A imagem pública da candidata Dilma Rousseff no Jornal Nacional de 7 a 26 de julho de 2014

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XIII POLITICOM – São Paulo (SP) - 05 a 07 de Novembro de 2014

A imagem pública da candidata Dilma Rousseff no Jornal Nacional de 7 a 26 de julho de 2014 1 Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira 2 Universidade Federal de Paraná

RESUMO Este trabalho faz uma análise sobre a imagem pública da candidata a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a partir das reportagens do Jornal Nacional da Rede Globo durante as primeiras 3 semanas da campanha eleitoral de 2014. Para tal pesquisa foram abordadas as caracterizações sobre “imagem pública” desde as perspectivas de Gomes (2005) e Weber (2009) e, por outro lado o Modelo de Propaganda de Chomsky e Hermann (1990). A metodologia adotada foi a análise quanti-qualitativa, que possibilitou enquanto a resultados a possibilidade de medir, descrever e interpretar nosso corpus de dados.

PALAVRAS-CHAVE: Imagem Pública; Dilma Rousseff; Jornal Nacional.

Introdução Este artigo visa realizar uma análise da imagem pública da candidata à reeleição a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, a partir dos conteúdos publicados no Jornal Nacional durante as três primeiras semanas da campanha eleitoral para as eleições a presidência de 2014. A candidata Rousseff teve seu primeiro mandato a partir de 2011 e é membro do Partido dos Trabalhadores que governa o Brasil desde 2003. O objetivo deste trabalho foi caracterizar os elementos que compõem a imagem pública da presidente Dilma Rousseff no Jornal Nacional de 7 a 26 de julho de 2014, através de uma análise quali-quantitativa. Assim, a metodologia foi dividida em duas bases. A primeira (quantitativa) recolhe elementos da Análise de Conteúdo (AC) (BAUER, 2002), o qual possibilitou a sistematização e objetivação do conteúdo das mensagens. Nesta parte, as variáveis estão baseadas no Livro de códigos para Jornais do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política

Trabalho apresentado ao GT 3 –Jornalismo Político e Eleitoral do XIII Congresso Brasileiro de Comunicação Política e Marketing Eleitoral –São Paulo-(SP) 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR, e-mail: [email protected] 1

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e Opinião Pública da UFPR (2014). Por outra parte, a metodologia qualitativa permitiu realizar um processo interpretativo, pois nesse tipo de método é possível indagar sobre um objeto ao qual o pesquisador acede através de interpretações com a ajuda de instrumentos e técnicas, que permitem-lhe involucrar-se com o objeto para interpretá-lo da forma mais integral possível (OROZCO, 1996: 19.) O corpus de dados foi constituído por 307 reportagens correspondentes a todos os conteúdos apresentados no Jornal Nacional de 7 a 26 de julho de 2014. O total de dias coletados foram 18, que equivalem a 3 semanas de difusão de conteúdos no telejornal. O Jornal Nacional foi eleito como material de análise para esta pesquisa devido a que este telejornal é o mais assistido pelos lares brasileiros (56,4%), e por sua vez pertence a Rede Globo, empresa midiática de maior audiência no Brasil (69.8%.) (META, 2010:11.) Assim também é relevante mencionar que no Brasil a televisão é o canal de comunicação mais utilizado (96,6%) e os canais de televisão aberta são os mais assistidos (83,5%) (META, 2010:11). Portanto, para este estudo resulta relevante conhecer os aspectos da imagem pública da candidata Rousseff, refletidos nos conteúdos do telejornal mais assistido pelos brasileiros. Este estudo está dividido em três partes. A primeira é um desenvolvimento teórico sobre os principais conceitos que foram empregados nesta análise, principalmente no que se refere à “imagem pública” com autores como GOMES (2005) e WEBER (2009); assim também do Modelo de Propaganda criado por Chomsky e Hermann (1990). A segunda parte deste trabalho, é uma análise dos dados, dividida em uma base quantitativa e outra qualitativa com o objetivo de descrever os elementos que compuseram a imagem da candidata a presidente Rousseff no telejornal mencionado. Finalmente, apresentam-se as considerações finais.

O Jornal Nacional Conforme apontado anteriormente, o Jornal Nacional é o telejornal mais assistido pelos brasileiros (META, 2010:11) o que dá um caráter de grande importância para este veículo midiático em termos políticos e sociais como construtor de discursos que são difundidos e recepcionados por milhões de brasileiros dia a dia. Por sua capacidade de audiência, o JN é o emissor principal das informações brasileiras; portanto, foi necessário ser estudado. O Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, está no ar, de modo ininterrupto desde o dia 1 de

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setembro de 1969 e representa o conjunto mais bem-acabado de marcas que caracterizam um telejornal no Brasil (GOMES, 2011:1.) Arbex (2003) aprofunda sobre a Rede Globo nos seus estudos ao explicar a ligação deste veículo informativo com os interesses econômicos e estatais brasileiros desde os seus inícios, pois a Tv Globo foi constituída durante a ditadura militar, tecnicamente orientada pela transnacional estadunidense Time-Life graças a um acordo abertamente inconstitucional “abençoado pelos generais”. O objetivo era estabelecer o “padrão Globo de qualidade” à imagem e semelhança dos padrões técnicos praticados nos Estados Unidos. A ditadura teve na Rede Globo uma grande aliada (ARBEX, 2003: 43.). O autor também faz alusão às cerca de cem grandes empresas acumuladas até 1999 pela família Marinho, dona do monopólio Globo, e o compara com outros impérios midiáticos dos Estados Unidos, construídos sob um modelo de mercado. Assim também, Arbex (2003) recorre ao conceito de Fredric Jameson de “capitulação universal” para explicar como um único discurso orientado pelo mercado, pode desautorizar de forma imediata e implacável, qualquer tentativa de formação alternativa. Neste sentido, a mídia estaria contribuindo para construir e difundir esse “discurso universal”. O autor coloca como exemplo as eleições “no Brasil em 2002 onde essa ‘capitulação universal’ pode ser facilmente percebida na retórica de todos os candidatos às eleições presidenciais”. “Os discursos dos presidenciáveis pouco se diferenciavam” (ARBEX, 2003:46.) Nesta linha crítica, Lima destaca também as relações entre a empresa Globo e os seus interesses políticos ao explicar a preferência deste veículo pelo candidato Fernando Collor em 1989, quem depois virou presidente. Há dados de que sua presença nos telejornais da Rede Globo foi significativamente maior do que a dos outros candidatos. Pesquisa do Instituto DataFolha informa que nos últimos 15 dias de junho, no noticiário sobre eleições do Jornal Nacional, Collor ocupou 16% do tempo contra 7% de Brizola e 6% de Lula (LIMA, 2001: 235.) Porém, após duas décadas as relações parecem ter mudado, pois recentemente a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ, 2014) revelou uma pesquisa sobre a visibilidade e valência no Jornal Nacional dos candidatos a presidente apontou que o telejornal exibiu de 1 de janeiro a 9 de agosto, 1 hora e 22 minutos de notícias desfavoráveis (182 informes negativos) para a candidata à reeleição a presidência, Dilma Rousseff, enquanto que as notícias para os outros candidatos foram mais equilibradas. Com esses dados é possível observar um papel 3

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distinto ao que fazia o JN na década de 1980, o qual atualmente não é muito próximo ao governo federal.

A Imagem pública Conhecer os elementos que compõem a imagem pública de um candidato resulta importante ao analisar como estão agindo hoje em dia os aparelhos de construção de campanhas e como estão se apresentando os candidatos frente à cidadania, “num tempo em que parte considerável da disputa política tem sido convertida em luta pela imposição da imagem pública dos atores políticos” (GOMES, 2005: 241.) O anterior é de interesse para compreender o papel que o emissor ou os emissores de mensagens relacionadas aos candidatos jogam durante as campanhas eleitorais na configuração da chamada “imagem pública” que, para autores como Gomes (2005) seria considerada como “uma entidade conceitual, decisivamente apoiada e construída sobre mecanismos enunciativos linguísticos.” “O termo ‘imagem pública’ se refere ao conjunto de características ou propriedades estáveis que se reconhece publicamente compondo uma personalidade” (GOMES, 2005: 252.) Como separá-lo de expressões como “reputação e outras correlacionadas como “fama”, “nome”? A rigor, não parece haver diferença importante entre imagem e reputação. Ao contrário, fama, nome e reputação, pelo menos aparentemente, poderiam recobrir adequadamente o campo semântico que nesses dias vem designado como imagem. Pessoas e instituições, corporações e produtos dependem de uma boa reputação, de um bom nome, de uma boa fama, isto é, de uma imagem positiva. A vantagem do termo “imagem pública” é simplesmente o seu valor técnico em nossa época: trata-se simplesmente da terminologia vencedora (GOMES,2005: 256.)

Segundo Gomes (2005) a opinião pública expõe esses três fatores fundamentais para que a imagem pública se converta num ponto central na disputa política, num fenômeno decisivo no contexto da comunicação de massa. O fenômeno contemporâneo da imagem pública tornou-se o que é, em termos de importância social, devido a três fatores: a) o advento do modelo de sociedades democráticas, trazendo consigo a exigência da esfera pública; b) o advento do modelo das sociedades de massa; c) o predomínio da comunicação de massa como lugar e como recurso expressivo no qual e pelo qual se realiza a esfera daquilo que é socialmente visível (Mickey 1997; Olson at al. 2000, cit. em GOMES, 2005: 262.)

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Por outro lado, para Weber (2009:12) a Imagem Pública tem um caráter ligado ao poder econômico e político, “se constitui numa síntese e quem detiver poder financeiro, político e mediático poderá controlar a sua formação em grande parte, mas nunca na totalidade que só é possível em situações de controle absoluto e censura”. Para a pesquisadora, a sua construção é proporcional a sua desconstrução e é definida pelos cidadãos, receptores ou consumidores, de acordo com seu grupo ou individualmente (WEBER, 2009:12). Portanto, a Imagem Pública é descrita como o resultado de disputas simbólicas que são apresentadas ao imaginário coletivo em busca de respostas ou reações. Por outro lado, a Imagem Pública também é apresentada como um indicador da opinião pública, que por sua vez, tem uma funcionalidade na ininterrupta disputa política junto à sociedade e junto as mídias. Neste sentido, a imagem pública funciona como um referente nos tempos eleitorais ao ser uma representação dos candidatos, que por sua vez influi na opinião pública dos eleitores. A imagem pública poderia ser uma ferramenta que forma parte dos aparelhos de propaganda dos projetos políticos.

O Modelo de propaganda Para o desenvolvimento do presente trabalho tomou-se o Modelo de Propaganda de Chomsky e Hermann (1990) que é uma abordagem a partir da análise sobre o controle monopolista dos meios de comunicação de massas na sociedade estadunidense, mas que pode ser aplicável em qualquer outra sociedade onde o poder midiático esteja concentrado em poucas empresas. Portanto, para a esta análise empregou-se os elementos que compõem o citado modelo com o objetivo de identificar alguns deles na composição da imagem pública da candidata Dilma Rousseff no corpus de dados. Nos países onde as molas do poder estão em mãos da burocracia estatal – mediante o controle monopolista sobre os meios de comunicação, frequentemente complementado pela censura oficial- resulta óbvio que esses meios estão a serviço dos fins de uma determinada elite. Resulta muito mais difícil advertir a atuação de um sistema propagandístico quando os meios de comunicação são privados e não existe censura formal; em particular quando tais meios concorrem ativamente, atacam e expõem com certa periodicidade os erros do governo e das corporações e se autoqualificam energicamente de porta-vozes da liberdade de expressão e dos interesses gerais da comunidade (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 21).

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O modelo denuncia a existência de cinco filtros que de acordo com Chomsky e Hermann põem “ênfase na desigualdade de riqueza e poder, assim como nos efeitos que esta produz a diferentes níveis nos interesses e eleições dos meios de comunicação de massas” (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 22). O primeiro filtro é a Propriedade. A maioria dos principais meios de comunicação de massa pertence às grandes empresas. Para exemplificar este filtro os autores expõem que o jornalista estadunidense, Bem Bagdikian, aponta que apesar do grande número de meios de comunicação existentes em 1986 nos Estados Unidos, somente 29 organizações de meios davam conta de mais da metade da produção de jornais e da maioria das vendas, emissoras, livros e revistas. Neste sentido, algumas das principais empresas de comunicação e outras áreas citadas por Chomsky e Hermann que ainda continuam com grande influência são a ABC, CBS, McGraw-Hill, General Electric, Reader’s Digest, entre outras. O segundo filtro é a Publicidade. Os meios de comunicação dependem da venda de publicidade para obter a maior parte de sua renda. Com a publicidade, o mercado livre não oferece um sistema neutro no que finalmente decide o comprador. As eleições dos anunciantes são as que influenciam na prosperidade e na sobrevivência dos meios. Os que baseiam-se na publicidade recebem desta uma subvenção que proporciona-lhes uma margem de preço-vendasqualidade, que permite-lhes comer o terreno e debilitar aos rivais que não baseiam-se ou dispõem dela (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 43.) O terceiro filtro são as Fontes. A informação mais destacada provém geralmente de grandes empresas e instituições, de acordo como Chomsky e Hermann (1990). Os meios de comunicação mantêm uma relação bastante próxima as fontes de informação poderosas, pois esses meios precisam um fluxo constante de materiais que sejam fidedignos, que por sua vez satisfaçam as demandas diárias de notícias. A economia obriga-lhes a que concentrem os seus recursos nos lugares que costumam produzir as notícias mais importantes, nos que abundam os rumos e as filtrações, e nos que acostumam-se celebrar as conferências de imprensa (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 50.) O quarto filtro é a Pressão. Este ponto refere-se a que os grandes grupos de poder procuram as empresas midiáticas para exercer pressão sobre os conteúdos que devem produzir, atuam como uma espécie de chantagem para guiar os meios de comunicação a seguir uma determinada linha editorial. Podem adotar a forma de cartas, telegramas, chamadas telefônicas, 6

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instâncias, briga, discussões e interpelações ao Congresso, e outros mecanismos de queixa, ameaça ou ação punitiva (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 63.) O quinto filtro é o Anticomunismo como mecanismo de controle. Apesar de que a ideologia do anticomunismo tem diminuído depois da desintegração da União Soviética, as menções sobre o comunismo continuam tendo certa importância. Porém, é preciso reconhecer que este filtro foi criado por Chomsky e Hermann na década de 1980 do século passado. Esta categoria expõe que as revoluções soviética, chinesa e cubana representaram um traumatismo para as elites ocidentais e os contínuos conflito e os divulgados abusos dos estados comunistas tem contribuído a que a oposição ao comunismo se convertesse no princípio da ideologia ocidental (CHOMSKY e HERMANN, 1990: 68.) Ao revisar os filtros deste modelo, foi necessário fazer uma revisão crítica sobre a viabilidade da sua aplicação empírica com nosso corpus de dados. Assim, filtros como Publicidade e a Pressão resultariam muito difícil de identificar de forma explícita num estudo de caso como é o aqui analisado. Portanto, se considerou a possibilidade de adaptar estes filtros, o qual se verá mais adiante. Análise dos dados Base quantitativa Ao todo, foram analisados 307 reportagens apresentados no Jornal Nacional da Rede Globo de 7 a 26 de julho de 2014, os quais dão um total de 18 programas transmitidos durante 3 semanas de segunda a sábado. As categorias criadas para a análise quantitativa estão diretamente relacionadas com o objeto da pesquisa que, nesse caso é a transmissão do JN durante as datas citadas. As variáveis estão baseadas no Livro de códigos para Jornais do Núcleo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública da Universidade Federal do Paraná (2014). A variável Tema Geral identifica o assunto predominante na notícia. Essa variável é dividida em doze categorias: 1) Campanha eleitoral; 2) Político-Institucional; 3) Economia; 4) Política Social; 5) Infraestrutura e meio ambiente; 6) Violência e segurança; 7) Ético moral; 8) Política para Esporte; 9) Cultura/ Variedades; 10) Política Estadual/Nacional; 11) Política Internacional; 12) Outros. A variável Nome do Candidato identifica aos personagens que disputam a eleição para presidente; dividida em 3 categorias: 1) Dilma Rousseff; 2) Aécio Neves; 3) Outros candidatos. 7

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Outra variável é o Tempo de transmissão que identifica o tempo em minutos de cada reportagem. Uma variável a mais é a Valência das reportagens coletadas, dividida em 4 caracterizações: 1) Positiva; 2) Negativa; 3) Neutra e 4) Equilibrada. Finalmente, tem-se a variável Posição que refere-se à localização da matéria relativa ao espaço que ocupa no telejornal. A primeira tabela mostra as frequências da primeira variável, Tema Geral, que coloca Variedades/Cultura como o tema com maior número de aparições no Jornal Nacional (39,08%), seguido por Política Internacional (21,82%). Assim também, pode-se observar que Campanha eleitoral ocupa apenas um espaço de 1.62% (ver tabela 1.)

Tabela 1. Frequências de temas informativos transmitidos pelo Jornal Nacional. Tema Geral Campanha Eleitoral Político-institucional Economia Política Social Infraestrutura e meio ambiente

Frequências 5 7 25 4 15

% Frequências 1.62% 2.28% 8.14% 1.3% 4.88%

Violência e segurança Ético-moral Política para Esporte Cultura/variedades Política Estadual/Nacional Política Internacional Outros Total

47 5 1 120 0 67 11 307

15.3% 1.63% 0.32% 39.08% 0% 21,82% 3.58% 100%

A segunda tabela mostra as frequências da variável Nome do candidato. Nos dados podese perceber que o JN, durante as semanas da coleta, atribuiu apenas 5.52% dos seus conteúdos aos candidatos a presidente. Do total das menções, 70,58% foi para a candidata Dilma Rousseff, 17,64% para Aécio Neves e 11,76% para outros candidatos (ver tabela 2.)

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Tabela 2. Frequências de nomes de candidatos transmitidos pelo Jornal Nacional. Candidato

Frequências

% Frequências

Dilma Rousseff Aécio Neves

12 3

70,58% 17,64%

Outros candidatos

2

11,76%

Total candidatos

17

100%

Outro dado que é possível advertir é o tempo concedido às menções dos candidatos, o qual de um total de 18 horas 49 minutos e 20 segundos, somente 3.1% foi atribuído para os candidatos, dando um total de 35 minutos e 5 segundos. Desse total a mais favorecida foi Dilma Rousseff com 21 minutos e 20 segundos (60.80%). Outros candidatos ficaram apenas com 24.27% e 14.92% (Ver tabela 3.)

Tabela 3. Tempo concedido a menções dos candidatos a presidente no Jornal Nacional.

Candidato

Tempo

% Tempo

Dilma Rousseff

21’20”

60.80%

Aécio Neves Outros candidatos

8’31” 5’14”

24.27% 14.92%

Total candidatos

35’05”

100%

Outros resultados sobressalientes na obtenção de dados que mostraram elementos sobre a imagem de Dilma Rousseff, foram que de 18 dias coletados em 7 deles aparece a candidata Dilma (38.8%). As variáveis Valência e Posição serão aprofundadas na seguinte parte.

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Base qualitativa Para a nossa análise qualitativa, tomamos como base o Modelo de Propaganda (CHOMSKY e HERMANN, 1990) e incluímos duas variáveis da base quantitativa já que o universo de dados foi bastante pequeno para obter resultados medíveis em termos estatísticos, e, portanto foram criadas as seguintes categorias analíticas: 1) Propriedade dos meios de comunicação (Quem é o dono da empresa mediática e as suas relações políticas); 2) As Fontes (Oficial, especialista/intelectual, defensor de interesse público, cidadão individualizado, jornalista -CPOP, 2014-); 3) O anticomunismo (menções sobre o comunismo); 4) Valência de Dilma Rousseff (positiva, negativa, neutra, equilibrada CPOP, 2014-); 5) Posição da reportagem (ordem de aparição na transmissão.) Ao ser categorias preestabelecidas, trabalhou-se com a ideia de que estas, poderiam ou não aparecer nos casos analisados, ou bem, poderia aparecer somente alguma ou algumas delas. Nesta parte da análise foram analisadas as 12 reportagens onde apareceu o nome da candidata Dilma Rousseff, agrupadas em 9 casos. O primeiro caso é a reportagem “Presidente Vladimir Putin é recebido pela presidente Dilma em Brasília”. É uma notícia que fala sobre a vontade de dobrar negócios entre o Brasil e a Rússia, e a assinatura de 8 acordos comerciais entre os dois países. Essa transmissão contou com 3 fontes, duas oficiais e uma do próprio meio de comunicação: o presidente russo Vladimir Putin, a presidente brasileira Dilma Rousseff e a repórter Zileide Silva. A valência atribuída a esta reportagem foi equilibrada devido a que a repórter criou um balanço entre o foco principal da notícia que são os acordos comercias, ao mencionar na sua narração, embora que não fazia parte do acontecimento, o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia. O segundo caso é a notícia chamada “Governo Federal divulga avaliação do Mundial de 2014”. A notícia é um balanço sobre os resultados da Copa do Mundo onde narra-se que os saldos foram positivos, nas palavras da presidente Rousseff: “derrotamos sem dúvida essa previsão pessimista e realizamos, com a imensa contribuição do povo brasileiro, essa Copa das Copas”. Porém a reportagem também mostra uma entrevista com o líder do Senado José Agripino, quem discorda do sucesso do governo na organização do evento e atribui os logros ao povo brasileiro. As duas fontes identificadas são oficiais, e a valência atribuída foi equilibrada devido a que mostra duas caras do fato. 10

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O terceiro caso são as duas reportagens “Sede do banco de desenvolvimento do Brics vai ficar em Xangai” e “Encontro de cúpula do Brics chega ao fim em Brasília”. A primeira é uma reportagem narrada quase em sua totalidade pela repórter Claudia Bomtempo, que fala sobre a consolidação da sede do Brics em Xangai China. Na notícia menciona-se que os acordos “permitirão financiamento de infraestrutura em nações emergentes”, e que a aliança foi criada devido a que os “países enfrentam dificuldades para conseguir empréstimos.” As fontes desta notícia foram a repórter Claudia Bomtempo (meio de comunicação), e a presidente Dilma Rousseff (oficial.) A valência atribuída foi positiva devido a que na consolidação do banco aparece favorável a participação do governo brasileiro. A outra reportagem analisada neste caso fala sobre o fim do encontro dos Brics e menciona que a presidente Dilma Rousseff negou ter cedido a presidência do banco para a Índia. As fontes da notícia foram oficiais e do próprio meio de comunicação (presidente Dilma Rousseff, ministro da fazenda Guido Mantega e a repórter Zileide Silva.) A valência atribuída foi neutra devido a que não inclui conteúdos favoráveis, mas tampouco desfavoráveis. O quarto caso é a notícia “China anuncia fim do embargo à carne bovina brasileira” o qual menciona o fim do cancelamento de exportações de carne brasileira causado em 2012 por um caso de vaca louca no Paraná. A notícia não conta com fontes, pois é narrada pelo apresentador do telejornal, William Bonner que não aparece na transmissão. E a valência é positiva ao ser um fato que traz benefícios para o Brasil através de um acordo binacional entre governos. O quinto caso é a reportagem “Oposição critica governo por hospedar Raul Castro na residência oficial do Torto”, narrada pela apresentadora do Jornal Nacional Patrícia Poeta, a qual expõe brevemente que a “oposição” criticou ao governo por hospedar ao presidente do Estado comunista, Raul Castro na residência oficial do Torto. Também menciona que a presidente defendeu o fato ao dizer que foi um “ato de reciprocidade e boa educação”. A notícia tem fontes ambíguas ao mencionar a “oposição” como um grupo sem nome e uma declaração da presidente Rousseff sem imagens ou áudio dela. Porém, pode-se considerar que as fontes são oficiais e que a valência atribuída é equilibrada, haja vista que difunde a opinião de dois grupos adversários. O sexto caso são duas reportagens: “Datafolha divulga pesquisa sobre avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff” e “Datafolha divulga pesquisa para presidente”. A primeira reportagem mostra uma queda na avaliação do governo revelada pelo instituto de 11

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pesquisa Datafolha, que pertence ao Grupo Folha. A fonte da notícia é especialista ao ser o instituto de pesquisa Datafolha, e a valência atribuída é negativa, pois os dados são desfavoráveis para o governo que encabeça a candidata Rousseff. Por outro lado, a segunda é o resultado da pesquisa Datafolha sobre eleição a presidente que daria a vitória a candidata Dilma Rousseff no primeiro turno, mas também é apresentada uma simulação do segundo turno onde empataria com o candidato do PSDB Aécio Neves. A fonte é especialista, e a valência atribuída é equilibrada já que mostra dados tanto favoráveis quanto desfavoráveis para a candidata. O sétimo caso é a reportagem “MP de Minas Gerais vai apurar construção de aeroporto em área da família de Aécio Neves” que fala sobre a construção de um aeroporto em terras pertencentes a família do candidato a presidente Aécio Neves. Também menciona-se que a assessoria do Neves anunciou que fez uma representação no Tribunal Superior Eleitoral contra a presidente Dilma Rousseff por considerar que há uso da máquina pública a favor da candidatura da presidente. As fontes são oficiais (Aécio Neves, candidato do PSDB) e do próprio meio de comunicação (apresentador William Bonner.) E a valência atribuída é negativa devido a que mostra uma acusação contra a candidata. O oitavo caso são as duas notícias “Ibope divulga pesquisa para presidência da república” e “Ibope divulga pesquisa sobre a avaliação que os eleitores fazem do governo de Dilma”. A primeira fala sobre uma pesquisa da empresa Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística que coloca a candidata Dilma Rousseff como ganhadora das eleições de outubro. A fonte é especialista e a valência atribuída é positiva devido a que os números mostram uma possível vitória. Por outro lado, a segunda reportagem mostra dados sobre uma queda da avaliação do governo. A fonte é especialista (Ibope) e a valência é negativa devido à queda. O último caso analisado foi a notícia “TCU inocenta presidente Dilma no caso da refinaria americana pela Petrobras” que aborda a concessão da inocência da candidata Rousseff pelo Tribunal de Contas da União num caso de corrupção na empresa de biocombustível e energia Petrobras. As fontes são oficiais (ministro do TCU) e do próprio meio de comunicação (repórter Geiza Duarte). A valência é equilibrada devido a que mostra duas vertentes, por um lado a inocência da candidata e por outro, informações sobre um possível envolvimento num caso de corrupção.

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Tabela 4. Aparição de categorias analíticas nas reportagens com variável Dilma Rousseff no Jornal Nacional. Caso Data

Fontes

Anti

Posição

Valência

4

Equilibrada

comunismo 1

14/07/14

Oficiais Meio

2

14/07/14

Oficiais

16

Equilibrada

3

15/07/14

Meio

12

Positiva

15

Neutra

12

Positiva

17

Negativa

19

Negativa

20

Equilibrada

8

Negativa

13

Positiva

Oficial 16/07/14

Meio Oficial

4

17/07/14

Sem fonte

5

17/07/14

Oposição

Presidente

(Fonte

comunista

ambígua)

Raúl Castro

Oficial 6

17/07/14

Especialist a

17/07/14

Especialist a

7

21/07/14

Oficial Meio

8

22/07/14

Especialist a

9

Negativa

22/07/14

14

14

23/07/14

Oficial

12

Equilibrada

Meio Em resumo, percebe-se que somente algumas das categorias analíticas aparecem nos casos analisados. Assim, quando analisou-se a primeira categoria notou-se que é a menos explícita no corpus de dados, porém, ao indagar sobre a Rede Globo, sabe-se que é o 13

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conglomerado de meios de comunicação mais grande do Brasil, que pertence à família Marinho, a mais rica deste país (UOL, 2014.) Enquanto à categoria Fonte (CHOMSKY e HERMANN, 1990) (CPOP, 2014) os dados mostram que a metade dos casos tem fontes oficiais, o qual é significativo, pois isto poderia exibir uma relação se não de proximidade entre a Rede Globo e o governo, tampouco de adversidade (Ver Tabela 4.) A categoria Anticomunismo (CHOMSKY e HERMANN, 1990) somente apareceu uma vez, mas apareceu quando se sugeriu na reportagem que o governo de Dilma Rousseff tinha alguma afinidade com o governo comunista de Raul Castro. Por outro lado, a categoria Posição não teve muita relevância nesta análise, porém permitiu indagar sobre a possibilidade de colocar os conteúdos relativos a Dilma Rousseff no final do jornal, quando a novela das 21h está por começar, e portanto, os níveis de audiência são maiores. Finalmente, a variável Valência foi relevante, porque apareceu negativa e equilibrada em igual número de casos, não obstante ao somar todas as valências percebeu-se que as neutras, equilibradas e positivas são uma quantidade maior do que as negativas, o que gera um balanço que não é precisamente negativo (Ver Tabela 4.) Considerações finais Ao aprofundar-se sobre a presente análise é possível concluir que a imagem pública da presidente-candidata Dilma Rousseff no Jornal Nacional da Rede Globo, durante as primeiras 3 semanas da campanha eleitoral 2014 foi uma imagem de baixa visibilidade e valência equilibrada, mas entre os candidatos ela tem uma visibilidade muito maior que os demais com tendência a negativa. Entretanto, não seria acertado afirmar que a empresa midiática agiu contra a candidata, haja vista que não se conta com dados factíveis para assegurar tal afirmativa. Mas, tampouco foi possível observar algum dado que possa confirmar alguma relação de proximidade entre a candidata Rousseff e a Rede Globo (o qual seria uma clara relação entre mídia e Estado que autores como Arbex (2003) ou Chomsky (1990) sugerem), com exceção de alguns indícios encontrados com respeito a que quando o telejornal fala sobre a presidente, opta por colocar fontes oficiais. Outro aspecto de relevância foi que diferentemente de outros candidatos a presidente, Dilma Rousseff teve maior visibilidade durante as datas analisadas, e em consequência um maior tempo de transmissão, não obstante, as menções foram como presidente da república e não como candidata. 14

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Finalmente, os dados aqui analisados mostraram que as campanhas eleitorais tiveram apenas 1.62% de espaço no telejornal analisado e as aparições dos candidatos somente 5,52%, o qual revela que o Jornal Nacional, apesar de ser o telejornal mais assistido pelos brasileiros e ser comandado pela família mais rica do Brasil, preferiu se manter com uma participação não muito visível durante o primeiro mês de campanha com respeito a esse tema. Referências • ARBEX JR., O Jornalismo Canalha. Casa Amarela, Brasil, 2003. 43,46p. • BAUER, M. W. Análise de conteúdo clássica: uma revisão. In: BAUER, M. W. e GAKELL, N. C. (org.). Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002. • CHOMSKY N., HERMANN E.S. Los guardianes de la libertad, Crítica, Barcelona, 1990. 21,22,43,50,63,68p. • CPOP, Livro de Códigos para Jornais, Universidade Federal do Paraná, 2014. • GOMES I. M., Modo de Endereçamento no Telejornalismo do Horário Nobre Brasileiro: o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, Intercom, 2011, 1p. • GOMES, Wilson. Transformações da Política na era da Comunicação. Paulus, Brasil, 2005, 241,252,256,262p. • LIMA, V. A. Mídia, Teoria e Política. Fund. Perseu Abramo, 2001. 235p. • META, Hábitos de informação e formação de opinião da população brasileira II, Secom, Govierno Federal, Brasil 2010. 18p. • OROZCO G.G. La Investigación en Comunicación desde la perspectiva Cualitativa, Ediciones de Periodismo y Comunicación Social, México, 1996.19p. • UOL, Marinho é a família mais rica do Brasil, segundo Forbes; veja lista, São Paulo, 14 de maio de 2014. Disponível em: http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/05/14/marinho-e-a-familia-mais-ricado-brasil-segundo-forbes-veja-lista.htm acesso em 20 de agosto de 2014, 20:30h • WEBER M. H. O estatuto da Imagem Pública na disputa política, Revista ECO-pós, v.12, n.3, setembro-dezembro 2009. p. 12-13

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