A aprendizagem experiencial sobre a ótica do Behaviorismo - um estudo bibliográfico

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Running head: A APRENDIZAGEM EXPERIENCIAL

A aprendizagem experiencial sobre a ótica do Behaviorismo - um estudo bibliográfico Sheìla Machado Graduação em Psicologia – Especialização em Psicologia Comportamental pelo Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU/USP)

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O objetivo deste artigo é abordar o comportamento humano através da abordagem científica de B. F. Skinner em seu livro Sobre o Behaviorismo (1974), agregando a Teoria da Aprendizagem Experiencial fundada pelo americano David Kolb em seu livro Experiential Learning (1984), na qual defende a aprendizagem comportamental por meio de vivências, usando a premissa da aprendizagem experiencial e expansão da zona de conforto para obtenção e desenvolvimento de comportamentos eficazes e adaptativos em prol de maior sobrevivência dos sujeitos que experienciam estas atividades. Desse modo, promover-se-ia consciência e cuidado com o meio ambiente ao qual se está exposto, além da busca por consciência sobre determinados comportamentos emitidos pelos sujeitos ao longo de suas vivências. Uma busca na literatura nacional e internacional sobre a aprendizagem pela experiência demonstrou que, embora haja material teórico sobre o assunto, é limitado o número de estudos empíricos sobre o tema, o que justifica a relevância do assunto e a realização de pesquisas na área. Palavras-chave: Aprendizagem Experiencial, Behaviorismo, Skinner, Comportamento.

Abstract The purpose of this article is to address human behavior through scientific approach of B. F. Skinner in his book About Behaviorism (1974), adding the Theory of Experiential Learning founded by American David Kolb in his book Experiential Learning (1984), which advocates behavioral learning through deo learning experiences by using the premise of experiential learning and expansion of the comfort zone to obtain and develop effective and adaptive behaviors towards greater survival of individuals experiencing these activities. Promoting awareness and care for the environment year which it is exposed, as

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well as search for awareness of certain behaviors issued by the subjects throughout their experiences. A search in national and international literature on learning by experience has shown that, although there are theoretical material on the subject is limited number of empirical studies on the subject, which explains the importance of the subject and conducting research in the area. Keywords: Experiential Learning, Behaviorism, Skinner, Behavior.

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A aprendizagem experiencial sobre a ótica do Behaviorismo - um estudo bibliográfico Introdução Sobre o comportamento humano Sabe-se que o comportamento humano constitui-se como objeto de estudo há longa data, com indagações sobre o porquê de determinadas pessoas se comportarem de formas diferentes quando expostas a contingências similares – questionamentos estes desencadeadores de inúmeros estudos, ideias e suposições. O presente artigo se propõe a deixar de agregar causalidade aos comportamentos, enfocando a razão pela qual o caminho para a aprendizagem e aderência de novos repertórios comportamentais torna-se supostamente mais eficaz frente às mudanças de contingências agregadas à autopercepção do sujeito exposto. Comida, água, fuga de danos e contato sexual são pontos importantes para a sobrevivência do indivíduo e para a perpetuação da espécie e, por isso, de acordo com Skinner (1982), quaisquer comportamentos que os produzam terão valor de sobrevivência. Frente às contingências de sobrevivência e de reforço, o organismo mais adaptado e com maior repertório comportamental – ou seja, o que mais aprendeu novos comportamentos – tem chance redobrada de sobrevivência frente aos organismos pouco expostos a novas formas de se comportarem. Nas palavras de Skinner: Contingências de reforço levam vantagem em relação à previsão e controle. As condições sob as quais uma pessoa adquire comportamento são relativamente acessíveis e com frequência podem ser manipuladas; as condições sob as quais a espécie adquire comportamento estão quase fora de alcance (Skinner, 1982, p. 44). Para Jarvis, Holford e Griffin (1998), o processo de aprender é relativo ao fazer sentido das experiências formal e informal, sendo que sua aplicação resulta em aumento de conhecimento, habilidades e comportamento incorporados à aprendizagem no local de

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trabalho, ou conforme é cabido para o presente artigo, expandindo-se a aprendizagem para toda e qualquer contingência à qual o indivíduo poderá vir a ser exposto. Skinner (1982) compreende que certas formas de ensinar uma pessoa levam-na a notar diferenças muito pequenas em suas “sensações” corporais e, percebendo tais diferenças, o sujeito mostra-se capaz de classificar corretamente as contingências às quais está exposto e, assim, obter maior reforço frente aos ambientes por ele desconhecidos. “Uma parte do universo está contida dentro da pele de cada um de nós (Skinner, 1982, p. 23).”. Skinner propiciou à Ciência avançar sobre o comportamento humano observando e modelando a preparação de organismos a fim de terem maior sobrevida quando expostos a novas contingências – proposta similar à da aprendizagem experiencial, que visa aumentar o repertório comportamental dos sujeitos expostos às atividades de expansões de zona de conforto ofertadas por meio de programas e projetos (públicos ou privados), aumentandose, assim, a probabilidade de sobrevivência dos participantes nas mais diversas situações que possam lhes ocorrer posteriormente. O condicionamento operante através dessa ótica passa a ser um dado importante para complementar esta análise.

O condicionamento operante e a Teoria da Aprendizagem Experiencial (TAE) O condicionamento operante – foco da aprendizagem experiencial – é uma forma de aprendizagem por meio de seleção por consequências. Skinner (1982) assevera que o comportamento é fortalecido por suas consequências e, por conseguinte, a probabilidade de ocorrer ou de se tornar extinto em prol da preservação da espécie é maior. Conforme supramencionado, comida é um importante reforçador, já que está associada à sobrevivência da espécie. Sendo assim, quando um organismo faminto emite um

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comportamento que produz comida, o comportamento é reforçado e, por consequência, tem maior probabilidade de ocorrer novamente em ocasiões parecidas (Skinner, 1982). Ou seja, o comportamento operante é visto como estando sob controle da pessoa que se comporta em busca da consequência chamada reforço - e reforçadores positivos (no exemplo, a obtenção de comida) fortalecem qualquer comportamento que os produza (Skinner, 1982, p. 43). Schick (1971, apud Todorov), que analisou as diferentes definições de operantes expostas por Skinner conclui que: Operantes podem ser definidos por propriedades da resposta de diferentes tipos: propriedades de terem certos efeitos, propriedades de terem certas formas, e propriedades de ocorrerem na presença de certos estímulos (Schick, 1971 apud Todorov, 2002, p. 125). A Teoria da Aprendizagem Experiencial (TAE) proposta por Kolb traz à luz o questionamento de como novas formas de o sujeito comportar-se através das experiências que vivencia (experiências marcantes e também corriqueiras,) o coloca à frente no quesito de sobrevivência através da aprendizagem por tentativa e erro, gerando ampliação do repertório comportamental cada vez que o sujeito é reforçado a obter o que lhe motiva, ou seja, o indivíduo tem uma vantagem competitiva maior quando tem maior repertório comportamental, já que responderá de forma adaptativa mais rapidamente quando exposto a novas contingências do que outro sujeito com baixo repertório comportamental ou com reduzidos comportamentos operantes, por assim dizer. De acordo com Inês (2009), é possível identificar que Kolb (1984, p. 32) caracterizou a aprendizagem experiencial com base nas seguintes proposições: (1) a aprendizagem é melhor concebida enquanto processo, não em termos de resultados; (2) a aprendizagem é um processo contínuo fundado na experiência; (3) o processo de

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aprendizagem requer a resolução de conflitos entre modos dialeticamente opostos de adaptação ao mundo; (4) a aprendizagem é um processo de adaptação ao mundo; (5) a aprendizagem envolve interacão entre a pessoa e o ambiente; (6) a aprendizagem é um processo de construção de conhecimento. Sobre o processo de extinção e aprendizado, Skinner enfatiza que as condições em que uma pessoa adquire comportamentos são relativamente acessíveis e podem ser, amiúde, reforçadas (Skinner, 1982 p.41), o que favorece o conceito de aprendizagem experiencial, na qual os sujeitos são expostos a novas contingências que favorecerão o desenvolvimento de novos repertórios comportamentais ou a extinção de alguns repertórios usados habitualmente frente aos estímulos de reforço ou punição que os indivíduos recebem como consequência do comportamento emitido. Ainda de acordo Skinner, as contingências de reforço às quais o sujeito é exposto levam vantagem no que diz respeito à previsão e controle da obtenção de comportamentos, condizendo com a aprendizagem experiencial no tocante ao sujeito ter a necessidade de agir para se sentir reforçado quando obtém o que lhe falta, e receber como resposta - por seu comportamento - consequências positivamente reforçadoras.

Sobre a aprendizagem experiencial na concepção kolbiana Existe uma literatura associada à aprendizagem experiencial em prol de uma melhor adaptação para o desenvolvimento humano em situações cotidianas, como por exemplo alguns estudos relacionados ao processo de qualificação profissional - é o caso dos processos de formação de jovens aprendizes em grandes empresas. Contudo, a concepção kolbiana tem grande potencial de aplicação especificamente no campo do desenvolvimento pessoal, já que parte da premissa de integrar o conhecimento estruturado ao conhecimento experiencial a fim de construir, de forma fortalecedora, a obtenção de

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novos comportamentos no percurso da vida de um sujeito. Para o referido autor, o ser humano é intrinsecamente ligado ao meio natural e cultural do qual faz parte, e é capaz de aprender a partir de suas experiências, assim, aprenderá mais rápido quando motivado por seus propósitos, empenhando-se na obtenção de aprendizados que lhe façam mais sentido. A aprendizagem experiencial, nas palavras do autor é: O processo por onde o conhecimento é criado através da transformação da experiência. Esta definição enfatiza [...] que o conhecimento é um processo de transformação, sendo continuamente criado e recriado [...]. A aprendizagem transforma a experiência tanto no seu caráter objetivo como no subjetivo [...] Para compreendermos aprendizagem, é necessário compreendermos a natureza do desenvolvimento, e vice-versa (Kolb, 1984, p. 38). Para Kolb, “a aprendizagem é o processo por onde o desenvolvimento ocorre” (1984, p. 32), e “o processo de aprendizagem advindo da experiência determina e atualiza o desenvolvimento potencial. Esta aprendizagem é um processo social; portanto, o curso de desenvolvimento individual é determinado pelo sistema cultural e social de conhecimento” (Kolb, 1984, p. 133). Sugere-se, a partir desta afirmação, a importância do envolvimento com atividades ao ar livre, nas quais a aprendizagem experiencial teria um potencial altamente relevante para os sujeitos envolvidos, haja vista que lhes proporcionaria novas formas de se comportarem correlacionadas aos “desejos, intenções e propósitos” por eles emitidos, além de motivações – abrangidas mais pelas teorias de reforçamento e operações motivadoras (estabelecedoras e abolidoras). Para o autor, a experiência é central para o desenvolvimento humano pois dirige o sujeito a uma meta, um enfoque específico para o aprendizado e para a expansão da zona de conforto ou, por assim dizer, para que seja motivado a correr riscos experimentando

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novas formas de se comportar em prol da obtenção de um objetivo – em favor de um reforçador específico. Através de experiências de imitação, de comunicação com outras pessoas e de interação com o ambiente físico, as potencialidades de desenvolvimento são estimuladas e postas em prática até que internalizadas como desenvolvimento efetivo [real] independente” (Kolb, 1984, p.133). Essa ideia condiz com a afirmação de Skinner quando o autor expõe que “o valor da sobrevivência de comportar-se como os outros se comportam parece ser óbvio” (1974, p.39), afinal, supõe-se que se comportar imitando outro sujeito pode gerar contingências de reforço iguais às que o sujeito imitado em situação semelhante obteve.

Operações estabelecedoras e a Análise do Comportamento Conforme descrito, no comportamento operante o reforçador determina a seleção e ocasiona as respostas dos sujeitos - ou seja, para ocorrer a resposta operante o estímulo reforçador deve ter valor como reforçador. A operação estabelecedora é aquela que torna efetivo um determinado estímulo reforçador; são estas operações que dão forca a determinados reforçadores – compreendese que as operações fortalecedoras podem ser definidas como eventos ambientais que alteram a efetividade reforçadora de um estímulo, assim como evocam todo o comportamento que, no passado, foi seguido por tal estímulo. Este conceito de operação estabelecedora traz luz a algumas questões relacionadas à aprendizagem experiencial e surge com o intuito de, possivelmente, explicar as variáveis ditas motivacionais que, muitas vezes, deixam de ser eficazes quando vistas sobre a ótica do reforçamento, pois nem sempre o comportamento - problema de desmotivação - está na

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falta de consequências (ou estímulos reforçadores), mas sim na ineficácia das consequências geradas através destes estímulos. Consoante Miguel (2000), que se utiliza dos estudos de Michael (1982, 1988, 1993 apud Miguel, 2000, p. 260), eventos como os de privação/saciação e estimulação aversiva parecem possuir características em comum. Ainda segundo Michael, tais eventos momentaneamente alteram: a) a efetividade reforçadora de outros eventos; e b) a frequência de ocorrência de todo o comportamento que foi reforçado por esses eventos. Uma vez possuidores dessas duas características, tais eventos passaram a ser categorizados, ainda de acordo com Michael, como operações estabelecedoras, em relação às quais quatro efeitos distintos comuns às operações estabelecedoras são perceptíveis: 1. Efeito estabelecedor de reforçamento: uma operação estabelecedora, momentaneamente altera a efetividade reforçadora (ou punidora) de um estímulo. No caso, privação de água (como uma operação estabelecedora) aumentaria a efetividade de água como reforçador; 2. Efeito evocativo/supressivo da operação estabelecedora: imediatamente evoca (ou suprime) comportamentos que, no passado, produziram consequências cuja efetividade tenha sido alterada em (1). Assim, privação de água, como um evento antecedente (OE) evoca qualquer comportamento que tenha sido seguido pela apresentação de água; 3. Efeito evocativo/supressivo do SD: aumenta a efetividade evocativa (ou supressiva) de todos os estímulos discriminativos (SDs) que tenham sido correlacionados com o estímulo reforçador ou punidor em (1); 4. Efeito sobre o reforçamento/punição condicionada: aumenta/diminui a efetividade reforçadora/punidora de qualquer reforço/punidor (condicionado) cuja efetividade depende do reforçador/punidor em (1).

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Atentar-se para as operações estabelecedoras relacionadas com a aprendizagem experiencial torna-se então de suma importância, visto que os sujeitos que passam por esta modalidade de aprendizagem são expostos com intensidade a eventos de privação, saciação e estimulações aversivas ao serem retirados de seu ambiente rotineiro e serem expostos a trilhas e jornadas por lugares inóspitos e desconhecidos, com pessoas diferentes de si e sob condições às quais não estão habituados a se comportarem, tendo de se adaptarem às adversidades, selecionando novos comportamentos com o intuito de sobreviver.

O universo dentro da pele de cada um e sua ligação com os esquemas de reforço Apesar de ser um nicho ainda pouco explorado, mas em plena expansão, algumas instituições são pioneiras no país por sua proposta de aprendizagem experiencial por meio do desenvolvimento de programas educacionais em concomitância com o desenvolvimento e aprimoramento pessoal. Um exemplo é a OutwarBound (OB), que tem sede no Brasil e atua em diversos nichos, todos ligados a expedições de aventuras ao ar livre e enfoque em generalização dos comportamentos aprendidos para o Pós curso/Pós vivência (Calvo, 2013, não paginado). Outra instituição em destaque é a Aimberê, que oferta cursos de canionismo, espeleologia, arborismo, entre outros, e tem como premissa aulas com enfoque na aprendizagem experiencial. As grades curriculares são compostas de aulas práticas somadas às aulas teóricas, o que possibilita, de acordo a premissa skinneriana, maior ênfase no aprendizado, pois expõem os participantes, de forma efetiva, à obtenção de novos comportamentos através de contingências. Existem inúmeras outras instituições ligadas à aprendizagem experiencial, porém, pesquisas relacionadas à ampliação de repertório comportamental dos envolvidos são

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escassas e foram encontrados poucos dados relevantes em forma de índice comportamental para agregar ao presente artigo. Observando as experiências de ampliação de repertório comportamental propostas por instituições como a OutwarBound (OB) e Aimberê, através dos esquemas de reforço aqui descritos, percebe-se que as atividades propostas partem da premissa skinneriana de expor os sujeitos a contingências nas quais estejam previstos os níveis de privação e as adversidades às quais os participantes serão expostos. Em concordância com Skinner, quanto mais exata for essa previsão, mais precisamente se obterá o quão reforçador determinados acontecimentos serão para os sujeitos expostos, bem como qual a probabilidade de uma pessoa empenhar-se em comportamentos pertinentes em prol de sua sobrevivência (Skinner, 1982, p. 46). Nos programas de expedição e aprendizagem experiencial, os participantes são expostos a trilhas, mares, montanhas, arvorismo, escaladas e às mais adversas contingências por um número preciso de dias, de modo que levam consigo roupas, mantimentos e o que mais for necessário para a sobrevivência do grupo. Este estado de privação e a demanda por comportamentos apropriados são fundamentais para a sobrevivência dos sujeitos e é através das contingências que são selecionados os comportamentos operantes de maior adaptabilidade e que tendem a ser generalizados durante a vivência e, posteriormente, as contingências habituais dos sujeitos – modificando seus repertórios comportamentais e as respostas ambientais futuras. “Os efeitos do reforço operante são frequentemente representados como estados internos [...] Quando reforçamos uma pessoa, diz-se que lhe damos um motivo ou incentivo; todavia, inferimos o motivo ou o incentivo do comportamento” (Skinner, 1982, p. 49). Na aprendizagem experiencial, os grupos são acompanhados de instrutores ou mediadores preparados para se comportarem de forma precisa nas situações adversativas

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às quais os participantes serão expostos, transformando e sendo transformados pelo ambiente. Durante as expedições, parte-se da premissa de que, quando determinados comportamentos ineficientes surgem, os mediadores atuam de forma a torná-los conscientes – reforçando os comportamentos eficientes e expondo os comportamentos ineficientes. E para cada comportamento eficiente exposto, os instrutores reforçam os comportamentos verbais que relatam os “sentimentos” associados ao comportamento em questão. Quando certo ato é quase sempre reforçado, diz-se que uma pessoa tem a sensação de confiança (Skinner, 1982, p. 52). “Uma pessoa se sente segura ou certa de que será bem sucedida [...], experimenta uma sensação de domínio, poder ou de potência [...], o reforço frequente também origina e mantém o interesse por aquilo que a pessoa está fazendo” (Skinner, 1982, p. 53). Percebe-se, então, que as contingências às quais os sujeitos são expostos têm grande influência na percepção do próprio comportamento, propiciando sua modificação – adequando comportamentos ineficientes para comportamentos eficientes, o que garantiria a evolução da espécie humana.

Os estímulos, o controle do comportamento operante e a aprendizagem por experiências Conforme descrito, os participantes de atividades ao ar livre com enfoque na aprendizagem experiencial são afetados pré e pós-atividade; eles possuem ideia do que acontecerá nos programas propostos, mas não sabem exatamente a quais circunstâncias serão expostos – e, mesmo antes de iniciarem seus processos, já estão sob controle dos estímulos precedentes. Skinner enfatiza que:

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O ambiente depois, bem como antes, de ele responder [...] A ocasião em que o comportamento ocorre, o próprio comportamento, e suas consequências estão interrelacionados nas contingências de reforço que já examinamos [...] Uma resposta reforçada em determinada ocasião que lhe seja muito semelhante; em virtude porém de um processo chamado generalização, pode surgir em ocasiões que partilhem apenas algumas dessas propriedades (Skinner, 1982, p. 66). Essa condição idiossincrática do comportar-se acontece devido a contingências precedentes às quais os sujeitos foram expostos. De acordo o autor, tem-se assinalado frequentemente que uma pessoa que percorra uma estrada como passageiro não é capaz de encontrar seu caminho tão bem quanto outra que tenha dirigido um veículo por essa mesma estrada igual número de vezes (Skinner, 1982 p. 67); e a aprendizagem experiencial parte desta premissa de gerar autonomia aos participantes para que, ao passar por lugares antes desconhecidos, sintam-se capazes (por terem sido anteriormente reforçados de forma positiva em situações semelhantes), sobrevivendo e perpetuando a espécie.

Aprendizagem experiencial e a importância social Conforme descrito no presente artigo, as contingências ambientais desenvolvem novos comportamentos – eficientes ou ineficientes e selecionados por consequências reforçadoras ou punitivas – dos sujeitos expostos. A aprendizagem experiencial é um antigo nicho do mercado brasileiro, sendo explorado de forma nova e lentamente em expansão por meio de projetos sociais e instituições que priorizam novas formas de aprender e de se comportar frente a estímulos rotineiros, mas que gerem outras respostas dos sujeitos expostos e das contingências variadas.

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Em conformidade com o exposto neste trabalho, supõe-se que sujeitos expostos às atividades ao ar livre comportem-se de forma mais efetiva, com maior controle sobre seus próprios comportamentos, já que sua percepção sobre si está amplamente aguçada frente ao sujeito nunca exposto a tal experiência e, de acordo com a literatura skinneriana, este organismo foi simplesmente modificado de tal forma que os estímulos controlam agora tipos particulares de seu comportamento (1982, p. 74). Assim sendo, percebe-se que compreender as contingências e reforçar de maneira efetiva os sujeitos expostos fortalece a ampliação de repertório comportamental e, por conseguinte, a sua generalização, mesmo sobre contingências diferentes, tornando o organismo mais adaptativo às contingências diversas futuras. A relevância de projetos que abrangem a aprendizagem experiencial é, então, de suma importância, haja vista que os sujeitos são retirados de suas contingências habituais e expostos a novas contingências que demandam adaptação e ampliação de comportamentos – são os ambientes construtivos aos quais Skinner se refere em grande parte de sua literatura, tal como: “Talvez seja verdade que não há estrutura sem construção, mas devemos buscar um meio ambiente construtivo, não uma mente construtiva” (Skinner, 1982 p. 102). Ser exposto a novas contingências produz novas formas de pensar e associar determinados comportamentos com reforços ou punições; e trazendo estes comportamentos à tona, o sujeito é modificado amplamente, pois sua forma de pensar, associar e, consequentemente, responder ao ambiente é transformada, acarretando consequências positivas ou negativas e adaptando sua forma de interagir com os ambientes em prol de perpetuar sua espécie – agregando ainda mais valor, pois perpetua também os ambientes pelos quais passa.

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Conforme descrito no início deste artigo, é baixa a produção nacional desta literatura. Apesar de ser vasta a literatura internacional sobre a aprendizagem por experiências, muito do que foi lançado enfoca os comportamentos empresariais e organizacionais, sendo pouco enfocado a aprendizagem experiencial como sendo relevante para o desenvolvimento pessoal e para a melhoria de qualidade de vida dos seres humanos. Assim sendo, abre-se a possibilidade de continuidade de futuros estudos e pesquisas em tal área, para que o desenvolvimento pessoal e a melhoria na qualidade de vida sejam observados como importantes objetos de estudos, já que a ampliação de repertórios comportamentais obtidos através da exposição da aprendizagem experiencial posteriormente os generalizaria para as inúmeras contingências às quais nós, seres humanos somos expostos, e teríamos assim maior chance na obtenção de reforçadores positivos através de comportamentos operantes eficientes.

Referências Aimberê. (n.d.). Aimberê. Assessoria e cursos em ambientes verticais. Disponível em http://aimbere.com/ Calvo, A. (2013). Blog de escalada.com. Saiba o que é a OBB – Outward Bound Brasil. Disponível em http://blogdescalada.com/saiba-o-que-e-a-obb-outward-boundbrasil/ Inês, R. P. R. (2009). A aprendizagem experiencial e a sabedoria no adulto e no adulto idoso (Tese de Doutorado). Disponível em http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2229/1/ulsd059095_tm_Rui_Ramalho.pdf Jarvis, P.; Holford, J., Griffin, C. (1998). The Theory and Practice of Learning. London: Kogan Page.

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Kolb, D. A. (1984). Experiential learning: experience as the source of learning and development. New Jersey: Prentice-Hall, Inc. Miguel, C. F. (2000). O conceito de operação estabelecedora na análise do comportamento. Psicologia: teoria e pesquisa, 16(3), 259-267. Sampaio, Â. A. S. (2005). Skinner: sobre ciência e comportamento humano. Psicologia: ciência e profissão, 25(3), pp. 370-383. [online] ISSN 1414-9893. Skinner, B. F. (1982). Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix/EDUSP. Todorov, J. C. (2002). A evolução do conceito de operante. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18(2), 123-127. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010237722002000200002

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