A COMUNICAÇÃO DO PROLETARIADO INTERNACIONAL NO ATLÂNTICO LIBERTÁRIO

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A COMUNICAÇÃO DO PROLETARIADO INTERNACIONAL NO ATLÂNTICO LIBERTÁRIO Tim Wätzold-Eichstätt

No contexto da imigração europeia chegaram entre 1870 e 1920 cerca de 11 milhões de imigrantes na América Latina. 9.5 milhões se concentraram em certas regiões e centros urbanos na Argentina, Brasil e Uruguay, como a cidade e o estado de São Paulo, onde eles eram uma grande parte da população. Um parte foi para trabalhar no campo, nos crescentes mercados da agroexportação para o mercado mundial, p.e. café ou trigo, a outra parte formou a base de mão de obra nas cidades. Cerca de 40% dos imigrantes eram italianos, seguidos dos espanhóis, portugueses e em escala menor dos habitantes dos impérios alemão, russo, turco e austro-húngaro, além de imigrantes de outras partes do mundo, como os japoneses37. Os imigrantes formaram a maioria das classes subalternas nas crescentes metrópoles urbanas e estavam submetidos a más condições de vida, moradia, trabalho, altos custos da vida e exclusão política. Isso levou por um lado a uma alta taxa de migrações internas 37

Ver sobre a imigração de massa na América Latina entre outros: Baily, Samuel L., José, Eduardo (ed.), Mass Migration to Modern Latin America, Wilmington, 2003, Baines, Dudley, European labor markets, emigration and internal migration, 1850-1913, em: Hatton, Timothy .J., Williamson, Jeffrey .G.(ed.), Migration and the international labor market 1850-1939, London, 1994. Ver também: Oltmer, Jochen, Globale Migration Geschichte und Gegenwart, München, 2012; Hoerder, Dirk, Migration in the Atlantic Economies: Regional European Origins and Worldwide Expansion, em: Hoerder, Dirk, Moch, Leslie Page (eds.), European Migrants, Global and Local Perspectives, Boston, 1996; Zoller, Rüdiger, Förderung, Quoten, Assimilierung: Zur Einwanderungspolitik Brasiliens im 19. und 20. Jahrhundert; e Bernecker, Walther, Die transatlantische Massenmigration von Europa nach Lateinamerika: Phasen und Erscheinungsformen, em: Fischer, Thomas, Gossel, Daniel (Hg.), Migration in internationaler Perspektive, München, 2009, Luiza, M., Carneiro,T., Croci, F., Franzina, E. (orgs), História do Trabalho e Histórias da Imigração: Trabalhadores Italianos e Sindicatos no Brasil (Séculos XIX e XX), São Paulo, 2010; Fausto, Boris (org.), fazer a América, São Paulo, 2000. Sánchez-Albornoz, Nicolás (Comp.), Españoles hacia América La Emigración en Masa, 1880-1930, Madrid, 1988.

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e de remigração38, e por outro lado muitos participaram ativamente nos movimentos socias, que se formaram nesse contexto39. As primeras organizações dos imigrantes eram mutualistas40, no início na base de origem regional e logo depois foram fundados os primeros sindicatos influenciados pelas ideologias libertárias41, no fim do século XIX. Assim os imigrantes participaram com os subalternos locais no conflito social. A primera greve geral aconteceu em Buenos Aires em 1902 e no Rio de Janeiro em 1903, ou a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro em 190442. 38 39 40

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A remigração já foi percebido pelos estudos contemporaneous, como mostrar bem o estudo no exemplo dos italianos: Foerster, Robert F., A Statistical Survey of Italian Emigration in:The Quarterly Journal of Economics, Vol. 23, No. 1 (Nov., 1908) Oxford University Press, p.95-100. Ver entre outros: Pineo, Ronn F., Cities Of Hope: People, Protests, And Progress In Urbanizing Latin America, 1870-1930, Boulder, 2000. As organizações mutualistas continuaram por muito tempo, e as pessoas poderiam ser membro em varias ao mesmo tempo, por exemplo em uma liga dos morradores de um bairro, uma sociedade etnica como o Centro Galego e membro de um sindicato. Ver sobre a experiencia mutualista por exemplo Biondi, Luigi, Mãos unidas, corações divididos. As sociedades italianas de socorro mútuo em São Paulo na Primeira República: sua formação, suas lutas, suas festas, em: Tempo, vol. 18, no. 33, Niterói, 2012; ou Rodríguez, Juan Andrés Blanco (ed.), El asociacionismo en la emigración española a América, Salamanca, 2008; ver também Batalha, Claudio H.M., Sociedades de trabalhadores no Rio de Janeiro do século XIX: algumas reflexões em torno da formação da classe operária in: Cadernos AEL, 10/11, 1999, Sociedades Operárias e Mutualismo, Claudio Henrique de Moraes Batalha (org.). Sobre o mutualismo em geral ver: Van der Linden, Marcel, Workers of the world, Essays toward a global labor history, Leiden, 2008, p.81-165. Ver Alexander, Robert, International Labor Organizations and Organized Labor in Latin America and the Caribbean, Santa Barbara, 2009, p. 1: “The ideology that found widest acceptance in the early decades of the organized labor movement in Latin America was that of anarchism or anarchosyndicalism (we shall use the terms interchangeably)”.Ver sobre a hegemonia das ideologias libertárias também: Hobsbawm, Eric J., Revolution und Revolte, Frankfurt a.M., 1977, p. 93: „Es fällt schwer sich in Erinnerung zu rufen, daß in den Jahren 1905-1914, die marxistische Linke in den meisten Ländern am Rande der revolutionären Bewegung stand und daß der größte Teil der Marxisten mit einer de facto nichtrevolutionären Sozialdemokratie gleichgesetzt wurde, während die Masse der revolutionären Linken anarchosyndikalistisch war oder zumindest den Ideen und Gefühlslage des Anarcho-Syndikalismus näher stand als denen des klassischen Marxismus.“. Ver sobre as condições da vida urbana e a revolta da vacina: Adamo, Sam, The Sick and the Dead: Epidemic and Contagious Disease in Rio de Janeiro, Brazil, em:Pineo, Ronn, Baer, James A. (ed.), Cities of Hope, People, Protests, and Progress in Urbanizing Latin America, 1870-1930, Oxford, 1998, p.220-224 e Meade, Teresa, 'Living Worse and Costing More': Resistance and Riot in Rio de Janeiro, 1890-1917, em: Journal of Latin American Studies, Vol.21, No. 2 (May, 1989). Ver sobre a greve geral em Buenos Aires Siehe Munck, Ronaldo, Falcon, Ricardo, Galitelli, Bernardo, Argentina, From Anarchism to Peronism: Workers, Unions and Politics, 1855-1985, London, 1987, p. 50-51e Rama, Carlos M., Cappelletti, Angel J. (ed.), El Anarquismo en America Latina, Caracas, 1990, p. 25, e também Suriano, Juan, Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 1890-1910, Buenos Aires, 2001, p. 36. A greve geral foi o resultado da primeira etapa da organisação da Federación Obrera Argentina, que virou na Federación Obrera Regional Argentina em 1904. Depois da greve geral e de formação do sindicato o gouverno promolgou a Ley de Residencia como um instrumento da repressão contra ativistas libertárias estrangeiros.

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Os movimentos libertários no espaçio do atlântico criaram jornais e revistas como própria midia de propaganda e comunição43. Logo depois eles fundaram uma infrastructura de centros44 sociais e escolas, nas quais a contracultura libertária conseguiu transmitir os valores e pontos da identifição de um movimento operário além das fronteiras nacionais, o assim chamado proletariado internacional. Os sindicatos ganharam força e se estabeleceram como a Federación Obrera Regional Argentina em 1904, Federación Obrera Regional Uruguayana em 1905 e a Confederação Operária Brasileira em 190645. Essas federações se manifestaram na base do sindicalismo revolucionário, e influenceiram a evolução dessa nova forma organizadora do anarquismo internacional, desde a conferência internacional em Amsterdam 190746. Essas federações eram os principais atores do internacionalismo proletário na América do Sul, porque eles se entenderam nesse sentido e participaram ativamente no movimento internacional, na troca de ideias, pessoas e práticas culturais. 43

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A importancia da comunicação com a midia dos journais é um fato reconecida na pesquisa acadêmica. Ver entre outro: Suriano, Juan, Las prácticas culturales del anarquismo argentino, em: Lida, Clara E., Yankelevich Pablo (com.), Cultura y política del anarquismo en España e Iberoamérica, México D.F., 2012, p. 154. Ver também: Suriano, Juan, Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 1890-1910, Buenos Aires, 2001, p. 179-186; ou Hardman, Francisco Foot, Nem pátria, nem patrão, São Paulo, 2002, p. 298; e Litvak, Lily, Musa libertaria, Arte, literatura y vida cultural del anarquismo español, 1880-1913, Madrid, 2001, p. 211-215; e Gordon, Eric Arthur, Anarchism in Brazil, Theory and Practice 1890-1920, Ph.d. Tulane University, Tulane, 1978, p. 183-186. Ver por exemplo o caso do Centro Internacional de Montevideo: Zubillaga, Carlos, Luchas populares y cultura alternativa en Uruguay. El Centro Internacional de Estudios Sociales, em: Siglo XIX 3, no.6, (July-December 1988), p.11-40 e também: Vidal, Daniel, Florencio Sánchez y el Anarquismo, Montevideo, 2010, p.42-44 sobre os 35 centro de Montevideo. A evuloção nos outros metropoles era semalhante. Ver dados e informações sobre as federações como representantes principais dos movimentos operarios em: Alvarez, Ricardo Mantero, Historia Del Movimiento Sindical Uruguayo, Montevideo, 2003; Alexander, Robert, International Labor Organizations and Organized Labor in Latin America and the Caribbean, Santa Barbara, 2009; Abad de Santillán, Diego, La FORA. Ideología y trayectoria del movimiento obrero en la Argentina, Buenos Aires, 2005; Linden, Marcel van der, Thorpe, Wayne (ed.), Revolutionary Syndicalism: an international Perspective, Aldershot, 1990; Carone, Edgar, Movimento Operário no Brasil (1877-1944), São Paulo, 1984; Cappelletti, Angel, Hechos y figuras del anarquismo hispanoamericano, Móstoles, 1990; Damier, Vadim, Anarchosyndicalism in the 20th century, Edmonton, 2009; Fausto, Boris, Trabalho urbano e conflito social, Rio de Janeiro, 1977; Godio, Julio, Historia del movimiento obrero Latinoamericano, I, Anarquistas y Socialistas, 1850 – 1918, San José, 1985; Linden, Marcel van der, Rojahn, Jürgen, The Formation of Labour Movements 1870-1914; An International Perspective Vol. I & II, Leiden, 1990; Muller, Alfredo Gómez, Anarquismo y anarcosindicalismo en América Latina, Medellín, 2009. Ver: Antonioli, Maurizio, The international Anarchist Congress, Amsterdam 1907, 2007 e Finet, Hélène, Le congrès anarchiste d´Amsterdam 1907. Anarchie ou syndicalisme à la lumiére de la réalite argentine, Orthez, 2007.

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Mais protestos socias foram organizados, como a greve dos inquilinos em Buenos Aires em 190747, a greve geral “semana roja” de Buenos Aires em 1909 com 220.000 participantes48, e a greve geral de Montevideo em 191149. O movimento libertário ganhou uma base nas populações multiétnicas, subalternas, e urbanas. Para a mobilização das massas os grupos e sindicatos criaram jornais e revistas, às vezes em várias línguas ou bilinguais para a comunicação e divulgação da propaganda. A comunicação era importante no ambiente local do lugar, regional, nacional, e também internacional porque as revistas circularam intensamente no mundo atlântico. Os autores escreveram artigos para jornais na Europa e América Latina como também os mesmos artigos foram publicados em diversas revistas. Com essa prática os conteúdos, ideias, símbolos e valores eram compartilhados, uma base importante para a identitade colectiva do proletariado internacional. Nos centros sociais do movimento foram criadas bibliotecas onde essas revistas globais poderiam ser vistas pelo público50. Assim os movimentos conseguiram manter contatos, como às vezes os artigos se referiram aos acontecimentos e textos nos outros países. Os movimentos criaram práticas culturais compartilhadas no processo da subjetivização, da autoconstrução de uma identidade colectiva do proletariado internacional. Essas práticas foram usadas nos países multiétnicos nas Américas e na Europa ao mesmo tempo e formaram a base da contracultura libertária no mundo Atlântico. 47

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Ver: Baer, James A., Tenant Mobilization and the 1907 Rent Strike in Buenos Aires, Washington, 1993, in: The Americas, Vol. 49, No. 3, Jan. 1993, S. 343-356, e a reprodução da pagina principipal do journal La Protesta 1.9.1907 “Huelga general de inquilinos” em: Viñas, David (ed.), Anarquistas en América Latina, México D.F., 1983, p.186-187. Quinterno, Hugo, „Padres de la Patria“ contra „hijos del pueblo”. Discursos y prácticas del régimen político argentino ante las huelga y conflictos sociales en la Buenos Aires de 1909, in: Do Paço, António S., Varela, Raquel, van der Velden, Sjaak (co.), Strikes and social conflicts, Towards a global history, Lisbon, 2012. Os protestos de Buenos Aires foram percebidos internacional, nos midias burgueses, por exemplo no San Francisco Call, Volume 105, Number 156, 5 May 1909. Como reação às duras repressões o imigrante russo Simon Radowitzky matou o chefe da policia do capital no dia 14.November 1909 com uma bomba. Esse noticia também espalhou: San Francisco Call, Volume 106, Number 168, 15. November 1909, p.4: „ANARCHIST SLAYS POLICE OFFICIALSAssassin throws bomb in BuenosAires and then tries to kill himself…“. Radowitkzy foi preso a vida inteira e ele virou um martir vivo. Ver também Abad de Santillán, Diego, La FORA. Ideología y trayectoria del movimiento obrero en la Argentina, Buenos Aires, 2005, p. 185-188. Ver Muñoz, Pascual, La Primera Huelga General en el Uruguay. 23 de Mayo de 1911, Montevideo, 2011. Nas bibliotecas tinha como pratica a leitura publica comentada, ver: Barrancos, Dora, As “leituras comentadas”: um dispositivo para a formação da consiência contestatória entre 1914 – 1930, Cadernos AEL, 8/9, 1998, Anarquismo e Anarquistas, Michael M. Hall (org.), Campinas, 1998.

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A formação de um movimento operário no mundo Atlântico dessa maneira se baseou em práticas transculturais, como a fundação de federações do sindicalismo revolucionário, os atores dessa subjectivização51. Esses interagiram com outros movimentos sociais nos protestos sociais. Importante era a criação de uma infrastrucutra dessa contracultura libertária com centros sociais, onde os grupos e sindicatos se encontraram, e criavam bibliotecas, escolas, também um espaço para festas, palestras, e teatro. A organizaçao do tempo livre, com eventos que incluiram música, teatro, palestras e um baile familar era muito similar nos diferentes países. Isso foi uma prática que levou à criação de uma consciência de classe, porque assim eles conseguiram atingir o ambiente social, como vizinhos, simpatizantes e as famílias dos trabalhadores. Especialmente o teatro era fundamental nesse sentido, porque era uma ativadade muito popular na época e serviu para transmitir idéas, normas e valores de maneira fácil de comprender. Importante é destacar que o movimento produzia as própias peças do teatro52. Essas foram traduzidas em várias línguas e mostradas em vários países. Dentro da infrastrutura eles criaram um sistema autônomo de instrução de escolas, chamadas modernas e fundaram até universidades populares em várias cidades. A contracultura libertária também entrou no espaço público das cidades de diversas maneiras. A forma mais importante era o protesto social em forma de manifestações, ou no nível dos sindicatos uma greve ou uma greve geral, tudo 51 52

Ver sobre subjectivização Sociological Theory, Vol. 25. No. 4 (Dec 2007), Vandenberghe, Frédéric, Avatars of the collective: A realist theory of collective subjectivities; ver também Beverley, John, Subalternity and Representation, Arguments in Cultural Theory, Durham, 1999. O teatro operário tinha uma importancia e era uma pratica no atlantico libertário comun. Ver por exemplo Suriano, Juan, Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 1890-1910, Buenos Aires, 2001, p.161: “El teatro, la representación filo dramática era, especialmente en la última parte de la primera década del siglo, el núcleo central de la velada libertaria.”. Ou: Moya, Jose C., El anarquismo argentino y el liderazgo español, in: Sebastiani, Marcela Garcia (dir.), Patriotas entre Naciones. Élites emigrantes españolas en Argentina 1870-1940, Madrid, 2010, p.362. Litvak, Lily, Musa libertaria, Arte, literatura y vida cultural del anarquismo español, 1880-1913, Madrid, 2001, p.239-256. Shaffer, Kirwin, Anarchim and Countercultural Politics in Early Twentieth-Century Cuba, Gainesville, 2005, p.196.Villegas, Juan, Historia del teatro y las teatralidades en América Latina, Irvine, 2011, p.134-136. Trento, Angelo, Organização Operária e Organização do Tempo Livre entre os Imigrantes Italianos em São Paulo (1889-1945), em: Luiza, M., Carneiro, T., Croci, F., Franzina, E. (orgs), História do Trabalho e Histórias da Imigração: Trabalhadores Italianos e Sindicatos no Brasil (Séculos XIX e XX), São Paulo, 2010, S.240-242. Ver o estudo detalhada sobre Brasil em: Ferrari, Syda, Rozzineli, Aparecida, Peças, Artigos, Endereços, in: Cadernos AEL, 1, 1992, Kazumi Munakata (Org.), Operários e Anarquistas fazendo teatro.

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junto em forma da revolta popular. Também havia manifestações da força e de identitade colectiva como a anual manifestação do Primero do maio, que foi organizada no mundo atlântico desde 1890. O Primeiro de maio era o ritual público mais importante, com um forte depoimento internacionalista, já que os manifestantes sabiam que essas manifestações aconteciam igualmente, em todo mundo tinha manifestações iguais. Outra forma de performance pública para gerar ligações da população com o movimento eram festas e picnics operários53 nos parques públicos. Nessas ocasiões o movimento usou símbolos como bandeiras ou músicas que eram também um aspecto importante da construção da identidade colectiva e uma maneira positiva de uma aparência pública. Essa evolução da subjetivização dos movimentos operários nos países multiétnicos da imigração de massa nas Américas aconteceu de forma semelhante e concomitante, com as mesmas práticas culturais e incluiu também os movimentos da Europa. Os movimentos usaram a identidade coletiva do proletariado internacional e agiram assim como um movimento internacional no atlântico libertário. O fundamento desse processo era, além do intercâmbio das pessoas e uma intensa publicação de livros, uma comunicação dos movimentos principalmente nos jornais e revistas, ques circulavam nas bibliotecas. Nos própios jornais tinha quase sempre uma columna, onde era anuciadas quais jornais e revistas do mundo inteiro chegaram e estavam na disposição na biblioteca. Essas colunas apareciam tanto na América do Sul e Norte quanto na Europa. Um bom exemplo disso é o artigo na Tribuna Libertaria, Montevideo, Augusto 1900, p. 3: „Bibliografia Hemos recibido de nuestro canje los siguíentes periódicos y revistas que están en la sala de lectura del Centro Internacional a disposición de todos los compañeros que se quieran enterar del movimiento social.

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Os Picnics eram uma pratica común, intercultural e de especial importancia para a criação de uma identidade colectiva, como a comensalidade dos trabalhadores do mundo inteiro quais se encontraram nas Américas com as familias no pouco tempo livre. Os journais chamaram frequentamente para esses picnics, ate quando os povos se mataram na Europa no Primeira Guerra Mundial os operarios se encontraram para esses picnics de carater familiar. Ver por exemplo as chamadas do journal libertário EL Hombre, de Montevideo na pagina principal, p.e. nos dias 26.10.1918, 3.11.1918 e 16.11.1918.

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Buenos Aires – La Protesta Humana, L`Avenire, El Rebelde, Royo y Negro, Ciencia Social, La Libera Parola, El Progreso de la Boca, La Reforma. Brasil – O Protesto, Il Diritto España – La Revista Blanca, Suplemento de La Revista Blanca, La Protesta, La Tracción, El Trabajo, Fraternidad, La Redención Social, El Esclavo Branco Italia – L´Agitazione, L´Avenire Sociale, Combattiamo, Il Pensiero Libertario Norte America – La Questione Sociale, L`Aurora, Germinal, La Protesta Humana, La Federación, Volne Lysty Portugal – A Obra Cuba – El Nuevo Ideal Peru – El Libre Pensamiento Francia – L´Humanité Nouvelle, Les Temps, Nouveaux, Le Libertaire Chile – La Campana, El Ácrata Inglaterra – Freedom Interior de la República – La Democracia, La Igualdad, El Progreso, El Plata, La Ley, El Conciliador, La Lealtad, La Libertad, El Argos

Os movimentos estabeleceram a prática de mandar os própios jornais nos endereços de contato dos centros e jornaís libertários nos outros países. Assim apareceu no jornal dos imigrantes anarquistas alemães em Nova York Der Anarchist, no dia 22.6.1895, uma noticia que eles haviam recebido os jornais de Buenos Aires El Perseguido e La Questione Sociale. O valor do intercâmbio dos jornais para a comunição do movimento internacional já havia sido percebido pelos ativistas contemporâneos. No livro deArango López e Diego Abad de Santillán: El anarquismo en el movimiento obrero, publicado emBarcelona 1925, foi usado como fonte o jornal Der Sozialist, publicado em Berlin 1896, para mostrar as tradições da imprensa libertária internacional. Na base desse jornal, que publicou os jornais recebidos, os autores acharam seis jornais alemeãs, dois judaicos, dois holandeses, dez franceses, sete ingleses, três tcheckoeslovacos, um polonês, três italianos, tres portugues e vinte-um espanhois, do quaies dez originaránios da Argentina54. 54

Ver López, Arango, Abad de Santillán, Diego, El anarquismo en el movimiento obrero, Barcelona, 1925, p. 11.

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Essa comunicação intensa pelo meio de jornais baseou-se no desenvolvimento técnico da imprensa. A máquina rotatório de prensa Linotype foi inventada no fim de 1880 em Baltimore nos Estados Unidos e era o base para o jornal como midia de massa. Na mesma época as linhas telegráficas se estabeleceram pelo mundo e a maquina fotografica da Kodak foi inventada em 188855. A contracultura libertária usou essas mídias modernas relativamente cedo. Os primeros jornais do movimento operário aparareceram na decada dos 1870s, por exemplo em 1872 El Obrero federalista en Montevideo, ou em 1879 El Descamisado en Buenos Aires. Logo depois sugiram mais jornais e revistas e na América Latina existiu então em geral uma vasta imprensa operária56. Assim apareceram os primeros jornais diários como El Trabajo en Montevideo em 1901 ou La Protesta en Buenos Aires em 1904, que tinha uma própia imprensa e chegou de 4000 exemplares em 1904 ate 16.000 exemplares diariamente em 191057. Os jornais foram publicados em várias linguas, as vezes até bilínguis. O melhor exemplo era o jornal El Perseguido, que foi publicado pela primera vez em 18.5.1890 em Buenos Aires. Na página principal os editores explicaram os motivos da publicação: „1. Que somos y que haremos? 2. Chi siamo e cosa faremo? 3. Qui sommes nous? Et que ferons nous?“58. Como os italianos eram uma importante parte dos imigrantes e do movimento operário havia muitos jornais em italiano59, como Gli Schiavi Bianci publicado em 55 56

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Ver para o desenvolimento do sistema global das noticias e da midia no seculo IXX: Osterhammel, Jürgen, die Verwandlung der Welt, Eine Geschichte des 19. Jahrhunderts, München, 2010, p. 63-83. Ver como uma supervisão da imprensa operária na America Latina: Rama, Carlos, Die Arbeiterbewegung in Lateinamerika, Chronologie und Bibliographie 1492 – 1966, Bad Homburg, 1967, p.148-159 uma lista dos jornais de Argentina, Uruguay e Paraguay entre 1872 ate 1917. Para o Brasil ver: Carone, Edgar, Movimento Operário no Brasil (1877-1944), São Paulo, 1984, p. 483-485. No arquivo do International Institut for Social History en Amsterdam tem mais ou menos 1000 jornais do movimento operário da América Latina, e desses 660 origem da Argentina, Uruguay e Brasil. Ver sobre a evolução do mais importante e famoso journal libertário Suriano, Juan, Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 1890-1910, Buenos Aires, 2001, p. 188. Ver Buschak, Willy, Schwalben der Arbeit – ein Beitrag zur Geschichte der Bäckereiarbeiter und des Anarchismus in Argentinien, in Archiv für die Geschichte des Widerstands und der Arbeit, No.10, Fernwald, 1989, p. 86. No Brasil existiam no minimo 50 jornais do movimento operário em italiano, durante os anos 1872 ate 1920. Na Argentina 26 e no Uruguay 2. Ver Rodrigues, Edgar, Os Anarquistas Trabalhadores Italianos no Brasil, São Paulo, 1984, p. 168-171, e Bettini, Leonardo, Bibliografia dell´anarchismo, volume I, tomo 2, periodici e numeri unici anarchici in lingua italiana pubblicati all´estero (18721971), Firenze, 1976. Ver sobre o papel da Questione Sociale nos E.U.A.: Zimmer, Kenyon, “The

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São Paulo em 1894.O mais famoso journal libertário em italiano era a Questione Sociale de Buenos Aires, fundado pelo anarquista italano Errico Malatesta em Firenze 1883, ele continou a publicar o jornal no exílio em Buenos Aires 1885. Com o mesmo nome existiram jornais nos Estados Unidos, na Áustria e na Itália60. O jornal libertário em italiano com a duração mais longa na América do Sul era La Battaglia, organizado pelo famoso ativista Oreste Ristori durante 1904 ate 1912 em São Paulo61. Os movimentos usaram os jornais para trocar idéais e informações. Assim os imigrantes comunicaram com os compatriotas na Europa e informaram nos sobre as más condições da vida na América do Sul e advertivam noss para não ir à América do Sul. Um exemplo famoso era o artigo no jornal La Battaglia, São Paulo, 11.09.1904, p.1: “Lavoratori d´Europa non venite al Brasile.”62. Como o artigo foi publicado no Brasil ele só tinha valor na prática de trocar os jornais com os movimentos na Europa. Assim apareceram artigos em outras línguas com o mesmo sentido. Por exemplo o imigrante anarquista alemão Friedrich Kniestedt, que publicou um artigo no jornal: Die Freiheit, New York, 15.1.1910, com o titulo: “Brasilien Kein Kolonisten Paradies.”. O jornal Die Freiheit era o jornal libertário mais importante da língua alemã, no exílio63. Durante 1879 até 1882 ele foi publicado em Londres e muduo depois pra Nova York. Die Freiheit foi organizado pelo o anarquista Johann Most e serviu como meio de comunicação, entre

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whole world is our country”, Immigration and Anarchism in the United States, 1885-1940, PhD Thesis, Pittsburgh, 2010. Ver Bettini, Leonardo, Bibliografia dell´anarchismo, volume I, tomo 2, periodici e numeri unici anarchici in lingua italiana pubblicati all´estero (1872-1971), Firenze, 1976, Buenos Aires, p. 3-9, New York p. 195, Patterson p. 172 e Trieste p. 41. Ver sobre o jornal: Biondi, Luigi, Anarquistas italianos em São Paulo. Um grupo do jornal anarquista La Battaglia e a sua visão da sociedade brasileira: o embate entre imaginários libertários etnocêntricos, in: Cadernos AEL, 8/9, 1998, Anarquismo e Anarquistas, Michael M. Hall (org.). Sobre a imprensa operária italinao no Brasil ver: Trento, Angelo,„Wherever We Work, That Land Is Ours“: The Italian Anarchist Press and Working-Class Solidarity in São Paulo, in: Gabaccia, Donna R., Ottanelli, Fraser M. (ed.), Italian Workers of the World, Labor Migration and the Formation of Multiethnic States, Illinois, 2001. Sobre o editor ver: Romani, Carlo, Oreste Ristori, uma aventura anarquista, São Paulo, 2002. O governo da Itália já levou as informacões sobre as más condições dos Italianos á serio, mandou um comissario ao Brasil e isso levou ao decreto Prinetti no 26.3.1902, que prohibiu a emigração subsidiada dos italianos pelo Brasil. Ver entre outros Alvim, Zuleika M.F, Brava Gente! Os italianos em São Paulo 1870-1920, São Paulo, 1986, p. 21. Ver várias informações sobre o Freiheit na pagina: Datenbank des deutschsprachigen Anarchismus: . (15.3.2014).

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outros, da colônia libertária italana no Brasil, a Colonia Cecilia que existiu no Paraná no sul do Brasil, entre 1894-189664. Os artigos e notícias do fundador da colônia, Giovanni Rossi foram traduzidos na língua alemã em Zurich. A comunicação de volta inclui também o jornal Questione Sociale de Buenos Aires65. Na Alemanha mesmo apareceram frequentes artigos e notícias sobre a situação do conflito social na América do Sul. Por exemplo no Der Freie Arbeiter, Berlin, 16.1.1904, p.8, uma notícia sobre a greve geral no porto de Buenos Aires, ou o artigo „Brasilien“ no Der Freie Arbeiter, Berlin, 26.1 1907, p.8, que informou sobre a luta para a jornada de oito horas no Brasil. Às vezes o jornal publicou um endereço de encontro do movimento operário, com o qual os imigrantes poderiam entrar em contato, assim no Der Freie Arbeiter, Berlin, 16.1.1904, na mesma página como a notícia sobre Argentina. No jornal Kampf, Unabhängiges Organ für Anarchismus und Syndikalismus, de Hamburgo apareceram na edição de Fevereiro de 1913, p.3 um artigo: “Meidet Brasilien”, e em Janeiro de 1914 p.4, uma carta com o título “Brief aus Südamerika”. Nesses artigos os imigrantes e nesse caso ativistas alemães na América do Sul, advertiam os companheiros na Alemanha a evitar o Brasil e Argentina, por causa das más condições de vida, trabalho e a repressão. Mesmo assim os imigrantes espanhóis informaram os compatriotas e companheiros na Espanha. No jornal La Huelga General, Perió64

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A colonia cecelia foi uma dos experiementos da colonisação libertária nas Américas mais famosas. Existem vários estudos e livros sobre a história, que só durou três anos. Já na epoca tinha reportagens nos journais: in Le Journal Paris 23.2.1893, L`Eclair Paris 20.2.1893, in Sempre Avanti, Livorno April 1893, und im Socialist Berlin 1894, sowie in der Freiheit New York 1894. Ver entre outros: Felici, Isabelle, A verdadeira história da Colônia Cecilia de Giovanni Rossi, in: Cadernos AEL, 8/9, 1998, Anarquismo e Anarquistas, Campinas, 1998; Muller, Alfredo Gómez, Anarquismo y anarcosindicalismo en América Latina, Medellín, 2009, p. 23; Godio, Julio, Historia del movimiento obrero Latinoamericano, I, Anarquistas y Socialistas, 1850-1918, San José, 1985, p.54 e Gordon, Eric Arthur, Anarchism in Brazil, Theory and Practice 1890-1920, Ph.d. Tulane University, Tulane, 1978, p. 44-45, p. 243-277 e p. 314-315. Souza, Newton Stadler de, O Anarquismo da Colônia Cecília, Rio de Janeiro, 1970 und Neto, Candido de Mello, O Anarquismo experimental de Giovanni Rossi, De Poggio al Mare a Colônia Cecília, Ponta Grossa, 1998. Ver Volpi, A., La cultura economica della militanza anarchica di fine ottocento, in: Antonioli, Maurizio, Bertolucci, Franco, Giulianelli, Roberto (a cura), Nostra Patria è il Mondo Intero, Pietro Gori nel movimento operaio e libertario italiano e internazionale, Pisa, 2012, p. 178-179. Ver as memorias de Giovanni Rossi: Rossi, Giovanni, Utopie und Experiment, Berlin, 1979, S.105 e o comentario do tradutor Slovak, p. 249-250, que foi publicado em Die Freiheit, 15.10.1895: „Ein Brief von mir an die Kolonie und an den Genossen Rossi adressiert, ist zweimal zurückgekommen; zuletzt sandte ich ihn nach Buenos Aires, und ersehe ich aus einer Briefkastennotiz in der „Questione Sociale“, dass mein Schreiben an Rossi weiterbefördert worden ist.“.

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dico libertario, Barcelona, 1903 foi publicado um artigo de tamanho de uma página com o título: De America Los Campesinos en la Republica Argentina. No artigo os Trabajadores de Sudamérica advertiam para não ir em Argentina e informavam sobre a repressão e a “ley de residencia66”, com as quais o gouverno da Argentina expulsou ativistas estrangeiros desde 1902. Na edição seguida no mesmo ano o artigo: “Trabajadores no váyais á la Argentina!!!” deixou esse apelo claro. O movimento na Argentina usou esse meio de comunição e informação sobre as repressões67mais vezes, e escreveu uma carta ao famoso jornal francês La Vie ouvrière, orgão do sindicato Conféderation Générale du Travail, que foi publicado em  20.6.1910, nas páginas 721-724 com o título “Sous le régime de la terreur”. De outro lado os movimentos se informavam sobre as repressões policiais, quando o governo da Argentina mandou um policial à Europa para a observação dos imigrantes vindos. Assim o jornal libertário espanol Tierra y Libertad publicou no dia 21.9.1910 o artigo Extensión Policial, que manteve muitas informações sobre os policias como os nomes e os endereços deles na Espanha. Nos jornais nos dois lados do atlântico frequentamente foram publicadas notícias sobre a situação do conflito social no mundo inteiro. Isso levou a atos de solidaridade. De um lado os movimentos organizavam festas e eventos e doavam o dinheiro, de outro lado isso levou a protestos públicos. A notícia da execução do anarquista espanhol e fundador da escola moderna, Francisco Ferrer em 1909 na Espanha, levou a protestos públicos68 nas Américas e aumentou 66

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Rama, Carlos M.; Cappelletti, Angel J. (ed.). El Anarquismo en America Latina, Caracas, 1990, p. 25, ver também: Suriano, Juan. Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 18901910, Buenos Aires, 2001, p. 36 ou Ansolabehere, Pablo, Literatura y anarquismo en Argentina, Rosario, 2011, S. 226-235. No dia 31.3.1903 os EUA lançaram o Anarchist Exclusion Act. O estado do New York já lançou uma lei parecido contra os imigrantes anarquistas em 1902. Ver sobre as repressões na Argentina, quais ficaram mais duras em 1909 com a nova lei de Defensa Social: Suriano, Juan, Anarquistas, Cultura y política libertaria en Buenos Aires 1890-1910, Buenos Aires, 2001, p. 336 e Suriano, Juan, Auge y Caída del Anarquismo Argentina 1880-1930, Buenos Aires, 2009, p. 61-62. Sobre Brasil ver Samis, Alexandre Ribeiro, Clevelândia, Anarquismo, sindicalismo e repressão política no Brasil, São Paulo, 2002. Por exemplo em Montevideo tinha no dia 17.10.1909 protestos com 15.000 participantes, ver: Alvarez, Ricardo Mantero, Historia Del Movimiento Sindical Uruguayo, Montevideo, 2003, p. 68-69. Ver sobre a reação no Brasil: Rodrigues, Edgar, Os Libertarios, ideias e experiências anárquicas, Petropolis, 1988, p. 158-161. Ver também: Schmidt, Michael, van der Walt, Lucien, Black Flame, The Revolutionary Class Politics of Anarchism and Syndicalism, Oakland, 2009, p. 186. Ver sobre a Semana Trágica em Barcelona, que levou à execução: Vidal, Josep Pont, Manresa, Rafael Iniesta de, La Utopía obrera Historia del Movimiento de los Trabajadores Españoles, Barcelona, 2002, p. 103-107.

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o número das escolas modernas, que foram fundadas depois69. Ferrer virou um dos mártires do movimento internacional70, como os cinco imigrantes alemães executados em Chicago em 11.11.188771, lembrado desde 1890 no dia primero de maio como os mártires de Chicago ou Sacco e Vanzetti72 nos anos 20. No início dos anos 20 a Federacíon Obrera Regional Argentina V, começou de publicar um journal em Guarani, chamado Ana Membuy, (Filho do Diabo), como primera tentativa de incluir os indios nessa comunicação pelo meio dos journais73. Mas a comunicação pelos jornais também serviu para transmitir posições teóricas e idéais da utopía libertária. Assim foram publicados textos como A ciudad anarquista, escrito peloimigrante francês em Buenos Aires, Pierre Quiroule em 191474. O autor publicou vários artigos na Revista Blanca, a uma revista mais famosa e divulgada espanhola75. Um outro exemplo dessa divulgação era o 69 70

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Ver por exemplo Codello, Francisco, Esperienze educative libertarie in America Latina, en: Bollettino Archivio G. Pinelli, Milano, n°23, 2004 e Avrich, Paul, The Modern School Movement, Anarchism and Education in the United States, Princeton, 1980. Ver sobre F. Ferrer: Boyd, Carolyn P., The Anarchists and Education in Spain, 1868-1909, in: The Journal of Modern History, Vol. 48, No. 4, (Dec., 1976); Muro, Nora, La enseñanza en la escuela moderna de Francisco Ferrer y Guardia, Burgos, 2009 e Bernal, Anastasio Ovejero, Anarquismo español y educación, in: Athenea Digital (Revista de Pensamiento e Investigación Social), num. 8, otoño 2005. Ver entre outros: Messer-Kruse, Timothy, The Haymarket Conspiracy, Transatlantic Anarchist Networks, Illinois, 2012 e Avrich, Paul, The Haymarket Tragedy, Princeton, 1994. Messer-Kruse, Timothy, The Trial of the Haymarket Anarchists: Terrorism and Justice in Gilded Age, New York, 2011 ou Nuhn, Heinrich, August Spies, ein hessischer Sozialrevolutionär in Amerika. Opfer der Tragödie auf dem Chicagoer Haymarket 1886/87. Mit Selbstzeugnissen und Dokumenten, Kassel, 1992. Ver sobre o caso e o movimiento internacional de solidaridade: Fast, Howard, Sacco & Vanzetti, Rio de Janeiro, 2009. Na América do Sul os movimentos libertários fundaram vários comitês de solidaridade. Existem poucas informações sobre o journal. Ver a unica menção em: Laforcade, Geoffroy de, Federative Futures: Waterways, Resistance Societies, and the Subversion of Nationalism in the Early 20th- Century Anarchism of the Rio de la Plata Region, in: Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe, Vol. 22 - N°2, Tel Aviv, 2011, p. 90, e Laforcade, Geoffroy de, Straddling the Nation and the Working World: anarchism and syndicalism on the docks and rivers of Argentina, in: Hirsch, Steven J., Walt, Lucien van der (ed.), Anarchism and Syndicalism in the Colonial and Postcolonial World, 1870 – 1940: the Praxis of National Liberation, Internationalism, and Social Revolution, Leiden, 2010, p. 357. Ver Tovar, Luis Gómez, Paniagua, Javier (Org.), Utopías Libertarias Españolas, La Ciudad Anarquista Americana de Pierre Quiroule, Madrid, 1991. Ver também Turner, Sebastián, Pierre Quiroule. La Ciudad Anarquista Americana contra la Ciudad del Centenario, en: Jornadas de Sociología VII UNLP, La Plata, 2012, e Ainsa, Fernando, La ciudad anarquista americana (Estudio de una utopia libertaria), en: Caravelle, n.46, Toulouse 1986. Ver sobre a Revista Blanca Valle-Inclán, Javier del, Biografía de La Revista Blanca 1898-1905,

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conto Acrapolis de Vicente Carreras76. Essa história utópica tinha até lugar no Brasil. Publicada primera vez pela Revista Blanca no dia 1.10.1902 o conto foi publicado no jornal O Amigo do Povo77, ano I, n°15 no dia 8.11.1902 em São Paulo em português. No Atlântico libertário circularam também livros em várias linguas78 e foram traduzidos como o livro antimilitarista do imigrante italiano no Brasil Gigi Damiani, que foi publicado na Holanda com o titulo:Het verhaal van den onbekenden soldaat e na França com o titulo: „L`Histoire“du soldat inconnu.79. Na Argentina foram publicados vários livros de autores europeus80, entre outros: 1891 Peter Kropotkin (Rus), El asalariado, El Perseguido 1892 Errico Malatesta (Ita), Entre Campesinos 1892 Elisée Reclus (Fra), Evolución y Revoulución, Juventud Comunista Anárquica 1895 E. Reclus (Fra), A mi hermano el campesino, La Expropiación 1895 P. Kropotkin (Rus), La anarquía en la evolución socialista 1895 P. Kropotkin (Rus), La conquista del pan, Grupo Comunista Anárquico

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Barcelona, 2008 e Litvak, Lily, Musa libertaria, Arte, literatura y vida cultural del anarquismo español, 1880-1913, Madrid, 2001, p.23 pelo a importancia da revista. Ver também a autoreflexion da editora: Montseny, Federica, Els Anarquistes, Educadors del Poble: La Revista Blanca (18981905), Barcelona, 1977. Ver Tovar, Luis Gomez, Paniagua, Javier (Org.), Utopias Libertarias Españolas, La Ciudad Anarquista Americana de Pierre Quiroule, Madrid, 1991 e Turner, Sebastián, Pierre Quiroule. La Ciudad Anarquista Americana contra la Ciudad del Centenario, in: Jornadas de Sociología VII UNLP, La Plata, 2012. Sobre Acrapolis ver: Prado, Antonio Arnoni, Hardman, Francisco Foot, Leal, Claudia Feierabend Baeta, Contos Anarquistas, temas & textos da prosa libertaria no Brasil (1890-1935), São Paulo, 2011, p.41-44 e Tovar, Luis Gómez, Paniagua, Javier (org.), Utopías Libertarias Españolas Siglos XIX-XX, Madrid, 1991, p.39-40. Ver sobre o jornal: Toledo, Ediliene Teresinha, Em torno do jornal o Amigo do Povo: os grupos de afinidade e a propaganda anarquista em São Paulo nos primeros anos deste século, en: Cadernos AEL, 8/9, 1998, Anarquismo e Anarquistas, Michael M. Hall (Org.). Ver sobre a intensa troca de leitura no exemplo do Rio de La Plata: Rey, Clara, Poesia popular libertaria y estética anarquista en el Rio de la Plata, Revista de Crítica Literaria Latinoamericana,Año XV, NM 29; e Viera, Marcelino Eloy, In the shadow of liberalism: Anarchist reason in the literature and culture of the Rio de la Plata (1860-1940), Dissertation Doctor of Philosophy (Romance Languages and Literatures), University of Michigan, 2012. Ver Fauvel-Rouif, Denise, Gaillemin, Janine, Sowerwine-Mareschal, Marie-Aude, Richet, Diana (Dir.), L´Anarchisme, Catalogue de Livres et Broschures des XIX et XX Siécles, Paris, 1982, p.39. Infelizmente no existe a data da publicação. A lista incluiu o ano da publição, autor (nacionalidade), nome da obra e o editor, as vezes um grupo, sindicato ou um journal. Ver López, Arango, E., Abad de Santillán, Diego, El anarquismo en el movimiento obrero, Barcelona, 1925, p.14-19.

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1895 E. Malatesta (Ita), A las mujeres que estudian, Biblioteca La Questione Sociale 1896 S. Merlino (Ita), Per che siamo anarchici, Biblioteca La Questione Sociale 1896 P. Gori (Ita), Santo Caserio Apunto Storici 1896 J. Montseny (Esp), La relación y la cuestión social, Biblioteca La Questione Sociale 1896 E. Henry (Fra), Su discurso ante los tribunales, Biblioteca La Questione Sociale 1896 G.Rossi (Ita/Bra81), Un episodio de amor en la colonia socialista Cecilia, Biblioteca La Questione Sociale 1897 P. Kropotkin (Rus), La legge e l´autorità, 1897 P. Kropotkin (Rus), Comunismo Anárquico 1897 E. Malatesta (Ita), En tiempo de elecciones, Los Ácratas 1897 D. Nieuwenhuis (Ndl), Socialismo libertario e socialismo autoritario 1897 L.Tolstoy (Rus), Los deberes del soldado 1898 P. Kropotkin (Rus), La moral anarquista 1898 P. Kropotkin (Rus), La ley y la autoridad, Los Ácratas 1898 S. Merlino (Ita), Por qué somos anarquistas, Biblioteca La Protesta Humana 1898 P. Gori (Ita), La anarquía ante los tribunales 1899 P. Gori (Ita), 1° de mayo 1899 P. Gori (Ita), Senza Patria 1899 P. Kropotkin (Rus), A los jóvenes 1899 C. Cafiero (Ita), Anarchia e comunismo 1899 J. Most (Deu), La peste religiosa 1900 B. Motta (Bra), Ni Dios ni Patria 1900 Ch. Albert (Spa), El Amor Libre 1900 A Pellicer Paraire (Esp/Arg) Conferencia popular sobre sociología 1901 E. Malatesta (Ita), La anarquía

A comunicação dos movimentos libertários na época da imigração de massa por meio da mídia dos jornais e revistas era fundamental no processo intercultural da subjectivização do Proletariado internacional82. A autoconstrução dessa identidade coletiva na base 81 82

Der Italiener Rossi hatte 1893 das libertäre Siedlungsprojekt Colonia Cecilia in Südbrasilien gegründet, s.o. Ver uma boa base de fontes globais de acesso fácil: Bibliothek der Freien, List of digitalized anarchist periodicals: .

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da estratificação social e da ideologia libertária, além da origem era uma reação das classes subalternas no espaço atlântico no processo da globalização do capitalismo no fim do século XIX e início do século XX. Esse movimento se entendeu como um movimento internacional, e pela intensidade e a divulgação dessa comunicação, que inclui vários países em ambos lados do atlântico.

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