A macro e megafauna bêntica associada aos bancos da vieira Euvola ziczac (Mollusca: Bivalvia) no litoral sul do Brasil

May 19, 2017 | Autor: Carlos Borzone | Categoria: Numerical Analysis, Species Composition, Santa Catarina, Continental shelf, Dep, Southern Brazil
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MACROFAUNA BÊNTICA EM BANCOS DE VIEIRA

A MACRO E MEGAFAUNA BÊNTICA ASSOCIADA AOS BANCOS DA VIEIRA Euvola ziczac (MOLLUSCA: BIVALVIA) NO LITORAL SUL DO BRASIL. JACKSON ALEXANDER KLEIN Centro de Estudos do Mar, Av. Beira Mar, s/n. Pontal do Sul – CEP 83255-000, Pontal do Paraná, PR [email protected]

CARLOS ALBERTO BORZONE Centro de Estudos do Mar, Av. Beira Mar, s/n. Pontal do Sul – CEP 83255-000, Pontal do Paraná, PR [email protected]

PAULO RICARDO PEZZUTO Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar (CTTMar) – UNIVALI – Caixa Postal 360, CEP 88302-202, Itajaí – SC Doutorando em Zoologia – UFPR [email protected]

RESUMO A vieira Euvola ziczac foi uma das principais espécies de invertebrados bênticos de importância comercial no Brasil entre 1974 e 1980, quando sua pescaria entrou em colapso. Visando obter subsídios para eventuais propostas de recuperação do recurso, foram identificados os possíveis predadores da espécie na sua região de ocorrência. Para tanto, foram analisados os padrões de distribuição, composição específica, diversidade e abundância da macrofauna bêntica a partir de coletas realizadas com um “beam trawl” em dezembro de 1995 e dezembro de 1997, entre as isóbatas de 20 e 50 metros de profundidade, na plataforma interna do sul de São Paulo, Paraná e norte de Santa Catarina. Nos sedimentos predominam areias finas a muito finas, com frações de silte-argila aumentando com a profundidade, porém nunca excedendo os 10 %. Análises numéricas feitas a partir da composição específica e abundância das espécies da macro e megafauna mostraram a formação de dois grupos principais de estações separados pela isóbata de 30 metros. Apenas um agrupamento de espécies foi reconhecido, integrado por Crepidula aculeata, Dardanus insignis, Chicoreus tenuivaricosus, Portunus spinicarpus, Ostrea puelchana e E. ziczac. Este agrupamento manteve a sua identidade entre os dois períodos amostrados. Os resultados apresentados junto a informações bibliográficas mostram C. tenuivaricosus é um importante predador da vieira E. ziczac. PALAVRAS-CHAVE: macrofauna bêntica, pescaria multiespecífica, bancos de vieira, plataforma interna. ABSTRACT Benthic macro and megafauna associated to beds of the Scallop Euvola ziczac (Mollusca: Bivalvia) In southern Brazil. The scallop Euvola ziczac was one of the main benthic resources in southern Brazil between 1973 and 1980, when its fishery collapsed. In order to obtain guidelines for future restocking programs, this study was conducted to identify the possible predators of E. ziczac in the region. Species composition and distribution patterns of the benthic macro and megafauna of the inner continental shelf of southern São Paulo, Paraná and northern Santa Catarina, between 20 and 50 meters depth were studied from beam-trawl samples obtained during December 95 and December 97 cruises. Sediments are formed by fine to very fine sands with a silt-clay fraction increasing with depth, but never exceeding 10 %. Numerical analysis of benthic data showed the formation of two major groups of stations, separated by 30 meters isobath. Crepidula aculeata, Dardanus insignis, Chicoreus tenuivaricosus, Portunus spinicarpus, Ostrea puelchana and E.ziczac formed one high similarity species group. This group maintained its identity between the two samples period. From the sampled species C. tenuivaricosus resulted the most import predator of E.ziczac. KEY-WORDS: benthic macrofauna, multispecific fishery, scallop beds, inner shelf.

1 – INTRODUÇÃO Os organismos bênticos de regiões costeiras, principalmente nas áreas mais rasas da plataforma, apresentam grande importância econômica e ecológica. Isto se dá tanto pela sua participação na reciclagem de nutrientes e matéria orgânica depositados, quanto pela sua utilização como itens alimentares pelo homem ou por peixes demersais de importância econômica (Caddy 1989). Apesar disto, são poucos os trabalhos que tratam da ocorrência e distribuição das associações bênticas de plataforma ao largo da costa sul e sudeste do Brasil. Com exceção de Forneris (1969), Pires-Vanin (1993) e Capítoli (1996), que analisaram as comunidades de fundo como um todo, a maioria dos autores se preocupou com a taxonomia e distribuição de grupos restritos, como moluscos (Absalão 1987, Absalão 1991, Gonçalves & Lana 1991, Migotto et al. 1993) ou equinodermos (Absalão 1989, Ventura, 1991). Entre os diversos fatores biológicos responsáveis pela diversidade e distribuição dos organismos no fundo marinho, a predação e a competição podem ser considerados como os fatores mais importantes, uma vez que são capazes de afetar a composição e o funcionamento das comunidades (Levinton 1982). O impacto da predação nas comunidades bênticas varia de acordo com o tipo de ambiente. Nos ambientes de substratos inconsolidados, Atlântica, Rio Grande, 23: 17-26, 2001.

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KLEIN, JA et al

os efeitos da predação não são muito claros (Commito & Ambrose 1985). Alguns estudos mostram que grandes variações nas densidades de organismos da infauna são devidas a predadores epibênticos (Nelson 1986). Outros estudos, ao contrário, indicam que os predadores epibênticos não controlam a composição e a densidade das espécies da infauna (Evans 1983, Ventura 1991). No entanto, é bem aceito que a predação pode ser considerada de grande relevância no que se refere ao controle de populações específicas, tanto na fase de recrutamento, como na fase adulta. Isto torna o seu estudo de grande relevância, sobretudo quando encontram-se envolvidas espécies ecologicamente e/ou economicamente importantes no ecossistema. Na região sul do Brasil, ao longo dos últimos trinta anos, uma frota camaroeira vem atuando na área e explorando, além do camarão rosa (Farfantepenaeus paulensis e F. brasiliensis), outras espécies de invertebrados como os camarões vermelho (Pleoticus mulleri) e ferrinho (Artemesia longinaris), a vieira (Euvola ziczac, previamente Pecten ziczac, uma revisão taxonômica e sistemática do grupo pode ser consultada em Waller 1991), algumas espécies de lulas (Loligo plei e L. sanpaulensis), a lagosta sapateira (Scyllarides deceptor), o pitú (Metanephrops rubelus) e o polvo (Octopus vulgaris), além de diversas espécies de peixes demersais (Perez & Pezzuto 1998). Apesar da importância econômica desta pescaria multiespecífica, pouco se conhece das características oceanográficas e biológicas da área onde suas espécies-alvo passam uma parte importante de seu ciclo de vida (Borzone et al. 1999). No caso da vieira E. ziczac, a sua captura iniciou-se nos anos de 1972 e 1973, devido ao seu alto valor de mercado e aos baixos rendimentos da pescaria do camarão-rosa. A produção atingiu um máximo em 1980, quando o desembarque anual chegou a aproximadamente 8.800 toneladas. A partir daí ocorreu o colapso da pescaria, sendo que atualmente a produção anual muitas vezes não ultrapassa poucas centenas de quilos (Pezzuto & Borzone 1997). Em 1995 o CTTMar/UNIVALI e o CEM/UFPR iniciaram um projeto visando avaliar a condição atual do recurso, estudar aspectos da sua dinâmica populacional e verificar as possibilidades de recuperação da pescaria e eventual explotação em bases sustentáveis. Entretanto, dentre os aspectos envolvidos na recuperação de recursos bênticos colapsados, deve-se considerar as variáveis que condicionam não só a sua própria explotação, mas também aquelas que determinam a sua mortalidade natural, e que podem assim influenciar as estratégias a serem adotadas para a recuperação dos estoques. Nesse sentido, a predação pode ser apontada como um dos principais problemas associados à sobrevivência de recrutas, juvenis e adultos de vieiras tanto em populações naturais (e.g. Brun 1968), como em programas de cultivo de fundo e dispersão de sementes em bancos para crescimento e explotação (Nadeu & Cliche 1998). Dentre os principais predadores de vieiras encontram-se asteróideos, gastrópodos, braquiúros, lagostas e polvos (Orensanz et al. 1991), que, sobretudo em cultivos de fundo, podem ser responsáveis pela eliminação de grande parte ou mesmo da totalidade dos recrutas produzidos (Hatcher et al. 1996, Haugum et al. 1997). Desta forma, como parte deste projeto, o presente trabalho teve como objetivo o estudo da composição específica e dos padrões de distribuição da macro e megafauna bêntica associada aos bancos de vieira na região sul do Brasil, com especial interesse no reconhecimento de possíveis predadores potenciais da espécie, e que poderão consistir em espécies-alvo de estudos posteriores, envolvendo a recuperação do estoque atualmente colapsado.

2 – MATERIAL E MÉTODOS A área estudada compreende a plataforma continental da região sul do Brasil, abrangendo o litoral sul de São Paulo, todo o litoral do Paraná e norte de Santa Catarina, entre as latitudes 47° 30’ W e 48° 30’ W e 25° 00’ S e 26° 30’ S (Fig. 1). A região é caracterizada pela presença de fundos inconsolidados quase que na sua totalidade. A presença de afloramentos rochosos se restringe às áreas mais internas da plataforma, representados pelas ilhas de Bom Abrigo e Castilho em São Paulo e Figueira, Currais e Itacolomis no Paraná, além de alguns registros de lajes submersas. Hidrologicamente, toda a região a profundidades maiores dos vinte metros sofre efeitos da intrusão de uma massa de água denominada Água Central do Atlântico Sul (ACAS), por baixo das águas costeiras dominadas pela Corrente do Brasil. No verão observa-se a intrusão destas águas frias e ricas em nutrientes sobre grandes extensões da plataforma continental, resultando na formação de uma forte termoclina aproximadamente de novembro a abril (Matsuura 1986, Castro Filho 1990, Borzone et al. 1999). Durante o inverno, a presença de águas frias e de baixa salinidade é causada pela intrusão de águas de origem subantártica (Campos et al. 1996), resultando num forte ciclo térmico semi-anual, que deve exercer importante influência na biologia das espécies demersais capturadas na área (Borzone et al. 1999). De acordo com este último, os sedimentos na área estudada apresentam-se relativamente homogêneos, com as poucas variações sempre relacionadas ao gradiente batimétrico. Predominam areias quartzosas finas a muito finas (2,70 a 3,27 φ), com frações de silte-argila aumentando com a profundidade, porém nunca excedendo os 10 %. O grau de seleção do sedimento é moderado (< 0,9), e os valores de curtose apresentam-se altos (> 8) ao sul da área estudada e em profundidades intermediárias (30-40 m). Os teores de matéria orgânica e de carbonato de cálcio são baixos (
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