5-artigo-terceiraidade

June 29, 2017 | Autor: Sandra Vb | Categoria: Psicologia
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O QUE É SER IDOSO? A TERCEIRA IDADE NO ESPELHO
Sandra Vilas Boas (*)

"ENVELHEÇO quando me fecho para as novas ideias e me torno radical.
ENVELHEÇO quando o novo me assusta e minha mente insiste em não aceitar.
ENVELHEÇO quando me torno impaciente, intransigente e não consigo dialogar.

ENVELHEÇO quando meu pensamento abandona sua casa e retorna sem nada
acrescentar.
ENVELHEÇO quando muito me preocupo e depois me culpo por
não ter tido motivos para me preocupar.
ENVELHEÇO quando penso demasiadamente em mim mesmo e,
consequentemente, dos outros, completamente me esqueço.
ENVELHEÇO quando penso em ousar e já antevejo o preço que terei
que pagar pelo ato, mesmo que os fatos insistam em me contrariar!
ENVELHEÇO quando tenho a chance de amar e daí o coração se põe a pensar:
"Será que vale a pena correr o risco de me dar? Será que vai compensar?"
ENVELHEÇO quando permito que o cansaço e o desalento
tomem conta de minha alma e ponho a me lamentar.
ENVELHEÇO, enfim quando paro de lutar."

(autor desconhecido)


Cada um de nós, em suas diversas fases do desenvolvimento humano, possui
diferentes identidades: somos filhos(as), irmãos(ãs), namorados(as),
esposas, maridos, estudantes, profissionais, filiados do clube X, fiéis da
igreja Y, militantes do partido Z etc., etc... Estes diferentes papéis nos
constituem enquanto indivíduos em constante transformação; "estamos", de
acordo com cada momento, em um desses papéis ("estamos" pais, "estamos"
esposas) e, ao mesmo tempo, "somos" todos estes papéis. Quando eu digo que
sou esposa de João, nem por isso eu deixei de ser a filha do Sr. José, nem
a amiga de Mariazinha. Todos estes papéis sociais convivem dentro de mim,
embora um deles prevaleça de acordo com quem me relaciono.
Ao longo de nossa vida, vamos então "construindo" uma identidade própria,
que nos marca, fazendo com que nos sintamos "nós mesmos". Vamos acumulando
experiências, vínculos, lembranças, sucessos, fracassos, toda uma bagagem
existencial, uma história de vida, que dependerá muito também de como
enxergamos a vida e o mundo ao nosso redor, como os captamos, interpretamos
e reagimos. Também não é diferente em relação à imagem que construímos de
nós mesmos: como nos sentimos nesta interação com o "outro", com o ambiente
ao nosso redor; se nos valorizamos pelo que somos ou não: "me acho uma boa
mãe, uma profissional razoável, me sinto madura, um pouco teimosa, sou
persistente... etc., etc." Enfim, são diversas qualidades, características
que nos atribuímos, "boas" ou "ruins", de acordo com nosso ponto de vista,
nossos valores pessoais.
Por consenso, decidiu-se estabelecer que a terceira idade se inicia aos 65
anos. Entretanto, o que isto quer dizer? Que a partir do exato dia que
completo os meus 65 anos foi decretado que agora eu sou idoso? Parece-nos
que não. Partindo do pressuposto de que somos aquilo que criamos sobre nós
mesmos ao longo da vida, podemos dizer que o "sentimento" de velhice ou
senescência é muito subjetivo e ligado a esta imagem que fazemos de nós e
como nos sentimos em relação a ela. Muitas vezes, também está associado aos
padrões impostos, aos "pré-conceitos" (uma ideia preconcebida, que não tem
respaldo na experiência real) que vigoram no imaginário social e como somos
reconhecidos ou não. O idoso muitas vezes pode "introjetar" a imagem que
fazem dele e os mitos criados (na família e na sociedade) e aceitá-la como
a Verdade.
Sendo o idoso alguém que passou por grande parte das tarefas que a
sociedade indica ao cidadão, pode, então, desfrutar daquilo tudo de
cultura, de patrimônio, de lazer e de relações humanizadas que colecionou
ao longo de sua trajetória como adulto, tornando-se uma pessoa com grande
maturidade, serenidade e sabedoria. Mas nem sempre é assim, pois, como um
ser intimamente condicionado pela cultura e pela inter-relação social, a
perda de acuidade biológica, vigor, beleza, de papéis sociais, de uma
imagem "produtiva" enquanto trabalhador, de status social, da afetividade
com entes queridos que já se foram, podem levá-lo a prejudicar sua
autoimagem e minar sua autoestima, sentindo-se rejeitado, não valorizado,
tornando-se penosa a aceitação de si mesmo do jeito que é, gerando ainda
mais um isolamento e sentimento de vazio interior e solidão, bem como um
possível sentimento de "inutilidade" e menos-valia. Sua autoimagem passa
por uma "re-estruturação". É muito comum, então, que o idoso passe a viver
de recordações dos bons tempos ou do "meu tempo", que inegavelmente
carregam toda a experiência e sabedoria adquirida para ser transmitida aos
mais jovens, mas, por outro lado, é como se esta fuga ao passado
significasse que agora já não é mais o seu tempo, este (tempo de projetos,
realizações) já passou e não lhe restam mais perspectivas de futuro, a não
ser esperar que a morte chegue. Esta idealização do passado pode estar
servindo então à preservação do "Eu".
Entretanto, com certeza, para muitos, aqueles que continuaram realizando
seus projetos de vida em consonância com seu momento, aceitando e
trabalhando suas limitações e suas perdas com criatividade; vivendo seu
agora, com intensidade, com dignidade, com "garra"; continuando a acreditar
numa visão positiva do mundo e da vida; interessando-se pelos outros e
doando-se em sua sabedoria e amor; desenvolvendo atividades próprias de sua
etapa vital; enfim, buscando o melhor para si; terão um envelhecimento com
serenidade, maturidade, alegria e confiança em si mesmos, aproveitando tudo
que esta etapa da vida tem a lhes oferecer.
E isto tudo só será possível com um real conhecimento de si mesmo,
cultivando o autorrespeito, a autoaceitação e a capacidade de criar,
aprendendo a se amar e se descobrir enquanto pessoa. Isto possibilitará
coragem para envelhecer e capacidade de se desprender das atividades de
outras etapas vitais, criando novos espaços para si mesmo - na família e na
sociedade -, continuando a atuar como cidadão, com o prazer de novas
tarefas, sem pressa, sem cobrança, sem competição, podendo sempre crescer.
Aprendendo também a aceitar, sem medo, sua própria finitude, enquanto ser
humano. Pois que a Vida é um processo contínuo de mutações e de
ajustamentos diante das mudanças e do tempo. E como diz o ditado popular:
"Cada um tem a idade que sente" e isto faz com que esqueçamos a idade que o
calendário registra!
(*) Psicóloga clínica, especialista em Psicossomática, Integração
Fisiopsíquica e Massagem Terapêutica, e bacharel em Linguística e
Português. E-mail: [email protected].
http://www.wix.com/quinta_harmonia/massagens-e-psicologia.
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