A CONSTRUÇÃO E O DESAFIO DO MITO, DO RITO E DO SÍMBOLO NAS INSTITUIÇÕES: entre a fidelidade e o simulacro

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A CONSTRUÇÃO E O DESAFIO DO MITO, DO RITO E DO SÍMBOLO NAS INSTITUIÇÕES Entre a Fidelidade e o Simulacro

É na natureza humana a vivência de experiências. Longe um conhecimento platônico onde a contemplação das verdades eras o dava sabedoria, prevalece o conceito aristotélico de que “nada está na inteligência sem que tem passado pelo sentidos”. A experiência, portanto, faz parte intrínseca da vida humana e como ela o ser humano a integra no seu próprio patrimônio pessoal de conhecimento e vida. Em geral as experiências vividas esgotam-se na própria vida do cada homem. Há experiências, porém, que transcendem o individuo e são apropriadas por outras pessoas que vêm nele algo e singular e extraordinário e, ainda que vivenciada por outrem, possuem um lastro de sabedoria e sentido da vida que passam ser para muitos um referencial de vida para outras pessoas. Essa experiência pessoal de alguém que é transferida ou apropriada por outras pessoas denominam de experiência fundante. Essa experiência pessoal assumida por outras pessoas dá ao individuo que vivenciou a imediata ou crescente consciência de que é “mestre”, “guia” e “fundador”. Constrói-se na mente daquele que vivenciou essa experiência a “consciência de uma missão” a ser cumprida. A experiência vivenciada vai aos poucos se desmaterializando assumindo um halo místico, seja divino, seja humano. A experiência fundante ao perder sua materialidade se torna um princípio, uma doutrina e uma mística. O fundador usando de estratégias atrai discípulos, ou discípulo mais fervorosos apontam o fundador como exemplo a ser seguido. Os discípulos das primeiras horas são fundamentais como co-fundadores. São eles que avalizam a credibilidade da experiência do fundador. Acolhem divulgam as crenças, estabelecem projetos de divulgação das “verdades” e são a primeira linha de ação d anuncio dos princípios. O fundador é o referencial, a palavra final. Se carisma pessoal se impõe, suas palavras são bebidas pelos discípulos mais fervorosos. A morte do fundador qualifica os discípulos das primeiras horas que passam a gozar de autoridade “porque convivera com o mestre” .São interpretes qualificados. Ainda terá importância aqueles discípulos que convivera com os co-fundadores, após a morte deles. Neste momento, porém, a experiência fundante passa por um caminho de Institucionalização que procura organizar e perpetuar o carisma do fundador e dos discípulos das primeiras horas. A imagem, a vida e a ações do fundador tendem a ser idealizadas procurando-se com isso a perenidade da fundação que oi calcada numa experiência pessoal. Este processo se realiza através de três elementos interligados: o Mito, o Rito e o Símbolo. O Mito é a narração da vida, os ditos dos feitos do fundador e seu primeiros discípulos. Não é, porém, uma narração feita uma única vez. Ela é sempre narrada porque a cada dia deve-se entender de ode se veio côo tudo começou. Os teóricos fazem referências, estudos e aprofundamentos do inicio de tudo. Os iniciados ouvem muitas vezes “como tudo começou”. Esse resgate histórico tem não só a função de memorial, mas é a chave de entendimento do “agora” da Instituição. Perder esse referencial histórico é perder a própria identidade. Os seguidores deve entender que são continuidade desta “arvore Prof. Dr. Dílson Passos Júnior – [email protected]

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genealógica”. O mito, porém, é um fato do passado. Aconteceu no ontem e tende a ser um acontecimento velho e ultrapassado. Como isso pode ser superado (interrogação). Pelo rito. O Rito e a atualização do Mito. Ele “vai” no passado, “toma” a experiência fundante e torna presente hoje. Ele é não só evocativo, mas celebrativo. É a presença e a atualização do ontem no hoje. E mais... não é só evocação mas também “nós” participamos da fundação, somos membros a mesma história que está presente em nós, em nossa Instituição. O cerimonial unifica o passado e o presente. Perdemos nosso lugar de observadores e assumimos a função dos protagonistas da história sabendo que a fundação não foi feita por outros, mas eu faço parte dela. Nas celebrações religiosas, guisa de exemplo, a divindade sai de sua transcendência e está “aqui” no rito interagindo com seus crentes ouvindo-os e atendendo-os em suas necessidades dos hoje. Em Instituições não religiosas o cerimonial também diz a mesma coisa: os sonhos dos fundadores não ficaram no passado. Nós somos este sonho, não há entre o fundador e nós o vácuo do tempo. O ontem é o hoje em nós. Daí a necessidade de uso de roupas e insígnias que indiquem que o membro da comunidade transcende a sua própria individualidade e é o passado no presente. O Símbolo é tudo aquilo que faça remontar e lembrar a experiência do fundador no passado incorporada no presente. O vestir-se e o envolver-se de símbolos representam a ponte entre o hoje e o ontem. São usados de forma especial nos ritos. O paramentar-se, nõ só no sentido religioso, significa dar identidade ao Rito indicando a fonte de onde se vem. O símbolo será tudo de alguma forma remonte ao Mito inicial. Mesmo as modernas construções a ser sinais de uma determinada Instituição procuram se impor pela grandeza, esplendor e majestade para assinalar o que representam. A arquitetura mereceria um estudo especial sobre de que forma materializam os mitos fundantes que representam. O Ideal do fundador, nascido naturalmente ou forjado por seus discípulos, se visualiza no Mito, no Rito e no Símbolo que sintetizam a experiência fundante. Essa experiência, se se projeta ao longo d história, precisa Institucionalizar-se para ser fiel ao projeto inicial. O impulso carismático inicial vai sendo ordenado por regras, normas, princípios e procedimentos para garantir “como a coisa deve ser”. Se essa fundação é bem sucedida ela vive um crescimento que se materializa em reconhecimento social, garantia e status e poder. Seus diretores possuem como missão tornar-se interpretes dos ideais da fundação com o dever de manter a chama e os ideais do passado. Torna-se guardiões do Mito, do Rito do Símbolo. Os guardiões são os que devem manter a chama do ideal fundacional. Este processo, porém, não é sereno. Uma Instituição que e consolida passa a ser um atrativo para novos membros por variados motivos: desde uma clara opção pelos ideais fundacionais até a procura de status, poder ou remuneração. Cria-se forte tensão entre a dimensão carismática e a Instituição. Há a tensão entre os ideais do fundador e seus discípulos e a o cotidiano com sua materialidade mais prosaica: contas, captação de recursos, remunerações, competições de mercado, captação de clientes, direitos lutas sindicais, contratação de funcionários competentes alinhados ou não co ideais o fundador, demissão dos menos aptos.

Prof. Dr. Dílson Passos Júnior – [email protected]

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Não é difícil se ver o retrato dos fundadores fixados em paredes de vetustas fundadores, antes venerados e amados, hoje rostos anônimos a assombrar como fantasmas do passado com seus ternos antigos às novas gerações sedentas de modernidade e desejosas de sepultarem nos sótãos dos prédios “esses quadros velhos”. Assim como esses retratos, objeto de veneração no passado, assim também mitos, ritos símbolos podem perder sua atualidade apesar de “penduradas” na Instituição. Aqui está diagnosticada a crise profunda de uma fundação onde o Mito “deve ser narrado”, o Rito “deve ser celebrado” e o Símbolo “deve ser mostrado” por funcionários sem paixão, sem moção, sem adesão afetiva, sem identificar-se com eles. Parecem velhos funcionários de velhas instituições apresentando-as com voz pastosa e sem brilho nos olhos os “ideais” de fundações das quais recebem o sustento e através das quais esperam com ansiedade a aposentadoria. O Mito fundacional torna-se mera mitologia, estórias do passado; o Rito torna-se ritualismo, suportado com olhares constantes ao relógio conscientes de que “está demorando muito” e se “tem coisa importante a fazer”. E, os Símbolos, não simbolizam mais, sendo relegados às gavetas ou envergados em cerimônias com tédio ou se tornam enfeites sem manter seu significado inicial. Essas coisas só são suportadas porque através delas se tem status e/ou remuneração. A erosão dos paradigmas fundacionais e Institucionais faz com que uma fundação mantenha um verniz superficial que apenas se referem ao fundador e à sua experiência fundante. Os discursos tendem a ser vazios, as ações torna-se pragmáticas até no fingir que se adere aos critérios fundacionais e vive-se, efetivamente, uma vida diferente da proposta pela Institucional. O Mito não narra mais, o Rito não celebra mais e o Símbolo não simboliza mais. O que sobrevive é o simulacro. Esta Instituição está em crise, pois há uma efetiva ruptura entre o sonhado e vivido. E ainda que sobrevivam em seu comando pessoas apaixonadas pela experiência inicial, efetivamente, porém, não há mais canais entre o carismático e os destinatários. Numa escola, para concretizarmos essas afirmações,há educadores que não crêem nas propostas dos mantenedores e alunos que não recebem o influxos desta experiência fundante. O destino desta Instituição será a presença de vigorosos e “violentos” reformadores que busquem retomar o “espírito da fundação”, ou a ruptura com os paradigmas fundacionais substituindo-os pó outros ou, então, finalmente o melancólico encerramento de suas atividades.

Prof. Dr. Dílson Passos Júnior – [email protected]

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