A formação de redes horizontais à luz da Nova Economia Institucional: um estudo de caso

July 24, 2017 | Autor: Weimar Rocha | Categoria: Transaction Cost
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A formação de redes horizontais à luz da Nova Economia Institucional: um estudo de caso Carlos Alberto Gonçalves Júnior1 Yony Brugnolo Alves2 Weimar Freire da Rocha Jr.3 Jefferson Andronio Ramundo Staduto4

Resumo: O trabalho teve por objetivo identificar as principais motivações à organização de redes horizontais no setor de depósitos de materiais para construção à luz da Nova Economia Institucional - NEI. Para isso utilizou-se um estudo de caso de uma rede constituída na região Noroeste do Paraná. Constatou-se que a NEI explica apenas em parte a formação da rede horizontal em estudo e que aspectos como poder de barganha e diluição de despesas com marketing também são considerados fundamentais para o sucesso do empreendimento. Palavras-chave: NEI, Custos de Transação, Redes Horizontais, Poder de Barganha.

Abstract: This work had the objective of identifying the most important motivations to the organization of horizontal nets in the section of deposits of materials for construction to the light of the New Institutional Economy - NIE. For that it was used a study of case of a net constituted in the Northwest area of Paraná. It was verified that the NIE explains just partly the formation of the horizontal net in study and that aspects as the power of bargain and the dilution of expenses with marketing are also considered fundamental for the success of the enterprise. Key Words: New Institutional Economy, Transactions Costs, Horizontal nets, Power of bargain

Área III - Economia Industrial, da Tecnologia e dos Serviços no Paraná

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Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected] Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected] 3 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected] 4 Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Endereço eletrônico: [email protected] 2

1 – Introdução O setor de materiais para construção, segundo a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção – ANAMACO (2007), representou no ano de 2005 cerca de 4,6% do produto interno bruto brasileiro, dos quais aproximadamente 72% são lojas de pequeno e médio portes. O segmento como um todo é composto por 105 mil lojas em todo o país e 59% destas lojas empregam menos de 10 funcionários. Toda a cadeia da construção civil emprega 15 milhões de pessoas. De acordo com a ANAMACO (2007) aproximadamente 77% das unidades habitacionais construídas no Brasil são em regime de autogestão, ou seja, os próprios consumidores adquirem os produtos aos poucos e, com a ajuda de vizinhos ou terceirizando o serviço de um pedreiro constroem, reformam ou ampliam sua moradia, essa característica aproxima o consumidor das pequenas lojas de materiais para construção, daí a grande representatividade das pequenas lojas no setor. Face ao exposto, a importância do setor de materiais de construção para a economia brasileira passa a ser significativa, e também fica explícito seu perfil, composto em sua grande maioria por lojas de pequeno e médio portes que atendem uma grande proporção de pequenas construções auto-geridas. O perfil do setor incentiva a formação de redes horizontais entre depósitos, no intuito de reduzir custos de transação ou devido a essas lojas se relacionarem à montante com grandes indústrias fornecedoras, o que dá grandes vantagens de negociação para estes fornecedores. O artigo tem como objetivo principal identificar as principais causas ou motivações que levam esses depósitos a se organizarem em redes horizontais e como podem ser explicadas pela teoria da Nova Economia Institucional. Para isso foi feito um estudo de caso de uma rede da região Noroeste do Paraná, composta por 30 pequenas ou médias lojas. Nesse sentido, o trabalho dividiu-se, além desta introdução em mais cinco seções, as quais estão assim divididas: Na segunda seção foi desenvolvida uma revisão bibliográfica sobre a Nova Economia Institucional. A seguinte trata brevemente da teoria de redes horizontais. A quarta seção apresenta os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa, para em seguida tratar dos 2

resultados e discussões. Na sexta e última seção são desenvolvidas as considerações finais. 2 - A Nova Economia Institucional A chamada Nova Economia Institucional (NEI) surgiu na década de 1930, período economicamente conturbado pela grande crise de 1929. Nesse período alguns economistas contestaram a teoria marginalista, considerada o mainstream da época. Um dos principais críticos ao marginalismo e ao laissez-faire foi Keynes que defendia o Estado intervencionista. Porém, Keynes não é o único crítico à economia marginalista. A Nova Economia Institucional é resultado da contribuição nãoortodoxa de vários autores como Knight, Barnard, Commons e principalmente Ronald Coase, com seu artigo “The Nature of the firm”, no qual apresenta sua contribuição fundamental para a NEI, o novo conceito de firma ( Farina et al. 1997). Segundo Farina et al. 1997 para os ortodoxos marginalistas a firma é analisada apenas como uma função de produção, ou seja, uma unidade de transformação organizacionais

tecnológica ou

de

de

insumos

em

produtos,

relacionamento

com

clientes

todos e

os

aspectos

fornecedores

são

negligenciados. Assim, os custos considerados relevantes para a firma eram apenas os custos ligados diretamente ao processo produtivo. Para Coase (1993) a firma deixa de ser apenas uma função de produção e passa a ser analisada como um complexo de contratos, a montante e a jusante em que as instituições e as relações contratuais assumem grande importância. Além disso, a definição coasiana pressupõe existência de outros custos para as empresas além dos considerados pelos marginalistas, estes custos, chamados de custos de transação, são definidos como sendo: (1) custos de coleta de informações e (2) custos de negociação e estabelecimento de acordo entre as partes, porém esse conceito posteriormente foi ampliado. Williamson (1989) define custos

de transação como o custo de

administração do sistema econômico. Para explicar a existência dos custos de transação pode-se traçar um paralelo com a física. Os físicos para elaborar suas análises consideram a ausência de atrito, ou seja, o mundo sem fricção, os economistas neoclássicos também consideram as relações econômicas sem

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fricções, que podem ser denominadas custos de transação. Assim como o atrito está para a física, os custos de transação estão para a economia. Os custos de transação podem ser divididos em ex ante no qual se considera: a (1) redação, a (2) negociação e as (3) salvaguardas nos contratos e os ex post que são os: (1) custos de má adaptação às condições estabelecidas em contrato, (2) os custos de barganha quando se fazem esforços bilaterais para corrigir os maus alinhamentos ex post, (3) os custos de estabelecimento e administração associados às estruturas de governo (tribunais) onde se enviam as disputas, (4) custos para se fazer cumprir os compromissos assumidos. (WILLIAMSON, 1989) Outra contribuição de Coase para a Nova Economia Institucional foi quanto ao limite da firma. A questão é: Até onde uma firma deve expandir suas atividades? Qual é o limite da firma? Para Coase (1993) uma firma deve ter como parâmetro os custos de transação para definir seu limite, isto é, enquanto os custos de transação são menores para transações realizadas dentro da firma, esta deve expandir seus limites, quando os custos das transações realizadas internamente forem maiores do que se fossem realizadas externamente - serviços adquiridos de terceiros no mercado - é dado o limite da firma. Segundo Farina et al. (1997), a análise de Coase partia de duas formas abstratas de coordenação: mercado e firma. Esta definição de Coase é ampliada por Williamson (1989) na qual o autor inclui uma terceira estrutura de governança, além do mercado e da firma também considera formas híbridas. A amplitude da firma dependerá dos custos de transação. A firma internalizará seus contratos até o ponto onde o custo de dirimir os problemas contratuais for menor internamente do que externamente. Porém, não se pode considerar nenhuma das duas estruturas de governança – mercado ou firma – previamente, mais eficiente que a outra. A firma é mais eficiente por proporcionar maior controle, por parte do empresário, do processo produtivo, já o mercado pode ser mais eficiente na medida em que proporciona maior incentivo à produção. Williamson (1989) para a análise das organizações econômicas cria a figura do “homem contratual”, o qual é baseado em seus pressupostos comportamentais; nos atributos das transações que realiza e no grau em que recorre a tribunais para resolver as disputas. Os pressupostos comportamentais do homem contratual são a racionalidade limitada e o oportunismo. A racionalidade limitada, segundo Farina et al. (1997), não 4

se reduz ao custo de processamento e coleta de informações, mas também se refere à impossibilidade de se lidar com problemas complexos, mesmo que “informacionalmente”, bem estruturados. O oportunismo implica que as partes envolvidas em uma negociação podem aproveitar-se de uma renegociação, agindo aeticamente, e por conseqüência impondo perdas. Há duas formas de oportunismo que se distinguem temporalmente: oportunismo ex-ante – em que uma parte age aeticamente antes da transação e o oportunismo ex-post – em que o comportamento aético se verifica durante a vigência do contrato. Para a NEI a transação é a unidade básica de análise e define o conceito de transação

como

a

transformação

de

um

bem

ao

longo

de

interfaces

tecnologicamente separáveis. A identificação das dimensões das transações é essencial para a escolha da estrutura de governança que minimiza os custos de transação e conseqüentemente proporciona maior eficiência do sistema. Os principais atributos das transações são: (1) freqüência; (2) incerteza e (3) especificidade dos ativos (WILLIAMSON, 1996). A freqüência está relacionada com a regularidade com que os agentes econômicos se relacionam, ou seja, o número de vezes que os agentes realizam as transações. Quanto maior a freqüência com que os agentes se relacionam maior é o custo de se praticar uma ação oportunista, pois os ganhos esperados com as várias transações são maiores que o ganho esperado com a ação oportunista. A Incerteza relaciona-se com a imprevisibilidade das atitudes dos agentes, posteriormente ao firmamento dos contratos. Segundo Fiani (2002) a complexidade do ambiente econômico agrava o problema da incerteza e da racionalidade limitada. Esses três elementos – incerteza, complexidade e racionalidade limitada – geram a chamada assimetria de informações, que é a diferença nas informações que as partes envolvidas em uma transação possuem. De acordo com Farina et al. (1997) ativos específicos são aqueles que não são reempregáveis a não ser com perdas de valor. Os ativos específicos geram um valor maior quando aplicados na atividade de sua especificidade do que quando usados em atividades alternativas. Essa diferença é barganhada pelas partes envolvidas na transação. Williamson (1989) distingue quatro tipos de especificidade de ativos: (1) especificidade locacional – a localização de uma empresa pode significar redução 5

nos custos de armazenagem e localização; (2) especificidade de ativos físicos – que está relacionada à sua versatilidade em relação ao uso; (3) especificidade de ativos humanos – toda forma de capital humano específico a uma determinada atividade; (4) ativos dedicados – cujo retorno depende da transação com um agente particular. Posteriormente Williamson complementa sua análise com mais dois tipos de especificidades dos ativos: (5) especificidade de marca – se refere ao capital, nem humano nem físico, que se materializa na marca de uma empresa, está relacionado à reputação que a empresa tem no mercado; (6) especificidade temporal – quando o valor da transação depende, sobretudo do tempo em que ela se processa, limitando seu uso. A Nova Economia Institucional se desenvolve em duas correntes principais que têm o mesmo objeto de análise, os custos de transação, mas dão uma abordagem diferente. A primeira, também chamada de Economia dos Custos de Transação (ECT), tem como seu principal expoente Oliver Williamson e estuda o ambiente microinstitucional, o qual analisa como as diferentes organizações (jogadores) lidam com os custos de transação, implicando níveis distintos de eficiência. A segunda estuda o ambiente macroinstitucional, tem como principal colaborador Douglas North que estuda a influência das instituições (regras do jogo) no resultado econômico das organizações. Segundo North (1994) um conjunto de instituições políticas e econômicas que ofereça transações de baixo custo viabiliza a existência de mercados de produtos e fatores eficientes necessários ao crescimento econômico. As instituições são restrições construídas pelos seres humanos, que estruturam a interação social, econômica e política. Elas podem ser formais (leis e direitos de propriedade) ou informais (tabus, costumes, tradições e códigos de conduta). De acordo com Zylbersztajn (1995) as firmas não podem ser entendidas e estudadas, senão levando em consideração o ambiente institucional que as cercam. Mudanças no ambiente institucional funcionam como deslocadores do equilíbrio podendo induzir formas alternativas de governança. O ambiente institucional constitui o que alguns autores definem como as “regras do jogo”, que influenciam diretamente as atividades econômica, social e política que governam a base da produção, troca e distribuição. Segundo Farina (1999) o ambiente institucional, juntamente com o ambiente organizacional e tecnológico, influenciam o ambiente competitivo que por sua vez 6

influencia as estratégias individuais da empresa e o seu desempenho, isso significa que mudanças na legislação podem influenciar a forma de competição entre as empresas. Com a mudança nos padrões de competição as empresas adotam novas estratégias para melhorar sua eficiência e garantirem sua sobrevivência no novo ambiente competitivo. Uma dessas estratégias pode ser a coordenação horizontal através do cooperativismo e do associativismo. Essa relação acima citada acontece no curto prazo, no longo prazo o processo pode ser inverso, ou seja, as estratégias da empresa alteram o ambiente competitivo que afeta significativamente o ambiente institucional (regras do jogo). Para Zylbersztajn (2005) as bases da coordenação horizontal podem variar desde as formas de transações via mercado até a inclusão de redes sociais e relações de confiança e formas contratuais complexas. Segundo Menard (2004) podem existir formas híbridas de organização que incluem clusters, redes, cadeias de suprimento, contratos não padrões e outros que se formam na tentativa de aumentar a eficiência dos participantes do mercado possibilitando a expansão das atividades ou simplesmente garantindo a sobrevivência em um acirrado ambiente competitivo. Empresas de pequeno porte podem formar uma rede – associação - para melhorar sua eficiência econômica, isto é, reduzir custos de transação ou até impor maior poder de barganha para os outros membros da cadeia, a jusante ou a montante. 2.1 - Limitações e Críticas à Nova Economia Institucional A Nova Economia Institucional, como toda teoria econômica, sofre críticas de outras correntes de pensamento teórico, dentre as principais pode-se citar as críticas Evolucionistas, Pós-Keynesianas, Institucionalistas e Neoclássicas. Segundo Pessali (1996) a principal crítica Evolucionista à Nova Economia Institucional (NEI), especificamente à Economia dos Custos de Transação (ECT), é quanto à consideração do caráter evolutivo do sistema econômico. É preciso incluir um aspecto dinâmico à ECT que possa abranger a evolução de formas ou arranjos institucionais criados no intuito de reduzir os custos de transação. Para os Evolucionistas a teoria da firma deveria voltar-se para os motivos da cooperação, ou

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sua ausência, entre e intrafirmas, que tornam viáveis os processos de mudança, e não preocupar-se com os limites entre firmas e mercados, como sugere Coase. Os Pós-Keynesianos colocam suas críticas em relação à NEI em alguns pontos, o primeiro deles, de acordo com Dietrich (1994 apud Pessali 1996), está relacionado ao mercado como opção de estrutura de governança, para estes o mercado é apenas o locus onde se realizam as trocas, ele nada produz, portanto não é lógico afirmar que a firma pode desverticalizar-se e recorrer ao mercado. Outro ponto colocado por essa corrente de pensamento é com relação às condutas das empresas, para a NEI essas condutas sempre buscam maior eficiência nas relações, porém aspectos relacionados ao poder de mercado são negligenciados, ou seja, as empresas, em suas estratégias, não buscam apenas maior eficiência, mas também buscam poder. Os Institucionalistas também criticam a NEI na questão das relações de poder, segundo Miller (1993 apud Pessali 1996) a teoria dos custos de transação parece vir socorrer a ortodoxia na explicação da concentração de poder, considera a posição da NEI uma mera acomodação, pois retira a influência do poder como objeto almejado e instrumento de atuação nas relações econômicas. Face ao exposto, a NEI, com seu conceito de firma proposto por Coase, aproxima-se mais do mundo real do que o conceito ortodoxo que considerava a firma apenas uma função de produção, porém a teoria apresenta algumas limitações, principalmente no que diz respeito às considerações de poder relacionadas às condutas das empresas. 3 - Redes Horizontais A teoria econômica analisa hoje as várias formas de relacionamentos entre organizações existentes, entre eles pode-se citar Joint Ventures, Clusters, Consórcios de Exportação, Redes Organizacionais e outros. Segundo Pereira (2005) na essência, os relacionamentos interorganizacionais utilizam recursos e envolvem a gestão das interdependências de várias empresas, criando um ambiente que se pode gerar externalidades positivas resultantes da ação coletiva.

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Quadro I - Divisão dos Estudos Sobre Redes Inter-organizacionais

Verticais Relações em Redes

- Cadeias Produtivas - SCM - Filière

Complementaridade

- Redes de Inovação - Redes Industriais - Clusters

Horizontais

Similaridade

- Redes de Varejo - Redes de Exportação

Por que cooperar? Como se formam as redes? Como se desenvolvem? Como aprendem? Qual a performance?

Fonte: Pereira (2005)

Conforme mostra o Quadro 1, as cadeias são alinhamentos verticais de empresas em camadas diferentes do processo produtivo, já as redes são alinhamentos horizontais de empresas na mesma camada do processo produtivo. Segundo Lazzarini et al (2001) a relação entre empresas pode se dar verticalmente e horizontalmente ao mesmo tempo “netchains”, ou seja, é um conjunto de redes compreendido de laços horizontais (transação na mesma camada) e verticais (transações entre camadas diferentes) com o objetivo de maximizar informações, minimizar custos de transação, melhorar fluxos de produção ou valor da captação ao longo da cadeia, dentre outros. Este artigo, porém, dedica-se especialmente às redes horizontais, para Pereira (2005) as redes horizontais são interações sociais que envolvem um grupo de empresas que buscam interesses comuns, requerem ações conjuntas com esforços coordenados que são realizadas coletivamente e não individualmente, esses grupos podem ser formais ou informais. O maior problema da ação coletiva aparece quando existe uma relação de interdependência entre as empresas associadas, ou seja, o resultado de uma empresa interfere ou depende do resultado da outra.

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Faz-se necessário o alinhamento de interesses não em relação ao interesse individual, mas na constatação de que os indivíduos têm necessidades comuns, que só podem ser atendidas através dessa ação conjunta. Por isso, uma ação coletiva envolve a cooperação entre os indivíduos fora do sistema hierárquico (firma). Williamson (2002) considera que a forma de governança (mercado, hierarquia ou híbrido que pode ser redes ou cadeias) é o meio para se ordenar interesses, mitigar conflitos ou perceber os ganhos mútuos de uma troca voluntária, o autor cita o “tripé de Commons” para categorias de interação social: (1) conflito, (2) coordenação (ordem) e (3) cooperação (mutualidade). O conflito ocorre no momento em que: para uma das partes ganhar a outra tem que perder. A coordenação é o oposto do conflito, ou seja, uma parte só ganha se a outra também ganhar. Já a cooperação é uma relação de troca que envolve o conflito – já que as duas partes pretendem maximizar os resultados – mas exige coordenação porque as duas partes ganharão se a troca ocorrer. O dilema do prisioneiro é um exemplo clássico de cooperação. A ligação entre a ação coletiva e a NEI segundo Figueiredo e Tiller (1999 apud Pereira 2005) aparece na medida em que a ação coletiva explica como os grupos emergem, mas, uma vez estes constituídos, a NEI contribui com a abordagem dos custos de transação para explicar a forma organizacional mais eficiente. A Nova Economia Institucional não explica a estratégia, mas sim a forma organizacional mais eficiente, ou seja, as formas organizacionais são mais eficientes porque reduziram os custos de transação. Juridicamente as redes horizontais, principalmente as de pequenas empresas varejistas, são constituídas na forma de associação, segundo o Manual [...] (2003) uma associação civil é uma pessoa jurídica de direito privado, criada com base na união de pessoas em torno de uma finalidade não-lucrativa. A constituição Federal de 1988 assegura a liberdade de associação para fins lícitos, impedindo a interferência estatal em seu funcionamento. O Código Civil e a Lei de Registros Públicos fixam os procedimentos e requisitos básicos para a criação de uma associação civil sem fins lucrativos. Face ao exposto o artigo pretende identificar as motivações que levam pequenas empresas a estabelecerem estruturas de governaça alternativas, baseadas na ação coletiva e como essas motivações podem ser explicadas pela

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teoria da Nova Economia Institucional, para isso foi realizado um estudo de caso de uma rede de lojas de materiais para construção da região Noroeste do Paraná. 4 - Procedimento Metodológico A rede objeto da pesquisa congrega cerca de 15% dos depósitos de material para construção da região de Maringá, cidade situada no noroeste do estado do Paraná com cerca de 320.000 habitantes segundo estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Além da cidade de Maringá a rede está presente nos seguintes municípios: Sarandi, Paiçandu, Presidente Castelo Branco, Floresta, Santa Fé, Terra Rica, Mandaguaçu, Colorado, Douradina, Mandaguari. Utilizou-se no artigo a modalidade de pesquisa de observação direta intensiva que segundo Lakatos (2003) realiza-se através de duas técnicas: observação e entrevista, porém a técnica adotada neste trabalho foi a segunda. A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, é um procedimento utilizado na investigação social, coleta de dados ou para diagnosticar ou tratar um problema social. Foi realizada de forma padronizada e estruturada e o entrevistador seguiu um roteiro previamente estabelecido, as perguntas foram pré-determinadas através de um formulário. Segundo Lakatos (2003) dentre as vantagens desta metodologia de pesquisa pode-se mencionar a maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, formulá-las de maneira diferente, especificar algum significado, garantindo sua compreensão, porém isso pode também ser uma limitação, já que pode estabelecer dificuldades de expressão e comunicação entre as partes, nesse sentido a entrevista foi feita de maneira cautelosa, no dia 24 de janeiro de 2007, – após agendar a entrevista - no estabelecimento comercial do respondente. Para atingir os objetivos propostos a entrevista foi feita com o presidente da rede em estudo, no intuito principal de identificar os principais motivos que levaram à constituição da rede horizontal. Dividiu-se em sete tópicos distintos, sendo que o primeiro tratou da caracterização geral da rede; o segundo da estrutura de governança estabelecida; o terceiro dos mecanismos de coordenação; o quarto dos custos de transação; o 11

quinto trata de aspectos relacionados à eficiência; o sexto dos aspectos relacionados ao poder de mercado e o sétimo uma abordagem sucinta dos principais motivos que levaram à constituição da rede. 4.1 - Resultados e discussões A rede foi constituída a cerca de 9 anos e assume a personalidade jurídica de Associação e Empresa, sendo que a Associação congrega cerca de 30 depósitos de material para construção e a Empresa é utilizada para registro de marca e outras funções que não podem ser exercidas pela Associação. Os associados contribuem mensalmente para a manutenção da estrutura da rede, e esta está aberta a novos associados desde que não sejam desrespeitadas as regras básicas da associação, como a distância mínima entre lojas associadas, por exemplo. Em alguns casos a própria rede busca novos associados em posições estratégicas para ampliar sua área de atuação. A rede é dividida em três estruturas regionais, que funcionam de forma independente, principalmente devido a características específicas de cada região como a questão logística e preferências dos consumidores, porém a presente pesquisa limita-se à estrutura regional de Maringá. A forma de coordenação das transações estabelecidas pela rede com os fornecedores é feita através de contratos de parceria de no mínimo seis meses, porém em caso de insatisfação o contrato pode ser rompido por ambas as partes sem maiores prejuízos. Apesar dos contratos de parceria da rede, esta não atua diretamente na compra de mercadorias, os depósitos têm autonomia para estabelecer relações individuais com os parceiros da rede, ou com outros fornecedores que julgue conveniente, desde que respeite os termos da parceria estabelecida pela associação. A troca de informações entre os membros da rede é feita através de reuniões realizadas duas vezes por semana, onde, além de haver a integração entre os membros, são discutidos assuntos pertinentes à rede como, estabelecimento de novas parcerias, campanhas publicitárias, conflitos com os membros da rede, fornecedores e outras ações organizadas.

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A rede também conta com um estatuto social e um regimento interno que estabelece as regras para os membros. As ações consideradas contravenientes são levantadas pela comissão de ética formada pelos associados, e julgadas em assembléia geral que é soberana para tomada de decisões. As questões relacionadas com os custos de transação foram divididas em: pressupostos comportamentais e atributos das transações, para facilitar a exposição dos. As ações oportunistas por parte dos fornecedores ocorrem após as transações (risco moral), na maior parte das vezes devido a conflitos relacionados a preços, prazos de pagamento, qualidade do produto e cumprimento de prazos de entrega. Estes conflitos são resolvidos através da Assembléia geral que pode determinar a expulsão desse fornecedor da rede, impedindo qualquer depósito associado de se relacionar com este fornecedor. Também existem conflitos entre os membros da rede, porém com menor freqüência, estes acontecem devido divergências de interesses da rede com o lojista individual. As causas mais recorrentes são: inadimplência com fornecedores parceiros, má qualidade no atendimento a clientes, enfim, fatores que podem denegrir a imagem da rede com a sociedade. Estes conflitos são resolvidos através de intervenção do presidente, porém casos mais complexos são levados à comissão de ética e posteriormente à assembléia geral. A racionalidade dos agentes está diretamente relacionada com o nível informacional. Nesse sentido além das reuniões semanais a rede possui um mailing para envio de informações menos complexas, além disso, o site da rede está em implantação, porém o processo de informações digitais ainda está em fase inicial devido à dificuldade de adaptação dos lojistas associados e, em alguns casos, à falta de estrutura física destes. As transações são diretamente afetadas pela incerteza quanto aos acontecimentos futuros. Um modo para reduzir esse atributo transacional seria o de estabelecer relacionamentos de prazos mais longos com fornecedores, clientes e entre os associados. A rede, nesse contexto, já pratica contratos de parceria específicos de médio prazo com seus fornecedores. No que diz respeito aos clientes, a rede planeja reduzir a incerteza através da implantação de mecanismos de crédito, como cartão de crédito próprio, que

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poderia reduzir a inadimplência e consequentemente o nível de incerteza. Para isso, já iniciou as negociações com as financeiras. Entre os membros da rede são organizadas quatro grandes campanhas coletivas por ano, onde os depósitos associados praticam preços promocionais únicos, o que reduz a incerteza quanto às ações dos associados, já que independentemente de serem unidos pela rede, continuam sendo concorrentes. Outra vantagem da constituição da rede é aumentar o poder reivindicatório dos associados junto ao Estado e as Organizações da Sociedade Civil, como a associação comercial da cidade, e outras, o que leva à redução da incerteza do ambiente institucional. A freqüência é também um atributo transacional cuja análise torna-se relevante. Constatou-se que após a formação da rede as transações entre os associados e seus fornecedores tornaram-se mais freqüentes, e com menor valor médio por transação. Isso devido a maior força reivindicatória da rede junto aos fornecedores que tornou possível a redução do valor mínimo por compra, permitindo a redução dos níveis de estoques e desestimulando ações oportunistas dos membros envolvidos na transação. A especificidade dos ativos é um atributo essencial para a análise de uma transação. A rede estrategicamente dividiu-se em três organizações regionais devido a especificidades locais de algumas transações referentes a produtos de baixo valor agregado, o que inviabiliza a determinação de um mesmo fornecedor central para as três regiões. A rede padronizou a fachada dos depósitos associados e também pretende padronizar o lay-out interno de suas lojas, o que especifica fisicamente seus membros. Ações no sentido de especificar ativos humanos também são realizadas, segundo seu presidente, um centro de treinamento para capacitação de proprietários e funcionários das lojas associadas está em fase de construção, a intenção é padronizar o atendimento e o modo de gestão feito pelos membros da rede. A rede tem grande preocupação em especificar sua marca, campanhas de marketing são organizadas todos os anos nesse sentido, além disso, também dá ênfase à reputação, nesse contexto há preocupação com as ações dos membros (monitoradas pela comissão de ética), e melhorias na qualidade do serviço prestado são constantes.

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Quando questionado a respeito de produtos com marca própria, o presidente da rede afirmou que houve tentativas com esse objetivo no passado, que acabaram sendo abandonadas, porém existem estudos em andamento para novos produtos próprios em alguns seguimentos específicos, ou seja, a especificidade de ativos dedicados ainda não acontece, no entanto está nos planos. De acordo com a Nova Economia Institucional a capacidade de adaptação a mudanças no ambiente é o principal critério de eficiência observado nas organizações, diante disso, a rede disponibiliza consultores internos nas áreas jurídica e de gestão para informar e auxiliar os associados perante possíveis mudanças no ambiente institucional que possam afetar seus negócios. Pesquisas também são realizadas para captar mudanças no perfil dos consumidores, porém essas pesquisas podem não refletir a realidade local, já que são utilizados dados nacionais da Associação Nacional de Materiais para Construção – ANAMACO. Em se tratando de mudanças no ambiente tecnológico, a formação da rede traz benefícios no sentido de que as empresas procuram-na para ofertar novas tecnologias, coisa inimaginável quando os depósitos agiam de forma desassociada. Apesar do número de depósitos associados à rede não ser significativo em relação ao total de depósitos da região, além disso, as lojas serem pequenas e familiares, a rede tem um considerável poder de barganha, principalmente junto aos fornecedores quando comparado ao poder individual de cada depósito. Esse poder de barganha junto aos fornecedores se constitui, principalmente, devido a centralização das negociações estabelecidas pela rede, além da redução da incerteza quanto ao pagamento das compras efetuadas pelos associados, já que mesmo a rede não sendo responsável direta pelo pagamento das dívidas de seus membros, esta zela por sua reputação e pune os associados que não honram com seus compromissos. No que diz respeito aos clientes a rede geralmente não controla os preços finais de cada associado. Esse controle acontece apenas em preços de campanhas promocionais que geralmente são divulgados em panfletos e propagandas em televisão. Na seqüência da entrevista com o presidente da rede, foi levantada uma questão na tentativa de captar as contribuições da rede, de acordo com seu nível de

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importância

(fundamental,

muito

importante,

importante,

pouco

importante,

irrelevante). Aspectos como a diminuição da concorrência através de um controle de preços praticados aos clientes, diminuição do custo para estabelecer contratos com fornecedores e diminuição do custo para cobrar clientes inadimplentes foram considerados irrelevantes. Menor custo para monitoramento dos contratos com fornecedores foi classificado como pouco importante. A redução de conflitos com fornecedores e concorrentes, o status (marca forte da rede), o ambiente mais seguro para estabelecer as transações com fornecedores e clientes e a maior organização nas atividades foram considerados aspectos importantes. Foram classificados como fundamentais: diluição das despesas com marketing; maior acesso à informações sobre o mercado; melhores condições de negociação (prazo e preço) com fornecedores e estratégias que a rede oferece que podem facilitar e agilizar a adaptação à mudanças no mercado. 5 - Considerações Finais Essa pesquisa propôs-se a investigar à luz da Nova Economia Institucional as principais contribuições da rede para os depósitos (associados) de material para construção na região noroeste do Paraná, bem como as mudanças nos atributos das transações e nas estruturas de governança que essa rede provocou. Constatou-se que a rede horizontal é um eficiente mecanismo para redução de custos de transação, pois: (1) reduz o incentivo a ações oportunistas por parte de fornecedores e membros associados, por criar instrumentos para punição a essas ações e por aumentar a freqüência das transações, o que aumenta o ônus ao praticante do oportunismo; (2) aumenta o nível de informações entre os agentes o que, consequentemente, reduz a assimetria de informações e aumenta a racionalidade destes; (3) A rede aumenta o poder reivindicatório dos associados junto a organizações públicas e privadas, permitindo que estas possam talvez influenciar, no longo prazo, o ambiente institucional; (4) a rede permite a manutenção de profissionais em consultoria jurídica e de gestão que seriam impossíveis

de

serem

contratados

pelos

depósitos

individualmente,

estes

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profissionais auxiliam os associados na adaptação à mudanças nos ambientes institucional e tecnológico, o que aumenta a eficiência. Aspectos não abordados pela teoria da Nova Economia Institucional também não podem ser negligenciados, como por exemplo, o aumento no poder de barganha proporcionado pela ação conjunta da rede, já que segundo o presidente da rede, “melhores condições de negociação junto a fornecedores, devido a força da rede” foi considerado fundamental, porém esse poder de barganha, pelo menos até esse momento não foi imposto ao consumidor final, pois os preços ao consumidor não são cartelizados. Face ao exposto, pode-se concluir que as principais contribuições da rede horizontal para os depósitos da região noroeste do Paraná são abordadas pela Nova Economia institucional, quando são consideradas fundamentais as estratégias de adaptação a mudanças no ambiente e maior acesso a informações sobre o mercado. Também são considerados importantes: o ambiente mais seguro para estabelecer a relação com fornecedores, redução de conflitos com fornecedores e concorrentes e maior organização nas atividades. Porém são considerados fundamentais os aspectos de poder que não são abordados pela NEI, como maior força na negociação com fornecedores, isso pode ser justificado pela relação predominante no setor de depósitos de pequeno porte com fornecedores de grande porte, o que reduz drasticamente as margens de negociação por parte dos depósitos. Além disso, aspectos de economia de aglomeração, como a promoção conjunta de campanhas publicitárias que seriam impossíveis serem implantadas individualmente devido ao alto custo, também são considerados fundamentais. Logo a NEI explica apenas em parte as contribuições da rede para os associados da região noroeste do Paraná. 6 - Referências Bibliográficas ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS COMERCIANTES DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO – ANAMACO. Disponível em . Acesso em: 31 janeiro 2007. COASE, R. The nature of the firm. In: WILLIAMSON, O.; WINTER, S. G. (Ed.) In the nature of the firm origins, evolution, and development. New York: Oxford University Press, 1993. 256 p.

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