A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

December 6, 2017 | Autor: Jenifer Borges | Categoria: N/A
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A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL


As crianças de zero a seis anos apresentam-se como sujeitos que
possuem características e necessidades que são singulares quando comparadas
com outras categorias etárias.
Há, certamente, uma intencionalidade educativa em todas as ações
docentes na educação infantil e na educação física. Nas interações que
estabelecem com as crianças, os adultos mais experientes que atuam em
instituições educativas, precisam captar os saberes que os/as pequenos/as
possuem suas necessidades e interesses e precisam estabelecer mediações que
ampliem o repertório cultural das crianças nas quais o "conhecimento
cognitivo" é um dos elementos que perpassam as interações e não, sua razão
última.
A vivência em espaços coletivos com outras crianças e adultos
possibilita aos meninos e meninas e mesmo aos adultos, a ampliação de seus
conhecimentos em inúmeras dimensões como a ética, estética, corporal,
mimética, sensível, oral, escrita, artística, rítmica entre outras. Por
estas razões, a brincadeira, sendo concebida como eixo principal do
trabalho e como linguagem característica das crianças pequenas, perpassa
todos os momentos do trabalho pedagógico e não deve ser utilizada de
maneira funcionalista, como uma atividade que "serve para alguma coisa pré-
definida". É preciso encarar que, para as crianças pequenas, a brincadeira
serve, simplesmente, para que a ela brinque.
Neste caso, a compartimentação do tempo nas instituições educativas
para a infância em momentos nos quais o único espaço para a brincadeira é o
momento do parque é algo que limita drasticamente a capacidade criadora das
crianças e impede que o direito fundamental que elas possuem de brincar
fique restrito unicamente às intenções do/a professor/a.
O tempo de infância é o tempo do lúdico no qual a atividade determina
o tempo e não, o tempo determina a atividade. Sendo assim, a educação
física organizada como a "hora de...", assim como as disciplinas escolares,
não tem sentido para as crianças pequenas que pensam, agem e sentem como
uma totalidade complexa. A disciplina como organização racional de
conteúdos fragmenta, tanto o conhecimento, quanto o sujeito-criança.
O planejamento, registro de atividades e avaliação precisam,
necessariamente, serem elaborados de tal forma que a integração entre os/as
profissionais que atuam, ofereça cada vez mais visibilidade às produções
das crianças. Planejar, neste caso, é somar, integrar ações. Avaliar, não é
emitir juízos de valor sobre o que as crianças conseguiram realizar ou não.
Avaliar é refazer constantemente o trabalho a partir da observação e do
registro daquilo que os meninos e as meninas desenvolvem, considerando seu
envolvimento nas situações, as trocas que estabelecem e as novas
necessidades que produzem.
As atividades de planejamento, registro e avaliação se conceberem a
criança como um ser integral, completo, não podem ficar compartimentadas em
domínios estanques (afetivos, psicomotores, cognitivos, etc...), pois as
crianças quando brincam e se movimentam, o fazem com sua totalidade e não,
a partir de um domínio.
O respeito à diversidade cultural dos meninos e meninas leva-nos a
perceber que há diferentes formas de se movimentar e que estas linguagens
de movimento expressas pelas crianças, quando em interação umas com as
outras, contribuem para a produção da cultura infantil alicerçada em
valores como a criatividade, a ludicidade e a alegria.
A cultura infantil expressa as histórias de vida das crianças, suas
origens sócio-culturais, o pertencimento a diferentes classes sociais,
gênero, credo religioso e etnia. Estas singularidades oportunizam ao/a
professor/a um conhecimento maior das crianças que, quando interagem entre
si, conhecem outras culturas, se reconhecem como classe e podem
paulatinamente se conscientizarem em torno da luta pela igualdade de
oportunidades. Da mesma forma, as questões de gênero podem se constituir em
traços importantes de reconhecimento das identidades das crianças pois,
desde muito cedo, as crianças vão incorporando regras, valores, normas,
crenças que refletem os papéis sociais de gênero.
Em relação a isto, faz sentido destacar que a educação física
tradicionalmente vem pautando-se em um modelo sexista de organizar as ações
pedagógicas. Tanto na escola como no esporte que se realiza dentro ou fora
dela, as diferenças entre os sexos são marcadas por seu viés biologicista,
no qual as mulheres são enquadradas como as mais frágeis e os homens, os
mais fortes. Esta crença vai determinando o que cabe ao homem ou a mulher
na educação física escolar e no esporte que acontece fora da escola.
As crianças pequenas vão se identificando pouco a pouco com os papéis
de gênero e, nós, profissionais precisamos estar atentos para possibilitar
que as relações que se estabelecem entre os meninos e as meninas, assim
como meninos-meninos e meninas-meninas, sejam relações cada vez mais
solidárias, nas quais as diferenças não se constituam na exclusão de uns e
outros. A complementaridade dos papéis sexuais é uma questão ética que, na
condição de profissionais, precisamos encarar desde a infância.
Assim como as questões de gênero, as de etnia e crença religiosa
também não devem reforçar estereotipias ou preconceitos. No caso das
diferentes crenças religiosas, é papel do professor/a estimular as crianças
à vivência de múltiplas experiências de movimento. Entretanto, é preciso
ter respeito pelas opções religiosas que as famílias empreendem e que,
certamente, afetam as crianças. Em muitos casos, as crianças são impedidas
de realizarem suas experiências de movimento em função de suas crenças.
Isto não pode ser motivo para a exclusão da criança de seu grupo de
convivência nas instituições educativas.
Quanto ao respeito às diferenças, algumas experiências desenvolvidas
atualmente e que pretendemos recuperar com os/as participantes nos grupos
de discussão no ano de 2000, são significativas neste sentido, porque
consideram a criança como sujeito de múltiplas linguagens e se propõem a
ampliar o repertório cultural das mesmas, possibilitando que se movimentem,
brinquem, joguem, dancem e recriem ritmos e brincadeiras a partir das
interações com outras crianças e com os adultos mais próximos. Estas
experiências precisam ser sistematicamente recuperadas, sistematizadas e
divulgadas para que se possa formar um banco de dados da produção na área,
alargando assim a visão de infância, de criança e de educação física.

A especificidade da educação física na educação infantil

Numa perspectiva de educação infantil que considera a criança como
sujeito social que possui múltiplas dimensões e que estas, precisam ser
evidenciadas nos espaços educativos voltados para a infância, as atividades
ou os objetos de trabalho não deveriam ser compartimentados em funções e/ou
profissionais. A questão não está no fato de vários profissionais atuarem
no currículo da educação infantil. O problema está nas concepções de
trabalho pedagógico destes/as profissionais que, geralmente, fragmentam as
funções de uns e outros, isolando-se em seus próprios campos.
Em projetos de trabalho coletivos na educação infantil: brincadeira,
interação e linguagens são formas privilegiadas de manifestação das
culturas infantis. Neste caso, é necessário que todos/as que atuam com as
crianças pequenas incorporem estas formas de manifestação e programem
atividades de forma a ampliar estes referenciais com as crianças.
Brincar de diferentes formas; construir brinquedos; brincar em
diferentes espaços; utilizar objetos culturais durantes as brincadeiras
alterando-os pela imaginação ou pela ação transformadora em brinquedos;
favorecer a imaginação e a criação de múltiplas formas de brincar; discutir
as regras das brincadeiras e a ocupação dos espaços; alternar
constantemente os espaços onde as crianças brincam; favorecer a linguagem
oral e expressiva durante as brincadeiras; exercitar a observação do espaço
onde as crianças circulam; recriar os espaços para a brincadeira, são
algumas formas possíveis de inclusão das dimensões humanas no trabalho
pedagógico que consideram as especificidades da infância.
Interagir com as outras crianças do grupo, com os adultos, com
crianças de outros grupos etários, com as famílias, com a comunidade
circundante da creche ou NEI, significa considerar que aquilo que
diferencia os seres humanos de outras espécies, é a sua infinita capacidade
de produção de cultura que se dá pelas interações. Quanto às crianças
pequenas, é a interação com outros sujeitos humanos que lhes possibilita
"serem humanos".
Manifestar-se através de diferentes linguagens significa permitir e
reconhecer que a oralidade, a escrita, o desenho, a dramatização, a música,
a mímica, o toque, a dança, a brincadeira, o jogo, as inúmeras formas de
movimentos corporais, são todas elas expressão das crianças que não podem
ficar limitadas a um segundo plano. Em nossa cultura, a escrita tem ocupado
um espaço considerável nas intervenções educativas em detrimento de outras
linguagens que também são manifestações humanas.

Bibliografia:
SAYÃO, D. T. Infância, Educação Física e Educação Infantil. Trabalho
de assessoria realizado junto à Secretaria Municipal de Educação de
Florianópolis. 2000.
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