A educação Romana: A revolução cultural do séc. II a.C.

August 29, 2017 | Autor: T. Ferreira | Categoria: Roman History, Greek and Roman School and Education, Cultural Revolution, Roman Archaeology
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AS INFLUÊNCIAS GREGAS NA EDUCAÇÃO DE ROMA A REVOLUÇÃO CULTURAL DO SÉC. II A.C.

Tiago Josué Garcês Ferreira Unidade Curricular de História da Educação - FLUP

Porto, fevereiro de 2015

Tiago Josué Garcês Ferreira

Índice Resumo/Abstract……………………………………………………………………3 Introdução……………………………………………………………………………4

Dos primórdios da educação romana até ao Séc. III a.C. …………..…5-7 Perspetiva histórica do séc. II e III a.C………………………………………...8-9 Ideais Educacionais Gregos e Romanos…………………………………...10-12 A Revolução Cultural do Séc. II a.C. e a sua influência na educação romana…………………………………….13-17 Conclusão…………………………………………………………………………..18

Bibliografia………………………………………………………………………….19

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As influências gregas na educação de Roma: a revolução cultural do Séc. II a.C.

Resumo A Civilização Romana é, sem qualquer dúvida, uma marca do nosso passado, presente e futuro. No entanto, o povo Romano nem sempre caminhou sozinho ao longo das dezenas de séculos em que formou a sua civilização. Neste trabalho iremos tentar mostrar uma perspetiva histórica da forma como a revolução cultural de Roma, no século II a.C., se proporcionou, com especial cerne na história da educação e na influência grega durante todo este período. Palavras-chave: Educação; Civilização Romana; Revolução Cultural

Abstract The Roman Civilization is without any doubt a mark of our past, presente and future. However, the Roman people haven’t walked always alone along the dozens of centuries that formed its civilization. In this paper we will try to show a historical perspective of how the cultural revolution of Rome in the second century BC was provided, with special heart in the history of education and Greek influence throughout this period. Keywords: Education; Roman Civilization; Cultural Revolution

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Introdução O império romano é o maior legado que o Mundo Ocidental retém desde a antiguidade. Inúmeros são os conhecimentos que nos deixaram e ainda hoje, descobertas reveladas pela história e arqueologia não param de nos surpreender. Contudo, esse caminho de conhecimento e grandiosidade nem sempre foi feito sozinho. Com este trabalho, elaborado no âmbito da Unidade Curricular de História da Educação, lecionada pelo Professor Doutor Luís Alberto Alves, procuraremos abordar em que trâmites se deu a revolução cultural em Roma no Séc. II a.C., mais propriamente com a submissão de Cartago e a conversão de toda a Grécia numa província romana, ambas no ano de 146 a.C. Para analisarmos e percebermos a ínfima relação entre as questões de políticas externas, os conflitos militares e os impactos que surgiram na Educação de Roma, teremos também de ter a particular atenção ao que se passava a nível interno, mais propriamente as lutas sociais constantes e a dualidade de conflitos das massas – a plebe – e da classe da elite – os patrícios – não deixando de atentar no impacto que tive a criação de uma nova classe, tida como os “novos-ricos”, os equites. Os Séc. III e II a.C. marcam portanto uma fase crucial da história da Res Publica, principalmente se atentarmos da passagem de uma Roma que nos inícios do terceiro século contacta pela primeira vez de forma direta com as cidades da Magna Grécia (embora já tinham contato e influências de forma indireta) para, 150 anos depois, submeter todo o mediterrâneo e deste tornar-se senhora, senhora do Mare Nostrum. Como trabalho de História da Educação que é, iremos relacionar todo este vasto processo com as derradeiras alterações educacionais e analisá-las posteriormente, de forma a tentar perceber que influências/consequências tiveram no futuro romano até há época de Augusto, primeiro imperador de Roma e de todo o seu vasto território.

“A Grécia conquistada, conquistou por sua vez o seu selvagem vencedor e trouxe a civilização ao rude Lácio” – Horatius

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Dos primórdios da educação romana até ao Séc. III a.C. Para se falar de educação romana, da sua história e das suas ideias, não podemos senão lançar primeiro um breve panorama de como se proporcionava esta educação. Para isso, temos de perceber também que Roma, nem sempre foi a cidade expoente e magnânima que os programas e livros romanceados tanto nos habituaram. Na verdade, segundo Grimal1, nos seus 12 séculos de existência, esta atravessou várias fazes, desde a monarquia ao império, sem dispensar a república. Só a partir da imposição da Res Publica é que se vão começar a notar algumas melhoras significativas a nível de cultura e educação, tendo a partir do Séc. III. a.C. atingido um patamar “desejável”2. Mas afinal como era a educação em Roma até ao terceiro século antes da nossa era? Antes do período expansionista do povo Romano, já desconsiderando o período monárquico, ou seja, entre os Séc. VI e III a.C., a educação romana era relativamente diminuta e empobrecida. Numa altura em que a verdadeira civilização ainda dava os primeiros passos, a casa romana, onde os jovens eram maioritariamente educados, a par das escolas elementares - as ludi, já em período republicano mais tardio3, tinham uma limitação muito grande. Afinal, o sistema de ensino ainda era totalmente informalizado, apesar da realidade de ensino já enraizada4. Ensinava-se portanto a ler, escrever e a fazer contas, aliado a um estudo altamente alicerçado na Lei das XII Tábuas – a partir de 549 a.C 5, embora sem nunca esquecer o enunciado oral, sempre como tradição passada à memória6. Após esta instrução basilar, os filhos dos patrícios romanos mais importantes, instruíam-se nas questões da guerra, dos campos e da política, esta última assistindo às reuniões senatoriais7. A educação era portanto um treino muito mais físico e moral, do que intelectual, dado fundamentalmente pelo pai, que tinha total liberdade e direitos sobre o filho – patria polestas – ou em falta deste, pelo homem mais velho, sábio e influente

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GRIMAL, Pierre - A vida em Roma na Antiguidade. Lisboa: Publicações Europa-América. p. 11 HUBERT, René - A história da Pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957 3 De facto, há mitos romanos que datam a existência de escolas logo nos inícios da república. No seu livro Roman Education (p. 8), Wilkins conta-nos exatamente isso. Wilkins diz-nos ainda que pelo facto de escritores e poetas, ao longo de vários séculos, como Plutarco, terem referencias ao próprio Rómulo e Remo terem ido à escola, aquando a época de fundação da cidade de Roma, mostra-nos o quanto devemos considerar e examinar bem estes “mitos” antes de os adotarmos como verdade. 4 Robert Kraster, no seu artigo Scholarship (p.492), diz-nos mesmo que, ao referir-se a “escolas”, está a referir-se a “pequenos números de pessoas que se instruíam em pequenos e limitados ‘nichos’. 5 GRIMAL, Pierre - A civilização Romana. Trad. Isabel St. Aubyn. Lisboa: Edições 70, 2009 p.37 6 GRIMAL - A civilização Romana. p. 152. 7 HUBERT - A história da Pedagogia. 2

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que fosse próximo à família. Numa educação tão direcionada para a família e para as qualidades morais com o objetivo de tornar a criança num homem de estado – mos maiorum – a mãe também tinha o seu papel. Há uma grande diferença no papel da mulher romana e da grega (a nível familiar sobretudo); a fórmula usada no casamento durante os tempos de república expressam-no bem: ubi tu Gaius, ebo Gaia, que traduzido poderá dizer-se que, onde o homem é mestre, a mulher também mandará 8 . Isto aplicar-se-ia também à educação, pois apesar de a mulher estar naturalmente encarregue da educação da filha, que era completamente diferente da dos homens, esta também tinha um papel importante na formação da criança. Quanto à criação das primeiras escolas romanas, é difícil dizer. Sabemos que na Roma dos Reis já se ensinava ao espelho da transmissão de ideais, gestos rituais e todas as técnicas necessárias ao uso da agricultura e manejo das armas, mas é a arqueologia que nos dá a evidência sobre isso: a Tavoletta della Marsiliana (img.1) é uma tabuleta de marfim, datável de 670 a 640 a.C. e possuidora de um abecedário etrusco – que se sabe terem sido intermediários do primeiro contato entre Roma e Grécia e por esta terem sido influenciados, principalmente no que toca a religião, linguagem e mitologia (muito devido ao comércio), embora a cultura de um povo para o outro tenha “viajado” só num sentido 9 – é uma clara evidência do modelo educacional da época, servindo para exercícios de escrita sobre cera.

Img 1: Tabuleta de Marsiliana

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WILKINS, A.S - Roman Education. London: Cambridge University Press, 1914 WHITMARSH, Tim - Helenism, in BARCHIESI, Allesandro (Ed.); SCHEIDEL, Walter - The Oxford Handbook of Roman Studies. New York: Oxford University Press, 2010 p.728 9

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Durante estas fases não existiu portanto grandes alterações no ramo da educação. Só a partir do Séc. III a.C., mais propriamente nas datas de 295 e 272. A primeira marca o controlo de Roma sobre toda a região central italiana após o culminar das guerras contra os Samnitas10 e portanto, o primeiro contacto direto das cidades submetidas ao poder romano e as colónias da Magna Grécia11. Já 272 a.C. marca a entrada destas cidades para a confederação Romana o que tornou todas estas aliadas de Roma e assim promoveu um contacto muito maior entre as duas culturas12. Contudo, segundo Grimal, já no Séc. IV a.C. os gregos começavam a ter especial atenção a Roma e viam-na como uma potencial aliada para derrota dos itálicos do interior, bem como é bastante provável que já no Séc. VI a.C. os romanos tivessem enviado oficialmente confiados para se aconselharem com o oráculo de Delfos13. No entanto, não querendo ignorar o facto da cultura grega ter estado em contacto com a romana desde ainda muito cedo, segundo Whitmarsh “nunca houve um tempo em que a Grécia estivesse fora do alcance Romano (…) seja pelas cidades fundadas na Sicília e no sul de Itália no séc. VIII a.C., seja pelo contacto que mantinham com os etruscos” 14.

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GRIMAL - A civilização Romana. p.38 Desde o Séc. VIII que, devido a vários fatores que a este tema não dizem particular respeito, colonos gregos fundaram várias cidades na Sicília e centro/sul italiano, denominado a Península Itálica como Magna Grécia 12 GRIMAL - A civilização Romana. pp.40,41 13 GRIMAL - A Civilização Romana. p.39 14 WHITMARSH - Op. Cit.. p. 728 11

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Perspetiva histórica do séc. II e III a.C. Como já havíamos referido algumas vezes, para se perceber as transformações, temos sobretudo de perceber o porque delas. A história diz-nos que grandes acontecimentos nunca vêm só, principalmente quando são caminhos históricos tão profundos e de extensão secular. O terceiro século antes da nossa era marca profundamente o mundo romano, marca a afirmação de Roma não só a nível externo, mas também a nível interno. São períodos que têm tanto de perturbador como de fascinante e que apesar de terem maior relevância para o tema que aqui estudamos a partir dos inícios do séc. III a.C., estes começam bastante antes, primeiro com a queda de Tarquínio, o Soberbo, nos finais do séc. VI e depois já com na fase republicana, a guerra do Lácio contra os Latinos, em 449 a.C15. Estas duas datas em particular são os marcos cronológicos que necessitamos para perceber os posteriores acontecimentos que levarão à revolução cultural do séc. II antes da nossa era. O primeiro significa a queda definitiva da monarquia e a instauração da Res Publica. Já a segunda refere-se à primeira tentativa de conquista territorial romana, a começar nas suas imediações regionais e o tiro de partida definitivo para a passagem de uma simples cidade-estado, centro de rotas comerciais, para o maior império que o mundo clássico já conheceu. Tentaremos então, enquadrar da forma mais sucinta e sintetizada os acontecimentos de maior importância da dualidade de conflitos e inquietações interna e externa entre os séculos terceiro e segundo antes da nossa era, para que se consiga entender o porque desta revolução cultural acontecer e as suas consequências no mundo romano e em especial, na educação. Como já foi referido, o ano de 272 a.C. marca a oficialização das cidades gregas como aliadas além da viragem definitiva de paradigma com Roma a não ter muito mais que conquistar “intramuros”. Começa assim em 264 antes da nossa era a primeira de três guerras púnicas que vão despoletar, a par do grande conflito externo, conflitos internos que teremos oportunidade de ver mas à frente. As três guerras púnicas, que embora não se tivessem dado em períodos completamente corridos, duraram entre 264 a 146, ou seja, mais de 100 anos de guerra – ou período de instabilidade e falsa paz. Estas guerras 15

GRIMAL - A Civilização Romana p.36

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tomaram proporções magnânimas para o mundo conhecido, tendo-se estendido desde a Península Ibérica, até grande parte da costa africana, ao mesmo tempo que, noutros palcos, os romanos não deixavam de intervir nas cidades orientais16. Após ter libertado toda a Grécia do jugo macedónio, Roma acaba por a submeter, poucos anos depois. Após subjugar a Macedónia, os romanos submeteram mesmo toda a Grécia, ambos reduzidos a mais uma província, no imenso mediterrâneo que controlavam quase na totalidade17. À medida que Roma aumentava o seu poder e o exercia sobre outros povos, parecia que a nível interno a situação só parecia piorar. Segundo Grimal, com a saída da segunda guerra púnica, “Roma saiu (…) desfeita, mas fortalecida de um prestígio extraordinário em todo o mundo mediterrânico” (2009, p.45). Quando se refere a “desfeita”, Grimal refere-se sobretudo aos campos que os pequenos proprietários se viram obrigados a deixar para ir combater. Ao mesmo tempo que isso acontecia, uma nova classe emergente conseguiu, passo a passo, adquirir grande parte deles a custo muito baixo. Isto teve duas consequências fundamentais para o que aqui vamos estudar. Uma é que os ricos estavam cada vez mais ricos, porque podiam alugar os campos aos pequenos proprietários num panorama pós-guerra; outro é o facto de aparecer em peso uma nova classe com cada vez mais poder de compra que tentará reivindicar direitos sociais – os equites. Com isto, entre 146 e 78 a.C., dois irmãos que foram eleitos tribunos da plebe, não em simultâneo mas um depois do outro, tentaram implementar uma data de reformas agrícolas com vista a resolver estes problemas, em defesa dos mais pobres, de forma a promover uma maior igualdade. Claramente estes tiveram opositores. Acabaram por nenhum conseguir impor as medidas que pretendia, devido ao grande poder de quem tomava as principais decisões 18 . No entanto, estas tentativas de reformas dos irmãos Graco tiveram repercussões que se manifestaram em dois grandes partidos. De um lado tínhamos os Populares, que pretendiam reformas e eram normalmente membros da plebe e do outro tínhamos os Optimates que eram favoráveis a políticas mais conservadoras e eram normalmente senadores ricos 19 . Este início de sedições, incentivados por um rol de posições e acontecimentos internos e externos, vão manter-se até 31 d.C., data da afirmação definitiva de Octaviano sobre Marco António e o marco histórico dos primeiros passos para um caminho sem retorno: a afirmação do Império Romano.

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GRIMAL - A civilização Romana. pp. 41-44 Id. pp.45-46 18 Id. p.47 19 Id. pp.48,49 17

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Ideais Educacionais Gregos e Romanos Os ideais que posteriormente irão convergir apresentam, como em quaisquer civilizações, diferenças significativas. Hoje em dia, apercebemo-nos da noção que os antigos gregos e romanos tinham disso, com os escritos que chegam até nós – principalmente com as memórias de Plutarco (46-120 d.C.). Mas na verdade, essas constatações já vinham de anteriormente, pelo menos deste o tempo de Políbio, também ele grego embora tenha vivido em período coincidente com as guerras púnicas.20 Os gregos, por volta do II Séc. a.C. consideravam que a educação deveria ser controlada por leis públicas, ou seja, pelo estado. Aqui encontramos a primeira grande diferença desta época: enquanto os teóricos gregos depositavam a sua fé numa sistemática criação e reformas de leis, de forma a gerir as matérias relevantes de política educativa, os romanos, por sua vez, usaram-se da experiencia e do “ir escolhendo pelo melhor” de forma a terem gradativamente efeitos permanentes e o enraizamento de melhores instituições – isto nas palavras de Políbio21. Como já havíamos referido, na educação romana, o pai tem e sempre teve um papel sem fim de autoridade na educação do filho e o estado não fazia questão de limitar isso, até porque cada família, com base na sua tradição e ancestralidade, tinha maneiras particulares de educar. Havia também indivíduos que se opunham às novas realidades da educação grega, principalmente porque, a educação romana, se tratava de algo com fundamentos em épocas que nem sequer existiam leis – fora as orais, daí a confusão causada a certos homens do estado, como Cícero (106-43 a.C.) que defendiam que as instituições romanas de ensino e os seus modelos eram completamente opositoras de qualquer sistema universal de ensino, obrigado e controlado por lei. Gwinn, em forma de nos transmitir o quão poderiam ser distantes estes ideais, compara mesmo Catão, o Velho a Plutarco, mesmo sendo de épocas tão distintas (e porque o grego escreveu sobre ele). Conta-nos então que, de um lado, o do Censor romano – já aqui citado como grande opositor da cultura helénica – tínhamos uma educação que dependia quase exclusivamente das tradições, da vida intima com a família e que assentava maioritariamente no seguimento de exemplo. Do outro, vemos um treino GWINN, Aubrey - Roman Education – From Cicero to Quintilian. England: Oxford University Press, 1926. p. 22 21 Polyb., vi. 10, 14; 4, 13; 9, 12 in GWINN - Aubrey. Roman Education – From Cicero to Quintilian. p.23 20

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sistemático da arte e do intelecto do indivíduo até atingir o seu máximo desenvolvimento, reforçado pelas leis do estado e submissão a estas. Até se formos comparar Esparta e Atena, as duas cidades gregas que aparentemente chocavam internamente a nível ideológico, tem bastante em comum face aos ideais de educação romanos. Pois vejamos, em Esparta os rapazes eram deixados com as mães até aos sete anos de idade, e a partir daí eram levados para academias onde iam aprender as duras e rudes normas da educação espartana, onde permaneciam até atingir a maioridade e poderem ir para o exército. Nessas academias, os rapazes cresciam juntos, comiam juntos, treinavam juntos, etc. sendo raras as vezes que estavam com o pai durante esse processo. Em Atenas, a mãe já não tinha qualquer tipo de influência na educação do filho, muito devido à sua condição limitada na sociedade e pelo serviço de escravos que se ocupavam desta função até a criança ter idade para frequentar a escola. Começando este estágio, fazia-se sentir a falta da educação da mãe, principalmente se a compararmos às matronas romanas. Já o pai, também não tinha uma grande presença. Com toda a dedicação à vida pública e ao sentido de dever de estado e/ou comercial, não lhe restava muito tempo para participar na educação do filho. Vê-se assim outra grande diferença entre a educação grega e romana, ou seja, para uns a educação era tida como um dever do estado e gerido por este a quase todos os níveis, desde a frequência aconselhável, o comportamento, o número de horas, etc. Já para outros, a educação assentava muito mais num dever privado, feita em casa e com base em tradições, num ambiente familiar intimista. Outra diferença considerável era o fato dos alunos gregos saberem mais do que o mínimo, ou seja, para além de escrever, ler e contar, exigia-se que a criança grega estudasse música, os épicos e exercitasse o corpo, mas a maior diferença seria, provavelmente, o aparecimento de escolas e mestres. Repare-se que Aquiles, o herói épico da Ilíada era pupilo de Phoenix e já aqui, em pleno séc. VIII a.C. se constata uma forte relação de intimidade entre os dois. Embora não se consiga determinar a origem das primeiras escolas, as primeiras leis que as regulamentavam são atribuídas a Drácon e Sólon22, embora se acredite que as primeiras escolas sejam datáveis pelo menos do séc. VI antes da nossa era.

Repare-se Drácon foi o primeiro grego a legislar leis, ao estilo da possível “imitação” romana da Lei das XII tábuas. Sólon, posteriormente, aprofundou e reformou estas leis, ou seja, estas leis escritas não impedem que houvesse já uma “legislação” oral anterior que regulamentasse a educação ideal dos jovens atenienses. 22

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Para datarmos as escolas romanas, teremos mais dificuldade. Quase como complemento ao que já falamos em cima, poderemos agora levantar e esmiuçar aquilo que, propositadamente, deixamos no ar no fim do primeiro ponto (pag.5). Segundo os épicos e lendas nacionais, as escolas remontam à formação da cidade: segundo Plutarco, Rómulo e Remo frequentaram a escola em Gabii, perto de Roma. Temos ainda a existência de mais umas quantas lendas, algumas escritas já em período imperial, que referem a ida à escola nas fases iniciais da cidade e ao longo dos primeiros séculos. A dúvida resiste em saber se essas lendas e mitos são conseguidas com algum fundo de verdade histórico ou se não passam de um reflexo da educação e das condições sociais na época que foram escritos. Plutarco faz ainda referencia a uma escola em 235 a.C., esta com possibilidades de veridicidade histórica maior, embora não conclusiva. Segundo o próprio, nesta data os mestres ainda dependiam da generosidade dos seus pupilos (e dos seus pais naturalmente), o que nos leva à existência de mestres que dependiam da generosidade dos seus clientes como forma de pagamento. Neste ponto entramos noutra diferença de ideal, numa fase onde começam a surgir os primeiros tutores, da distinção entre ser mestre em Roma ou em Atenas, por exemplo. Enquanto o mestre na Grécia era tido como um “homem sábio” que detinha o máximo respeito pelos seus pupilos e um alto padrão social, em Roma, principalmente no período posterior à submissão da Grécia, o mestre era claramente menos afortunado e não era digno de quase nenhumas regalias. Na verdade, a maioria dos grandes mestres de literatura e retórica recordados pelos mais célebres biógrafos romanos eram escravos ou libertos. Contudo, há exceções à regra, como poderemos ver mais à frente, onde as embaixadas de filósofos e a grande afluência da língua grega teve uma grande preponderância23. Até a forma como se encaravam os escravos letrados sofreu grande influência entre a época de Cato até aos inícios do Império. Nesta fase inicial, os escravos eram tratados como isso mesmo, e até os professores livres não tinham qualquer condição social adequada, vivendo, a maioria deles, em situação de pobreza durante toda a vida. Numa fase já quase imperial, a partir do séc. I a.C., estes escravos eram de enorme importância e valor, sendo comprados pelas famílias patrícias mais abastadas, chegando mesmo, em casos singulares, a deter grande relevância e poder nas decisões dos seus amos, como nos referencia Júlio César na sua obra De Bello Gallico.

Para grande parte deste tópico usamo-nos da obra Roman Education – From Cicero to Quintilian. pp. 22-33. 23

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A Revolução Cultural do Séc. II a.C. e a sua influência na educação romana Como já aqui foi por nós exposto, as conquistas militares culminadas em 146 a.C. tornaram a Res Publica a maior e mais poderosa potência do mundo conhecido. Para além do grande poderio militar, altamente profissionalizado e com uma educação, até há bem pouco tempo, totalmente vocacionada para família, tradição e vida militar, após a hegemonia sobre o mediterrâneo – o agora mare nostrum – e a nova realidade da Grécia como província romana, dá-se o início da aculturação romana24. Não obstante do nosso conhecimento histórico quanto à influência – direta – do povo grego em Roma, já desde o séc. III a.C., é nesta altura, a partir de 146 antes da nossa era, que se notará uma profunda mudança das estruturas da república e na própria mentalidade das populações25. A educação deverá ter sofrido das principais reformas aquando a chegada dos gregos, em época coincidente com o início das guerras púnicas, muito devido às exigências comerciais, administrativas e diplomáticas que cada vez mais se faziam sentir. Os primeiros gregos a chegar a Roma devem datar do ano de 272 a.C. – lembre-se que é a data que marca a entrada das cidades da Magna Grécia na confederação romana. Pelo menos, os primeiros gregos letrados26 e a dominar o latim, datam dessa altura. Apesar disso, Grimal afirma com alguma segurança que a língua cultural em Roma era o grego, ou seja, muitos dos professores e libertos letrados chegados à já na altura cidade mais importante do mundo, impuseram a sua língua, alguns mesmo chegando a recusar aprender o latim o que levou a que a prosa literária latina tenha nascido bastante depois de ter começado a poesia nacional (2010 p.154). A nível de educação, os pupilos eram ensinados muitas das vezes numa língua que não era a sua, o que levou os romanos a serem a primeira civilização a basearem a sua educação numa língua estrangeira, algo incrível que só podemos encontrar nos tempos modernos. Com uma inicial abordagem, A pluralidade de vezes que aqui já enunciámos sobre os inícios da influência Grega em Roma – direta e indireta – deve-se à grande dificuldade histórica de fixar uma cronologia. Segundo Wilkins (p.18) é mesmo impossível datar a primeira infiltração da cultura grega em território romano. 25 Segundo Grimal, em A civilização Romana (p. 154) algumas famílias de tradição mais rústica opuseram resistência à invasão do pensamento grego. Mas até Catão, o censor (234-149 a.C.) o maior opositor do movimento helenístico, sabia ler, escrever e até falar grego, o que mostra a resistência de desespero por uma pequena parte da população, que não tardou a deixar-se convencer. 26 Falamos aqui de um grego em particular, de seu nome Livius Andronicus, chegado a Roma proveniente de Tarento, no sul italiano. Além de professor de latim e grego, foi o primeiro a traduzir obras como a Odisseia para latim, e o grande responsável pela introdução de vários clássicos gregos no modelo escolar romano. 24

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logo com a chegada dos primeiros gregos, a ensinar-se a língua para fins absolutamente comerciais e quotidianos, passou-se com o tempo para o estudo de obras e de desenvolvimento de pensamento, em grego27. Puseram-se portanto em prática costumes trazidos da Grécia como a leitura e pensamento dos grandes épicos como as epopeias de Homero que para os Gregos eram, segundo Kitto a “base da educação grega, tanto na educação oficial das escolas, como da vida cultural dos cidadãos comuns (…) criou-se uma espécie de fundamentalismo: Homero encerrava toda a sabedoria e todo o conhecimento”28. Isto levou também a que vários grammatici quisessem tratar a língua latina como a grega, daí aparecerem os primeiros épicos traduzidos para latim (a Odisseia), ainda em meios do séc. III a.C. enquanto outros foram só foram traduzidos muito mais tarde (por exemplo a Ilíada) em tempos de Sula, nos inícios do Séc. I antes da nossa era. A chegada dos gregos originou também a chegada do debate entre as várias escolas que distinguiam os mais brilhantes conhecedores dessa área do saber. Também isso influenciou a educação romana enquanto esta dava os primeiros passos a caminho da escola pública. A crítica e o pensamento abstrato caracteristicamente grego – nesta altura principalmente entre as correntes básicas do estudo da linguagem, os Anomalistas e os Analogistas29. Em poucos anos, o estilo e vocabulário latino evoluiu de tal maneira que era “capaz de rivalizar com a dos historiadores e filósofos helénicos” (Grimal 2009 p. 154-5), estando já na altura de Cícero (106-43 a.C) a um nível de maturidade notável. A esta evolução deve-se muito, como nos refere Gwuinn pelas palavras de Suetónio, o incentivo ao interesse na literatura critica e na gramática, datada a partir de 168 a.C.30 Sem dúvida que o estudo da literatura, a grammar, era mais do que suficiente instrução para a maioria dos jovens. No entanto, já por esta altura, o ensino da retórica e filosofia começa a ser uma realidade, principalmente para aqueles que aspiravam uma elevada posição social. Pensa-se que este nível de instrução “superior” começou a ser lecionado durante o primeiro quartel do séc. II a.C., muito devido a um decreto do senado em 161 a.C. que bania os philosophi et rhetores Latini da cidade de Roma (contudo sem

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WILKINS - Roman Education. p.20 KITTO. H. D. F - Os Gregos. Trad. José Castro. Coimbra: Arménio Amado, 1970 pp.76-77 29 Este tido de correntes e contra-correntes e sistemáticas oposições de várias ordens, proporcionou um avanço significativo na produção escrita em língua latina, deixando esta de se limitar aos relatos jurídicos e passando também à filosofia e história, apoiando-se cada vez mais nas conquistas conseguidas por Roma. 30 GWINN, Aubrey - Roman Education – From Cicero to Quintilian. pp. 36-37. 28

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grande efeito). Mesmo assim, chega-nos a informação que o primeiro discente – a admitir publicamente a aprendizagem destas matérias - data de cerca de 140 a.C. A partir daí surgem-nos vários seguidores entre os quais Cícero, um dos maiores adeptos da cultura e educação grega, que vai abrir muitas das portas que Catão insistiu em deixar fechadas. Esta retórica que previa a organização das ideias, o arranjo de argumentos e a escolha das palavras, elevou o discurso romano para outro nível tal como a estrutura e flexibilidade do Latim. Por esta altura aparecem também os professores de retórica latinos, que eram sempre descredibilizados em relação aos gregos por quererem ensinar aquilo que “deviam aprender”. A posição do senado romano perante isto era tal que em 92 a.C. este fechou todas as escolas de retórica lecionadas por latinos, devido à má educação e superficialidade dos conteúdos lecionados. Outro problema nesta altura era o facto de, como já dissemos em cima, haver dois tipos de educação. Pensamos que se pode considerar como educação elementar a grammar e como superior as escolas de filosofia e retórica. Até aí tudo bem, se as escolas inferiores não começassem a procurar uma sobreposição de instrução e uma imbricação às escolas superiores, o que levou Quintiliano, a principal figura da educação romana no período imperial, a considerar que o ensino de retórica e filosofia tinha sido introduzido demasiado cedo, devido à extensiva aculturação a que Roma tinha sido exposta em tão pouco tempo. Esta nova escola de educação teve ainda outra repercussão na vida romana. Citando as palavras de Wilkins, devido à supremacia demonstrada por quem era assim educado nos campos jurídicos e nos discursos públicos, denota-se uma grande fissura – quase desleal – entre esta educação e a educação da maioria das pessoas – incluindo as massas, em cronologia mais avançada. Segundo o próprio “a educação primordial era limitada e diminuta, mas ao menos era igual para todos; a nova educação era um privilégio de classe”. 31 Antes de avançarmos, vale a pena levantar a questão se nesta altura toda a gente tinha direito a educação. Sabemos que no império, logo desde cedo com Augusto, o sistema imperial usa-se da educação pública – por todo o império – como forma de romanização e que a plebe (hoje em dia pode equiparar-se à classe média e baixa) não a desperdiçava. No entanto, na bibliografia encontrada, não obtivemos resposta concreta face a isto. Há no entanto uma referência a isso no livro de caráter mais generalista História da Vida Privada “Seria a alfabetização um privilégio da classe elevada? Três certezas decorrem nos papiros do Egipto: havia iletrados que escreviam pela mão de 31

Em todo o parágrafo: WILKINS - Roman Education. pp. 24-28.

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outros; havia pessoas do povo que sabiam escrever; existiam textos e obras nos mais modestos bairros (…) um antigo escravo orgulha-se de saber ler as maiúsculas (…) havia nas cidades de nos burgos professores que ensinam os rudimentos da escrita”32. Sabemos que parte do que está citado refere-se ao período imperial, no entanto, não conseguimos garantir desde quando e até que ponto a plebe tinha algum tipo de instrução e educação. Gwinn diz-nos também que se fossemos a Roma em meados do séc. II a.C. seriam poucos os que não saberiam pelo menos ler e escrever.33 Quanto ao exercício físico, sabemos que também ele sofrerá uma nova filosofia e forma como era encarado a partir da chegada da cultura grega. Na primitiva educação romana – quase como em espartana – o exercício físico era feito com um único objetivo: preparar e melhorar os homens para a arte da guerra através de corrida, natação, etc. sem nunca dispensar uma atenção especial ao que se comia e bebia. Temos também conhecimento de vários jogos para crianças como o atiro do dardo, jogos com bolas e casualmente uma ou outra caçada, geralmente a pé (possivelmente já numa fase préadulta). Já em Atenas, a gymnasia era feita com o objetivo de atingir a perfeição física e de relação corpo-mente. Escusado será dizer que um pouco por toda a Grécia, enquanto os Jogos Olímpicos existiram, havia uma motivação extra dos participantes em conseguir fazer o melhor nas várias modalidades. Para os romanos, este tipo de treino – que consideravam como diversões – ia bastante em contra e criava até alguma confusão. Como é que seria de compreender, nesta fase de introdução da cultura grega, que alguém passasse meses ou anos e tentar aperfeiçoar a sua forma física só no sentido de a ter?! Repare-se que até no tempo de Cícero, onde havia já alguma abertura aos ideais gregos, considerava-se que a dedicação ao exercício à moda grega poderia levar ao ócio e ao pior tipo de imortalidade.34 Esta rejeição era tanta que não se registam tentativas de imitar os festivais gregos em Roma até ao tempo de Nero (imperador de 54 a 68 d.C.) o que nos reflete o quão difícil foi a introdução destes ideais em Roma. Outro complemento grego para a educação dos pupilos era a dança e a música – podemos incluir também as escolas para atores. A dança parece ter suscitado uma dualidade de emoções assim que a foi introduzida: por um lado uma grande aceitação,

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PAUL, Veyne - O império Romano. In ARIÈS, PHILIPPE; DUBY, Georges (dir.) - História da Vida Privada (Trad. Carvalho Homem) Edições Afrontamento, 1989 p.33 33 GWINN, Aubrey - Roman Education – From Cicero to Quintilian. p. 51. 34

WILKINS – Roman Education. p.31-32.

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por outro uma enorme rejeição. A dança era vista por alguns como um aspeto feminino e muitas das vezes eram assim insultadas as pessoas que a aprendiam e exibiam publicamente. Os relatos pejorativos eram de tal forma que se evocavam personalidades que haviam contribuído para o sucesso de Roma em discursos como se eles próprios ali presenciassem, a mostrar pena e lamento pelo que a sua cidade se estava a tornar. A verdade é que estas escolas existiam e havia profissionais para o serviço. Parece que, contra várias expectativas mas com a conquista eminente de alguns – principalmente das massas – estes gregos conseguiram levantar essas atividades a partir de meros divertimentos, e dar-lhes um lugar reconhecido na educação regular.35 A música por sua vez não teve particular tipo de opinião discordante pelo povo romano, mas também não parece ter tido um grande papel na educação dos meninos ou meninas. Muitas das vezes usava-se dela para se escreverem hinos ou recitar poesia, originalmente de maneira grega, é claro. Mas na maioria dos casos não parece haver uma generalidade de patrícios a saber tocar instrumentos, na maioria dos casos quando era necessária a atuação de algum grupo musical fosse qual fosse a razão, essa tarefa destinava-se aos escravos, libertos ou estrangeiros, outra prova da sua pouca importância e relevância na educação romana.36 Se tivermos de atribuir a alguém a responsabilidade da afirmação e criação da nova cultura Graeco-Romana certamente teremos três grandes personagens principais. São eles: Catão, o Censor que limitou a chegada e o enraizamento dos métodos gregos e fez prevalecer os ensinamentos pelo mos maiorum; Emílio Paulo, conquistador de Perseu da Macedónia foi também um grande devoto à educação dos filhos e dele mesmo, tendo contratado serviços de mestres de todas as áreas da oratória e ainda de desporto, moldagem e desenho – todos gregos – conjugando-o na perfeição, segundo Plutarco, com o modelo primitivo romano. O greco-romano ideal; Cícero é também uma grande figura neste trama. Ele próprio adepto da educação e cultura grega abriu portas aos filósofos e retóricos em Roma.

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Id. p. 34-35 Id. p. 35

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Conclusão

Roma foi uma grande cidade, dona de um grande território e mãe de milhões de pessoas. Neste trabalho vimos uma pequena parte de como as conquistas militares romanas e a agregação de civilizações muito distintas da sua, fruíram influência na sua história, cultura e ideologia. A cultura Greco-Romana não se manifesta só a nível educacional, mas sem dúvida que as mudanças ocorridas na educação foram das mais importantes – se não às mais importantes – de todo este processo. Tentamos neste pequeno trabalho transmitir uma noção da educação romana e da forma como se concebia nos primeiros tempos de forma a compara-la posteriormente com a recém-chegada cultura grega. Tivemos desde sempre noção, ao contrário de algumas fontes menos corretas que teimam em ter isso como garantido, que a cultura romana não foi completamente engolida pela grega, houve sim um processo de aculturação de onde surge um novo conjunto de ideias e pensamentos resultante da cedência e adoção dos costumes que o povo romano estava disposto a adotar, chegando mesmo a existir uma espécie de simbiose – em alguns casos – de ideologias dos dois povos. No entanto, há algo que deve ser referido. A educação romana é algo intrigante. A quantidade de informação é tanta e ao mesmo tempo tão pouca que muitos dos pontos fulcrais acabam por ser algo inconclusivos até para os maiores especialistas. Isto deve-se à falta de documentos históricos originais oriundos de vários períodos de tempo; Se o leitor observar com alguma atenção reparará com bastante facilidade que a grande maioria da informação relativa aos tempos mais remotos da república e da própria monarquia, são textos e fábulas de escritores, historiadores e biógrafos que viveram, em alguns casos, depois de 800 anos da época que transparecem para as palavras. Por muito que a arqueologia já tenha provado muito do que alguns dos autores dizem, o que lhes concede maior credibilidade e forro de verdade, não deixa de ser complicado basearmo-nos somente nisso. A educação romana continuará a evoluir e a transformar-se. Neste trabalho não fizemos mais do que umas breves referências à educação em períodos imperiais, muito devido ao balizamento cronológico a que nos propusemos. No entanto consideramos que as pequenas e breves notas ao longo do trabalho já permitem uma leviana noção de como evoluiu a educação em período imperial. 18

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Bibliografia

GRIMAL, Pierre - A civilização Romana. Trad. Isabel St. Aubyn. Lisboa: Edições 70, 2009; GRIMAL, Pierre - A vida em Roma na Antiguidade. Trad. Victor Jabouille; João Lourenço; Maria Pimentel. Lisboa: Publicações Europa-América, GWINN, Aubrey - Roman Education – From Cicero to Quintilian. England: Oxford University Press, 1926; HUBERT, René - A história da Pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1957; KITTO. H. D. F - Os Gregos. Trad. José Castro. Coimbra: Arménio Amado, 1970; KRASTER, Robert A. – Scholarship in BARCHIESI, Allesandro (Ed.); SCHEIDEL, Walter - The Oxford Handbook of Roman Studies. New York: Oxford University Press, 2010; PAUL, Veyne - O império Romano. In ARIÈS, PHILIPPE; DUBY, Georges (dir.) História da Vida Privada (Trad. Carvalho Homem) Edições Afrontamento, 1989; WHITMARSH, Tim - Helenism, in BARCHIESI, Allesandro (Ed.); SCHEIDEL, Walter - The Oxford Handbook of Roman Studies. New York: Oxford University Press, 2010; WILKINS, A.S - Roman Education. London: Cambridge University Press, 1914;

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