A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA E ATIVIDADES TURÍSTICAS NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO LICENCIATURA EM TURISMO

A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA E ATIVIDADES TURÍSTICAS NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

POR TAMARA DA SILVA HENRIQUE

Orientador: Prof Me. João Carlos Bernardo Machado

Rio de Janeiro 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO LICENCIATURA EM TURISMO

A CONTRIBUIÇÃO DA PRÁTICA E ATIVIDADES TURÍSTICAS NA QUALIDADE DE VIDA DOS IDOSOS

POR TAMARA DA SILVA HENRIQUE

Trabalho de Conclusão de Curso como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciada em Turismo sob a orientação do

Prof

Me.

Machado.

Rio de Janeiro 2014

João

Carlos

Bernardo

BANCA EXAMINADORA

Avaliador 1- Orientador: Professor João Carlos Bernardo Machado

Avaliador 2- Professor Ricardo Dias da Costa

Avaliador 3

AGRADECIMENTOS Agradeço a todas as pessoas que estiveram comigo durante esta jornada e me ajudaram de alguma forma. Agradeço a Deus por ter me guiado durante todo este curso. Ao meu orientador, professor João Carlos Bernardo Machado pela ajuda e compreensão na elaboração deste trabalho. A minha família, em especial minha mãe Rita que sempre me incentivou a estudar, à minha avó Romilda que serviu como fonte de inspiração para a realização deste trabalho, ao meu primo Leandro que me ajudou enquanto ainda estava escrevendo o pré- projeto e não sabia sobre qual tema iria escrever, ao meu namorado Diego que me ajudou no decorrer deste curso e à minha prima Dayanna que também contribuiu para a conclusão deste trabalho. Agradeço à vocês pela paciência e carinho dispensados durante todo este tempo. Aos colegas de turma pela amizade que cultivamos apesar da distância, sem dúvida vocês foram fundamentais para a conclusão deste curso.

RESUMO É notório o aumento da expectativa de vida no Brasil. No Brasil, dados do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que hoje, ao nascer a expectativa de vida do brasileiro é em média de 74,6 anos, o que significa que a população de idosos, hoje conhecida como terceira idade, ou melhor idade está crescendo e por isso um novo mercado vem surgindo buscando especializar-se no atendimento à essas pessoas, que antes eram vistas como uma parte pequena da sociedade e que não conhecia os seus direitos. O turismo é uma atividade que está se consolidando mundialmente e dentre seus segmentos existem atividades que também podem ser voltadas para o público da terceira idade, inclusive programas foram criados direcionados à essas pessoas. Tendo em vista que eles estão em busca de uma melhor qualidade de vida e bem estar e que a prática do turismo pode proporcionar diversos ganhos obtidos através do lazer e da inclusão social, esse trabalho buscou identificar as preferências e o perfil das pessoas da terceira idade que consideram o turismo e o lazer como uma forma de promoção de qualidade de vida e reintegração social.

Palavras chave: Turismo, terceira idade, qualidade de vida, inclusão.

ABSTRACT The increase in life expectancy in Brazil is noticeable. According to data from the IBGE - Brazilian Institute of Geography and Statistics, today, in Brazil, the life expectancy of the Brazilians at birth is, in average, 74.6 years old. This means that the elderly population, now known as the third age (or best age) is growing, and therefore, a new market has emerged, seeking specialization in the care of this age group, who was once seen as a small part of society and did not know their rights. Tourism is an activity that is consolidating globally, and among its segments there are activities that can also target seniors; actually, programs were created specifically for this age group. Taking into consideration that they are looking for a better quality of life and well being, and that the practice of tourism can provide many benefits obtained from leisure and social inclusion, this study sought to identify the preferences and profile of the elderly who consider tourism and leisure as a way of promoting quality of life and social reintegration.

Keywords: Tourism, elderly, quality of life, inclusion.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Direito dos idosos........................................................................................22 Figura 2- Algumas precauções durante viagens de idosos.......................................29 Figura 3- Idosos durante passeio realizado pelo SESC............................................33 Figura 4-Entrevista com idosos na Praça do Pacificador- Duque de Caxias.............37

LISTA DE TABELAS Tabela 1- Evolução do Turismo Mundial- 1990/ 2004.........................................13 Tabela 2- Atividades realizadas diariamente.......................................................23 Tabela 3- Motivação para viagens nas classes AB e CD...................................31 Tabela 4-Estado Civil dos Entrevistados............................................................34 Tabela 5- Renda dos Entrevistados....................................................................34

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................10 2 TURISMO E LAZER: CONCEITOS E DEFINIÇÕES ............................................13 2.1 O PROCESSO TURÍSTICO NO BRASIL.............................................................15 2.2 ATIVIDADES DE LAZER......................................................................................16 3 TERCEIRA IDADE..................................................................................................18 3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A TERCEIRA IDADE NO BRASIL......................20 3.2 OUTRAS ATIVIDADES REALIZADAS PELA TERCEIRA IDADE.......................22 4 LAZER E TURISMO NA TERCEIRA IDADE..........................................................25 4.1 PROGRAMA VIAJA MAIS MELHOR IDADE.......................................................27 4.2 DESTINOS NACIONAIS PREFERIDOS PELA TERCEIRA IDADE.....................30 4.3 TURISMO SOCIAL...............................................................................................31 4.4 APRESENTAÇÃO DOS DADOS COLETADOS NAS ENTREVISTAS................33 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................38 REFERÊNCIAS..........................................................................................................40 APÊNDICE.................................................................................................................43

1

INTRODUÇÃO Índices demográficos têm demonstrado o aumento da esperança de vida do

brasileiro. Percebe-se que essa longevidade foi alcançada através das melhorias de condições de vida, dos avanços tecnológicos e na área de saúde, adquiridos nas últimas décadas. As mudanças sociais percebidas durante esse período indicam não só uma maior expectativa de vida, bem como uma melhor qualidade de vida. Essa é uma condição que vem sendo anunciada há algum tempo considerando que, atualmente, já existe um mercado voltado para o público da terceira idade, ou melhor idade. Esta é amaneira com a qual a população idosa é conhecida no país, devido a esta ser a fase da vida do indivíduo em que mais se dispõe de tempo para dedicar-se as atividades de livre escolha sem maiores obrigações. Por outro lado, o turismo tem se revelado como um fenômeno social global, também em expansão.

Sabemos que experiência é vivência e também história. Essa experiência é fenômeno, então é correto dizer que o turismo é um fenômeno. A pergunta que se faz é: Que tipo de fenômeno é o turismo? [...] Então podemos dizer que o turismo é um fenômeno de experiências vividas de maneiras e desejos diferentes por parte dos seres envolvidos, tanto pelos ditos turistas quanto pelos empreendedores do setor. (Panosso Neto, 2005, p.30).

Considera-se que existe ainda muito pouca produção acadêmica no turismo, e as existentes são fragmentadas, oriundas de diversas áreas do conhecimento, fato até compreendido pela interdisciplinaridade inerente ao turismo. (Moesch, 2002)

Dados estatísticos apontam perspectivas favoráveis quanto a prática do turismo, já que nos últimos anos houve um aumento no número de viagens realizadas. Isto se deve ao fato de que o turismo está mais acessível para classes e grupos sociais que até algum tempo atrás eram excluídas, como por exemplo, a terceira idade. A figura do idoso existente há alguns anos, representava um indivíduo à margem da sociedade já que não apresentava uma condição financeira como antes. Conforme apresentam alguns autores quanto ao tratamento dado aos idosos, os filhos destes, por serem mais jovens,na maioria das vezes ocupados com outras atividades “abandonavam” seu parente nesse momento de mais necessidade de 10

assistência, o que muitas vezes levava esse idoso ao isolamento, à depressão, e até mesmo à morte, ou seja, o indivíduo uma vez que entrava nessa fase da vida, não dispunha mais de oportunidades para realizar atividades que o agradasse, ou mesmo proporcionasse um simples convívio social.

No entanto, o que se pode perceber é que existe angústia e nostalgia por parte do idoso e provavelmente suas causas não estão ligadas somente ao comprometimento biológico, mas também aos maustratos, à falta de respeito, à postura preconceituosa dos demais que tendem a arremessá-lo à margem da sociedade, que passou a ver o idoso como um estorvo fazendo com que se sinta um quase “fora da lei” (Costa 1998, p. 19;Durigan & Queiroz, 2005 apud Freitas, Silvane) .

Felizmente, o cenário descrito acima está se transformando e diversas leis foram criadas visando proteger e assegurar os direitos dos idosos. Percebe-se, por conta dessa transformação, que alguns outros segmentos estão criando maneiras de atender as necessidades dessa população. Entretanto, ainda há um longo caminho a ser percorrido. Diante de tais fatos surge como uma opção de lazer, um turismo diferenciado, voltado para este público, adequando-se aos desejos e prioridades dos idosos, atentando sempre para o fato de que as pessoas dessa faixa etária têm pressa, uma vez que já viveram por muitos anos e possuem incertezas dessa condição de futuro. Diante do exposto, minha pesquisa discutirá a prática do turismo como possível promovedor de qualidade de vida e bem estar para este público, sendo isto possível através de atividades de lazer, abordando alguns segmentos do turismo, programas, projetos e iniciativas voltadas para o convívio e a interação social deste grupo, para isto, será observado o comportamento dos idosos mediante a prática destas atividades e os destinos turísticos mais procurados por pessoas da terceira idade. Tendo em vista os objetivos propostos para este trabalho, será realizada uma pesquisa descritiva visando apresentar características observadas em pessoas da terceira idade a partir da prática de Turismo, considerando o paradigma qualitativo, no qual serão utilizados como procedimentos uma pesquisa teórico-empírica, com bibliografias que tratam do tema proposto, buscando associá-los ao tema. Também será aplicado um questionário, no qual vinte idosos responderão sobre seus 11

comportamentos diante dessa prática, bem como os possíveis benefícios adquiridos com as atividades de lazer e turismo.

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2

TURISMO E LAZER: CONCEITOS E DEFINIÇÕES O turismo é um fenômeno que vem se expandindo ao longo dos anos. De

acordo com Ignarra (2003): “A Organização Mundial do Turismo (OMT), apresenta estatísticas que colocam esse setor entre aqueles com maiores taxas de crescimento nas últimas décadas”. O termo turismo e sua definição são alvos de diversas contradições por parte de estudiosos dessa área. O conceito de turismo estabelecido pela Organização Mundial de Turismo – OMT, 2001, adotado oficialmente pelo Brasil, compreende “as atividades que as pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras”. A tabela 1 representa a evolução do turismo no mundo, entre 1990 e 2004.

Tabela 1- Evolução do Turismo Mundial- 1990/ 2004 Fonte: BNDES Setorial- 2005

A partir da segunda metade do século XX, o turismo se desenvolveu e diversos fatores possibilitaram o seu acesso por mais pessoas, dentre eles: o término da II Guerra Mundial, o aumento de renda per capita, o direito às férias remuneradas e o desenvolvimento dos meios de transporte. Outro fator que contribuiu para o aumento do turismo internacional foi o crescimento das relações comerciais entre os diferentes mercados mundiais, que trouxe consigo o aumento dos deslocamentos, não mais provocados somente por motivos de lazer, mas, também, por 13

motivos profissionais, de negócios, estudos e pesquisas.( Tadini, Rodrigo Fonseca; 2010)

Considerando o turismo como um fenômeno sociocultural, deve ser observado que as atividades realizadas a partir do deslocamento do indivíduo, que neste caso é o turista, proporcionam interação com diferentes culturas e sociedades, realizando dessa forma, um importante papel no processo de socialização entre essas pessoas, em alguns casos, sendo esta a própria motivação para a realização da viagem. Ainda é importante ressaltar, que o fator comunicação entre visitantes e população local pode ter uma ligação direta com a decisão do turista em voltar ou não ao destino visitado e ainda no momento de avaliar a qualidade de sua experiência. Apesar de viagens de negócios também serem consideradas como uma forma de turismo sabe-se que quando se trata dessa atividade, logo se remetem conceitos relacionados ao lazer, que teve sua origem na Grécia, e sua expansão possibilitada a partir de diversos fatores,tendo dentre os principais a conquista do tempo livre. O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertirse, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 1976, p. 34)

Para Camargo, o lazer está relacionado com as aquisições sociais obtidas a partir das conquistas políticas da classe operária que possibilitaram a redução das horas de trabalho, e por consequência, aumentaram o tempo livre. Segundo ele, o lazer seria definido como: Um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstico e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos. (CAMARGO, 1989)

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O lazer, assim como o turismo, quando bem aplicado, tornam-se instrumentos promovedores de bem estar e integração social, pois permitem possibilidades de desenvolvimento de habilidades criativas físicas e mentais. 2.1

O PROCESSO TURÍSTICO NO BRASIL O Brasil possui atributos que favorecem a prática da atividade turística,

fatores como ecossistemas naturais, clima tropical e patrimônios culturais, além de uma diversidade de pontos turísticos são alguns dos fatores que contribuem para o aumento da demanda turística. Considera-se que durante o século XX, após o período entre guerras e a partir do processo de acumulação de capital, bem como do surgimento das novas tecnologias tenha iniciado o processo de organização dessa atividade por parte de algumas companhias. Muitos fatores possibilitaram o advento do turismo, dentre eles merece destaque a evolução dos meios de transporte, já que para que ocorra a prática do turismo, faz-se necessário o deslocamento da pessoa até a localidade turística para a realização da atividade. Outro fator importante foi a implantação da hotelaria no Brasil, que desde então possibilitou que o turismo se transformasse em uma atividade econômica, social e cultural. Nos anos de 1980, grandes crises econômicas afetaram diversos países ao redor do mundo, como a crise do petróleo, que provocou várias oscilações no valor do mesmo. No Brasil, algumas tentativas de reformas monetárias ocorreram, como a implantação do Plano Cruzado e dos Planos Bresser e Verão, porém estas tentativas não foram bem sucedidas e neste período houve uma redução dos fluxos turísticos e uma consequente estagnação desse setor. Por outro lado, deu-se o início do reconhecimento profissional dessa atividade, a qual passou a ser vista como fator de desenvolvimento do país e gerador de emprego e renda. Já na década seguinte, com o surgimento da era da globalização, o turismo interno se consolidou a partir das melhorias de infraestrutura dos aeroportos e dos meios de hospedagem, além disso, programas e projetos governamentais foram criados com o objetivo de identificar localidades brasileiras com potencial turístico, como o Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), criado em 1994, que visava descentralizar o desenvolvimento do turismo. 15

Um exame da curta história do Turismo moderno comprova ser ele um fenômeno social que nasceu e cresceu espontaneamente impulsionado pela atividade privada, que encontrou na prestação de serviços uma forma lucrativa de ampliar seu campo de operação. Depois chegaram os governos e criaram departamentos, diretorias, institutos, secretarias e até ministérios, para assumir as funções de fiscalizar e impulsionar o crescimento do setor e orientá-lo com o fim de aumentar seu efeito positivo para a economia e a sociedade em seu conjunto.( Boullón; Roberto. 2004).

Atualmente, o Brasil conta com diversas políticas voltadas para o turismo e pode-se afirmar que essa atividade está em constante evolução, seguindo o desenvolvimento tecnológico e tendências econômicas, culturais e sociais. Desta forma, essa atividade já possui expressiva participação no PIB brasileiro, conforme demonstra o gráfico 1.

Gráfico 1: Participação do Turismo no PIB do Brasil Fonte: Site Congresso em Foco

2.2

ATIVIDADES DE LAZER Ao lazer se atribui um caráter liberatório quando o mesmo for resultante de

livre escolha. Porém há casos em que o lazer se torna obrigatório, seja no âmbito escolar, profissional, familiar ou religioso, nesses casos muda-se a natureza, do 16

ponto de vista sociológico, ainda que tais atividades proporcionem ao indivíduo o mesmo contentamento. O conjunto de atividades culturais do lazer pode ser classificadas em cinco grandes categorias, estabelecidas a partir dos critérios das necessidades do corpo e do espírito dos interessados que, segundo Dumazedier (1973),seriam: físicas, práticas, artísticas, intelectuais e sociais. Embora os idosos possam ser mais lentos e menos precisos em algumas habilidades, sua experiência de vida pode compensar outras habilidades. Stuart- Hamilton (2002) salienta a relevância da prática de exercitar habilidades tanto físicas como mentais como uma forma de preservação dessas habilidades, como também de renovação de habilidades supostamente perdidas ou em declínio. (Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, p.40,2004)

No caso das pessoas que já se encontram na terceira idade, o lazer de caráter coletivo pode proporcionar benefícios como: diminuição da tendência à depressão, ajuda o indivíduo a manter-se ativo fisicamente e intelectualmente, melhorando a memória, além de benefícios relacionados à parte física: maior flexibilidade e equilíbrio corporal. O lazer possui diversas definições, dentre as quais Gaelzer (1979) apud Menoia (2000) o define " ( ... ) como a harmonia entre a atitude, o desenvolvimento integral e a disponibilidade de mesmo. É um estado mental ativo associado a uma situação de liberdade, de habilidade e de prazer" (p.54). Já Requixa (1980) apud Menoia (2000) o caracteriza " ( ... ) sendo uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social" (p.35).

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3

TERCEIRA IDADE No Brasil, há dados que indicam um aumento do envelhecimento da

população previsto para as próximas primeiras décadas e, considerando tal fenômeno existencial, pode-se prever que em diversas áreas haverá necessidade de especialização. A noção de velhice como etapa diferenciada da vida surgiu na transição entre os séculos XIX e XX, e desde então uma série de mudanças foram ocorrendo, gerando condições de assistência quando do surgimento da velhice. “Dois fatores se destacam como fundamentais e determinantes: a formação de novos saberes médicos que investiam sobre o corpo envelhecido e a institucionalização das aposentadorias”. (SILVA, LRF, 2008, p. 158) O comportamento crescente da expectativa de vida entre as idades zero e um em 2011 e 2012 é reflexo do nível ainda relativamente alto da mortalidade no primeiro ano de vida, apesar dos declínios observados nos últimos anos. Em 2012, a esperança de vida ao nascer foi de 74,6 anos. Se essa criança passasse pelos riscos de morte no primeiro ano de vida, e atingisse o primeiro ano de vida, sua expectativa de vida seria de 74,8 anos, vivendo em média 75,8 anos. A partir de um ano de vida, a tendência da série volta a ser decrescente, isto é, conforme aumenta a idade, diminui a expectativa de vida. (IBGE, 2013)

Gráfico 2: Expectativa de vida Fonte: Site do IBGE-2013

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Gráfico 3: Esperança de vida 1991 e 2000 Fonte: Site do IBGE

Os gráfico 2 apresenta a expectativa de vida dos brasileiros segundo os últimos dados divulgados pelo IBGE entre os anos de 2011 e 2012. Já o gráfico 3 apresenta a mesma comparação, porém em um período maio,entre os anos de 1991 e 2000. Sabe-se que a velhice é uma categoria da vida, que deve ser considerada como uma condição natural, relacionada ao ciclo biológico do ser humano, que envolve nascimento, crescimento e morte. Ao contrário do que se pensava a velhice não proporciona somente perdas, mas sim novas oportunidades e possibilidades na obtenção de qualidade de vida através da mudança de hábitos, já que a maioria dos idosos, atualmente, não necessita trabalhar da mesma maneira como antes. A partir do momento em que o envelhecimento começa a ser considerado como um problema social, diversas questões passam a ser revistas, uma vez que 19

até então, a este processo remetia-se a ideia de recolhimento, aposentadoria e descanso, e a partir daí faz-se necessária uma reconstrução dos valores adquiridos até então e a criação de um novo vocabulário, oposto ao antigo, em se tratando do tratamento dado aos idosos, como explica Myriam Moraes Lins de Barros no Livro Velhice ou Terceira Idade: Os signos do envelhecimento foram invertidos e assumiram novas designações: “nova juventude”, “idade do lazer”. Da mesma forma, inverteram-se os signos da aposentadoria, que deixou de ser um momento de descanso e recolhimento para tornar-se um período de atividade, lazer, realização pessoal. Não se trata mais apenas de resolver os problemas econômicos dos idosos, mas de proporcionar cuidados culturais e psicológicos, de forma a integrar socialmente uma população tida como marginalizada. (Barros, Myriam M.Lins, 2000, p.63)

A respeito da forma de tratamento dos idosos como terceira idade, A terceira idade é uma forma de tratamento comum para se referir a idosos que surgiu na França nos anos 70, quando se implantaram as “Universités Du Troisiéme Âge”. Tal convenção se tornou mundialmente aceita e adotada, mudando assim o termo velhice, definição bastante desgastada e carregada de idéias depreciativas. (Fromer ; Vieira, 2003 apud Guedes; Bruna, 2009)

Esta mudança gerou uma transformação no modo como essas pessoas eram vistas e com relação às oportunidades e dificuldades encontradas nesta etapa da vida. O surgimento da categoria 'terceira idade' é considerado, pela literatura especializada, uma das maiores transformações por que passou a história da velhice. De fato, a modificação da sensibilidade investida sobre a velhice acabou gerando uma profunda inversão dos valores a ela atribuídos: antes entendida como decadência física e invalidez, momento de descanso e quietude no qual imperavam a solidão e o isolamento afetivo, passa a significar o momento do lazer, propício à realização pessoal que ficou incompleta na juventude, à criação de novos hábitos, hobbies e habilidades e ao cultivo de laços afetivos e amorosos alternativos à família.( Silva; Luna R Freitas, 2006)

3.1

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A TERCEIRA IDADE NO BRASIL A sociedade atual é marcada pelas diferenças, imposição de novos valores e

ideais e pela luta nesse sentido busca da garantia de seus direitos, nesse sentido as 20

políticas públicas surgem como planos e ações traçados pelo governo com o intuito de assegurar os direitos dos cidadãos, a partir da constituição ou através da criação de leis. A primeira iniciativa do governo federal na prestação de assistência ao idoso ocorreu em 1974 e consistiu em ações preventivas realizadas em centros sociais do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e da sociedade civil, bem como de internação custodial dos aposentados e pensionistas do INPS a partir dos 60 anos [...] Em 1985 foi criada a Associação Nacional de Gerontologia (ANG), órgão técnico científico de âmbito nacional, voltado para investigação e prática científica em ações de atenção ao idoso. (Camarano; Ana Amélia, p.264-266)

Além disso, a lei 8.842/ 94 refere-se à política nacional do idoso, que tem por objetivo assegurar os direitos sociais ao idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. (art. 1º- Política Nacional do Idoso, Brasília, 1994). Em outubro de 2003,foi instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos(art.1ºEstatuto do Idoso, Brasília, 2003). Esta população tem sido apontada como um nicho importante para o mercado turístico, sendo inclusa em projetos específicos do Ministério do Turismo, por sua representatividade e crescimento populacional nos últimos anos. Em contrapartida, organizações que desenvolvem trabalhos com idosos indicam o turismo como importante aliado no equilíbrio físico e social desses indivíduos. (Passamai, 2009, p. 43)

O Estatuto do Idoso salienta a obrigação de um “desconto mínimo de 50% no ingresso de atividades culturais e de lazer, além de preferência no assento aos locais onde as mesmas estão sendo realizadas.”1 Para que ocorra a efetivação das políticas públicas para os idosos, é importante que as ações sejam integradas nos âmbitos: social, político, econômico, educacional e de saúde. 1

Fonte: Site do Sindicato dos Aposentados acesso em 04 de janeiro de 2014.

21

Figura: 1 - Direitos dos idosos Fonte: Site do Sindicato dos Aposentados

3.2

OUTRAS ATIVIDADES REALIZADAS PELA TERCEIRA IDADE Em diversas áreas acadêmicas é debatida a questão da importância da

realização de atividades diferentes por pessoas da terceira idade. Existem estudos que comprovam que pessoas que não realizam atividades com convívio social estão mais propensas a sofrerem de depressão e doenças degenerativas. Os programas existentes atualmente que utilizam o lazer como atividade de convívio entre idosos possuem alguns pontos em comum, já que tem dentre seus objetivos: incentivo à reintegração social, atualização cultural e preenchimento do tempo livre visando à valorização do indivíduo. Fromer (2003apud Passamai, 2009, p. 44) destaca que “o ser humano é capaz de aprender durante toda a sua vida e todos podem alterar seus hábitos”, assim sendo, os novos valores impostos pela sociedade atual incorporam-se também nas pessoas da terceira idade, permitindo mudanças de comportamento. Buscando entender como as pessoas da terceira idade tem usufruído o tempo livre, a autora Bacha realizou uma pesquisa entre as classes sociais A,B,C e D e constatou o que segue na tabela.

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Tabela 2- Atividades realizadas diariamente Fonte: Bacha; Maria de Lourdes.2009

Sabe-se que, devido a certas limitações encontradas, muitas pessoas acabam por ficar impossibilitadas quanto à realização de algumas atividades, que inclusive, conseguiam exercer com facilidade quando da juventude. A criação de Centros de Convivência para a terceira idade (previsto na Política Nacional de Assistência Social) que é um programa social financiado pelo governo federal possui unidades em todo o país, centralizando suas atividades nas áreas de lazer, recreação e desenvolvimento para pessoas dessa faixa etária.O SESC é uma instituição que, desde a década de 1960, realiza diversos trabalhos sociais visando a integração das pessoas da terceira idade, através de Grupos de Convivência.

23

As atividades previstas nesses programas são diversificadas; de uma forma geral, porém, estão aglutinadas num conjunto de práticas que envolvem as seguintes dimensões do lazer: • artístico ou cultural (folclore, teatro, oficinas, música, dança, coral, modelagem, pintura, artesanato, etc.); • educativos ou informativos: palestras, seminários, ciclos de debates, cursos, filmes, vídeos, dentre outros; • social: comemorações ou calendário festivo; • físicas: hidroginástica, ginástica, caminhada, alongamento, atividades esportivas, etc.; • viagens, excursões, passeios, turismo social. (SESC, 2003 apud Teixeira; Solange Maria). Além disso, atualmente existem as Universidades Abertas da Terceira Idade, que tem como pioneira a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UNATI- UERJ) que conta com o maior programa brasileiro de envelhecimento com cursos em diversas áreas de ensino.

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4

LAZER E TURISMO NA TERCEIRA IDADE O turismo é uma atividade que vem se consolidando entre as pessoas da

terceira idade, pois nessa etapa da vida a maioria das pessoas já está aposentada, com a vida financeira estável e possuem maior parte do tempo livre buscando melhorar a qualidade de vida através do lazer. “Parece estranho, mas talvez o grande desafio para o idoso seja o reconhecimento de si próprio como indivíduo socialmente importante, mesmo desprovido de seu papel de trabalhador” (Moragas, 1997apudPassamai, 2009). O mercado para idosos tem emergido como um dos mais importantes, por causa de seu poder de compra para vários tipos de produtos e serviços. Nesse contexto, a indústria do turismo e do lazer também tem buscado como target pessoas com 65 anos ou mais, porque muitas possuem uma parcela relativamente do dinheiro discricionário. (Peterson 2007, apud Bacha, 2009)

Para Sarah Bacal, as motivações que levam pessoas da terceira idade a viajarem, podem ser de duas espécies, de deficiência e de excesso, que ela assim define: Motivos de deficiência (sair de): fugir de problemas/ sair da rotina/ descansar/ sair da poluição, e motivos de excesso (ir para): diversão/ interesses culturais/fazer ou completar cursos/visitar feiras ou exposições/ conhecer novos lugares/ conhecer pessoas/buscar aventuras/conviver com a natureza. (1994:45)

Para determinar os diferentes segmentos de turismo que podem ser realizados por pessoas dessa faixa etária, deve-se analisar aspectos relacionados as características culturais, sociais, econômicas e regionais; além disso, também deve-se considerar o objetivo que o indivíduo busca atingir com a prática de turismo e lazer. Os encontros nos grupos são importantes aliados na manutenção da saúde física e psicológica dos idosos e a atividade turística, além de propiciar estes benefícios, ainda representa uma forma de inserção do idoso na sociedade globalizada. (Fromer, 2003apudPassamai, 2009, p.47).

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Para o Ministério do Turismo, a segmentação é entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gestão e mercado. Os segmentos turísticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e também das características e variáveis da demanda2. Segundo Moletta (2000), de modo geral, o público da terceira idade busca o contato com novas pessoas, novas culturas, participação em eventos de confraternização e a vivência de experiências diferenciadas, aliadas com o meio ambiente, ou ainda, ligadas à religiosidade. Sendo assim, diversos tipos de turismo podem ser praticados por pessoas da terceira idade, dentre os quais: a) Turismo Cultural: Proporciona experiências positivas em ambientes históricos e culturais, promovendo os bens materiais e imateriais da cultura. Pode ser realizado através de visitas em locais de valor histórico, artístico e científico, como museus, sítios arqueológicos, edificações, dentre outros espaços que contemplem determinadas características.

b) Turismo Religioso: Este tipo de turismo, na realidade, enquadra-se dentro da categoria do Turismo Cultural, sendo “decorrente da busca espiritual e da prática

religiosa

em

espaços

e

eventos

relacionados

institucionalizadas, independente da origem étnica ou do credo.”

às

religiões

3

Geralmente realizado por grupos, em sua maioria de idosos, para fins de peregrinações e romarias, festas e comemorações de caráter religioso ou ainda visitação à edificações religiosas, como igrejas, santuários e templos. c) Turismo de Saúde: Segundo o Ministério do Turismo, 2006, p.53 “constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos”. Dentre suas características, pode-se citar: promoção e manutenção da saúde e prevenção e cura de doenças, ou seja, baseia-se na oferta de tratamentos disponibilizados no que tange ao turismo de bem estar e turismo médico hospitalar, podendo ter como

2

BRASIL, Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos Conceituais. Brasília: Ministério do Turismo, 2006. 3

BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo Cultural.Brasília: Ministério do Turismo, 2006.

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finalidade a realização de intervenções cirúrgicas, tratamentos odontológicos, exames especializados e outros tipos de tratamentos e/ou terapias.

d) Ecoturismo: Atividade realizada, geralmente em ambientes naturais, de forma sustentável, visando promover o bem estar das populações. Dentre as pessoas da terceira idade pode ser realizada buscando através do contato com a natureza, a obtenção de uma melhor qualidade de vida e hábitos saudáveis. Alguns pontos decorrentes de viagens com grupos de terceira idade podem ser classificados da seguinte forma: - Pontos polêmicos: Turistas na terceira idade necessitam de viagens organizadas com acompanhamento; não possuem compromissos de trabalho; escolhem livremente os períodos de viagem; gostam de experimentar novas comidas e bebidas, não gostam de aglomerações com desconhecidos, dentre outras. - Pontos de concordância: Turistas na terceira idade necessitam de locais com boas condições físicas (ex. escada rolante), gostam de viajar com o acompanhamento da família.(Bacha,p.73, 2009) A atividade turística pode representar uma fuga do cotidiano estressante à busca por novos cenários. Quase sempre o ato de se deslocar pode unir motivações de aventura, sonhos, descobrimentos de lugares exóticos, afim de que a realização do ser humano seja baseada nas novas descobertas. (Cavalcanti, 2006 apud Bacha, 2009).

4.1 PROGRAMA VIAJA MAIS MELHOR IDADE

Entendendo a grande dimensão do turismo e sua influência na economia nacional, foi criado em 2003, durante o governo Lula, o Ministério do Turismo, e a partir de então algumas políticas e planos nacionais foram criados visando melhorias na gestão do turismo nacional, dentre os quais cita o programa Viaja Mais, Melhor Idade. O programa é uma iniciativa do Ministério do Turismo que tem como objetivo promover a inclusão social de pessoas a partir dos 60 anos de idade, através de um turismo organizado e facilitador, já que proporciona passeios que, devido às questões financeiras ou limitações causadas pela idade, não seria possível a 27

realização através dos pacotes tradicionais oferecidos por empresas do ramo turístico. Criado em 2007, o programa Viaja Mais Melhor Idade oferece viagens para destinos

turísticos 4

aposentados

nacionais

com

descontos

para

idosos,

pensionistas

e

principalmente durante os períodos de baixa temporada turística.

Desde sua criação, o programa já vendeu mais de 599 mil pacotes de viagens.“ Os idosos são cerca de 20 milhões no nosso país e representam uma parcela importante de viajantes para o país. Nosso desafio agora é fazer chegar a informação sobre descontos e vantagens exclusivas para eles” afirmou o ministro do Turismo, Gastão Vieira, 2013”. Como indica a ONU e a OMS, prosseguir em uma vida ativa proporciona um envelhecimento saudável e esse é um dos sentidos da criação dessa ação pública, mas a justificativa do projeto apresentada aos agentes de viagens não toma apenas o viés social. Ela afirma que explorar esse segmento será economicamente interessante já que o senso do IBGE indica que em 2020 os idosos serão 13% da população e que esse grupo tem grande potencial de fortalecer o mercado interno. (Guedes, Bruna dos R. M., 2009)

Para a efetivação desse programa é necessária à capacitação dos profissionais que lidam com as pessoas da terceira idade, tendo em vista que algumas delas irão possuir limitações e por isso devem obter um atendimento diferenciado, como rampas de acesso, realização de paradas durante longas caminhadas preferencialmente em locais que disponham de assentos, atenção àalimentação oferecida em locais turísticos já que muitos fazem uso de medicamentos controlados e algum alimento pode causar alterações, utilização de pisos antiderrapantes nos meios de hospedagem, além é claro de sempre respeitar as diferenças existentes quanto aos níveis de educação e compreensão; “trata-los com respeito, inclusive as limitações de cada um e não subestimar ninguém física, cultural ou intelectualmente” (Viaja Mais, 2007 apud Guedes, 2009).

4

Fonte: Site do Ministério do Turismo

28

Figura 2: Algumas precauções durante viagens de idosos. Fonte: Guedes, 2009 Além do programa Viaja Mais, Melhor Idade, existem outros projetos desenvolvidos por governos estaduais e municipais que visam disponibilizar o acesso das pessoas da terceira idade ao lazer e ao turismo. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a lei 6.559, de 16 de Outubro de 2013, instituiu a Política Estadual do Idoso, na qual determina as competências dos órgãos e entidades públicas em diversas áreas, incluindo Cultura, Esporte, Lazer e Turismo. Na

área

da

Cultura,

Esporte,

Lazer

e

Turismo:

a) garantir ao idoso a participação no processo de produção, reelaboração e fruição de bens culturais, mantendo as tradições regionais; b) propiciar ao idoso o acesso aos locais e eventos culturais, mediante preço reduzido; c) incentivar os movimentos de idosos no desenvolvimento de atividades culturais; d) valorizar o registro da memória e a transmissão de informações e habilidades do idoso aos mais jovens, como meio de garantir a continuidade e a identidade cultural; 29

e) incentivar e criar programas de lazer, esporte e atividades físicas que proporcionem a melhor qualidade de vida do idoso e estimulem sua autonomia física e sua participação na comunidade.( Lei 6.559/13, art.9º)

4.2

DESTINOS NACIONAIS PREFERIDOS PELA TERCEIRA IDADE Através das preferências quanto aos tipos de viagens executadas pelas

pessoas dessa faixa etária, existem algumas fontes que revelam os destinos mais procurados pelas pessoas da terceira idade. Na primeira edição do programa Viaja Mais Melhor Idade, 5 localidades se destacaram devido à alta procura, que foram: Natal (RN), Fortaleza (CE), Lins (SP), Caldas Novas (GO) e Serra Gaúcha (RS). 5 Além destas, outras cidades também podem ser citadas como destinos procurados por pessoas da terceira idade, dentre as quais: Porto Seguro (BA), Foz do Iguaçu (PR), Salvador (BA), Maceió (AL) e Santos (SP). Conforme apresenta Schein et. al. (2009) apud Esteves; Priscila (2010) O gerenciamento do turismo para o consumidor da terceira idade não será eficaz sem uma compreensão da forma pela qual esses consumidores tomam decisões e agem em relação ao consumo de produtos turísticos. Dessa forma entende-se que a escolha de um destino para a realização de uma viagem pode estar relacionada às emoções do indivíduo, podendo remeter-se a desejos antigos de viagens, compromissos sociais ou visitação a amigos e parentes ou ainda as conhecidas viagens rotineiras, que são as viagens realizadas frequentemente para o mesmo local.

5

Segundo dados divulgados no site do Ministério do Turismo, 2013.

30

Tabela 3- Motivação para viagens nas classes AB e CD Fonte: Bacha, 2009 4.3

TURISMO SOCIAL Buscando tornar o turismo uma atividade acessível ao maior número de

pessoas, surge, na segunda metade do século XX, o turismo social, denominação 31

esta que varia de um país para o outro, mas que ficou definido pelo BITS( Bureau Internacional de Turismo Social) como “o conjunto de atividades e fenômenos resultantes da participação no turismo das camadas sociais de menor renda, participação que é possível através das medidas de apoio de caráter social”. O turismo social se baseia em princípios relacionados à acessibilidade, objetivando promover um turismo para todos, e à solidariedade, visando um turismo sustentável. Estas duas características concedem à qualificação de social para este tipo de turismo. Essa modalidade na realidade está em conjunto com os outros segmentos, uma vez que pode ser considerada como “forma de conduzir e praticar a atividade turística promovendo a igualdade de oportunidades, a equidade, a solidariedade e o exercício da cidadania na perspectiva da inclusão”.6 O turismo social disponibiliza ofertas de pacotes turísticos de curta, média ou longa duração com um valor acessível, visando incluir pessoas de classes sociais menos favorecidas em programas de lazer e enriquecimento cultural. O SESC realiza um programa de Turismo Social desde 1948, com a inauguração da 1ª Colônia de Férias SESC Bertioga, em São Paulo, criada inicialmente como um local de férias para trabalhadores, considerada a primeira colônia de férias do país, em 1952 foi inaugurada a Pousada Nogueira, na região serrana do Rio de Janeiro e nas décadas seguintes outros meios de hospedagem foram construídos até então com o objetivo de ampliar as colônias de férias.

Em 1979 a instituição adere aos princípios estabelecidos na famosa Carta de Viena (1972), também conhecida como Carta do Turismo Social, adotada pelo Bureau Internacional de Turismo Social - BITS (Bureau, 2010).10 Dois princípios fundamentais estão enunciados nesta declaração, considerada o principal documento relacionado ao turismo social, servindo de guia de ação para todas as entidades que desenvolvem esta modalidade de turismo: 1) o turismo é parte integrante da vida social contemporânea e 2) o acesso ao turismo deve ser visto como um direito inalienável do indivíduo.( Cheibub; Bernardo Lazary, 2012)

6

Brasília: Ministério do Turismo, 2006: 5

32

Somente em 2001 houve a implantação oficial da atividade denominada Turismo Social, a qual tem recebido cerca de 3 milhões de turistas em todo o país nos últimos anos, sendo pioneiro na realização desta atividade. O objetivo desse programa desenvolvido pelo SESC é ampliar o direito ao lazer e à cultura, dessa forma,disponibiliza viagens com baixo custo de transporte e hospedagem, realiza excursões para diversas localidades, não somente para pontos turísticos, e ainda possui mais de 40 unidades de hospedagem no país, com capacidade de receber quase 20.000 pessoas por dia. O diferencial deste programa são as atividades realizadas no destino turístico, pois são tratados assuntos relacionados à realidade local, questões ligadas ao meio ambiente e soluções para problemas locais, sempre incentivando o turista à realização de um turismo sustentável.

Figura 3: Idosos durante passeio realizado pelo SESC Fonte: Site do SESC

4.4 Apresentação dos dados coletados nas entrevistas Visando conhecer o perfil de algumas pessoas que já se encontram nessa fase da vida, realizou-se uma pesquisa quantitativa na qual foram entrevistadas 20

33

pessoas entre 60 e 86 anos de idade, a pesquisa foi realizada no dia 06 de dezembro de 2013, no Rio de Janeiro, cidade de Duque de Caxias, bairro Centro. Inicialmente foram consideradas características sócio demográficas, como: idade, sexo, estado civil, nível de escolaridade e renda. A partir de então,se obtiveram os seguintes dados: Quanto ao Estado Civil, identificou-se- conforme tabela 3- que a maioria dos entrevistados enquadrava-se como viúvos.

ESTADO CIVIL Solteiros Casados Desquitados Viúvos

TOTAL

PERCENTUAL

1 5,00% 3 15,00% 2 10,00% 14 70,00% Tabela 4- Estado civil dos entrevistados Fonte: Elaborado pela autora

Em relação à renda mensal, 55% dos entrevistados afirmou receber até R$678,00, 30% recebe entre R$ 1.356,00 e R$ 2.034,00 e 15% recebe mais do que três salários mínimos7, como demonstra a tabela 4. RENDA 0-1 salário mínimo 2-3 salários mínimos mais de 3 salários mínimos

TOTAL 11 6 3

PERCENTUAL 55,00% 30,00% 15,00%

Tabela 4- Renda dos entrevistados Fonte: Elaborado pela autora

Quando perguntadas sobre as atividades que costumam realizar durante o tempo livre, as respostas coincidiram nos seguintes pontos: idas a bailes para terceira idade, confecção de artesanatos, prática de atividades físicas e alguns afirmaram terem retomado aos estudos em sala de aula.

7

Para estes valores, foi considerado o salário mínimo nacional em dezembro de 2013 (R$ 678,00).

34

Os entrevistados ainda foram questionados quanto à periodicidade do uso de medicamentos, percebeu-se então que dentre os entrevistados que não viajam, 86% fazem uso de medicamentos controlados, a maioria para controle de pressão arterial e diabetes, conforme o gráfico 4.

Gráfico 4 : Uso de Medicamentos A partir dos dados coletados, buscou-se identificar entre os entrevistados o interesse por atividades de lazer e turismo. Percebeu-se que ao menos 60% deles afirmaram viajar no mínimo uma vez por ano. Realizou-se então uma nova avaliação de perfil, desta vez considerando somente as pessoas que afirmaram utilizar o turismo como forma de lazer, com isso, obtiveram-se os seguintes dados, conforme o gráfico 5.

Estado Civil dos entrevistados que afirmaram viajar regularmente Separados: 25% Solteiros 0%

Viúvos: 75%

Gráfico 5- Estado Civil 35

Quanto

à

frequência

das

viagens,

constatou-se

que

alguns

entrevistados viajam mais do que três vezes ao ano, conforme demonstra o gráfico 6.

Frequência das viagens Mais de 3 vezes ao ano 42%

1 vez ao ano 8%

2 ou 3 vezes ao ano 50%

Gráfico 6- Frequência das viagens

Quanto à renda mensal, constatou-se que a maioria recebe até um salário mínimo, e quando perguntados como é feita a contratação das viagens, muitos afirmaram participar do programa de turismo social realizado pelo SESC ou participam de viagens nacionais realizadas por amigos ou pessoas indicadas pelos mesmos.

Gráfico 7 - Renda mensal Até 1 salário mínimo

2-3 salários mínimos

mais de 3 salários mínimos

25% 50%

25%

Gráfico 7- Renda Mensal

36

Portanto, a partir da proposta de identificar a demanda de pessoas da terceira idade interessadas em atividades turísticas, observou-se que, ainda, as que possuem uma renda mais baixa conseguem realizar tais atividades. É claro, com uma frequência menor do que as que apresentam uma renda mais elevada, porém, todas estas reconhecem a importância de tal atividade, mas não somente, para a manutenção do convívio social e bem-estar, ferramentas essenciais para melhora da qualidade de vida, impactando diretamente no que se refere ao conceito de saúde, que a OMS (Organização Mundial de Saúde), define como: “o estado de bem-estar físico, mental e social e não simplesmente a ausência de enfermidade”.

Figura 4: Entrevista com idosos na Praça do Pacificador- Duque de Caxias Fonte: Elaborada pela autora

37

CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir de dados que foram estudados para a elaboração deste trabalho, percebeu-se que a população acima de 60 anos de idade, conhecida como terceira idade ou melhor idade tem sido alvo do mercado turístico, que tem desenvolvido políticas públicas e programas voltados para este público. Dados do IBGE indicam que o número de idosos no país tende a crescer nos próximos anos, ao mesmo tempo em que as pessoas estão em busca de uma melhor qualidade de vida. Este trabalho apresentou o turismo como uma forma de promoção de bem estar, já que tal atividade possibilita ao indivíduo uma nova inserção e reconhecimento de si próprio em um grupo social a partir da inclusão proporcionada por esta atividade. Através das entrevistas realizadas com um grupo de idosos, constatou-se que todos os entrevistados reconhecem a importância do lazer e do turismo durante esta etapa da vida e que indiferente das condições financeiras de cada um, os mesmos procuram divertir-se e encontrar formas alternativas de convívio social, por exemplo, os programas sociais realizados pelo SESC, este se mostrou pioneiro no desenvolvimento do Turismo Social, por outro lado, identificou-se também através das entrevistas, que a maioria dos entrevistados faz uso de medicamentos controlados, principalmente para controle de pressão arterial e diabetes e que seu uso não pode ser relacionado com a prática de atividades de lazer, embora, saibamos que a não realização de atividades em grupos, conforme apontam pesquisas, pode levar o indivíduo ao isolamento, chegando à depressão. Durante a elaboração deste trabalho percebeu-se não existir ainda literatura e materiais de pesquisas, em geral, suficientes que abordem atividades voltadas para a terceira idade, principalmente no que se refere ao turismo, por isso é importante que sejam revistas questões relacionadas à promoção da qualidade de vida e também divulgação dos programas e projetos existentes para este público, para que um número cada vez maior de pessoas possa ser contemplado com os benefícios provenientes destes programas, como é o caso do programa Viaja Mais Melhor Idade, que mesmo tendo atendido a mais de 599 mil pessoas, quando se pensa em um país com mais de 20 milhões de idosos, este número corresponde a um número 38

baixo de cerca de 3% da população total de pessoas acima de 60 anos que já foram atendidas pelo programa. Sabe-se que para que haja a efetivação dos programas voltados para a terceira idade é necessário que tais programas estejam baseados nas políticas públicas existentes para esta população, já que tais políticas visam assegurar os direitos dos idosos e o direito ao lazer que é garantido constitucionalmente para todos os indivíduos.

39

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42

APÊNDICE Questionário a Idosos – Data://2013- Hora: ________ Entrevistado (a): Idade: Sexo: ( )feminino ( )masculino Estado civil: ( )solteiro ( ) casado ( ) desquitado, separado, divorciado ( ) viúvo Fumante: ( )sim ( ) não Sabe ler e escrever: ( )sim ( ) não Formação: Renda familiar: ( ) menor ou igual a 1 salário mínimo ( ) 2 a 3 salários mínimos ( ) Maior que 3 salários mínimos Quais atividades costuma realizar no tempo livre? Tem o hábito de viajar? ( )sim ( ) não Com que freqüência? ( )1 vez ao ano ( ) 2 ou 3 vezes ao ano ( )Mais de 3 vezes ao ano Quando foi sua última viagem? Com que freqüência vai ao médico? ( ) 2 a 3 vezes ao ano ( )Todos os meses ( ) outro_______ Faz uso de medicamento controlado? ( )sim ( ) não Qual:

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