A Ilha Esmeralda da Ásia e exaltação do Parque do Amor enquanto atracão turística

August 29, 2017 | Autor: Tatiana Azenha | Categoria: Asian Studies, South Korea, Central Asia, Portugal
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A Ilha Esmeralda da Ásia e exaltação do Parque do Amor enquanto atracão turística

Tatiana Azenha [email protected] Mestrado em Estudos Asiáticos, Consórcio de Estudos Asiáticos

Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa

03 de Fevereiro de 2015

Introdução

No seguimento do seminário lecionado pelo professor António Barrento, Ásia Oriental: Turismo e Indústrias Culturais, apresento neste artigo, uma análise crítica, histórica e social do fenómeno do parque de entretenimento “Love Land. A perspetiva apresentada neste documento, representa a visão ocidental do parque uma vez que, por motivos de limitação linguística, seria arriscado organizar e analisar informações numa perspetiva coreana, á exceção do artigo de Hannah Sung, o qual poderá ser encontrado, no final deste artigo nas referências bibliográficas.

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A ilha de Jeju enquanto “Ilha Esmeralda da Ásia”

A ilha de Jeju (ou 제주도, Jejudo, em Coreano) encontra-se localizada no território mais a sul da Península coreana. De clima exótico e com temperaturas amenas durante o ano todo, maravilha os seus visitantes com as paisagens cheias de cor e aromas únicos, comida tradicional de métodos de preparação únicos, têm atraído durante séculos, vários visitantes de caraterísticas muito particulares. A motivação dos seus turistas, embora variada e distinta, originou a criação de um segmento de mercado único, o qual têm, desde o final da Guerra entre Coreias, servido como público-alvo.

De características vulcânicas, esta ilha Sul-Coreana, apresenta semelhanças geográficas com as ilhas dos Açores. Esta é visivelmente, a maior das 3.300 ilhas da península Coreana e disfruta de órgãos administrativos especiais e distintos da capital da Coreia do Sul desde 2005. Neste site também será possível encontrar informações de carácter generalista que informam os seus turistas, da história e cultura deste território no caso de selecionar a língua inglesa – mas também, os visitantes internautas curiosos que desejem conhecer e visitar outros locais dentro da ilha.

Dependendo do local de partida a viagem até á ilha, pode ser feita de avião e demora apenas 1 hora, O aeroporto internacional de Jeju têm um total de 29 rotas diretas: 13 nacionais e 16 rotas internacionais. As

rotas

diretas

nacionais

passam

por: Incheon, Gimpo, Gimhae, Chongju, Wonju, Daegu, Gunsan, Gwangju, Ulsan, Poha ng, Sacheon, Yeosu e Muan sendo que as rotas internacionais passam pelas capitais da China, Japão e Taiwan. Cerca de 94 porcento dos turistas que visitam Jeju, fazem-no de avião (Traveling to Jeju, 20015). 2ª|Página

Também apelidada por “Ilha Esmeralda da Ásia”, Jeju, embora pequena, representa muito mais do que um simples destino turístico: os seus visitantes apelidam esta ilha de “Ilha do Paraíso” e do amor pelas suas características únicas que atraem inúmeros turistas nacionais, casais e recém-casados.

Uma das mais conhecidas atracões turísticas são as cascatas de Chonjeyon, (também apelidadas por Niagara da Coreia) as quais, de 22 metros de altura, incorporam uma das tradições e mitos de Jeju. Reza o mito de que, o Imperador Coreano havia visitado estas cascatas durante a noite e porventura, tomado banho com as Ninfas. Estas Ninfas deliciavam o rei e realizavam os seus desejos mais profundos, não fosse ele a identidade máxima e suprema deste território. Estas cascatas são hoje umas das mais visitadas e promovidos atracões turísticas naturais, onde recém-casados posam e tiram fotografias para a posterioridade.

Outra atracão turística bastante peculiar, e visível numa vista panorâmica, é o vulcão Hallasan, o qual preenche cerca de 60% do território de Jeju. Embora adormecido há milhares de anos, este vulcão coberto por um mando verde, este é também a montanha mais alta da Coreia do Sul. Esta atracão de carácter naturalista, representa ainda, um dos locais mais visitados e é ainda a imagem de marca da ilha de Jeju. Nele, será possível aos seus visitantes, realizar piqueniques, passeios de bicicleta, ou ainda, passeios de pónei, os quais apresentam características genéticas e físicas muito semelhantes aos cavalos das tribos Mongóis do século XIV. Outras atividades oferecidas pelos complexos turísticos que aqui operam, incluem: golf, windsurf, passeios de barco e mergulho.

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A exaltação do Parque do Amor (Love Land)

Visitada na sua grande maioria, por recém-casados, que idealizam e aqui realizam a sua lua-de-mel, esta ilha faz as delícias dos seus visitantes. Com praias de areia branca, campos de flores que deliciam o olhar e ainda cascatas de uma beleza inconfundível, esta ilha é também vista na Capital de Seul como um destino recomendado para os jovens e recém-casados logo após a cerimónia de casamento.

O pico da atividade turística na Ilha de Jeju, regista-se durante a época dos casamentos, ou seja, nos meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro. Nesta altura, a ocupação hoteleira chega facilmente aos 100%. Uma vez que estes se encontram, na sua grande maioria, reservados, nesta época não é fácil, reservar um quarto ou atividades exteriores. Nos dias de hoje, as visitas turísticas, nomeadamente de recém-casados, que, após os votos matrimoniais, são encaminhados para uma lua-de-mel, no próprio dia, não pode ser considerados como um acontecimento recente.

Após o armistício da guerra da Coreia em 1953, a ilha de Jeju, acabaria por se tornar num destino popular entre refugiados, famílias e ainda jovens casais. Grande parte destes matrimónios, possuíam características semelhantes ao caso Português, uma vez que, sensivelmente na mesma altura, os casamentos por conveniência eram extremamente populares.

Neste

contexto,

será

difícil

portanto, imaginar,

numa

cultura neo-

confucionista dos anos 60, um vasto conhecimento pessoal nos indivíduos envolvidos um vasto registo no que toca á experiência íntima enquanto casal. O povo coreano, havia sido 4ª|Página

durante séculos, extremamente reservado nas relações conjugais pelo que, seria impensável por exemplo, a expressão pública de afeto.

O número elevado de casamentos por conveniência nesta época, os quais, também eles,

seriam

especialmente

controlados

e

vigiados

por membros das famílias envolvidas, seria portanto de esperar, que os casais aquando a chegada a esta ilha em lua-de- mel, não tivessem desenvolvido uma relação de proximidade pessoal (muitos deles não se conheciam) ou íntima.

Estes “negócios familiares” influenciariam de certa forma, o desenvolvimento do romance e conhecimento inter-pessoal do casal. Numa tentiva de aproximação nesta nova relação, os familiares mais próximos dos jovens casais eram frequentemente enviados no dia seguinte á cerimónia matrimonial. Com o seu apoio monetário, estes casais, pernoitariam entre 2 a 3 noites nos hotéis e resorts selecionados. Estes empreendimentos turísticos, acabariam por receber pedidos de recomendações para atividades turísticas, frequentemente de carácter pessoal, que facilitassem uma proximidade mais íntima.

Por força da procura destas atividades e talvez, pela própria escassez de planos de animação turística, que preenchessem os requisitos de abertura intimista, os empreendimentos turísticos hoteleiros passariam então a ter um papel essencial na luade-mel do casal.

Muitos dos gestores dos hotéis e resorts na ilha de Jeju, acabariam portanto, por contratar colaboradores especializados nas artes do amor. Uma vez que 90% dos seus visitantes eram recém-casados em lua-de-mel, estes representavam grande parte dos rendimentos anuais nas unidades hoteleiras.

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Antes desta inovação hoteleira que permitiu não só alongar a permanência mas também alterar comportamentos, estes casais disfrutam ainda hoje, de todo o esplendor que a fantástica experiência paisagística e naturalista que estas atividades têm para oferecer. Em pleno séc.XX,, grande parte dos planos de animação turística, que os hotéis nesta ilha proporcionam aos seus visitantes, encontram-se meticulosamente estudados e perfeitamente inseridos nos percursos turísticos que os sites de turismo promotores do turismo Coreano, têm para oferecer.

Seria difícil ouvir durante o séc. XIX, familiares e adultos partilharem sentimentos ou pensamentos sobre a sua própria vida íntima. Com o passar do tempo e desenvolvimento do turismo na Coreia, o povo coreano, á semelhança do Japão, parte á descoberta de uma educação e informação intimista e sexual, onde os temas retratassem a realidade e liberalização no país.

Numa época onde a informação sobre o tema “erótico” se manteve um tabu durante décadas, apenas no séc. XX assistimos à comercialização de produtos do foro erótico vindos nomeadamente da China e do Japão. Assistimos portanto, a uma liberalização, ainda que controlada, da indústria do sexo. Podemos ainda hoje, assistir a alguns dos aspetos mais tradicionais nas relações intimas Coreanas.

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“Love Land” - Um parque erótico, na ilha Esmeralda da Ásia

É nesta altura que, em 2002 nasce o projeto do parque “Love Land”. Alunos da universidade de Hongik são convidados, pela administração da ilha de Jeju, para participar neste projeto audaz e criar livremente, estátuas e formas de expressão artística inseridas na paisagem natural com na temática do foro sexual e erótico. Este projeto ambicioso teria como objetivo inicial, educar os casais mais jovens, alertando-os para uma inovação e criatividade das suas vidas intimas.

A abertura oficial marcada para 16 de Novembro de 2004 acabou por surpreender e chocar alguns dos seus visitantes. Este parque seria portanto visitado, na sua grande maioria por sul-coreanos em lua-de-mel, os quais seriam atraídos pelo seu exotismo e curiosidade da temática.

Com cerca de 140 estátuas, perfeitamente inseridas na paisagem natural da ilha de Jeju, estas esculturas ao ar livre, representam explicitamente órgãos sexuais genitais de animais e seres humanos em várias posições sexuais e ainda, recriações artísticas da mitologia grega com toques de criatividade únicos.

Do tamanho de dois campos de futebol, este parque proporciona aos seus visitantes, durante os vários percursos livres, a possibilidade de interagir com as estátuas exteriores e ainda tirar, sem restrições, fotografias muito originais para a posterioridade. As esculturas interativas e “jogos” de prazer no parque exterior, são sem dúvida um dos locais mais visitados. Existe também a possibilidade de visitar o “Museu do sexo”, incorporado no interior deste parque, onde podem ser visualizadas outras exposições

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permanentes e temporárias, com a mesma originalidade e criatividade. Neste espaço, algumas das exposições apelam também á interação do visitante proporcionando momentos de curiosidade e humor.

O objetivo deste parque, não seria apenas educativo mas também um género de Kama-sutra Coreano público. Restrito a menores de 20 anos de idade (Organization, s.d.), todas as esculturas são altamente explícitas e ilustrativas. Seria então de esperar, que com a visita de vários casais sem qualquer experiência íntima ou foro erótico, encontrariam neste parque, fontes de inspiração e momentos de humor únicos.

Este parque é o primeiro no mundo a desenvolver uma temática do foro erótico e sexual artístico, envolvido numa exposição permanente naturalista. Em 2009 na China, existiu também uma tentativa de recriação deste parque. Neste parque, os escultores e artistas envolvidos, procuraram partilhar, com recurso a detalhes e representações do conceito “erótico”, inovações e critérios, considerados como típicos nos casais Chineses. No entanto, as autoridades locais Chinesas, após uma primeira inspeção ao parque, decidem um pouco antes da sua abertura oficial, encerra-lo permanentemente. Hoje sabese que este parque está operacional, com algumas restrições exigidas pelas autoridades governamentais.

O que torna este parque estranhamente único é talvez, a inocência dos próprios visitantes coreanos que, em pleno século XX, ainda reprimem e evitam praticar de forma livre e pública, demonstrações de amor e carinho. Ao contrário do que acontecia no séc. XIX, os jovens que tiverem a coragem de os praticar, são ainda hoje, criticados, ainda que de forma mais leve, pela sua audácia.

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O parque “love Land” da ilha de Jeju, têm o tamanho aproximado de dois campos de futebol e alberga no total 140 esculturas e estatuetas. Destas esculturas e estatuetas, 40 estatuetas, encontram-se localizadas no interior do “Museu do Sexo” e as restantes 100 esculturas, podem ser encontradas no exterior do parque. A entrada para o parque custa 9,000 Won (7 euros, em média) e abre as suas portas às 9 horas da manhã. Para os mais corajosos, o parque oferece ainda a possibilidade de ser visitado até à meia-noite (o último bilhete é vendido ás 23 horas). A duração da visita no “Love Land” ronda os 30 a 40 minutos e inclui, para os que desejarem levar a sua própria viatura, a ocupação gratuita de 120 lugares para veículos ligeiros.

Curiosamente, este parque acabou por ser altamente promovido não só na Coreia mas também, nos Estados Unidos e Canadá onde, após uma larga visita nos sites de informação turística e blogues de viagens, encontrei várias descrições deste parque, onde as fotografias, são indispensáveis para uma compreensão do conceito pretendido. Talvez o mais estranho tenha sido, a quando a procura nos livros e guias oficiais entregues pela Embaixada da Coreia em Portugal, por percursos, onde existisse uma inclusão deste parque. Não me foi possível, portanto, encontrar qualquer referência explícita geográfica ou de promoção turística a este parque.

Ainda que não possua uma larga experiência do conhecimento pessoal deste parque, todas as descrições apresentadas ocidentais, ou com recurso a longas reportagens, são lineares e coerentes na partilha da informação, a qual, também pode ser comprovada e visualizada no site de turismo da Coreia.

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Terá este parque resultado? Será que o efeito de educação e formação sexual teve efeitos positivos na sociedade Coreana?

Não poderei confirmar esta informação, no entanto, achei interessante o facto de várias páginas de internet e na visualização de vídeos ou fotografias deste parque, apresentar, na sua grande maioria, idosos em poses muito cómicas nas estátuas exteriores, o que leva a crer que este, acabou por ter um efeito positivo na cultura Coreana. Outro aspecto que considerei igualmente positivo foi a divulgação e adesão a este parque, o qual, embora excêntrico, continua a receber milhares de visitantes todos os dias sem qualquer exposição pública onde se verifique uma promoção explícita, pelas autoridades governamentais do Turismo Coreano.

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Bibliografia

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