A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas - Uma abordagem de gênero

August 31, 2017 | Autor: Kris Oliveira | Categoria: Demography, Gender Studies, Quantitative Methods, Organizational Studies
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A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas – Uma abordagem de gênero* Kris Herik de Oliveira Márcia Milena Pivatto Serra

RESUMO Esta pesquisa objetivou descrever o perfil demográfico dos pesquisadores científicos de 6 institutos e 15 polos de pesquisa científica e tecnológica (setor do agronegócio) do estado de São Paulo, comparando distintas variáveis (como idade, nível de escolaridade, fecundidade, nupcialidade, ano de admissão, nível do cargo e ocupação de cargo de direção) com os grupos de homens e mulheres. O método empregado foi quantitativo-descritivo e o tratamento dos dados ocorreu por meio de técnicas estatísticas descritivas e multivariadas. Os dados de 712 profissionais da pesquisa científica foram obtidos através do centro de recursos humanos da unidade gestora das instituições de pesquisa. Resultados apontaram para a alta qualificação da população, uma idade média dos pesquisadores de 50,55 anos e um alto envelhecimento. As mulheres são mais qualificadas que os homens, mais jovens e a minoria atuando nos mais altos cargos. Ademais, representou-se graficamente o processo de feminilização da profissão nas instituições. Por fim, na análise multivariada observou-se que o sexo, entre as variáveis estudadas, é uma variável importante para determinar a ocupação dos altos cargos de direção. Esses achados colaboram para a suposição da existência do teto de vidro nas instituições investigadas e confirmam características da masculinidade normativa encontrada em outros estudos de gênero em organizações.

Palavras-chave: Demografia Organizacional; Pesquisador Científico; Gênero

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Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014  Bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie  Doutora em Demografia (UNICAMP); Professora Titular do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie

A demografia organizacional de instituições de pesquisa paulistas – Uma abordagem de gênero* Kris Herik de Oliveira Márcia Milena Pivatto Serra

INTRODUÇÃO A carreira científica é normalmente conhecida como masculinizada, sendo a participação feminina ainda mais incipiente em se tratando de cargos e posições de maior destaque e reconhecimento. Algumas áreas são consideradas mais “femininas” como as de ciências da vida (biológicas e da saúde), humanas e sociais; enquanto as ciências exatas são consideradas mais “masculinas”. Nos últimos dez anos esse quadro vem se alterando, o número de mulheres inscritas e matriculadas em cursos das ciências exatas tem aumentado. Fatores como uma crescente participação feminina no mercado de trabalho, sua maior escolaridade em relação ao homem e o seu maior interesse por profissões e cargos de reconhecimento e prestígio tem impactado no quadro funcional das empresas, ou seja, na demografia das organizações. Embora seja pouco conhecida nos estudos clássicos de Demografia, falar de Demografia Organizacional, segundo Pfeffer (1985), nada mais é que descrever a organização em termos de distribuição em diversas dimensões (tais como sexo, idade, tempo de serviços prestados, entre outros). Estudos como os de Bruschini (1995) revelam que em muitas organizações a proporção entre homens e mulheres é desigual e quanto mais alto é o cargo, menor é a penetração feminina; e que as oportunidades de trabalho oferecidas para o homem e para a mulher decorrem, em grande parte, de aspectos culturais de gênero. O agronegócio é um setor econômico culturalmente masculinizado e um dos três setores que mais concentram profissionais no país (IBGE, 2012b). Nele, há considerável número de profissionais atuando como pesquisadores científicos na esfera pública e privada, trabalhando, em sua maioria, no estado de São Paulo (CGEE, 2012).

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Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em São Pedro/SP – Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014  Bacharel em Administração pela Universidade Presbiteriana Mackenzie  Doutora em Demografia (UNICAMP); Professora Titular do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie

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Diante deste quadro, o presente estudo objetivou descrever o perfil demográfico dos pesquisadores científicos de instituições públicas de pesquisa científica e tecnológica do estado de São Paulo. Para tanto, foram estudados 6 institutos e 15 polos públicos de pesquisa paulistas inseridos no contexto do agronegócio. Buscou-se levantar o perfil demográfico dos pesquisadores comparando distintas variáveis (como idade, número de filhos, estado civil, escolaridade, nível do cargo, ano de admissão, ocupação de cargo de direção) com os grupos de homens e mulheres. Para tanto, na leitura que se segue, considerou-se importante apresentar as distintas linhas teóricas sobre a demografia aplicada aos estudos organizacionais. Posteriormente, a partir de dados atuais dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), abordou-se as particularidades sobre a carreira na pesquisa científica. Realizado o apanhado teórico, a análise dos dados descreve o perfil dos pesquisadores e apresenta indicadores demográficos adaptados à realidade das organizações. A abordagem de gênero foi enfatizada neste estudo. Por fim, são apresentadas as conclusões, ou seja, um diagnóstico das instituições de pesquisa.

REVISÃO DA LITERATURA A demografia aplicada aos estudos organizacionais São poucos os estudiosos que perceberam a importância da demografia para a administração (CARROLL; KHESSINA, 2005). No entanto, alguns autores têm aplicado técnicas demográficas à ciência que investiga as organizações. Dentre eles, encontram-se principalmente autores internacionais, como Pfeffer (1983; 1985), Carroll e Hannan (2000), Carroll e Khessina (2005) e Coccia e Rolfo (2009). Do mesmo modo há presença de estudos nacionais no campo, como a investigação de Esteves (2009), a pesquisa anual do Instituto Ethos (2010), a abordagem de Feitosa e Ikeda (2011) e, mesmo que de forma indireta, as contribuições de Bruschini (2007) em seus estudos sobre a temática mulher e trabalho, entre outros autores. Para fins de análise, Carroll e Khessina (2005) esclarecem que existem três linhas de pesquisa distintas encontradas na literatura da demografia aplicada aos estudos organizacionais, cada qual com sua própria estrutura conceitual. São elas: 

Demografia da força de trabalho (workforce demography);



Demografia

organizacional

(organizational

demography)

organizacional interna (internal organizational demography); 2

ou

Demografia



Demografia corporativa (corporate demography).

Já Hakkert (2006) destaca o que seria uma quarta estrutura conceitual de investigação: 

Demografia de negócios (business demography).

A demografia da força de trabalho pode ser vista como uma aplicação da demografia formal, pois envolve modelos que analisam os fluxos demográficos e os processos relacionados a eles no ambiente organizacional. Esses trabalhos se interessam pela rotatividade dos trabalhadores dentro de uma organização. Geralmente, dirigem-se a fatores e condições associadas à dinâmica das vagas de trabalho internas (mobilidade interna). Contudo, essa mobilidade interna também têm implicações para a mobilidade externa (rotatividade), ou seja, entre as organizações. Aqui é importante levantar características dos indivíduos, como idade, sexo e escolaridade, para compreender o impacto das mesmas nos salários e nas promoções, por exemplo. Noutros momentos, torna-se importante adotar uma visão estruturalista, enfatizando nas condições organizacionais que criam carreiras internas (CARROLL; KHESSINA, 2005). A demografia organizacional (ou demografia organizacional interna), para Pfeffer (1985), nada mais é do que descrever uma organização em termos de distribuição em diversas dimensões, tais como sexo, idade, tempo de serviços prestados entre outras. Esta linha avança na aplicação de teorias específicas sobre as causas e consequências dos fenômenos demográficos para as organizações. Destaque especial é dado à distribuição da permanência ou tempo de serviço dos trabalhadores nas organizações (COCCIA; ROLFO, 2009). A relação entre a diversidade no grupo de trabalho versus os resultados satisfatórios nos negócios e como se dão as orientações estratégicas na equipe executiva das organizações considerando o gênero, rotatividade e entre outras categorias são objetos de análise (LAWRENCE, 1997). Em outras palavras, esta segunda linha relaciona os efeitos da estrutura demográfica sobre os resultados comportamentais da organização (CARROLL; KHESSINA, 2005). A terceira linha teórica – demografia corporativa – concentra-se em populações organizacionais e em sua evolução ao longo do tempo. O foco está, especialmente, na vitalidade das empresas (fundação, crescimento, transformação estrutural e na mortalidade empresarial) (CARROLL; KHESSINA, 2005). Estudos temporais, descritivos, inferenciais e comparativos podem compor a análise. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2011) realiza há quase 15 anos, sob esta terceira corrente teórica, estudos sobre a demografia de populações organizacionais através de pesquisas de campo que buscam monitorar a sobrevivência dos novos empreendimentos no Brasil. 3

Referindo-se a demografia de negócios como uma quarta estrutura conceitual de investigação, Hakkert (2006) esclarece que o termo “demografia de negócios” passou a ser utilizado recentemente e ainda não está totalmente consolidado. Para o autor, a demografia de negócios refere-se a um conjunto de técnicas e métodos cuja aplicabilidade é mercadológica. Diz respeito à seleção de localidades para serviços, prognósticos de vendas, planejamento financeiro, avaliação de mercados, perfis de consumidores, assistência jurídica corporativa e análise da força de trabalho das empresas. O autor ainda ressalta a importância da abordagem demográfica para a pesquisa de mercados. Uma vez que métodos de projeção demográfica têm grande valor na definição do potencial de mercado de pequenas áreas geográficas. Frente à discussão ainda em evolução, esse trabalho se apoiará nos pressupostos da demografia organizacional com o objetivo de descrever o perfil demográfico dos pesquisadores científicos de instituições públicas de pesquisa paulistas, comparando distintas variáveis com os grupos de homens e mulheres.

A carreira na pesquisa científica Historicamente, a ciência sempre foi vista como uma atividade pertencente aos homens. Contudo, mudanças nesse cenário ocorreram após a segunda metade do século XX, quando (a) a necessidade crescente de recursos humanos para atividades estratégicas – como a ciência –, (b) o movimento de liberação feminina e (c) a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres permitiram a elas o acesso, cada vez maior, à educação científica e às carreiras, tradicionalmente ocupadas por homens (LETA et al., 2006). Além disso, é importante mencionar o papel de órgãos nacionais e internacionais – tal como da UNESCO – que, desde a década de 1990, vem realizando estudos e conferências, que visam a discutir e a propor ações para a maior inclusão das mulheres nas atividades de Ciência e Tecnologia (C&T) (LETA, 2003). O Brasil já pode contar com mais de meio milhão de mestres e cerca de 190 mil doutores (CGEE, 2012), o que demonstra a relevância de estudos nesta área. Segundo o cadastro da Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), há alguma desigualdade entre homens e mulheres no que diz respeito à proporção de mestres e doutores por sexo. Os homens são 46,14% com titulação de mestrado e as mulheres 53,86%, demonstrando uma branda maioria. Já para os doutores a proporção se inverte, eles são a maioria: 53,64%; e elas representam 46,36% (CNPq, 2012).

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De acordo com Leta et al. (2006) e Olinto (2011), o distanciamento entre os homens e as mulheres na ciência vai além da titulação. É um processo que envolve diversos incentivos que beneficiam os homens: a promoção, a obtenção de bolsas de estudo, a ocupação de cargos de chefia ou liderança, os nomeados para a Academia Brasileira de Ciências, assim como os ganhos salariais. Em relação à distribuição de homens e mulheres em atividade de pesquisa e ensino na ciência brasileira por grande área do conhecimento, conforme a Tabela 1 há maior participação das mulheres com titulação de mestrado nas áreas de Ciências Humanas, Ciências da Saúde e Ciências Sociais Aplicadas. Com a titulação de doutorado, acentua-se a participação delas em áreas consideradas femininas, como Ciências Humanas, da Saúde e Biológicas. Entre os homens (Tabela 2), as áreas de Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Exatas e da Terra e Ciências Humanas concentram os que possuem titulação de mestrado. Com titulação de doutorado, as áreas consideradas masculinas são confirmadas: Ciências Exatas e da Terra e Engenharias. No entanto, as Ciências Humanas também se apresentam como a terceira de maior representatividade. Embora haja barreiras de gênero para as mulheres no cenário científico, houve aumento da participação delas na C&T brasileira. Isto é fruto de mais estudantes do sexo feminino nos cursos de graduação e nos programas de pós-graduação (LETA, 2003). Tabela 1 – Distribuição de mulheres (mestras e doutoras) em atividade de pesquisa e ensino na ciência nacional, segundo grande área do conhecimento, Brasil, 2013. Área do conhecimento Ciências Agrárias Ciências Biológicas Ciências da Saúde Ciências Exatas e da Terra Ciências Humanas Ciências Sociais Aplicadas Engenharias Linguística, Letras e Artes Não informado Total

Mestras Nº % 2.048 5,11 3.808 9,51 7.654 19,11 2.914 7,28 8.534 21,31 5.982 14,94 1.088 2,72 3.419 8,54 4.596 11,48 40.043 100

Fonte: CNPq, 2012. Elaborado pelos autores.

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Doutoras Nº % 3.785 8,1 7.422 15,89 8.364 17,91 4.572 9,79 9.071 19,42 4.014 8,59 2.259 4,84 3.829 8,2 3.386 7,25 46.702 100

Total Nº 5.833 11.230 16.018 7.486 17.605 9.996 3.347 7.248 7.982 86.745

% 6,72 12,95 18,47 8,63 20,30 11,52 3,86 8,36 9,20 100

Tabela 2 - Distribuição de homens (mestres e doutores) em atividade de pesquisa e ensino na ciência nacional, segundo grande área do conhecimento, Brasil, 2013. Área do conhecimento Ciências Agrárias Ciências Biológicas Ciências da Saúde Ciências Exatas e da Terra Ciências Humanas Ciências Sociais Aplicadas Engenharias Linguística, Letras e Artes Não informado Total

Mestres Nº % 2.199 6,41 2.334 6,8 3.827 11,16 5.348 15,59 4.993 14,55 6.757 19,7 3.414 9,95 1.504 4,38 3.929 11,45 34.305 100

Doutores Nº % 6.275 11,61 5.469 10,12 6.737 12,47 10.001 18,51 6.963 12,89 5.589 10,34 7.200 13,32 2.114 3,91 3.690 6,83 54.038 100

Total Nº 8.474 7.803 10.564 15.349 11.956 12.346 10.614 3.618 7.619 88.343

% 9,59 8,83 11,96 17,37 13,53 13,98 12,01 4,10 8,62 100

Fonte: CNPq, 2012. Elaborado pelos autores.

METODOLOGIA Inicialmente, com o propósito de apresentar um panorama nacional atualizado sobre os pesquisadores, foram levantados dados gerais a partir dos currículos cadastrados na Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Especificamente, a população estudada compreendeu 712 profissionais com o cargo “Pesquisador Científico” que atuam em instituições públicas de pesquisa, das quais abrangem 6 institutos e 15 polos regionais de pesquisa científica e tecnológica do estado de São Paulo inseridos no contexto do agronegócio. A instituição “A” se dedica ao melhoramento genético de plantas agrícolas e aos pacotes tecnológicos que envolvem essas espécies, incluindo estudos de solo, clima, pragas e doenças e segurança e eficiência na aplicação de agrotóxicos. A instituição “B”, através das ciências biológicas, atua nas áreas de sanidade animal e vegetal, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população e a preservação do meio ambiente. A instituição “C” dedica-se à pesquisa, inovação, assistência tecnológica e difusão do conhecimento nas áreas de alimentos, bebidas e embalagens. As suas atividades são orientadas à prospecção e desenvolvimento de processos e produtos inovadores, à análise de tendências de produção e consumo e à avaliação e garantia da segurança de produtos alimentícios. 6

A instituição “D” desenvolve projetos nas áreas de pesca e aquicultura, visando à obtenção e transferência de novos conhecimentos e de tecnologias destinadas à melhoria do agronegócio do pescado e da qualidade ambiental. A instituição “E” atua na área econômica para o agronegócio e foi a primeira instituição a sistematizar estudos sobre economia agrícola no Brasil. A instituição “F” realiza pesquisas científicas nas áreas de produção animal e pastagens, buscando a integração entre a lavoura, pecuária e floresta. Algumas ênfases de suas pesquisas são: melhoramento genético de bovinos de corte; produção animal a pasto; genética e reprodução; produção e qualidade de carne e leite. A instituição “X” coordena 15 polos regionais, a partir de uma visão multidisciplinar focada em cada região paulista, contemplando as principais cadeias de produção do agronegócio local. Os dados agrupados de todas instituições foram obtidos a partir do centro de recursos humanos da unidade gestora das instituições de pesquisa. A coleta ocorreu de fevereiro a setembro de 2013, mediante autorização dos gestores. Posteriormente, foi construído um banco de dados com os atributos dos pesquisadores. Os atributos considerados na abordagem demográfico-organizacional foram: idade, fecundidade, nupcialidade, escolaridade, nível do cargo, ano de admissão, ocupação de cargo de direção e sexo. As técnicas estatísticas descritivas utilizaram gráficos, tabelas e indicadores demográficos adaptados à demografia organizacional, como a Pirâmide Populacional, Razão de Sexo e Índice de Envelhecimento. Não foram identificados estudos que se propusessem a construir um Índice de Envelhecimento adaptado à demografia organizacional. Desta forma, para construir o índice de acordo com a realidade dos pesquisadores científicos foram observados estudos (CARVALHO, 2006; COCCIA; ROLFO, 2009; CGEE, 2012) que se referissem à idade dessa categoria profissional; atentando-se ao pesquisador considerado jovem e aquele considerado de idade avançada. Com base nestas fontes, considerou-se o tempo de formação de um pesquisador científico para propor a idade para pesquisadores envelhecidos e a idade para pesquisadores jovens. No Brasil, um jovem estudante conclui um curso de bacharelado (4 anos ou 5 anos para engenheiros), geralmente, aos 22 anos. Concomitantemente, um pesquisador científico

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altamente qualificado cursa mestrado e doutorado levando pelo menos mais 5 anos para concluí-los. Nas instituições não havia profissionais com idade inferior a 29 anos. Assim, os dados foram extraídos e agrupados de acordo com os grupos etários necessários para o cálculo do Índice de Envelhecimento1, ou seja, a população menor que 40 anos de idade e a população de 55 anos e mais de idade. O indicador adaptado é dado pela seguinte equação: ndice de En elhecimento

P P

0

Onde: P55 é o número de pesquisadores científicos com 55 anos e mais de idade; P40 é o número de pesquisadores com menos de 40 anos de idade. Dessa forma, quanto mais alto o índice mais envelhecida é a população.

ANÁLISE DOS DADOS Dados gerais Na Tabela 3 observa-se que a instituição “X” é a mais representati a (18 pesquisadores). Essa, por sua vez, compreende 15 polos regionais distribuídos no estado de São Paulo. A segunda instituição de pesquisa mais representati a é a “A” (16 ), seguida pela “B” (108), “C” (93), “D” (67), “E” ( 3) e, por fim, a “F” ( 2). “X” e “A” representam 9% dos pesquisadores que compuseram este estudo. Há uma branda maioria de pesquisadores científicos do sexo feminino (51,7%) em relação ao sexo masculino (48,31%). Entretanto, são identificados cenários de predominância masculina e outros de predominância feminina. Dos 93 pesquisadores da instituição “C”, por exemplo, as mulheres são 69,89% desse total. Em relação aos 164 pesquisadores da instituição “A”, 9,76% são do sexo masculino. A área de atuação das instituições mencionadas justifica o percentual apresentado, pois a “C” atua na área de alimentos da qual existem carreiras predominantemente femininas, como engenharia de alimentos e biologia; enquanto a “A” atua diretamente com a agronomia,

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Geralmente, para o cálculo do Índice de Envelhecimento, são consideradas jovens as pessoas com idade inferior a 15 anos e consideradas idosas as pessoas com mais de 65 anos em países desenvolvidos e aquelas com idade de 60 anos em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil (CLOSS; SCHWANKE, 2012).

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das quais são carreiras predominantemente masculinas a engenharia agrícola e/ou agronômica2. Tabela 3 – Distribuição da população de pesquisadores científicos das instituições públicas de pesquisa do estado de São Paulo, segundo instituição de pesquisa e sexo, Brasil, 2013. Unidade X A B C D E F Total

Masculino Nº % 100 54,05 98 59,76 41 37,96 28 30,11 38 56,72 21 39,62 18 42,86 344 48,31

Feminino Nº % 85 45,95 66 40,24 67 62,04 65 69,89 29 43,28 32 60,38 24 57,14 368 51,69

Nº 185 164 108 93 67 53 42 712

Total % Acumulado % 25,98 26 23,03 49 15,17 64,2 13,06 77,3 9,41 86,7 7,44 94,1 5,9 100 100 -

Fonte: Departamento de Recursos Humanos da unidade gestora das instituições, 2013. Elaborado pelos autores.

No que diz respeito à escolaridade, observa-se que os pesquisadores científicos são altamente

qualificados.

Aqueles

com

elevado

nível

acadêmico

compreendem

aproximadamente 80% da população (Doutorado e Pós-Doutorado). Em nível intermediário (Mestrado) há 20,9%. Existem, também, pesquisadores com baixa titulação (Graduação – 6,46% e Especialização – 1,69%). Entretanto, há forte discrepância em relação à titulação acadêmica dos pesquisadores em distintas instituições. A instituição “A” re elou-se como a mais escolarizada, pois os pesquisadores com nível de Doutorado e Pós-Doutorado, juntos, são cerca de 90% dos pesquisadores. A instituição “E”, por outro lado, mostrou-se com a maior proporção de pesquisadores de menor escolaridade; seus pesquisadores com nível de Doutorado e PósDoutorado não chegam a 25%. A maior concentração dos pesquisadores desta instituição está no nível Mestrado (41,51%) e no nível mais baixo (Graduação), com 30% dos pesquisadores. Nas instituições, existe a possibilidade de receber promoções na carreira ao longo do tempo e ascender níveis no cargo3. Os pesquisadores com os níveis mais altos (V e VI) são a grande maioria: nível V – 19,8%; nível VI – 46,07%. Existe um baixo percentual de

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Para levantar informações sobre as carreiras predominantemente masculinas ou femininas utilizou-se como base a avaliação socioeconômica (inscritos e matriculados) nos vestibulares da FUVEST – Universidade de São Paulo e da COMVEST – Universidade Estadual de Campinas, nos períodos de 2000-2013. 3 O nível do cargo é expresso em números romanos, de modo crescente: I, II, III, IV, V e VI. Assim, o nível I refere-se ao mais baixo da carreira, enquanto o nível VI ao mais alto.

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profissionais em início de carreira, isto é, com nível I (1,83%) e II (5,48%). No nível IV estão 46,07% dos pesquisadores e no nível III 11,66%. Os pesquisadores podem vir a ocupar cargos de direção em caráter titular ou de substituição. Foram considerados os 6 cargos de diretoria existentes nas instituições para pesquisadores científicos, que vão desde o nível mais baixo da hierarquia organizacional (Assistentes de Direção), média hierarquia (Chefe de Seção Técnica, Diretor Técnico de Serviço, Diretor Técnico de Divisão), passam pela alta hierarquia (Diretor Técnico de Departamento) e chegam ao topo (Coordenador). Dos 712 investigados, 18,82% ocupam alguma diretoria em caráter titular.

Distribuição etária A idade média dos pesquisadores é de 50,55 anos. Os profissionais concentram-se na faixa etária 40-59 anos. Há mais pesquisadores acima de 65 anos (aproximadamente 5%) que pesquisadores jovens abaixo de 34 anos (2,39%). Em geral, há um percentual considerável de pesquisadores envelhecidos (>60 anos): aproximadamente 18%. Para fins de comparação, 11,7% da população do estado de São Paulo possui mais de 60 anos (IBGE, 2012a). Um indicador frequentemente utilizado nos estudos demográficos é o Índice de Envelhecimento (razão entre a população idosa e a população jovem), uma vez que possibilita monitorar o processo de envelhecimento da população. Esse indicador foi adaptado à demografia organizacional e permitiu a este estudo identificar a instituição mais envelhecida frente às demais. A Figura 1 indica a instituição “E” como a mais en elhecida e a “X” como a mais jovem. Figura 1 – Índice de envelhecimento das instituições públicas de pesquisa do estado de São

IE = (> 55 anos) / (
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