A análise do Jornalismo Científico para a Web

June 23, 2017 | Autor: A. Chevtchouk Jurno | Categoria: Jornalismo Online, Webjornalismo, Jornalismo Científico
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      SBPJor  –  Associação  Brasileira  de  Pesquisadores  em  Jornalismo   11º  Encontro  Nacional  de  Pesquisadores  em  Jornalismo   Brasília  –  Universidade  de  Brasília  –  Novembro  de  2013  

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A  linguagem  do  Jornalismo  Científico  para  a  Web

Amanda Jurno 1 Geane Alzamora 2

Resumo: O presente trabalho objetiva analisar como o jornalismo científico (JC) tem sido construído no ambiente digital. Além disso, questiona-se se o que é publicado pela mídia brasileira, como ciência, condiz com o que os teóricos sugerem na bibliografia acadêmica. Para isso, procura-se descobrir o que caracteriza o JC, especificamente no ambiente online, considerando o percurso histórico da atividade e as especificidades de linguagem do jornalismo online. O corpus de análise constitui-se de matérias publicadas em dois sites: a Folha Online e a Revista Época sobre os temas: a descoberta do Bóson de Higgs e a Missão Curiosity em Marte. O período de análise foi o ano de 2012 até a data de compilação das postagens – 01 de outubro. Palavras-chave: jornalismo online; jornalismo científico; webjornalismo; ciência; inter-

net.

1

Amanda Jurno é jornalista, graduada pela UFMG em 2012/2, e integra o grupo de pesquisa Centro de Convergência em Novas Mídias (CNPq/UFMG) e o Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas (UFMG). 2 Geane Alzamora é professora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UFMG, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Conexões Intermidiáticas (NucCon), vinculado ao Centro de Convergência em Novas Mídias (CNPq/UFMG) e membro do Instituto de Ciência e Tecnologia para a web.

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      SBPJor  –  Associação  Brasileira  de  Pesquisadores  em  Jornalismo   11º  Encontro  Nacional  de  Pesquisadores  em  Jornalismo   Brasília  –  Universidade  de  Brasília  –  Novembro  de  2013  

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1. Introdução O objetivo do presente trabalho foi analisar como o jornalismo científico (JC) tem sido construído no ambiente digital e descobrir se o que é publicado pela mídia brasileira condiz com o que os teóricos sugerem na bibliografia acadêmica. Questiona-se o que caracteriza o JC, especificamente no ambiente online, considerando o percurso histórico da atividade, consolidado no âmbito do jornalismo impresso, e as especificidades de linguagem do jornalismo online. A escolha da internet como meio para análise deveu-se tanto à disseminação da produção online entre as empresas de comunicação brasileiras, quanto à possibilidade de alcance mais abrangente oferecida por ela. O corpus de análise constitui-se de matérias publicadas em dois sites: a Folha Online e a Revista Época. Dentre os portais observados, escolheu-se trabalhar com esses porque ambos apresentam cobertura de ciência, apresentaram conteúdo significativo dos temas selecionados para análise e por apresentarem sites mais completos e de melhor navegação que os outros veículos observados na fase da pesquisa exploratória. Além disso, considerou-se que seria interessante analisar veículos de natureza diferente (uma revista semanal e um jornal diário) por se tratar de linguagem diferenciada no ambiente impresso, mas coincidente no ambiente digital. Os temas – a descoberta do Bóson de Higgs e a Missão Curiosity em Marte – foram escolhidos para a análise porque estavam em voga na mídia na época em que o trabalho foi pensado e tratam de temas com cobertura estendida (desdobramentos e factualidades). O período de análise foi o ano de 2012 até a data de compilação das postagens – 01 de outubro.

2. O que é Jornalismo Científico? Apesar de ser uma editoria consolidada no jornalismo e que tem aparecido cada vez mais em discussões acadêmicas, ainda existem problemas quanto ao entendimento do que significa ser um jornalista científico. De acordo com a Federação Mundial de Jornalismo Científico, o jornalista de ciência deve assumir um papel crítico em relação aos fatos (WORLD FEDERATION OF SCIENCE JOURNALISTS, 2009, p 99). É um papel diferente do divulgador de ciência, 2

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que tem como objetivo promovê-la, enquanto que o jornalista quer levar a ciência ao público e ajudá-lo a se beneficiar dela. O JC é um jornalismo especializado que, como outros, apresenta as características gerais da profissão, assim como suas especificidades.

2.1 - Características e especificidades do Jornalismo Científico O lead que surgiu nos finais do século XIX, início do século XX3, é um dos fatores que caracteriza o fazer jornalístico e, portanto, o Jornalismo Científico. Sua função é tornar o acontecimento mais rápida e facilmente apreendido através da fórmula “o quê, quem, quando, onde e porquê”. A chamada pirâmide invertida (GENRO FILHO, 1987) também cumpre essa função, organizando as matérias jornalísticas de forma decrescente em relação à importância dos fatos. Assim, os últimos parágrafos podem ser descartados na leitura ou pelo editor do veículo/editoria em caso de falta de tempo ou de espaço. Outro fator que caracteriza as matérias jornalísticas é crença na veracidade dos fatos apresentados pelo profissional que, de acordo com Nelson Traquina (2012), deve seguir valores como objetividade e liberdade. A liberdade – independência e autonomia profissional – garante a credibilidade daqueles que, em teoria, buscam constantemente verificar os fatos e avaliar as fontes de informação. A objetividade destacada por Traquina (2012) também faz parte da expectativa em relação à produção jornalística e reforça a credibilidade do fato noticiado4. Objetividade essa que, segundo o autor, não significa uma negação à subjetividade, “mas uma série de procedimentos que os membros da comunidade interpretativa utilizam para assegurar uma credibilidade como parte não-interessada e se protegerem contra eventuais críticas ao seu trabalho” (TRAQUINA, 2012, pag 141). Miquel Rodrigo Alsina (2009) acredita que a objetividade é impossível de ser amplamente atingida, pois é um ideal normativo, e que os profissionais devem se aproximar dela ao máximo, sempre. Apesar das tentativas de objetivar o texto, a subjetividade permeia as escolhas do repórter e aparece no produto final, por exemplo, através da escolha das fontes, do recorte dado ao fato, das palavras utilizadas. A subjetividade está presente também na

3 4

Ver SHUDSON, Michael (2010) e LAGE, Nilson (2008). A discussão em torno da objetividade aparece na obra de diversos autores como Nilson Lage (2008), Michael Shudson (2010) e Miquel Rodrigo Alsina (2009), por exemplo.

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escolha de quais fatos serão noticiados pelo veículo, limitada, porém, tanto pelos critérios de noticiabilidade, que delineiam a cultura jornalística, quanto pelas diretrizes editoriais de cada veículo. Segundo Nelson Traquina (2008), os critérios de noticiabilidade (ou valoresnotícia) são divididos entre aqueles que se referem à seleção dos fatos que serão noticiados e aos elementos que delinearão a construção da notícia (tabela 1). São os valores de seleção – que se subdividem em substantivos e contextuais – e os valores de construção. Tabela 1: Valores-notícia Valores-notícia de seleção

Valores-notícia de construção

Os jornalistas utilizam na seleção dos fatos que serão reportados

Substantivos

Contextuais Relativos ao contexto e possibilidades

Relativos à avaliação direta do fato

de produção das notícias.

Critérios de seleção dos elementos a serem incluídos na elaboração da notícia.

Morte

Tempo

Disponibilidade

Simplificação

Notoriedade

Notabilidade

Equilíbrio

Amplificação

Proximidade

Inesperado

Visualidade

Relevância

Relevância

Escândalo

Concorrência

Personalização

Novidade

Infração

Dia noticioso

Dramatização

____

Consonância

Controvérsia ou conflito

Fonte: TRAQUINA (2008). Em relação às especificidades do JC, a linguagem ocupa papel importante. De acordo com Bruno Latour (2000), falar sobre ciência não é fácil, porque ela “é planejada para alijar logo de cara a maioria das pessoas” (LATOUR, 2000, pag 88). Além disso, falar sobre ciência é falar também de política, uma vez que esses temas estão – quase sempre – interligados5. Por isso, é preciso ter cuidado redobrado na escolha das fontes às quais se dará voz. Por se tratar de um assunto ligado a conhecimentos específicos, não se espera apresentar com o mesmo peso as várias versões de um fato. Porém, o jornalista deve ser responsável e crítico ao fazê-lo e deixar claro para o leitor a tomada de

5

Ver Bruno Latour, (1994) “Jamais fomos modernos”.

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posição pois, a partir do momento que o jornalista prioriza uma determinada voz, prioriza também aquela linha de pesquisa e outras questões que atreladas a ela. A tarefa do jornalista de ciência é forjar sínteses e isso, segundo Ulisses Capozoli (2002) “exige esforço, determinação e algo que, por um constrangimento injustificável, quase não se diz: amor ao conhecimento” (CAPOZOLI, 2002, pag 122). Para escrever sobre ciência, portanto, é preciso gostar de ciência em primeiro lugar. Em segundo lugar, entender que o papel do jornalista não é traduzir a linguagem científica. Yurij Castelfranchi (2007) afirma que não basta informar, é preciso ser crítico, situar e contextualizar o leitor sobre o assunto em questão. Deve entender e tratar do contexto em que a ciência é gerada e usada, indo além de números e resultados fantásticos. Bruno Latour (2000) partilha dessa visão e defende que os jornalistas devem explicar ao público que a ciência é feita de processos longos e que envolvem diversas pessoas – não apenas alguns cientistas dotados de capacidades sobre-humanas. No campo científico, geralmente, lida-se com assuntos de difícil visualização e associação. Por isso, espera-se que o jornalista traga o assunto para o cotidiano do leitor e mostre as possíveis implicações de determinada descoberta. Uso de metáforas, substituição de termos científicos e comparações com a vida diária são essenciais em reportagens com esse fim. O uso de recursos visuais também pode (e deve) ser explorado para auxiliar o entendimento de assuntos herméticos. E, nesse caso a internet pode se tornar uma importante aliada.

3. O Jornalismo online como uma rede de possibilidades para a ciência Temas que carecem de análises mais detalhadas, explicações mais didáticas e espaço para recursos auxiliares (como os visuais), podem ter na internet a chave para a solução dos seus problemas, uma vez que o tempo e o espaço não são tão rigidamente limitados quanto os das mídias tradicionais. Apesar de teoricamente as práticas tradicionais (de formato, tempo, espaço) não predeterminarem a produção jornalística online, os jornalistas desse meio continuam selecionando o que chega até os leitores. Valores-notícia continuam auxiliando os profissionais a selecionar o que publicar dentre todas as informações que recebem diariamente através de uma rotinização da tarefa, segundo Mauro Wolf (2001). 5

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Mesmo assim, o conceito de gatekeeper6 não parece apropriado à realidade do

meio digital, uma vez que os leitores podem encontrar informações diferentes daquelas publicadas pelos meios massivos em outros websites. Para essa nova situação, Alex Bruns (2005) sugere o uso do conceito Gatewatching - profissional selecionador dos assuntos que considera merecedores de visibilidade, ciente que seu leitor pode discordar e buscar outras formas de chegar àqueles assuntos que ficaram fora da pauta. A partir desse conceito, faz-se necessário voltar à discussão do papel do jornalista científico. Uma vez que o leitor pode acessar as novidades da ciência em sites especializados, de universidades ou instituições, o papel do jornalista não está em relatar o acontecimento, pura e simplesmente. Espera-se que esse profissional vá além do fato, contextualizando, situando, apresentando novas visões e posições críticas. Essa “forma de produção” é chamada por Bruns (2005) de news publishing, referindo-se à produção de reportagens completas e estruturadas e que se diferencia do News publicizing. Esse, por sua vez, diz respeito a uma coletânea dos fatos considerados de maior interesse (lógica dos meios tradicionais). Por ser tão diferente dos meios tradicionais, o meio digital também pede uma reformulação nos padrões de produção, como é o caso da pirâmide invertida. Essa lógica, adaptada do impresso para a televisão e o rádio, não dá conta de um meio sem restrição de espaço e formado por hiperlinks. No ambiente digital, “a quantidade (e variedade) de informação disponibilizada é a variável de referência, com a notícia a desenvolver-se de um nível com menos informação para sucessivos níveis de informação mais aprofundados e variados sobre o tema em análise” (CANAVILHAS, 2006, pag 13). A analogia utilizada por João Canavilhas é a da pirâmide deitada, com quatro níveis de informações, acessados (ou não) de acordo com o interesse do leitor. Esse modelo adapta-se perfeitamente a temas de grande complexidade, como a ciência. Em relação à redação de textos para a web, Mike Ward (2002) sugere que o jornalista seja sucinto, escreva para pessoas com caráter exploratório e use hipertextos para evitar textos longos. O uso de multimídia também ajuda a deixar o texto mais dinâmico

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Conceito usado por Nelson Traquina (2012) referindo-se ao poder do jornalista de escolher quais informações chegariam ao leitor nas mídias tradicionais.

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e na apresentação de informações mais difíceis ou impossíveis de serem colocadas na forma de texto, como é o caso da ciência muitas vezes. Os hiperlinks podem auxiliar a mostrar o caminho onde pode-se encontrar detalhes sobre o assunto em questão (sites especializados, blogs de cientistas, etc.), Já os recursos multimidiáticos, como infográficos animados ou estáticos, fotos de alta resolução, vídeos, dentre outros, podem facilitar o entendimento e visualização de assuntos herméticos. O meio digital oferece, ainda, canais de interatividade que podem ser utilizados para sanar dúvidas específicas dos leitores. Infelizmente, o que se tem observado é que poucos sites que cobrem ciência têm feito uso dessas ferramentas.

4. Análise comparativa Considerando-se que o JC se consolidou no âmbito do impresso e buscando entender o que caracteriza sua versão online, escolheu-se observar como veículos de tradição impressa apresentam-se no ambiente digital. Foram analisados o portal de notícias de um jornal impresso (Folha de São Paulo) e o site de uma revista impressa (Revista Época), veículos de natureza distinta mas que apresentam linguagem coincidente na web. A escolha dos temas se baseou em assuntos que estavam em voga na mídia e que apresentavam uma cobertura estendida (desdobramentos e factualidades) – a descoberta do Bóson de Higgs e a Missão Curiosity em Marte. A análise surge da necessidade de confirmação de uma percepção pessoal de que as coberturas de ciência são, em sua maioria, insatisfatórias. Realizou-se a observação sistemática das matérias sobre os temas escolhidos publicadas entre os dias 01/01 e 30/09 de 2012, cujo resultado compõe o corpus da pesquisa. As postagens foram tabeladas e numeradas, somando 52 matérias consideradas válidas7 para a pesquisa (ver tabela 2). Tabela 2: Número de matérias selecionadas 7

Excluiu-se do corpus matérias que apresentavam as palavras de busca em sites relacionados linkados na publicação e que, portanto, não falavam sobre o tema. Foram excluídas também, matérias em que o assunto era citado, mas não era o centro do texto. Uma vez que a intenção é trabalhar com narrativas diretamente atreladas à explicação dos conteúdos mencionados, descartou-se as postagens em questão não levando em conta validade, linguagem ou forma dessas matérias, apenas a ausência direta dos temas em estudo.

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Nº de matérias

Época- Curiosity

12 matérias

Folha- Curiosity

25 matérias

Época- Bóson

3 matérias

Folha- Bóson

12 matérias

Fonte: Elaboração própria. Os critérios escolhidos (tabela 3) para análise foram retirados da discussão teórica que se fez durante o trabalho, intencionando-se observar se as matérias apresentavam critérios relacionados às seguintes três dimensões. Tabela 3: Dimensões de análise * Lead completo

Dimensão 1 Jornalística

* Consulta a duas ou mais fontes

* Linguagem objetiva (Alsina)

Dimensão 2 - Cientifica

* Presença de alguma análise sobre o assunto (Castelfranchi) * Aproximação do assunto ao cotidiano

dade (Traquina). Quais? * Uso de metáforas explicativas * Uso de dados complementares

* Presença de multimídia. Qual?

Dimensão 3 - Tecnológica

* Presença de critérios de noticiabili-

* Uso de Hiperlinks

* Interatividade. Qual?

Fonte: elaboração própria, com base nos preceitos conceituais deste relatório. A análise da presença dos critérios da dimensão 1 serviu para observar se os jornalistas os têm utilizado no fazer diário da redação. No caso dos critérios de noticiabilidade8, a intenção foi apreender qual o motivo e tipo de tratamento dado às publicações. Observar que tipo de JC tem sido produzido nesses sites e o aproveitamento dos recursos que o meio digital oferece foram os motivos da escolha dos critérios das dimensões 2 e 3, respectivamente. A análise foi feita a partir da leitura de cada publicação, sobre as quais deu-se a nota 1 (UM) ou 0 (ZERO) para presença ou ausência de cada critério. Percebeu-se algumas características comuns a ambos veículos, independente do tema tratado. Os resultados mostraram deficiência considerável na produção sobre ciência, principalmente em relação à dimensão 2 dos relatos (o que não significa ausência total de matérias que dão conta dos critérios). A seguir, tabela com os resultados da análise (tabela 4). Tabela 4: Resultados da análise Critérios de análise

Porcentagem da presença dos critérios nas matérias

8

Por não se ter acompanhado a produção das notícias, levaram em consideraçãoo apenas os critérios de seleção substantivos (Nelson Traquina, 2008).

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::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::   analisadas

Dimensão 1Jornalística

Lide completo

96%

Linguagem objetiva

98%

Consulta a duas ou mais fontes

27%

Presença de critérios de noticiabilidade (Traquina). Quais?

100%

Presença de alguma análise sobre o assunDimensão 2 Cientifica

100% notoriedade, relevância, novidade e notabilidade 27%

to (Castelfranchi) Aproximação do assunto ao cotidiano

35%

Uso de metáforas explicativas

50%

Uso de dados complementares

79% 67% Imagem; 8% vídeo; 8% galeria de

Presença de multimídia. Qual? Dimensão 3 Tecnológica

88%

imagens; 25% infográfico estático; 2% imagem panorâmica interativa; 13% infográfico animado

Uso de Hiperlinks

48% 100% Opções de compartilhamento (em

Interatividade. Qual?

100%

redes sociais ou por email), 94% espaço para comentários, 2% imagem panorâmica interativa

Fonte: elaboração própria. Dentre os resultados, destaca-se a presença de mais que uma fonte apresentada na redação da matéria (27% ). Esse resultado pode ser considerado alarmante não só em relação à dimensão 1 do relato, como em relação à dimensão 2. Uma matéria que mostra apenas um ponto de vista está mais próxima das realidades publicitária e de relações públicas do que da jornalística9. Também configura uma situação em que o jornalista mostra o pesquisador (nem sempre de forma intencional) como alguém a ser ouvido e não questionado – posição tão criticada por autores como Bruno Latour (2000) e Wilson Bueno (2012). Essa característica também pode ser percebida pelo baixo percentual de matérias com presença de análise crítica (27%). Em relação aos critérios de noticiabilidade, observou-se que os temas investigados aparecem na pauta jornalística como novidade, relevante e notável, outra situação que, segundo Latour (2000) e Bueno (2012), é preciso ser olhada com cuidado. Segundo eles, é importante frisar que a ciência não é feita apenas de descobertas sensacionais e

9

Em trabalho desenvolvido com 12 jornais latino-americano, Luisa Massarani e Bruno Buys (2007) observaram que o percentual de simples reprodução do conteúdo sem análise crítica é comum, expressado pelo número de artigos retirados de agências de notícia. Porém, ressaltam que isso não é uma regra geral.

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gênios sobre-humanos, mas de processos que envolvem várias pessoas, diversas áreas do conhecimento e, principalmente, muito investimento – financeiro, intelectual e temporal. Portanto, a ciência deveria constar na pauta jornalística independente de uma nova descoberta ou aquisição espetacular. Tratar a ciência apenas a partir de dados factuais também faz com que esse problema se perpetue. O percentual baixo da presença de metáforas explicativas e de aproximação do assunto ao cotidiano do leitor (50% e 35% respectivamente) mostra que não há um cuidado em extrapolar os dados factuais. Apesar de a presença de dados complementares ter sido significativa (79%), essa alta pode ser justificada pela presença de dados de contextualização. Em grande parte das publicações, encontrou-se um pequeno parágrafo com resumo (muitas vezes incompleto e fora de contexto) sobre o tema. Mesmo não sendo suficiente para contextualizar e explicar o assunto ao leitor, esses dados foram contabilizados como complementares e, por sua vez, podem gerar a falsa impressão de que as matérias contém muita informação complementar. Outra falsa impressão que pode ser causada pelos dados é em relação à utilização dos recursos multimidiáticos e de interatividade. Apesar de todas as publicações apresentarem uso de multimídia, notou-se um uso espelhado no modo de fazer do jornalismo impresso. A grande maioria das mídias utilizadas, por exemplo, foi imagens (67%), muitas vezes apenas uma. As opções de interatividade presentes foram as mesmas em todas as publicações: botões para compartilhamento em redes sociais e e-mail, além de espaço para comentários dos leitores. Por fim, o uso de hiperlinks também não pode ser considerado satisfatório (48%). Em muitas matérias havia links inseridos automaticamente pelo sistema (Como no box “Saiba Mais” do site da Revisa Época) e, apesar de serem contabilizados, não são selecionados pelo jornalista para que o leitor aprofunde o conhecimento e, portanto, não cumprem a função descrita por João Canavilhas. Abaixo é possível comparar a presença dos critérios das três dimensões em cada veículo e sobre cada tema (tabela 5). Tabela 5: Presença dos critérios em cada veículo 10

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Folha Online

Revista Época

Tema

Média da presença dos critérios por dimensão

Nº de matérias

Jornalística

Científica

Tecnológica

Bóson de Higgs

12

90%

90%

81%

Missão Curiosity

25

81%

38%

67%

Bóson de Higgs

3

59%

33%

100%

Missão Curiosity

12

75%

29%

97%

Fonte: elaboração própria, com base na análise realizada.

4.1 - Matérias sobre o Bóson de Higgs A Revista Época publicou apenas três matérias sobre o assunto – sendo que uma delas se trata de um teaser para a compra da revista impressa – e a Folha Online, 12. As matérias sobre o Bóson de Higgs apareceram concentradas na primeira semana de julho, próximas da data em que foi feita a declaração oficial da sua descoberta. No conjunto das matérias, os dois veículos conseguiram dar conta da maioria dos critérios analíticos das três dimensões. Porém, ao analisar as postagens como independentes o percentual é baixo. A partir dos gráficos mostrados a seguir percebe-se, excetuando-se a dimensão 3, que a Folha Online apresentou maior percentual de presença em todos os critérios em relação à Revista Época. Quanto aos critérios da dimensão 1, percebeu-se que a Folha apresentou maior percentual de consulta a mais de uma fonte, principalmente nas matérias mais recentes. Isso pode ser resultado tanto de um amadurecimento dos repórteres quanto ao assunto, quanto a uma maior disponibilidade de tempo – uma vez que as informações factuais já haviam sido publicadas – e também à estrutura redacional do veículo, já que a Folha conta com uma equipe especializada em ciência. A Revista Época, por sua vez, não consultou mais de uma fonte ou não explicitou essa consulta nas matérias analisadas. Em relação aos outros 3 critérios, as publicações apresentaram padrões semelhantes como citado anteriormente. A seguir, resumo da análise feita nos dois veículos (gráfico 1). Gráfico 1: Dimensão 1 - Jornalística

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Fonte: elaboração própria, com base na análise realizada. Quanto à dimensão 2, os dois veículos conseguiram passar ao leitor uma ideia do que é o Bóson de Higgs, dados complementares sobre o histórico da sua busca, porque sua descoberta é importante e o que ela representa. Porém, esses dados se encontram dispersos entre as reportagens e, assim, não compõe matérias consideradas completas, de acordo com o que já foi discutido anteriormente. A imagem abaixo (imagem 1) mostra como a Revista Época explica o contexto da busca pelo Bóson de Higgs. Porém, essa contextualização não avança para um nível de explicação da teoria, fica em um nível superficial e que exige um conhecimento prévio (como o que são as teorias de formação do universo). Imagem 1: Exemplo Revista Época.

Fonte: Revista Época (04/07/2012).

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Por sua vez, a Folha Online não só explicou a teoria (na maioria das postagens), como aproximou o conceito da realidade dos leitores leigos. Porém, a partir de certo momento, passou a repetir algumas informações em todas as publicações sobre o assunto. O seguinte infográfico (imagem 2), por exemplo, figurou em diversas dessas postagens. Imagem 2: Infográfico Folha Online

Fonte: Folha Online (04/07/2012) A publicação a seguir (imagens 3 a 7) foi escolhida entre as postagens da Folha Online como exemplo por ser considerada completa em relação aos critérios científicos. Ela explica de forma didática o que é o Bóson, o porquê da busca por ele e o que sua descoberta implica. Explica ainda, o que são as partículas e como elas interagem no Universo. Como é impossível reproduzir o infográfico dinâmico, apresenta-se aqui “fotos” de alguns momentos, para demonstrar a linguagem utilizada. Imagens 3 a 7: Infográfico Folha

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Fonte: Folha Online (04/07/2012).

Fonte: Folha Online. (04/07/2012). Na tabela que se segue (gráfico 2), um resumo do que foi encontrado na análise dos critérios da dimensão 2. Gráfico 2: Dimensão 2 - Científica

Fonte: elaboração própria. Quanto aos critérios tecnológicos, a Época apresentou mais hiperlinks do que a Folha, geralmente inseridos automaticamente pelo site, como é possível ver abaixo (imagens 8 e 9). Imagens 8 e 9: Exemplo de hiperlinks

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Fonte: Revista Época. (06/07/2012)

Fonte: Folha Online. (05/08/2012)

Apesar de dispersas entre as publicações, os dois veículos apresentaram um conjunto variado e satisfatório de hipermídias. O exemplo a seguir (imagem 10), retirado da Época, mostra parte de um infográfico diferenciado - estático e dinâmico. Imagem 10: Infográfico dinâmico

Fonte: Revista Época. (06/07/2012). A Folha Online apresentou maior diversidade multimidiática, como o infográfico a seguir (imagem 11). Imagem 11: Infográfico Folha.

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Fonte: Folha Online. (28/01/2012). Abaixo, resumo da análise dos critérios da dimensão 3 (gráfico 3). Gráfico 3: Dimensão 3 - Tecnológica

Fonte: elaboração própria.

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4.2 - Matérias sobre a Missão Curiosity A Revista Época publicou 12 matérias sobre a Missão Curiosity e a Folha Online publicou 25. As publicações sobre a sonda em Marte aparecem a partir da primeira semana de agosto, época em que o robô pousava no planeta vermelho (com exceção a uma matéria da Folha Online publicada em janeiro). A partir daí, as matérias passam a aparecer de forma constante. Quanto aos critérios da dimensão 1, os dois veículos apresentaram todos os critérios de análise (100%) com exceção para a presença de mais de uma fonte (0% na Revista Época, 24% na Folha Online), como dito anteriormente. Abaixo, gráfico com a porcentagem de presença dos critérios da dimensão 1 (gráfico 4). Gráfico 4: Dimensão 1 – Jornalística

Fonte: elaboração própria. Em relação à dimensão 2, a Folha Online apresentou maior presença dos critérios do que a Revista Época. Por exemplo, em relação à presença de análise sobre o assunto, a Folha Online teve 20% de presença, contra 0% daquela. Apesar de ser um percentual baixo, é possível encontrar matérias em que os jornalistas dão conta desse critério (imagem 12). Imagem 12: Exemplo Folha.

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Fonte: Folha Online (07/08/2012) O jornal também se destacou, em comparação à revista, em relação à presença de dados complementares e aproximação do assunto ao cotidiano. Abaixo, exemplo dos dois critério retirados de uma mesma matéria na Revista Época (imagem 13). Imagem 13: Exemplo Revista Época.

Fonte: Revista Época (07/08/2012). A seguir, parte de um infográfico (imagem 14) utilizado em uma matéria da Folha Online, exemplifica o uso de dados complementares e aproximação do assunto ao cotidiano – ver informações destacadas pelo contorno azul. Imagem 14: Infográfico Folha Online.

Fonte: Folha Online (05/08/2012). O único critério dessa dimensão em que a Revista Época apresentou maior percentual de presença do que a Folha Online foi o uso de metáforas explicativas. Abaixo, exemplos nos recortes das matérias (imagens 15 e 16). 18

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Imagem 15: Exemplo Revista Época.

Fonte: Revista Época (22/08/2012). Imagem 16: Exemplo Folha Online.

Fonte: Folha Online (20/08/2012). Os trechos a seguir mostram o inverso (imagens 17 e 18). O jornalista insere informações complementares, porém não as explica. Imagem 17: Exemplo Folha Online.

Fonte: Folha Online (21/08/2012). Imagem 18: Exemplo Revista Época.

Fonte: Revista Época (06/08/2012). O gráfico abaixo (gráfico 5) mostra a porcentagem de presença dos critérios da dimensão 2. Gráfico 5: Dimensão 2 - Científica

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Fonte: elaboração própria. Em relação à dimensão 3, a Revista Época apresentou porcentagem de presença dos critérios superior à Folha Online – com exceção para a interatividade (100% de presença em ambas), ponto já discutido anteriormente10. Porém, em relação à presença de multimídia, a Folha Online apresentou maior diversidade. Todas as matérias da revista continham imagem, com exceção a uma (imagem 19) que apresentou, também, uma imagem panorâmica interativa. Imagem 19: Imagem panorâmica interativa.

Fonte: Revista Época (13/08/2012). A Folha Online apresentou galerias de imagem, infográficos estáticos e um infográfico animado além de imagens. Abaixo, uma representação estática do infográfico animado presente em uma das matérias analisadas (imagem 20). Imagem 20: Infográfico animado.

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Como o uso de hiperlinks e as fontes de interatividade já foram discutidas acima, não se considera válido repetir a análise.

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Fonte: Folha Online (12/01/2012). A seguir, gráfico com a porcentagem de presença dos critérios da dimensão 3 (gráfico 6). Gráfico 6: Dimensão 3 - Tecnológica

Fonte: elaboração própria. 5. Considerações Finais Nesse trabalho foi possível observar como o jornalismo científico tem sido construído na internet e se o que se encontra na mídia coincide com o que tem sido discutido e sugerido entre os teóricos da área. A escolha da análise através de três dimensões – jornalística, científica e tecnológica – possibilitou uma percepção mais ampla da produção dessas matérias. E, pelo que foi possível observar os jornalistas não têm seguido regras básicas da profissão (como a presença de consulta a mais de uma fonte que apareceu em 30% das matérias). A observação dos critérios de noticiabilidade (critérios de seleção substantivos, de acordo com classificação feita por Nelson Traquina em 2008) objetivou mostrar co21

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mo esses temas apareceram noticiados na imprensa. Foi possível perceber que os temas foram noticiados porque se tratava de notícias factuais de grande impacto social, o que não combina com as características do “fazer científico”. Em relação aos critérios selecionados na dimensão 2, intencionou-se analisar a forma pela qual a ciência tem sido apresentada jornalisticamente. Através da análise da capacidade crítica dessas matérias, da aproximação do assunto ao cotidiano, foi possível confirmar a percepção supracitada. A ciência tem sido apresentada como algo inquestionável, a partir da voz de uma única fonte, a autoridade no tema noticiado, e feita de fatos extraordinários. Quanto aos critérios da dimensão 3, apesar da grande presença entre as publicações, é possível dizer que cabem melhorias no trabalho desses jornalistas. Vários fatores podem influenciar na falta de inovações na linguagem digital, tais como a falta de tempo de produção, falta de profissionais capacitados para trabalhar com as ferramentas, entre outros. Porém, a produção digital é uma realidade e precisa ser encarada por esses veículos. A falta de recursos multimidiáticos, além de não tornar as matérias chamativas, pode atrapalhar o entendimento do leitor, principalmente em temas complexos tais como a ciência.

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