A importância da manutenção de edifícios na concepção arquitectónica de edifícios reabilitados como acto de preservação da memória

September 11, 2017 | Autor: A. Revista Interd... | Categoria: Arquitectura, Ciências Sociais, Arquitetura, Arquitetura e Urbanismo, Ciencias Sociales, Arquitectura y urbanismo
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A importância da manutenção de edifícios na concepção arquitectónica de edifícios reabilitados como acto de preservação da memória Rui Calejo Rodrigues1 Patrícia Fernandes Rocha2 Faculdade de Engenharia do Porto (Portugal)

A consciencialização da importância da permanência do nosso legado histórico nas cidades, como uma marca da nossa identidade, e a necessidade de manter e proteger esses espaços de um crescente envelhecimento e consequente degradação, tornam a abordagem da problemática da Manutenção de edifícios um aspecto importante a considerar, porque contribui para a preservação da memória pois possibilita que se continuem a utilizar soluções com valores patrimoniais. Todas as intervenções no Construído tem um ponto em comum porque partem de uma necessidade de requalificação, que pode manifestar-se através da degradação de parte do seu sistema ou de alguns dos seus elementos. A Manutenção deve acompanhar todo o processo de construção, desde a fase de concepção arquitectónica passando pela fase de apropriação. Dando continuidade ao trabalho de investigação e desenvolvimento de Ana Roders (2007) sobre o tema “ Rearchitecture”, Calejo Rodrigues (2001) sobre a Manutenção de edifícios, o que se propõe apresentar baseia-se numa metodologia que pretende definir um conjunto de ferramentas de apoio ao arquitecto ainda na fase de concepção, através da decomposição de um edifício existente com valores patrimoniais em vários elementos _EFM, sendo posteriormente, determinado um conjunto de exigências funcionais, que definem as acções de Manutenção relevantes no processo de elaboração conceptual: Inspecção, Pró-acção, Limpeza, Sustentabilidade, Correcção, Substituição, Cumprimentos Legais, Condições de Utilização. Procede-se a uma avaliação qualitativa e de multicritério das opções tipo baseadas nas diversas acções de Manutenção pré-estabelecidas e da relação destas com o cumprimento das várias exigências funcionais. A análise dos resultados permite acima de tudo equacionar uma questão fundamental no acto de concepção por parte do Arquitecto, que é, ter presente atempadamente quais as consequências das suas escolhas e opções, contribuindo para a permanência da obra. Awareness of the importance of preserving our historical legacy in the cities, as a mark of our identity, and the need to preserve and protect those venues from increased aging and its subsequent degradation, make the building maintenance issue a relevant aspect to be considered, because it contributes to the memory preservation as it allows to continue using solutions with heritage values. All interventions upon what is Built have a common point as they start off from the need for requalification, which can manifest through the degradation of part of its system and

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Doutor em Engenharia Civil, Professor Auxiliar da Faculdade de Engenharia do Porto, SCC/FEUP, Gequaltec.- [email protected] 2 Arquitecta, Mestre em Reabilitação do Património Edificado, pela Faculdade de Engenharia do Porto, FEUP, Gequaltec.- [email protected] AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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of some of its elements. Maintenance should follow the entire construction process, from initial design concept through the process of appropriation. Continuing research and development work of Ana Roders (2007) on the theme "Rearchitecture", Calejo Rodrigues (2001) on the building maintenance, what is intend to present is based on a methodology that provides simple tools that the architect can use in design phase, through decomposition of an existing building with heritage values in parts – Elements Source of Maintenance ESM - , and subsequently, a set of functional requirements that determine the performance regarding building maintenance on account of architectural decisions. Relevant maintenance actions are defined: Inspection, Pro-action, Cleaning, Correction, Replacement, Legal enforcement, Limits of use. Using a Multicriteria Analysis (MCA) it is obtained a qualitative evaluation of different options based on maintenance requirements accomplishment. The analysis of the results above all consider a fundamental question in the act of architectural conception from the architect, that is, to remember in time what the consequences of their choices and options, contributing to the permanence of the work. Palavras-chave: Concepção arquitectónica, Preservação da memoria, Manutenção de edifícios, Sistema de apoio à decisão (DSS). Keywords : Architectural Design, Memory preservation, Building Maintenance, Decision Supporting System.

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INTRODUÇÃO Toda a obra de arquitectura é sempre concebida com o intuito de resolver um problema relativo à actividade do Homem como resposta às suas necessidades e de acordo com as suas exigências. Por isso a arquitectura como actividade humana tem um papel eminentemente cultural e social, que como objecto arquitectónico adquirá com a passagem do tempo. Essa característica de solidez ou firmitas foi já referida por Vitruvius Pollio, no seu livro sobre os princípios básicos da arquitectura e da construção ao abordar a importância de como manter e cuidar os edifícios. Será no tempo que a obra de arquitectura imprimirá a sua importância como valor cultural, social que representa. E, para além disso, será no tempo que se perceberá a sua capacidade de resposta às questões de satisfação das necessidades para que foi construída. (Fig.1)

Fig.1_O passado e o presente e a permanência no tempo. Casa do Farol. Cascais.

Ao longo do tempo a obra de arquitectura foi traduzindo diferentes necessidades. Na Pré - História as primeiras construções foram apenas uma resposta às necessidades mais básicas e urgentes do ser humano; como as de abrigo das intempéries e do perigo animal. Desde as civilizações antigas, do Egipto e da Grécia, a arquitectura foi sendo uma resposta a funções e exigências, não apenas físicas, mas também sócio culturais. No

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entanto, o ser humano constrói formas que não só seguem requisitos funcionais como também respondem ao desejo de viver num mundo “ belo “ e agradável. Na civilização Grega o patronato do arquitecto é a Cidade-Estado. Cada patrono destas cidades, tem como principal tarefa a construção dos templos dos seus Deuses e dos edifícios da administração e dos serviços públicos. Tinham a seu cargo alguns arquitectos escolhidos pela população para trabalhos de recuperação de intervenção urbanística ou de construção de monumentos comemorativos. Em todo este cenário, pode concluir-se que, para garantir toda esta unidade e harmonia, aspectos muito precisos ao nível do enquadramento com a natureza, com a construção e com manutenção, embora não muito explícito, neste último caso, tenham estado presentes no pensamento do Homem. Na civilização Romana, o papel dos arquitectos, e destes, na sociedade é diferente, pois na Grécia conheciam-se os nomes dos responsáveis das obras e em Roma não. Os arquitectos de Augusto e outros imperadores sempre se mantiveram no anonimato e as obras sempre foram atribuídas aos seus Imperadores. “ Não existia serviço de limpeza urbana nem iluminação; somente com César se obriga a que os proprietários das casas procedam à limpeza da área adjacente à sua propriedade (…) toda a tecnologia de então não se mostra à altura dos problemas criados pelo gigantismo da cidade, atingindo-se, assim, a ruptura.” (Campos, J.) Roma é um exemplo paradigmatico da não capacidade a determinado momento de gerir a sua própria dimensão atingindo no séc. IV uma escala imensa, que conduziu a uma ruptura. Na Idade Média, a arquitectura é, acima de tudo, o reflexo de uma filosofia de vida de um povo cristão crente numa figura divina, superior à condição humana. O arquitecto estava sujeito às regras e aos mandos litúrgicos mas, ao mesmo tempo, tinha o privilégio de contactar directamente com os mais eruditos tirando proveito dos ensinamentos. No Gótico a profissão atinge grande prestigio abandonando o anonimato da Idade Média. Havia sempre um arquitecto do Rei ou um Arquitecto da vila.

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A partir do séc. XII os arquitectos, organizam-se numa espécie de associações onde assumem o compromisso de não comunicar a outrem os conhecimentos teóricos adquiridos. A valorização do “eu” na qualidade do Homem culto, conhecedor do mundo e de todas as ciências é um indício que adivinha a chegada do homem artista do Renascimento. No Renascimento a arquitectura foi objecto de estudo e de reflexão na criação de uma arte original, mas a partir do séc.XVII, é considerada como uma arte importante. Começa-se a construir à maneira dos grandes arquitectos do Renascimento, e mais tarde, a arquitectura começa a valer pela sua estética – o Barroco - e não pelos espaços . O Ecletismo é a resposta e a fuga. E o que é o Ecletismo? A arquitectura da expansão industrial. “ Quando surge o contraste entre a utilidade e a vida, entre o mito e a arte, apresentam-se os dois aspectos da civilização industrial: o romantismo dirigido ao passado, e o mecanismo dirigido ao futuro” ( Zevi, B.) O séc. XX é a Era da máquina, e com ela, a paisagem sofre grandes alterações. Uma das principais implicações da Revolução Industrial foi o abandono da produção artesanal em favor da produção em série cujo ritmo era muito superior e compensatório. A modernidade surge assim num desenrolar de acontecimentos, ideias e movimentos onde os arquitectos, ainda muito ligados ao passado, se reuniam no esforço conjunto de dignificar a profissão. O elo de ligação entre os arquitectos e a sociedade é a responsabilidade moral e ética pois a sua função é proporcionar o bem-estar a uma colectividade e não apenas a uma elite. A cidade passa, por isso, a ser um dos temas dominantes não só no meio arquitectónico como também no político.

INTERVENÇÃO NO CONSTRUÍDO Na arquitectura, todas as interpretações que se possam fazer em termos gerais, de uma avaliação dos valores formais, funcionais, técnicos dos materiais, todos se materializam no espaço. Interpretar o espaço significa por isso incluir todas as realidades de um edifício. Esta última referência mais não é, do que um exemplo, de como ao longo dos AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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tempos, o Homem pensou o espaço, não de forma arbitrária, embora em algumas fases tenha sido uma mera resposta às necessidades da época, dadas as carências existentes, mas há em todo este percurso, razões e preocupações do arquitecto, com vista à selecção no espaço proposto de determinadas formas, de determinados materiais, de determinados conceitos, que condicionaram as suas escolhas. As razões de determinadas opções, tiveram sempre como base de preocupação as circunstâncias e exigências do lugar. O lugar, além de representar a história dessa sociedade, de uma forma de viver, de uma solução construtiva, será também a história de como esse legado construído envelheceu. Nesse sentido, ele representa já um valor em si, uma identidade temporal com um passado, e com tudo aquilo que no momento da intervenção ele representa. É por isso, muito importante, perceber as mutações do lugar, o que envelheceu de forma mais acentuada, os materiais que se degradaram, ou seja, entender como a passagem do tempo, alterou o construído. Isto permitirá, prever e perceber a passagem do tempo sobre o construído, o que significa entrar já na dimensão arquitectónica. Como referiu Nuno Portas “ Por outras palavras, os arquitectos podem ter-se deixado submergir nos casos locais, no pitoresco da situação a resolver, demitindo-se de uma visão de conjunto, que defina o que deve ser tomado como condicionamento formal e o que deve ser abandonado, numa perspectiva consciente das transformações necessárias que recusa vincular o novo habitat a atavismos e formas mortas.” Essa visão pressupõe fundamentar o lugar, o seu contexto, os seus requisitos e perspectiva-la tendo em conta um conjunto de exigências a que terá de corresponder, que serão materializadas por condicionalismos a nível formal e de conteúdo, e que por sua vez, são definidos de acordo com uma metodologia para a intervenção em causa. Uma intervenção de reabilitação pressupõe uma requalificação do edifício na medida em que contribui para a melhoria de pelo menos uma das suas características, mas um dos seus principais objectivos deverá também ser a sua preservação. À partida, todas as intervenções no Construído partem de uma necessidade de revitalização que pode

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manifestar-se através da degradação de um dos elementos do edifício ou de um conjunto ou até através da sua obsolescência. Para além, de todos os conceitos aplicáveis à arquitectura, não devemos esquecer a importância da mesma enquanto resposta a um conjunto de exigências funcionais colocadas na fase de concepção arquitectónica. Conseguindo que os aspectos relacionados com essas exigências sejam assegurados, conseguimos também minorar problemas de desempenho do edifício em serviço. Sabe-se contudo, que do passado apenas uma parte da arquitectura chegou até nós, o que acontecerá também com a arquitectura que se produz hoje, no momento presente. Um dos motivos pelo que tal acontecerá, terá a ver com a sua capacidade de afirmação e integração no conjunto urbano. Mas para além do valor cultural associado ao não menos importante valor simbólico e social, como acto de preservação da memória, o valor da obra pela sua “solidez” construtiva será com certeza um dos motivos. No caso da Reabilitação de edifícios é a especificidade e o carácter único de cada intervenção que importa analisar. Conhecer o seu contexto, a sua nova função, as suas novas exigências para perceber o que é importante reabilitar e como faze-lo de modo a manter a obra de arquitectura ao longo do tempo. A partir das condições em que o edifício se apresenta e dos valores que transmite, podemos orientar a intervenção a realizar ao perceber se no seu decurso há valores a anular, em detrimento de outros, ou se por outro lado, existem elementos a manter em prol de uma coerência de conjunto de outros valores. Tudo depende, dos critérios dependentes das exigências a que a obra de arquitectura terá de dar resposta face à nova função, ou adaptação da mesma e, principalmente da importância dos valores que reconhecemos. Valores esses presentes na obra e identificados na sua forma, na sua estrutura, na sua matéria, nos seus materiais, nos seus elementos singulares. Para além do reconhecimento de valores, é também muito importante um levantamento das condições em que se apresenta o edifício a que o mesmo está sujeito. Isto passa, pela análise do estado de degradação do edifício e dos seus elementos, pela interpretação das causas dessa degradação e pela interpretação das potencialidades ou limitações que dai poderão advir. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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Na verdade, é no momento em que a obra de arquitectura entra na fase de apropriação, que começa o seu processo de degradação, ou seja, é a partir da sua utilização que concretamente começam a surgir as manifestações da sua permanência no tempo. Prever e até certo ponto minimizar aspectos que interfiram directamente no seu bom desempenho e no seu tempo de vida previsto, seria um objectivo de todo o interesse. A concepção arquitectónica deve ser capaz de assumir a própria complexidade do seu tempo, para a qual alguns de nós terá o privilégio de contribuir, impulsionando a definição de um novo cenário, que procura explorar novas formas, novos usos e novos materiais. Dentro da complexidade de intervenção do arquitecto, existe a previsão de uma reutilização dos espaços e respectiva renovação urbana, o que implica intervir no Património.

METODOLOGIA A relação entre o homem e o seu meio ambiente tem sido objecto dos mais variados estudos, assim como, a informação sobre os factores que afectam o comportamento do edifício com o correspondente interesse nas técnicas que permitem a ponderação destes factores. É necessário ter presente, que não é possível contabilizar de um modo racional e total o comportamento da quantidade das variáveis que intervêm no projecto. Mas é necessário controlar e conhecer esses mesmos factores que condicionam o comportamento do edifício de modo a optimizar o melhor possível, o processo de concepção de um edifício e a sua manutenção. Numa intervenção de reabilitação, e numa primeira fase, são a interpretação do existente e o reconhecimento dos valores que determinam o tipo de requalificação e quais os valores que devem permanecer. O estudo da relação urbana com a cidade, o seu valor histórico e patrimonial e a análise de todas as anomalias desenvolvidas ao longo do

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tempo permitem perceber o que se vai preservar, e de que modo, o novo poderá interferir com o carácter do edifício existente. Assim sendo, o edifício é decomposto nos seus vários elementos fonte de manutenção EFM que agrupam vários componentes dos vários sub-sistemas, como sendo: A estrutura, fachada, pavimento/tecto, paredes interiores, vãos exteriores, vãos interiores, coberturas, comunicações verticais e instalações. Esta metodologia passa pela caracterização dos vários elementos do sistema construtivo e dos respectivos sub-sistemas, e assim sendo, também dos aspectos relacionado com a manutenção. Simultaneamente, a arquitectura tem que acompanhar as exigências da evolução do tempo, que passa também pela necessidade de concepção de novas formas, que melhor respondem às novas solicitações. E essas solicitações surgem do facto de que todo o Construído possui características que tem de satisfazer as necessidades dos utentes. Pois é essa a sua função. As exigências funcionais são isso mesmo, o objectivo em si. No contexto específico, é necessário determinar as exigências funcionais, para o comportamento do edifício, avaliar e estabelecer recomendações para a elaboração do projecto. Esta avaliação é baseada no reconhecimento de determinadas exigências inerentes à construção do edifício tendo sempre como base estabelecer a sua relação com o seu plano de manutenção. A manutenção introduzida na fase de concepção permite ao arquitecto ajudar a compreender a utilização do espaço num determinado momento, pela presença dos seus diversos elementos e componentes, pelo estado em que as pré-existências se encontram permitindo decidir de forma fundamentada as opções que necessariamente o arquitecto tem de ter em cada fase do projecto. No caso da Reabilitação de edifícios, o domínio do papel da Manutenção também assume um carácter mais complexo motivado por várias questões: ▪ Existência de constrangimentos dimensionais; ▪ Particularidade de utilização de certas especificações; ▪ Necessidade de repensar as tecnologias; AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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▪ Cautela acrescida na selecção de materiais e na sua compatibilidade com os existentes; ▪ Conseguir garantir um carácter de reversibilidade sempre que possível; ▪A acessibilidade à maioria das evidencias históricas do edifício; Como consequência de todo este raciocínio, convêm reter algumas premissas. Por um lado, o Homem é um ser social, e esta é a sua principal condição. Para qualquer outro animal viver em grupo é um instinto de sobrevivência, mas ao Homem foi-lhe dada a capacidade de pensar, sentir. Mas por outro, o facto de sermos seres sociais não significa que nos relacionemos todos da mesma forma. Dai que as relações sociais sejam tão importantes na organização espacial e na arquitectura. É também uma questão de escala, uma vez que as dimensões de um espaço deverão corresponder não só ao tipo de actividade deste, como também ao tipo de relação que as pessoas mantêm entre si. A arquitectura dá forma ao espaço, e o indivíduo dá-lhe vida e sentido. Como referiu Cabrita Reis, o espaço é usado segundo as suas capacidades funcionais, desempenho que pode ser facilitado pelas características culturais e simbólicas desse espaço; mas também esse exercício pode ser complicado por estas mesmas características, tal devese então, à subordinação do uso a uma outra lógica e a uma satisfação superior à meramente funcional. Aquelas características culturais e simbólicas materializam os padrões culturais, tanto no espaço urbano como no alojamento. O processo de concepção arquitectónica implica assim um conjunto de variáveis algumas das quais mais abstractas e subjectivas. Como referiu Fernando Távora, “o arquitecto, pela sua profissão, é por excelência um criador de formas, um organizador do espaço; mas as formas que cria, os espaços que organiza, mantendo relações com a circunstância, criam circunstancia e havendo na acção do arquitecto possibilidade de escolher, possibilidade de selecção, há fatalmente drama”. A relação estabelecida entre um conjunto de exigências e as acções de manutenção mais relevantes no processo de elaboração conceptual conseguem dotar ainda na fase de projecto o arquitecto de um conjunto instrumentos que lhe permitem optar pela solução que melhor se adequa à sua intenção da ideia do projecto. Foram consideradas as seguintes exigências definidas da seguinte forma :(Rocha, P.)

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▪ Exigências de segurança_ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todas as condições de segurança e protecção da vida dos seus utentes e a sua integridade física. ▪ Exigências de conforto_ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todas as condições de habitabilidade e exigências primárias de vida dos utentes. ▪ Exigências de adaptabilidade _ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todas as condições de flexibilidade e ajustamento dos elementos do sistema da construção e respectivos espaços do edifício à vida dos utentes. Esta exigência conduz a uma ideia de possível complementaridade dos espaços. Mas do que nunca, os espaços devem possuir uma capacidade de adaptação a novos usos, a novas utilizações. ▪ Exigências de percepção_ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todos os aspectos que possam ser quantificáveis na organização do espaço. ▪ Exigências de durabilidade_ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todas as condições de desempenho das actividades dos utentes de acordo com os níveis de satisfação dos seus elementos e equipamento. ▪ Exigências de Economia _ devem ser garantidas ao nível da elaboração do projecto todas as condições de viabilidade dos custos inerentes do uso por parte dos utentes. Define-se uma avaliação da relação entre as referidas exigências e as principais acções de Manutenção relevantes na elaboração conceptual: Inspecção, Pró-acção, Limpeza, Sustentabilidade, Correcção, Substituição, Cumprimentos Legais, Condições de Utilização. Esta avaliação é realizada para cada elemento do sistema construtivo em que o edifício é decomposto. Como exemplo, considerou-se um dos elementos EFM- vão exterior (Fig.2), a exigência funcional

durabilidade e a acção de manutenção – limpeza. Em intervenções de

reabilitação no património edificado, os vãos são genericamente de sacada de batente ou de guilhotina, sendo no caso concreto de sacada. O que faz mais sentido, manter a solução existente, ou não? Quais as soluções alternativas e as mais valias em termos de limpeza: ▪ Um vão basculante só pode ser limpo por fora. Dada esta dificuldade deve introduzirse uma ferragem que permita desengatar do caixilho e para assim poder limpa-lo. AGIR - Revista Interdisciplinar de Ciências Sociais e Humanas. Ano 1, Vol. 1, n.º 5, nov 2013

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▪ Um vão de guilhotina deve ter as duas folhas a correr de modo a evitar problemas de limpeza, pois só assim pode ser limpo a partir do interior. ▪ Um vão projectante só pode ser limpo na totalidade por fora, dai o cuidado na sua concepção e respectiva localização. ▪ Um vão de abrir ou pivotante não representa relativamente a este aspecto problemas de maior, dependendo contudo, sempre do tipo de utilização. O arquitecto para poder decidir, tem de ter presente durante a fase de concepção, que de entre as várias soluções possíveis, qual será a que melhor garante uma resposta eficaz às necessidades do utente, e isto, passa por optar pela solução que cumpra com os requisitos das várias exigências funcionais, que actuam de forma determinante nas acções de manutenção e que contribuem de forma decisiva para a permanência da obra no tempo.

Fig.2_ Solução para limpeza do vão

CONCLUSÕES O nosso sentimento e compreensão estão enraizados no passado. É por isso que o significado que criamos com o edifício deve respeitar a memória. Se permitirmos que o decurso do processo de projectar seja repetidamente baralhado por ideias subjectivas e

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não reflectidas, pode admitir-se a importância de sentimentos pessoais no acto de projectar (Zumthor,P.) Assim sendo, será importante no decurso de todo o processo implícito numa obra de arquitectura, que existam instrumentos de auxílio concretos que o possam ajudar sem serem impositivos no seu acto de concepção e de percepção do que o rodeia. A Manutenção contribui para garantir que o edifício desempenhe as funções para as quais foi projectado, permitindo assim preservar os seus valores, para que estes possam permanecer no tempo. Em termos de projecto, estamos a falar de um conjunto de acções que visam tirar o máximo partido de todos os elementos do sistema do conjunto construído, ou seja, a existência de um conjunto de soluções e medidas que acompanhem a fase de projecto que conseguem antecipar cenários de degradação do edifício. Os resultados obtidos permitem clarificar a importância do papel da Manutenção nas fases preliminares do projecto e as suas consequências à posteriori, e por outro, criar uma forma de apoio à decisão do arquitecto ainda em fase de concepção arquitectónica, que constitui um instrumento de auxílio em todo esse processo, permitindo estabelecer de forma orientativa aspectos relevantes com base em procedimentos de Manutenção.

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