As peculiaridades da formação do quarteto, especificamente as diferenças entre os instrumentos eletrônicos desenvolvidos independentemente pelos integrantes, bem como o ideal performático que se imaginou (busca por liberdade de movimentação para o gestual, redução da quantidade de equipamentos envolvidos nas performances) demandou um sistema notacional genérico o bastante para ser utilizado em qualquer contexto e que permitisse automação de certas ações como, por exemplo, as ‘viradas de página’. Delimitou-se, portanto, quais seriam as características mínimas que tal sistema notacional deveria apresentar. São elas: 1) Deveria ser um sistema de indicação visual nas telas dos respectivos laptops, dispensando a utilização de estantes de partituras. 2) Deveria ser um sistema que pudesse facilmente ser integrado ao ambiente de programação musical utilizado pelo grupo (MAX), independente do sistema operacional utilizado. 3) Deveria apresentar algum mecanismo de sincronia temporal entre os laptops. 4) Deveria prever um mecanismo de avanço das indicações visuais, semelhantemente às viradas de página, sincronizados com a progressão da música. 5) Deveria apresentar ao performer indicações visuais da passagem do tempo, em contexto local contextualizando a duração dos eventos ou seções, e contexto global, permitindo acompanhar o percurso temporal da peça como um todo. 6) Deveria apresentar um sistema programável de disparo automático de eventos no instrumento a que for acoplado, permitindo a automação de eventos, sejam eles eventos sonoros ou instruções para controle paramétrico, sincronizada à ação musica. O primeiro protótipo desenvolvido na plataforma Max apresenta ao performer imagens criadas pelo compositor no monitor do laptop e a figura abaixo revela alguns detalhes da interface preliminar.

Figura 5: exemplo do sistema de notação em desenvolvimento.

Na figura acima é mostrado, à esquerda, o trecho de partitura que deverá ser executado pelo laptop 2 e, à direita, é mostrado o trecho seguinte, a fim de que o performer possa antecipar eventos futuros. A barra de progresso abaixo da partitura contextualiza localmente a passagem do tempo, avançando ao longo da seção a que a partitura se refere. Para possibilitar a sincronia entre os laptops, o tempo global é apresentado acima da partitura. O botão vermelho à esquerda, que pode ser acionado diretamente na interface ou remotamente, avança a partitura de modo semelhante às viradas de página, atualizando as imagens da partitura do trecho a ser executado no momento e o trecho seguinte. Para dispensar a eventual alternância entre as janelas das interfaces, pode-se rotear informações provenientes do instrumento utilizado à interface da partitura, facilitando ao performer a leitura de parâmetros que se julguem pertinentes. Quando da preparação e programação da partitura, o compositor poderá escolher pontos específicos do tempo para automatizar o envio de parâmetros aos seus respectivos instrumentos. Este trabalho mostrou o desenvolvimento de nossa pesquisa dentro do quarteto 4laps até esse momento. Estamos agora criando novos instrumentos utilizando o

wiimote/nunchuck e aperfeiçoando os instrumentos de teclado, o próximo estágio será o desenvolvimento do sistema de notação proposto aqui, e iniciar a criação de um repertório para o quarteto.

Referencial bibliográfico

DELALANDE, François. La musique est un jeu d'enfant. Paris: Editons Buchet / Chastel, 1984. __________. Geste, outil d'analyse: quelques enseignements d'une recherche sur la gestique de Glenn Gould. Analyse Musicale, Paris, v.10, p. 43-49, 1988. FREITAS, Emília Maria Chamone. O gesto musical nos métodos de percussão afrobrasileira.Dissertação de Mestrado. Escola de Música. Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. IAZETTA, Fernando. Meaning in musical gesturi. In: Trends in gestural control of music. Paris: Ircam, 2000. MARTINS, David Souza. Gestos musicais na Fantasia Concertante para piano, clarinete e fagote de Heitos Villa-Lobos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Goias. 2007 ZAGONEL, B. O Que É Gesto Musical. São Paulo: Brasiliense, 1992.

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