A ilha e os templos de Filae

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Ano lectivo 2014/2015

A ILHA E OS TEMPLOS DE FILAE

Trabalho realizado para a disciplina de Egiptologia Regida pelo Professor Doutor Luís Manuel de Araújo

Joana Vieira Varela Nº 46066 Mestrado em História, especialidade de História Antiga 2015

Índice:

Uma visão inicial sobre Filae………………………………………………...………… 3

O templo de Filae: a vertente arquitectónica e histórica.....……………...…………….. 5

O culto de Ísis em Filae……………….……...……………………...…………………. 7

A evolução de Filae…………………………...…………………………………...….. 11

Bibliografia……………………………………………………………………..…….. 18

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Uma visão inicial sobre Filae Neste trabalho pretende-se dar a conhecer o templo de Filae (primeiramente localizado em Filae e, mais tarde, transladado para a ilha Agilkia), as suas origens e os seus fundadores, assim como os cultos que ali eram feitos e os deuses que eram homenageados. Filae e o seu templo de Ísis deram azo a muita produção escrita: Pierre Loti escreveu a obra Egypt (La Mort de Philae), onde retracta aventuras e explorações nesta ilha, com descrições vívidas dos locais onde no início do século XX se podiam encontrar as várias peças arquitectónicas, na sua localização original. Serge Sauneron e Henri Stierlin escreveram uma obra dedicada aos templos mais tardios do Antigo Egipto, intitulada Derniers temples d'Egypte: Edfou et Philae, onde há uma forte observação das construções ptolemaicas e greco-romanas na ilha de Filae. Também John Baines e Jaromir Málek publicaram no seu Atlas of Ancient Egypt concisas e pertinentes informações sobre a formação dos templos egípcios, com secções dedicadas aos templos greco-romanos como Filae. Já Dieter Arnold, em Temples of the Last Pharaohs, comenta a formação do templo de Filae, as alterações que sofreu ao longo dos anos e como foi a sua construção, abordando o tema dos templos egípcios com uma metodologia muito marcada pelos esquemas e as fotografias que se encontram no livro, que tentam ilustrar o que o texto nos ensina sobre Filae, neste caso. José das Candeias Sales, em Poder e Iconografia no Antigo Egipto, menciona a importância de Ptolomeu II Filadelfo, que restaurou o templo de Ísis em Filae e mostra a importância da imagética, especialmente para os reis ptolemaicos, que tentavam mostrar uma iconografia quase totalmente egípcia nos templos que erguiam 1. O autor mostra como Filae e Edfu foram, como ele indica, «expoentes máximos da iconografia guerreira ptolomaica» 2, analisando os relevos dos pilones de Filae, entre muitos outros. Na vertente mais ligada à arqueologia, Gerhard Haeny inclui ilustrações do templo de Filae no seu artigo A short architectural history of Philae que se referem a vários períodos, mostrando a sua evolução arquitectónica, dando também alguma atenção à topografia. 1

Atente em José das Candeias Sales, Poder e Iconografia no Antigo Egipto, Lisboa, Livros Horizonte, 2008, p. 109. 2 Idem, ibidem, pp. 112-114.

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Já Hermann Junker fornece uma transcrição das inscrições presentes no templo na sua série «Philä», sendo que actualmente este trabalho está a ser continuado por Erich Winter em colaboração com o autor anterior. Uma discussão de algumas destas inscrições pode ser encontrada na obra de Danielle Inconnu-Bocquillon. A iconografia dos relevos foi amplamente estudada por Eleni Vassilika, passando pelos princípios e a evolução das decorações dos templos egípcios e pela evolução específica do templo de Filae, chamando também a atenção para os métodos de trabalho que seriam utilizados para essa mesma decoração. No que toca à transição da religião egípcia para a religião cristã que se foi implantando no Egipto, Jitse H. F. Dijkstra, na sua tese que foi depois editada sob o título Philae and the End of Ancient Egyptian Religion. A Regional Study of Religious Transformation (298-642 CE) trata este assunto com um desenvolvimento específico, utilizando dois grandes textos para se apoiar no seu estudo: «Procopius’ Persian Wars of the closure of the last pagan temple at Philae under Justinian in 537. [e] The petition drafted by Dioskoros of Aphrodito in 567, in which a man is accused of, among other things, renewing pagan sanctuaries on behalf of the Blemmyes, could also relate to Philae.» 3. Prestando agora uma maior atenção ao carácter geográfico da ilha, Filae localiza-se no Sul do Egipto, como se pode observar pelas seguintes imagens retiradas do Google Maps:

Figura 1 - Mapa geral da localização do Templo de Ísis no Egipto

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Terry Wilfong, “Review Jitse H.F. Dijkstra, Philae and the End of Ancient Egyptian Religion: A Regional Study of Religious Transformation (298-642 CE)”, The Bulletin of the American Society of Papyrologists, vol.47, USA, The American Society of Papyrologists, 2010, p. 375. Disponível em: http://quod.lib.umich.edu/cgi/p/pod/dod-idx/0599796.0047.001.pdf?c=basp;idno=0599796.0047.001

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Figura 2 – O templo de Ísis no Egipto

Figura 3 – O templo de Ísis em Filae

Situada a uma curta distância da primeira catarata do Nilo, Filae é geologicamente constituída por granito, xisto, gneisses, aplito, pegmatite, entre outras rochas 4. Em Filae encontravam-se vários templos, entre eles o de Ísis, que tiveram de ser recolocados na ilha de Agilkia devido à subida do Nilo com a primeira barragem de Assuão, tendo esta sido preparada para se parecer com a Filae original. Etimologicamente, «Filae» significaria “A Ilha do tempo [de Ré] ”, isto é, a ilha da criação – contudo, a história desta ilha é bastante tardia, como se poderá deduzir pelas primeiras construções que lá foram feitas 5.

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Confira C. Voûte, “Some geological aspects of the conservation project for the Philae temples in the Aswan area”, International Journal of Earth Sciences: Geologische Rundschau, Volume 52, Issue 2, Alemanha, Springer, 1963, pp. 666-667. Disponível em: http://link.springer.com/article/10.1007/BF01821149 5 Vide Richard Wilkinson, The complete temples of Egypt, USA, Thames & Hudson, 2000, p. 213.

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O templo de Filae: a vertente arquitectónica e histórica Os primeiros templos a serem construídos no Egipto eram feitos com tijolos de barro e tinham uma estrutura simples, constituídos apenas por um pequeno número de antecâmaras antes do santuário. Foram poucos os templos com esta configuração que sobreviveram até aos nossos dias, e por isso a ideia estrutural que se tem dos templos egípcios é muito semelhante ao templo de Karnak ou ao pequeno templo de Ramsés III: pilones à entrada, que dão acesso a um pequeno pátio, rodeado por colunas. Depois deste pátio tem-se acesso à sala hipostila, isto é, uma sala com cobertura, seguida por uma ou mais salas mais pequenas antes do santuário onde estava a imagem da divindade venerada naquele templo. À volta deste santuário haveria salas mais pequenas para armazenamento de mantimentos do templo. Existia um muro de tijolos de barro a rodear todo o templo. Tudo isto era formado a partir de um eixo axial, por onde seguiam as procissões em que o deus saía do templo seguindo essa linha axial. Nos templos primordiais, esta linha não está tão definida como nos templos do Império Novo, tendo o templo um formato mais aproximado ao que seria a casa egípcia

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– afinal, o templo

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era a casa do deus . Na imagem seguinte podemos observar um esquema do que seriam os formatos dos templos acima descritos.

Pilones

Pátio interior

Sala Hipostila

Sala ou câmara do deus

Figura 4 - Imagem esquemática de um templo. Imagem retirada de: http://www.sofiaoriginals.com/dici523.jpg (modificada)

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Confira Stephen Quirke, Jeffrey Spencer, The British Museum book of ancient Egypt, London, British Museum Press, 1992, p. 160. 7 Idem, ibidem, p. 160.

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Os templos de pedra, como já referi, tentaram seguir esta formatura, exibindo colunas com capitéis geralmente associados a vegetação (muitas vezes apresentavam representações de papiros ou lótus), tendo-se estes tornado mais elaborados no período ptolemaico, como o que mais à frente será analisado. Um aspecto importante mas que em grande parte dos templos egípcios não piramidais já não existe, é o tecto dos templos, o que dificulta ao visitante destes monumentos a visualização de como seria um templo egípcio na altura da sua construção 8. Um pequeno quiosque construído sob o nome de Psametek II será a estrutura mais recente que se pensa ter pertencido a Filae. Este elemento arquitectónico teria fracas fundações e Gerhard Haeny sugere que este pudesse ter sido usado como local temporário de sombra para as procissões que ocorriam no templo 9. O primeiro templo a ser aqui construído era dedicado a e foi mando construir por Amon de Taksompo e foi mandado construir pelo faraó Taharqa, da 25ª dinastia, como demonstração de integração política e religiosa desta área de fronteira com a Núbia 10. Neste complexo arquitectónico, a estrutura mais antiga, a chamada Porta de Nectanebo, terá sido mais mandada construir por Nectanebo I, cujo intuito era, através destes pilones, preceder a entrada no templo de Ísis, tendo mais tarde sido modificada pelos reis da dinastia ptolemaica 11. A primeira construção feita por essa dinastia em Filae terá sido aquilo que é, talvez, o complexo mais conhecido: o templo de Ísis. Construído por Ptolemeu II, este templo veio substituir um templo mais pequeno da XXVI dinastia e que teria como função servir como local de culto para os soldados que estavam colocados ali perto. As pedras deste templo mais antigo foram reutilizadas para construções mais tardias 12. Eleni Vassilika aponta a construção do mammisi, isto é, o local de nascimento onde «a deusa do templo daria à luz o seu filho que, embora também um deus, deveria incorporar os

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Idem, ibidem, p. 162. Considere Gerhard Haeny, “A short architectural history of Philae”. Bulletin de l’Institut français d’archéologie orientale, nº85, França, Institut Français d’Archéologie Orientale du Caire, 1985, p. 202. Disponível em: http://www.ifao.egnet.net/bifao/Bifao085_art_18.pdf 10 Vide Christina Riggs, ed., The Oxford Handbook of Roman Egypt, Oxford, Oxford University Press, 2012, p. 751. 11 Retome Gerard Haeny, op.cit., p. 204. 12 Confira Eleni Vassilika, Ptolemaic Philae, Belgium, Peeters Publisher, 1989, p. 20. 9

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traços do faraó, conferindo um carácter divino à pessoa do rei»

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, durante o reinado de

Ptolemeu III, seguindo-se um templo tripartido, construído ao longo do eixo este-oeste virado para o sul da ilha de Filae, dedicado a Arensnuphis 14, já durante o reinado de Ptolemeu IV. Contudo, outros autores como Ludwig Borchardt e François Daumas apresentam datas algo diferentes para a construção do mammisi, indicando que este elemento teria sido construído durante a época de Ptolemeu V ou Ptolemeu VI. O mammisi consiste então num pequeno templo com três salas seguidas, precedidas por um vestíbulo com colunas 15. Já Ptolemeu V construiu um templo bipartido dedicado a Imhotep, ao longo do eixo norte-sul 16. Ptolemeu VI construiu um pequeno templo bipartido dedicado a Hathor, e é responsável pelo pronau (“Vestíbulo de um templo grego formado pela colunata da fachada”

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e pelo

segundo pilone adicionado ao templo de Ísis. Em Filae, ao contrário do que acontece com a maior parte das salas hipostilas, uma pequena porção da parte de trás do pilone é deixada sem tecto, sendo que Haeny considera o termo “hipostilo” ou “sala hipostila” impróprio neste contexto. Temos uma pequena descrição desta zona do templo feita pelo mesmo autor, que tenta explicar o porquê de ser incorrecto usar o termo “hipostilo” em Filae: «on each side of this small courtyard a single column supports a lateral part of the roof which connects the main roof at the back of the hall with the towers of the pylon. The back part of the comprising the second and the third row of columns set parallel to the façade of the temple, has to be considered a separate unit. (…) The back part of the hall has thus to be interpreted as corresponding to the normal pronaos of other temples (…)» 18. Ptolemeu VIII terá aumentado o mammisi e o tripartido templo de Arensnuphis, assim como o templo de Hathor. O último dos faraós da dinastia ptolemaica a construir elementos

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Vide Maria João Machado, “Mammisi”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p. 538. 14 Arensnuphis era um deus de origem núbia, que seria considerado uma divindade benigna. Para um maior conhecimento sobre este deus, vide George Hart, “Anukis”, The Routledge Dictionary of Egyptian Gods and Goddesses. 2nd edition, London, New York, Routledge, 2005, pp. 33-34. Disponível em http://obinfonet.ro/docs/relig/egipt/egyptgods.pdf 15 Recupere Gerhard Haeny,op.cit. p. 211. 16 Retome Eleni Vassilika, op.cit., p. 21. 17 Confira “Pronau ”, Dicionário da Língua Portuguesa com Acordo Ortográfico, Porto, Porto Editora, 2015. Disponível em: http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/pronau 18 Vide Gerhard Haeny, op.cit. p. 208.

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em Filae terá sido Ptolemeu XII, que voltou a erigir o quiosque de Nectanebo no terraço do lado sul da ilha 19. O templo de Ísis foi sofrendo grandes mudanças, sendo um templo que não apresenta exactamente as características mais típicas de outros edifícios da mesma época, como os templos de Edfu, Kom Ombo e Dendera. Haeny apresenta duas hipóteses como explicação deste fenómeno: a primeira está ligada ao tamanho do templo, consideravelmente mais pequeno que os anteriormente referidos, apesar da sua planta elaborada; a segunda hipótese está associada a pequenas observações visíveis que poderão indicar uma indecisão no que toca à construção final do templo, sendo que o exemplo apresentado por Haeny leva a crer que houve mudanças significativas ao longo da construção do templo relativamente ao que inicialmente teria sido pensado construir 20. Durante o reinado de Cláudio, como é visível nas cartelas que decoram o templo, foi construído um templo a Harendotes, o Hórus vingador do seu pai, sendo que actualmente apenas as zonas mais baixas das paredes do templo e partes do seu pavimento estão no seu lugar original da planta do templo em Filae. Blocos de pedra deste templo foram identificados como tendo sido usados para a construção da igreja a oeste. Porém, não há ainda certezas se este templo seria verdadeiramente dedicado a Harendotes 21. Existiria ainda um pequeno templo dedicado a Mandulis, com paredes laterais e traseiras feitas de tijolos, perto da colunata a este do templo de Ísis. Mandulis era um deus do Sol da Núbia, normalmente representado com uma coroa de plumas, com o disco solar, cobras e ainda com os chifres de carneiro 22. Por fim, no que toca à arquitectura, há ainda que referir a existência de um nilómetro nesta ilha. Tem três sistemas de medição marcados nas paredes de uma escadaria subterrânea e encontra-se próximo do templo de Mandulis. O facto de ter três escalas diferentes e das escadas que levam a esta escala estarem consideravelmente gastas, pode indicar que seria nesse local que a população ia buscar água antes do templo ser construído 23.

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Vide Eleni Vassilika, op.cit., p. 21. Retome Gerhard Haeny, op.cit., pp. 207-208. 21 Recupere Gerhard Haeny, op.cit., p. 216. 22 Confira George Hart, “Mandulis”, op.cit., pp. 90-91. 23 Atente em Gerhard Haeny, op.cit.,p. 217. 20

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O culto de Ísis em Filae O culto de Ísis sempre despertou nos historiadores e egiptólogos um grande interesse, o que levou a um estudo pormenorizado do templo da deusa especialmente em Filae, onde era grandemente venerada. Ísis era modelo de esposa e mãe, rainha, sacerdotisa, amante e mágica, ligando os seus poderes mágicos de protecção à vertente maternal. Frequentemente confundida com Hathor, podia ser representada com os cornos de vaca e o disco solar, ou com o signo hieroglífico que lhe era correspondente, isto é um trono, como é visível na figura 5, ou então é representada como a mãe carinhosa de Hórus, amamentando-o24. Muitas vezes Ísis é representada com o tet (também chamado nó de Ísis), um amuleto funerário. No período greco-romano, Ísis era representada “à grega”, com o seu nó na parte da frente da sua túnica, como se pode observar na figura 6:

Figura 5: Representação de Ísis com o símbolo ankh

Figura 6: Representação de Ísis da Época

na mão direita e o ceptro uadj, de papiro, símbolo de

Greco-romana. No centro da sua túnica

rejuvenescimento e vigor, na mão esquerda. Sobre a

é visível um nó que seria equiparado ao

cabeça, Ísis enverga o símbolo hieroglífico que

nó de Ísis. Imagem retirada de:

compõe o seu nome. Imagem retirada de:

http://mirrorofisis.freeyellow.com/sitebuilder

http://www.psychicsophia.com/wpcontent/uploads/2013/05/isis.jpg

content/sitebuilderpictures/IsisCapitoline.jpg

24

Vide Cláudia Monte Farias, “Ísis”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p. 453.

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Na teologia heliopolitana, Ísis era filha do deus Geb e da deusa Nut, respectivamente a terra e o céu, e é irmã de Osíris, Set e Néftis, tendo-se casado com o primeiro. Foi Geb quem terá concedido os poderes mágicos a Ísis para que esta pudesse proteger o seu filho Hórus de Set. Vários mitos relatam os poderes da deusa, seja como a mulher que dá o sopro da vida ao marido, Osíris, depois de reunir o corpo deste que tinha sido esquartejado pelo deus Set, seja como deusa que, através de magia e artimanhas, consegue descobrir o nome secreto do deus Ré e a partir daí aumentar a sua magia 25, entre outros relatos. Uma estela datada do período tardio conta a história de Ísis e os sete escorpiões: enquanto cuidava do seu filho Hórus escondida nas margens do delta, Ísis estava protegida por sete escorpiões. Estes escorpiões acompanhavam-na sempre e, depois de viajar muitos quilómetros, Ísis, Hórus e os escorpiões pararam numa casa a pedir ajuda para descansar e foram recusados pois a mulher não queria escorpiões na sua casa. Na segunda casa onde pararam, a senhora que lá via com o filho deixou-os entrar mas os escorpiões continuaram a desconfiar dela e decidiram juntar todo o veneno que têm nos seus espigões num só, contendo assim em um o poder de sete. O escorpião picou o pé do filho da dona da casa e esta, com medo, perguntou se alguém a podia ajudar e Ísis respondeu ao seu apelo, colocando as mãos em cima do dedo do jovem e ordenando ao veneno que saísse do corpo da criança. Ísis tornou-se assim a deusa a quem o povo egípcio recorria quando era picado por este animal muito frequente no Egipto, criando pastas e unguentos sobre os quais recitavam o nome de Ísis, senhora da magia 26. Christian Jacq descreve os poderes de Ísis dizendo que ela «pode fechar a boca de cada serpente, afastar do filho qualquer leão do deserto, todos os crocodilos do rio, qualquer réptil que morda. Ela pode desviar o efeito do veneno, pode fazer recuar o seu fogo destruidor por meio da palavra, fornecer ar a quem dele necessite» 27. Como mãe de Hórus, Ísis é vista como a mãe de todos os faraós, pois estes são Hórus vivos – é a eterna figura maternal, o que terá contribuído grandemente para a larga dispersão do seu culto.

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Os nomes são palavras muito poderosas pois concedem poder sobre o seu dono a quem os souber. Para um maior desenvolvimento sobre este tema, considere Paulo Mendes Pinto, “Nome”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, pp. 617-620. 26 Vide Barbara S. Lesko, The Great Goddesses of Egypt, USA, University of Oklahoma Press, 1999, pp. 181-182. 27 Confira Christian Jacq, O Mundo Mágico do Antigo Egipto, Lisboa, Edições ASA, 2000, pp. 96-97.

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O seu primeiro aparecimento neste papel como mãe de Hórus está descrito nos textos das pirâmides, sendo mais antigo que a associação feita entre Ísis e Osíris como marido e mulher 28. Os gregos começaram por associar Ísis a Deméter, uma deusa da colheita que procurava incessantemente pela sua filha Perséfone, ligando assim a deusa egípcia às inundações do Nilo que permitiam as colheitas das plantações. Já na Época Greco-Romana, os hinos aos deuses indicavam Ísis como a criadora do mundo e como tendo sido ela quem teria dito aos homens para amarem as mulheres e para as crianças amarem os pais – tudo conceitos que já faziam parte da visão egípcia da maet. As outras deusas egípcias acabaram por ser assimiladas com Ísis, tornando-se apenas manifestações da mesma deusa sob nomes diferentes 29. Plutarco, na sua obra «Ísis e Osíris»

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refere que Ísis é apresentada como uma deusa

que consola apoia e protege a humanidade, o que levou a que o seu culto fosse o grande rival do cristianismo, até porque, em parte, tinha várias semelhantes, desde a noção de maet à noção da mãe protectora que deu à luz o filho de um deus que também é um deus vivo. Ísis era também igualada à estrela Sirius, como hoje se chama, pois esta estrela aparecia no céu quando aconteciam as cheias do Nilo, razão pela qual a deusa era também associada a elas. Esta associação do renascimento da terra (que morreria devido ao calor do deserto sem as cheias do Nilo), estava em parte ligada ao renascimento de Osíris, que Ísis tinha conseguido ressuscitar, como já foi referido. O facto de Ísis ter passado pelo sofrimento de perder o marido e irmão, tornavam-na mais humana aos olhos do povo egípcio, pois ela tinha sofrido provações tal como o povo sofria. Assim, Ísis era a deusa da magia por excelência, magia benéfica que protegia e guiava, o que, novamente, atraía a população egípcia para o culto desta deusa que se pode até caracterizar como familiar 31. O templo de Ísis em Filae, como já vimos, localiza-se perto da fronteira sul do Egipto, e Lesko apresenta a hipótese de este templo se situar aqui como forma de protecção das fronteiras através da deusa Ísis.

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Recupere Barbara S. Lesko, op.cit., p. 158. Confira Geraldine Pinch, “Isis”, Egyptian Mythology: a guide to the Gods, Goddesses, and Traditions of Ancient Egypt, Oxford, Oxford University Press, 2002, pp. 149-151. 30 Para um maior desenvolvimento sobre este tema, vide Plutarco, Ísis e Osíris: os mistérios da iniciação, Lisboa, Fim de Século Edições, 2001 31 Retome Barbara S. Lesko op.cit., pp. 156-158. 29

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Filae era uma ilha cujo terreno e construções ficam frequentemente inundados devido às cheias do Nilo, reemergindo depois como a primeira colina emergia das águas do caos primordial 32. A ilha de Biga, próxima de Filae, é um dos muitos locais apontados como o local do túmulo de Osíris e quando a deusa Ísis, ou seja a sua estátua, saía do templo em procissão, era possível que fosse numa barca até esta ilha. Uma hipótese para a proximidade destes templos é que Ísis estaria a proteger o túmulo de Osíris e, acima de tudo, estaria a cumprir os ritos funerários, pois eram estes que mantinham o defunto no Além. A cada dez dias, isto é, no último dia da semana egípcia, Ísis conduziria os ritos funerários no templo de Osíris. Os egípcios pensavam também que seria em Biga que Ísis, num monte sagrado, libertava as cheias do Nilo, fazendo as plantas crescerem e ficarem verdes, e seria por essa mesma razão que também Osíris rejuvenescia – é por isso que a cor verde da regeneração é associada a Osíris. Entre os vários hinos que exaltam esta deusa, em Filae observam-se hinos que a honram identificando-a com outras grandes deusas, cujo poder foi sendo absorvido 33. Quanto ao culto propriamente dito, os sacerdotes eram os provedores da divindade, oferecendo-lhe alimento, para que ela estivesse agradada com a humanidade e se fizesse presente no mundo para que a harmonia, ou seja, a maet, reinasse. Mulheres do clero de Ísis representavam em Filae a deusa e a sua irmã Néftis, lendo o decreto que proclama Osíris como governante do mundo. Este templo continha, além do local onde estava a estátua da deusa, armários onde estariam guardados os unguentos, o incenso e os óleos que eram utilizados para a estátua e na estátua 34. Ao contrário do que acontece com a maior parte dos cultos, o templo não era um sítio de reunião do povo egípcio: o templo era a casa do deus e por isso apenas os sacerdotes lá entravam. Estes templos tinham apenas pequenas janelas, e o tecto era coberto, o que faria com que entrasse pouca luz, concedendo um ambiente mais místico a este local. O culto à imagem do deus seria feito três vezes: ao nascer do sol, ao meio dia e ao pôr-do-sol. Antes de proceder a estes seviços, os sacerdotes deviam purificar-se primeiro e depois queimar incenso para purificar o templo, devendo a seguir acordar a divindade, lavá-la com óleos e vesti-la sumptosamente apresentando-lhe o seu alimento. Além disso, eram recitados hinos e fórmulas mágicas, sendo que o objectivo principal do culto de uma divindade era proteger essa mesma 32

Idem, ibidem, p. 181. Idem, ibidem, pp. 184-185. 34 Idem, ibidem, p. 227. 33

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divindade para que ela actuasse na terra e manter a harmonia e a ordem. Nas festas do calendário religioso, era costume a estátua da deusa sair em procissão, em cima de uma barca que deveria representar a barca solar 35. Muitos eram os egípcios (e não só) que iam em peregrinação ao templo de Ísis para honrar a deusa com oferendas e pedir-lhe protecção e estas peregrinações e este culto continuaram muito depois de outros grandes cultos que se realizavam no Egipto terem terminado, como se verá seguidamente.

35

Para um maior desenvolvimento sobre o tema, vide José das Candeias Sales, “Culto”, Dicionário do Antigo Egipto. Direcção de Luís Manuel de Araújo. 1ªedição, Lisboa, Editorial Caminho, 2001, p. 257-260.

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A evolução de Filae Como já foi mencionado, grande parte das construções feitas em Filae foram feitas a partir do período ptolemaico e durante o período greco-romano. Por exemplo, durante o período ptolemaico parece ter havido algo como uma parceria entre o faraó Ptolemeu IV e o rei de Meroé, Arqamani, pois no templo de Arensnuphis, antes referido, são visíveis grafitos com os nomes destes dois reis, o que indica que este último rei teria tido alguma participação no projecto da decoração e construção do templo, ainda que estas sejam todas de feitas de acordo com as normas axiais egípcias 36. Outro exemplo é que, durante o reinado de Ptolemeu XII, do templo de Hórus em Edfu foram copiados textos, com pequenas variantes, para a segunda colunata a este do templo de Ísis em Filae. A partir destas pequenas diferenças, Erich Winter presumiu que estas inscrições não teriam sido copiadas de um papiro, mas antes teriam sido os sacerdotes de Edfu a levarem o seu conhecimento para Filae. Outro exemplo também apontado por este autor é que, nesta mesma colunata, teria sido copiado, durante o período de Augusto, para a mesma colunata em Filae, textos que teriam sido primeiro escritos em Kalabcha durante o reinado de Ptolemeu XII. Estes casos sugerem que teria havido uma mudança calma do regime ptolemaico para o regime romano 37. Continuando na Época Greco-Romana, um exemplo de um templo desta época é o quiosque de Trajano, assim conhecido pois, apesar de ter sido começado durante o reinado de Augusto, a construção foi finalizada durante o reinado de Trajano, ainda que a decoração do templo tenha ficado por terminar 38. Este monumento arquitectónico é composto por «fourteen columns with bell capitals and screen walls, two of which are decorated with scenes representing Trajan making offerings to Isis, Osiris and Horus». Como o faraó egípcio tinha feito, estes imperadores romanos fazem oferendas aos deuses e fazem-se representar na arte com iconografia tipicamente egípcia 39.

36

Confira John Baines, Jaromír Málek, Atlas of Ancient Egypt, Oxford, Time Life Books, 1984, p. 74. Vide Christina Riggs, ed., op.cit., p.362 apud Erich Winter, “Zeitgleiche Textparallelen in verschiedenen Tempeln” in D.Kurth, ed. Systeme und Programme der ägyptischen Tempeldekoration: 3. Ägyptologische Tempeltagung, Hamburg, 1-5. Juni 1994. Wiesbaden: Harrassowitz, pp. 305-319. 38 O quiosque ou pavilhão servia para que a barca processional que transportava a imagem da deusa Ísis parasse durante o percurso ritual, isto é, o momento em que a estátua do deus saia do templo. Confira http://faraoecompanhia.blogspot.pt/2011/02/quiosque-de-trajano.html [consultado a 10.05.2015] 39 Atente em Ian Shaw, The Oxford History of Ancient Egypt, Oxford, Oxford University Press, 2000, p. 430. 37

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Filae é particularmente conhecido por ser o último sítio datado onde foram se encontram inscrições hieroglíficas e demóticas: «the former, celebrating the ‘birthday’ of Osiris (24 August 394) and the latter a dedication from 2 December 452, written by two priest of Isis». Durante o período romano, nos reinados de Augusto e Tibério, foi acrescentada um mammisi, tendo sido também construído um santuário dedicado a Harendotes, filho de Osíris40. Os governadores romanos faziam várias visitas a Filae, muitas vezes traziam oferendas para o rio Nilo, como teriam feito os faraós. Estas visitas estão gravadas nos chamados graffiti, em Filae, mas também no templo de Khnum em Elefantina. Quando Diocleciano estabeleceu a fronteira sul do egipto em Assuão, Filae ficou fora do território do Império Romano, permitindo assim que os cultos que lá se praticavam continuassem a realizar-se, e assim a veneração à desusa Ísis acabou por resistir ao cristianismo que se espalhou pelo mundo romano 41. Inicialmente, o cristianismo tinha sido visto como apenas mais uma religão que existia no Egipto contudo, durante o século II e III, os cristãos do Egipto foram perseguidos pelo poder imperial por se recusarem a reconhecer o imperador como um deus. O templo de Ísis foi a resistência final a esta nova religião, conseguindo manter-se até ao século VI d.C. devido aos núbios que ainda reverenciavam as velhas divindades dos templos da ilha de Filae 42. Na zona mais a norte da ilha encontra-se o templo de Augusto e uma porta conhecida como Porta de Diocleciano (284-305). Entre estes monumentos e o templo de Ísis, foram construídas duas igrejas, datadas da metade do século IV, que terão coexistido com cultos aos deuses egípcios, tendo sido suprimidos só durante o reinado de Justiniano (527-565). A área hipostila do templo de Ísis foi então transformada em basílica cristã, como aconteceu com muitos outros monumentos, sendo que as as estátuas dos deuses e dos reis considerados pagãos foram fortemente danificadas 43. A ilha de Filae e os edifícios que nela foram erigidos passaram por uma evolução geográfica e arquitectónica, com a mudança devido à subida das águas do Nilo em consequência da construção da primeira barragem de Assuão (1902) dos templos na ilha de 40

Vide Christina Riggs, ed., op.cit., p. 426. Vide Christina Riggs, ed., op.cit., p. 558. 42 Confira Geraldine Pinch, op.cit., p. 45. 43 John Baines, Jaromír Málek, op.cit., 1984, p.74 41

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Filae para a vizinha ilha de Agilkia para protecção do património. Os templos erguidos em Filae ultrapassaram reinados e até períodos da cronologia egípcia, desde o domínio ptolemaico à fase romana, até uma mudança de religião do culto tradicional egípcio ao cristianismo que se implantou no país do Nilo. Tal mudança acabou por transformar o templo de Ísis numa basílica cristã onde ainda hoje é possível observar as cruzes cristãs, testemunhando a nova crença que no Egipto actual é seguida por cerca de 10% dos habitantes.

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BIBLIOGRAFIA: 1.

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