A indústria musical pop asiática: estudo comparativo sobre a construção de celebridades e o comportamento de fãs no ambiente digital.

May 31, 2017 | Autor: Beatriz Aoki | Categoria: Japanese Studies, Korean Studies, Korean Wave, Comunicação e Práticas de Consumo
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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING (ESPM – SP) GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL COM ÊNFASE EM PUBLICIDADE E PROPAGANDA

BEATRIZ YUMI AOKI

A INDÚSTRIA MUSICAL POP ASIÁTICA: estudo comparativo sobre a construção de celebridades e o comportamento de fãs no ambiente digital

SÃO PAULO 2014

BEATRIZ YUMI AOKI

A INDÚSTRIA MUSICAL POP ASIÁTICA: estudo comparativo sobre a construção de celebridades e o comportamento de fãs no ambiente digital

Trabalho

de

Conclusão

de

Curso

apresentado à Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP) como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda. Orientadora: Profª. Rosilene Moraes Alves Marcelino

São Paulo 2014

Beatriz Yumi Aoki

A INDÚSTRIA MUSICAL POP ASIÁTICA: estudo comparativo sobre a construção de celebridades e o comportamento de fãs no ambiente digital

Trabalho

de

Conclusão

de

Curso

apresentado à Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP) como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda.

Aprovada em ____ de __________________ de 2014 BANCA EXAMINADORA

Profª. Rosilene Moraes Alves Marcelino, Mestre em Comunicação e Práticas de Consumo - Orientadora (ESPM-SP)

Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP)

A todas as palavras e pessoas queridas que me incentivaram a construir este trabalho.

AGRADECIMENTOS Primeiramente, me parece importante ressaltar que este trabalho foi composto por muita vontade, algumas noites maldormidas, litros de energético e, sobretudo, muito amor. Amor este que parte do tema, mas segue para o orientador, professor, familiar, amigo, namorado, colega de trabalho, chefe e, enfim, cada um dos participantes ativos em minha vida que demonstraram compreensão, incentivo, interesse e muito carinho. Agradeço especialmente aos meus pais, meu irmão e à Cissy, por tudo o que fizeram por mim ao longo destes anos e pelo apoio durante este estudo e toda a faculdade, mesmo sem entender muito bem o tema ou o porquê de minha escolha. Obrigada também a toda a minha família, por sempre acreditar em mim. Agradeço ao meu namorado, que conheci nos primórdios do pré-projeto, e que acompanhou todas as crises, inseguranças e cansaço com muitos sorrisos e amor. Obrigada por permanecer ao meu lado, figurativa e literalmente, enquanto realizava este trabalho. Agradeço aos amigos-irmãos de infância (Leonardo e Tatiane) e de casa (Mariana e Carla), que mostraram muita compreensão e amor das mais diversas formas, fosse por incentivos ou ouvidos para desabafo. Desculpo-me pela ausência neste período e agradeço, de coração, por continuarem sempre ao meu lado. Agradeço à OSESP por todo o aprendizado e amizades que conquistei. À Kikuchi, Fernanda, Carolina, Fabiana, Alexandre e Daniela, muito obrigada por todos os empurrões, preocupação, dicas e paciência. Obrigada ao Bernard pela diagramação do projeto impresso, à Priscila e à Gabriela pela ajuda na tradução e ao Elder e Fabio pelas referências e amparo nas normas ABNT. Agradeço também a todos os integrantes das comunidades analisadas do Facebook, Super Junior Brasil (E.L.F.) e AKB48 BR pela abertura e interesse neste trabalho. Devo um grande agradecimento a todos os amigos, colegas e professores que passaram por mim na saga ESPMiana, em especial a meus companheiros monográficos, Luis, Isabela, Gabriel e Camilla, que seguiram comigo nestes anos de faculdade em nossos grupos de trabalho, e em todas as situações, risadas, “perrengues” e PM/PCOM que nos ajudaram a crescer juntos. Acabamos permanecendo unidos, mesmo em trabalhos individuais, dividindo angústias, ainda mais “perrengues” e muito amor a nossos temas. Agradeço, por fim, à minha orientadora, professora Rosilene Marcelino, que incentivou a realização deste trabalho mesmo quando era ainda um rascunho. Muito obrigada por todo o carinho, esforço, dedicação, compreensão e, principalmente, por se tornar um grande exemplo para mim. Obrigada a todos, por tudo. Este trabalho é dedicado a vocês.

あなたの目にはどんな私が 映っているのでしょう (“Em seus olhos, qual é o reflexo do meu eu?”) (AKB48 – ファンレター Fan Letter)

AOKI, Beatriz Yumi. A indústria musical pop asiática: estudo comparativo sobre a construção de celebridades e o comportamento de fãs no ambiente digital. São Paulo: Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM–SP), 2014, 94 p. RESUMO Este trabalho visa compreender o cenário da música pop asiática e a construção do imaginário em torno de celebridades japonesas e coreanas. Trazemos aqui o grupo AKB48 e a empresa S.M. Entertainment, e buscamos conhecer as características da produção cultural asiática, entender a maneira como são constituídos os ideais em torno dos artistas e, por fim, estudar os fãs desse estilo musical no universo digital. Para isso, recorremos à pesquisa bibliográfica, apropriando-nos de autores como Edgar Morin, Guy Debord, João Freire Filho e Gabriel Cohn. Realizamos, ainda, pesquisa documental para investigação de conteúdos produzidos em torno do tema. Enveredamos em um estudo netnográfico para a análise em rede dos fãs brasileiros das bandas AKB48 e Super Junior, procurando observar, entre outros aspectos, a interação fãs-ídolo e a criação de conteúdo próprio em torno do assunto. Por fim, dedicamos um capítulo ao estudo de casos, detendo-nos a episódios caros a duas celebridades: Minami Minegishi, integrante do AKB48, e HanGeng, ex-membro da banda Super Junior, realizando também a netnografia para o estudo de recepção de fãs sobre os casos específicos. PALAVRAS-CHAVE: Comunicação e práticas de consumo, indústria cultural, sociedade do espetáculo, música pop asiática.

AOKI, Beatriz Yumi, The Asian pop music industry: a comparative study about celebrities construction and the behavior of fans on the digital environment. São Paulo: Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM-SP), 2014, 94 p. ABSTRACT This paper aims the comprehension of the Asian pop music scenery and the imaginary construction of Japanese and Korean celebrities. The idol group AKB48 and the S.M. Entertainment company are examined as we quest to conceive the characteristics of the Asian cultural production and the principles of the creation of these artists, as well as the behavior of their fans on the internet. The survey is based on a bibliographic research, including authors such as Edgar Morin, Guy Debord, João Freire Filho, and Gabriel Cohn. Moreover, reports on this subject are also examined, as we aim to perform a documental research on our theme. A netnographic analysis of the Brazilian fans of the bands AKB48 and Super Junior is performed in order to observe the fan-idol relationship and the production of new content on the subject, among others. Finally, a chapter is dedicated to the particular case studies of two celebrities: Minami Minegishi, a member of AKB48, and HanGeng, former member of Super Junior, in which a netnographic analysis is also carried out to study the reaction of their fans to these circumstances. KEYWORDS: Communication and consumption practices; cultural industry; the society of the spectacle; Asian pop music

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Matérias da BBC e ABC a respeito dos campos de treinamento coreanos .............. 19   Figura 2: Capas diferentes de cada tipo do single Labrador Retriever .................................... 35   Figura 3: Mangá AKB49 e Animê AKB0048.......................................................................... 36   Figura 4: Fotos do AKB48 Official Cafe & Shop .................................................................... 37   Figura 5: Disputa entre duas integrantes do AKB48 no Senbatsu Janken Taikai.................... 38   Figura 6: Cenas do videoclipe Heavy Rotation, do AKB 48 ................................................... 41   Figura 7: Comparação do rosto de celebridade coreana com as alterações corporais assinaladas ................................................................................................................................ 44   Figura 8: Fotos comparativas de Leeteuk, do Super Junior ..................................................... 45   Figura 9: Fotos comparativas de Ryeowook, do Super Junior................................................. 46   Figura 10: Imagem de divulgação de lançamento do álbum Mamacita ................................... 48   Figura 11: Fotos de produtos adquiridos por fãs pela internet ................................................. 58   Figura 12: Comentários de fãs no grupo de facebook AKB48 BR .......................................... 59   Figura 13: Comentários de fãs no grupo de facebook AKB48 BR .......................................... 59   Figura 14: Exemplo de meme publicado no grupo .................................................................. 60   Figura 15: Foto de produtos adquiridos por fãs na internet ..................................................... 63   Figura 16: Pesquisa retirada do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) ........................................ 64   Figura 17: Publicação retirada do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.)..................................... 65   Figura 18: Comentários retirados do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) ................................ 65   Figura 19: Sinopse de fan fiction yaoi sobre integrantes da banda Super Junior ..................... 67   Figura 20: Publicação restringindo a postagem de fan fictions no grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) ..................................................................................................................................... 67   Figura 21: Foto publicada de Minegishi pelo tabloide Shukan Bushun .................................. 70   Figura 22: Reportagem da CNN com a repercussão do caso de Minami Minegishi. .............. 71   Figura 23: Reportagem de portais brasileiros sobre o caso da cantora. ................................... 72   Figura 24: Publicação no grupo AKB48 BR sobre o caso de Murakami Ayaka ..................... 73   Figura 25: Publicação a respeito dos relacionamentos das celebridades ................................. 74   Figura 26: Publicação a respeito dos relacionamentos das celebridades ................................. 75   Figura 27: Entrevista de HanGeng à revista chinesa Beijing Youth Weekly .......................... 77   Figura 28: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment.............. 78   Figura 29: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment.............. 78   Figura 30: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment.............. 79   Figura 31: Publicação em apoio ao ex-integrante HanGeng .................................................... 80   Figura 32: Publicação em apoio ao ex-integrante HanGeng .................................................... 80   Figura 33: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment.............. 81  

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Composição do grupo AKB48 e respectivos times.................................................. 32   Tabela 2: Esquematização de grupos sob o comando da AKS Co. Ltd. e suas empresas associadas ................................................................................................................................. 33   Tabela 3: Relação de produtos relacionados ao AKB48 .......................................................... 37   Tabela 4: Divisão de perfis dos integrantes do grupo por gênero ............................................ 55   Tabela 5: Divisão de faixa etária do público masculino .......................................................... 56   Tabela 6: Divisão de faixa etária do público feminino ............................................................ 56   Tabela 7: Divisão de público por faixa etária .......................................................................... 57  

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 13   1.1. Contextualização ........................................................................................................... 13   1.1.1. AKB48 ................................................................................................................... 14   1.1.2. S.M. Entertainment ................................................................................................ 17   1.2. Objeto ............................................................................................................................ 19   1.3. Problema ....................................................................................................................... 19   1.4. Objetivos ....................................................................................................................... 20   1.5. Metodologia .................................................................................................................. 20   1.6. Quadro Referencial Teórico .......................................................................................... 21   2. PASSAGEM À INDÚSTRIA MUSICAL ASIÁTICA ....................................................... 24   2.1. Indústria Cultural .......................................................................................................... 24   2.2. Consumo e identidade ................................................................................................... 25   2.3. Mídia ............................................................................................................................. 26   2.4. Sociedade do espetáculo e imaginário .......................................................................... 27   3. A CONSTITUIÇÃO DE IDOLS .......................................................................................... 31   3.1. AKB48 .......................................................................................................................... 31   3.1.1. Modo de produção japonês .................................................................................... 32   3.1.2. Construção de imaginário: o espetáculo japonês ................................................... 38   3.2. S.M. Entertainment ....................................................................................................... 42   3.2.1. Modo de produção coreano .................................................................................... 42   3.2.2. Construção de imaginário: o espetáculo coreano ................................................... 46   3.3. Japão X Coreia do Sul ................................................................................................... 48   4. RELAÇÃO COM O FÃ ....................................................................................................... 50   4.1. Estudo de fãs ................................................................................................................. 50   4.2. Os otaku ........................................................................................................................ 51   4.3. Estudos de recepção na rede.......................................................................................... 52   4.3.1. AKB48 BR ............................................................................................................. 54   4.3.2. Super Junior Brasil (E.L.F.) ................................................................................... 61   4.3.3. AKB48 BR X Super Junior Brasil (E.L.F.) ........................................................... 68   5. ESTUDO DE CASOS .......................................................................................................... 70   5.1. Minami Minegishi (AKB48) ......................................................................................... 70   5.1.1. Recepção dos fãs .................................................................................................... 73   5.2. Super Junior (S.M. Entertainment) ............................................................................... 75   5.1.1. Recepção dos fãs .................................................................................................... 78   6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 82   7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 85   7.1. Livros ............................................................................................................................ 85   7.2. Artigos ........................................................................................................................... 86   7.3. Sites ............................................................................................................................... 86  

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1. INTRODUÇÃO Nesta etapa, fazemos a contextualização do cenário musical asiático, descrevendo certos aspectos do modo de produção de celebridades coreanas e japonesas, suas principais características e a relação com os fãs. Seguimos então para a apresentação das principais empresas e casos a serem estudados. Descrevemos nosso objeto de pesquisa, as problemáticas que espreitam o tema, os objetivos (geral e específicos) a serem atingidos com o estudo, a metodologia utilizada e, por fim, o quadro teórico com os principais autores e conceitos relacionados. 1.1. Contextualização A palavra fã é um encurtamento de fanático que, segundo o Dicionário Houaiss da língua portuguesa (2009), é definido como aquele que “1. se acredita inspirado pelo espírito divino, por uma divindade; iluminado; [...] 3. se mostra excessivamente entusiástico, exaltado, de uma devoção sempre cega; apreciador apaixonado” (HOUAISS, 2009, p. 872). Sua etimologia é do latim fanatĭcus, “que pertence ao templo, que é inspirado pelos deuses, entusiasmado, apaixonado” (HOUAISS, 2009, p. 872). Tomando a música como assunto e, mais especificamente, os estilos pop japonês (Jpop) e coreano (K-pop), é possível encontrar grupos de fãs no mundo todo que realizam trocas online de conteúdos, notícias, histórias ou produtos, chegando a marcar encontros físicos e a formar reais laços de amizade com outros apaixonados. Esses grupos são chamados pelos próprios membros de fandoms, “termo utilizado para se referir à subcultura dos fãs em geral, caracterizada por um sentimento de camaradagem com outros que compartilham dos mesmos interesses” (JENKINS, 2009, p. 39). Para nos inserirmos também no contexto do estilo musical estudado, julgamos oportuno colocarmos aqui uma breve definição de cada uma das correntes, a japonesa e a coreana. Partindo da “música pop”, entendemos que a expressão começou a ser utilizada como descrição para a música influenciada pela revolução do rock&roll em meados dos anos de 1950, incluindo ainda os estilos musicais acessíveis a uma grande audiência1. O termo J-Pop, abreviação de Japanese Popular Music (Música Popular Japonesa), surgiu nos anos 1980, época na qual as vendas da indústria fonográfica japonesa indicavam a 1

ABOUT MUSIC. Disponível em . Acesso em 27 ago. 2014. 2 O termo idols ou aidorus “designa genericamente jovens cantores pop que são selecionados, treinados e

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preferência por músicas “ocidentalizadas”, com gêneros como rock, disco, ritmos latinos e baladas, chamados então de New Music, diferenciando-se do estilo kayõkyoku, mais tradicionalista. Com a substituição dos discos de vinil pelos CDs, a expressão New Music tornou-se ultrapassada, dando início à utilização do J-Pop (SATO, 2007). O K-Pop (Korean Popular Music), que designa, em português, Música Popular Coreana, assim como o J-Pop, centraliza-se nos idols2, desde seu surgimento nos anos 1990 com o lançamento do trio de hip hop Seo Taiji and Boys, que mesclava a música pop americana a letras coreanas. Como problematizamos em nossos próximos capítulos, percebemos a manutenção da “fórmula” de criação dos grupos desde seus primórdios até os dias atuais3. A indústria musical pop japonesa é marcada pela presença de grandes empresas voltadas à produção de celebridades, como Johnny & Associates, LDH, Hello! Project e AKS Co. Ltd. Já a coreana apresenta o domínio de três principais agências: Y.G. Entertainment, S.M. Entertainment e JYP Entertainment. Para esta pesquisa, tomamos como foco o grupo AKB48, gerenciado pela AKS Co. Ltd., do Japão, e a empresa S.M. Entertainment, da Coreia, os quais procuramos apresentar na sequência.

1.1.1. AKB48 O AKB48 é um grupo formado em 2005 e produzido por Yasushi Akimoto4. O nome da banda provém da cidade de Akihabara, área de Tóquio na qual seu teatro próprio fica localizado. O gerenciamento operacional da banda é feito pela empresa AKS Co. Ltd. A ideia do produtor era de criar um grupo que, diferente dos então existentes, se apresentasse diariamente em sua própria casa de shows, para que os fãs tivessem sempre a oportunidade de ver as garotas ao vivo5. Além do teatro, a banda tem lojas e cafés próprios (AKB48 Cafe & Shop).

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O termo idols ou aidorus “designa genericamente jovens cantores pop que são selecionados, treinados e apresentados por agências de talentos como um ‘pacote’ de qualidades artísticas às gravadoras, para a produção e consumo em massa de CDs” (SATO, 2007, p. 284). 3 BILLBOARD. Disponível em . Acesso em 27 ago. 2014. 4 THE WALL STREET JOURNAL – JAPAN. The Man Who Made AKB48. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. 5 PURPLE SKY MAGAZINE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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O conceito do AKB48 se expandiu por vários grupos similares pelo Japão e outros países da Ásia, como Indonésia e China. Foi reconhecido pelo Guinness como o maior grupo de música pop existente6 (contando, no período da publicação, com 48 membros). As integrantes são meninas cujas idades permeiam o início da adolescência e pouco mais de 20 anos7. A seleção é feita regularmente por meio de audições, e uma das “diferenciações” explicitadas por Akimoto é que o progresso, a partir da aprovação na banda, é acompanhado desde o início pelos fãs (não é necessário um período exclusivo de treinamento anterior ao lançamento da artista). Além dos shows, a banda tem seus próprios programas de TV, animê8, mangá9, e organiza eventos nos quais os fãs podem rapidamente vê-las e cumprimentá-las, os chamados handshake events10. A formação dos grupos muda conforme seus membros envelhecem e tem de ser substituídos pelas trainees11. Dessa forma, é importante destacarmos a efemeridade das celebridades, presente no hiper-espetáculo citado por Silva (2007). No espetáculo, as estrelas aspiravam à eternidade. Ídolo e fã imaginavam um casamento até que a morte os separasse. No hiper-espetáculo predomina o “ficar”. Tudo é deliciosa e perigosamente passageiro. O mais importante é a qualidade da relação, não o tempo de duração (SILVA, 2007, p. 7)

Além disso, é feito um sistema de eleição entre os fãs para escolher quais das garotas gravarão o próximo single. As mais votadas, além de terem a chance de gravar, são promovidas pela mídia com maior intensidade e a que tiver o maior número de votos entre todas ganha a posição central em apresentações ao vivo12.

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GUINESS WORLD RECORDS. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. 7 JAPAN DAILY PRESS. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014 8 “Animê significa animação em japonês. É a forma contraída pela qual os japoneses escrevem as palavras a palavra animação em inglês (animation), da qual deriva a versão de sotaque nipônico animeeshon. Assim, para os japoneses, todo e qualquer desenho animado é um animê. Fora do Japão, contudo, esta palavra tem outro significado. No exterior, convencionou-se chamar de animê especificamente os desenhos animados produzidos no Japão ou com o conjunto de características específicas que os japoneses desenvolveram nessa área” (SATO, 2007, p. 31) 9 “Mangá significa história em quadrinhos em japonês, e é resultado da união dos ideogramas man (humor, algo que não é sério) e gá (imagem, desenho). Assim, para os japoneses, toda e qualquer história em quadrinhos, independente de ser japonesa ou não, é chamadad de mangá porque simplesmente essa é a palavra em japonês que designa “quadrinhos”. Fora do Japão, contudo, esta palavra tem outro significado. No exterior, convencionou-se chamar de mangá especificamente os quadrinhos produzidos no Japão ou com o conjunto de características específicas que os japoneses desenvolveram nessa área” (SATO, 2007, p. 58) 10 Eventos de aperto de mão (Tradução própria) 11 THE WASHINGTON POST. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 12 NY DAILY NEWS. Disponível em Acesso em 22 ago. 2014.

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Diferente da maioria dos ídolos teen13, boa parte de seu público é masculino e, muitas vezes, mais velho. Visando tanto esses fãs quanto as meninas que as admiram, as integrantes devem manter uma imagem de pureza e inocência. Como regra geral, elas não são autorizadas a namorar e devem ser “bem comportadas”. Caso as exigências não sejam cumpridas, a punição pode ir de suspensão ou “rebaixamento” a cargo de trainee até a expulsão definitiva do grupo14. Como Silva (2007) observou, na lógica do hiper-espetáculo, os famosos “são tanto mais adorados quanto menos se diferenciam realmente dos fãs” (SILVA, 2007, p. 2). Entretanto, os ídolos japoneses não apresentam esse tipo de aproximação com seus espectadores. Suas vidas pessoais são restritas ao público, sendo assim passível de punição qualquer confirmação de polêmica divulgada na mídia. Apesar de haver outros casos de punição e infração, o episódio mais conhecido e divulgado pela mídia mundialmente, e nosso caso de estudo nesta pesquisa, aconteceu em fevereiro de 2013 com Minami Minegishi, ao ter sido flagrada pelo tabloide japonês Shukan Bunshun saindo da casa do suposto namorado pela manhã, e instantaneamente rebaixada à posição de trainee. O fato mais repercutido, entretanto, foi o pedido de desculpas publicado no canal oficial do grupo no YouTube, no qual Minami aparece com a cabeça totalmente raspada, ato tradicional de arrependimento e constrição no Japão, às lágrimas e implorando pelo perdão da família, dos outros membros, empresa e fãs15. O vídeo teve mais de 4 milhões de visualizações em um dia e repercutiu na mídia mundial, em sites como CNN, BBC e The Guardian, chegando até o Brasil por meio de portais como G1, UOL, Folha e Veja. A pedido dos fãs, o conteúdo foi removido após algum tempo. Apesar de haver controvérsias a respeito do propósito e intenção do vídeo, o ato foi divulgado pela própria artista como autopunição por seu mau comportamento16. A imagem da juventude, já mencionada anteriormente, é muito valorizada na cultura oriental, apesar do apelo atingir também o Ocidente. A juventude ressalta valores como a beleza e o amor, estes considerados essencialmente juvenis, conforme Morin (2011),

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Adolescente (tradução própria) THE JAPAN TIMES. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 15 DAILYMOTION. Disponível em . Acesso em 6. nov. 2014. 16 PORTAL G1. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 14

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a cultura de massa desagrega os valores gerontocráticos, acentua a desvalorização da velhice, dá forma à promoção dos valores juvenis, assimila uma parte das experiências adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”. Historicamente, ela acelera o vir a ser, ele mesmo acelerado, de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da sociedade. Antropologicamente, ela verifica a lei do retardamento contínuo de Bolk, prolongando a infância e a juventude junto ao adulto. Metafisicamente, ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice (MORIN, 2011, p. 153)

A presença dos fãs do AKB48 no Brasil se dá em portais e redes sociais, com compartilhamento de conteúdo e informações atualizados e realização de projetos de divulgação ou comemoração de lançamentos de singles, turnês ou aniversários.

1.1.2. S.M. Entertainment Tratando agora da indústria musical coreana, são considerados outros aspectos de destaque, como o treinamento dado aos aspirantes a celebridades. O K-Pop tornou-se mais conhecido recentemente pelo lançamento em julho de 2012 do hit Gangnam Style, do artista sul-coreano PSY, reconhecido em setembro do mesmo ano como o vídeo mais “curtido” do YouTube pelo Guinness17, além de ter sido o primeiro a atingir a marca de 1 bilhão de visualizações no site. PSY é agenciado pela Y.G. Entertainment, considerada uma das “três grandes” gravadoras da Coreia do Sul, junto à S.M. Entertainment e JYP Entertainment, levando em conta o grande percentual de market share18 e pesada operação internacional de cada uma delas19. Nesta pesquisa, estudamos a S.M. Entertainment, considerada a pioneira e percussora da “Onda coreana” (Hallyu)20 pela Ásia e pelo resto do mundo, e presente na mídia por processos trabalhistas e acusações de exploração de seus artistas agenciados. A S.M. Entertainment é uma gravadora, agência de talentos, produtora e distribuidora de música pop, fundada por Lee Soo-man na Coreia do Sul. Em 2012, o valor da capitalização

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GUINESS WORLD RECORDS. Disponível em . Acesso em 10 abr. 2014. 18 Participação de mercado (Tradução própria) 19 ALLKPOP. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 20 A “Onda Coreana” refere-se à disseminação da cultura sul-coreana iniciada na década de 1990 por diversos países, contemplando principalmente a música e as novelas do país. CNN. Disponível em http://edition.cnn.com/2010/WORLD/asiapcf/12/31/korea.entertainment/index.html?iref=NS1>. Acesso em 5 out. 2014.

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de mercado da empresa alcançou US$1.24 bilhão21. Entre os artistas e grupos mais famosos lançados pela empresa estão Super Junior, Girls Generation, TVXQ, Shinee e BoA22. Começando sua primeira geração de grupos nos anos 1990, com uma boyband23 e uma girlband24 formadas após dados coletados por pesquisas a respeito do que garotas adolescentes gostariam de ver em uma banda, a empresa possui intensa rotina de ensaios em seu “campo de treinamento”, no qual meninos e meninas ainda jovens vão para aulas de canto, dança e relacionamento com o público e mídia, buscando a perfeição técnica e estética, sendo importante citar a impecabilidade da aparência dos ídolos, que acaba muitas vezes sofrendo alterações por meio de cirurgias plásticas. A empresa já sofreu processos por não fornecer aos integrantes quantias consideradas justas pelo o que trabalham, não oferecer dias de folga ou férias, forçar o pagamento de multas por atrasos ou não comparecimento a eventos ou reuniões, além de possuir contratos longos com seus artistas, sendo ordenada pela FTC (Fair Trade Commission)25 da Coreia do Sul a revisar todos os contratos de seus artistas para regularização das condições de trabalho26. Para este caso, tomaremos como exemplo de estudo HanGeng (Hankyung), expertencente à Super Junior, uma das bandas agenciadas pela S.M. Entertainment. Em abril de 2013, a Super Junior fez sua primeira apresentação no Brasil no Credicard Hall, com divulgação e matérias em portais brasileiros como G1, O Globo e Capricho27. Destacamos a rigidez do sistema de treinamento aos aspirantes a celebridades, fazendo com que a definição do setor como indústria tome um sentido praticamente literal com a produção em série de artistas e bandas. Assim, entra o conceito do sacrifício explicitado por Morin (2011), de que: as potências de projeção – isto é, também as de divertimento, de evasão, de compensação, de expulsão, até mesmo de transferência quase sacrificial – se propagam por todos os horizontes do imaginário. Elas tecem os enfáticos universos da epopeia, da magia, do fantástico. Atiram-se nos alhures do tempo e do espaço, regiões exóticas ou passados fabulosos. Mergulham no submundo do crime e da morte. Divertem-se nos universos idealizados em que tudo é mais intenso, mais forte, melhor (MORIN, 2011, p. 74.) 21

MARKETS. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 22 FORBES ASIA. Disponível em . Acesso em 7 abr. 2014. 23 Banda de garotos (Tradução própria) 24 Banda de garotas (tradução própria) 25 De acordo com seu site oficial, a Fair Trade Comission formula e administra as políticas de concorrência, e delibera, decide e cuida de casos de antitruste. KFTC Official site. Disponível em . Acesso em 5 out. 2014. 26 BBC. Disponível em . Acesso em 7 abr. 2014. 27 G1. Disponível em . Acesso em 8 abr. 2014.

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Foram feitas matérias em portais internacionais a respeito dos contratos e treinamento dos artistas, conforme exemplos abaixo.

Figura 1: Matérias da BBC e ABC a respeito dos campos de treinamento coreanos Fonte: BBC e ABC News28

Dentro do cenário musical asiático, traçamos nossos objetos e, sobre eles, buscamos estudar os aspectos da indústria cultural, das celebridades e da sociedade do espetáculo. Objetivamos a análise da produção dos artistas pelas empresas, além da relação dos mesmos com os fãs, conforme explicitamos nos próximos itens. 1.2. Objeto O objeto de estudo escolhido compreende o grupo japonês AKB48 e a agência de talentos coreana S.M. Entertainment. Além de ser feita uma análise geral de cada um por meio dos sites oficiais e de matérias divulgadas na mídia, recortamos episódios vivenciados por um agenciado de cada empresa: Minami Minegishi, do AKB48 e o ex-integrante HanGeng, da S.M. Entertainment, direcionando-nos à melhor compreensão de seus sistemas de produção. Estudaremos ainda os grupos de Facebook AKB48 BR e Super Junior Brasil (E.L.F.). 1.3. Problema

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BBC. Disponível em . Acesso em 7 abr. 2014. YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 7 abr. 2014.

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Consideramos como problemas de pesquisa: como é feita a produção das celebridades por essas empresas? Inserido nesse processo, quais são as características do fandom brasileiro que gira em torno dos artistas em questão?

1.4. Objetivos Definimos como objetivo geral: compreender o cenário da música pop asiática e a construção do imaginário em torno das celebridades coreanas e japonesas. Como objetivos específicos, traçamos: 1. Conhecer as características da produção cultural asiática; 2. Compreender, por meio de casos, a maneira como são constituídos os ideais em torno dessas celebridades; 3. Estudar os grupos de fãs brasileiros das bandas AKB48 e Super Junior.

1.5. Metodologia Nosso trabalho se inicia com a pesquisa bibliográfica que, de acordo com Severino (2007), parte de registros de pesquisas já antes realizadas, em documentos impressos como livros ou artigos, baseando-se em teorias ou informações já trabalhadas e analisadas por outros pesquisadores (SEVERINO, 2007). Em nossa monografia, utilizamo-nos de estudos realizados em torno de conceitos como a indústria cultural, celebridades e sociedade do espetáculo. A seleção de autores e teorias é feita com base no tema a ser estudado, gerando, dessa forma, as associações que construirão a redação da pesquisa monográfica. São utilizados, por exemplo, Morin e Debord para o estudo de celebridades e sociedade do espetáculo e Cohn para o conceito de indústria cultural. Realizamos então, em nosso segundo capítulo, a pesquisa documental e análise dos conteúdos produzidos em torno dos objetos de estudo, como notícias, documentários, blogs e comunidades de fãs, fan fictions, matérias de TV, jornais, revistas e sites que ofereçam uma base de dados suficiente para o estudo aprofundado do fenômeno em questão. A pesquisa documental baseia-se não somente em arquivos impressos, como também em jornais, fotos, gravações ou documentos legais, sendo importante ressaltar que os conteúdos não tiveram qualquer análise anterior, servindo de matéria prima para a construção e investigação do pesquisador (SEVERINO, 2007). Propomos, em um terceiro momento, um estudo netnográfico buscando analisar os fãs em rede, desde a interação entre eles mesmos e seus ídolos até a criação de conteúdo próprio

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em torno do assunto. Tratamos da netnografia como adaptação do método etnográfico, relacionada tanto à coleta e análise de informações quanto às normas de pesquisa. Consideramos ainda a pertinência de sua utilização em estudos de comunidades de fãs (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011 apud POLIVANOV, 2013). Partimos, por fim, para o estudo de casos, que trata de pesquisas concentradas em um caso específico, sendo este “representativo de um conjunto de casos análogos” de modo que possibilite fundamentar uma generalização para demais situações similares (SEVERINO, 2007). Dessa forma, nos aprofundaremos em dois episódios específicos acerca das celebridades em questão para reforçar a relação dos conceitos estudados às informações coletadas, analisando ainda a recepção dos fãs por meio da netnografia. 1.6. Quadro Referencial Teórico

MÍDIA

KELLNER, Douglas. A Cultura da Mídia. São Paulo: Edusc, 2001. SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2011.

CELEBRIDADE

DEBORD, Guy. Sociedade do Espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, M. (orgs.). Comunicação, cultura e consumo: a [des] construção do espetáculo contemporâneo. Rio de Janeiro: E-Papers Serviços Editoriais, 2005. FREITAS GUTFREIND, C.; SILVA, J. M. (org.). Guy Debord: antes e depois do espetáculo. Porto Alegre: Edipucrs, 2007. MATTA, J. O. S. Cultura da mídia e celebridades (midiáticas) do contemporâneo: Madonna e Avril Lavigne. In: II Colóquio Binacional Brasil-México de Ciências da Comunicação, 2009. MATTA, J. O. S. Narcisismos e a sociedade do espetáculo: o ideal do ego na sociedade. Nota Alta Espm, 2013. MORIN, Edgar. Cultura de Massas no Século XX: Espírito do Tempo 1: Neurose. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2011. SILVA, J. M. Depois do Espetáculo: Reflexões Sobre a Tese 4 de Guy Debord. In: XVI COMPÓS – GT Comunicação, Curitiba, 2007.

CIBERCULTURA

BARRAL, Étienne. Otaku - Os filhos do virtual. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000.

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JENKINS, Henry. Cultura da convergência. 2. ed. São Paulo: Aleph, 2009. RECUERO, Raquel. A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2012. ________________. Redes sociais na internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. CONSUMO

BARBOSA, Lívia. Sociedade de consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin (orgs.). Cultura, consumo e identidade. Rio de Janeiro: FGV, 2006. BAUMAN, Zygmunt. Vida Para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008.

INDÚSTRIA CULTURAL

ADORNO, Theodor W. Comunicação e Indústria Cultural. In: COHN, G. Comunicação e indústria cultural. São Paulo: Editora Nacional, 1978. ADORNO,

Theodor

W.;

HORKHEIMER,

Max.

Dialética

do

Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006. COHN, G. Indústria cultural como conceito multidimensional. In: BACCEGA, M. A. (org.). Comunicação e Culturas do Consumo. p. 65-75. São Paulo: Atlas, 2008. CULTURA

HELAL, Ronaldo. Cultura e idolatria: Ilusão, consumo e fantasia. In: ROCHA, Everardo (org.). Cultura & imaginário: interpretação de filmes e pesquisa de ideias. p. 135-150. Rio de Janeiro: Mauad, 1998.

ESTUDO DE FÃS GRAY, Jonathan; SANDVOSS, Cornel; HARRINGTON, C. Lee. Fandom: Identities and Communities in a Mediated World. NYU Press, 2007. ESTUDO DE CASO

YIN, Robert. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.

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NETNOGRAFIA

AMARAL, Adriana; NATAL, Geórgia; VIANA, Lucina. Netnografia como aporte metodológico da pesquisa em comunicação digital. Famecos/PUCRS, n. 20, p. 34-40, 2008. BRAGA, Adriana. Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica. UNIrevista, v. 1, n. 3, jul. 2006. POLIVANOV, B. B. Etnografia Virtual, Netnografia ou Apenas Etnografia? Implicações dos Termos em Pesquisas Qualitativas na Internet. In: XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom), 2013, Manaus. Anais do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Manaus: UFAM, v. 1, p. 1-15, 2013.

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2. PASSAGEM À INDÚSTRIA MUSICAL ASIÁTICA

Neste capítulo, colocamos lentes em um de nossos objetivos específicos: conhecer as características da produção cultural asiática. Buscamos primeiramente articular, por meio de uma pesquisa bibliográfica, os autores e conceitos dos quais nos apropriamos e aos quais relacionamos as principais características da indústria musical asiática. Analisamos aspectos da indústria cultural com os pensadores Adorno e Horkheimer e de sua atualização realizada por Cohn. Associamos estes às questões de consumo, com Barbosa, Campbell e Bauman, e mídia, com Silverstone e Kellner. Abordamos em seguida a sociedade do espetáculo, o imaginário e a construção de identidade, utilizando os autores Debord, Freire Filho, Matta e Silva. 2.1. Indústria Cultural

O termo indústria cultural foi utilizado pela primeira vez pelos pensadores alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, membros da Escola de Frankfurt, no ensaio Dialética do Esclarecimento, escrito em 1942 e publicado em 1947, com sua produção inserida no contexto do período nazista (apesar de sua publicação ter sido feita posteriormente). O conceito descrevia a produção em série e a padronização dos bens culturais (ADORNO; HORKHEIMER, 2006). Dentro dos aspectos discutidos pelos autores, nos apropriamos da padronização dos modos de produção, que faz com que o conteúdo dos bens culturais seja o mesmo, variando na apresentação do produto. “Não somente os tipos de canções de sucesso, os astros, as novelas ressurgem ciclicamente como invariantes fixos, mas o conteúdo específico do espetáculo é ele próprio derivado deles e só varia na aparência” (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 103). Guiado por esses mesmos autores, colocamos lentes nos modelos criados para as celebridades, pois, a partir dos produtos culturais, são desprendidos tipos ideais, escolhidos pela própria indústria e formando personagens que servem de modelo para o consumidor. Nos rostos dos heróis do cinema ou das pessoas privadas, confeccionados segundo o modelo das capas de revistas, dissipa-se uma aparência na qual, de resto, ninguém mais acredita, e o amor por esses modelos de heróis nutrese de secreta satisfação de estar afinal dispensado de esforço da individualização pelo esforço (mais penoso, é verdade) da imitação (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 129)

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Apesar de tais problematizações terem sido concebidas nos anos 1940, observamos, como colocado por Cohn (2008), a atualização do conceito de indústria cultural. O autor nos introduz a sociedade administrada, caracterizada por uma penetração de mecanismos de controle, principalmente grandes organizações econômicas e instâncias estatais associadas a elas. Esse controle é entendido tanto em termos técnicos e políticos quanto em mecanismos sociais. Dentro desse aspecto, a atualização de Cohn (2008) nos auxilia no estudo das empresas asiáticas, considerando sua possível influência sobre o consumo e comportamento de seus espectadores. A questão da recepção, a qual retomamos no capítulo dedicado ao estudo de fãs, busca entender qual a imagem transmitida das celebridades aos espectadores. Para isso, podemos considerar que o conceito de indústria cultural se refere a uma característica que passa por diversas dimensões da sociedade, indo ao encontro da psique individual. Estudamos as diferentes interpretações acerca da mesma mensagem de acordo com cada espectador (COHN, 2008), mas considerando ainda a busca das empresas pela “potencialização dos efeitos” de sua comunicação. 2.2. Consumo e identidade

“Consumo deriva do latim consumere, que significa usar tudo, esgotar e destruir; e do termo inglês consummation, que significa somar e adicionar” (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 21). Desde o despertar de maior interesse no tema, em meados da década de 1970 e 1980, o consumo conquistou considerável relevância teórica e o acesso a disciplinas às quais não era anteriormente qualificado, como a cidadania, a cultura, a política, o meio ambiente e a religião, sem contar os âmbitos da vida social, os quais estudamos nesta pesquisa (BARBOSA; CAMPBELL, 2006). Depreendemos ainda que, de acordo com Barbosa (2004), além da padronização da produção, “as mercadorias são produzidas para um mercado de massas e não para indivíduos específicos” (BARBOSA, 2004, p. 33), seguindo a acepção de cultura do consumo, utilizada por Slater (2001 apud BARBOSA, 2004). O que diferencia os sujeitos entre si, continua a autora, é a escolha de cada um por determinada mercadoria, construindo assim sua identidade social. Dessa forma, definimos o consumo na sociedade atual conforme Barbosa e Campbell (2006), considerando que “os mesmos bens e serviços que utilizamos para nos reproduzir física e socialmente nos auxiliam na ‘descoberta’ ou na ‘constituição’ de nossa subjetividade

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e identidade” (BARBOSA; CAMPBELL, 2006, p. 22). De acordo com Campbell (2006), o consumo atual é mais relacionado a aspectos emocionais, sugerindo ainda os gostos e desejos do consumidor como uma moldura de parâmetros de como ele próprio considera ser. Em concordância aos autores citados, analisamos a conceituação de Bauman (2008) acerca do consumo, classificando-o como “atributo da sociedade”, ao invés de caracterização do indivíduo. Segundo o autor: Pode-se dizer que o ‘consumismo’ é um tipo de arranjo social resultante da reciclagem de vontades, desejos e anseios humanos rotineiros, permanentes e, por assim dizer, ‘neutros quanto ao regime’, transformando-os na principal força propulsora e operativa da sociedade, uma força que coordena a reprodução sistêmica, a integração e a estratificação sociais, além da formação de indivíduos humanos, desempenhando ao mesmo tempo um papel importante nos processos de auto-identificação individual e de grupo, assim como na seleção e execução de políticas de vida individuais (BAUMAN, 2008, p. 41)

À influência do consumo na construção de identidade do indivíduo, relacionamos a comercialização de uma vasta diversidade de produtos relacionados às bandas estudadas. Como vemos em capítulos posteriores, são colocados à venda diferentes itens relacionados, considerando, no caso do AKB48, até mesmo a existência de uma loja voltada somente a mercadorias do grupo. Nesse processo de constituição de identidade, estudamos ainda a mídia, segundo conceitos de Kellner e Silverstone, julgando oportuna também uma breve relação da mesma com o próprio consumo, conforme observado por ambos os autores. 2.3. Mídia

Segundo Kellner (2001), a cultura da mídia tomou forma e força com a invenção da televisão, no pós guerra, apesar de ter sido constituída anteriormente pelo cinema, rádio, revistas, histórias em quadrinhos, propaganda e imprensa, conforme descrito por Adorno e Horkheimer (1972 apud KELLNER, 2001) em seus estudos sobre a indústria cultural. Atualmente, podemos considerar a mídia como influenciadora na formação de identidade. De acordo com Kellner (2001): O rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bemsucedido ou fracassado, poderoso ou impotente. A cultura da mídia também fornece o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de sexualidade, de ‘nós’ e ‘eles’ (KELLNER, 2001, p. 9)

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O autor cita ainda a congruência entre a cultura da mídia e o consumo, considerando a criação de “pensamentos e comportamentos ajustados aos valores, às instituições, às crenças e às práticas vigentes” (KELLNER, 2001, p. 11). Em conversa com seus estudos, relacionamos Silverstone (2011), que diz que o consumo é persuadido pela mídia, e que “fantasias devem ser oferecidas e corporificadas nas imagens da propaganda, nas manipulações do mercado de trabalho” (SILVERSTONE, 2011, p. 152). Infere-se que as mídias convidam o espectador a um consumo contínuo, questão abordada nos próximos capítulos sobre todos os pontos de contato entre a celebridade e seu público. As indústrias da mídia buscam trazer o prazer ao consumidor, considerando que “é por uma esperança transcendente, uma esperança e um desejo de que algo nos toque, que somos atraídos até esses textos e performances que, em outros aspectos, seriam mundanos e triviais” (SILVERSTONE, 2011, p. 109). Por meio, em grande parte, de um ambiente midiático, a sociedade passa a ser mediada por imagens, ou seja, a representação substitui a realidade, inferindo grande importância à aparência e ao consumo, assim nos inserindo no conceito da sociedade do espetáculo de Debord, trabalhada também por autores como Freire Filho, Matta e Silva. 2.4. Sociedade do espetáculo e imaginário

Constituído pelo pensador Guy Debord (1997 apud FREIRE FILHO, 2005), o conceito de “sociedade do espetáculo” surgiu nos anos 1960, no contexto da modernização da França após a Segunda Guerra Mundial e da explosão do consumo na mesma época (FREIRE FILHO, 2005). Para Debord (1997), a sociedade da época estava corrompida pelas imagens: a realidade era substituída pela representação; e consumo e aparência tomam o lugar do diálogo pessoal por meio dos canais de comunicação de massa. Trazendo a teoria aos dias atuais, verificamos a reprodução da cultura como proliferação de imagens e mensagens dos mais variados tipos. Como consequência, presenciamos uma vida contemporânea super-exposta e invadida pelas imagens, operacionalizando um novo tipo de experiência humana, caracterizada por um modo de percepção que torna cada vez mais difícil separar ficção de realidade29.

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OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA. Disponível em . Acesso em 27 abr. 2014.

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Posteriormente, a teoria foi estudada por autores como João Freire Filho (2005), que trouxe o conceito aos dias atuais. Em um de seus ensaios, é feito o estudo do tema do espetáculo e sua utilização e interpretação por alguns teóricos na descrição da sociedade em que vivemos. Referências esparsas à teoria do espetáculo se tornaram, hoje, de rigueur nas discussões sobre a horrenda glória dos reality shows, a cobertura televisiva das campanhas bélicas norte-americanas ou a submissão das instituições e do processo político aos estratagemas do show business (FREIRE FILHO, 2005, p. 20-21)

O mesmo ainda descreve o espetáculo como “a reunião de todas as formas de representação e de produção material que impedem a consciência do desejo e o desejo da consciência alcancem seu ‘projeto’” (FREIRE FILHO, 2005, p. 27). Matta (2013) fez uma relação do termo ao narcisismo da sociedade contemporânea. É evidenciada a busca de uma vida mediada por imagens, criadas a partir de um ambiente amplamente midiático. Estudamos também Silva (2007), autor que nos leva ao hiper-espetáculo, retomando o conceito de Debord (1997 apud SILVA, 2007), que fala em uma “superioridade fictícia” das celebridades, pois, quanto menor a diferença em relação aos fãs, maior a aproximação e adoração sobre o ídolo. Deve-se fazer possível a inversão de papeis, ou seja, o público tem de conseguir se imaginar no lugar de seu objeto de veneração, a fama e sucesso devem ser vistos como possibilidade para todos. Em conversa com o conceito de sociedade do espetáculo, estão os “olimpianos” de Morin (2011). A visão do outro como olimpiano, chamado pelo autor de “olimpismo”, nascia do imaginário (como papeis interpretados no cinema, fictícios), de função sagrada (a realeza ou presidência), de trabalhos heroicos (a conquista ou o campeão de algum torneio) ou eróticos. Na atualidade, entram os “novos olimpianos”: são multiplicadas as relações com o público, e as estrelas “descem à terra”. A vida olimpiana passa a participar da vida “real”. Relacionamos o “olimpiano” à celebridade dos dias atuais, que se torna um modelo ou ideal ao público, conforme analisado em nossos objetos de estudo e suas relações com os respectivos fãs. Os novos olimpianos são, simultaneamente, magnetizados no imaginário e no real, simultaneamente ideais inimitáveis e modelos imitáveis; sua dupla natureza é análoga à dupla natureza teológica do herói-deus da religião cristã: olimpianas e olimpianos são sobre-humanos no papel que encarnam, humanos na existência privada que levam. A imprensa de massa, ao mesmo tempo em que investe os olimpianos de um papel mitológico, mergulha em suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que permite a identificação (MORIN, 2011, p.101)

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Entramos na questão do imaginário, que pode ser entendido como “representação de imagens do real, do vivido” (VIEIRA, 1997, p. 95). De acordo com Vieira (1997), é possível encontramos o imaginário nos planos coletivo e individual. O coletivo parte das imagens, mitos, ritos, símbolos e manifestações artísticas de modo geral. O individual forma-se imerso no coletivo próprio em que o indivíduo se encontra. Inserida nos estudos do imaginário, temos a projeção de ideais, estudadas também por Morin (2011). As celebridades tornam-se modelos ao público, realizando atos e conquistando o que os “mortais” não podem alcançar, passando a destituir as antigas referências de heróis, estes com “dupla natureza”, divina e humana, oscilando na recepção do consumidor entre a projeção e a identificação, por meio dos mencionados feitos impossíveis e tentando o público ao imaginário. Entre as projeções criadas pelo espectador, insere-se a identificação sobre os heróis ou, no caso, artistas. Para que ocorra essa identificação, são necessários aspectos de verossimilhança e veracidade do ídolo com seu público, aproximando-o da realidade de alguma maneira, mas sem deixar de existir o equilíbrio com o imaginário, este aumentando a intensidade das emoções aos acontecimentos ou conquistas dos “heróis” em relação aos “mortais” (MORIN, 2011). “No encontro do ímpeto do imaginário para o real e do real para o imaginário, situam-se as vedetes da grande imprensa, os olimpianos modernos” (MORIN, 2011, p. 99). Dentro do aspecto de identificação, ressaltamos a importância e influência da mídia na construção de identidade do espectador, explicitada pelos autores Bakker e Freire-Medeiros (2005) como um dos meios de maior relevância nesse aspecto, considerando a grande exposição de imagens geradoras de fascínio, admiração e identificação, seja com personagens de filmes ou seriados ou integrantes de bandas, de maneira mais chamativa do que as referências “normais”, como familiares ou pessoas próximas ao círculo social. Na construção de identidade, conforme Freire Filho (2005), acerca da mesma importância da mídia e da cultura de massa como referência na construção de modelos, e levando em consideração que o consumo expressa os gostos, valores e personalidade do indivíduo, e a necessidade de “especialistas”, a exemplo de consultores de moda ou colunas de revistas e celebridades, como referências para a identidade do consumidor de quem ele é ou deve vir a ser. A constituição do indivíduo a partir da cultura na qual está inserido é explicada por Matta (2013). Apesar da busca pela influência exterior ser independente à cultura, esta é “determinante na construção da cadeia simbólica a qual se submete o ego”. Assim, os ideais

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são constituídos a partir do contexto no qual o sujeito está inserido, sendo que, atualmente, várias culturas estão presentes simultaneamente, ordenadas pelo mercado por meio da mídia e do consumo. Vemos, portanto, a celebridade como “ideais inimitáveis e modelos imitáveis” (MORIN, 2011, p. 101). Estudamos a construção do artista que visa, simultaneamente, à identificação e admiração do espectador, por meio da criação de imaginário em torno dos ídolos, uma “nova alta sociedade, mais mitológica do que as antigas altas sociedades burguesas ou aristocráticas, mas, paradoxalmente, mais próxima da humanidade quotidiana” (MORIN, 2011, p. 102). A constituição da imagem de uma celebridade parte desde atributos físicos até as atitudes e comportamento na mídia e fora dela. Considerando a importância da representação de um personagem ideal aos olhos do público, há na indústria cultural asiática a já mencionada restrição da vida privada, que deve ser inexistente ou ocultada ao máximo dos olhos da imprensa e do público. Conforme citado por Freire Filho (2005), tratando do público mais jovem, ao qual o estilo musical é principalmente voltado, a formação de identidade sofre influência ainda maior dos modelos midiáticos. No caso das adolescentes, o assessoramento social costuma ser avaliado como ainda mais imprescindível. Afinal, presume-se que, neste período formativo fundamental da identidade e da subjetividade, certos traços congeniais da condição feminina (insegurança; suscetibilidade; volubilidade) tendam a estar exacerbados. A conquista de maior autonomia decisória relativa no campo do consumo, incrementada nas últimas décadas, converte este segmento da população num terreno ainda mais fértil para os discursos e a ação dos expertos midiáticos e agentes do mercado (FREIRE FILHO, 2005, p. 121)

Após a articulação de autores e conceitos utilizados em nossa monografia, buscando compreender o contexto no qual estão inseridos nossos objetos de estudo, partimos no próximo capítulo para o levantamento das características da produção cultural asiática, relacionando seus aspectos principais às teorias aqui estudadas.

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3. A CONSTITUIÇÃO DE IDOLS

Neste capítulo, avançamos em direção ao nosso objetivo específico que compreende conhecer as características da produção cultural asiática. Seguindo uma pesquisa documental, reunimos as principais informações de cada um de nossos objetos de estudo, o grupo AKB48 e a empresa S.M. Entertainment, utilizando fontes como sites e reportagens na mídia. Dada a amplitude dos objetos aqui retratados, fracionamos nossa discussão em tópicos: modo de produção e construção de imaginário. Por fim, fazemos o comparativo entre as duas empresas. 3.1. AKB48

O AKB48, grupo formado originalmente com 48 membros e nomeado a partir da cidade de Akihabara, onde seu teatro fica localizado, é atualmente composto por 140 integrantes, divididas entre os times A, K, B, 4 e 8, formados respectivamente por 23, 21, 23, 23 e 47 membros, incluindo 2 trainees (kenkyūsei) e uma integrante honorária30. Nas atividades da banda há a rotatividade dos membros e a integração dos times como um só grupo, conforme detalhamos posteriormente, e, por esse motivo, analisaremos o grupo AKB48, não nos atentando a somente um dos times.

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AKB48 OFFICIAL WEBSITE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014

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Tabela 1: Composição do grupo AKB48 e respectivos times Fonte: Esquema proposto pela autora, baseado no site oficial do AKB48

3.1.1. Modo de produção japonês

A história do grupo AKB48 tem início em 2005, com uma audição realizada por seu criador, Yasushi Akimoto, contando com 7.924 participantes e sendo escolhidas 24 meninas para a primeira geração, compondo o Team A31. O segundo grupo foi selecionado em 2006, também por meio de uma audição com 11.892 concorrentes. Foram escolhidas 19 meninas, formando assim o Team K32. Ainda em 2006, formou-se o Team B, com 13 garotas selecionadas de um número de 12.828 candidatas33. Em 2011, o Team 434 fez sua estreia com 16 integrantes. No mesmo ano, foram anunciados os planos de criação de uma “rival oficial” para a banda sob comando da mesma empresa e produtor, chamada Nogizaka46. Segundo Yasushi Akimoto, o número 46 faz alusão direta à competição, como um desafio ao AKB48 de que “mesmo com um número inferior de integrantes, não vamos perder”35. Em 2014, o Team 8 fez seu debut com 47

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AKB48 OFFICIAL BLOG. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 32 AKBINGO! – Episódio transmitido em 24 jul. 2010. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 33 AKB48 OFFICIAL BLOG. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 34 NATALIE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 35 ORICON. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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meninas, representando cada uma das províncias do Japão36. Além dos grupos principais e dos grupos irmãos, há mais de dez subunidades formadas pelas mesmas integrantes. Atualmente, as audições acontecem duas vezes ao ano, considerando a existência de um sistema de graduação dos membros conforme ficam mais velhos, sendo substituídos pelas trainees37. Muito embora nos atenhamos aqui ao AKB48, julgamos oportuno mencionar que a empresa AKS Co., Ltd., em busca da expansão do grupo pelo país e continente, em 2008, fez o lançamento de grupos similares, seguindo o mesmo conceito e diferenciando-se apenas geograficamente. Desta maneira, atualmente, a companhia conta com seis grupos, incluindo o AKB48, sendo três na província do Japão, a saber SKE48, HKT48 e NMB48 (sendo a última a única banda no país gerenciada por outra empresa, a Kyoraku Yoshimoto Holdings, associada à AKS Co., Ltd.) e dois internacionais, o JKT48 e SNH48, localizados em Jakarta e Shangai, respectivamente, com o gerenciamento feito por empresas associadas nos países correspondentes.

Tabela 2: Esquematização de grupos sob o comando da AKS Co. Ltd. e suas empresas associadas Fonte: Esquema proposto pela autora

Segundo Cohn (2008), a padronização da cultura não ocorre somente em seu modo de produção, abrangendo também a forma e conteúdo dos bens culturais, não possuindo 36

TOKYOHIVE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 37 THE WASHINGTON POST. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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significados próprios e ocupando a condição de mercadorias. Desse modo, associamos a produção em série de grupos com o mesmo modelo, buscando atingir diversos públicos, no caso, geograficamente. Considerado um dos projetos musicais mais lucrativos do mundo, o AKB48 atingiu em 2012 o recorde de vendas no Japão de US$226 milhões, segundo o Ranking feito pela Oricon38 (correspondente à Billboard dos EUA). Os singles e álbuns são lançados com diferentes edições ou “tipos”, que contêm versões de capa alternativas e faixas inéditas, cenas extras em DVDs, fotos colecionáveis das integrantes e ingressos para os encontros com o grupo (os handshake events, eventos especiais nos quais os fãs podem cumprimentá-las rapidamente)39. O último single, Labrador Retriever (ラブラドール・レトリバー), teve os tipos A, K, B e 4, todos em duas versões, limitada e regular, que incluíam CD e DVD, diferenciandose no encarte e nas faixas exclusivas, além de uma Theater Edition, que continha apenas o CD.

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TOKYOHIVE. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. 39 BILLBOARD. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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Figura 2: Capas diferentes de cada tipo do single Labrador Retriever Fonte: Esquema proposto pela autora40

São realizados também encontros para a escalação dos membros para gravações e promoções da banda. Para adquirir o direito de votar, os fãs devem comprar o último “single de eleição” lançado. As integrantes que recebem o maior número de votos podem participar 40

Feito à partir de imagens do site AKB48 WRAP UP. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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da gravação do último single do AKB48 e ganham maior exposição na mídia. A mais votada é posicionada no centro de todas as apresentações do grupo41. Ainda considerando a promoção da banda, os produtores desenvolveram diversos programas de TV, como o AKBingo!, Shūkan AKB e Nemōsu TV, além de incluírem as meninas em seriados e novelas. Foram lançados três documentários sobre o grupo, Documentary of AKB48 -- To Be Continued, Documentary of AKB48: Show Must Go On Shōjo-tachi wa Kizutsuki Nagara, Yume wo Miru e Documentary of AKB48: No Flower Without Rain: Shōjo Tachi wa Namida no Ato ni Nani o Miru?. Foi lançado também o mangá AKB49: Ren'ai Kinshi Jōrei e o animê AKB0048, além de jogos de videogame como o AKB1/48: Idol to Koishitara..., no qual o jogador se envolve em um relacionamento com uma das integrantes, o AKB1/48: Idol to Guam de Koishitara.., com temática similar, o AKB1/149 Ren'ai Sōsenkyo, que expande as opções para todos os grupos irmãos e o Sailor Zombie: AKB48 Arcade Edition, no qual os jogadores utilizam uma arma de luz para “curar” as integrantes transformadas em zumbis.

Figura 3: Mangá AKB49 e Animê AKB0048 Fonte: Zerochan42

O grupo possui loja e café próprios, o AKB Cafe & Shop, onde o cardápio é composto pelos pratos favoritos das integrantes, e todas as mesas dão vista a telas com transmissão dos videoclipes e apresentações. A loja possui edições limitadas de itens como doces, chaveiros, toalhas e camisetas.

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NY DAILY NEWS. Disponível em Acesso em 22 ago. 2014. 42 ZERO CHAN. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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Figura 4: Fotos do AKB48 Official Cafe & Shop Fonte: AKB48 Cafe Shop Official Site43

Explicitamos nesse aspecto de mercadorização do grupo o valor da imagem do artista, que sofre um processo de construção e associação, segundo Matta (2009). Há a construção de significados em torno da celebridade, visando à associação da mesma a características positivas a serem lembradas pelo público ao consumir suas mercadorias (a própria música, shows, CD e DVD).

Tabela 3: Relação de produtos relacionados ao AKB48 Fonte: esquema proposto pela autora

43

AKB48 CAFE SHOPS. Disponível em . Acesso em 22 ago.2014.

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3.1.2. Construção de imaginário: o espetáculo japonês

Analisamos ainda a construção de imaginário sobre os ídolos japoneses. Além da votação dos fãs, há outro método de seleção das participantes para a gravação de singles e apresentações: o torneio Senbatsu Janken Taikai, de “pedra-papel-tesoura”, no qual os membros do AKB48 e seus grupos irmãos competem entre si para fazer parte do próximo single. O jogo consiste na disputa entre três símbolos: o papel, representado pela mão aberta; a pedra, pela mão fechada; e a tesoura, por dois dedos esticados. A tesoura corta o papel (portanto, vence), o papel embrulha (ganha) a pedra e a vitória da pedra se dá pela quebra da tesoura44. No Senbatsu Janken Taikai, as integrantes são colocadas como rivais entre si, vestindo fantasias ou roupas temáticas. Há um juiz entre elas e as vencedoras têm o direito de participar da gravação do próximo single, aparecendo também em apresentações e videoclipes.

Figura 5: Disputa entre duas integrantes do AKB48 no Senbatsu Janken Taikai Fonte: Canal de Youtube Kyle Heying45

44 45

CLUB OTAKU. Disponível em . Acesso em 5 set. 2014. YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 5 set. 2014.

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A partir do torneio, nos apropriamos da análise de Morin (2011) a respeito do jogo e de uma visão lúdica da realidade. De acordo com o autor: o que também existe, nos espetáculos esportivos, nos jogos radiofônicos e televisados, nas saídas e nas partidas, nas férias, é um retorno maciço às fontes infantis do jogo [...] o que constitui novidade é a extensão televisionaria ou teleauditiva do espetáculo, abrindo-se até os horizontes cósmicos, são os progressos de uma concepção lúdica da vida (MORIN, 2011, p. 61).

Morin (2011) entra ainda na passividade do espectador, que observa os acontecimentos, mas não tem envolvimento corporal ao que contempla. As telas que permeiam o contato do público com o ídolo, ao mesmo tempo em que separam indivíduo admirador de objeto admirado, permitem que o fã veja e sonhe melhor com o mesmo, auxiliando dessa forma na constituição de imagem da celebridade. Analisamos o torneio também como exemplo do conceito de kawaii46, muito presente na indústria midiática japonesa, formando as buriko47 idols, “moças lançadas como cantoras ou atrizes pela indústria de tarentos, falavam, agiam e aparentavam ter menos idade do que efetivamente tinham” (SATO, 2007, p. 227). A partir dessa questão, entramos na importância da cultura de valores essencialmente juvenis. Já citados por Matta (2009), os atributos das celebridades são criados de maneira que a juventude seja explicitada e assimilada pelos fãs, tornando-a característica essencial da banda e fazendo necessária a troca para que seja mantida sempre a identidade reconhecida pelo público. Também diz Morin (2011) que os “grandes temas identificadores da cultura de massa” (MORIN, 2011, p. 152), como amor, felicidade e individualismo, acontecem com maior intensidade na juventude, depreciando os valores gerontocráticos e promovendo os juvenis, associando-os à beleza e ao próprio amor. A formação da imagem da banda e suas integrantes é reforçada tanto em seus próprios materiais, videoclipes, músicas, comerciais e apresentações quanto na restrição acerca da vida privada. O que o público deve saber restringe-se ao que a empresa controla, distanciando o fã de um contato com o ídolo. A isso, relacionamos a passividade do espectador explicitada na indústria cultural (ADORNO; HORKHEIMER, 2006) A indústria cultural não cessa de lograr seus consumidores quanto àquilo que está continuamente a lhes prometer. A promissória sobre o prazer, emitida pelo enredo e pela encenação, é prorrogada indefinidamente: maldosamente, a promessa a que afinal se reduz o espetáculo significa que jamais chegaremos à coisa mesma, que o convidado deve se contentar com a leitura 46

Tradução: graciosa, fofa (SATO, 2007, p. 227) “Meninas infantilizadas”, palavra que deriva da expressão buri-buri ishõ, ‘fantasia ou vestimenta de criança’”(SATO, 2007, p. 227)

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do cardápio. Ao desejo, excitado por nomes e imagens cheios de brilho, o que enfim se serve é o simples encômio do quotidiano cinzento ao qual ele queria escapar. (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 115)

As integrantes são proibidas de manter relacionamentos e devem ser “bem comportadas”. Caso haja uma conduta inadequada, as meninas podem ser punidas, ou até demitidas do grupo48. Estudamos esse aspecto pelo episódio de Minami Minegishi, por meio de um estudo de caso. Entretanto, podemos mencionar outros exemplos como o de Ayaka Kikuchi, sujeitada à primeira demissão na trajetória do AKB48 por seu “comportamento imaturo”, envolvendo o vazamento de uma foto dela com o namorado49. Por meio de uma nova audição em 2010, a cantora pôde voltar à banda. Houve também duas outras demissões das integrantes Natsumi Hirajima e Rumi Yonezawa, após também serem fotografadas com os respectivos namorados50. Podemos entender a colocação de celebridade como uma entidade, um ideal a ser seguido. A cultura de massa possui forte apelo estético e, apesar de desenvolver também uma mitologia, esta ainda se encontra atrofiada. “Como toda cultura, a cultura de massa produz seus heróis, seus semideuses, embora ela se fundamente naquilo que é exatamente a decomposição do sagrado: o espetáculo, a estética” (MORIN, 2011, p. 103). Nesse sentido, as estrelas, em suas vidas de lazer, de jogo, de espetáculo, de amor, de luxo, e na sua busca incessante da felicidade simbolizam os tipos ideais da cultura de massa. Heróis e heroínas da vida privada, os astros e estrelas são a ala ativa da grande corte dos olimpianos, que animam a imagem da “verdadeira vida”. Assim, uma nova sociedade, mais mitológica do que as antigas altas sociedades burguesas ou aristocráticas, mas, paradoxalmente, mais próxima da humanidade quotidiana, é constituída pela nova camada olimpiana (MORIN, 2011, p. 102)

Entendemos a cultura asiática como parte ainda da sociedade do espetáculo, considerando tanto a comunicação unilateral, na qual o fã mais admira, contempla o ídolo, do que interage com o mesmo e sente proximidade, quanto a restrição da divulgação da vida privada, como se as celebridades fossem apenas o que representam na mídia. Para o cenário pop japonês, portanto, consideramos um cenário de contemplação. Contemplação esta sobre o “outro”, o objeto de veneração e idealização, de caráter inalcançável devido a uma realização ou feito extraordinário. O público assiste a seus “superiores” vivenciarem emoções ou experiências que ele se julga incapaz de atingir (SILVA, 2007).

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THE JAPAN TIMES. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 49 JAPAN TODAY. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 50 NATALIE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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Existem alguns questionamentos acerca da imagem sensual passada pelas integrantes em videoclipes, comerciais e nas próprias letras das músicas. Em entrevista à CNN, Yasushi Akimoto, que também escreve as letras do AKB48, disse que suas obras eram uma maneira de “descrever a realidade”, e tinham o objetivo de provocar os ouvintes acerca de assuntos difíceis51. Em questão dos videoclipes, um dos exemplos que podemos citar é o da música Heavy Rotation52, onde as meninas aparecem de lingerie em meio de beijos e abraços, além de tomarem banho juntas. A diretora do vídeo, Mika Ninagawa, disse querer atingir tanto homens quanto mulheres por meio de um cenário criativo e divertido, considerando o crescimento da popularidade da banda entre o público feminino53.

Figura 6: Cenas do videoclipe Heavy Rotation, do AKB 48 Fonte: Canal do YouTube oficial AKB4854

Em um comercial de TV para a marca de doces Puccho55, as integrantes, vestidas em uniformes de colegial, passam o doce de boca a boca com os dentes, o que gerou comentários acerca do incentivo à homossexualidade e do “mau exemplo às crianças”56. Uma das integrantes, Tomomi Kasai, fez também um ensaio para a revista Shukan Young Magazine, no qual ela aparecia em uma das fotos nua da cintura para cima, com seus seios cobertos pelas mãos de uma criança. A imagem foi retirada da publicação e do livro de fotos oficial da cantora57. Como já mencionado, as meninas devem manter o estereótipo inocente e “puro” em suas vidas pessoais, ainda que não necessariamente seja o que vendam na figura apresentada 51

CNN. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 53 NIHONGOGO. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 54 YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 55 YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 56 JAPAN TODAY. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 57 JAPAN DAILY PRESS. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 52

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em videoclipes, shows ou músicas, nos quais é utilizado, muitas vezes, um teor sensual ou insinuante. De acordo com Morin (2011), o erotismo aplicado sobre produtos “não eróticos” não apenas buscam o consumo do público masculino, como também a atenção das mulheres, visando à identificação dessa consumidora, “a mercadoria faz o papel de mulher desejável, para ser desejada pelas mulheres, apelando para seu desejo de serem desejadas pelos homens” (MORIN, 2011, p. 115). Retomamos ainda a rotatividade das integrantes nas bandas, sendo substituídas pelas trainees conforme vão envelhecendo. Trata-se de um aspecto característico à cultura de massa atual, atualizado em relação à sociedade do espetáculo de Debord (1997), na qual “as estrelas aspiravam à eternidade” (SILVA, 2007, p. 7). A respeito do tema, estudou também Matta (2009), ao explicar que as qualidades de “eternidade” ou “imortalidade” não parecem ser mais tão procuradas, e que, assim, “as celebridades chegam a ser planejadas para durar pouco” (MATTA, 2009, p. 1-3), com outros atributos voltados mais à juventude ou personalidade. 3.2. S.M. Entertainment

Fundada por Lee Soo-man e atualmente sob o comando de Kim Young-min, a S.M. Entertainment é uma gravadora, agência de talentos, produtora e editora de música pop, localizada na Coreia do Sul. Após a já mencionada pesquisa com garotas adolescentes sobre o que lhes interessava em bandas, foram criados os primeiros grupos da empresa: H.O.T. e S.E.S. Entre os principais grupos agenciados atualmente, podemos citar BoA, Girls’ Generation, SHINee, EXO e Super Junior58. Em nossa monografia, aprofundamos nossos estudos na banda Super Junior buscando analisar seu modo de produção característico, recorrendo ao caso específico do ex-integrante HanGeng.

3.2.1. Modo de produção coreano

Lançado em 2005, o grupo Super Junior, parte da S.M. Entertainment, conta atualmente com 14 membros, Leeteuk (o líder), Yesung, Heechul, Kangin, Shindong, Sungmin, Eunhyuk, Donghae, Siwon, Ryeowook, Kyuhyun, Kibum, Zhou Mi e Henry, sendo os dois últimos pertencentes exclusivos das subdivisões. Além da formação original, a banda

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SM TOWN. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

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possui 5 subgrupos: Super Junior – K.R.Y., Super Junior-T, Super Junior-M, Super Junior-H e Donghae & Eunhyuk. Tomamos como característica de análise o treinamento dos artistas em busca da perfeição técnica (em coreografias, performances, atuações em novelas ou seriados, e shows) e estética. Nesta, consideramos tanto a aparência dos próprios artistas quanto os cenários criados em torno deles. Na questão da aparência, abordamos também as interferências cirúrgicas feitas e influenciadas pelas celebridades. Partimos dos campos de treinamento, comuns entre as agências de talento coreanas. Localizada em Gangnam, a instalação tem 2.550 metros quadrados. As audições, que recebem cerca de 300.000 candidatos por ano, são feitas semanalmente, e os aprovados são submetidos a anos de treinamento antes de serem lançados como idols. Os treinos incluem aulas de canto, dança e relacionamento com o público59. Devido às intensas horas de treinamento e outras questões como a longevidade do contrato, falta de flexibilidade em relação aos horários de reuniões e obrigatoriedade do pagamento de multas por atrasos, a empresa já recebeu processos por irregularidade de leis trabalhistas, como estudamos por meio do caso de HanGeng, da Super Junior60. Ao sistema de seleção da S.M. Entertainment, podemos relacionar alguns aspectos da indústria cultural de Adorno e Horkheimer (2006) a respeito da imagem e influência sobre o público. O processo dificulta a entrada e permanência do aspirante à celebridade, aumentando assim a idolatria aos que já conquistaram o feito. Os idols passam a servir de referência, tornando-se os “tipos ideais” do consumidor em questão. A felicidade não deve chegar para todos, mas para quem tira a sorte, ou melhor, para quem é designado por uma potência superior – na maioria das vezes a própria indústria do prazer, que é incessantemente apresentada como estando em busca dessa pessoa. As personagens descobertas pelos caçadores de talentos e depois lançadas em grande escala pelos estúdios são tipos ideais da nova classe média dependente. (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 120)

Além da perfeição técnica, há também a busca pela impecabilidade estética. O índice per capita de cirurgias plásticas entre a população coreana é o maior do mundo61. As celebridades apresentam forte apelo visual, e considerável determinação de como devem ser as partes do corpo. A procura por intervenções é frequente em olhos, nariz e queixo. Nos 59

FORBES. Disponível em . Acesso em 21 ago. 2014. 60 ALLKPOP. Disponível em . Acesso em 22 mai. 2014. 61 O GLOBO. Disponível em . Acesso em 24 mai. 2014.

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olhos, a busca é pela pálpebra dupla, formando uma dobra aos olhos e tornando-os maiores, ou mais “ocidentalizados”. O nariz deve ser pequeno e fino, e o queixo, em formato “V”, alterando toda a estrutura inferior da face, deixando-a mais estreita62.

Figura 7: Comparação do rosto de celebridade coreana com as alterações corporais assinaladas Fonte: Business Insider63

A isso, relacionamos a “modelação” explicitada pelos autores, comentando a reprodução das pessoas “tais como as modelou a indústria em seu todo” (ADORNO; HORKHEIMER, 2006, p. 105) e da identificação com a necessidade apresentada, fazendo com que os espectadores, por meio de um processo de influência externa e identificação com o que lhes é proposto. Sobre a importância da estética, citamos ainda os autores Bakker e Freire-Medeiros (2005), a respeito dos modelos estéticos divulgados e promovidos na cultura de massa. Enquanto a comunidade se desterritorializa e vê tornar-se dispensável sua historicidade, o corpo, de reservatório da alma, passa à entidade autoconstituída, reformatável e reprogramável. A realidade corpórea não é percebida como totalidade, mas como um agregado de componentes que devem refletir mais os ditames do campo estético e menos a ascendência do sujeito. “O avanço real ou ideologizado da ciência e da tecnologia”, afirma Costa (2005: 77), “mudou o perfil da idealização da imagem corporal. Até bem pouco tempo, buscava-se alcançar no futuro a “perfeição” mítica do passado sentimental; hoje, imagina-se que a perfeição será conseguida pela “perfectibilidade” física prometida pelas novas tecnologias médicas” 62

BUSINESS INSIDER. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014. 63 BUSINESS INSIDER. Disponível em . Acesso em 22 ago. 2014.

45

(BAKKER; FREIRE-MEDEIROS, apud HERSCHMANN, M. (orgs.), 2005, p. 105)

FREIRE

FILHO,

João;

A busca pela perfeição segue estritamente relacionada à estética, sendo esta influenciada pelas figuras presentes na mídia. Deve-se considerar ainda que a impecabilidade física é muitas vezes conquistada por meio de intervenções cirúrgicas, voltando-nos à padronização anteriormente explicitada por Adorno e Horkheimer (2006). Dentre as formas de produção de conteúdo por fãs analisadas em capítulos posteriores, verificamos a existência do site K Pop Surgery64, que mostra as possíveis intervenções feitas pelos ídolos coreanos por meio de fotos antigas e atuais. Em uma busca específica pelos membros da banda Super Junior, tomamos como exemplos os integrantes Leeteuk e Ryeowook.

Figura 8: Fotos comparativas de Leeteuk, do Super Junior Fonte: Kpop Surgery65

64

KPOP SURGERY. Disponível em . Acesso em 4 mai. 2014. KPOP SURGERY. Disponível em http://www.kpopsurgery.com/nose-job/plastic-surgery-meter-leeteuksuper-junior/>. Acesso em 10 mai. 2014.

65

46

Figura 9: Fotos comparativas de Ryeowook, do Super Junior Fonte: Kpop Surgery66

Ainda de acordo com Bakker e Freire-Medeiros (2005), consideramos que a legitimidade estética é determinada pela indústria do consumo, “de cosméticos, das academias de ginástica, das drogas para controle de peso, da cirurgia plástica e da moda” (BAKKER; FREIRE-MEDEIROS, apud FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, M. (orgs.), 2005, p.104). A mídia se responsabiliza pelo suporte e proliferação das imagens e padrões estabelecidos ao público.

3.2.2. Construção de imaginário: o espetáculo coreano

Os esforços, tanto pela perfeição física quanto por performances impecáveis, que envolvem, entre outros aspectos, voz, dança e presença de palco, encontram-se presentes em ambas as culturas, japonesa e coreana. Entretanto, para esta abordagem, voltamos nosso foco à indústria coreana, famosa pelos campos de treinamento de celebridades. Nestes, os agenciados têm aulas de dança, canto, relacionamento com o público e imprensa, até estarem prontos para o debut (a estreia do grupo ou artista). Devido ao excesso de treino e irregularidades trabalhistas, a S.M. Entertainment já sofreu vários processos e foi ordenada

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KPOP SURGERY. Disponível em . Acesso em 10 mai. 2014.

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pela FTC (Fair Trade Commission) da Coreia a revisar todos os contratos de seus artistas para regularização das condições de trabalho. Ao excesso de trabalho, podemos relacionar Morin (2011), ao explicitar a questão do sacrifício, que invade o imaginário do público por meio de idealizações nas quais tudo é mais intenso, forte e, consequentemente, melhor. Podemos analisar nas celebridades coreanas a construção do imaginário a partir da perfeição estética, tanto dos próprios artistas quanto dos cenários nos quais estão inseridos. Shows e videoclipes com ambientes lúdicos e meticulosamente trabalhados, assim como toda a coreografia e visual das bandas, levam à constituição do ídolo, definido pelo Dicionário Houaiss da língua portuguesa (2009, p. 1044) como “imagem que representa uma divindade e que se adora como se fosse a própria divindade“. Em contraponto, considerando o conhecimento do público sobre o treinamento necessário para chegar ao resultado visto nas performances, verificamos a possibilidade de aproximação do fã ao artista. Tanto em videoclipes quanto em performances ao vivo, a empresa utiliza de recursos visuais como luzes, telões, projeções e figurinos. A manifestação de conteúdos imaginários se dá em grande parte por meio dos espetáculos. Conforme explicita Morin (2011), a estética determina a relação do consumo imaginário, diferenciando-se dos aspectos práticos, técnicos ou religiosos, apesar de ser possível a justaposição a eles. Nos videoclipes, CDs e singles são criados cenários lúdicos, muitas vezes com narrativas temáticas, como no lançamento do álbum Mamacita, que teve toda a divulgação voltada ao tema faroeste, assim como o videoclipe da música homônima, que conta uma pequena história passada no mesmo cenário.

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Figura 10: Imagem de divulgação de lançamento do álbum Mamacita Fonte: Billboard67

3.3. Japão X Coreia do Sul

Estudamos neste capítulo os modos de produção e a construção das celebridades japonesas e coreanas. Considerando as diferentes condutas das empresas, realizamos agora um comparativo entre os principais aspectos analisados em cada uma delas. Tentamos explorar as celebridades a partir de duas concepções: como objeto de consumo e como entidade. No caso do AKB48, vimos que o consumo é impulsionado por diversos aspectos, começando pela oferta de uma grande diversidade de produtos relacionados ao grupo. Além disso, as compras são estimuladas pela possibilidade de aproximação ao ídolo, tanto física, em encontros ou eventos com a banda, quanto emocional, na aquisição de produtos voltados a uma das integrantes em específico ou às suas personalidades ou gostos. Já na S.M. Entertainment, apesar de também presente a comercialização de produtos relacionados, destacamos o treinamento dos artistas e aspirantes a celebridade. Considerando desde o número de audições realizadas anualmente até todos os esforços aos quais os agenciados se submetem, enxergamos na indústria musical coreana uma linha de produção em série de celebridades. A construção da celebridade como entidade também é vista de diferentes formas por cada uma das empresas. Apesar de ambas modelarem as celebridades a partir de todo o cenário criado em apresentações, videoclipes ou sessões de fotos, são utilizadas abordagens 67

BILLBOARD. Disponível em . Acesso em 3 out. 2014.

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diferentes. O AKB48 busca transmitir uma imagem pura ou mesmo infantil, até por meio das restrições de relacionamentos em suas vidas pessoais, ao mesmo tempo em que trabalha a sensualidade das integrantes nos cenários já comentados. Enquanto isso, a S.M. Entertainment desenvolve em seus artistas modelos estéticos, considerando tanto a impecabilidade estética, que passa muitas vezes por intervenções cirúrgicas, quanto o treinamento visando à perfeição técnica em suas performances, trabalhando, dessa forma, uma questão mais aspiracional sobre seu público. Partindo dos aspectos analisados, verificamos a seguir a recepção do fã acerca das celebridades japonesas e coreanas, em foco aos produtos consumidos, à imagem formada em torno dos artistas e a produção de conteúdo próprio sobre os ídolos, voltando posteriormente no estudo de casos aos episódios de Minami Minegishi e HanGeng.

50

4. RELAÇÃO COM O FÃ

Neste momento, trazemos os estudos realizados em torno do universo do fã e tratamos da relação entre as bandas japonesa e coreana e seus respectivos fãs, considerando a diferente abordagem feita pelos ídolos em relação a seus seguidores. No caso da S.M. Entertainment, devido ao número de agenciados, iremos nos aprofundar na banda Super Junior. Para o AKB48, analisamos os fãs do grupo independente da preferência do indivíduo por times específicos. Fazemos uso da pesquisa bibliográfica, trazendo os autores Gray, Sandvoss e Harrington sobre o estudo de fãs e Barral especificamente sobre os otaku. Por fim, realizamos estudos de recepção com os fãs utilizando-nos da netnografia, explorando a atuação dos mesmos em rede, o relacionamento entre eles e a produção de conteúdo sobre os artistas. 4.1. Estudo de fãs

Iniciamos nossa análise sobre fãs a partir de Gray, Sandvoss e Harrington (2007). Os autores resumem e dividem os estudos de fãs realizados entre as últimas duas décadas em três gerações: “Fandom é bonito” (Fandom is Beautiful), “Fãs no Mainstream/ Culturas de fã e hierarquia social” (Fans in the Mainstream/Fan Cultures and Social Hierarchy) e “Fandom e Modernidade” (Fandom and Modernity). A primeira geração, “Fandom é bonito”, apresentava um cenário do consumo de massa com significativa dualidade de poderes entre a sociedade, caracterizando os fãs como a parcela menos favorecida. Dessa forma, Fiske (1992 apud GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007) definia que os mesmos eram “associados aos gostos culturais de uma formação subordinada de pessoas, particularmente aos que não possuíam poderes devido a qualquer combinação de gênero, idade, classe ou raça” (FISKE, 1992 apud GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007, p. 2)68. Seguindo o mesmo pensamento, o fandom não significava apenas o fato de ser um “fã”, como também uma estratégia coletiva de formação de comunidades expressivas contra ideologias dominantes (também chamados de não-fãs). O fã, por representar a parte com menor empoderamento, era tido como “o outro” na sociedade.

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Tradução própria. Citação original: “associated with the cultural tastes of subordinated formations of the people, particularly those disempowered by any combination of gender, age, class and race” (FISKE, 1992 apud GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007, p. 2)

51

Em estudos posteriores, ainda nessa primeira fase, autores como Bacon-Smith (1992), Harrington e Bielby (1995) e Jenkins (1992) deram voz aos fãs para que se defendessem e falassem sobre eles mesmos. Buscava-se reconstruir a imagem patológica das atividades e práticas de fãs (como convenções, fan fictions, coleção e edição de fanzines ou campanhas), caracterizando-as

como

criativas,

atenciosas

e

produtivas

(GRAY;

SANDVOSS;

HARRINGTON, 2007). Na segunda geração, “Fãs no Mainstream/ Culturas de fã e hierarquia social”, consideramos as mudanças históricas no reconhecimento público e avaliação da prática do fã. Com a desregulamentação dos mercados midiáticos e o advento de novas tecnologias, passamos da era da comunicação por broadcasting para o narrowcasting. Classificamos a primeira como mais expansiva, visando públicos generalizados, e a segunda, mais atual, como voltada a uma audiência específica, almejando o relacionamento mais próximo com o espectador. Dessa maneira, vendo o fã como um consumidor dedicado, este se torna o centro das atenções mercadológicas (GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007). Além disso, depreendemos a questão da hierarquização, baseada na sociologia do consumo de Bourdieu (1984 apud GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007). Os estudos destacavam a replicação de hierarquias sociais e culturais entre fãs e suas subculturas, considerando que a escolha dos objetos e práticas de consumo dos fãs é feita conforme seus hábitos, refletindo a base social, cultural e econômica dos indivíduos. A terceira fase, “Fandom e Modernidade”, parte para uma abordagem mais empírica do que conceitual. Atualmente, há um grande número de comunidades de fãs na internet em grupos de discussão, sites e listas de e-mail, além da presença em revistas ou programas de televisão e da constante e crescente utilização de dispositivos móveis, que acompanham o usuário a todo lugar. Todas essas formas de comunicação e tecnologia refletem a entrada do consumo de fãs na estrutura da sociedade e seu dia a dia. Estuda-se, portanto, as informações que os fandoms podem oferecer sobre a vida moderna (GRAY; SANDVOSS; HARRINGTON, 2007). Com base nesses estudos, nos atentamos ao fã como além de apenas um admirador, mas também consumidor de seu objeto desejado. Tratamos tal consumo como expressão de sua base social e cultural, e como forma de construção de sua própria identidade. Para o universo musical asiático, em especial o japonês, destacamos a existência de um fã específico, denominado otaku, conceituado a seguir. 4.2. Os otaku

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Neste tópico, considerando a realização do estudo de fãs das celebridades japonesas, julgamos oportuno conceituarmos brevemente os otaku, muitas vezes caracterizados apenas como admiradores da cultura nipônica. De acordo com Sato (2007): Os otakus (nerds) são conhecedores fanáticos de algum assunto obtuso, que podem variar de torcedores alucinados de algum esporte, ou colecionadores maníacos de objetos incomuns, a jogadores viciados de videogames, mas geralmente são fãs doentios de tokusatsu (filmes de monstros e heróis uniformizados), animês e mangás, e que em comum possuem a característica de não conseguirem relacionar-se socialmente com pessoas que não compartilhem do mesmo ramo ou grau de conhecimento específico (SATO, 2007, p. 21)

O termo possui duas leituras: a primeira designa “habitação, lugar onde se vive”, a segunda, “um tratamento impessoal de distanciamento” (BARRAL, 2000, p. 25), ambas aptas à caracterização do fenômeno. Foi empregado pela primeira vez por Nakamori Akio, ao designar o fenômeno na revista de histórias em quadrinhos Buricco, voltada para adultos (BARRAL, 2000). Em nossa pesquisa, nos apropriamos dos otaku como fãs da música pop japonesa, caracterizando inclusive o fandom brasileiro. A importância da conceituação do otaku dá-se especificamente na explicitação de um de seus objetos de interesse: os ídolos. Tais figuras, com as quais os fãs estabelecem relações unilaterais, considerando-as inatingíveis, caracterizam artistas do sexo feminino, preferencialmente ainda desconhecidas, para que possam, então, acompanhá-las desde o início da carreira (BARRAL, 2000). 4.3. Estudos de recepção na rede

Os estudos de recepção, conforme Gomes (2004), buscam entender a relação entre os meios e os receptores de um processo comunicativo, partindo da perspectiva de atividade do receptor, em recusa à condição de passividade do mesmo. Para nossa análise, faremos uso da netnografia em dois grupos de Facebook. O termo netnografia consiste em um neologismo (net + ethnography), utilizado pela primeira vez em 1995 por um grupo de pesquisadores norte americanos: Bishop, Star, Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz, visando à preservação dos “detalhes ricos da observação em campo etnográfico usando o meio eletrônico para ‘seguir os atores’” (BRAGA, 2006, p. 4).

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Em contraposição à definição de Braga (2006), devemos ser cautelosos quanto à definição de netnografia apenas como transposição do método etnográfico ao ambiente digital, sendo necessário considerar que “as dinâmicas comunicacionais tanto entre os objetos observados como na relação pesquisador-objeto podem diferir, principalmente em relação à noção de tempo-espaço, conforme discutem Hine (2005) e Hodkinson (2005)” (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008, p. 34). Para nosso estudo netnográfico, utilizamo-nos primeiramente dos critérios de confiabilidade de Kozinets (1997 apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008) para a filtragem das comunidades analisadas, selecionando, por fim, os grupos de fãs do Facebook AKB48 BR e Super Junior Brasil (E.L.F.). Seguimos os parâmetros do autor, levando em consideração: (1) indivíduos familiarizados entre eles, (2) comunicações que sejam especificamente identificadas e não-anônimas, (3) grupos com linguagens, símbolos, e normas específicas e, (4) comportamentos de manutenção do enquadramento dentro das fronteiras de dentro e fora do grupo (KOZINETS, 1997 apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008, p.38)

Ainda de acordo com Kozinets (2007 apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008), realizamos a etapa da entrée cultural, selecionando como tópicos a serem analisados em nossa análise de recepção: 1. A produção de conteúdo próprio sobre os artistas; 2. A interação entre os fãs em torno de notícias relacionadas aos artistas. Conforme a defesa de Winkin (1998 apud BRAGA, 2006) a respeito da “clareza do etnógrafo sobre sua identidade de pesquisador em situações de campo e uma razoável abertura a respeito de sua agenda de pesquisa” (BRAGA, 2006, p. 6), foi solicitada a autorização em ambos os grupos e explicitadas as intenções de pesquisa e análise sobre o conteúdo publicado. Os grupos de Facebook foram escolhidos visando à análise da interação dos fãs entre si. Os grupos podem ser abertos (com postagens públicas), fechados (com postagens fechadas à rede) ou secretos, todos com entrada mediante aprovação ou convite dos usuários administradores. Segundo o próprio site: Os grupos do Facebook facilitam a conexão com grupos específicos de pessoas, como familiares, colegas de equipe ou de trabalho. Grupos são espaços privados onde você pode compartilhar atualizações, fotos ou documentos, além de enviar mensagens a outros membros do grupo69

Visamos, dessa maneira, estudar os grupos considerando o senso de comunidade entre eles. Ambos se classificam como grupos fechados, ou seja, apenas os próprios membros

69

FACEBOOK. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

54

podem interagir e visualizar as postagens. A solicitação de entrada é permitida a qualquer usuário da rede social, entretanto, sujeita a aprovação dos respectivos administradores.

4.3.1. AKB48 BR

Dentre as possibilidades de grupos de fãs brasileiros encontrados na rede social Facebook, resolvemos analisar a comunidade AKB48 BR, considerando, além dos parâmetros mencionados por Kozinets (2007 apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008), a quantidade de membros e frequência de interação nos posts. Tratamos primeiramente de sua composição, extraída a partir de um tópico de “Apresentações” dos integrantes do grupo, o qual apresenta aspectos demográficos como gênero e faixa etária. Partimos então para a recepção dos fãs, onde verificamos qual a imagem que eles têm das celebridades, como estas influenciam na construção de identidade do fã e como se dá a produção de conteúdo próprio em torno do ídolo.

4.3.1.1. Composição do Grupo O grupo AKB48 BR possui 421 membros70 e é voltado aos fãs de todos os grupos de maneira geral. Na descrição, são inseridos alguns tópicos principais, como o de “Recomendações” e “Apresentações”. Em “Recomendações”, um dos administradores do grupo busca estabelecer algumas sugestões para melhor convivência do grupo. São citados: ~ RECOMENDAÇÕES DO GRUPO ~ Antes de tudo, não são REGRAS, afinal acho que essas dão a impressão de coisas impostas e obrigatórias a serem seguidas, aqui é um grupo livre e essas recomendações são apenas pra tentar fazer os posts fluírem melhor. Ah, dicas e conselhos são bem vindos, mais itens serão adicionados conforme se fizer necessário 1 - Mais importante de todas: Relaxe e curta! AKB48 é um grupo de entretenimento e não deve ser levado tão a sério, não tem pq discutir ou brigar por motivo algum! Aqui é normal zoar a oshi dos outros e ter a sua zoada também xD 2 - Álbum de Fotos: se for postar várias fotos da mesma guria ou de algum PV ou photobook ou qualquer coisa do gênero, crie um álbum, isso ajuda a encontrar fotos específicas pra quem for procurar depois, além de deixar mais organizado pra comentar também. Outra: é bom conferir se o album já 70

Dado retirado em 22 set. 2014.

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não existe né, pra não ficar repetido, se existir, só adicionar as fotos no que já tem. 3 - Jogos/quiz no mesmo tópico: De vez em quando alguém resolve fazer jogos do tipo adivinhar o nome de alguém ou coisas do gênero, o ideal é que quem começar, faça as outras perguntas/whatever no mesmo tópico pra não floodar e afundar os outros tópicos lá pra baixo 4 - Propagandas de forma geral não são permitidas, dependendo do caso, pode ser analisado, mande msg para algum dos admins! 5 - Goste de HKT!! Quaisquer sugestões para o grupo em geral estão abertas a discussão71

Na formação de comunidades, em especial dos grupos de Facebook, há o costume de estabelecer normas de boa convivência. O tópico de recomendações traz sugestões gerais de organização, mas não restringe ou proíbe nenhum tipo de postagem, com um pequeno adendo apenas à publicação de propagandas. A parte das “Apresentações” reúne breves perfis dos integrantes do grupo, seguindo uma ficha básica com idade, local onde mora, oshimen72, quase oshimen, time preferido, artista graduada que mais sente falta, outros artistas e vícios. Dentre os membros com apresentações publicadas, reunindo um total de 68 pessoas, constatamos que a divisão entre os gêneros masculino e feminino é equilibrada, com 50% do público para cada um. Apesar de apreendermos uma pequena parcela do público total brasileiro, julgamos a parcela considerável devido à frequência de atividades no grupo. Consideramos os respondentes como principais ativos da comunidade.

Tabela 4: Divisão de perfis dos integrantes do grupo por gênero Fonte: Tabela elaborada pela autora, segundo dados retirados do grupo AKB48 BR73 71

AKB48 BR. Texto retirado do grupo AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 72 A palavra oshimen vem de 'oshiteru member' ('O membro que você apoia'). É um termo usado para descrever os membros favoritos de um fã. Mesmo que oshimen geralmente se refira a um único membro, alguns fãs têm mais que um oshimen por grupo (os membros favoritos entre os oshimen são normalmente chamados de kamioshi). Algumas vezes os fãs trocam de oshimen (oshihen). OMG!AKB48. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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Entre o público masculino, percebe-se a manutenção de uma parcela jovem, apesar de verificarmos maior expressividade entre a faixa de 18 a 25 anos e maior presença, em relação ao geral e ao público feminino, da faixa de 25 a 30 anos, caracterizando possivelmente um grupo de fãs mais maduro.

Tabela 5: Divisão de faixa etária do público masculino Fonte: Tabela elaborada pela autora, segundo dados retirados do grupo AKB48 BR74

Percebemos para a parcela feminina, a presença estrita do público jovem, sendo o limite máximo de idade informada beirando os 25 anos, e 68% das pessoas com idades menores ou iguais a 18. Caracterizamos a fatia mais jovem total, portanto, como pertencente ao gênero feminino.

Tabela 6: Divisão de faixa etária do público feminino Fonte: Tabela elaborada pela autora, segundo dados retirados do grupo AKB48 BR75

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AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 75 AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 74

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Em análise geral da faixa etária dos fãs em questão, trata-se de um público essencialmente jovem, no qual verificamos que 89% tem até 25 anos, dentro dos quais 49% encontram-se com idades iguais ou inferiores a 18 anos.

Tabela 7: Divisão de público por faixa etária Fonte: Tabela elaborada pela autora, segundo dados retirados do grupo AKB48 BR76

Demograficamente, verificamos, então, a homogeneidade entre os sexos feminino e masculino. Por meio da análise da faixa etária dos fãs, vimos que a parcela masculina trata de um público mais maduro, com idades majoritariamente entre os 18 e 30 anos, e o fragmento feminino representa um público mais jovem, com idades predominantes de, no máximo, 18 anos.

4.3.1.2. Análise de Recepção

Produtos AKB48 Observamos que a aquisição de produtos do AKB48 pelos fãs brasileiros é dificultada, principalmente por ser necessária a importação, considerando ainda os preços, fretes e prazo de entrega. Ainda assim, podemos perceber no fandom brasileiro uma considerável frequência de compra, além do compartilhamento de informações e ajuda aos fãs com pouca experiência. Verificamos grande diversidade nos objetos de desejo, abrangendo desde CDs e singles até fotos, uchiwas (leques japoneses) e calendários. Com a vasta gama de produtos oferecidos, disponibilizados em diferentes versões, podemos perceber ainda a preferência do fã por determinada integrante, caracterizando assim 76

AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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as anteriormente mencionadas oshimen (integrantes favoritas). Estudamos a escolha por uma artista em específico sob o aspecto da construção de identidade do fã, lembrando ainda que, conforme Campbell (2006), os gostos e desejos espelham as características próprias do indivíduo.

Figura 11: Fotos de produtos adquiridos por fãs pela internet Fonte: Grupo de Facebook AKB48 BR77

A constituição do idol Tentamos entender, por meio da fala dos membros do grupo, como se dá a construção do ídolo aos olhos dos fãs. Buscamos conhecer os atributos básicos das celebridades, além de percepções e opiniões acerca de seu comportamento e atitudes. Em uma das postagens, verificamos que “o mínimo de canto, um pouco de dança e interpretação, e um rosto que chame a atenção” são as características necessárias para a admissão de uma integrante ao “G48” (referente a todos os grupos do AKB48), além de ser mencionada a existência de artistas “sem sal” e citado que “o mínimo de canto [requisito para a aprovação no grupo] deve ser bem mínimo”.

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AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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Figura 12: Comentários de fãs no grupo de facebook AKB48 BR Fonte: Grupo de Facebook AKB48 BR78

Em contraposição, voltamos aos estudos de Morin (2011) e Silva (2007) sobre a colocação da celebridade como entidade ou ideal a ser seguido e de um cenário de contemplação do ídolo. Entendemos o conteúdo da postagem como uma “humanização” da celebridade, assumindo a existência de seus aspectos negativos e a aproximando de seu público. Outros comentários citam também a falta de talento de algumas das integrantes, este não sendo considerado aspecto obrigatório, na visão do fã, para o ingresso no grupo.

Figura  13: Comentários de fãs no grupo de facebook AKB48 BR Fonte:  Grupo  de  Facebook  AKB48  BR79  

Produção de Conteúdo Entre as formas de produção de conteúdo de autoria dos fãs no grupo, encontramos os tópicos “GIFs Aleatórios” e “Memes”. GIF (Graphics Interchange Format) é uma extensão

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AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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para arquivos, lançada em 1987 pela empresa Compu Serv, atualizando as cores do formato anterior, que utilizava apenas o preto e o branco. Atualmente, os gifs são muito comuns para retratar situações inusitadas em redes sociais, blogs ou sites80. O tipo de GIF mais utilizado entre os fãs analisados trata do GIF animado que, segundo o site Techtudo, “é composto de várias imagens do formato GIF, compactadas em um só arquivo” 81. O conceito de meme foi originalmente utilizado por Dawkins (1976 apud RECUERO, 2009) na obra O Gene Egoísta, no qual era apresentada a cultura como produto da replicação de ideias, então denominadas memes. De acordo com uma abordagem evolucionista, compara-se a evolução cultural à genética, na qual o meme seria o “gene” da cultura, perpetuada através de seus replicadores.

Figura 14: Exemplo de meme publicado no grupo Fonte: Imagem retirada do grupo AKB48 BR82

Há ainda o “AKB48 BR Traduções”, que configura um projeto de fansubbing, outra forma de produção de conteúdo por parte dos fãs em torno dos artistas. O fansubbing caracteriza a prática de tradução e inserção de legendas em vídeos relacionados, no caso, às artistas em questão. De acordo com Jenkins (2009), ela teve início no final da década de 1980 e início dos anos 1990, como “tradução e legendagem amadoras dos animes japoneses” (JENKINS, 2009, p. 220). Analisando os principais tópicos em questão no grupo AKB48 BR, vemos a presença de um público jovem, estando em equilíbrio os gêneros masculino e feminino. Além disso, percebemos grande interação e produção de conteúdo sobre as artistas. A interação acontece 80

OFICINA DA NET. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 81 TECHTUDO. Disponível em . Acesso em 29 out. 2014. 82 AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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em torno das novidades em relação às integrantes da banda e das opiniões próprias de fãs sobre suas atitudes, comportamentos e personalidades, a partir dos quais surgem muitas das produções próprias como os gifs ou memes.

4.3.2. Super Junior Brasil (E.L.F.)

Para a análise de fãs do grupo Super Junior, consideramos como critério de seleção também os parâmetros de Kozinets (2007 apud AMARAL; NATAL; VIANA, 2008), além do número de membros e frequência de interação em postagens, sendo por fim escolhida para estudo a comunidade Super Junior Brasil (E.L.F.). Não foram encontrados dados demográficos suficientes para análise da composição de seus integrantes como no caso do AKB48 BR, portanto, partimos das principais postagens e tópicos gerais, passando para a recepção dos fãs, sobre a qual verificamos a imagem constituída acerca das celebridades coreanas, a influência na construção de suas próprias identidades e a forma de produção de conteúdo tendo como objeto o ídolo.

4.3.2.1. Composição do grupo O grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) é formado por mais de 10 mil membros83, e contempla em sua grande maioria os fãs brasileiros, apesar de verificarmos presença de público de outros países da América Latina. Julgamos relevante para nosso estudo alguns esclarecimentos de termos muito utilizados pelo fandom da banda. O fã-clube oficial da Super Junior, E.L.F., sigla para Ever Lasting Friends (Amigos Para Sempre), é o segundo maior da Coreia do Sul. A escolha do nome foi feita pela própria banda84. Entre o fandom, todas as fãs denominam-se E.L.F.s Os ídolos favoritos dos fãs são chamados de bias, termo inglês que pode ser traduzido como “tendência”, “propensão” ou “inclinação”. São ainda dados nomes diferentes aos fandoms de cada um dos integrantes, de acordo com seus gostos, músicas ou apelidos. No grupo Super Junior Brasil (E.L.F.), a organização principal se divide em “Regras”, “Projetos”, “Fanfics”, “Twitter”, “Instagram” e “Whatsapp”. 83

Dado retirado em 24 out. 2014 SUJUBR. Disponível em . Acesso em 27 ago. 2014.

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As “Regras” incorporam as atitudes não toleradas na comunidade, além da padronização das postagens, visando à melhor organização do fluxo de informações. As regras citadas são: REGRAS Serão deletados tópicos que: 1. Apresentarem conteúdo repetido. ex.: Mesmo MV sendo postado mais de uma vez... 2. Apresentarem conteúdo impróprio. ex.: Nudez, Imagens fortes.. 3. Apresentarem conteúdo ofensivo para com outros membros. ex.: Xingamentos, brincadeiras de mau gosto... 4. Propagandas que não tenham a ver com a proposta do grupo. ex.: Propaganda de site de vendas, grupos, eventos não relacionados... 5. Sejam de extrema irrelevância para os membros do grupo. ex.: Assuntos aleatórios como algo que aconteceu na novela... 6. Tópicos que são direcionados para um membro específico ou um grupo de membros. ex. Tópicos que poderiam ser postados na timeline dos membros... Sobre tópicos OFF 1. Tópicos OFF não devem desrespeitar as regras de “Tópicos deletados”, ou seja, não podem apresentar conteúdo repetido, conteúdo impróprio, serem de assuntos de extrema irrelevância, etc. 2. Eles ficarão no grupo até que o assunto seja inteiramente esgotado, ou seja, até que não haja comentários novos em um período longo de tempo (Vulgo flopar). Sobre a conduta dos membros 1. Serão advertidos os membros que: 1.1. Ofenderem intencionalmente outros membros. 1.2. Promoverem flood excessivo. (comentar repetidamente para manter o tópico em questão no topo da timeline do grupo) 1.3. Repostarem tópicos que foram deletados 2. Serão banidos temporariamente do grupo os membros que: 2.1. Receberem a terceira advertência relacionada a um mesmo ocorrido 2.2. Apresentarem casos de extremo desrespeito para com os membros do grupo. 3. Serão banidos definitivamente do grupo os membros que: 3.1. Voltarem a desrespeitar as regras mesmo após o banimento temporário.85

Em contraposição às recomendações do grupo AKB48 BR, podemos verificar maior formalidade e regulamentação, tanto do conteúdo quanto da conduta dos participantes da comunidade, sendo já dispostas as condições que culminariam na expulsão da mesma ou na exclusão de postagens. Observamos ainda, também diferente do outro grupo, a existência de tópicos que incentivam a interação exterior ao universo do Facebook. São designados os tópicos “Twitter”, “Instagram” e “Whatsapp” para a publicação de contatos próprios. Nos tópicos, a 85

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.). Texto retirado do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.). Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

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grande maioria das participantes são mulheres. Percebe-se pouca atividade masculina, diferente do grupo AKB48 BR, e verificamos significativa presença de público jovem. Há ainda grande receptividade a novas elfs e compartilhamento de informações mais pessoais, gerando maior intimidade entre o grupo.

4.3.2.2. Análise de recepção

Produtos Super Junior A aquisição de produtos da Super Junior, apesar de mais simples em relação aos produtos do AKB48, também é dificultada pela necessidade de importação e elevados preços e impostos. Apesar disso, verificamos que grande parte do público tenta acompanhar os lançamentos.

Figura 15: Foto de produtos adquiridos por fãs na internet Fonte: Grupo de facebook Super Junior Brasil (E.L.F.)86

Conforme pesquisa realizada pelos próprios integrantes das comunidades, dentre os 74 respondentes, apenas 6 não compraram o álbum Mamacita, sétimo e mais recente lançado

86

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.). Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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pela banda. Observamos ainda nos comentários que muitos fãs tinham a intenção de comprar todas as versões.

Figura  16:  Pesquisa  retirada  do  grupo  Super  Junior  Brasil  (E.L.F.)   Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.)87

Concepção de celebridade Na constituição do imaginário em torno do ídolo aos olhos do fã, verificamos a importância dos videoclipes e apresentações construídos a partir de narrativas e cenários lúdicos. Um dos últimos lançamentos foi o videoclipe da música Evanesce88, sobre o qual analisamos a recepção do público.

87

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.). Pesquisa retirada do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.). Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 88 YOUTUBE. Disponível em . Acesso em 25 out. 2014.

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Figura 17: Publicação retirada do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.)89

Entendemos a construção dos ídolos a partir de suas representações em fotos, vídeos e apresentações. Verificamos ainda a atribuição de alguns aspectos aos integrantes de acordo com cenas e atitudes protagonizadas pelos mesmos em shows e outras aparições públicas. Dentre algumas das características, verificamos em uma das postagens a associação das celebridades a atributos sugerindo a homossexualidade.

Figura 18: Comentários retirados do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.)90

De acordo com os comentários em resposta ao conteúdo da postagem, algumas das atitudes em shows como beijos e utilização de vestimentas femininas levam os fãs a 89

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.). Pesquisa retirada do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.). Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 90 SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.). Comentários retirados do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.). Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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associarem as mesmas à homossexualidade. Tais associações são apoiadas por grande parte do público, e podemos, a partir delas, construir a ponte para uma das formas de produção de conteúdo: as fan fictions, narrativas ficcionais baseadas no ídolo, considerando que o tema homossexual caracteriza um dos principais procurados e retratados pelo fã. Produção de conteúdo Na comunidade de fãs analisada, verificamos as principais formas de produção de conteúdo. Um dos tópicos centrais traz os “projetos”, sendo destinado a campanhas de aniversário, votações e petições para shows no Brasil. Consideramos os projetos como produção de conteúdo próprio dos fãs sobre e para os ídolos. Há ainda a utilização de memes, edições de fotos e vídeos, mas destacamos como uma das principais formas de produção as fan fictions. As “Fanfics” são uma abreviação de fan fiction, forma de produção de conteúdos de fãs sobre seus ídolos que caracteriza a criação de histórias ficcionais com base no universo do ídolo. Conforme Jenkins (2009), a fan fiction pode ser definida como “termo que se refere, originalmente, a qualquer narração em prosa com histórias e personagens, extraídos dos meios de comunicação em massa” (JENKINS, 2009, p. 380). Um dos temas comuns das fan fictions é denominado yaoi, gênero que conta histórias de romance de garotos homossexuais, no caso da banda Super Junior, entre os próprios membros. O termo foi utilizado inicialmente na distinção de temas de mangás. Dessa forma, definimos yaoi considerando que: Tomando por tema as relações homossexuais masculinas, elas podem desenhar, ao mesmo tempo, tudo o que quiserem do seu centro de interesse número 1 – os homens –, sem voltar à realidade contando as clássicas relações homem-mulher, que para elas fazem parte de um cotidiano muitas vezes monótono (ainda que imaginário), que termina invariavelmente com “eles se casaram e tiveram muitos filhos”. Apesar de tudo, um homem permanece um ser misterioso, incompreensível, para uma mulher jovem (YONEZAWA apud BARRAL, 2000, p. 142)

Destacamos abaixo a sinopse de uma das fan fictions com o tema yaoi. Titulada Worse than Nicotine, a produção contabiliza atualmente 8 capítulos e narra o romance entre os integrantes Eunhyuk e Donghae.

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Figura 19: Sinopse de fan fiction yaoi sobre integrantes da banda Super Junior Fonte: Social Spirit Fanfics91

Ainda em relação às fan fictions, é importante destacar a utilização de uma plataforma específica para as publicações, sendo restrita ao máximo a postagem das histórias no próprio grupo. Na comunidade, conforme a publicação destacada abaixo, são constantes as publicações de notícias acerca dos ídolos, com caráter informativo. Por esse motivo, muitos dos fãs acabam por acreditar que as histórias ficcionais criadas por outros fãs são verídicas, gerando confusões em torno das informações.

Figura  20:  Publicação  restringindo  a  postagem  de  fan  fictions  no  grupo  Super  Junior  Brasil  (E.L.F.)   Fonte:  Grupo  Super  Junior  Brasil  (E.L.F.)92  

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SOCIAL SPIRIT FANFICS. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. 92 SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

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4.3.3. AKB48 BR X Super Junior Brasil (E.L.F.)

A partir dos aspectos analisados em cada um dos grupos, fazemos também um comparativo sobre suas composições, os conteúdos principais das publicações e as formas de produção de conteúdo. Partindo da composição, vimos que há considerável diferença entre o número de integrantes: enquanto o AKB48 BR possui cerca de 400 membros, o Super Junior Brasil (E.L.F.) é composto por mais de 10 mil pessoas. A este aspecto, relacionamos a determinação de recomendações ou regras, pois, quanto maior o número de integrantes, maior a dificuldade de controle do que é publicado e da interação dentro da comunidade. No grupo AKB48 BR, as recomendações tratam de sugestões para organização das publicações, sem explicitar grandes restrições. Já o Super Junior Brasil (E.L.F.), estabelece regras sobre a conduta dos participantes e tópicos. Ainda em relação à constituição da comunidade, verificamos que parte considerável dos fãs do AKB48 BR eram homens e que, apesar de certo equilíbrio junto ao público feminino, vimos que a maior frequência de publicações e interação era entre o gênero masculino. Já para o Super Junior Brasil (E.L.F.), observamos uma presença majoritária de mulheres, com pouca interação masculina. O conteúdo das publicações trata de assuntos similares: lançamentos de singles ou produtos, novidades, rumores, vídeos e fotos acerca dos ídolos. Julgamos curioso destacar que, em ambos os grupos, há um costume comum entre os fãs de postagem de fotos dos produtos adquiridos. Entendemos este aspecto como parte da constituição da identidade do consumidor, ou seja, os bens que ele consome refletem características de sua personalidade. Consideramos ainda que a posse dos produtos e a respectiva publicação das fotos busca demonstrar, de certa forma, a intensidade da admiração e amor pelo ídolo. As formas de produção de conteúdo entre os fandoms eram majoritariamente as mesmas, mas verificamos que, enquanto o AKB48 BR tem foco na produção e edição de vídeos ou fotos, o Super Junior Brasil (E.L.F.), apesar de não permitida a publicação no próprio grupo, faz uso frequente das narrativas fan fiction. No próximo capítulo, analisamos os episódios específicos vivenciados por Minami Minegishi, do AKB48 e HanGeng, da S.M. Entertainment. Tentamos compreender, por meio

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dos casos, como é feita a construção de celebridades, analisando, por fim, a recepção dos fãs acerca do tema.

70

5. ESTUDO DE CASOS

Dedicamos o presente capítulo ao estudo de casos acerca da artista Minami Minegishi, integrante do grupo AKB48 e de HanGeng, ex-integrante da banda Super Junior, agenciada pela S.M. Entertainment. Utilizamo-nos do método considerando tratar-se de uma investigação de “um fenômeno contemporâneo em profundidade e seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes” (YIN, 2010, p. 39). Buscamos analisar, com episódios específicos, como a cultura asiática se insere nos conceitos analisados, seguindo em direção a nosso segundo objetivo específico, de compreender, por meio de casos, a maneira como são constituídos os ideais em torno das celebridades japonesas e coreanas, nos apropriando ainda de estudos netnográficos para verificar a recepção dos fãs sobre os fatos evidenciados. 5.1. Minami Minegishi (AKB48)

O caso de Minami Minegishi começa em janeiro de 2013, com o relato do tabloide japonês Shukan Bunshun a artista teria passado a noite no flat de Alan Shirahama, membro da boyband Generations. Quase instantaneamente, foi anunciado no blog oficial do AKB48 o rebaixamento da integrante à posição de trainee. Ainda no mesmo dia, o canal oficial do YouTube da banda publicou um vídeo de Minegishi com a cabeça raspada, se desculpando com os fãs por seu comportamento.

Figura 21: Foto publicada de Minegishi pelo tabloide Shukan Bushun

71

Fonte: Genkidama93

Nossa tradução própria feita a partir do vídeo de Minami Minegishi94 é colocada a seguir. Sou Minegishi Minami do time B Umeda, do grupo AKB 48. Peço desculpas pela preocupação que causei aos membros do grupo, fãs, staff e familiares por conta do ocorrido que será publicado numa revista hoje. Como membro da primeira formação do grupo AKB em 2005, eu deveria servir de exemplo aos novos integrantes, mas o que acabei fazendo foi de muita irresponsabilidade e falta de consciência. Não sabia bem o que pensar, não sabia o que poderia fazer. Vi a revista há pouco e não consegui ficar sem fazer nada. Sem consultar os membros do grupo e nem mesmo as pessoas da agência, eu mesma resolvi raspar os cabelos. Não acredito que poderiam me perdoar por isso, mas a primeira coisa que pensei foi: não quero sair do AKB48. Não consigo pensar em me distanciar do grupo no qual passei a minha juventude, um grupo formado por membros que adoro, onde posso ter os fãs que me acolhem com tanto carinho. Sei que não é fácil assim, mas se puder, quero continuar sendo a Minegishi Minami do AKB48. Eu fui a culpada por tudo. Peço desculpas. Em relação ao que será daqui para frente, deixarei a decisão nas mãos do Professor Akimoto e dos resposáveis pela direção. Ainda não está nada decidido, mas consegui expressar o que estou pensando no momento. Obrigada.

O vídeo teve mais de 4 milhões de visualizações em um dia95 e correu por portais do mundo todo. Como principais, podemos citar BBC, CNN, The Guardian, The Huffington Post e os brasileiros G1, Veja, UOL e Folha de S.P.

Figura 22: Reportagem da CNN com a repercussão do caso de Minami Minegishi. Fonte: CNN96 93

GENKIDAMA. Disponível em . Acesso em 2 out. 2014. 94 DAILYMOTION. Disponível em . Acesso em 6. nov. 2014. 95 G1. Dados retirados do portal G1, em matéria datada em 01/02/2013. G1. Disponível em . Acesso em 29 out. 2014.

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Figura 23: Reportagem de portais brasileiros sobre o caso da cantora. Fontes: Folha de SP, G1 e Veja97

O ato de raspar o cabelo simboliza no Japão o arrependimento e constrição e, conforme declaração da cantora, foi uma atitude de autopunição por seu mau comportamento. As integrantes do AKB48 são contratualmente proibidas de ter qualquer tipo de relacionamento amoroso e são punidas, caso desobedeçam. Como já mencionado anteriormente, há ainda outros casos de punições por parte da companhia a outras integrantes por manterem relacionamentos com os respectivos parceiros. A proteção da empresa quanto à vida pessoal e, mais especificamente, amorosa das celebridades, busca manter as fantasias criadas pelos fãs98. Dentro do universo do fã, melhor estudado no próximo capítulo, destacamos a presença, em grande parte, de um público masculino, os chamados otaku, que designam indivíduos patologicamente entusiastas de algo em específico, também posteriormente conceituados conforme Barral (2000). Os otaku veem em seus objetos de admiração uma fantasia, e o relacionamento amoroso ou sexual do ídolo pode caracterizar-se, muitas vezes, como traição nos olhos do fã.

96 97

CNN. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014.

G1. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. VEJA. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. FOLHA DE S. PAULO. Disponível em . Acesso em 4 abr. 2014. 98 THE JAPAN TIMES. Disponível em . Acesso em 25 mai. 2014.

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Além disso, ao relacionarmos os ídolos aos olimpianos de Morin (2011), “a informação transforma esses olimpos em vedetes da atualidade. Ela eleva à dignidade de acontecimentos históricos acontecimentos destituídos de qualquer significação política” (MORIN, 2011, p. 100). Analisamos ainda o conceito de “representação do real”, explicitado por Jaguaribe (2005). Busca-se a produção de significados e símbolos por meio de narrativas, imagens e representações. Em contraposição à imaginação fantástica, “as estéticas do realismo podem oferecer retratos críticos da experiência do mundo não porque engendram uma representação insólita de uma realidade estranhada, mas porque fazem a realidade tornar-se ‘real’” (JAGUARIBE apud FREIRE FILHO, João; HERSCHMANN, M. (orgs.), 2005, p. 176).

5.1.1. Recepção dos fãs

Além dos aspectos anteriormente estudados, buscamos analisar também no grupo AKB48 BR, a recepção dos fãs acerca do caso específico. Não encontramos, na comunidade selecionada, comentários a respeito do episódio vivenciado por Minami Minegishi. Guiamonos, portanto, por outro caso similar, e trazemos as falas e opiniões do fã acerca do tema da restrição da vida pessoal e de relacionamentos das integrantes. Destacamos aqui a postagem feita sobre os “escândalos” de Ayaka Murakami, integrante do NMB48, um dos subgrupos do AKB48, sendo mencionada a reação de seus wotas99. Verificamos então, a posição dos fãs sobre os relacionamentos amorosos das celebridades japonesas.

Figura 24: Publicação no grupo AKB48 BR sobre o caso de Murakami Ayaka 99

De acordo com o site Club Otaku, os wota são “um tipo de otaku da música idol feminina japonesa”, ou simplesmente, fãs da música pop japonesa protagonizada por mulheres. CLUB OTAKU. Disponível em . Acesso em 19 out. 2014.

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Fonte: Grupo AKB48 BR100

Analisamos primeiramente os comentários de fãs “contra” o relacionamento das artistas. Conforme a imagem abaixo, vimos que, para parte do público, a proibição é fator importante para a manutenção do apelo sexual (“acho q a coisa mais simples pra explicar é o apelo. A mina perde todo o apelo, e se não tem apelo... E aí?”) e representa influência nas vendas (“se liberasse o namoro... ia vender o que, 10% do que vende hj?”). De acordo com as falas, depreendemos ainda que algum tipo de punição às que desrespeitarem a regra faz-se importante para que os casos não sejam frequentes. Segundo os autores dos comentários, “eles estão pegando muito leve com algumas, e as meninas tb estão se descuidando. Fica feio para elas e pro grupo” e “Aff um atrás do outro, vai virar moda e logo logo tds irão fazer isso, já q estão saindo ilesas”.

Figura 25: Publicação a respeito dos relacionamentos das celebridades Fonte: Grupo AKB48 BR101

Na parte de comentários “a favor” da liberdade nos relacionamentos pessoais das celebridades, verificamos que há uma visão otimista acerca da reação até mesmo de fãs japoneses, considerados mais rigorosos sobre o tema. Um dos comentários diz que “os japoneses não estão ligando pra esse negócio de idol não poder namorar”. Outros defendem o relacionamento das artistas, afirmando que “gostar de alguém eh apoiar em qualquer situação”, apesar de ainda ser destacada a questão do apelo sexual, na voz de um dos fãs, “pra mim perderia o apelo sexual, o resto continuaria”. 100 101

AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014. AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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Figura 26: Publicação a respeito dos relacionamentos das celebridades Fonte: Grupo AKB48 BR102

Em análise das diferentes visões acerca do tema, encontramos como ponto comum o destaque no apelo sexual formado em torno das artistas. A construção da celebridade, desde sua aparência e figurino até os cenários, produtos e letras de música, ressalta a sexualidade das integrantes do grupo. Consideramos parte dessa construção ainda toda a restrição de relacionamentos amorosos, pois esta, complementando todos os demais aspectos de constituição de imagem traz, aos olhos do fã, a exclusividade, a fantasia de ter o ídolo para si próprio. 5.2. Super Junior (S.M. Entertainment)

Partimos para nosso estudo acerca do caso de HanGeng (conhecido na Coreia como Hankyung), ex-integrante do Super Junior. Começamos pela descrição do episódio, passando então para a recepção dos fãs pertencentes ao grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) acerca do mesmo. 102

AKB48 BR. Disponível em . Acesso em 22 set. 2014.

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Nascido na China, a história de HanGeng na S.M. Entertainment teve início em 2001, ano em que foi recrutado em audição feita em seu país. Aprovado em 2002, Han aceitou o contrato por questões financeiras e, em 2003, começou o treinamento em canto, dança e atuação como trainee na empresa. Em 2005, fez sua estreia com o grupo Super Junior, tornando-se a primeira celebridade estrangeira a formalmente realizar seu debut na Coreia do Sul. No ano de 2008, passou a também liderar um dos subgrupos da banda, o Super Junior-M. Han permaneceu no grupo oficialmente até 2011. Em 2009, solicitou o término de vínculo e entrou com processo judicial contra a empresa devido, principalmente, à duração do contrato e questões salariais. Posteriormente, as razões foram detalhadas, explicitando a ilegalidade do contrato de 13 anos, a quantidade de dinheiro exigida para a rescisão do mesmo e restrições quanto à revisão dos termos. O artista afirmava ser forçado a fazer coisas fora do acordado e contra a sua vontade, a pagar multas caso desobedecesse a empresa, faltasse em eventos ou se atrasasse e citava a distribuição injusta dos lucros. Destacava a recusa da empresa a um dia de folga em um intervalo de dois anos, o que possivelmente o levou a problemas de gastrite e doença nos pulmões. Em declaração de seu advogado, foram citadas violações aos direitos de Han, como a utilização forçada de uma máscara devido aos problemas com visto no país, a discriminação intencional contra ele e sua família (de origem chinesa), a falta de cooperação com suas sugestões e a recusa proposital de atividades que promoveriam a carreira individual do artista103. Apesar de ter ganhado o processo contra a S.M. Entertainment104, a acusação foi posteriormente retirada, e foi acertado um acordo entre empresa e artista, terminando qualquer conexão entre eles105. HanGeng continuou a carreira solo na China, seu país de origem.

103

LIVEJOURNAL. Disponível em . Acesso em 22 mai. 2014 104 ALLKPOP. Disponível em . Acesso em 22 mai. 2014. 105 NAVER. Disponível em . Acesso em 22 mai. 2014.

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Figura 27: Entrevista de HanGeng à revista chinesa Beijing Youth Weekly Fonte: Livejournal106

A repercussão do modo de treinamento e dos processos trabalhistas contra a empresa abrange não só a Coreia, chegando ao conhecimento de fãs e da imprensa mundial. Entretanto, a mesma continua recebendo, por ano, cerca de 300.000 candidatos em 9 países em busca de vagas nos grupos107. A busca pela excelência faz parte da sociedade coreana. Tomamos como exemplo o sistema de educação do país. Em 2005, um estudo mostrou que 80% das crianças coreanas passam ao menos dez horas diárias voltadas aos estudos. A reportagem inferia ainda que “a sociedade coreana é movida pela competição, incentivada à exaustão desde a infância” (WEINBERG, 2005)108. Outro índice relevante trata da jornada de trabalho da Coreia do Sul, contabilizando 55 horas semanais, um dos mais elevados, senão o maior índice mundial, de acordo com dados coletados em 2010109. A partir do estudo do caso de HanGeng, tentamos compreender o modo de produção da S.M. Entertainment, um dos principais expoentes da indústria musical pop da Coreia do Sul. Apreendemos que a construção das celebridades parte de todo o treinamento exigido do artista para a aquisição do sucesso, considerando ainda os esforços de trabalho como aspecto característico da própria sociedade coreana. Verificamos também a recepção dos fãs acerca

106

LIVEJOURNAL. Disponível em . Acesso em 22 out. 2014 107 FORBES. Disponível em . Acesso em 22 mai. 2014. 108 VEJA. Disponível em . Acesso em 24 mai. 2014. 109 SUPERINTERESSANTE. Disponível em . Acesso em 24 mai. 2014.

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das questões trabalhistas por meio do episódio do artista HanGeng para compreender sua influência na formação da imagem dos ídolos aos olhos do público. 5.1.1. Recepção dos fãs

Estudamos neste momento a recepção das fãs brasileiras participantes do grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) acerca do caso de HanGeng. Encontramos diversas publicações sobre o ocorrido, expressando opiniões divergentes entre a comunidade. Destacamos ainda que, apesar dos diferentes entendimentos sobre o episódio, é comum a considerável solidariedade com o ex-integrante, havendo ainda o acompanhamento de suas atividades em carreira solo e a realização de projetos de divulgação e comemorativos em homenagem ao artista. Analisamos a percepção dos fãs acerca das atitudes da empresa S.M. Entertainment sobre o ídolo. Em uma primeira publicação, verificamos, no olhar do fã, a imagem “exploradora” da agência, destacando o cansaço sofrido por HanGeng, a má remuneração e a existência de contratos “escravos”.

Figura 28: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment Fonte: Grupo de Facebook Super Junior Brasil (E.L.F.)110

Em comentário da mesma publicação, uma das integrantes da comunidade considera a pouca importância dos artistas para a empresa, tratando-os apenas como atrativos de fãs e, consequentemente, dinheiro.

Figura 29: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment 110

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

79

Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) 111  

Em contraposição, há posts de fãs defendendo a atuação da S.M. Entertainment e contradizendo a imagem opressora da empresa. A responsabilidade e consciência sobre os contratos e suas cláusulas são atribuídas aos próprios agenciados e seus empresários, destacando ainda que o reconhecimento dos ídolos se dá, em grande parte, pelo suporte da agência.

Figura 30: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) 112

Verificamos ainda que, mesmo após a saída do integrante, o apoio e acompanhamento dos fãs sobre seus projetos posteriores continuou. São ainda realizadas campanhas de divulgação sobre suas atividades e publicações saudosas em homenagem ao artista.

111

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014. 112 SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

80

Figura 31: Publicação em apoio ao ex-integrante HanGeng Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) 113

Entre os comentários, encontramos na fala do fã a interpretação de uma libertação do ídolo do domínio da empresa.

Figura 32: Publicação em apoio ao ex-integrante HanGeng Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.)114

113

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014. 114 SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

81

Um dos projetos mais recentes produzidos pelos membros da comunidade tratou da aparição de HanGeng no filme Transformers 4, demonstrando o apoio do público por meio de um vídeo com mensagens de apoio ao artista.

Figura 33: Publicação de fã sobre a relação entre HanGeng e a S.M. Entertainment Fonte: Grupo Super Junior Brasil (E.L.F.) 115

Apesar da existência de julgamentos divergentes sobre as atitudes da empresa perante os artistas agenciados, o fandom brasileiro demonstra suporte e solidariedade ao ídolo. Em grande parte das publicações, verificamos que, mesmo com a imagem construída sobre a celebridade, tanto por meio da estética quanto pelo treinamento, há um processo de humanização e consequente aproximação do ídolo em relação ao fã, impulsionado pela demonstração das fragilidades do artista, conforme visto no caso de HanGeng.

115

SUPER JUNIOR BRASIL (E.L.F.) Disponível em . Acesso em 22 out. 2014.

82

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve suas origens em nosso interesse pela cultura asiática. Dentre a imensa gama de opções que tínhamos, optamos por estudar a produção musical característica dos países Japão e Coreia do Sul. Sendo este um tema consideravelmente amplo, selecionamos uma empresa representante de cada país, a japonesa AKS Co. Ltd. e a coreana S.M. Entertainment. Partimos, então, para a apuração de um grupo agenciado por cada empresa, o AKB48, da AKS Co. Ltd. e o Super Junior, da S.M. Entertainment, para que pudéssemos, por meio deles, nos aprofundar nessa temática, para nós, tão fascinante e ainda pouco explorada no campo acadêmico. Levantamos episódios caros a um integrante de cada grupo, Minami Minegishi, do AKB48 e HanGeng, do Super Junior, buscando entender as características principais da produção musical pop asiática. A partir de nossa contextualização, que nos avizinhou mais de nossos objetos, questionamos a produção e constituição das celebridades asiáticas, sobre os quais delineamos o objetivo geral do estudo: a compreensão do cenário da música pop asiática e a construção do imaginário em torno dos artistas japoneses e coreanos. Em busca do nosso objetivo específico de conhecer as características da produção cultural asiática, articulamos autores e conceitos dos quais nos apropriamos e sobre os quais construímos nosso raciocínio acerca da constituição de celebridades. Passamos pela indústria cultural, considerando tanto os estudos de Adorno e Horkheimer quanto a atualização do conceito feita por Cohn, relacionando-a ao o consumo e à construção de identidade do consumidor, sendo esta influenciada também pela mídia. Dentro do cenário midiático, analisamos a sociedade do espetáculo e o imaginário, ressaltando a relevância das imagens e da projeção de ideais na construção dos artistas. Após a reunião das principais informações de cada um de nossos objetos de estudo, relacionamos suas características aos conceitos anteriormente levantados. Ressaltamos aqui duas de nossas principais dificuldades: o afunilamento do conteúdo existente em torno dos grupos e a falta de compreensão dos idiomas japonês e coreano. Apesar de existirem diversos outros aspectos sobre os quais poderíamos construir nossa pesquisa e que, de fato, temos intenção de estudar posteriormente, foram selecionados os que julgamos, no momento, mais apropriados a nosso objetivo geral. Os principais aprendizados de nosso primeiro objetivo específico foram os diferentes modos de construção dos ídolos das sociedades asiáticas. Embora ambas as empresas

83

trabalhem a questão do imaginário e do lúdico em seus produtos e produções, vimos que, enquanto a empresa japonesa atribui a seus artistas a restrição de suas vidas pessoais, sendo público apenas o que é efetivamente mostrado em programas ou canais oficiais, a coreana trata dos “tipos ideais” estéticos, contemplando tanto as alterações corporais quanto o treinamento característico. Partindo da construção das celebridades, tentamos apreender como se dá a relação com os fãs. Como grande parte das empresas atuais, as duas agências tratam dos fãs, principalmente, como consumidores. Além da vastidão de produtos disponibilizados no mercado das bandas em questão, tratamos os próprios grupos não só como modelos ou “tipos ideais” ao público, mas também como objetos de consumo. No universo do fã, buscamos outro de nossos objetivos específicos: o estudo de fãs brasileiros das bandas AKB48 e Super Junior, tratando das formas de produção de conteúdo e da constituição de sua própria identidade sob influência do ídolo. Estudamos os fandoms brasileiros por meio da netnografia realizada acerca de duas comunidades: os grupos de Facebook AKB48 BR e Super Junior Brasil (E.L.F.). Dentro deles, após apresentadas nossas intenções de estudo sobre as postagens e adquiridas as devidas autorizações, analisamos os principais tópicos, em especial a produção de conteúdo próprio e a interação entre os membros de cada comunidade. Verificamos em ambos os grupos frequente interação dos membros e a presença de temas comuns, como novidades e lançamentos das celebridades em questão. Julgamos oportuno destacar que, entre o grupo AKB48 BR, considerável parte do público analisado era masculino, existindo um equilíbrio numérico entre os gêneros. Já para a comunidade Super Junior Brasil (E.L.F.), vimos que a maioria dos fãs era do sexo feminino. A produção de conteúdo dos dois grupos se dá de forma similar, apesar da narrativa fan fiction se encontrar mais presente no Super Junior Brasil (E.L.F.) e a produção de vídeos ou fotos, no AKB48 BR. Sobre a imagem das celebridades aos olhos dos fãs, conseguimos analisar algumas das principais características, para eles, essenciais aos ídolos, assim como a influência das produções (como videoclipes ou apresentações) na construção das impressões e opiniões do público. Por meio de nosso capítulo final, partindo dos casos específicos de HanGeng, exintegrante da banda Super Junior, pertencente à S.M. Entertainment e da artista Minami Minegishi, integrante do AKB48, confirmamos os aprendizados de nosso primeiro objetivo específico, entendendo algumas das características principais para a construção do imaginário sobre as celebridades japonesas e coreanas, estas pelo treinamento e as primeiras por meio da

84

restrita vida privada. Entendemos estes aspectos como complementares e essenciais ao cenário criado sobre os artistas, aos papeis que eles representam e à relação entre a contemplação e o consumo por parte do fã. Consideramos nosso trabalho como uma introdução ao amplo universo da produção cultural asiática. Trata-se de um campo, além de pouco explorado, composto pelas mais diversas nuances e peculiaridades, em especial no campo do consumo e da comunicação. Para estudos posteriores, consideramos relevante a influência dos aspectos culturais dos próprios países sobre a construção das celebridades. Será esta apenas um reflexo de costumes já enraizados nas sociedades orientais? Há alguma forma de comparação aos artistas brasileiros ou, em um caráter mais amplo, às bandas e celebridades ocidentais? Como não apenas as celebridades, mas toda a cultura que as envolve, contribuem na constituição de identidade dos fãs? Por ora, tomamos conhecimento dos modos de produção coreano e japonês por meio de dois dos diversos expoentes da música pop dos países, e compreendemos a relevância de seus estudos no campo da construção do imaginário sobre objetos, produtos ou, em nosso caso, celebridades, considerando também a influência na constituição de identidade do indivíduo receptor e admirador.

85

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