A iniciação à vida cristã na era digital: as comunidades em rede (parte 1)

June 1, 2017 | Autor: Moisés Sbardelotto | Categoria: Cyberteologia, Igreja Católica, Catequese, Ciberteologia, Igreja e Cultura Digital
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IG GREJ A & CO ÇÃ COMUNICAÇÃO

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VIDA CRISTÃ NA ERA DIGITAL

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AS COMUNIDADES EM REDE (PARTE 1)

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Julho/Agosto Julho/Agosto de de 2016 2016

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esde as últimas edições do MSA, estamos refletindo sobre a inter-relação entre a comunicação digital e a catequese, mediante um diálogo entre o Diretório Nacional de Catequese (DNC)1 e o Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil (DCIB)2. Em tempos de internet e de redes digitais, o caminho de iniciação à vida de fé também precisa ser repensado e atualizado às modalidades de comunicação atuais e às novas possibilidades de contato interpessoal e social. Nesses novos ambientes de experiência e convivência, crianças, adolescentes e jovens, hoje, constituem e mantêm seus vínculos de amizade, de grupo, de comunidade, de sociedade – e também, portanto, de Igreja. Nesse contexto, como aponta o próprio DCIB, “a presença da Igreja no ambiente digital é incentivada por ser um lugar de testemunho e anúncio do Evangelho. Isso exige que os cristãos presentes na rede consigam ir além dos instrumentos e tomem consciência das mudanças fundamentais que as pessoas e a sociedade experimentam nesse contexto” (n. 175). Depois de analisar, nos números anteriores, alguns aspectos da dimensão didático-informativa da catequese em sua relação com o ambiente digital (cf. edições de março e abril), e sua dimensão psicopedagógica (cf. edição de junho), queremos, nesta edição, continuar a reflexão sobre outra dimensão comunicacional de grande importância no caminho catequético, especialmente no ambiente digital: sua “dimensão sociocomunitária”. O DNC recorda-nos, primeiramente, que o próprio Jesus deixou na história uma comunidade viva – a Igreja –, chamada a dar continuidade à Sua missão salvífica. Ao longo da história e nos mais diversos lugares, “a comunidade eclesial conserva a memória de Jesus, suas palavras e gestos, particularmente os sacramentos, a oração, o compromisso com o Reino, a opção pelos pobres” (n. 51). Por isso, o ambiente privilegiado da catequese é a própria comunidade eclesial: “Onde há uma verdadeira comunidade cristã, ela se torna uma fonte viva da catequese, pois a fé não é uma teoria, mas uma realidade vivida pelos membros da comunidade” (DNC n. 52).

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Em tempos de rede, embora recoE “o verdadeiro ideal da catequese” – nhecendo que as relações via internet continua o DNC – “é desenvolver o procesnão substituem a vida em comunidade, so da educação da fé, através da interação a Igreja afirma que as mídias digitais de três elementos: o catequizando, a “podem completá-la, atraindo as pessoas caminhada da comunidade e a mensapara uma experiência mais integral gem evangélica” (n. 52). Nesse sentido, da vida de fé e enriquecendo a vida as redes digitais podem contribuir para religiosa dos usuários” (DCIB n. 176). ampliar os vínculos entre os membros Especialmente no da própria comunidade contexto eclesial, os catequética. Para além bispos brasileiros reidos encontros presenNas palavras teram de que as mídias ciais, o contato via redo educador Paulo digitais “favorecem a des – e-mails, sites, Freire, “o ser comunicação e comuredes sociais digitais, humano é um ser de nhão com o povo de aplicativos, entre ouDeus e o diálogo com tros – pode alimentar e relação em um a sociedade” (idem). Foi o aprofundar as relações mundo de relações. que também disse o papa para além da “sala de O mundo humano Francisco (1936-), em sua aula”, no próprio cotié um mundo de mensagem para o Dia diano, nos “altos e baiMundial das Comunixos” da vida comum de comunicação”. cações Sociais de 2014: cada pessoa, com uma Por isso, o desafio “Particularmente a inpresença significativa. pastoral de uma ternet pode oferecer Por outro lado, taminculturação digital maiores possibilidades bém é possível “expande encontro e de solidir” a sala de catequese, justifica-se pela dariedade entre todos; levando para os enconprópria missão de e isto é uma coisa boa, tros, via internet, o próa Igreja de ir ao é um dom de Deus”3. prio mundo, em sentido encontro de As redes digitais amplo. Por exemplo, é recordam-nos de que possível organizar contodos(as) e de cada não “estamos” em rede, versas via internet, ao um, quem quer que mas “somos” rede, somos vivo, com lideranças da sejam, onde quer seres em relação, seres em Igreja que não possam que estejam – e, comunicação, seres em estar fisicamente precomunidade – também sentes ou cuja presença portanto, também no âmbito eclesial. Nas envolveria custos e uma no ambiente digital palavras do educador grande organização. Ou –, para caminhar Paulo Freire (1921mesmo promover expecom eles e lhes 1997), “o ser humano riências de intercâmbio é um ser de relação em com outros(as) catequianunciar a um mundo de relações. zandos(as) que moram Boa-Nova, acima O mundo humano é um em outras cidades ou de tudo com o próprio mundo de comunicaregiões, para partilhar testemunho de vida ção”. Por isso, o deo caminho de iniciação safio pastoral de uma à vida cristã mediante inculturação digital testemunhos via telejustifica-se pela própria missão de a conferência. Ou ainda é possível convocar Igreja de ir ao encontro de todos(as) as mais diversas lideranças e autoridades e de cada um, quem quer que sejam, civis e religiosas, locais ou regionais – onde quer que estejam – e, portanto, como representantes eclesiais, políticos, também no ambiente digital –, para escolares, associativos – para participar do caminhar com eles e lhes anunciar a encontro de catequese via internet, para Boa-Nova, acima de tudo com o próprio dialogar com os(as) catequizandos(as) e testemunho de vida. incrementar o debate e a reflexão sobre O MENSAGEIRO DE SANTO ANTÔNIO Julho/Agosto de 2016

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“A rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. [...] Só pode constituir um ponto de referência quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade de um comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais” determinadas temáticas. Assim, o ambiente digital pode facilitar o encontro com outras pessoas e realidades. O exemplo, nesse sentido, vem do próprio papa Francisco. Em setembro de 2014, o pontífice participou, de forma inédita na história do papado, de um encontro via Google Hangout, plataforma de videoconferência via internet, justamente com adolescentes e jovens do mundo inteiro. O encontro foi pensado para lançar o projeto digital Scholas Social, preparado pela rede Scholas Ocurrentes, surgida na Argentina (com o apoio do então arcebispo Bergoglio), com o objetivo de buscar uma maior conexão entre escolas do mundo inteiro. A conversa on-line contou com a presença de cinco grupos de estudantes da África do Sul, da Austrália, de El Salvador, de Israel e da Turquia4. No encontro, o papa explicitou a diferença entre “construir muros” e “estender pontes” mediante a comunicação, e reforçou a importância de “comunicar experiências”. “É a espontaneidade da vida, é dizer ‘sim’ à vida. Comunicar-se é dar, comunicar-se é generosidade, comunicar-se é

respeito, comunicar-se é evitar todo tipo de discriminação”, disse o pontífice aos jovens presentes na teleconferência. Como sinal da importância da experiência, o encontro via internet com a presença do pontífice se repetiu em fevereiro de 2015, quando o papa Francisco participou de uma nova teleconferência, dessa vez com crianças com deficiência, provenientes de escolas do Brasil, da Espanha, dos Estados Unidos e da Índia5. Mas é preciso frisar novamente que isso não significa “substituir” ou equiparar o encontro presencial com uma troca de mensagens via computador ou celular. São ambientes diferentes, mas ambos contribuem, em suas especificidades, para construir relações e comunidade. O desafio, portanto, é possibilitar uma “ampliação” do ambiente educativo, fraterno e social de convivência dos(as) catequizandos(as) com sua comunidade eclesial também para o ambiente digital. A sala de catequese, assim, tem suas paredes “derrubadas”, pois o vínculo entre catequista e catequizandos(as) – ou entre os(as) próprios(as) catequizandos(as) – pode ser

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório Nacional de Catequese. São Paulo: Paulinas, 2005. n. 84. Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil. São Paulo: Paulinas Editora, 2014. n. 99. (Documentos da CNBB). Disponível em: . Acesso em: jun. 2016. Disponível em: . Acesso em: jun. 2016. Disponível em: . Acesso em: jun. 2016.

Moisés Sbardelotto Jornalista, leigo casado, doutor em Ciências da Comunicação e autor do livro “E o Verbo se fez bit: a comunicação e a experiência religiosas na internet” (Santuário, 2012)

Arquivo pessoal

Papa Francisco falando para o jovens durante o III Congresso das “Scholas occurrentes”, no Vaticano, setembro de 2015, CNS photo/Jose Cabezas, Reuters

mantido e até mesmo reforçado também no ambiente digital. Sem dúvida, em tais contatos e relações via internet, espera-se – principalmente do(a) catequista – a devida maturidade humana, que se explicita em equilíbrio afetivo, senso crítico, unidade interior e capacidade de relações e de diálogo, no espírito construtivo (cf. DNC n. 263). Mais do que mera maturidade humana, espera-se do(a) catequista, primordialmente, o verdadeiro testemunho cristão. Na mensagem de 2014, o papa Francisco também afirma que “a rede digital pode ser um lugar rico de humanidade: não uma rede de fios, mas de pessoas humanas. [...] Só pode constituir um ponto de referência quem comunica colocando-se a si mesmo em jogo. O envolvimento pessoal é a própria raiz da fiabilidade de um comunicador. É por isso mesmo que o testemunho cristão pode, graças à rede, alcançar as periferias existenciais”. Comunicar o Evangelho nos meios atuais – como lembrava o papa emérito Bento XVI (1927-) – não significa apenas inserir conteúdos declaradamente religiosos nas plataformas digitais, mas, principalmente, testemunhá-lo com coerência, mediante o próprio modo de comunicar, mesmo quando não se fale explicitamente dele.

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