A ECONOMIA CIRCULAR PARA EVITAR A EXAUSTÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO PLANETA TERRA

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A ECONOMIA CIRCULAR PARA EVITAR A EXAUSTÃO DOS RECURSOS NATURAIS DO PLANETA TERRA Fernando Alcoforado* Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor. O ritmo atual de consumo é uma ameaça para a prosperidade futura da humanidade. Nos últimos 45 anos, a demanda pelos recursos naturais do planeta dobrou, devido à elevação do padrão de vida nos países ricos e emergentes e ao aumento da população mundial. Hoje a humanidade utiliza 50% da água doce do planeta. Em 40 anos utilizará 80%. Nos últimos dois séculos a extração dos recursos minerais tornou-se mais intensa, retirando volumes cada vez maiores da natureza. A preocupação é que a maioria desses recursos não é renovável, ou seja, não são repostos pela natureza. Se o ritmo de extração continuar como está, a humanidade certamente verá alguns minérios extinguir-se. Com base em reservas existentes hoje, determinados recursos minerais já possuem uma possível data para se esgotar, dentre eles podemos citar o ouro, o estanho, o níquel e o petróleo. Tradicionalmente, os processos de produção se caracterizam pela utilização de recursos naturais (matéria prima) na fabricação de produtos para o consumo humano cujos resíduos resultantes são levados para um aterro sanitário. Esta dinâmica operacional que pode ser denominada como Economia Linear, que está apresentada na Figura 1 abaixo, tende a contribuir para a continuada exaustão dos recursos naturais do planeta. Figura 1- Economia Linear Recursos Naturais (Matéria Prima)

Disposição Final Fabricação de Produtos

Consumo Humano

Resíduos Sólidos

(Aterro Sanitário)

Diferentemente do modelo de Economia Linear, a Economia Circular se preocupa com o desenvolvimento sustentável ao buscar a eficiência na fabricação de produtos e ao reaproveitar os resíduos sólidos contribuindo, desta forma, no sentido de evitar a exaustão dos recursos naturais do planeta. A Economia Circular tem como conceito transformar os resíduos em insumos para a produção de novos produtos. Assim como na natureza, na qual os restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para as plantas fechando o ciclo, peças de eletrodomésticos usadas podem ser reprocessadas e reintegradas à cadeia de produção. Um dos principais conceitos da Economia Circular é o Cradle to Cradle (do Berço ao Berço), que defende que a inovação é o caminho para transformar os resíduos de uma cadeia produtiva em componentes e materiais para outra. Outros conceitos são importantes para entender a Economia Circular. Um deles é o Biomimetismo, que estuda os processos da natureza e os aplica para solucionar problemas, ou seja, trata-se de imitar a natureza para resolver desafios humanos. Outro conceito importante é a Ecologia Industrial, que atrelado ao Biomimetismo e ao Cradle to Cradle, visa a criação

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de processos de ciclo fechado, desenhando sistemas de produção adaptados aos ecossistemas locais. Na Figura 2, pode-se constatar que, na Economia Circular, os recursos naturais, que são utilizados como matérias primas primárias no processo de fabricação, se transformam em produtos que vão para o consumo humano gerando resíduos sólidos que, após sua transformação em matéria prima secundária, são usados na fabricação de produtos e, assim sucessivamente. Figura 2- Economia Circular

A Figura 3 mostra as alternativas da dinâmica do processo de Economia Circular da Extração ao Consumo contemplando a reciclagem, remodelação, reparação e reutilização de um resíduo até a sua disposição final. Figura 3- Economia Circular

De acordo com a Ellen MacArtur Foundation, essa nova forma de pensar as cadeias produtivas traz benefícios micro e macro econômicos, além de estimular a inovação. Os 2

produtos e materiais passam a ser desenvolvidos para que voltem à cadeia de produção. Com isso, a extração de matéria-prima diminui e os recursos naturais que entram no ciclo produtivo são utilizados por mais tempo, preservando o meio ambiente. A necessidade de reciclar e reaproveitar materiais promove o desenvolvimento de novas relações entre as empresas, que passam a ser também fornecedoras e consumidoras de materiais que serão reincorporados ao ciclo produtivo (Nat.Genius. Economia Circular. Publicado no website ). Para aprimorar e expandir a experiência de fechamento de ciclo é imprescindível que consumidores, empresas de varejo, indústrias e governo entendam seu papel nesse processo. Isso significa também mudar a forma de criar e de utilizar os produtos: eles não serão mais consumidos e descartados, mas utilizados e transformados em novos produtos. A logística reversa é uma forma de romper com a Economia Linear, onde a matéria-prima é extraída, transformada em produtos e descartada após o uso. A logística reversa é a área da logística que trata do retorno de produtos, embalagens ou materiais ao seu centro produtivo, conforme está apresentada na Figura 4 abaixo A logística reversa no processo de reciclagem faz com que os materiais retornem a diferentes centros produtivos em forma de matéria prima. Atividades da administração da logística reversa preveem o reaproveitamento e remoção de refugo e a administração de devoluções. Com uma economia circular, onde tudo pode ser reaproveitado, é possível reduzir a extração de matéria-prima e o descarte de resíduos no meio ambiente.

Figura 4- Logística reversa

Adotar os princípios de Economia Circular é fundamental devido à necessidade do ser humano aproveitar melhor seus recursos naturais para evitar seu esgotamento futuro e não causar tantos impactos negativos ao meio ambiente. Para atingir seus objetivos, a Economia Circular se preocupa basicamente com os seguintes temas: 1) Concepção de produtos utilizando materiais facilmente recicláveis e não perigosos; 2) Leis ambientais que estimulem o setor; 3) Reintrodução dos resíduos sólidos à cadeia produtiva; e, 4) Tratamento e reaproveitamento dos resíduos. Inúmeras universidades na Europa já oferecem graduação em Economia Circular como é o caso da Alemanha que forma 3

mestres e doutores em Economia Circular, também conhecida como Economia do Lixo (Portal Resíduos Sólidos. Economia Circular. Publicado no website < http://www.portalresiduossolidos.com/economia-circular/>). O Instituto Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público informa que, em 2012, cerca de 62 milhões de toneladas de resíduos sólidos foram produzidos no Brasil. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, apenas 2% desse material retornam à cadeia produtiva. Os resíduos que não são reciclados acabam em lixões (17,8%), aterros controlados (24,2%) e aterros sanitários (58%). O não reaproveitamento dos resíduos sólidos custa ao país R$ 8 bilhões por ano. Segundo relatório da Ellen MacArthur Foundation – organização sem fins lucrativos que estuda e estimula a adoção da economia circular –, 65 bilhões de toneladas de matéria-prima foram inseridas no sistema produtivo do mundo todo em 2010. Projeções do instituto indicam que até 2020, a quantidade subirá para 82 bilhões de toneladas por ano (Instituto Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público. Sustentabilidade: Resíduos sólidos: Economia Circular: Novo negócio: Embraco. Publicado no website ). Nat. Genius informa que a implantação da Economia Circular não é uma tarefa que envolve somente as empresas. É necessário que todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto entendam seu papel nesse novo modelo. Em um mundo onde as relações de produção e comércio são cada vez mais globalizadas, a necessidade de disseminar o conceito de Economia Circular se faz cada vez mais presente e em larga escala, incluindo a população consumidora. A disseminação do conceito de Economia Circular tem ocorrido em vários países. Entre eles, a China, onde a Economia Circular faz parte da Lei de Promoção da Produção Limpa, promulgada em 2002. Entre as medidas de conscientização da população estão a rotulagem ecológica de produtos, a difusão de informações sobre questões ambientais nos veículos de comunicação e os cursos de Produção Limpa oferecidos pelas instituições de ensino, que têm o objetivo de formar profissionais familiarizados com a Economia Circular (Nat.Genius. Economia Circular. Publicado no website ). Nat. Genius informa ainda que, no Brasil, foi implantada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei de 2010, que visa garantir a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, operação reversa e o acordo setorial. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos prevê que todos os agentes do ciclo produtivo, os consumidores e os serviços públicos tenham atribuições para minimizar o volume de resíduos sólidos e seus impactos ambientais. * Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do

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Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).

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