A banda gástrica, o crescimento e o desenvolvimento económico

July 18, 2017 | Autor: Pedro Vaz Serra | Categoria: Economics, Development Studies, Economic Growth
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A banda gástrica, o crescimento e o desenvolvimento económico O crescimento económico pode ser definido como o aumento sustentado de uma unidade económica durante um ou vários períodos longos. A sua avaliação faz-se através da análise de certos índices, sendo a mais frequente através do Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento económico, quando existe, é sinónimo de um aumento quantitativo da produção, potenciando o enriquecimento do país e uma melhoria do nível de vida. Mas sempre numa abordagem quantitativa. Em linguagem técnica, podemos afirmar que o desenvolvimento económico é um spinoff do crescimento económico, é algo que resulta do próprio crescimento, que nasce a partir dele. Assim, o desenvolvimento económico pressupõe a sua repercussão sobre a qualidade de vida dos cidadãos e sobre o sistema social em geral. Ou seja, tem em atenção a estrutura de repartição dos rendimentos decorrentes do aumento do PIB. Sempre numa abordagem qualitativa. Assim, quando falamos em crescimento referimo-nos aos grandes números de um país, falamos de nível de vida, mas sem a preocupação de avaliar o seu alcance sobre a qualidade de vida, sobre o acesso e o cumprimento de determinados indicadores sócioeconómicos: educação, saúde, habitação, cultura, segurança, justiça, entre muitos outros. E qual a relação entre a banda gástrica e o crescimento e desenvolvimento económico do nosso país? Considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um dos grandes desafios da saúde pública do século XXI, a obesidade é, actualmente, um problema com sérias proporções. Portugal encontra-se numa das posições mais desfavoráveis do cenário europeu. Segundo a Direcção-Geral de Saúde (DGS), cerca de 15% da população portuguesa está clinicamente obesa. A situação é ainda mais grave no caso da obesidade infantil, que está a aumentar exponencialmente. Cerca de sete em cada dez crianças estão acima do peso. Nestas circunstâncias, a colocação de uma banda gástrica é uma das soluções mais procuradas pelos indivíduos com obesidade mórbida, para baixarem os números da balança e da roupa. Sem querer, antes pelo contrário, subestimar a gravidade e a importância da obesidade na população portuguesa, hoje interessa-me mais abordar o tema da obesidade do Estado, do seu aparelho e das suas implicações no crescimento e desenvolvimento económico de Portugal. Vejamos. O PIB per capita (pc) português corresponde a 72% do PIB pc médio europeu (considerando os 27 estados), segundo dados do Eurostat. Há 10 anos atrás, o PIB pc português correspondia a 80% da média comunitária. E em 2028, daqui a 18 anos, o PIB pc português corresponderá a 56% da média comunitária. Ou seja, temos vindo, sistematicamente, a divergir da média comunitária e, mais relevante ainda, não perspectivamos alterações positivas nesta matéria para as próximas duas décadas. Para que Portugal conseguisse convergir e atingir a média comunitária, teria de crescer, em média, 3,86% ao ano, já a partir deste ano. O que, a todos os títulos, sabemos ser uma miragem. Não estamos a crescer. E, acto contínuo, não estamos a desenvolver o país. Mas, em todos estes indicadores, há uma denominador comum, há um efeito transversal sobre todo o país e que condiciona e limita o seu crescimento e desenvolvimento: o excessivo peso do Estado, totalmente desproporcionado e desajustado às condições sócio-económicas do nosso presente e do nosso próximo futuro. E, mais grave ainda, temos um Estado com as suas Contas completamente desequilibradas – não aplico o termo descontroladas, mas é o termo mais adequado – e, se analisarmos bem a

Administração Pública, chegamos a algumas conclusões próprias de um país do terceiro mundo. Do Orçamento do Estado português dependem 13.740 instituições, que integram a Administração Pública, a saber: 639 fundações; 343 empresas municipais; 1.182 empresas públicas; 356 institutos públicos; 484 associações sem fins lucrativos e ainda mais 166 outras entidades de classificação indefinida. A tudo isto, ainda temos de acrescentar mais 5.271 instituições que compõem a Administração Central; mais 5.094 a Administração Local e ainda mais 204 a Administração Regional. Calculo que, nesta altura, os meus estimados leitores estejam a pensar, ou a dizer baixinho: Arrepiante! Não pode ser! Inacreditável! Mas como é possível?! Pois é, estimados leitores. Todos estes números estão lá. Mas não é possível mantê-los. Temos um Estado que sofre de obesidade. Mórbida. E que, como já lá não vamos com dietas mais-ou-menos disciplinadas, temos mesmo que ir para a cirurgia, para a implantação de uma “banda gástrica”. Está à vista de qualquer pessoa, por mais distraída que possa estar, que esta estrutura do Estado – e estes são apenas alguns dos indicadores, pois há muitos mais, a precisar de tratamento – não pode manter-se. Não tem justificação. Não acrescenta valor ao país. Apenas destrói. Destrói valor e destrói perspectivas e expectativas. E numa altura em que tantos sacrifícios são pedidos aos portugueses, é indispensável que seja o próprio Estado a dar o exemplo e a arrumar a casa. É que, ao não fazê-lo, está a manter, ou a agravar, todas as condições para que o país fique ingerível. Termino, fazendo uma sugestão. Que parte dos nossos impostos sejam para pagar a “banda gástrica”. Para que o Estado não engorde mais. Mas, acima de tudo, para que o Estado emagreça. E muito. E, já agora, faço votos para que a “banda gástrica” seja colocada numa unidade hospitalar portuguesa. É que, se demoramos muito, vamos mesmo ter de recorrer a alguns especialistas estrangeiros. Eles não são melhores do que nós. Nem têm melhores equipamentos. Mas têm uma capacidade que nós, por vezes, não temos: não gostam de adiar soluções, gostam de resolver os problemas. Não precisamos de fazer o impossível. Basta fazer o necessário.

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