A cristianização dos reinos-anglo-saxões e a missão de Agostinho de Canterbury: um debate com a produção historiográfica

October 27, 2017 | Autor: Nathalia Xavier | Categoria: Anglo-Saxon Studies, Historiography, Historiografía, Anglo-Saxões
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A cristianização dos reinos anglo-saxões e a missão de Agostinho de Canterbury: um debate com a produção historiográfica Nathalia Agostinho Xavier

Introdução A proposta desta comunicação é a realização de um debate historiográfico. Atentamos, especificamente, para o processo de cristianização no reino de Kent a partir da missão de Agostinho e Gregório Magno, analisando a produção acerca da cristianização e fortalecimento da instituição eclesiástica neste contexto. Temos em vista um período de clara aproximação entre monarquia e Igreja, visando a apresentar os caminhos trilhados por outros estudiosos para, em junção aos nossos objetivos de pesquisa, demonstrar criticamente nossa inserção em tais contribuições.

Comentários acerca da leitura e seleção de trabalhos A disponibilidade de fontes acerca da missão agostiniana e do reinado de Ethelberto é consideravelmente escassa, entretanto há um grande número de contribuições historiográficas e arqueológicas sobre os reinos anglo-saxões e a temática da conversão real. Deste modo, quaisquer tentativas de síntese serão sempre devedoras de uma gama de trabalhos não-lidos, seja por impossibilidade ou dificuldade de acesso,1 mas considerados por meio indireto no diálogo com os autores aqui apresentados. As questões propostas no estudo deste contexto levam em consideração, frequentemente, a autenticidade dos eventos2 e sua datação, bem como baseiam-se com mais liberdade em suposições dificilmente comprováveis para o preenchimento de lacunas, porém necessárias como elementos de conexão dos dados para a construção de hipóteses. Dentre as possíveis perspectivas de análise do material selecionado, empenhamo-nos, sobretudo, em abordar as questões relativas ao ambiente político e religioso, às críticas às fontes e ao protagonismo dos agentes envolvidos. Neste ponto, cabe destacar que, em nada encerrado, o trabalho de síntese proposto baseia-se em um conjunto de obras mais ou menos recentes, – apesar de valerse de discussões clássicas e livros do século retrasado – mas principalmente privilegia o que se tornou referencial,3 ou seja, constantemente relembrado ou citado. Tratam-se de estudos denotativos de interesses que ganham relevância seja por originalidade ou concordância em tendências, ou que se sobressaem no que tange à trajetória da conversão dos anglo-saxões, com ênfase no reinado de Ethelberto de Kent. 1

Cristianização de Kent e dos anglo-saxões: uma proposta de apresentação e crítica de duas correntes Considerados os textos de alguns dos principais estudiosos da “early anglosaxon history” podemos sintetizar suas contribuições, com algum esforço de generalização didática, em duas correntes: as que interepretam as conversões e a dinâmica entre cristianismo e paganismo por meio da perspectiva religiosa, – e nesta corrente identificam-se diferentes abordagens – e aqueles que buscam uma análise de cunho socio-político para explicar tais dinâmicas. A divisão não pretende hierarquizar os trabalhos em qualidade, nem afastá-los irrevogavelmente uns dos outros; outrossim, tem como objetivo indicar as diferentes preocupações com as quais o fenômeno da conversão/cristianização destas populações pode ser entendido.4 Iniciamos, neste ponto, a caracterização da corrente – diversificada, ampla e permeada por autores que nem sempre concordam – dos estudos relativos aos aspectos religiosos, quiçá culturais, deste(s) processo(s) de cristianização. Ora observada para o caso específico do reinado de Ethelberto, ora tratada pelo prisma do macro, isto é, pensada para os diferentes reinos,5 a adesão ao cristianismo na região é estudada a partir de um conjunto de cartas, escritas por Gregório Magno ou pela Historia Ecclesiastica de Beda.6 Grande parte dos estudos que se voltam especificamente para a missão procuram, de forma superficial e pouco problematizada, criar uma cadeia de eventos, interconectados e consecutivos, focando mais em questões de datação e organização que em propor questões ou definir metodologias para analisar os acontecimentos. Neste sentido, as epístolas e o relato de Beda são usados para recriar uma narrativa em ordem cronológica, geralmente sem uma preocupação com a crítica textual. O clássico livro de Peter Blair, “The World of Bede”, não foge desta recorrente prática.7 Muito dependente da HE, devido ao pouco diálogo com a historiografia, seus capítulos apresentam interesse de determinar quais elementos da documentação podem ser considerados “históricos”, ou seja, verídicos. Tal perspectiva, demasiado objetiva e empiricista, repete-se nas leituras acerca do período, desenhado como momento de transição de uma religião a outra, em interpretação simplista que observa o processo pelo prisma da substituição. A visão dicotômica entre cristianismo e o paganismo anglosaxão favoreceu trabalhos cujo foco estava na atuação pastoral promovida por Gregório Magno, contada em capítulos que pretendiam “construir” um contexto de expansão cristã, visto de forma apologética.8 Livros como o de Edward Cutts9 e do padre jesuíta 2

Brou10 retratam a missão pelas palavras da documentação, apresentando argumentos que confirmam a relação entre o catolicismo de seu tempo com o contexto descrito.11 Ambos os autores citados optam por exaltar a atuação gregoriana em detrimento de Agostinho e de um cristianismo autóctone, submetendo os acontecimentos a uma hierarquia ideal e a uma lógica homogeneizante em relação à Igreja Ocidental – a missão sobrepõe o agente12 e Roma a tradição bretã. Introduzimos, então, a questão do protagonismo/envolvimento das personagens, – reis francos e anglos-saxões, Gregório Magno e Agostinho – constantemente fruto de debates entre os autores com os mais diversificados propósitos. Nesta abordagem religiosa, não obstante, nem todos os trabalhos caracterizam-se por um tom apologético, tradicionalista e generalizante, que submeta os agentes a uma força cristianizadora inevitável. É possível afirmar que neste grupo de interesse houve autores que se destacaram por propor leituras diferenciadas para o processo de cristianização das ilhas, procurando estabelecer e defender hipóteses interpretativas, ainda que em certos casos pela mesma exposição de esquemas lineares e contínuos. Com efeito, proposições relevantes podem ser comprometidas pelo uso indiscriminado de certos trechos da obra de Beda.13 Todavia, há de se pensar um ângulo profícuo para observar este problema, pois quando não discorrem cada palavra do presbítero, alguns autores apenas limitam-se a criticá-lo pela fraca capacidade de organização dos fatos ou de sua datação. Neste sentido, Ian Wood não rompe tão radicalmente com esta tradição ao procurar resolver os impasses pela sujeição da HE ao status de documentação secundária.14 O problema não é resolvido com uma simples hierarquização das fontes pelo parâmetro temporal, enfraquecendo, na contrapartida, o debate sobre os cuidados com o tratamento das cartas gregorianas. Estas últimas, a nosso ver, devem ser igualmente submetidas a questionamentos semelhantes, uma vez que a contemporaniedade destes escritos não pode ser fator que os exima de impropriedades. Assim, uma mudança de perspectiva no que tange a esta obra é necessária, mas não uma completa negação de suas contribuições em posição primária. Para isso seria preciso forçar uma ruptura entre os períodos de Agostinho/Gregório e Beda, entre os quais acreditamos ainda haver paralelos a ser explorados.15 Em suma, a escassez de fontes escritas no período não apenas justifica o uso da Historia, como incita o debate sobre os critérios de sua leitura. A despeito de apresentar uma argumentação que se valesse de uma continuidade entre Gregório e Beda, o artigo recente de Sas MaMaksymilian,16 por exemplo, 3

reproduz a descrição dos milagres e da vida apostólica dos missonários de maneira a explicar o sucesso da evangelização dos anglo-saxões. A diferença entre tópicas de cunho hagiográfico e “realidade” não é profundamente, ou mesmo superficialmente, considerada pelo autor e suas conclusões carecem de discussões que consigam ir além de um constante recontar os elementos da Historia para desenvolver argumentos. Como nossa preocupação não é estabelecer um “marco” incial para os eventos, ou organizá-los de forma fixa e rigorosa, mas sim vincular as questões religiosas a outros campos de atuação social, privilegiamos textos que, indepentemente de dialogarem com esta ou aquela corrente, mesmo as duas ressaltadas por nós, pautam-se em uma crítica às fontes e/ou em rigorismo metodológico necessário aos estudos de eventos tão escassamente documentados e não em uma organização narrativa. Cabe, então, o destaque de obras como de James Campbell e N. Higham que se propuseram a discriminar topoi literários de relatos verossímeis ou apontar o lugar de produção e as intenções dos sujeitos.17 Estes autores, preocupam-se, em especial, em criticar abordagens nacionalistas e apologéticas ou em apontar para a fraca contextualização de um texto que, ironicamente, serve ao historiador atual como fonte da mesma conjuntura. Assim, dedicam-se a mostrar a fluidez da construção do texto, a inserção de Beda em uma elite na Northumbria18 e seus propósitos.19 Também destinado à crítica documental e à narração dos eventos, Steven Church relaciona a tradição de Beda e Gregório pela comparação com textos da patrística e do Antigo Testamento,20 pretendendo apontar para as tópicas e os propósitos dos clérigos e criticando a leitura literal de historiadores no que tange à religião pagã anglo-saxã – geralmente abordada de acordo com as descrições das cartas e da HE. Em oposição a contribuições como estas, a busca pela “reconstituição” dos eventos ou de um ambiente religioso era o objetivo de boa parte da produção levantada e uma das mais recorrentes características desta primeira corrente. Este esforço vale-se tanto de linhas selecionadas a dedo da HE ou do conjunto de epístolas, quanto de interpretações referentes aos vastos estudos arqueológicos. William Chaney,21 em sua crítica à dicotomização entre paganismo e cristianismo, opta por analisar os paralelos culturais possíveis entre um projeto de cristianismo para os reinos anglo-saxões e as divindades e crenças dos povos escandinavos.22Em oposição, Ciro Flamarion Cardoso enfatiza os vissicitudes e as constantes apostasias na perspectiva de um longo processo de conversão. Delineia o papel social da religião pagã, pensada pelo viés marxista de Gramsci.23 Ambos dedicamse, portanto, a expor um contexto religioso e cultural – sobretudo, desenhado por 4

contribuições de analistas da cultura material e toponímica – como argumentação de ideias que se opõem. O primeiro opta em demonstrar a facilidade da transição de uma religião a outra, desconsiderando a ação de forças simbólicas sobre estas mudanças, em especial a marginalização por meio da distinção social; o segundo, sugere uma dificuldade que negligencia a capacidade de adaptação do cristianismo aos ritos e crenças autóctones, tornando rígida a análise da relação entre cristianismo/paganismo, – ou mesmo ortodoxia/heterodoxia como proposto – em um período em que conversões suscessivas ocorreram. Pode-se afirmar, de nosso ponto de vista, que nos distanciamos de quaisquer tentativas de descrição de um conjunto de práticas, preocupando-nos, apenas, em delimitar a função da distinção religiosa no processo de conversão e construção de uma hierarquia eclesiástica na região. Não se trata, devemos explicar, de negar a possibilidade de estudar os fenômenos acerca da fé ou de utilizar-se de documentação material e escrita para tal, entretanto acreditamos que para suplantar os problemas desse tipo de argumentação faz-se necessário levar em conta as relações de poder da sociedade em questão e a relação, nada dicotômica, entre política e Igreja para este período. Deste modo, as críticas ao texto de Ciro Flamarion limitam-se ao pequeno ponto supracitado, uma vez que de acordo com o diálogo que o autor estabelece entre o campo religioso e outros campos da vida social,24 somos capazes de introduzir os trabalhos referentes à segunda corrente assinalada: a proposta da relação do campo religioso com o socio-político. Como um não supera o outro, mas sim o completa, é válido notar que esforços de datação e organização rígida dos acontecimentos não se limitam ao primeiro grupo de interesse. Mais que pela manipulação da documentação, as correntes aqui organizadas diferenciam-se pelos interesses e abordagens. Alguns detalhes são relevantes nesta alteração, e dentre eles, a inserção da problemática da participação dos francos na missão agostiniana. Negligenciada por Beda e por alguns autores,25 a questão é sublinhada, sobretudo, por Ian Wood. Defensor de um “secundarismo” da obra do presbítero de Warmouth and Jarrow, por suas impropriedades e dados duvidosos, o historiador inglês dedica-se, principalmente, às cartas gregorianas. No texto “The Mission of Augustine of Canterbury to the English”

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monta uma cronologia para a

missão – à qual dedica boa parte de sua argumentação – e expõe o contexto de aproximação entre Gregório e o reino de Kent com os monarcas francos. De fato, as questões diplomáticas são amplamente consideradas pelos últimos livros sobre a conversão das populações anglo-saxãs. Barbara Yorke destacava esta 5

relação, por influência clara do trabalho de Wood, em livro de 1990 sobre os diversos reinos.27 James Campbell também destina número considerável de páginas à influência franca sobre os reinos anglo-saxões. Contestando uma ideia de isolamento da região em relação aos cristãos vizinhos, o autor tem seu mérito na utilização deste argumento para enfatizar a relação entre conversão/cristianização e poder real, segundo ele, já presente na historiografia de modo geral, mas carente de explicações acerca de seus efeitos.28 Nesta linha, sobre as interlecuções de diferentes reinos, Yorke descreve, em trabalho mais recente, os divervos processos de conversão na Bretanha a partir da ótica de associação entre o campo religioso e outros – social, político, étnico.29 Neste, também a relação entre overlorship30 e aceitação do cristianismo é ressaltada de forma mais enfática,31 e Agostinho é pensado como agente político de Ethelberto e Gregório Magno.32 Todavia, muito abrangente, o livro deixa a desejar no que tange a uma análise mais aprofundada desta conversão específica.33 Por outro lado, em “The Convert Kings: Power and religious affiliation (...)”,34 Higham (re) posiciona a questão do protagonismo de Ethelberto, associando com mais clareza sua disposição como bretwalda e a recepção da missiva romana.35 Sua problemática central: Por que Ethelberto teria se convertido? A partir dela desenvolve uma conjuntura em que o batismo significava uma nova configuração de relações de domínio. Mais uma vez ganha espaço a associação entre a conversão e o fortalecimento de vínculos entre domínios ou manutenção da overlorship. Porém, na maior parte de sua análise, o destaque é a conjuntura franca. Delonga-se na descrição dos eventos das disputas merovíngias e para a influência destes na ação de Gregório e na conversão de Ethelberto36 e embora as motivações relativas às dinâmicas dos reinos anglo-saxões sejam expostas, a autonomia destas é superficialmente considerada e, principalmente, a dos missionários.

Considerações finais Nas obras selecionadas e organizadas, a escolha por apresentar duas correntes condiz com nossa inserção na segunda, contudo, também se refere a uma lacuna: a fraqueza ou mesmo ausência de abordagens que se restrinjam às dinâmicas locais da conversão real, explicadas pelo viés diplomático externo ou pela relação entre um bretwalda e domínios vizinhos. De fato, a questão diplomática pouco varia. Linhas e linhas são escritas com o intuito de destacar o papel das disputas entre membros da dinastia merovíngia e a relação entre Gregório Magno e os bispos francos neste processo de conversão, mas a 6

função de Agostinho como líder religioso de uma instituição em amplo desenvolvimento,

filiado

a

um

monarca

com

intensões

expansionistas

é

superficialmente considerada, a favor de uma análise que se submete ao esquema Roma-Gálias-Kent, ou Roma-Kent, para quaisquer explicações.37 Como bem lembrado por Ian Wood: a história da missão “(...), é mais uma história de percepção que uma reconstrução narrativa de eventos que podem ser estudados”,38 e desta maneira, pode ser a partir da perspectiva de Agostinho cujo papel começa a ser (re)pensado.39 Nosso trabalho é devedor do desenvolvimento destes debates de associação entre político e religioso, e da configuração de conjunturas e perspetivas várias para a conversão, apenas com a ressalva da necessidade de se considerar o protagonismo da hieraquia eclesiástica que ali se constituía e legitimava frente ao reino cristão de Kent, uma vez que centramos nossa problemática no papel da distinção religiosa na construção de sua autoridade. Bibliografia BLAIR, Peter Hunter. The Word of Bede. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. Father BROU, S.J. Augustine and His Companions. London: Catholic Thruth Society, 1897. CAMPBELL, J. Essays in Anglo-Saxon History. London: The HambleIandon Press, 1986. CARDOSO, Ciro Flamarion. O paganismo anglo-saxão: uma síntese crítica. Brathair, v. 4, n.1, p. 19-35, 2004. CHANEY, W. A. Paganism to Chritianity in Anglo-Saxon England. The Havard Theological Review, v. 53, n. 3, p. 197-217, 1960. CHURCH, S. D. Paganism in Conversion-Age Anglo-Saxon England: The Evidence of Bede’s Eclesiastical History Reconsidered. History, v. 93, n. 310, p. 162-180, 2008. COLLINS, R. The Remaking of Britain; In: ______. Early Medieval Europe: 3001000. Londres: Macmillan Education, 1991. p. 162-182. CUTTS, Edward. L. Augustine of Canterbury. Londres: Meuthen & Co, 1895. p. 29. Tradução nossa. DEANESLY, M.; GROSJEAN, P. The Canterbury Edition of the Answers of Pope Gregory I to S. Augustine. The Journal of Ecclesiastical History, v.10, n.1, p. 1-49, 1959;

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DeGREGORIO, S. The Venerable Bede and Gregory the Great: exegetical connections, spiritual departures. Early Medieval Europe, v. 18, n. 1, p. 43-60, 2010. GAMESON, R (ed.). Saint Augustine and The Conversion of England. Strou, Sutton, 1999. HIGHAM, N. J. (Re)Reading Bede: The Ecclesiastical History in context. London: Routledge, 2006. ______.. The Convert Kings: Power and religious affiliation in early Anglo-saxon England. Manchester: Manchester University Press, 1997. MARKUS, R. A. The Cronology of the Gregorian Mission to England: Bede’s Narrative and Gregory’s Correspondence. The Journal of Ecclesiastical History, v. 14, n. 1, p. 16-30, 1963. SAS, Makysimillian. Augustine of Canterbury converting the Anglo-Saxons: A contribution to the STANLEY, Eric Gerald. Imagining The anglo-saxon past: the search for anglo-saxon Paganism and anglo-saxon tiral by jury. Cambridge: S.D. Brewer, 2000. p. 3-28. YORK, B. Kings and Kingdoms of early Anglo-Saxon England. Taylor and Francis e-library, 2003. p. 1-44. ______. The Conversion of Britain. Religion, Politics and Society in Britain c. 600800. Edinburgh: Pearson, 2006. identity of the medieval missionary. De Medio Aevo, n. 3, p. 213-230, 2012-2013. WOOD, Ian. The Mission of Augustine of Canterbury to the English. Speculum, v. 69, n.1, p. 1-17, 1994. 1

Há inclusive que destacar que neste trabalho somos forçados a negligenciar boa parte da historiografia alemã, lida indiretamente pelos comentários destes autores. 2 Considerável exemplo é a busca por estabelecer a autenticidade das Responsiones, carta com respostas a perguntas que teriam sido feitas por Agostinho a Gregório. Ver: DEANESLY, M.; GROSJEAN, P. The Canterbury Edition of the Answers of Pope Gregory I to S. Augustine. The Journal of Ecclesiastical History, v.10, n.1, p. 1-49, 1959; MARKUS, R. A. The Cronology of the Gregorian Mission to England: Bede’s Narrative and Gregory’s Correspondence. The Journal of Ecclesiastical History, v. 14, n. 1, p. 16-30, 1963. 3 Excetua-se, por questão de acesso, a historiografia alemã. Neste capítulo, concentramo-nos apenas na inglesa. Para observar as correntes nacionalistas, germãnicas ou românticas, dos trabalhos alemães ver: STANLEY, Eric Gerald. Imagining The anglo-saxon past: the search for anglo-saxon Paganism and anglo-saxon tiral by jury. Cambridge: S.D. Brewer, 2000. p. 3-28. 4 Sem, entretanto, negar avanços nos debates, o desenvolvimento destes se dá em ambos os grupos, expondo uma gama de interpretações diversificadas e de possíveis resoluções para lidar com as dificuldades supracitadas em relação às evidências históricas. 5 Isto é, pictos, bretões e anglo-saxões, dentre outros, Tal se expkicita, por exemplo, no recente livro de Barbara Yorke buscar apresentar e comentar as diversas experiências de conversão, em diferentes reinos, de forma generalizada. YORKE, Barbara. The Conversion of Britain. Religion, Politics and Society in Britain c. 600-800. Edinburgh: Pearson, 2006. 6 A partir deste ponto, refiriremo-nos a esta obra por HE. 7 BLAIR, Peter Hunter. The Word of Bede. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.

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Apesar de detalhar com mais afinco o desenvolvimento da historiografia alemã do século XIX sobre o período anglo-saxão, Gerald Stanley propõe um capítulo sobre a historiografia inglesa acerca da conversão. Nele destaca a tendência, na mesma época, de oposição entre cristianismo e paganismo pela relação entre ambos com civilização e barbárie, respectivamente. Ver: STANLEY, Eric Gerald. Op. Cit., p. 24-28. 9 Desta obra, selecionamos citação emblemática: “Eles não sabiam – como poderiam saber? – como daquela ruptura do antigo mundo, um mundo novo e melhor estava emergindo, e que eles interpretariam importante papel em fundamentar uma nova ordem em último recanto de barbarismo pagão, para fundamentar as bases da poderosa fábrica do Cristianismo da Ingaterra (...)” “They did not know — how could they ?—that out of the break-up of the old world a new and better world was rising up, and that they were to play no unimportant part in laying the foundations of the new order in one corner of that ultima thule of pagan barbarism, to lay the foundation stone of that mighty fabric of a Christian England (...)”. CUTTS, Edward. L. Augustine of Canterbury. Londres: Meuthen & Co, 1895. p. 29. Tradução nossa. 10 Father BROU, S.J. Augustine and His Companions. London: Catholic Thruth Society, 1897. 11 E, aparentemente, procuram criar uma oposição em relação a certa vertente anglicana, aparentemente preocupada em criar a mesma associação com o passado, critica a minimização da agência dos missionários a favor de uma ideia de permanência tem como objetivo criar uma relação entre a Igreja anglicana de seu período e a origem cristã na Bretanha. Father BROU, S.J. Op. Cit., p. 7. 12 “As próximas páginas contam mais a história de um grande empreendimento que descrevem a vida de um santo, e mais de S. Gregório que de seu missionário S. Agostinho, tem lugar de honra garantido.” Original: “The following pages tell the story of a great undertaking rather than describe a saint's life, and St. Gregory rather than his missionary St. Augustine holds the chief place of honour.” Father BROU, S.J. Augustine and His Companions. London: Catholic Thruth Society, 1897. (Prefácio) 13 Digna de nota é a passagem acerca da reunião de Agostinho com bispos bretões, chamada de “Augustine’s Oak”, e apenas descrita na HE, cuja veracidade de tal reunião é frequentemente debatida entre historiadores, mas em muito utilizada como referência para construção de hipóteses a despeito de tais dúvidas. Sobre sua realização, ver: HIGHAM, N. J. The Convert Kings: Power and religious affiliation in early Anglo-saxon England. Manchester: Manchester University Press, 1997. p. 59-60; WOOD, I. The Mission of Augustine of canterbury to the English. Speculum, v. 69, n.1, p. 1-17, 1994. p. 3-4. 14 WOOD, I. Op. Cit. 15 Optamos, nesse sentido, por compreender a cristianização dos reinos anglo-saxões como um longo e complexo processo, no qual cabem continuidades entre os contextos distanciados pelo tempo, possibilitando a ideia de uma intercessão entre as ações, debates e preocupações de ambos e a proposição de metodologias comparativas. Pondera-se, sobretudo, a constante reprodução de elementos presentes nos escritos de Gregório por Beda, como a exaltação à vida apostólica e a pertinência dos milagres na conversão, tal qual trabalhado em texto supracitado: SAS, Makysimillian. Op. Cit., p. 219-220, bem como por autores que relacionam ambos os clérigos por uma tradição: DeGREGORIO, S. The Venerable Bede and Gregory the Great: exegetical connections, spiritual departures. Early Medieval Europe, v. 18, n. 1, p. 43-60, 2010. 16 SAS, Makysimillian. Augustine of Canterbury converting the Anglo-Saxons: A contribution to the identity of the medieval missionary. De Medio Aevo, n. 3, p. 213-230, 2012-2013. 17 James Campbell que, em seu famoso conjunto de ensaios intitulado “Essays in Anglo-Saxon History”, preocupa-se, naqueles referentes a Beda, com o ambiente cultural de produção do texto e com a relação entre autor e público presente no discurso religioso da HE. Descreve seus intuitos “didáticos” e para o papel de compilador – detacando as ações de seleção, omissão e organização do material disponível.17 Porém, especialmente digna de nota, é a obra de N. Hingham, “(Re) reading Bede: (Re)Reading Bede: The Ecclesiastical History in context”, dedicada a separar a preconcepção moderna sobre a obra, debatendo a relação entre público pretendido e não-pretendido. CAMPBELL, J. Bede I; Bede II. In: ______. Essays in Anglo-Saxon History. London: The HambleIandon Press, 1986. p. 1-48; HIGHAM, N. J. (Re)Reading Bede: The Ecclesiastical History in context. London: Routledge, 2006. 18 As questões destacadas encontram-se desenvolvidas nos rimeiros capítulos da obra, a saber: “(Re) Reading Bede: na author and his audience” e “The Ecclesiastic History: Bede’s purposes and ours”. In: HIGHAM, N. J. Op. Cit., p. 1-100. 19 Neste último ponto, acaba por repetir as mesmas conclusões de Campbell: a Historia é um busca por fixação de um passado com o objetivo de reproduzir ensinamentos morais para um público contemporâneo à obra. HIGHAM, N. J. Op. Cit., p. 97. 20 CHURCH, S. D. Paganism in Conversion-Age Anglo-Saxon England: The Evidence of Bede’s Eclesiastical History Reconsidered. History, v. 93, n. 310, p. 162-180, 2008.

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No recorrentemente citado: CHANEY, W. A. Paganism to Chritianity in Anglo-Saxon England. The Havard Theological Review, v. 53, n. 3, p. 197-217, 1960. 22 Descreve, assim, um ambiente religioso. Trabalha com a ideia de sicretismo e sobreposição, e de que o culto se constrói a partir de elementos culturais e de uma constante adaptação construída socialmente, elaborando, inclusive, uma via de transição entre o conceito de sorte real, luck, para a a lógica cristã. Idem. p. 208-213. 23 Sua principal hipótese é a da função de ideologia socialmente orgânica da religião na manutenção dos poderes de um rei anglo-saxão não convertido, em período em que a monarquia ainda não havia se constituído. CARDOSO, Ciro Flamarion. O paganismo anglo-saxão: uma síntese crítica. Brathair, v. 4, n.1, p. 19-35, 2004. 24 Flamarion debate a dinâmica material/ideal, pensando autores marxistas clássicos e pós-modernos, opondo-se a certos dogmas e propondo o uso de ideologia segundo Gramsci com a ressalva da bão dicotomização entre ambas as categorias. Ver: CARDOSO, Ciro Flamarion. p. 20-22. 25 Dentre os autores suprcitados, ressaltamos, em especial, Peter Blair, cujo estudo da conversão observa a troca de correspondência com os francos considerada superficialmente; uma descrição das cartas posicionada para criar uma narrativa de eventos consecutivos. BLAIR, P. Op. Cit. 26 WOOD, Ian. The Mission of Augustine of Canterbury to the English. Speculum, v. 69, n.1, p. 1-17, 1994. 27 Inclusive, a conversão de Beda por Agostinho é comumente pensada como tardia, pelas mãos da missão gregoriana e não do bispo Luidhard, como forma de evitar uma submissão franca. Limita-se, desta forma, a escolha de Ethelberto. Ver: YORKE, B. Kings and kingdons... Op. Cit. p. 28-29. 28 Para o autor, a associação à religião romana pelos reis de Essex e da East Anglia e de logo após a de Ethelberto refletia a autoridade deste como overlord. CAMPBELL, J. Op. Cit., p. 74. 29 YORKE, B. The Conversion of ... Op. Cit. 30 Overlosrship ou overkingship são termos comumente usados para descrever o quadro político dos reinos anglo-saxões. Sem uma tradução específica que não corrompa seu significado, destacamos em algumas linhas explicativas. Tais conceitos se referem ao sistema das bretwaldas, citado por Beda e pouco conhecido por conta da escassez de documentação sobre seu funcionamento ou real abrangência. Em síntese, os termos servem para destacar a relação de “sobredomínio”, ou seja, de predominância de um reino sobre outro, de um monarca sobre domínios que não são imediatamente seus. 31 A aceitação do cristianismo é vista como forma de expansão de uniões políticas, tal qual os casamentos entre famílias reais. YORKE, B. Op. Cit., p.125. 32 A reunião de Agostinho com os bispos bretões, relatada em Beda e aceita sem quaisquer críticas pela autora, é usada como argumento para a tentaiva de expansão do reinado de Ethelberto para domínios bretões, o que teria levado à rejeição destes bispos. YORKE, B. The Conversion of... Op. Cit., p. 119. 33 A historiadora opta, em geral, por destacar as mudaças, em amplo período, de diversos aspectos sociais com a formulação de reinos cristãos, demonstrando a relação intrísica entre os espaços e costumes laicos e religiosos – inclusive pela inserção das elites eclesiásticas nas disputas aristocráticas – e a relação entre a formação de uma instituição eclesiástica e o patronato monárquico. Concebe uma sociedade laica que se imiscui à religiosa e vice-versa, dedicando dois capítulos à configuração da Igreja como instituição e à bilateralidade desta relação: “The Organisation and Culture of the Church in Early Medieval Britain” e “Religion, Politcis and Society in Early Medieval Britain”. Idem. p. 149-268. 34 HIGHAM, N. J. The Convert Kings... Op. Cit. 35 A relação entre a Igreja que ali se constituía e a monarquia que se fortalecia é pensada, também, por sua particularidade espaço-temporal e capítulo inteiro dedica-se à conversão do monarca de Kent. HIGHAM, N. J. “King Ethelbert: conversion in context”. In: ______. Op. Cit., p. 53-119. 36 Nesta linha, em leitura demasiado literal das cartas de Gregório, afirma que Ethelberto principaiava uma conversão anterior à própria missão, uma vez que teria como obejtivo garantir relações diplomáticas com os francos. HIGHAM, N. Op. Cit., p. 89-90. 37 A crítica, porém, não pressupõe grandes equívocos dos autores ou uma superação de suas contribuições; aproveita-se destes até, como estudos fornecedores de pressupostos de análise. Contudo propõe uma leitura da documentação e dos eventos com foco diferenciado, em que o vínculo monarquia e Igreja, – estabelecido assim com um destes pressupostos – direcione uma análise das nuances de fortalecimento da instituição eclesiástica e de seus agentes. 38 “As so often in the history of mission, with regard to the work of Augustine, it is the history of percepcion rather than the narrative reconstruction of events that can be studied.” WOOD, I. Op. Cit., p. 16. 39 Sobretudo, em obra organizada por Gameson. GAMESON, R. (ed.). St. Augustine and the Conversion of England. Stroud: Sutton Pub, 1999.

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