A Indonésia não cedeu ao \"jeitinho brasileiro\" - Crítica a uma curiosa prioridade diplomática de nosso governo
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A Indonésia não cedeu ao “jeitinho brasileiro”. Crítica a uma curiosa prioridade diplomática de nosso governo Antonio Caleari
Publicado em 01/2015. Elaborado em 01/2015.
Reclamamos da impunidade, ao mesmo tempo em que nossos representantes se humilham perante um estado soberano, a fim de acochambrar a justa penalidade de mais alguns delinquentes que são, agora, vendidos à opinião pública como coitadinhos. Quantas vezes um chefe de estado brasileiro tomou para si a defesa dos interesses de um de seus cidadãos no exterior, mobilizando todo o aparato diplomático para esse precípuo fim? Reportam os noticiários que a presidente Dilma Roussef ligou para seu correspondente indonésio, a fim de que fizesse um último esforço para reverter a execução dos criminosos os quais tanto nos orgulham em ter introduzido quilos de cocaína naquele país. Teria dito a presidente que a confirmação da pena de morte para os mimosos sentenciados (um deles travestido de instrutor de voo) “geraria uma comoção nacional”. Vale perguntar: a presidente tomou o remedinho matutino antes de falar uma idiotice desse tamanho? O procuradorgeral da república andou compartilhando do mesmo cachimbo da paz, tendo em vista ter encampado esse desvario, esta falta de senso de prioridade, uma completa incompreensão de qual seja a noção de justiça mais gregária e disseminada no seio popular? Deixo a sugestão de que os institutos de pesquisa consultem a população a respeito não apenas destes casos em especial, mas também da adoção da pena capital para políticos corruptos, executivos de empresas corruptoras, maus gestores do patrimônio nacional, traficantes de drogas (crime tipificado hediondo em nossa legislação), estupradores, sequestradores e demais psicopatas que martirizam, diariamente, a sociedade brasileira. Os ativistas moderninhos, professores universitários e analistas políticos que tanto defendem o incremento da participação popular na política, nestas horas, se escondem e fogem ao enfrentamento da “maioria democrática”, quando a mesma apoia posições ditas conservadoras e radicais (palavra esta que deveria ser antes entendida em seu sentido virtuoso: ir à raiz do problema). Não seria legítimo, segundo as regras do jogo, que os eleitores decidissem sobre a introdução da pena de morte no país, ainda que para isso seja necessária emenda ou até mesmo uma nova constituinte? Este e outros “inconvenientes sufragistas” os hipócritas defensores de uma democracia seletiva, e que vivem em suas bolhas acadêmicas e ideológicas, ainda não resolveram. Para quantos brasileiros vítimas de crimes no exterior a presidente já se deu ao trabalho de pegar o telefone e intermediar, pessoalmente, a defesa de seus direitos? Quantos dramas familiares, oriundos do uso de drogas, ela já assistiu de perto? O senhor Janot, ao seu turno, alguma vez já ofereceu seus préstimos aos compatriotas que, no exterior, produzem pesquisa de qualidade, são empreendedores, artistas, atletas, trabalhadores honestos e que estão positivamente integrados em outro organismo social sem nos envergonhar? Qual o número de servidores públicos de nosso oneroso corpo diplomático é mobilizado, diariamente, para interceder a favor dos concidadãos de bem que sofrem abusos alhures? Em matéria da BBC, reproduzida pelo portal G1, contanos a escritora australiana Kathryn Bonella, a qual conheceu ambos os condenados já no corredor da morte, acerca de suas escolhas e do modo de vida que experimentavam:
"Os brasileiros que encontrei tinham basicamente o mesmo perfil. Eram surfistas que viram no tráfico, em especial de cocaína, uma chance de se manter em Bali e viver uma vida de fantasia, pegando ondas, indo a festas e encontrando belas mulheres. [...] Eles eram todos de classe média, com escolaridade e conhecimento razoável de inglês. Entraram no tráfico pela curtição, não por uma necessidade econômica. Queriam viver tendo do bom e do melhor. Bem diferentes das 'mulas' (transportadores de droga), que recebem pouco dinheiro para muito risco. Um dos brasileiros que conheci em Bali podia ganhar uma fortuna com uma viagem bemsucedida. [...] Archer dominava o fornecimento de maconha em Bali e tinha até registrado a marca de um tipo de erva que vendia, a Lemon Juice.” Decerto os setores “progressistas”, um oportuníssimo e covarde expresidente, a playboyzada mimada, os neohippies e toda esta vanguarda do que não presta se levantarão prontamente em advogar em causa própria contra a nossa “atrasada política antidrogas”. Dizem se tratar de uma “questão de saúde pública”. Resta a dúvida: quantos bilhões de reais já foram devolvidos ao erário pelos viciados (que optaram conscientemente em entrar nesse mundo, mas não conseguem sair) e drogados ocasionais, em virtude do grande fardo que essas pessoas criam justamente para o nosso já sobrecarregado sistema público de saúde? É claro que esse e outros questionamentos a turma do “apartamentinho na zona sul do Rio de Janeiro” se exime de responder. A pseudoelite acadêmica e toda a classe de maconheiros só querem fumar seu baseado, eventualmente “dar uns tirinhos”, de forma inconsequente e sem entender a severa implicação social de sua prática “recreativa”. Em que outra ocasião, por exemplo, os alunos da USP reagiram de forma tão violenta do que quando a polícia resolveu fazer valer a Lei naquela terra de ninguém, a qual se pretende seja livre da intervenção que o resto dos mortais está sujeito a sofrer? Coloquemos a parcela doutrinada e doutrinante dos professores de ciências sociais e seus estereotipados alunosmilitantes, os quais pouco de útil produzem para a coletividade, para recrearem numa cracolândia, numa ala psiquiátrica de hospital, numa clínica de recuperação ou num território violentamente dominado por facção do crime organizado (que é financiado pela respeitável atividade de brasileiros como Marco Archer e Rodrigo Gularte). Fôssemos um país sério, nossa presidente ligaria para a autoridade indonésia a fim de parabenizar suas forças de segurança pela bemsucedida captura de criminosos hediondos; e se desculparia pelo inconveniente causado! Aprenderíamos com eles como punir a contento um crime de efeitos tão perversos em milhões de famílias pelo mundo afora. Reclamamos da impunidade, ao mesmo tempo em que nossos representantes se humilham perante um estado soberano, a fim de acochambrar a justa penalidade de mais alguns delinquentes que são, agora, vendidos à opinião pública como coitadinhos. Erguerá a presidente assaltante de bancos o punho cerrado em homenagem aos fuzilados? Às autoridades indonésias, fica aqui o apelo de um brasileiro que não é chefe de estado (e muito menos procuradorgeral da bandidagem emigrada), mas que já viveu na pele (mais de uma vez) a tragédia familiar causada pela dependência química: continuem indemovíveis na defesa de seu povo. Se, porventura, nossos altivos mercadores de entorpecentes, fomentadores conscientes da escravidão alheia, voltarem a aportar em vossas terras, executemlos sem dó nem piedade. Milhões de brasileiros os apoiam e os aplaudirão.
Autor Antonio Caleari Bacharel em Direito pelo Largo de São Francisco (FDUSP) e autor do livro “Malleus Holoficarum: o estatuto jurídicopenal da Revisão Histórica na forma do Jus Puniendi versus Animus Revidere” (Chiado Editora: Lisboa, 2012). Site(s):
www.malleusholoficarum.com.br www.revisionismo.com.br
Informações sobre o texto
Como citar este texto (NBR 6023:2002 ABNT) CALEARI, Antonio. Indonésia x jeitinho brasileiro: crítica às prioridades diplomáticas. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 20, n. 4222, 22 jan. 2015. Disponível em: . Acesso em: 19 maio 2015.
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