A FIGURA DO CIENTISTA NA VISÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL

October 7, 2017 | Autor: Bruno Cerqueira | Categoria: Education, Science Education, Ensino De Ciências
Share Embed


Descrição do Produto

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

A FIGURA DO CIENTISTA NA VISÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO FUNDAMENTAL Camila Martins (Universidade Federal de São Carlos - Mestranda) Bruno R. S. Cerqueira (Universidade de São Paulo - Mestrando) Caroline F. Bellani (Universidade de São Paulo - Doutoranda) Laís A. Romanholi (Universidade Federal de São Carlos - Bióloga) Thaiane A. Robeldo (Universidade Federal de São Carlos - Graduanda) Mariana Santos (Universidade Federal de São Carlos - Doutoranda)

RESUMO: A pesquisa investiga as concepções sobre a figura do cientista apresentadas por estudantes do Ensino Fundamental. Para isso, analisamos desenhos sobre cientistas que foram elaborados pelos alunos e, posteriormente, identificamos a influência e contribuição de uma visita a laboratórios de pesquisa. Nas ilustrações feitas antes da visita foram observados a presença de concepções generalizadas e características do senso comum. Com a visitação, novos elementos surgiram nos desenhos, evidenciando a relação estabelecida durante o contato dos alunos com os cientistas e seu ambiente de trabalho. Além disso, a visita e a conversa com os pesquisadores implicou na aproximação dos alunos com elementos mais reais da ciência, colaborando para uma visão científica mais adequada. Palavras-chave: concepção sobre o cientista; ensino fundamental; visita monitorada. 1. Introdução

Transitando pelos corredores escolares é comum ouvir-se dizer, por parte dos estudantes, que a Ciência é um conhecimento reservado a algumas pessoas portadoras de mentes privilegiadas, sendo que indivíduos considerados “normais” não teriam a mínima possibilidade de se tornarem cientista. Assim, compreender o que é ciência e para que serve, tornou-se fundamental para a atuação crítica dos indivíduos em qualquer questão relacionada aos impactos da relação ciência e sociedade (PATY, 1999; VÁZQUEZ ALONSO & MANASSERO MAS, 1999; PÉREZ et al, 2001; FERNÁNDEZ et al, 2002; REIS, RODRIGUES E SANTOS, 2006). Especificamente, a escola possui o papel de intermediar essa aproximação da população com a ciência, que durante vários anos foi e ainda é vista por grande parte da 1068

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

comunidade planetária, como algo perfeito e intocável, produzida por grandes mestres (PATY, 1999). É na escola que, em muitos casos, há o primeiro contato entre o conhecimento científico e a criança nas aulas de ciências, ocorrendo grande fluxo de troca de informações. Algumas concepções que os estudantes verbalizam no cotidiano escolar são bastante preocupantes, tais como: “Ciência é coisa para loucos”, “cientista é uma pessoa fora dos parâmetros de normalidade, porque se fosse ‘normal’ não seria cientista”, ou mesmo afirmações perigosas do tipo “algo comprovado cientificamente é totalmente seguro”. Ainda, adjetivos como infalível e neutra também são atribuídos à Ciência. A história da ciência vem como ferramenta para que o educador aproxime o educando da trajetória da humanidade até o conhecimento que se apresenta atualmente para ele, deixando-o mais à vontade ao experimentar e discutir a ciência. Essa contribuição é de extrema importância para que o sujeito possua ferramentas para acompanhar e intervir de forma coerente na evolução da ciência e na forma como ela se organiza, refletindo diretamente na organização da sociedade que a comporta. (DRIVER et al, 1999; ANGOTTI e AUTH, 2001; TEIXEIRA, 2003; GOULART, 2005). Pesquisadores da área de Percepção Pública da Ciência (BORGNA, 2001) procuraram identificar essa contradição entre os diferentes modos de ver a área científica: a maioria das pessoas não conhecem a ciência e o método científico e, consequentemente tem medo do que ela pode produzir. A modelagem da imagem de cientista pelos alunos seja ela de modo positivo ou de modo negativo, muitas vezes definirá a qual área estes seguirão profissionalmente. Essa ideia é reforçada por Reis, Rodrigues e Santos (2006), onde colocam que o professor deve proporcionar momentos para que o educando se liberte da visão deturpada de ciência e de cientista que é ofertada pelos diversos meios de informação e se aproxime cada vez mais da real produção científica, para que ele saiba que ciência não é somente feita em laboratórios por pessoas de jaleco com vidrarias e elementos coloridos nas mãos, como muitas vezes é repassado pela mídia através de filmes, desenhos, novelas, entre outros. O educando pode e deve participar da construção científica de um conhecimento, pois a ciência não serve apenas para descobrir coisas novas, mas também para revisar conhecimentos já adquiridos (TEIXEIRA, 2003).

1069

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

1.2. Imagem de cientistas entre estudantes

A imagem que os estudantes têm de cientistas muitas vezes reflete as concepções do professor de ciências ou da escola em que estuda, e o imaginário social; uma vez que esses recebem influências semelhantes às dos outros membros que compõem a sociedade, como seus pais, amigos e vizinhos (KOMINSKY e GIORDAN, 2002). Essa concepção do cientista é estruturada ao longo da vida do sujeito, que se depara com diversas imagens de cientistas e concepções de ciência, que variam de acordo com o meio de veiculação, sejam as aulas de ciências ou um filme de suspense (PECHULA, 2007). Algumas das vezes, os alunos caracterizam os cientistas como sendo: do sexo masculino, cabelo branco, sem vida social, longe da família, louco e que dependendo da pesquisa que faz pode trazer benefícios ou não para a sociedade (VÁZQUEZ ALONSO, A.; MANASSERO MAS, M. A, 1999). Outras vezes, o cientista é retratado como “maluco”, que é do sexo masculino, com ar brincalhão, faz explosões e cria máquinas malucas e monstros (REIS, RODRIGUES e SANTOS, 2006; REIS e GALVÃO, 2006). Em poucos casos os estudantes apresentaram uma visão crítica do trabalho científico, considerando a ciência uma produção de todos (REIS e GALVÃO, 2006). Independente dos aspectos físicos e psicológicos do cientista desenhado, ele é visto como uma figura necessária para a sociedade, pois realiza estudos e busca melhorar a qualidade de vida das pessoas com invenções novas (VÁZQUEZ ALONSO e MANASSERO MAS, 1999; FERNÁNDEZ et al, 2002; REIS, RODRIGUES e SANTOS, 2006; REIS e GALVÃO, 2006). Outro fato curioso é que no Brasil ainda não são grandes os estudos sobre as concepções de ciência e cientistas na educação básica, sendo encontrados artigos referentes apenas à forma como a ciência é divulgada nos meios de comunicação e as concepções dos estudantes no ensino médio. Diante desses referenciais teóricos o problema de pesquisa que norteou a investigação foi: Qual a percepção de estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Estadual de São Carlos, sobre a imagem do cientista e qual a influência de uma visita monitorada a espaços de trabalho desses profissionais?

1070

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

2. Objetivos

A pesquisa apresentou os seguintes objetivos: - Compreender a concepção prévia apresentada por estudantes do 7º ano do Ensino Fundamental II de escola estadual de São Carlos sobre a figura do cientista. - Identificar a influência e contribuição de uma visita monitorada à espaços de trabalho do cientista. - Analisar a relação entre as concepções apresentadas antes e após a visita, observando as potencialidades e dificuldades encontradas a partir dessa dinâmica.

3. Metodologia

O relato da pesquisa refere-se às atividades desenvolvidas durante a disciplina de Estágio Supervisionado em Ciências II do curso de Ciências Biológicas - Licenciatura Plena (UFSCar), envolvendo 20 estudantes de 12 a 14 anos (10 meninas e 10 meninos) do 7º ano do Ensino Fundamental II de uma escola estadual do município de São Carlos. A pesquisa foi realizada em uma perspectiva qualitativa, uma vez que a mesma garante aproximação entre os pesquisadores e o objeto de estudo, privilegiando o processo do desenvolvimento da pesquisa ao invés de apenas seu produto (LUDKE & ANDRÉ, 1986). Além disso, a concepção dos alunos relacionada com a dificuldade de identificar e controlar os inúmeros fatores que contribuem para essa relação justifica a utilização da abordagem qualitativa (MERRIAM, 1988). A pesquisa se configurou em duas etapas: a primeira referente à aplicação de um questionário prévio com as/os alunas/os participantes sobre percepção de cientistas por meio de representações de desenhos; a segunda se caracterizou pela realização de uma visita monitorada a três laboratório da Universidade Federal de São Carlos, sendo dois Laboratórios de Genética e um Laboratório/Museu de Paleontologia. Após a realização da visita, aplicamos um segundo questionário para analisar as percepções que as/os participantes apresentaram sobre o cientista após as visitas. Para complementação dos dados foram realizadas observações e anotações de campo durante a visita. Para a análise dos dados referentes às representações de cientistas por meio de desenhos, utilizamos a metodologia DAST (Draw-a-Scientist-Test), a qual foi desenvolvida por Chambers (1983) para determinar a percepção de estudantes sobre cientista. Essa metodologia envolve a construção de categorias e subcategorias dos desenhos de estudantes 1071

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

envolvendo os conceitos de aparência física, sinais, contextos, gêneros, equipamentos científicos e expressões faciais dos cientistas. No quadro abaixo apresentaremos a metodologia DAST (CHAMBERS,1983), a qual foi adaptada por Özel (2012):

Categorias

Características (subcategorias) Presença de jalecos, óculos, barba, bigode, Aparência física cabelo, máscara. Presença de equipamentos de pesquisa, tecnologia, frases científicas (fórmulas, Conhecimento científico classificação taxonômica, expressões, entre outros), livros, relatórios. Sinais de perigo Indícios de explosões. Sinais de sentimentos Feliz, triste, bravo, maluco, risonho, louco. Gênero Características femininas e/ou masculinas. Desenhos representam espaços fechados Localização (laboratório) e/ou abertos. Figura 1: Tabela com as categorias utilizadas por Özel (2012) para a metodologia DAST (CHAMBERS, 1983). 3.1. Descrição da intervenção

A visita foi planejada de forma que os alunos pudessem observar o local de trabalho de cientistas da Universidade Federal de São Carlos. Para isso, tivemos a participação de três laboratórios: Laboratório de Genética de Populações, Laboratório de Citogenética e Laboratório/Museu de Paleontologia. Para a realização da visita monitorada nesses laboratórios, os alunos foram divididos em quatro grupos aleatoriamente, de forma que cada grupo tivesse a oportunidade de conhecer um dos dois laboratórios de genética e o laboratório/museu de paleontologia. No Laboratório de Genética de Populações, os alunos foram recepcionados pelo professor responsável, o qual estava vestido com trajes informais (camiseta, bermuda e sandália). O mesmo explicou o trabalho de um cientista e o funcionamento de um laboratório. A visita foi guiada por alunos de graduação e pós-graduação do respectivo laboratório, sendo que dentre esses alunos existiam homens e mulheres, trajando roupas informais com exceção de uma aluna que estava usado jaleco branco. No Laboratório de Citogenética, os alunos foram recebidos e conduzidos pelo pesquisador e doutorando do laboratório, o qual estava vestido com jaleco branco. O mesmo

1072

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

explicou e mostrou todos os equipamentos e suas funções para a realização de pesquisas envolvendo genética. No Laboratório/Museu de Paleontologia, os alunos foram recepcionados e conduzidos pelo professor responsável, o qual estava vestido com trajes informais (camisa, calça e sapato). Este pesquisador discorreu sobre o trabalho de cientistas dessa área, além de mostrar materiais como fósseis, pegadas, animais preservados, rochas e ferramentas que são utilizadas para o estudo da paleontologia.

4. Resultados e Discussão 4.1. Análise das percepções prévias sobre cientistas apresentadas pela/os estudantes

Na primeira etapa da pesquisa foi solicitado que todos as/os alunas/os fizessem uma representação sobre a imagem do cientista por meio de desenhos, entretanto apenas 13 alunas/os realizaram a atividade. Com base na análise dos desenhos obtivemos cinco categorias utilizando a metodologia DAST (CHAMBERS, 1983): aparência física, conhecimentos científicos, sinais de sentimento, gênero e localização, as quais serão abordadas a seguir a partir dos gráficos.

Figura 2: Categorias sobre conhecimentos científicos e aparência física observadas na análise dos desenhos, antes da visita monitorada.

1073

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

Figura 3: Categorias sobre gênero, localização e sinais de sentimento presentes na análise dos desenhos, antes da visita monitorada. Com relação a primeira categoria analisada – “Aparência Física” – a maioria dos desenhos (6 representações) ilustraram o cientista como uma pessoa que usa jaleco, e em segundo lugar, os desenhos apresentaram uma predominância de cientistas utilizado óculos. Esses resultados foram obtidos por diversos pesquisadores, dentre eles, Özel (2012) quando comparou desenhos de crianças de vários níveis escolares. Uma das justificativas para a presença desse estereótipo nos desenhos dos estudantes é o fato dos textos, mídias e principalmente, os desenhos animados retratarem o cientista dessa maneira (MONHARDT, 2003 apud ÖZEL, 2012). A maioria não representou ilustrações referente a categoria “Conhecimentos Científicos”, como instrumentos de pesquisa, equipamentos de laboratórios, entre outros. Entretanto, identificamos a presença de expressões em dois desenhos, sendo elas: “O cientista 1074

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

se veste de branco dos pés a cabeça, faz pesquisas sobre as pessoas” e “Uma pessoa capaz de fazer sacrifícios para fazer a experiência dar certo”. Essas frases complementando o observado na categoria Aparência Física, uma vez que demonstra o estereótipo criado no imaginário dos alunos. Na categoria “Gênero” observamos que a maioria dos desenhos (11 representações) indicam o cientista como uma pessoa do sexo masculino, o que corrobora estudos feitos por (BULDU, 1996; CHAMBERS, 1983; FINSON, 2002), de que a mídia, textos e desenhos animados ilustram o cientista como sendo apenas do sexo masculino dando exemplos como Einstein e Newton. Em relação à categoria “Localização”, que simboliza o ambiente que o cientista estava presente nos desenhos, a maioria (8 representações) não ilustraram o ambiente que o cientista estava inserido (em local fechado ou aberto). Por fim, para a categoria “Sinais de Sentimento”, identificamos uma predominância de felicidade, tristeza e aparência de uma pessoa brava nos desenhos analisados. Esses dados são contrários aos apresentados por Özel (2012) e serão analisados em relação às percepções desses alunos após a visita aos laboratórios.

4.2. Análise das percepções sobre cientistas apresentadas pelas/os alunas/os após a realização da visita monitorada

Realizamos o mesmo procedimento anteriormente para categorizar as percepções que os estudantes apresentaram após a realização da visita, com o objetivo de analisar elementos novos que poderiam emergir a partir da intervenção realizada.

Figura 4: Categorias sobre conhecimentos científicos e aparência física observadas na análise dos desenhos, após a visita monitorada. 1075

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

Figura 5: Categorias sobre gênero, localização e sinais de sentimento presentes na análise dos desenhos, após a visita monitorada. O primeiro elemento que podemos destacar sobre a percepção dos alunos após a visita é o surgimento de duas representações para a categoria Aparência Física, sendo elas barba e bigode, uma vez que no questionário prévio esses elementos não estavam presentes, sugerindo que a visita proporcionou novas características para o cientista. Mesmo esses elementos fazendo parte de uma visão estereotipada do profissional da ciência, esses dados sugerem uma possível potencialidade desse tipo de atividade como contribuinte para a formação da percepção dos alunos. Em relação à categoria Gênero, observamos que a visão do cientista do sexo masculino ainda é predominante, e isso pode ser justificado devido ao fato da maioria dos pesquisadores e professores que orientaram a visita ser do sexo masculino. Sendo assim, esses dados corroborariam para o fato da visita ser uma importante estratégia para a formação de percepções. Essa lacuna observada na percepção dos alunos sugere a necessidade de 1076

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

discussões nas escolas sobre exemplos de cientistas mulheres, evitando o aparecimento de preconceito por gênero. Uma sugestão seria que os professores utilizassem mais exemplos de mulheres cientistas, permitindo que alunas tivessem mais interesse na área científica (ÖZEL, 2012). Quando observamos os dados referentes à categoria Conhecimentos Científicos, observamos um aumento na presença de expressões e frases com intuito de identificar o profissional que trabalha na área de genética com o cientista da área de paleontologia. Em relação à categoria Localização, observamos que nenhum desenho apresentou características de ambiente aberto ou fechado, uma hipótese dessa ausência de representação seria o fato dos alunos terem inserido outros elementos no desenho como categorias de aparência e de expressões para representar o cientista. Por fim, observamos uma alteração muito grande nas representações sobre os sinais de sentimentos, uma vez que todos os desenhos realizados após a visita ilustraram o cientista feliz. Contrapondo os resultados obtidos por Özel (2012) em que o cientista na visão dos alunos é uma pessoa brava e com aspectos “malucos”, os dados que apresentamos podem ser resultantes do contato com tais profissionais que contribuem para a visão normalizada da pessoa que trabalha com ciência.

5. Considerações finais

A presente investigação permitiu constatar as potencialidades da articulação de diferentes instrumentos de recolha de dados no diagnóstico das concepções dos alunos acerca do empreendimento científico. Por meio da presente investigação, sugere-se uma possível influência e a contribuição de uma visita a laboratórios científicos para a formação da percepção de cientista dos alunos. Essa sugestão é feita com base na comparação entre os dados obtidos dos desenhos dos alunos antes e depois à visita aos laboratórios de genética e de paleontologia: antes da visita,

as

concepções de características físicas dos cientistas que surgiram, como jaleco e óculos, bem como características de gênero, notadas pela predominância de concepções de cientista do sexo masculino, podem ser comparadas às que são habitualmente divulgadas pela mídia. Ainda antes da visita, os alunos também ilustraram concepções quanto aos Sinais de Sentimento de cientistas felizes e tristes (na mesma proporção), bravos e loucos, características as quais podem ser atribuídas às influências da mídia e do senso comum. Após a visita, surgiram novos elementos da categoria Aparência Física surgiram, como barba e 1077

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

bigode, as quais apesar de fazerem parte de uma visão estereotipada, eram características dos professores que receberam os alunos. Há também um aumento nas expressões e frases que identificam os professores universitários da área de genética e o da área de paleontologia. A diferença mais marcante que foi observada nos desenhos dos alunos antes e depois da visita foi na categoria Sinais de Sentimento, os quais após a visita ilustram o cientista com expressões típicas de felicidade. Ressalta-se que não os alunos não ilustraram mudanças quanto à concepção de gênero, uma vez que a maior parte dos cientistas presentes nos laboratórios durante a visita era do gênero masculino. Portanto, o contato dos alunos com os cientistas e seus respectivos laboratórios permitiu tanto a aproximação destes profissionais quanto da ciência à realidade dos alunos. Além da contribuição à visão humanizada de cientista, isto implica na aproximação dos alunos a real produção científica. Esta aproximação contribui para a formação de cidadãos críticos com relação à ciência, o que proporciona maior liberdade do aluno de julgamento dos conhecimentos científicos, visto que a partir deste ponto, eles não são mais inatingíveis ou irrefutáveis. Por fim, reforça-se o papel do professor como mediador entre os conhecimentos de “ciência e cientista” e o aluno, devendo ser o professor responsável pela construção dos conhecimentos de ciência através de atividades que aproximem essas informações à realidade do aluno para, enfim, contribuir para a formação de um cidadão crítico em relação à ciência. Como sugestão de pesquisas futuras, propõe-se uma posterior análise, complementa por entrevistas com os alunos, fundada na psicologia com base nas premissas Freudianas, de forma a permitir uma melhor compreensão dos elementos gráficos produzidos pelos alunos. Também sugere-se o mesmo estudo realizando visitas a laboratórios que tenham uma marcante presença feminina, para se trabalhar com a hipótese da influência da presença real de cientistas de ambos os gêneros nas concepções de cientista com preconceito de gênero. 6. Referência ANGOTTI, J. A. P.; AUTH, M. A. M. Ciência e Tecnologia: implicações sociais e o papel da educação. Ciência & Educação, Bauru, Volume 7, Número 1, 15-27, 2001. CHAMBERS, D. W. Stereotypic images of the scientist: The draw-a-scientist test. Science Education, 6, 255-265, 1983. DRIVER, R.; ASOKO, H.; LEACH, J.; SCOTT, P.; MORTIMER, E. Construindo conhecimento científico na sala de aula. Química Nova na Escola, São Paulo, Número 9, 3140, maio 1999. 1078

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014

V Enebio e II Erebio Regional 1

FERNÁNDEZ, I.; GIL, D.; CARRASCOSA, J.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Visiones deformadas de la ciencia transmitidas por la enseñanza. Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, Volume 20, Número 3, 477-488, mês 2002. GOULART, S. M. História da Ciência: elo da dimensão transdisciplinar na formação de professores de ciências. In: LIBÂNEO, J. C.; SANTOS, A.(Orgs.). Educação na era do conhecimento em rede e transdisciplinaridade. Campinas: Alínea, 2005; 203-213. KOMINSKY, L.; GIORDAN, M. Visões de ciências e sobre cientista entre estudantes do ensino médio. Química Nova na Escola, São Paulo, Número 15, 11-18, maio 2002. ÖZEL, M. Children’s images of scientists: Does grade level make a difference? Educational Science: Theory & Practice, 3187 – 3198 pp, 2012. PATY, M. Ciência, aquele obscuro objeto de pensamento e uso. Tempo Social, São Paulo, Volume 11, Número 1, 67-73, maio 1999. PÉREZ, D. G.; MONTORO, I. F.; ALÍS, J. C.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Para uma imagem não deformada do trabalho científico. Ciência & Educação, Bauru, Volume 7, Número 2, 125-153, 2001. PECHULA, M. R. A ciência nos meios de comunicação de massa: divulgação do conhecimento ou reforço do imaginário social? Ciência e Educação, Bauru, Volume 13, Número 2, 211-222, 2007. REIS, P.; RODRIGUES, S.; SANTOS, F. Concepções sobre os cientistas em alunos do 1º ciclo do Ensino Básico: “Poções, máquinas, monstros, invenções e outras coisas malucas”. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciências, Pontevedra, Volume 5, Número 1, 51-74, 2006. Disponível em: < http://www.saum.uvigo.es/reec/index.htm >. Acesso em: 18 setembro 2008. VÁZQUEZ ALONSO, A.; MANASSERO MAS, M. A. Características Del conocimiento científico: creencias de los estudiantes. Enseñanza de las Ciencias, Barcelona, Volume 17, Número 3, 377-395, 1999.

1079

SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.