A China e a reformulação de um paradigma geopolítico - artigo

July 10, 2017 | Autor: E. Costa Almeida | Categoria: China, Angola, Novos Media, Media e Jornalismo, Novo Jornal, Novo Jornal
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3 Julho 2015

Opinião Fernando Pacheco* Eugénio Costa Almeida*

A china e a reformulação de um paradigma geopolítico Ultimamente a maioria das conversas políticas – e sociais – giram em torno da visita de sua excelência o senhor Presidente da República, José Eduardo dos Santos, à República Popular da China, onde, segundo consta, terá rubricado um ou vários acordos cujo cariz é desconhecido; e essa, infelizmente pela não divulgação dos mesmos, tem sido uma das razões, oportunas e salutares, para tanta conversa, quase diáfana, mostrando que a comunidade política e a sociedade civil estão cada vez mais atentas ao que se passa no País. E não deixam de ser oportunas, repito, essas naturais interrogações quando o que as motiva continua no segredo dos corredores governamentais e a própria Assembleia Nacional parece estar ausente da leitura dos conteúdos que, eventualmente, tenham norteado os tais – caso tenha ocorrido, claro, – acordos sino-angolanos. E para reforçar as dúvidas, o desencontro entre uma notícia da ANGOP, quando da presença do senhor Presidente na China, e as posteriores declarações da Cidade Alta, quase que totalmente desencontradas. Ora se há algo que nunca foi cabal e correctamente explicado à sociedade civil foram os acordos celebrados entre Angola e a China; as únicas razões evocadas foram que os chineses tinham aberto uma linha de crédito a Angola para a reconstrução das infraestruturas do País – bem necessários após uma longa e sangrenta crise militar fratricida –, acordos esses celebrados sob a garantia do fornecimento do petróleo nacional. O que se sabe é que o Ocidente, nomeadamente o FMI, terá virado as costas a Angola através de exigências que, à época, eram difíceis de serem cumpridos. Por outro lado, a China sempre se pautou por um paradigma político que consiste em não querer saber do que se passa na vida politica interna dos outros Estados, desde que estes não ponham em causa as políticas governativas, económicas e sociais de Beijing. Mas este não é um paradigma inócuo levado a efeito pelos chineses. Por detrás deste paradigma, ou, talvez, para ser mais exacto,

a par deste habitual paradigma político, há um outro muito mais importante e que se reveste de uma importância capital para a expansão chinesa e que denomino da Teoria do Mahjong. E, de uma forma sintética, o que consiste esta minha teoria? De forma simples ,a sino política externa, com a sua reconhecida paciência, projecta, através da “queda”, peça a peça territorial, de todos os territórios limítrofes, forçando-os a se submeterem ao controlo político, geográfico e militar chinês! Na realidade, passa pela China recuperar aquilo que considera seu (os tais territórios limítrofes – o Tibete é um dos casos, bem como as penínsulas do sudoeste asiático – mais os territórios conquistados por Gengis Khan e apertar o cerco aos Estados dito quase “falidos” (recorde-se EUA – a china éo maior detentor da dívida pública norte-americana –, Europa, África) até a sua tenaz ser impossível de ser aberta! Em boa verdade, e na Perspectiva do paradigma chinês, não há aqui mais que uma nova versão do

Na realidade, passa pela China recuperar aquilo que considera seu (os tais territórios limítrofes – o Tibete é um dos casos, bem como as penínsulas do sudoeste asiático – mais os territórios conquistados por Gengis Khan e apertar o cerco aos Estados dito quase “falidos”

Heartland do geógrafo e estratega britânico Halford John Mackinder, que, segundo a interpretação deste autor, o Estado que controlasse todo o Heartland (o coração do Mundo, ou seja a Euroásia) poderia tentar obter saídas para mares abertos e tornar-se uma potência anfíbia que poderia dominar o que ele denominava World Island (Ilha Mundo), zona compreendida pela Eurásia e África do Norte, ligados pelos Montes Urais e pelo istmo de Suez. Daí que Mackinder defendesse o reforço dos Estados talassocratas (potências marítimas, no caso o Reino Unido, mas que foi mais levada a sérios pelos EUA). Ora, se, à época- e agora, ainda mais –, os novos dados geopolíticos tornavam-se importantes para definir as posições geopolíticas de alguns Estados, mais se tornaram importantes com a teoria geopolítica defendida por Nicholas John Spykman, definida pelo Rimland, onde previa e que o controlo marítimo (leia-se, todos os Estados marítimos entre a Ásia e a América do Norte, contornando toda a África) por parte de uma nova potência epirocrata (potências continentais) levaria ao evidente controlo de todas as rotas marítimas

asfixiando o comércio e político internacionais. Ora Spykman dizia que quem “controlasse o Rimland governaria a Eurásia, e quem governasse a Eurásia controlaria os destinos do mundo”! E é isso, que, com calma e a sua proverbial paciência, os chineses vão conseguindo alguns dos seus intentos. Os sucessivos acordos que estão a celebrar com os diferentes Estados, nomeadamente, africanos e asiáticos insulares, bem como com os Estados periféricos europeus, são exemplos bem-sucedidos, da difusão da tenaz política expansionista chinesa. Ou seja, mais não é que uma evolução e reformulação das duas anteriores definições geopolíticas, criadas nos primórdios do século XX. É certo que tem um adversário de peso, ainda que com um calcanhar de Aquiles muito debilitado, chamado Rússia. Não é em vão que Putin tenta mostrar uma Federação Russa forte, determinada, política e militarmente, embora com evidentes carências financeiras e económicas – como mostram as sanções euro-norte-americanas – mas que procura esbatê-las através de sinaléticas financeiras, como as que já fez constar através de uma

possível ajuda financeira – através do recentemente criado BRICS Bank – à Grécia, o que colocaria em causa as geopolíticas ocidentais, em particular, as da OTAN/NATO! Este é um paradigma que não deve ser levado de ânimo leve. Por isso se compreende as dúvidas que assaltam a nossa Sociedade Civil e Política quanto aos eventuais acordos que tenham sido celebrados no âmbito das relações sino-angolanas. Quais foram, as suas implicações, e os seus reias objectivos. Só assim, as futuras gerações civis e políticas saberão com que contar e como respeitar os Tratados e Acordos que estejamos a realçar e assinar. *Investigador do CEI-IUL e do CINAMIL http://elcalmeida.net Nota de Redação Com muita satisfação apraz-nos registar o retorno às lides do Novo Jornal, do nosso prestigiado “colega” e colaborador Prof. Dr. Eugénio de Almeida. Resolvidos os problemas de saúde que o obrigaram a algum tempo de repouso, é com alegria e prazer que o vemos retomar a sua sempre útil e pedagógica opinião. Afinal, pertencendo à “casa”, já sentíamos a sua falta.

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