A articulação de duas lógicas: a lógica dos espaços políticos e a lógica da representação política

July 18, 2017 | Autor: Pedro Vaz Serra | Categoria: Political Sociology, Political Theory, Political Science, Political communication
Share Embed


Descrição do Produto

A articulação de duas lógicas: a lógica dos espaços políticos e a lógica da representação política por

Pedro Vaz Serra Universidade de Coimbra Faculdade de Economia e Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

201 4

O conceito de campo Os limites do campo são aqueles até onde se fazem sentir os seus efeitos. Em termos analíticos, um campo pode ser definido como uma rede, ou uma configuração de relações objectivas, entre posições. Estas posições são definidas objectivamente na sua existência e nas determinações que elas impõem aos seus ocupantes, agentes ou instituições, pela sua situação (situs), actual e potencial, na estrutura da distribuição das diferentes espécies de poder (ou de capital), cuja posse comanda o acesso aos benefícios específicos que estão em jogo no campo, e, ao mesmo tempo, pelas suas relações objectivas em relação às outras posições (dominação, subordinação, homologia, entre outras). O campo é, assim, definido como uma estrutura de relações objectivas entre posições de força (Bourdieu, 2001).

A forma do campo Porque em todo o campo existem lutas e, por isso, uma história, um campo de posições é metodologicamente inseparável do campo das tomadas de posição, entendido como o sistema estruturado de práticas e de expressões dos agentes. É que os pontos de vista, no sentido de tomadas de posição estruturadas e estruturantes sobre o espaço social ou sobre um campo particular, são, por definição, diferentes e concorrentes. Uma tomada de posição é um acto que só ganha sentido relacionalmente, na diferença e pela diferença, do desvio distintivo. O envolvimento no jogo político que, a título de exemplo, permite que os políticos prevejam as tomadas de posição dos outros políticos é também o que os torna previsíveis para os outros políticos (Bourdieu, 2001).

A configuração do campo Se a forma como se apresenta um campo o constitui em espaço de lutas, a sua configuração é definida pela estrutura da distribuição das espécies particulares de capital que aí estão activas. Os agentes sociais que nele actuam são portadores de capital e, além disso, têm uma propensão para se orientarem activamente, quer para a conservação da distribuição do capital, quer para a subversão dessa situação. São as diversas espécies fundamentais de capital que determinam a estrutura do campo, dado que um capital ou uma espécie de capital é o que é eficiente num campo determinado, ao mesmo tempo, enquanto arma e enquanto instrumento de luta, o que permite ao seu detentor exercer um poder, uma influência (Bourdieu, 2001).

O capital social O capital social (Putnam, 1997) assume duas formas diferenciadas: • uma, correspondente aos laços internos, no interior de uma comunidade: bonding capital; • a outra, decorrente das relações com o exterior, ocorre entre comunidades distintas : bridging capital.

Esta ideia de capital social, permite introduzir o conceito de capital relacional.

O capital relacional O capital relacional, muito ligado à espacialidade das relações, distingue dois níveis: • Um capital relacional local/regional, que deriva da proximidade e que é baseado, essencialmente, nos laços de confiança e de cooperação interpessoais e onde a identidade e a pertença são forças centrípetas importantes; •Um capital relacional transnacional, ou global, sustentado em proximidades culturais, geracionais, sociais, entre outras, que configura não um território, mas um espaço-rede, composto por nós e fluxos (Putnam, 1997).

A lógica do espaço Local de nascimento Não respondeu No mesmo Concelho No mesmo Distrito Em outro Distrito Em outro país

2,10% 64,70% 10,80% 22,30% 1,40%

Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p. 43)

75,5% nasceram no mesmo Distrito 64,7% nasceram no mesmo Concelho

A lógica do espaço Local de residência Não respondeu No mesmo Concelho No mesmo Distrito Em outro Distrito Em outro país

2,10% 32,80% 12,40% 43,10% 11,70%

Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p. 44)

45,2% residiram sempre no mesmo Distrito 32,8% residiram sempre no mesmo Concelho

A lógica do espaço e a lógica da representação política 40% da população portuguesa tem como critério dominante de identificação sócio-espacial a povoação ou cidade em que vive (Reis & Dias, 1993: 264). Há uma forte ligação do político local ao território da eleição (Ruivo, 2000: 202).

A leitura deste tipo de factos deve ser, assim, de índole político relacional e não político-partidária, já que o que se verifica não é a adesão a um ideário político, mas a procura de alavancas de satisfação de interesses (Ruivo, 2000: 202).

A lógica do espaço e a lógica da representação política Conhecimentos pessoais, pertenças de grupo, referências de bairro ou lugar, processos de imitação social ou de propagação interactiva de modas, apego a associações ou clubes, estratégias familiares, afectividades, não só de ordem individual, mas também colectiva, que impregnam o micro-cosmos onde se move a adesão política (Ruivo, 2000: 202).

Geram solidariedades, que tenderão a fundamentar e vincar os processos de adesão e de formação da acção em termos políticos que, conduzidos por estes caminhos da mediação, encontrar-se-ão indelevelmente pessoalizados. (Ruivo, 2000: 202).

A lógica do espaço e a lógica da representação política A distribuição das acções pelo leque de organizações partidárias tenderá a efectuar-se pelas lógicas do micro-cosmos, verdadeira backregion da política (Goffman, 1969: 128; Giddens, 1989: 103).

Elegibilidade: reconhecido pela opinião discreta do olhar, sábio e comum, da comunidade (Abélès, 1990: 103).

Qualidades relacionais do cidadão, na ligação às redes, no doseamento do património político (Abélès, 1989: 33).

A lógica do espaço e a lógica da representação política Actividade em organizações locais antes da candidatura Não respondeu Não Sim

11,30% 34,50% 54,20%

Organização Clube desportivo/recreativo Organizações sindicais Organizações/associações culturais Associações de beneficiência/Misricórdias/sociais Associações/colectividades diversas Organização estudantil Cooperativas Frente oposicionista Associações de profissionais Associações patronais/empresariais Organização religiosa Autarquia Comissão de moradores Associações para o desenvolvimento local/regional Outros Não descrimina

Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p.31)

Presidentes de Câmara que o mencionam (%) 27,30% 15,60% 14,30% 13,00% 10,40% 10,40% 6,50% 5,20% 2,60% 2,60% 2,60% 1,30% 1,30% 1,30% 3,90% 6,50%

A lógica do espaço e a lógica da representação política Factor mobilizador (e construtor) de identidades.

– Mobilizador da identidade concelhia; – Interventor na construção de uma posição à escala regional; – Mobilizador de uma possível identidade política daqueles que neles desempenham actividade, especialmente ao nível da direcção ou presidência. (Ruivo, 2000: 207)

A lógica do espaço e a lógica da representação política Actividade em organizações não directamente ligadas ao Poder Local Não respondeu Não Sim

4,90% 46,70% 53,30%

Organização Clube desportivo/recreativo Bombeiros Voluntários Associações de beneficiência/Misricórdias/sociais Cooperativas Organismo partidário Associações culturais Associações/colectividades diversas Associações profissionais Associações regionais Imprensa/rádio locais Outras Não descrimina Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p.31)

Presidentes de Câmara que o mencionam (%) 36,10% 15,30% 15,30% 13,90% 13,90% 11,10% 9,70% 5,60% 4,20% 2,80% 8,30% 6,90%

A lógica do espaço e a lógica da representação política Presidentes de Câmara que o mencionam para 1ª e 2ª prioridades Negociação directa

85,00%

Alargamento da questão a todos os interessados

42,30%

Mediação externa ao problema

7,70%

Resolução expontânea

7,00%

Imposição de solução

3,50%

Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p.4)

A lógica do espaço e a lógica da representação política Frequência dos contactos com grupos e organizações concelhias Sindi- Cultu- Despor- Educa- Mora- Econó- Políticais rais tivos tivos dores micos cos Não respondeu/sem 19,00% 3,50% 7,00% 4,20% 9,90% 4,90% 7,70% contactos Maior frequência 2,80% 27,50% 22,50% 33,10% 23,20% 18,30% 13,40% 2 2,10% 26,80% 21,10% 23,90% 13,40% 16,20% 9,90% 3 2,80% 15,50% 17,60% 19,70% 10,60% 14,80% 10,60% 4 3,50% 10,60% 14,80% 7,70% 7,00% 15,50% 8,50% 5 9,20% 7,00% 7,70% 9,20% 10,60% 13,40% 11,30% 6 7,00% 6,30% 7,00% 2,10% 5,60% 9,20% 11,30% 7 12,00% 2,80% 1,40% 9,90% 5,60% 16,20% 8 26,10% 0,70% 4,90% 2,10% 8,50% Menor frequência 15,50% 4,90% 2,80% Total 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% 100,00% Fonte: Inquérito Nacional aos Presidentes de Câmaras (p.4)

Acção Social

Outros

9,90% 79,60% 14,10% 6,30% 15,50% 13,40% 9,20% 12,70% 8,50% 11,30% 2,80% 4,20% 1,40% 1,40% 9,90% 100,00% 100,00%

Conclusão É ao nível local que melhor se pode observar a perfeita articulação

Lógica dos espaços políticos

Lógica da representação política

Construída a partir de mecanismos relativos a elegibilidades e formas de comportamento político Mecanismos que se inscrevem nos sinais territoriais da lógica dos espaços, sendo por esta valorizados

Referências Bibliográficas 1.Abélès, M. (1989) Les Ressorts Cachés du Fonctionnement de la Vie Politique Locale. Pouvoirs Lcaux, 1. 2.Abélès, M. (1990) L´Anthropologie de l´État. Paris, Armand Colin 3.Bourdieu, P. (2001) As Estruturas Sociais da Economia. Lisboa, Instituto Piaget. 4.Goffman, E. (1969) The Presentation of Selfe in Everyday Life. Harmondsworth, Penguin. 5.Guiddens, A. (1989) Sociology. Cambridge, Polity Press. 6.Putnam, R. (1997) Comunidade e Democracia: a Experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas. 7.Reis, L. & Dias, M. (1993) Grupos e Valores de Referência SóciPolíticos. Lisboa, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento 8.Ruivo, F. (2000) O Estado Labiríntico. Afrontamento

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.