A CONTRIBUIÇÃO DA GESTÃO SOCIAL PARA OS DESAFIOS DA GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL

June 30, 2017 | Autor: Silvia Morais | Categoria: Sustainable Development, Stakeholder Theory, GESTION SOCIAL
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A CONTRIBUIÇÃO DA GESTÃO SOCIAL PARA OS DESAFIOS DA GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL SILVIA ANTONIA DE MORAIS1

Resumo O movimento da sustentabilidade social das empresas já deixou de ser um discurso, hoje essa causa é mundial e se encontra inserida transversalmente na estratégia de muitas organizações empresariais, forçando-as a gerenciar os públicos que exercem influência sobre elas e aqueles em que ela influencia e a teoria dos stakeholders tem sido um dos principais instrumentos para a gestão destas relações. Essa nova maneira das organizações pensarem as relações e suas influências, apesar de seu potencial de aprendizagem para o tema sustentabilidade, desencadeia muitos desafios, visto que proporciona a reflexão sob o reconhecimento da empresa como um ator que interage e influencia num espaço compartilhado. Se antes as soluções dos desafios empresariais advinham dos modelos da administração contemporânea, centrando numa visão unilateral, com a gestão da sustentabilidade, agora a gestão da sustentabilidade, por encontrar-se em processo de amadurecimento, deve buscar em outros modelos de gestão inspirações para a superação de seus desafios. A gestão social é uma proposta teórica que discute as relações entre setores, regidas sob a luz da democracia e da busca de soluções compartilhadas para problemas comuns, apresentando-se, portanto, com elementos convergentes às dificuldades enfrentadas pelas empresas na gestão da sustentabilidade. Assim, a proposta deste artigo é mostrar, a partir de uma discussão entre o conceito da gestão social e os desafios de sustentabilidade nas organizações, quais são as contribuições trazidas pela gestão social para a sustentabilidade.

Palavras-chave: gestão sustentável, gestão social, teoria dos stakeholders, responsabilidade social.

1

Silvia Antonia de Morais, mestranda em Administração em Sustentabilidade na FEI, São Paulo.

DEZEMBRO DE 2010

Abstract The movement of sustainability in the companies has stopped to be a speech, today that question is inserted in the world business strategy, forcing them to manage the influence in many publics and the theory of stakeholders has been one of the main instruments for managing these relationships. This new way make the organizations think about relationships and their influences, despite his learning potential for sustainability issue triggers many challenges as it provides a reflection on the recognition of the company as an actor interacting in a shared space. If before the solutions to the business challenges stemmed from contemporary models of management, focusing on a unilateralist approach to the management of sustainability, this reality has changed. The management of sustainability, by finding themselves in the process of maturing, they should look at other business

models

for

Inspiration

to

overcome

their

challenges.

This a theoretical proposal discusses the relationships between sectors, governed by democracy and the pursuit of shared solutions for common problems, presenting, therefore, convergent evidence of the difficulties faced by companies on sustainability management. Thus, the purpose of this paper is to show, from a discussion between the concept of social management and the challenges of sustainability in organizations, what are the contributions of concepts of social management by the corporate management for sustainability.

Key words: sustainability management, social management, stakeholders theory, social responsability. .

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Introdução A gestão da sustentabilidade tem sua base numa discussão desencadeada no campo econômico na década de 60, especialmente no momento em que o mundo inicia sua reflexão sobre os modelos de desenvolvimento existentes como resposta para o crescimento populacional e o processo de industrialização desenfreado. Até então, não havia questionamento quanto o que se estava fazendo, como estava fazendo e aonde organizações, governos e sociedade chegariam produzindo e consumindo como estavam fazendo. Assim foi criado um novo modelo de desenvolvimento, pautado na capacidade da sociedade de tomar decisões à luz de produção de uma sociedade mais justa e includente, ambientalmente capaz de usufruir das riquezas naturais garantindo reservas para as gerações futura e economicamente, viável. Desde então, evolui a incorporação desse conceito no campo empresarial, buscando-se estratégias, métodos e técnicas de elevar o tema

à prática

organizacional e assim, aumentar o questionamento a respeito do papel das empresas na sociedade, principalmente numa sociedade que hoje é mais consciente ambiental e socialmente. Nacionalmente, o discurso da responsabilidade social, foi disseminado a partir da década de 90, contribuindo para a superação da visão empresarial existente até então. Antes, empresas a ação social das empresas tinha como base uma visão unilateral e orientada para fora de seus muros, inspirados pela filantropia empresarial, ou seja, acreditando que ações de benemerência nas comunidades seriam o suficiente para demonstrar a importância do social e do ambiental em sua ação. Essa forma estava muito mais associada às ações sociais externas às empresas e não pressupunha uma reflexão sobre sua operação.

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A responsabilidade social foi um primeiro passo gerencial para as empresas analisarem o que e como estavam gerindo seu negócio. Assim, a tradicional maneira das empresas se relacionarem com a sociedade, ainda vista como um acessório das organizações perde espaço para um papel mais relevante e estratégico, pressupondo maior relevância para a perpetuidade do negócio. A partir de 2000, a responsabilidade social é superada pela visão da gestão da sustentabilidade, mais associada à visão do desenvolvimento sustentável, deixando a responsabilidade social muito mais como um método de alcance da sustentabilidade que tem como uma visão muito mais ampla e estratégica. As razões e motivações para uma empresa inserir o tema da sustentabilidade em seu negócio são diversos, entretanto houve uma forte adesão do setor empresarial à teoria dos stakeholders, tornando-se um forte introdutor da observação dos interesses de diversos grupos como uma estratégia de sobrevivência das empresas no mundo moderno (BORGER caput DEMAJOROVIC e VILELA JÚNIOR). Para uma empresa estar em condições de operar e se desenvolver numa sociedade em que o debate da sustentabilidade tenha saído do discurso, são necessáriosvoluntária ou involuntariamente- seu alinhamento às leis e normatizações ambientais e sociais que legitimam sua operação, além de ser colocada à prova sua capacidade de, com transparência, expor para a sociedade como está gerindo seu negócio e os impactos gerados pela sua operação. Tantos as normatizações (ISOS) quanto às diretrizes

voluntárias

(GRI,

ETHOS)

são

fortemente

inspiradas

na

análise

de

conformidade, respeito e gestão da relação com os diversos stakeholders, ou partes interessadas na operação empresarial. Essas motivações estreitam o diálogo da empresa com a sociedade, tornando-se uma prática atualmente muito utilizada. Esses novos modelos de gestão estão provocando a aprendizagem de um novo papel para as empresas, propondo o fim do paradigma da superficialidade das relações

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entre empresa e sociedade. A forma como essas empresas vem superando esse paradigma tem se dado na forma como têm incorporado o tema. Segundo SCHOMMER (2007) as empresas vêm evoluindo na incorporação do tema, havendo até o momento três classificações para os estágios em que se encontram nessa relação Empresa e Sociedade. O primeiro estágio, o da Ética Empresarial, estaria mais associado à visão moral e normativa da gestão da sustentabilidade, independente dos resultados que possam advir dessas ações. O segundo estágio, Mercado e Sociedade, vêem a relação entre sociedade e empresa pautada em acordos contratuais que visam um olhar para os atores sociais influenciados sobre essas organizações e o terceiro e mais adiantado estágio,

Gestão

das

Questões

Sociais,

seria

quando

a

empresa

insere

o

questionamento das questões sociais na pauta estratégica da empresa, resultando em maior legitimidade e serviço da empresa à comunidade da qual ela está inserida. A gestão da sustentabilidade, numa perspectiva estratégica assume a visão de que os há pessoas, indivíduos, organizações ou ambientes que, de alguma forma são ou poderão vir a ser afetados pelas atividades de uma empresa e da fundamental necessidade de interagir com esses públicos, pois não se pode negar que a gestão da sustentabilidade pressupõe a consideração de que há uma relação direta e coresponsabilidade organizacional sobre os problemas sociais.

Sob essa ótica,

considera-se a teoria dos stakeholders uma ferramenta empresarial para o enfretamento dessas relações e interações, porém centrada nos acordos contratuais, segundo estágio, que visa negociar as influências da empresa na sociedade e viceversa. Ao incorporar a teoria dos stakeholders, as empresas são postas a assumir novas interações, influências e responsabilidades que se constituem como oportunidades de superação do estágio Mercado e Sociedade para o estágio Gestão das Questões

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Sociais, entretanto depara-se com novas demandas que não encontram respostas nos modelos de gestão empresarial existentes, tampouco na velha ação social assistencial, praticadas por longa data. Se essas respostas não são encontradas no velho modelo de gestão empresarial e de ação social, onde podemos dizer que estão esses modelos que poderiam colaborar a construção de relações mais benéficas para a sociedade e que possam trazer novas aprendizagens para as empresas?. Na próxima parte deste artigo será argumentada a teoria dos stakeholders, sua incorporação nas empresas, os desafios desencadeados nas organizações e os riscos existentes para a sociedade no caso dessas novas interações e a gestão social como um novo modelo de inspiração para a interação da empresa com seus públicos de interesse. Esse artigo é teórico e analítico, busca estabelecer interfaces entre desafios e propostas de ambas às teorias, propondo um diálogo entre a gestão social e os desafios da gestão da sustentabilidade pautada pela teoria dos stakeholders, com o objetivo de propor uma reflexão sobre relação empresa-sociedade que permita às empresas superarem a visão de gestão das relações e influências.

A Teoria dos Stakeholders O termo stakeholders foi criado para designar todos os indivíduos, pessoas, instituições ou ambiente que, de alguma maneira, são ou poderão vir a ser afetados pelas atividades de uma empresa. A primeira aparição do termo stakeholder no campo da Administração ocorreu no Instituto de Pesquisa de Stanford (Stanford Research Institute – SRI) em 1963. A idéia inicial era designar com essa palavra “todos os grupos sem os quais a empresa deixaria de existir”. Nessa lista estariam inclusos acionistas,

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empregados, clientes, fornecedores, credores e a sociedade. De acordo com o estudo, os gestores deveriam entender as preocupações dos stakeholders para desenvolver objetivos a serem apoiados por eles (FREEMAN e MCVEA apud SILVEIRA, 2005).

A teoria dos stakeholders é uma perspectiva organizacional pautada na relação de interdependência entre os diversos públicos de interação entre a sociedade e a empresa. Acredita-se nessa teoria, que os públicos de interesse em uma organização são relevantes para o cumprimento da missão organizacional e obtenção de lucro. Há uma corrente, proposta por ATKINSON E WATHEROUSE (1997) e outros autores, que coloca o acionista como principal beneficiário dessa relação com os stakeholders, já que é esse público de interesse legítimo nessa relação. Outra corrente, formada por FREEMAN (1984) que coloca os acionistas como um dos stakeholders de interesse, sem nenhuma sobreposição de interesse aos outros, visto que todos eles são legítimos segundo sua perspectiva de relação com a empresa.

Segundo BORGER (caput DEMAJOROVIC e VILELA JÚNIOR, 2006) e CAMPOS (2006), nos estudos acerca da teoria dos stakeholders encontram-se duas dimensões, a descritiva e instrumental, que sugerem como as empresas devem, em sua administração, gerir os stakeholders como uma necessidade condicional à interdependência entre empresa e sociedade. Podemos dizer que nas duas primeiras dimensões encontramos boa parte das empresas atuais, pois nelas a relação da empresa com a sociedade é muito menos consciente, reflexiva e proativa, gerando muito menos conflitos e demandas da sociedade para dentro da organização. A dimensão normativa da gestão da sustentabilidade com base na teoria dos stakeholders parte do pressuposto de relações regidas por contratos entre as organizações e setores, pois compreende que

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é a partir da colaboração entre os atores envolvidos em um determinado território que pode colaborativamente, buscar as melhores soluções que contribuam para a convivência harmônica entre empresa e sociedade quanto aos aspectos social, ambiental e econômico. Essa abordagem mais estratégica das relações com os diversos públicos de interesse amplia o alcance das relações empresariais, introduzindo a perspectiva política de sua influência, visto que se torna cada vez mais evidente o poder exercido por uma corporação no ambiente e comunidade onde ela está inserida. Segundo MITCHEL, (caput, LYRA, GOMES e JACOVINE, 2009), as relações com os stakeholders são influenciadas pela relevância estratégica do grupo de interesse para a empresa, segundo critérios – isolados ou em conjunto- como o poder, a legitimidade e urgência da relação. Para “ANDRADE (2002):

”os adeptos da abordagem teórica dos stakeholders, a estratégia de legitimação é a ferramenta que permitirá que a empresa oriente seus objetivos de rentabilidade e crescimento, diante de seus diversos stakeholders, coerente com as necessidades do mercado e em consonância com os padrões de responsabilidade social e ambiental. Por meio desta estratégia a organização responde às pressões e aspirações dos demais stakeholders, ao mesmo tempo que representa e defende a consecução de seus próprios interesses.”

Se uma empresa tem um poder político de intervenção e terão mais atenção os públicos que mais puderem influenciar sobre ela, percebe-se que a empresa pode tem um potencial de influência negativa ou positiva sob a sociedade nas relações que ela vier a estabelecer na gestão da sustentabilidade. Também se pode dizer que esses públicos poderão exercer a mesma influência negativa ou positiva sob o pensamento empresarial, o que colabora para a reflexão proposta por este artigo.

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Segundo LYRA, GOMES e JACOVINE (2009), sobre a relação empresa-stakeholders, o ideal seria que a relação entre esses públicos fosse pautada pela cooperação do stakeholder e não na percepção de ameaça. Desta forma poderiam construir um modelo de relação que fosse continuamente se desenvolvendo na busca do espaço comum ideal. A teoria dos stakeholders como método de gerir as relações das empresas é um modelo complexo, compreendido ainda no campo da gestão por objetivos de sobrevivência e não por percepção das empresas de que essas relações, apesar de serem espaços de conflitos a serem mediados, são oportunidades de aprendizagem. As empresas, segundo DEMAJOROVIC (2003) aprendem sobre sustentabilidade na organização do trabalho, em atividades de treinamento, na natureza das relações internas e externas e na incorporação da visão existente na empresa sobre o tema. Percebe-se que, apesar de boa parte das oportunidades de aprendizagem estar associadas a fatores internos de posicionamento da empresa Refletindo sobre o modelo ideal de gestão da sustentabilidade pautada na teoria dos stakeholders, se pode dizer que as relações deveriam fomentar a construção de uma nova realidade social e organizacional a partir da aprendizagem mútua e que as diretrizes que orientam essa relação empresa-sociedade são essenciais para alcançar o estágio mais estratégico das relações. Logo, apesar das empresas atuarem com a gestão da sustentabilidade pautada pela teoria dos stakeholders, ao deparar-se com modelos de gestão pautados por diretrizes que não consideram a interação entre públicos, organizações e setores diferenciados, despreza não só a oportunidade de ser um agente de transformação na sociedade, como a de gozar das aprendizagens dessa interação.

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Desafios organizacionais na Gestão da Sustentabilidade Segundo REIS (2007), apesar da incorporação e compreensão dos conceitos de responsabilidade por parte das lideranças empresariais, ainda há muita incoerência na gestão destas ações. Ainda segundo o autor, vivem-se problemas sociais e ambientais de larga magnitude, levando as empresas a atuarem cada vez mais no campo social, sendo necessários novos modelos de gestão para empresa e empresa inserir, dentre eles, o de fugir de relações assistenciais e dependentes quando se fala de ação social empresarial. Segundo CARRION, Dilly e MACKE (2010), as empresas interagem no campo social e local por meio de projetos e ações sociais e ambientais. Para os autores, esses projetos

“indicam a necessidade de combinar processos e agendas segmentadas, „produzindo alianças estruturadas por redes de atores sociais e governamentais que se organizem de forma participativa, integrem ações e desencadeiem projetos econômicos sustentáveis”. Sabe-se, entretanto, que há dificuldade da gestão da sustentabilidade está na capacidade de interação da empresa, se concentrando tanto na visão fragmentada dos stakeholders como nas capacidades necessárias para a comunicação com os públicos. A partir das leituras, foram elencados os seguintes

desafios

fundamentais

na

gestão

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os

• CAPACIDADE DE COMPARTILHAR INFORMAÇÕES, DIVIDIR APRENDIZAGENS

• CAPACIDADE DE COMPREENSÃO DE SEU PAPEL, LIMITES E ACEITAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS NAS DECISÕES

• CAPACIDADE DE OUVIR, DE FUGIR DO MODELO HIERÁRQUICO DE DIÁLOGO

com

GESTÃO COMPARTILHADA

TRANSPARÊNCIA

DIÁLOGO

CORRESPONS ABILIDADE • CAPACIDADE DE ANALISAR RISCOS E CONSEQUÊNCIAS DAS DECISÕES

stakeholders:

Segundo DEMAJOROVIC, a Gestão Compartilhada, quando pressupõe a participação de diversos grupos interessados em um único objetivo e proporciona diversos benefícios socioambientais, entretanto há diversos conflitos na comunicação entre os indivíduos e organizações que, motivados por trazerem diferentes culturas e métodos de trabalho dificultam a tomada de decisão e os avanços na gestão. A Transparência, um pressuposto da gestão teoria dos stakeholders e da ética empresarial, segundo KREITLON, ANDRADE, SCHOMMER e REIS, também é um desafio para a gestão da sustentabilidade, pois a competitividade empresarial dificulta que empresas assumam abertamente seus “gaps” de gestão e tampouco compartilham suas aprendizagens. A gestão da sustentabilidade ainda é vista pelas empresas como uma vantagem competitiva frente aos seus concorrentes, portanto a abertura de qualquer informação pode pressupor o vazamento de uma informação preciosa para o negócio, assim como, tornar evidente uma falha empresarial, pode colocar (a empresa) em situação de vulnerabilidade frente aos stakeholders. Essa dificuldade está centrada em outro desafio empresarial, a racionalidade das relações. Segundo JACOBI (2003), refletir sobre os desafios sociambientais da atualidade implica em aceitar que as soluções para as complexidades destas questões residem em diversos saberes. O autor entende que a busca por soluções comuns em um território ancorado pelo diálogo, marcado pela participação e apoiado no Diálogo.

Dialogar na Comunicação é a arte de saber expressar-se e saber-se ouvir e colocar-se no lugar do outro para compreender suas ponderações, buscando a compreensão mútua de uma questão comum. O Diálogo e a Transparência são elementos-chave na gestão das normas ISO existentes na gestão ambientam e muitas são as empresas que se certificam, porém convivem diariamente com a dificuldade de ouvir e de socializar informações que sejam relevantes para seus grupos de interesse. Sabe-se

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que ainda há um longo caminho a ser percorrido pelas empresas para que elas incorporem essas capacidades, deixando de lado sua lógica hierárquica de estabelecimento de relações, em especial com alguns grupos de interesse onde esse poder é mais evidente, tais como funcionários e comunidade.

Por fim, outro aspecto que desafia as empresas na gestão da sustentabilidade é a percepção da co-responsabilidade. JACOBI (2003) afirma que “a sustentabilidade como novo critério básico e integrador precisa estimular permanentemente as responsabilidades éticas, na medida em que a ênfase nos aspectos extra-econômicos serve para reconsiderar os aspectos relacionados com a eqüidade, a justiça social e a própria ética dos seres vivos”. Pensar a responsabilidade no campo da gestão da sustentabilidade pautada na teoria dos stakeholders pressupõe a auto percepção da empresa como um ator inserido e agente de transformações na sociedade, o que deveria

pressupor a

consciência

sobre

as

conseqüências

de

seus atos, a

responsabilização. Essa percepção seria uma ruptura à forma tradicional da empresa se posicionar nas relações, atribuindo a ela pouca responsabilidade para as questões sociais e ambientais existentes e um ator que se apresenta muito mais com fórmulas e soluções para as questões sociais e ambientais.

Esses desafios se traduzem na empresas nos seus projetos sociais e ambientais, na forma como se relaciona nas comunidades onde estão inseridas, na gestão se saúde, segurança e meio ambiente ou mesmo no levantamento e socialização de seus relatórios de sustentabilidade. Diante destes desafios podemos enxergar que os modelos tradicionais de desenvolvimento e de gestão empresarial não devem conter inspirações para novos valores de relações com stakeholders, que se traduzam em diretrizes para uma nova proposta de gestão para essas relações. A empresa percebeu a necessidade de relacionar-se com os stakeholders, entretanto ainda não

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percebe o como e com que inspirações e valores essa gestão pode ser feita. A última parte deste artigo tratará de elencar os pressupostos da gestão social como valores inspiracionais de uma nova diretriz para a gestão da sustentabilidade.

A contribuição da Gestão Social A gestão social, um conceito que nasceu junto com o movimento de responsabilidade social no Brasil, foi cunhado com uma perspectiva multidisciplinar, tem como objeto de estudo a gestão de problemáticas sociais e ambientais que necessitam de uma visão multisetorial e interorganizacional, ao considerar que essas questões, em um governo democrático, dizem respeito a múltiplos atores que compartilham os interesses, as visões e ações a respeito de um tema em um território.

Percebe-se que seu surgimento tem origem no momento político e governamental em que o Brasil se abre para relações interinstitucionais e intersetoriais, gerando a necessidade de uma reflexão sob a forma pela qual essas relações vinham sendo estabelecidas até então. Em um ambiente governamental descentralizado, onde as políticas são tratadas no âmbito local as relações perdem distanciamento, as relações se aproximam, pois questões sociais e ambientais passam a ser tratadas com alcance geográfico muito menor.

A reflexão dos modelos de gestão estabelecidos resultou numa proposta de gestão pautada por princípios distintos dos modelos empresariais formais. A gestão social é segundo TENÓRIO (2007) “entendida como um processo gerencial dialógico onde a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação (ação que pode ocorrer em qualquer tipo de sistema social- público, privado ou de organizações não governamentais).”

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A gestão social é diferente da gestão privada. Segundo FRANÇA (2007), ao diferenciar os dois modelos de gestão, a gestão privada tem como finalidade o retorno econômico e mercantil, de tal modo que suas ações terão importância muito mais pelos resultados econômicos desejados que pela qualidade e sentidos éticos de conduta. Sob essa perspectiva, pode-se dizer que a gestão empresarial é pautada por métodos e instrumentos que se orientam para os resultados e relação custo-beneficio financeiro, colocando as questões sociais e ambientais num segundo plano de decisão. A gestão social, de outro lado, se constitui na esfera pública, onde os interesses não são unicamente os econômicos, mas também os sociais, os políticos, humanos e os ambientais. No plano da gestão social o vetor econômico não é o fim, é o segundo plano e um meio para se atingir objetivos comuns.

Segundo FRANÇA (2007), a gestão empresarial é um campo do conhecimento com metodologias e instrumentos construídos sob a lógica econômica e de mercado com mais de 100 anos de história, portanto sua percepção das relações é utilitária e tecnicista. A gestão social é construída recentemente e regida pelas necessidades de novos valores a serem regidos nas relações entre distintos setores.

Se do lado empresarial se prevalece um modelo centralizado, técnico e hierárquico, a gestão social se pauta pelo poder descentralizado, pautado pela democracia, discutido e negociado, além de comunicado. A gestão social portanto não é um instrumento mas uma orientação para a gestão moderna onde as questões sociais estão em evidência.

A gestão social contempla aspirações conceituais que contribuem para a superação de diversos paradigmas empresariais, em especial, nas relações estabelecidas com os

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stakeholders, pois esse ambiente das relações com os diversos públicos de interesse das empresas são ambientes onde ocorrem muitos conflitos e divergências e no qual, regido por outros princípios de cooperação podem gerar mais benefícios para a empresa e para a sociedade. Segundo ANDRADE (2002), o conjunto de stakeholders de uma empresa é diversificado e é um campo com interesses e objetivos conflitantes, dificultando

a

formação

de

estratégias

socioambientais

predominantemente

cooperativas, portanto esses conflitos – predominantemente marcados pela lógica da competitividade- precisam ser mediados à luz da cooperação e do entendimento para as empresas de que se trata de uma ferramenta analítica para ela.

A gestão social se apresenta como uma proposta de gerir as stakeholders que traz para a empresa a possibilidade de reavaliar seus processos estratégicos internos, na medida em que a decisão compartilhada permite a escuta das diferentes posições e entendimentos, ocupando um papel distinto da liderança e tutela, normalmente ocupada.

JACOBI (2003) argumenta que o “entendimento sobre os problemas ambientais se dá por uma visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construído, que é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse”.

Baseado nos desafios da gestão da sustentabilidade, apresentados na parte anterior do artigo, foi criado um quadro que fundamenta a contribuição da gestão social, sendo posteriormente, tratados individualmente:

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CONTRIBUIÇÃO DA GESTÃO SOCIAL PARA A GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE TABELA REPRESENTATIVA DESAFIO

GESTÃO SOCIAL

Gestão Compartilhada

i.

SUPERAÇÃO

Autoridade

decisória

compartilhada ii.

GESTÃO CENTRALIZADA

Cidadania

Deliberativa

Participativa Transparência

i.

Perspectiva da solidariedade

RACIONALIDADE

ii.

Ação comunicativa

ESTRATÉGICA COMPETIVIVIDADE

Diálogo

i.

Todos os atores têm direito à

GESTÃO

fala, sem nenhum tipo de

HIERÁRQUICA

coação

Co-responsabilidade

ii.

Concepção Dialógica

iii.

Todos os atores têm poder

i.

Interação

para

TUTELA

compreensão do outro

SOBERANIA

ii.

Intersubjetividade relacional

TECNICA

iii.

Compreensão dos sentidos e

E

significados, para além dos próprios FONTE: CONSTRUÇÃO PRÓPRIA

1. A gestão compartilhada Segundo

JACOBI

(2003),

ao

falar

sobre

a

importância

da

educação

da

sustentabilidade expôs o complexo processo de construção de cidadania no Brasil. Segundo ele, o país está num contexto em que as desigualdades são agudas e as questões sociambientais implicam na superação na forma de dominação e cultura pautada na tutela. Isso desafia a construção de sujeitos e organizações cidadãs, portadores de deveres e direitos, capazes de uma organização cidadã, capaz de agir nos novos espaços disponíveis para discussão de objetivos comuns. Logo, compartilhar gestão advém de um ato pautado na cidadania como valor, já que a organização deve assumir que há outros envolvidos que igualmente detêm direitos que devem ser respeitados.

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A gestão social propõe para a gestão da sustentabilidade que as relações estabelecidas com os stakeholders sejam pautadas na compreensão de que os atores envolvidos são detentores de direitos e também poder, logo há necessidade da empresa tutelar as relações ou negligenciar as relações pelo não reconhecimento da importância da participação dos outros atores na tomada de decisões, até mesmo pela soberania do entendimento empresarial. Segundo TENÓRIO (2007) a gestão social se contrapõe ao modelo de tutela e soberania, existente onde “as relações entre os participantes..., de forma geral, é muito afetada pelo grau de escolaridade entre os membros, onde os que detêm maior conhecimento acabam estabelecendo uma relação de poder sobre os demais.” A gestão social pressupõe a convergência entre os saberes, a aceitação de que o stakeholder detém um saber que, apesar de diferente do empresarial, tem uma contribuição para também orientar as decisões. Logo, o que a gestão social traz para a gestão compartilhada necessária na gestão da sustentabilidade é a aceitação da participação e relação coletiva, onde o grupo de interesse deve ser visto como elemento fundamental para o amadurecimento da empresa e dos envolvidos, de forma que com a reflexão conjunta empresa e stakeholders, podem tomar decisões mais benéficas para a sociedade. A relação coletiva tem como fundamento a diluição do poder e a participação o fazer com os grupos de interesse e não para os grupos de interesse. A sustentabilidade é um valor da sociedade moderna que ainda está em processo de amadurecimento e aderência nos atores sociais. A aceitação por parte das empresas de que a participação de diferentes camadas sociais, grupos sociais em suas decisões, quando administradas constrói conhecimentos para a organização e para os grupos, pois os processos de gestão compartilhada, quando orientados pela perspectiva da gestão social permite que os envolvidos construam e gerenciem o processo em conjunto. Um exemplo concreto da diferença da participação proposta

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pela gestão social é o envolvimento das empresas nos conselhos e comissões municipais. Tradicionalmente, as ações sociais e de sustentabilidade nesse campo têm se concentrado no apoio financeiro às ações e projetos empreendidos pelos conselhos,

entretanto

raramente

se



uma

empresa

com

assento

e

representatividade nesses conselhos. A gestão compartilhada com base na gestão social pede que a empresa assuma seu papel cidadão, abrindo espaço de participação para os atores e ocupando os espaços existentes, de forma que ela se posicione como mais um ator local. Essa postura é muito diferente da visão das empresas de que é o poder central de uma determinada região.

2. Transparência

O desafio da Transparência pode ser reorientado a partir da visão da gestão social de que a solidariedade é um princípio necessário para a gestão de problemas comuns. Ao contrário do lucro, predominantemente inspirador da gestão empresarial, na gestão social as decisões devem se primar pela inclusão do outro e na comunicação transparente de informações e saberes que todos os envolvidos têm. Segundo TENÓRIO (2007), a gestão social prima pela “concordância, onde o outro deve ser incluído”. A inclusão se dá no momento em que o sujeito empresa aceita que deve expor suas potencialidades e vulnerabilidades organizacionais, de maneira que possa crescer institucionalmente com essa atitude. A relação entre empresas e sociedade se dá pela interação comunicacional. A interação comunicativa, ou agir comunicativo, é “... uma interação no qual as pessoas envolvidas se põem de acordo para coordenar seus planos de ação, o acordo alcançado em cada caso, medindo-se pelo reconhecimento intersubjetivo das pretensões de validez”. HABERMAS (2003). O autor ainda afirma que o agir comunicativo e a interação comunicativa

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constituem-se como espaços de

aprendizagem e de construção de valores éticos e morais, e isso se dá por meio da validação contínua desses valores por parte dos atores envolvidos nesse processo. A transparência com todos os grupos de interesse envolvidos na gestão da sustentabilidade resultaria na construção de relações pautadas na confiança mútua entre os atores envolvidos. Se agir e comunicar-se com transparente eleva, pode elevar a confiança das relações, logo pode diminuir os conflitos existentes entre empresa e sociedade.

3. Co-responsabilidade A gestão social se contrapõe a perspectiva da racionalização limitada e da visão positivista do mundo. A racionalidade limitada é uma maneira de enxergar o mundo (sob um olhar a partir do sujeito ou da organização) segundo uma relação direta de causa e efeito, extraindo facetas de uma mesma realidade, que muitas vezes não é percebida. Segundo GIANELLA (apud CANCADO, SCHOMMER, RIGO e SILVA JR, 2008) “nossa

visão da realidade e as formas de conhecê-la, dependem de nossas interações com ela... cada indivíduo constrói, ao longo da vida e graças à sua educação e suas vivências, as suas próprias estratégias de interpretação, conhecimento, avaliação e decisão, orientando-o para a ação”. Desta forma, pode-se dizer que uma empresa terá sua capacidade de compreensão de co-responsabilidade na medida em que puder compreender os sentidos e necessidades dos outros grupos sociais e essa capacidade se dá por meio da interação comunicativa com eles. Cabe ressaltar, que a gestão social tem como pressuposto o diálogo, tema que será posteriormente tratado com mais profundidade, que tem como fundamento ir para além da capacidade de

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expressão de opiniões e posicionamento, diálogo está associado à capacidade de escuta. Para GIANELA a capacidade de diálogo e interação com outros atores “tiram o racional do domínio exclusivo do calculo, abstrato e neutral, para colocá-lo no campo da comunicação intersubjetiva, da escuta do outro e da necessidade de entendê-lo”. Tenório (2007) usando argumentos de HABERMAS (1998) associa a ação comunicativa presente no conceito da gestão social, como um processo pelo qual onde razão, a persuasão e o poder são discutidos com base numa atitude de cooperação social, de forma que os interlocutores presentes tenham abertura de persuadir e de ser persuadido. A capacidade de se sentir co-responsável pelo outro baseia-se no entendimento de que a ação de um a ação de qualquer um dos grupos sociais estão num espaço comum, onde a ação de cada um deles poderá gerar conseqüências sobre os outros. Assim, a gestão social propõe para a gestão da sustentabilidade o princípio de que a interação com os outros públicos, quando há escuta, permite à empresa a construção de uma dinâmica de compreensão de seus efeitos sobre eles, aumentando, portanto a co-responsabilidade como um valor organizacional.

4. Diálogo Se observarmos as ações empreendidas pelas empresas no estabelecimento de diálogos, poderemos ver uma situação muito diferente do que propõe a perspectiva de construção de relações pautadas pelo diálogo. Em especial nos grupos Comunidade, Sociedade Civil e Funcionários, as relações estão mais no campo normativo e tutelar. Se há necessidade de dialogar com a sociedade civil e com a

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comunidade a resposta mais imediata não pode ser pautada no apoio financeiro ou mesmo no estabelecimento de regras de conduta e comportamento. Para TENÓRIO (2007) a gestão social se inspira em HABERMAS (1998) para fundamentar o diálogo como fundamento da cidadania deliberativa. Pra explicar melhor, simulemos uma situação em que três setores tenham em comum a formulação de uma política social ou ambiental que afetará uma determinada comunidade. Nessa situação, orientada pela gestão social, pressuporá o diálogo entre ambos os setores orientados para o que é melhor para essa comunidade. Percebe-se que o diálogo orientará uma interação comunicativa com vistas a gerar um consenso. Estamos aqui falando de dois valores, a solidariedade e a negociação, que orientam o diálogo. A gestão social com base na prevalência da cidadania tem o diálogo como fundamento, pois é o diálogo que permite a interação comunicacional entre os grupos sociais e permitem a deliberação cooperativa.

Segundo JACOBI (2003) “a

complexidade dos temas ambientais tratados na atualidade mobiliza diversos atores sociais que precisam de um processo apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber”. Para TENÓRIO (2007) a teoria do diálogo para a gestão social contempla a criação de um agir comunicativo que favorece o entendimento, que estimula a participação, esclarece e que forma as opiniões geradoras das deliberações de temas comuns.

Usando Habermas como fundamento da teorização do diálogo para a gestão social TENÓRIO (2007) argumento que o diálogo deve: a) oportunidade de expor e propor compromissos; b) promover o autoentendimento; c) propor ajustes; d) argumentação; e) constituir-se como uma força integradora; f) um espaço rico de conflitos e gerador de significados e sentidos; g) gerador de consenso; h) dilui o poder e por fim, i) um espaço onde todos têm direito a fala. Dessa forma, o diálogo proposto pela gestão social é a pedra angular do modelo atual de articulação, opondo-se à unilateralidade

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que por muito tempo foi prerrogativa do diálogo empresarial. A empresa atual constitui-se como uma teia de relações onde suas ações são conectadas diretamente a de seus grupos de interesse, de forma que o diálogo horizontal desprovido de uma visão

hierarquizada

da

relação

pode

gerar

mais

transformação

social,

se

considerarmos o contexto geográfico e social, e organizacional, se considerar que o diálogo pode gerar aprendizagens tanto para os sujeitos da interação como para a própria empresa.

Considerações finais Por fim, cabe dizer que a correlação estabelecida entre os desafios da gestão da sustentabilidade com a essência conceitual da gestão social se pauta essencialmente no fato de que a empresa, ao gerenciar suas relações com os grupos de interesse em muitos momentos está inserida na esfera pública, porém atuar nesse campo não é parte da sua essência organizacional, fazendo-se necessário que ela deixe de lado os modelos empresariais existentes. A gestão social é uma orientação para uma atuação na esfera pública 2 na medida em que se pauta na interferência da empresa para além dos seus muros, gerando impactos em pessoas, territórios, instituições, comunidades. Essa gestão da esfera pública não pode se pautar nos modelos tradicionais da gestão empresarial. A gestão social traz uma nova perspectiva para os valores gerenciais existentes nas empresas, convertendo-se numa nova visão das relações estabelecidas com seus stakeholders.

2

Esfera pública é o espaço ou dimensao onde os assuntos públicos são discutidos por múltiplos atores sociais (público e privado). É na esfera público onde são construídos os entendimentos, os consensos e onde gera uma opinião pública capaz de pressionar as instituições governamentais no sentido de pressioná-los segundo seus desejos. Para Habermas é na esfera pública é uma dimensão intermediária onde ocorrem as mediação entre o sistema político e os setores privados. (Habermas, Teoria da Ação Comunicativa)

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A gestão social contribui para a gestão da sustentabilidade quando traz para essa gestão uma consciência sobre suas influências para além dos muros de uma organização ou de criação de mecanismos de gestão de impactos. A gestão social rompe com o paradigma da concentração das soluções para problemas sociais, ambientais e econômicos orientarem as ações da empresa. Na gestão social, a empresa coloca a questão em pauta e, como mais um ator, discute as soluções na esfera pública, considerando, portanto que esse espaço é público, onde todos devem estar envolvidos e protagonizarem conjuntamente a melhor solução. Conforme ilustração abaixo, a gestão social transforma as orientações e diretrizes das relações empresariais com foco na sustentabilidade:

ESFERA PÚBLICA

EMPRESA

GRUPOS DE INTERESSE

GRUPOS DE INTERESSE

QUESTÃO COMPARTILHA DA

ESFERA PÚBLICA

ORIENTAÇÃO DA GESTÃO SOCIAL EMPRESA

QUESTÃO COMPARTIL HADA

Acredita-se que essa gestão possa ocasionar a mudança da postura empresarial, que tradicionalmente esteve centrada numa relação hierárquica e na dificuldade de compreensão dos interesses de outros atores sociais, para além dos seus próprios. Por fim, pode-se dizer que apesar dessas interações serem um campo de aprendizagem organizacional, ao optar pela gestão da sustentabilidade orientada pelos modelos tradicionais, despreza a oportunidade de ser simultaneamente um agente e um promotor de aprendizagem, de ser um ator social participativo que contribui para a superação das problemáticas sociais e ambientais existentes onde ela exerce influência.

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