«A arte pública está na maneira de olhar»

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ENTREVISTA

“A arte pública está na maneira de olhar” Há, em cada cidade, uma infinidade de temas que alimentam a criatividade artística. Mais do que um papel, a arte no ambiente urbano tem hoje “uma responsabilidade”, considera Mário Caeiro. Há mais de duas décadas a conceber e produzir projectos culturais e de espaço público, o investigador e autor do livro Arte na Cidade apela à criação de um branding do cidadão, usando os movimentos artísticos para tornar as cidades “mais humanas”. FILIPA CARDOSO FOTOS: LIONEL BALTEIRO

O que faz da cidade um palco para a arte?

Como se distingue arte pública de arte urbana?

A cidade oferece uma infra-estrutura que é mais ou menos clara, perceptível e sobretudo percepcionada sensorialmente. Essas infra-estruturas podem ser sistemas, superfícies ou temas. Ora, nos termos da arte, a melhor arte pública será aquela que os identifica com precisão e os transforma num assunto público. A cidade tem, por isso, infindáveis coisas para oferecer. Basta começar a procurar à nossa volta.  

Uso a palavra pública para dizer que a arte às vezes se transforma num assunto público, tornando-se parte do que temos de pensar se queremos ser cidadãos. Um cidadão contemporâneo mais completo deve ter noções do que é arte e do que quer dela. A criação de opinião, empatia e contacto é o essencial da arte pública. Já a arte urbana toca neste tema apenas parcialmente, tratando-se mais da capacidade de introduzir nos seus processos os fenómenos urbanos. É uma arte que pensa a fachada, o pavimento, a segurança, o acesso. Não tem tanto a ver com o ser público. É toda a arte que integre no

Como é que os artistas interagem com a cidade? A cidade funciona também como uma infra-estrutura simbólica ou cultural. 22 SC

O reflexo de uma sensibilidade que se acumula, nalguns casos ao longo de milénios. A sensibilidade de cada cidade constrói-se no tempo, pelas pessoas que a vivem. Os artistas identificam aspectos da cultura que estão ou esquecidos, ou apagados, ou importantes ou até óbvios. Uma artista como a Joana Vasconcelos mostra o óbvio que ninguém via, embora lá estivesse o tempo todo. No fundo, o que a cidade oferece à arte é um texto enorme – um livro que podemos abrir em qualquer lado para relacionar os elementos. Foi o que a Expo’98 fez com a frente ribeirinha (‘devolvendo’ um lugar ao seu destino) ou o que faz um street-artist como o Alexandre Farto (Vhils), quando decide usar explosões em vez de pintar. A escala da intervenção é infinita: tanto é a do planeador que decide um território, como é a do criador individual, que se lembra de pendurar fitas num cabo esticado de luzes [apontando para um cabo eléctrico decorado]. Tudo isto é importantíssimo, ao nível da pequena e da grande experiência e, depois, da forma como acedemos a essa experiência.

seu processo de recepção a cidade como infra-estrutura. Ambas se encontram com frequência numa arte que poderíamos dizer do Espaço Público.

Prefere, por isso, falar em “arte na cidade”? Não “da”, nem “pela”, mas “na” cidade.  

Como definimos o que é arte e o que não é? Não estou preocupado em fazê-lo, por uma simples razão: alguém a define por mim. Neste momento, a arte tornou-se numa forma de pensamento, e daí que ninguém a possui. A noção de arte pública trouxe para a cidade a discussão do que é que é arte, porque, caso contrário, essa discussão limitar-se-ia ao museu. Os museus garantiram uma espécie de núcleo duro da arte, histórico, enquanto na cidade experimentamos as pontas soltas desse núcleo.  

Mas qual a diferença entre a arte pública e a arte que vemos nas galerias ou museus? No fundo, é sempre arte, ou poderá ser, mas, na prática, não são a mesma coisa. Na arte que vai ao encontro da cidade, o jogo é muito mais complexo, porque vai ter de lidar com factores urbanos de muito difícil gestão, como a atenção que as pessoas dedicam à obra. No museu, as luzes estão num certo ponto, há silêncio, há um livro ou catálogo, e não é isso que vemos na zona ribeirinha, às 3 da manhã, quando nos deparamos com a piscina da Joana Vasconcelos (Portugal a Banhos). Agora, o tempo que necessitamos de dar à arte é, porém, sempre, próprio da arte. Artistas precisos, concretos, eficazes na comunicação urbana criam os espaços próprios para a arte ser entendida, sentida e percepcionada. Há zonas de certas cidades europeias, incluindo SC 23

Instalação vídeo da artista alemã Gabriele Seifert na Ermida N. Sra. da Conceição. No exterior, por estes dias, pode ser encontrada uma intervenção do artista internacional Alessandro Lupi. A rua é animada pela intervenção permanente ‘Pato Mudo’, uma criação dos designers Pedrita no muro do Jardim Botânico Tropical.

Lisboa, em que se experimentam espaços que sentimos que têm a ver com arte e onde nos é dado o tempo apropriado para os viver.  

É esse o grande desafio dos artistas urbanos? Diria que sim, é sobreviver neste magma de confusão que é a cidade e perceber como criam os seus espaços. Uns vão criá-lo em coisas pequeninas e concisas, para um público-nicho – por exemplo, um graffiter que comunica para o seu público, na parede que quer utilizar, controlando plenamente essa situação. Já com um artista que decida fazer um projecto urbano com uma interpretação original e própria da calçada à portuguesa, a coisa é muito mais complicada, porque vai ter de legitimar-se culturalmente e até obter várias autorizações. É mais complicado, mas também é mais ambicioso.  

Porquê mais ambicioso? Porque aquilo que definiu a arte no passado – e, por isso, fizemos museus – é que víamos algo e sentíamo-nos representados. Nem que fosse ao exclamar “que bem feito”. E se há obras de arte em que nos sentimos representados, o desafio na cidade é como conseguir fazer uma obra de arte que comunique e represente uma certa comunidade, ou seja, adquira uma certa monumentalidade. Antigamente e nos países comu24 SC

cultura de Rui Chafes na Av. Liberdade (Eu Sou como Tu). É um artista com um percurso muito sólido de investigação, esteticamente com uma linguagem própria. Esta obra está perfeitamente dissimulada na estrutura verde da Avenida. É muito importante, tanto para o catálogo da arte, como para a percepção pública do que possa ser a arte para as pessoas, e no entanto quase ninguém a vê. Note-se, foi colocada no espaço público, com autorizações públicas, ainda que paga por privados. Vejam como isto é complicado. É arte pública ou não? São estas as questões que procuro. No fundo, venha a conversação sobre se aquilo é arte pública ou não e, sendo, se é ou não a que eu – cidadão – quero.

nistas, por exemplo, isso não era muito difícil: fazia-se uma enorme estátua de Lenine. A dada altura, o seu corpo é embalsamado e colocado no mausoléu na Praça Vermelha. O interesse e a apreciação por Lenine foi, em dada altura, tão forte que obrigou ao surgimento de uma espécie de museu.

A arte pública é o monumento de hoje? Essa é a questão, porque boa parte da arte pública tradicional era um monumento em cima de um pedestal – o Marquês de Pombal, por exemplo, ainda lá está. Hoje, a arte pode ser um artista que vira uma cadeira ao contrário. Se o seu sentido encontrar e definir um público, gerando crítica e opinião, a arte acontece…  

Mas tem também um cariz efémero, que não perdura. Precisamente. Estamos neste momento num enorme labirinto e esse é que é o interesse: o efémero perturba o permanente, o provocatório perturba o comunitário, o belo é perturbado pelo sublime. Estamos a viver tensões, e, como já não existe nenhum paradigma, então, as pessoas estão a aglomerar-se em torno de focos estéticos. As pessoas adoram apreciar um bom festival de luz, por exemplo.  

Se não houver esse elemento de identificação, a arte pública pode ser intrusiva? no objecto que o artista coloca. Está na maneira de olhar. Muitos sítios na cidade são focos potenciais de arte. Até anónima, que é um pouco o que muitas pessoas fazem nas suas varandas, tornando-as operações estéticas. Lembro-me de uma no Bairro Alto, ao Convento dos Inglesinhos.

Há muitas formas de arte pública?

É uma arte acessível a todos?

Muitas, mas a arte pública não está já

É, mas feita apenas pelos escolhidos.

Para viver isto é preciso também perceber o que está em causa. Não sei se fazer uma coisa de bricolage será arte pública. Esta surge apenas no momento em que quem a faz sente uma certa responsabilidade por se tratar de um acto público, percebendo que está a comunicar e que quem recebe percebe que o que está a ser dito lhe diz respeito. Um exemplo do que, sendo grande arte, pode não ser arte pública: uma es-

Claro, vai ser sempre uma intrusão, mas não mais do que dois grandes problemas que estão a destruir o nosso campo sensorial: os média e a publicidade. Há poucas cidades no mundo onde não somos bombardeados por estímulos que nos condicionam as experiências da própria cidade e, logo, da vida. Não é à toa que chegamos a sítios como Veneza (ou ao Alentejo) e pensamos “que paz!”. Porquê? A publicidade está controlada. A arte como forma cultural – in-formação, re-codificação

– vai dialogar com isto tudo. São tantos os factores envolvidos na colocação de um objecto que essa intrusão acontece com a maior das facilidades. Mas uma obra de arte que seja feita com extrema sensibilidade e precisão naquilo que toca – o que significa muitas vezes que o artista opta por alterar factores muito específicos – normalmente consegue comunicar muito bem a sua própria existência e o seu papel na cidade. E, aí, é uma coisa muito cognitiva para o público urbano. Os cidadãos percebem essas coisas.

A edição é um aspecto importante da curadoria de arte pública. Todos os anos, desde 2011, o Projecto Vicente publica um livro ilustrado, convidando autores e artistas a dialogar com o mito fundador da cidade de Lisboa.

São sempre os cidadãos que têm a última palavra? Sim. Temos um caso extremo com a Expo’98, com o Jardim das Ondas, de Fernanda Fragateiro. Não só é interessante e bonito e se afirmou no campo da arte, como, ao mesmo tempo, é realmente um parque urbano que as pessoas usam e um espaço verde. A quantidade de decisões que a artista tomou para resolver a peça demonstra que houve uma visão forte, autoral, mas de uma simplicidade extrema. Gostar ou não desta peça torna-se uma querela irrelevante, pois ela afirma peremptoriamente “estou aqui”. O que significa que alguma arte mais ou demasiadamente codificada, ao nível das mensagens, muito dificilmente vai ter uma vida fácil na cidade. Para o bem ou mal, a cidade diz à arte o que quer SC 25

dela. Nem toda a arte, de resto, tem de ser urbana!

A seu ver, qual tem sido a evolução da arte na cidade? Vejo maior quantidade. É fascinante ir a qualquer bairro de Lisboa ou no estrangeiro e ver focos de estéticas que se reproduzem. Street art, arte pública tradicional, arte contemporânea, um certo minimalismo, por todo o lado! Há mais comunidades interessadas em usar a arte para fazer acontecer, vêem-se já projectos comunitários, de participação do público. Todos os festivais já os incluem. Vejo em tudo isto um grande contraste face ao condicionamento e a pauperização sensorial que se tem em casa, seja pelos sobre-estímulos dos jogos, seja pela nauseante imagem da televisão. Ora, se “espaço público” é na prática o espaço mediático que nos entra em casa pela cabeça adentro, fico sempre impressionado com o fascínio que as pessoas ainda têm ao vir para a rua, conversar, imaginar e inventar projectos.

A criação artística pode servir de elemento humanizante da sociedade? Neste momento, a arte na cidade tem a responsabilidade de traduzir o humano, lembrar-nos de que podemos ser chocados, comovidos, partilhar coisas, dar as mãos a alguém... É a arte pública que está a fazer estes estímulos. Nos seus melhores casos e quando é arte urbana, já consegue até tomar conta de partes de cidade.

O que é que as cidades ganham com isso? Desde logo, perceber melhor como os seus cidadãos podem interagir com as diferentes sensibilidades, vulgo, por

exemplo, bairros ou zonas. Ganha cidadãos muito mais criativos e integrados. Mais capazes de imaginar e muito mais sensibilizados para o mundo do que se não houvesse arte na cidade. Ganha também em localidade, pois passa a poder oferecer aos seus habitantes uma sensação mais forte de lugar, do local, o que, por sua vez, se reflecte numa sensação de mais forte identidade, tanto para quem nos visita como para quem por cá anda. Numa era em que estamos mais nómadas do que nunca, tudo o que seja apelar à origem das cidades dá-lhes uma espécie de seguro de vida em termos de place branding. A questão é se queremos fazê-lo apenas para vender ímanes de frigorífico ou se queremos contribuir para um branding do cidadão.

Como assim? Vivemos numa era absolutamente contaminada pelas linguagens da publicidade, da comunicação e dos média. É tarde para voltar atrás, mas podemos tentar fazer um branding do humano. No fundo, desviar um pouco os valores.

Há riscos para a cidade? A cidade está a borrifar-se para nós. É um organismo que ninguém pode controlar, e nós só damos o nosso contributo. Se queremos viver melhor, é bom que nos organizemos com quem pode ter voz na cidade, aos mais variados níveis, na saúde, comunicação, criação... De certeza que equipas multidisciplinares podem pegar num sítio e torná-lo mais “humanamente amigável”.

Os políticos estão mais atentos aos movimentos artísticos? Os políticos deveriam ouvir as várias

“A cidade é mais rápida do que nós e é bom que haja métodos interessantes, inclusivos, participatórios, para monitorizar as novidades. Conceitos como contexto, participação ou comunidade têm de ser continuamente questionados”. 26 SC

comunidades de conhecimento, não só arquitectos e urbanistas. Têm de ouvir psicólogos, artistas, designers, e não sei se o estão a fazer. Porque não há mecanismos únicos para esta interdisciplinariedade ser activada. Um bom projecto de arte pública é aquele que testa estas coisas. Certos políticos estão mais atentos aos movimentos sociais, artísticos e urbanísticos. Vejo, em Lisboa ou no Porto, claramente uma criteriosa avaliação, da parte do político, do que vê à sua volta: estão atentos às experiências, a monitorizá-las e vão apoiar e enquadrar institucionalmente certas visões. Mas a cidade é mais rápida do que todos nós e é bom que haja métodos interessantes e inclusivos, participatórios, para monitorizar as novidades. Conceitos como contexto, participação ou comunidade têm de ser continuamente questionados.

ça a ser uma coisa visitável, uma mais-valia urbana, mas também um ponto de encontro para a criatividade, e isto é muito importante para a sustentabilidade do ponto de vista social. Outro desafio será pensar a partir do que pode ou deve acontecer fora da cidade, relativamente à nossa ligação à natureza. Há que lembrar a cidade de que ou bem que se reconecta com a ideia de natureza, ou bem que estamos feitos.

Como pode a arte intervir aqui? A arte, se for pública – não tanto propriamente urbana – vai lembrar as pessoas de que há coisas que são de todos e é bom que as tratemos dessa forma. A arte tem uma capacidade camaleónica de se introduzir nos mais diversos mecanismos e aí mudar o plano de consciência. As pessoas passam a olhar para as coisas de forma diferente, mais uma vez, mesmo quando parecem algo alheadas.

Há valor económico envolvido? A forma como a arte, até urbana em específico, alimenta e enriquece países inteiros, como Inglaterra, e cidades, como Londres, Milão, é extraordinária. Em Portugal, temos pequenas cidades, como Águeda, onde há conceitos singelos que, ao se manifestarem, dinamizam e funcionam por completo uma região, como um carrinho de linhas que põe a mexer muita coisa. A arte é factor de distinção do meio urbano, mas nem sempre conscientemente.

Não tem de ser um fenómeno das grandes cidades? De todo! Há aqui dois desafios. Um é pensar a forma urbana, dentro das cidades, e à escala de um elemento de cidade, como um bairro, e, saber, obviamente, o que esse bairro tem a ver com o resto da cidade ou do mundo. Ao reforçar o conceito de rua, que é o que tenho feito com o Projecto Travessa da Ermida, posso ter uma investigação continuada sobre um conceito, enquanto vou fazendo coisas acontecer; aí, essa rua vai ganhando um peso cultural e uma dinâmica próprios. Come-

Enquanto professor do Ensino Superior, como vê a próxima geração de artistas? Cada leva de estudantes com que me confronto há-de saber coisas sobre as quais a minha geração não tem a menor ideia. Em termos de cidadania digital, estão a anos-luz, porém, estão também com uma atenção muito mais dispersa. Vai ser mais difícil um artista jovem conseguir concentrar-se para produzir algo relevante, com tantos estímulos à sua volta. É um grande desafio para eles entender como o próprio trabalho artístico pode ser desenvolvido. Têm muito mais informação mas esta também é mais codificada e a arte sempre foi acerca de recodificar o real. Se calhar, a forma de arte que vão fazer pode não ser tanto o que fazemos agora. Estamos a andar muito depressa. Um futuro imediato que já é presente é toda a relação com o digital mas também com as suas ferramentas específicas. Isto está já a requalificar a racionalidade das pessoas e dessas novas gerações. Alguns deles vão ter no entanto, por qualquer razão, sempre

contacto com a magia do passado, das tradições. Há um conceito interessante para isto que é o de quarta dimensão, alinhavado por Laurence Scott.

Inaugurou recentemente o Vicente’15, no âmbito do projecto Travessa da Ermida. Se há ferramenta que se pode utilizar neste momento é a capacidade de criar, gerar ou manipular conceitos. Um conceito estabelece um protocolo. No caso do Projecto Travessa da Ermida, a ideia partiu de uma evidência. Em Lisboa, há uma total ausência de conhecimento sobre um facto histórico importante e os seus símbolos: a chegada à cidade das relíquias de São Vicente, em 1173. Vejo o projecto, por isso, como sendo de espaço público mítico. Identificámos para a Ermida um papel na cidade. Como podemos recriar e relembrar um facto histórico que tem a ver com os símbolos da cidade e depois convidar artistas contemporâneos a pensar estas coisas? Era preciso dar matéria tangível a tudo isto. As cidades são feitas do intangível mas também do tangível. Obras, intervenções. O conceito espaço público mítico alimentou a própria função que a Ermida já tinha em Belém e as experiências que ali se vivem são um contributo para o terroir de Lisboa.

E está a preparar um novo trabalho. O que nos pode dizer? Estou a trabalhar em como traduzir ou exportar conceitos. No caso, encontrar parceiros internacionais para trazer para a ordem do dia a diversidade da rua como um factor de criatividade urbana. Será que certas ruas, trabalhando em conjunto, podem constituir um novo modelo de cooperação catalisador de inovação urbana? Estamos em rede com várias ruas europeias a estudar o que têm em comum e de diferente e vamos estimular as comunidades criativas em torno dessas ruas, estimulando o intercâmbio. SC

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