A ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DAS BIBLIOTECAS DIGITAIS

July 12, 2017 | Autor: W. Bento Geraldes | Categoria: Information Science, Bibliotecas digitais
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A Arquitetura da Informação NO CONTEXTO DAS BIBLIOTECAS DIGITAIS Wendell Bento Geraldes Mestrando em Gestão do Conhecimento e da Tecnologia da Informação Universidade Católica de Brasília. E-mail: [email protected].

RESUMO A preservação da memória e do conhecimento de uma sociedade e sua cultura sempre foi missão das bibliotecas. Hoje em seu formato digital, as bibliotecas se tornam imensos repositórios de informação. Saber como armazenar e recuperar tais informações e suma importância para o bom aproveitamento destas. É neste contexto que a Arquitetura da Informação se torna um importante aliado na construção de novas ontologias. O objetivo deste artigo é abordar a utilização da disciplina de Arquitetura da Informação e seu método de aplicação prática na busca pela criação de novas ontologias no contexto das Biblioteca Digitais. Palavras-chave: Arquitetura da Informação, Bibliotecas digitais, Conhecimento, Memória, Informação, Ontologias. ABSTRACT The preservation of memory and knowledge of a society and its culture has always been the mission of libraries. Now in its digital format, libraries become huge repositories of information. Knowing how to store and retrieve this information and very important for the good use of these. It is in this context that the information architecture becomes an important ally in the construction of new ontologies. The purpose of this article is to address the use of the Architecture discipline of information and its practical application method in the quest to create new ontologies in the context of the Digital Library. Keywords: Information Architecture, Digital libraries, knowledge, memory, information, Ontologies. 1

INTRODUÇÃO

Com o avanço e acesso cada vez a maior da Internet, as bibliotecas digitais ganham destaque, uma vez que são capazes de agregar valor aos serviços providos pelas bibliotecas tradicionais (não virtuais), e serem capazes de absorver protocolos abertos e padrões mais recentes para a descrição de metadados. Por este motivo tornaram-se um suporte essencial para armazenamento, indexação, recuperação e distribuição de documentos digitais pela Internet (CRUZ; CASTRO, 2006). É neste contexto que se torna importante conhecer algumas definições de termos utilizados, no sentido de auxiliar a compreensão da terminologia própria da informática e da informação no que concerne ao conceito específico de biblioteca digital. Segundo Toutain (2005), Biblioteca Digital é aquela que tem como base informacional conteúdos em texto completo em formatos digitais – livros, periódicos, teses, imagens, vídeos e outros –, que estão armazenados e disponíveis para acesso, segundo processos padronizados, em servidores próprios ou distribuídos e acessados via rede de computadores em outras bibliotecas ou redes de bibliotecas da mesma natureza. Metadados são elementos de descrição/definição/avaliação de recursos informacionais armazenados em sistemas computadorizados, organizado por padrões específicos, de forma estruturada

2 (TOUTAIN, 2005). Objeto digital no contexto dos arquivos e bibliotecas digitais, é um registro de informação codificado digitalmente, consistindo de conteúdo informacional metadados e identificador (TOUTAIN, 2005). Ontologia é uma proposição evidente ou que se dá por verdadeira em um sistema lógico e da qual derivam dedutivamente outras proposições. Estabelece fundamentos de significados conceituais sem os quais a Web Semântica não seria possível. É também uma concepção de estruturas concebidas como um conjunto de relações entre elementos com funções definidas. Semântica é a disciplina que estuda a linguagem natural e formal (signos, termos, palavras) a sua função de representação, o que significa ou a que se refere (TOUTAIN, 2005). A Web Semântica ou semantic web é a evolução da Web atual, cujos proponentes foram Tim Berners-Lee, Hendler e Lassila. Visa fornecer estruturas semânticas e dar significado semântico ao conteúdo das páginas Web, criando um ambiente onde agente de software e usuários possam trabalhar de forma cooperativa (TOUTAIN, 2005). O desafio de descrever documentos é fundamental para possibilitar a recuperação de um item da coleção, avaliando sua relevância e posterior uso. Na medida em que as bibliotecas aumentam sua coleção, o profissional da informação precisa criar métodos para registro, inventário e descrição de documentos, como forma de controlar acervos e prover meios de acessar seletivamente os itens da coleção. Com o surgimento da Web, uma grande parte das informações foi organizada em torno deste serviço. É neste contexto que surge o termo “metadados”, o crescimento acelerado e caótico da Web, promove o desafio de identificar, recuperar e avaliar a infinidade de recursos os mais diversos, tornando disponíveis na Web (MARCONDES, 2005). Diante do crescimento exponencial do conteúdo de informações disponibilizado na Web, se faz necessária a utilização de uma Arquitetura da Informação que fornecerá subsídios suficientes para atender as necessidades de registro, inventário e descrição de documentos em repositórios digitais. Este artigo apresenta uma proposta de discussão acerca do uso da Arquitetura da Informação no contexto das bibliotecas digitais como apoio a descrição de documentos, ampliando as possibilidades de pesquisa sobre este assunto. 2

O USO DE METADADOS NA WEB

O maior objetivo da utilização de metadados no contexto da Web, é a possibilidade de descrever documentos eletrônicos e informações em geral, possibilitando sua avaliação de relevância por usuários humanos, e também permitir agenciar computadores e programas especiais, robôs e agentes de software, para que eles compreendam os metadados associados a documentos e possam então recuperá-los, avaliar sua relevância e manipulá-los com mais eficiência (MARCONDES, 2005). O mecanismo utilizado para codificar metadados associados a um documento eletrônico em um formato que seja legível não só por pessoas mas também por programas é a linguagem XML – eXtensible Markup Language ou em português Linguagem de Marcação Extensível, que o padrão homologado pela W3C (MARCONDES, 2005). O uso de programas para processar XML é um dos pilares da iniciativa chamada Web semântica (BERNERS-LEE, 2001). Segundo Weibel (1995) Metadados são definidos como “dados sobre dados”. São dados associados a um recurso Web, um documento eletrônico, por exemplo, que permitem recuperá-lo e avaliar sua relevância, manipulá-lo, gerenciá-lo, utilizá-lo, enfim.

3 Uma das primeiras iniciativas para organizar o grande volume de informações contidas na Web, foram os catálogos, como o Yahoo, o primeiro catálogo da Web, e os chamados mecanismos de busca, como AltaVista, Lycos, WebCrawler etc, e mais recentemente, o Google. Enquanto em catálogos, a descoberta, avaliação, descrição e inclusão dos recursos Web na base de dados são feitas por profissionais de informação, os mecanismos de busca, para indexarem a Web, possuem programas que visitam página por página da Web, percorrem o texto de cada página, extraindo daí palavras-chaves, e armazenando numa base de dados estas palavras-chaves, associando ao URL da página. É sobre esta base de dados que os usuários fazem suas buscas nos sites dos mecanismos de busca (MARCONDES, 2005). No entanto, o crescimento cada vez maior da Web, e consequentemente do volume de informações contidos nela, reforça a necessidade de melhorar os sistemas de localização/identificação da informação na Internet. Algumas melhorias, forma incorporadas com o tempo, como por exemplo, o uso de tags especiais da linguagem HTML, as tags META, que ajudam os robôs de busca a fazerem uma indexação de melhor qualidade. Mesmo este recurso esbarra em um outro problema, a chamada Web profunda, que é de 1000 a 2000 vezes maior que a Web superficial e invisível aos robôs de busca (MARCONDES, 2005). O problema da Web profunda faz com que, hoje em dia, cada vez mais metadados estejam armazenados em banco de dados ou catálogos de bibliotecas digitais, associados, através de URL, aos documentos eletrônicos que eles descrevem. Conjuntos de metadados relativos a um documento eletrônico também não precisam ser únicos: vários conjuntos de metadados, produzidos por diferentes instituições, podem ser associados ao mesmo documento eletrônico. Desta forma, assim como um livro por ter várias cópias em diversas bibliotecas, o mesmo documento eletrônico pode estar sendo referenciado por vários conjuntos de metadados (MARCONDES, 2005). Diante do crescimento exponencial das publicações na Web, é necessário encontrar melhores formas de descrever/representar a informação. Coloca-se então um desafio para os profissionais da informação. 3

Arquitetura da Informação

Saul Wurman (1997, apud SIQUEIRA, 2008, p. 12) definiu a atividade de Arquitetura da Informação como o ato de organizar padrões inerentes aos dados; criar estruturas ou desenhos de informações que possibilitem a orientação do conhecimento ou o estabelecimento de princípios sistêmicos para fazer algo funcionar. Cada indivíduo interagindo com meio, captura sua impressão da realidade e a organiza através de uma ontologia pessoal, posteriormente esta ontologia é utilizada para reconhecer o mundo que o cerca. (SIQUEIRA, 2008). Representar conhecimento significa descrever – na forma de modelos e por meio de linguagens específicas – os objetos ou as situações do mundo real. Um modelo é uma representação parcial da realidade enfatizando alguns aspectos. Os modelos são representações simplificadas do real. Por eles é possível destacar os elementos essenciais do que se pretende representar (SIQUEIRA, 2008). No ponto de vista da ciência da informação, a Arquitetura da Informação é vista como colaboradora nos processos de tratamento, armazenagem e no acesso à informação, fazendo dos sistemas de informação seu principal objeto de interesse visando, com isso, atender às necessidades dos usuários de informação (ROBREDO, 2008). Segundo Robredo (2008) a informação pode ser tratada de duas maneiras, quando observadas sob o ponto de vista de sistemas. O conceito implícito da informação está relacionado

4 diretamente com a recuperação da informação e a qualquer conteúdo que caracteriza a informação registrada. Já na informação explícita são considerados atributos que descrevem características físicas dos documentos, aquelas que definem um documento como único e como ele está representado no sistema de informação. Os sistemas de recuperação da informação, operam por sentenças lógicas analisadas dos documentos, formando um conjunto de características que indicam o conteúdo dos documentos. Este conjunto de propriedades é ordenado de acordo com a pertinência das necessidades dos usuários (ROBREDO, 2008). As pesquisas relacionadas a recuperação da informação seguiram duas vertentes: a primeira voltada para os sistemas de informação, investigando aspectos metodológicos da construção, avaliação e implantação dos mesmos. A segunda vertente é voltada aos usuários da informação. Estudos são realizados no sentido criar modelos que possam melhorar a recuperação da informação, baseados em recomendação colaborativa de informação. A disciplina de Arquitetura da Informação interfere e se estrutura nos estudos da organização da informação no que se refere a catalogação, classificação e indexação, colaborando com modernos conceitos de descrição. Em relação a recuperação, a Arquitetura da Informação busca trazer conhecimentos das áreas da tecnologia, ciências cognitivas e comunicação. O Centro de Pesquisa em Arquitetura da Informação – CPAI, instituição vinculada a Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, se dedica a investigação e aplicação dos modelos de uso da informação e de suas diferentes manifestações. Problemas relacionados a recuperação da informação, indexação automática, web semântica, usabilidade, ontologia e taxonomia são objetos de estudo do grupo de pesquisa Representação e Organização da Informação e do Conhecimento. Isso mostra a importância que a Arquitetura da Informação tem nos estudos de propriedades e comportamento da informação, seu uso e transmissão, além do processamento, armazenagem e recuperação. 4

A CRIAÇÃO DE UM ONTOLOGIA PARA BIBLIOTECAS DIGITAIS

As ontologias possuem um aspecto multidisciplinar, e por isso várias definições, por exemplo, na filosofia o termo ontologia foi cunhado pelos autores escolásticos no século XVII, de modo que Jacob Lorhard na obra Ogdas Scholastica e Rudolf Goclenios na obra Lexicon philosophicum podem ter sido os primeiros a utilizá-lo. O termo é resultado da junção de outros dois termos em grego: onto (entes) e logos (teoria, discurso, palavra) (RAMALHO, 2010). Na área da ciência da computação o termo ontologia foi utilizado pela primeira vez no trabalho de Mealy (1967) intitulado Another Look at Data, em uma passagem na qual são apresentados três reinos distintos da área de processamento de dados. A partir daí as ontologias têm despertado o interesse de inúmeros pesquisadores da área da Ciência da Computação. A partir da década de 1990 houve um aumento significativo no interesse de desenvolvimento de ontologias, devido à necessidade de se criar bases de conhecimento compartilháveis e reutilizáveis, motivando a criação de fóruns como série de conferências FOIS (Formal Ontology and Information Systems) (RAMALHO, 2010). Atualmente a utilização de ontologias está se tornando comum nas áreas de integração de sistemas inteligentes, sistemas de informação cooperativos, software baseado em agentes, e comércio eletrônico (BREITMAN, 2004) Segundo Guarino (1990, apud RAMALHO, 2010) as ontologias podem ser construídas segundo seu nível de generalidade, de modo que os conceitos de uma ontologia de domínio ou

5 de tarefa sejam especializações dos termos introduzidos por uma ontologia genérica e os conceitos de uma ontologia de aplicação, por sua vez, devem ser especializações dos termos das ontologias de domínio e de tarefas correspondentes. Na área da linguística, as ontologias têm sido amplamente empregadas em várias aplicações PLN (Processamento em Linguagem Natural) com o objetivo de melhorar o desempenho dos sistemas computacionais nas tarefas de sumarização, resolução anafórica, recuperação de informação, desambiguação lexical de sentido, entre outras. Neste contexto, dois tipos de ontologias podem ser identificados: as chamadas ontologias linguísticas e as ontologias conceitais (RAMALHO, 2010). Na Ciência da Informação as ontologias têm sido objeto de estudo da área de Organização do Conhecimento. Para Esteban Navarro (1996, apud RAMALHO, 2010) a Organização do Conhecimento é a disciplina da Ciência da Informação que se dedica ao estudo dos fundamentos teóricos do tratamento e recuperação da informação, avaliando o uso de instrumentos lógicos linguísticos para controlar os processos de representação, classificação, ordenação e armazenamento do conteúdo informativo dos documentos com a finalidade de permitir sua recuperação e disseminação. Como pode ser observado todas as áreas do conhecimento citadas anteriormente (Filosofia, Ciência da Computação e Ciência da Informação) têm influenciado direta, ou indiretamente, o desenvolvimento de ontologias e apesar de suas diferentes abordagens teóricas é possível identificar a “necessidade de representação” como ponto focal de tal interconexão. Nos últimos anos o grande avanço no desenvolvimento das TIC têm acarretado uma nova gama de necessidades informacionais, impulsionando mudanças nos processos de desenvolvimento e administração de bibliotecas e unidades de informação, o próprio conceito de Biblioteca Digital têm passado por mudanças e por profundas inquietações, impondo a necessidade de reavaliar instrumentos, conceitos e tecnologias empregadas (RAMALHO, 2010). O avanço tecnológico e o grande volume de informações digitais existentes nos dias de hoje faz com que os profissionais ligados a área da Ciência da Informação sejam desafiados a encontrar novos meios para descrever o registro e o conteúdo dos recursos informacionais, pois as regras existentes são insuficientes para esta tarefa. É neste contexto que as ontologias surgem como uma evolução no tratamento temático da informação, conforme destacam Sales, Campos e Gomes (2008, p. 64-65, apud RAMALHO, 2010): Nas ontologias, o conjunto de relações é mais rico do que nas tabelas de classificação bibliográfica ou nos tesauros, o que permite maior estrutura representativa do conhecimento registrado em um discurso, para que possa ser manipulado pelo computador. É importante ressaltar que tais representações são igualmente relevantes na formulação de buscas nas ontologias.

Diante da potencialidade de representação dos relacionamentos existentes entre os conceitos que “traduzem” os conteúdos documentais, as ontologias apresentam-se como um novo tipo de fonte secundária, de acesso e favorecimento a uma maior flexibilidade e qualidade na recuperação de informações (RAMALHO, 2010). Segundo Ramalho (2010) o uso de ontologias torna possível o desenvolvimento de novos serviços de referência, contribuindo para a convergência de informações disponibilizadas em diferentes fontes, no intuito de possibilitar respostas mais adequadas e contextualizadas aos usuários.

6 Em relação as tecnologias emergentes do ambiente Web, comprovou-se a crescente influência das denominadas tecnologias semânticas no desenvolvimento de bibliotecas digitais, identificando que a utilização de ontologias privilegia o ensino de novos métodos, e competências profissionais, de representação de recursos informacionais, prevenindo a fragmentação do campo de atuação dos profissionais da informação e o surgimento de dicotomias entre aqueles aptos a trabalhar com ontologias e os que não estão (RAMALHO, 2010). Na criação de ontologias é preciso decidir como ela será usada e o grau de abstração e detalhe dos conceitos. O processo de desenvolvimento de uma ontologia é iterativo, ou seja, requer várias revisões até atingir o modelo que atenda à necessidade do projeto. Geralmente cria-se uma versão inicial que vai sendo refinada aos poucos. Esse processo de revisão pode perdurar pelo ciclo de vida da ontologia. Um processo simples para criação de uma ontologia deve conter os seguintes passos (MELO, 2010):

1. Determinar o domínio e escopo da ontologia; 2. Considerar o uso e reúso da ontologia; 3. Enumerar os termos importantes; 4. Definir as classes e a hierarquia; 5. Definir as propriedades das classes; 6. Definir os valores das propriedades; 7. Criar as instâncias.

5 ARQUITETURA DA INFORMÃO APLICADA ONTOLOGIAS PARA BIBLIOTECAS DIGITAIS

A

CRIAÇÃO

DE

Segundo Evernden e Evernden (2003, apud MELO, 2010) a expressão Arquitetura da Informação é aplicada para a estrutura e organização da informação e tem um papel-chave na gestão da informação das organizações. AI abarca diferentes disciplinas e técnicas da Ciência da Informação, Inteligência Artificial, linguística, Gestão de Bibliotecas, Teoria da Administração, Gestão do Conhecimento, programação, Engenharia da Informação e metodologias orientadas a objeto. A Arquitetura da Informação aplicada às necessidades da organização é assim definida: Arquitetura da Informação é uma disciplina fundamental descrita por teorias, princípios, direcionamentos, padrões, convenções e fatores de gestão da informação como um recurso. Produz desenhos, mapas, planos, documentos, blueprints e

7 modelos que ajudam tornar eficiente, efetivo, produtivo e inovador o uso de todos os tipos de informações (EVERNDEN; EVERNDEN, 2003, apud MELO, 2010).

Segundo Melo (2010) o Método de Arquitetura da Informação Aplicada (MAIA), além de instrumento para construção de Arquiteturas da informação, pode ser usado como método para processos de investigação científica na área de Ciência da Informação. O modelo de representação da realidade usado para delimitar o espaço de informação em que se dá a investigação científica é expresso na forma de uma proposta de ontologia para a área. Partindo desta afirmação, é possível então, formular a idéia de que é possível utilizar o MAIA também para criar ontologias capazes de representar de forma mais adequada o grande volume e diversidade de informações contidas na Web, e principalmente o conteúdo disponível em Bibliotecas Digitais. A própria definição de Arquitetura da Informação criada por Lima-Marques (2007) pressupõe a possibilidade da criação de uma ontologia para armazenagem e recuperação de conteúdos informacionais em repositórios digitais: Arquitetura da Informação é o escutar, o construir, o habitar e o pensar a informação como atividade de fundamento e de ligação hermenêutica de espaços, desenhados ontologicamente para desenhar (LIMA-MARQUES, 2007).

O detalhamento do método MAIA, traz o entendimento necessário para a compreensão da sua amplitude e poder de descrição da informação. Ao analisar os momentos do método é possível observar essa afirmação. O momento de Escutar remete a um sujeito que se encontra em determinado ambiente (espaço de informação) e deseja captar seus objetos e relacionamentos com a intenção de interferir nesse espaço. Para isto é preciso não apenas captar a realidade, mas também interpretá-la e estabelecer seus limites (SIQUEIRA, 2008, apud MELO, 2010). O momento de Ouvir é o “ato de captura das manifestações de informação” e compreende os mecanismos que permitem a percepção pelo sujeito dos sinais emitidos pelo espaço da informação. É a conexão entre o sujeito e o espaço que requer do sujeito a atribuição de significado para o novo arranjo estrutural que tem origem nesta relação. Essa atribuição de significado nada mais é que o ato de interpretar (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). O momento Pensar é uma rotina de análise de registros que produz redes de significados organizadas e aptas a representar o espaço de informação, composto pelos atos de interpretar e modelar (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). O Pensar engloba duas ações: o ato de interpretar e o ato de modelar. O primeiro busca a conformidade organizacional mais adequada ao sujeito, identificando lacunas no conjunto de significados captados no momento de escutar. O segundo trata da capacidade do sujeito de representar o conjunto de significados, incorporados as interpretações da etapa anterior. Interpretar e modelar corroboram para maior precisão à Arquitetura da Informação (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). O momento Construir é um conjunto de ações finitas e planejadas que servirão de base para a transformação do espaço de informação inicial, pela aplicação dos atos de modelar e tranformar, dando origem um novo estado (Eain+1) (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). O ato de Modelar neste momento, é um desdobramento da modelagem que teve inicio no momento anterior e se expressa em um modelo ontológico (WILLIS, 1999, apud MELO 2010) de representação dos registros do espaço estudado, considerando como coleção de registros (SIQUEIRA, 2008, apud MELO, 2010). O momento Habitar é a incorporação do espaço de informação pelo sujeito pelos atos de

8 transformar e estar (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). O habitar se dá na linguagem, nos níveis sintático, semântico e pragmático, pois é através dela que se comunica e modela (ou transforma) novos espaços. É o momento formado pela ação de transformar, somada ao estar. O sujeito habita o espaço e é agente transformador desse espaço ao tempo em que é por ele transformado, configurando um novo espaço, uma nova visão do mundo, uma nova realidade (COSTA, 2010, apud MELO, 2010). Caracterizado como um método científico por Melo (2010), o MAIA por de ser um importante instrumento na criação de ontologias para espaços de informação contidos em repositórios digitais na Web, inclusive nas Bibliotecas Digitais. 6

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento da Internet e consequentemente da Web e o volume cada vez maior de informações espalhadas pelo Cyberespaço. Conduzir pesquisas e estudos que possam apontar novos e melhores caminhos no sentido de encontrar formas de se representar a informação com precisão é de suma importância. As Bibliotecas Digitais, como repositórios de documentos digitais na Web, podem se utilizar destas inovações e oferecer aos seus usuários novas ontologias que possam fornecer metadados mais expressivos. Mas para alcançar os resultados pretendidos, é necessário que as ontologias sejam representadas em uma linguagem com padrões em uso na Web, de modo que sua aceitação e extensão sejam facilitadas, mas com um nível de formalismo tal que permita processamento pelos agentes. Complementarmente, é importante que as ontologias sejam planejadas através do uso de algum método que venha a ajudar a definição e a organização dos conceitos, sempre tendo em mente que a sua construção é uma tarefa multidisciplinar, envolvendo não só as técnicas para sua elaboração, como também o conhecimento do seu domínio alvo (CAMPOS, CAMPOS, CAMPOS, 2005). É neste contexto que surge a disciplina de Arquitetura da Informação pode oferece aos pesquisadores e estudiosos das áreas relacionadas, um método para auxiliar a criação de novas e melhores ontologias para Biblioteca Digitais. Este artigo considera que a hipótese da utilização da Arquitetura da Informação na construção de ontologias para Bibliotecas Digitais é viável, porém a literatura pesquisada sobre o termos acima citados não declara explicitamente que existam estudos diretamente ligados a este assunto. Sendo assim, abre-se um espaço para que futuras pesquisas possam ser realizadas neste sentido, pois ao estudar a Arquitetura da Informação e o método MAIA, conclui-se que tal ferramenta possibilita a criação de ontologias e neste contexto, abre perspectivas para que estas sejam utilizadas nas Bibliotecas Digitais. 7

REFERÊNCIAS

CRUZ, F.; CASTRO, B. Biblioteca Digital Brasileira em Música (BDB-MuS): perspectivas para um dimensionamento multidisciplinar em ciência e tecnologia da informação para a pesquisa musicológica no Brasil. XVI Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (ANPPOM), Brasília, 2006. MARCONDES, C.H.;KURAMOTO, H.; TOUTAIN, L.D.;SAYÃO, L. Bibliotecas Digitais: Saberes e Práticas. UFBA/IBICT, Salvador/Brasília, 2005.

9 SIQUEIRA, A. H. A Lógica e a Linguagem como fundamentos da Arquitetura da Informação. Dissertação de Mestrado. Brasília, 2008. ROBREDO, J.; LINS, G.S.; TEIXEIRA, F.A.G.; CARLAN, E.; JÚNIOR, A.T.C. Reflexões sobre Fundamentos da Arquitetura da Informação. IX ENANCIB: Diversidade Cultural e Políticas de Informação. USP, São Paulo. 2008. RAMALHO, R.A.S. Desenvolvimento e utilização de ontologias em Bibliotecas Digitais: uma proposta de aplicação. Tese de Doutorado. UNESP, campus Marília, 2010. BREITMAN, K.K.; LEITE, J.C.S.P. Ontologias – Como e Porquê Criá-las. Anais do SBC. 2004. MELO, A.M.C. Um modelo de Arquitetura da Informação para processos de investigação científica. Dissertação de Mestrado. UNB, Brasília, 2010. CAMPOS, M.L.M.; CAMPOS, M.L.A.; CAMPOS, L.M. Web semântica e a gestão de conteúdos informacionais. UFBA/IBICT, Salvador/Brasília. 2005.

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