A CONQUISTA DA FELICIDADE SEGUNDO GRANDES PENSADORES

May 23, 2017 | Autor: Fernando Alcoforado | Categoria: Education, Happiness, Psichology, Psychology Of Happiness
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A CONQUISTA DA FELICIDADE SEGUNDO GRANDES PENSADORES Fernando Alcoforado* Em todas as épocas, a conquista da felicidade tem sido um objetivo perseguido por todos os seres humanos. Alguns seres humanos buscam conquistar egoisticamente sua felicidade individual e outros a felicidade individual ao lado da felicidade coletiva em todas as épocas. Nossa visão é a de que a felicidade individual seria alcançada quando a pessoa conseguisse realizar seu desejo como, por exemplo, ter vida saudável, constituir uma família solidária, dispor de recursos que garantam sua ascensão social e de sua família, estar cercado de amigos verdadeiros, ser reconhecido pelo bem que realiza no mundo do trabalho e na sociedade como cidadão e viver em uma sociedade progressista e democrática bem estruturada. A felicidade coletiva poderia ser alcançada quando os seres humanos integrantes de uma comunidade local, regional e mundial conseguissem realizar seus desejos vivendo em uma sociedade democrática bem estruturada e progressista que lhes proporcionassem as condições para o desenvolvimento de todos os concidadãos. Antonio Carlos Olivieri, mestre em Língua, literatura e cultura italianas pela USP, autor de livros didáticos, paradidáticos, ficção infanto-juvenil e adulto, e professor de jovens e adultos em diversas instituições, dentre as quais o ITA, publicou artigo sob o título Filosofia e felicidade: O que é ser feliz segundo os grandes filósofos do passado e do presente, disponível no website , 2016. Os parágrafos apresentados a seguir sintetizam o conteúdo do artigo de Olivieri. Foram consideradas as concepções de grandes pensadores como Tales de Mileto, Sócrates, Platão, Antístenes, Aristóteles, Epicuro, Locke, Leibniz, Kant, Bertrand Russell, Nietzsche, Ortega y Gasset, Slavoj Zizek, Karl Marx e Marcuse. Tales de Mileto que viveu entre as últimas décadas do século 7 a.C. e a primeira metade do século 6 a.C afirmava que é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada” (grifo nosso). Sócrates (469 a.C./399 a.C.) deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, postulando que ela não se relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da alma que só podia ser atingida por meio de uma conduta virtuosa e justa (grifo nosso). Entre os discípulos de Sócrates, Antístenes (445 a.C./365 a.C.) acrescentou um toque pessoal à ideia de felicidade de seu mestre, considerando que o homem feliz é o homem autossuficiente (grifo nosso). Mas o maior discípulo de Sócrates, que efetivamente levou a especulação filosófica adiante de onde a deixara seu mestre, foi Platão (427 a.C./347 a.C.) que afirmou que a função da alma é ser virtuosa e justa, de modo que, exercendo a virtude e a justiça, é obtida a felicidade (grifo nosso). Para Platão, a ética não estava limitada aos negócios privados, devendo ser posta em prática também nos negócios públicos. Desse modo, o filósofo entendia que a função do Estado era tornar os homens bons e felizes (grifo nosso). A ligação entre ética e política estará ainda mais definida na obra do mais importante discípulo de Platão, Aristóteles (384 a.C./322 a.C.) que criticou o idealismo do mestre, reconhecendo a necessidade de elementos básicos, como a boa saúde, a liberdade (em vez da 1

escravidão) e uma boa situação socioeconômica para alguém ser feliz (grifo nosso). Aristóteles considera a política como uma extensão da ética e, nesse sentido, para ele também é uma função do Estado criar condições para o cidadão ser feliz (grifo nosso). Para Aristóteles, a felicidade é o maior desejo dos seres humanos (grifo nosso). Do seu ponto de vista, a melhor forma de conseguir ser feliz é através das virtudes. Cultive as boas virtudes e alcançará a felicidade (grifo nosso). Segundo Aristóteles, a felicidade é um estilo de vida: o ser humano precisa exercitar constantemente o melhor que tem dentro dele. É preciso cultivar também a prudência de caráter e ter um bom “daimon” (boa sorte), para alcançar a felicidade plena (grifo nosso). Aristóteles forneceu a base filosófica sobre a qual foi edificada a igreja cristã. Por isso, existe uma grande semelhança entre o que este pensador propôs e os princípios das religiões judaicocristãs. Depois de Alexandre, o Grande, no mundo grego ou helênico, desenvolveram-se três escolas filosóficas que vão se estender até o fim do Império Romano, as chamadas filosofias helenísticas. Todas elas, por caminhos diferentes, chegam a conclusão de que, para ser feliz, o homem deve ser não só autossuficiente, mas desenvolver uma atitude de indiferença, de impassibilidade, em relação a tudo ao seu redor. A felicidade, para eles, era a “apatia”, palavra que, naquela época, não tinha o sentido patológico que tem hoje (grifo nosso). Entre os filósofos do mundo helênico, pode-se citar Epicuro (341 a.C./271 a.C.) que deixou claro que essa ideia de “apatia” não significa abdicar ao prazer (grifo nosso) cuja filosofia também é conhecida pelo nome de hedonismo (em grego “hedone” quer dizer “prazer”). Epicuro postulou o princípio de que o equilíbrio e a temperança davam origem a felicidade (grifo nosso). Ele acreditava que o amor, ao contrário da amizade, não tinha muito a ver com a felicidade. (grifo nosso). Insistia na ideia de que não devemos trabalhar para adquirir bens materiais, mas por amor pelo que fazemos (grifo nosso). Com o fim do mundo helênico e o advento da Idade Média, a felicidade desapareceu do horizonte da filosofia. Estando relacionada à vida do homem neste mundo, ela não interessou aos filósofos cristãos como Agostinho de Hipona (354 d.C./430 d.C.), Anselmo de Canterbury (1033/1109) ou Tomás de Aquino (1225/1274), todos santos da Igreja Católica. Para a filosofia cristã, mais do que a felicidade, o que conta é a salvação da alma (grifo nosso). A Igreja Católica defendia a tese de que o que importava era a salvação da alma rumo ao paraíso celestial e não a felicidade na Terra. John Locke (1632/1704) e Leibniz (1646/1716), na virada dos séculos 17 e 18, identificaram a felicidade com o prazer, um “prazer duradouro” (grifo nosso). Alguns décadas depois, o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), na obra “Crítica da razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade” (grifo nosso). O Iluminismo que surgiu na França do século XVII e defendia o domínio da razão sobre a visão teocêntrica que dominava a Europa desde a Idade Média tinha uma concepção filosófica que se aproximava da de Aristóteles ao considerar que se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade comum seria alcançada (grifo nosso). No mundo de língua inglesa, na mesma época de Kant, a ideia de felicidade ganhou lugar de destaque no pensamento político e buscá-la passou a ser considerada um “direito do homem” (grifo nosso), como está consignado na 2

Constituição dos Estados Unidos da América, que data de 1787 e foi redigida sob a influência do Iluminismo. É também no âmbito da filosofia anglo-saxônica, no século 20, que se encontra uma nova reflexão sobre este assunto com o inglês Bertrand Russell (1872/1970) que dedicou a obra “A conquista da felicidade”, usando o método da investigação lógica para concluir que é necessário alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os outros homens para ser feliz. Para ele, em síntese, a felicidade é a eliminação do egocentrismo (grifo nosso). Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844–1900), filósofo alemão do século XIX, “estar bem” graças a circunstâncias favoráveis ou a boa sorte não é felicidade (grifo nosso). Em vez disso, a felicidade é força vital, espírito de luta contra todos os obstáculos que restrinjam a liberdade e a autoafirmação (grifo nosso). Então, ser feliz é ser capaz de provar dessa força vital, através da superação de dificuldades e criando formas diferentes de viver (grifo nosso). Para Ortega y Gasset, a felicidade é definida quando “a vida projetada” e a “vida real” coincidem. Ou seja, quando a vida que desejamos coincide com o que realmente somos (grifo nosso). Por sua vez, Slavoj Zizek acredita que a felicidade é um produto dos valores capitalistas que prometem implicitamente a satisfação através do consumo (grifo nosso). Karl Marx admite que em uma sociedade dividida em classes antagônicas não existe uma noção de felicidade que sirva igualmente para todas essas classes (grifo nosso). Na concepção de Freud, felicidade refere-se, por um lado, à realização do princípio de prazer, ou seja, retorno ao inanimado e, por outro, ao desvio da finalidade original das pulsões e domínio racional destas (grifo nosso). Em Eros e Civilização, tomando como interlocutores Freud e Marx, Marcuse especula sobre a hipótese de uma civilização não repressiva. A felicidade é conceituada como a satisfação das verdadeiras necessidades de todos os homens em um contexto de liberdade (grifo nosso). Do exposto, pode-se sintetizar que a felicidade é o maior desejo dos seres humanos, a felicidade individual é alcançada quando “a vida projetada” e a “vida real” coincidem, isto é, se o indivíduo conseguir construir sua vida de acordo com os seus desejos, ele será feliz. A felicidade individual dificilmente será conquistada sem a realização da felicidade coletiva. Se todos fizessem parte de uma sociedade justa, com direitos iguais a todos, a felicidade coletiva e a felicidade individual poderiam ser alcançadas conjuntamente. A felicidade coletiva pode ser conceituada como a satisfação das verdadeiras necessidades de todos os homens. Agir corretamente e não de forma egoísta ou interesseira ou amoral — é também um dos elementos fundamentais da felicidade. Uma das rotas para a felicidade é procurar contribuir genuinamente para a felicidade dos outros. É uma das funções do Estado criar condições para o cidadão ser feliz. *Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-

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Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: [email protected].

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