A Fortaleza do Monte Brasil: de São Filipe a São João Batista

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23 outubro 2015

HISTÓRIA

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A FORTALEZA DO MONTE BRASIL: DE SÃO FILIPE A SÃO JOÃO BATISTA FRANCISCO MIGUEL NOGUEIRA

Há exatos 424 anos, a 29 de maio de 1591, começaram as obras para a construção do atual Castelo de São João Batista, com as escavações, a extração da pedra e a terraplanagem. A Fortaleza do Monte Brasil, chamado de Castelo de São João Batista, considerada a maior fortaleza filipina do mundo, é um dos ex-libris da cidade de Angra do Heroísmo, situada sobre o istmo da península do Monte Brasil, no lado ocidental da baía da cidade, e a oriente da baía do Fanal. É um marco da importância histórica da cidade, capital do país por duas vezes e um importante porto de escala do Atlântico Norte, depois obrigatório, por mais de 3 séculos, desempenhando um papel indelével na afirmação do Império Português. No século XVI, a Terceira ganhou relevância durante a crise de sucessão de 1580. Quando D. Sebastião morreu em 1578, em Alcácer Quibir, sucedeu-lhe o seu parente mais próximo, neste caso, o tio-avô Cardeal D. Henrique, já idoso, que morreu, em 1580, sem herdeiros diretos, abrindo, assim, uma crise de sucessão. Houve 3 principais herdeiros, D. Catarina, Filipe II de Espanha e D. António, Prior do Crato. Este último foi aclamado rei em Santarém, contra a vontade da Alta Nobreza, apoiante de Filipe II. O rei espanhol acabou por enviar o seu exército, que mais bem preparado venceu os apoiantes de D. António. O Prior do Crato acabou por refugiar-se na Terceira, o único ponto do país que ficou do seu lado. É deste período a famosa Batalha da Salga, as histórias de Brianda Pereira e de D. Violante do Canto e a famosa carta (de 13 de fevereiro de 1582) de Ciprião de Figueiredo, corregedor dos Açores, a Filipe II, onde afirmava: “antes morrer livres que em paz sujeitos”, hoje a divisa dos Açores. Durante 3 anos os terceirenses se bateram como defensores da independência de Portugal. Só em 1583 a Terceira foi subjugada pelos espanhóis, comandados por D. Álvaro de Bazán, no conhecido Desembarque da Baía das Mós. Os ter-

ceirenses foram severamente castigados, alguns registos falam que 60% da população foi massacrada. Apesar dessa situação, Angra continuava a ser um ponto essencial. Assim, por proposta do próprio Bazán, após analisar a linha de Fortes da Ilha, Filipe II mandou erigir um grande castelo no Monte Brasil. As obras começaram possivelmente a 29 de maio de 1591, com as obras de preparação. A 1ª pedra foi lançada no baluarte de Santa Catarina, em 1593, a noroeste. A cerimónia foi presidida pelo 1º Governador da Fortaleza, o castelhano D. António de la Puebla, chegado à Ilha em 1592, e pelo bispo de Angra, D. Manuel Gouveia. Inspirado em projetos dos engenheiros militares italianos Giovanni Vicenzo Casale e dos seus discípulos, Tibúrcio Spanochi e Anton Coll, a Fortaleza foi desenhada por João de Vilhena, com o auxílio, na direção da obra, de Pedro Luís de Sousa. As muralhas do Castelo, barrando um istmo de cerca de 600 metros, tinham uma altura média de 15 metros, erguendo-se, em parte, dum grande fosso que foi escavado até 8 metros abaixo da terra. A obra, devido a vários problemas, sobretudo à situação espanhola, que era atacada em todo o seu Império, demorou muitas décadas a ser concluída, embora fosse pensada para ser uma construção rápida. Há dados que indicam que a Fortaleza só foi totalmente finalizada por volta de 1630. Segundo palavras do Padre Maldonado e de Félix José da Costa, a obra custou cerca de um milhão e sessenta mil cruzados, um valor enorme para a época. E se durante 5 anos, não se tirou o dinheiro para a construção dos terceirenses, nos anos seguintes, foram os locais os que mais sofreram com os altos tributos a pagar. A mão-de-obra empregada nos trabalhos era constituída por um bom nº de pedreiros locais, mas sobretudo por condenados às galés e por soldados do presídio. Há uma singularidade nesta obra, parece que cada operário foi obrigado a assinalar as pedras que lavrasse para melhorar o trabalho e, assim, muitas dessas pedras podem ser encontradas com as marcas destes homens. A Fortaleza recebeu

o nome de Castelo de São Filipe do Monte Brasil da Ilha Terceira, em homenagem a Filipe II, o rei que ordenara a sua construção, com o objetivo de proteger o porto de Angra e as frotas coloniais que nele se abrigavam à época, contra os assaltos de piratas e corsários, tais como Francis Drake e Robert Devereux, pois por ali passavam barcos de todo o Império Colonial, e de aquartelar as tropas espanholas deixadas por Bazán para a defesa da Ilha. A Igreja do Castelo era de invocação de Santa Catarina de Siena. Com a Restauração da Independência, em 1640, Angra aclamou o novo rei português, D. João IV, contudo existiam na ilha 5 centenas de militares espanhóis comandados por D. Álvaro de Viveiros, que resistiram à independência de Portugal. Assim, por 11 meses as forças castelhanas sobreviveram ao cerco português, comandado por Francisco Ornelas da Câmara. Os espanhóis renderam-se apenas a 4 de março de 1642, com honras militares. Os espanhóis deixaram para trás 138 peças de ferro e bronze de diversos calibres, 392 arcabuzes, cerca de 400 mosquetes e variada munição. Por alvará de 1 de abril de 1643, renomeou-se a Fortaleza de Castelo de São João Batista, em homenagem a D. João IV. Era já chamado assim desde a rendição castelhana, pois o Padre Francisco Cabral, superintendente da guerra, assim o chamou no Te-Deum, ou seja, no sermão que proferiu naquele dia. Foi autorizada a construção de uma Igreja maior que a de Santa Catarina, dedicada a São João Batista. Não se sabe a data de início e de conclusão da Igreja, mas em 1656 a Igreja estava em construção e em 1717 não estava ainda concluída. A Igreja tornou-se um ponto essencial da Fortaleza. A evolução das obras do Castelo do Monte Brasil mostram-nos que os terceirenses têm de ser mais ativos e participativos em tudo o que lhes rodeia e em tudo o que fazem. Não devemos ter medo de arriscar e fazer o trabalho mais pesado, não podemos é ficar à espera que alguém ou alguma entidade faça o que temos que fazer. É o momento de agirmos…ação!

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