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May 26, 2017 | Autor: A. Pilon | Categoria: Economics, Development Economics, Politics, Culture Studies, Ecosystems, Poverty Dynamics
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Pobreza, Riqueza, Poder, Crescimento, Cultura e Liberdade Uma Abordagem Ecossistêmica para os Problemas Contemporâneos André Francisco Pilon [email protected]

A missão do Banco Mundial está esculpida em pedra na sede de Washington: "Nosso Sonho é um Mundo Livre de Pobreza". Mas o que é a pobreza? É um fenômeno que pode ser observado e estudado sem questionar os paradigmas de desenvolvimento, crescimento, poder, riqueza, trabalho e liberdade inseridos nas atuais instituições culturais, sociais, políticas e econômicas? Pobreza é uma síndrome, ou um fenômeno à parte? Como síndrome, não como um conjunto de fenômenos isolados, a pobreza reflete pressões, tensões e estresses inter-relacionados, devidos ao impacto politico, econômico, cultural e ambiental dos sistemas desordenados de produção e consumo, incrementando o fosso entre aqueles que têm o excesso e aqueles que não têm o essencial, associado a uma urbanização caótica e à concentração de populacões em condições precarias. Em nossas "sociedades assimétricas", grandes diferenças de poder entre pessoas fisicas e pessoas jurídicas (indivíduos e corporações), levam a uma influência substancial da esfera de negócios nas políticas públicas e nos assuntos do Estado e essencialmente fabricam as leis que legitimam seus interesses e ações, reforçando seu controle sobre as agências reguladoras que deveriam atuar em prol do interesse público. A extensão da pobreza reflete uma profunda crise de valores, as manobras enganosas e as coalizões dos grupos políticos e econômicos dominantes, que legitimam estratégias baseadas em megaprojetos milionários, desconsideram o princípio da "relação correta" (que respeita a integridade, resiliência e estética dos ambientes naturais e culturais), e recorrem a tecnologias cada vez mais sofisticadas para erguer obras suntuosas. As instituições sucumbem aos interesses políticos e econômicos dominantes, convertendo a população em meros consumidores e pagadores de impostos, apropriando seus pensamentos e corpos como mercadorias, enquanto poderosas corporações e pessoas influentes usam a propaganda, os “lobbies” e a corrupção para aumentar seus lucros e controlar a opinião pública sobre produtos, serviços e estilos de vida. O ethos contemporâneo passa a centrar-se apenas no individual, não na qualidade do espaço público, do ambiente, das relações coletivas, o que seria essencial para uma melhor qualidade de vida; dar dinheiro às pessoas para compensar o fracasso dos sistemas educacionais, políticos e econômicos, conservando-as em uma condição depreciada (a pobreza é um fenômeno multidimensional), é muito pouco. A ênfase nos direitos humanos, ao invés da ação política integrada, corre o risco das abordagens setoriais; a "inclusão social", que acomoda as pessoas à ordem estabelecida e não as prepara para mudar o sistema que as excluiu, leva à reprodução do sistema responsável pela sua exclusão anterior: uma vez "incluídos", uma nova onda de produtores e consumidores egocêntricos reproduz as disparidades existentes. Para entender e lidar com o "fenômeno geral", as políticas públicas, os programas de ensino e pesquisa, devem considerar as quatro dimensões de estar-no-mundo (íntima, interativa, social e biofísica), na medida em que elas se combinam, como doadoras e receptoras (provisões e carências), para gerar os eventos (favoráveis ou desfavoráveis), lidar com as conseqüências (desejadas ou indesejadas) e contribuir para a mudança. Tratar de resolver problemas isolados e localizados, sem abordar o fenômeno geral (que tem as condições para resolver problemas específicos), é um erro conceitual (Volpato, 2013); em vez de se render à especialização e à fragmentação, políticas públicas, programas de ensino e pesquisa, devem enfatizar uma nova aliança global, a justiça social, o bem-estar físico, social e mental, o equilíbrio entre todas as dimensões de estar-no-mundo.

A análise revela os componentes do sistema, mas a síntese responde às interações entre suas partes: 1) dimensão íntima (conhecimentos, valores, sentimentos, crenças, compromissos); 2) dimensão interativa (alianças, solidariedade, parcerias, lideranças); 3) dimensão social (culturas, políticas públicas, cidadania, advocacia, “media”); 4) dimensão biofísica (necessidades vitais, ambientes naturais e construídos, territórios, artefatos). Ao invés de lidar com as "bolhas" e tentar resolver problemas isolados e localizados (políticas públicas segmentadas, manchetes dos veículos de massa, formatos acadêmicos parciais e reduzidos), a abordagem ecossistêmica define os problemas e lida com eles no bojo do “caldeirão efervescente", onde emergem, em termos de fronteiras, estruturas, paradigmas tecno-econômicos, grupos de sustentação e regras de legitimação. O preparo das pessoas para assumir posições na sociedade, tanto como profissionais como cidadãos, não pode ser reduzido a ações ritualísticas, como votar ou pagar impostos, nem incentivar uma lealdade acrítica ao "mercado de consumo", transformando escolas, de centros de investigação crítica, em centros técnicos para “empreendedores” alheios às questões cruciais do mundo de hoje (éticas, ambientais, etc). A educação não pode ser pensada separadamente dos paradigmas de riqueza, poder, crescimento e liberdade, ela não prospera num contexto de disparidades, fragmentação social e enfraquecimento dos valores que orientam a existência: geração de capacidades, desenvolvimento de motivações, dependem de instituições e estruturas de incentivo, que são mais críticas do que os motivos e a moral de individuos isolados. A educação é uma grande esperança e um grande perigo: pode desenvolver capacidades e autoconfiança, o questionamento, a criatividade, a inovação, permitindo reconhecer as poderosas forças que impulsionam e controlam a existência, mas também pode desempenhar o papel oposto, encorajar a aceitação de uma vida insustentável como sendo normal e esperar passivamente para que “outros” assumam as responsabilidades. Condição para gerar novas formas de estar-no-mundo, desenvolver consciência e capacidades além dos esquemas usuais de pensamento, sentimento e ação, os nichos socioculturais de ensinoaprendizagem implicam a criação de uma nova "semiosfera", um "excesso de significado", o emaranhamento de realidades subjetivas e objetivas, que abrange o desconhecido que nos esforçamos para entender e o familiar que tomamos como certo. Dar sentido à educação, num contexto cultural que valoriza apenas a transmissão de informações, é um dos principais desafios dos tempos atuais; o objetivo não é resolver problemas préestabelecidos; em vez de ficar presos a definições e questões pré-estabelecidas, deve-se desvendar e trabalhar com as configurações dinâmicas e complexas que os originam, reformulando-os no processo, Significa questionar o papel e o significado das tecnologias, criar novas formas de identidade individual e coletiva, produzir mais das coisas que as pessoas necessitam – como educação, cultura, moradia, alimentação, vestuário, segurança, saúde - e menos das coisas que não lhes fazem falta - bens inúteis e dispendiosos, como produtos de luxo, armamentos militares, engarrafamentos, poluição, e criminalidade.

Sobre o autor: André 'Francisco Pilon tem uma extensa carreira como Professor Associado da Universidade de São Paulo (Faculdade de Saúde Pública); oomo Psicólogo do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo; como Diretor da Divisão de Educação Sanitária do Ministério da Saúde, como Editor-Chefe e Redator da revista científica e cultural Academus. Para seu perfil público e publicações selecionadas, acessar o enlace abaixo: https://www.researchgate.net/publication/305700604_Abridged_Curriculum_Vitae

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