A Linhagem dos Bulhão: Subsídios Heráldicos para uma Identidade Lisboeta

July 21, 2017 | Autor: Carlos da Fonte | Categoria: Lingüística, Genealogia, História da arte, Cidade de Lisboa, Heraldica, Semiotica Visual
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A LINHAGEM DOS BULHÃO: SUBSÍDIOS HERÁLDICOS PARA UMA IDENTIDADE LISBOETA

III Colóquio Nova Lisboa Medieval "Gentes, Espaços e Poderes" (Carlos Carvalho da Fonte) Resumo No desenvolvimento da tese de mestrado "A Marca de Portugal" propusemos a reorganização semiótica da Heráldica, progressivamente ampliada no que se refere ao enquadramento e às aplicações. Uma vez reconhecida a metodologia construtiva das armas de D. Afonso Henriques, passamos à análise sistemática das linhagens portuguesas, com particular interesse nos timbres que eventualmente lhes correspondessem. O nosso desenvolvimento do conceito de parofonia heráldica veio a sugerir um panorama algo distinto do habitual. Substituindo o conceito de armas falantes, desdobra-se em vários planos semânticos, a integrar frequentemente um enredo heráldico obrigando à conexão lógica entre os elementos do brasão. Articulam, portanto, uma narrativa visual, à qual às vezes junta-se o timbre, e neste caso outra estrutura semântica, a citação, poderá estender o alcance dos significados. Temos verificado a coerência quase absoluta entre as estruturas já investigadas, cerca de uma centena, e as primeiras armas dos Reis de Portugal. Tal como estas, uma boa parte exibe a mesma tipologia de níveis semânticos: antroponímicos, hidronímicos, territoriais e residenciais. A linhagem deste estudo notabiliza-se muito cedo pela elevação aos altares de Fernão Martins de Bulhão, nascido no final do século XII em Lisboa; nomeiam-lhe por avô Vicente Martins, dito Bulhão, presumível fundador da linhagem. O escudo é: "de prata com uma cruz solta de vermelho, maçanetada de doze bolotas de ouro com os cascabulhos de verde", enquanto que o timbre mostra uma aspa da cor da cruz mas desprovida de bolotas nas hastes inferiores. Estabelece a sua semântica através de seis conjugações verbais distintas, apenas num caso associada a um numeral. Incidentalmente, as bolotas parecem bem significativas: mais de metade das metonímias justificam-nas. O brasão constrói-se a pouco e pouco, quase nunca a formalizar os elementos em si, mas tornando óbvia no fim do processo a respectiva consequência plástica, inserida num enredo de conotação bíblica. A estreita ligação onomasiológica timbre-escudo faz supor terem surgido em simultâneo. Esta suspeita e o uso da língua portuguesa não nos permite recuar em demasia na determinação da génese armorial, talvez próxima ao século XV. Foi desnecessário ainda recorrer a qualquer transmissão para justificar as figuras e os esmaltes. As complementaridades propostas como inspirações para a cruz e para a aspa são desprovidas de carácter genealógico. Ficam assim desfavorecidos os argumentos que pudessem ligar os Bulhão seja aos Bouillon, seja aos Dade. De facto, os nossos resultados apontam para a antiga paróquia lisboeta de São Mamede. Ao mesmo tempo, atendendo às regras formativas comuns às linhagens, é possível defender a origem dos Bulhão em Portugal. Contudo, muito ficará por fazer neste tema - em especial pela Linguística e pela História - nos aspectos diacrónicos, cronológicos ou iconológicos com as necessárias associações documentais.

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