A mudança na Grécia e o futuro da União Europeia (p. 6)

Share Embed


Descrição do Produto

“Salazar representa um Portugal que foi grande, forte e soberano” 27 de Janeiro de 2015 • Ano XXXVIII • Nº 1987 • Preço 2,00 € (IVA incluído) • Fundadora: Vera Lagoa • Director: Duarte Branquinho

Págs.

Semanário Político Independente

Entrevista com Marcos Pinho de Escobar, autor de uma tese de doutoramento sobre o pensamento do Presidente do Conselho

8-9

sai às terças-feiras

Os privilégios da aristocracia

Págs.

A "ética republicana" que Sócrates e Soares defendem consagra a igualdade de todos perante a lei e a separação de poderes. Mas, segundo o Sindicato dos Guardas Prisionais, o antigo primeiroministro recebe tratamento privilegiado. O antigo Presidente já “sentenciou” a sua total inocência, mesmo antes de um julgamento o declarar culpado ou inocente. O que ambos parecem questionar é a legitimidade do próprio regime que Soares ajudou a fundar…

2-3

socialista

Página

Sondagens desastrosas, estratégia errática, ausência de ideias e de propostas válidas: o rol de queixas não pára de aumentar no PS. António Costa chegou à liderança com rugidos de leão, mas é cada vez mais contestado no partido

11

Já soam os alarmes no Largo do Rato

2

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Política

Será que, como escreveu Orwell, “todos os animais

Os privilégios da aristocracia Pedro A. Santos

Paradoxo. A "ética republicana" que Sócrates e Soares defendem consagra a igualdade de todos perante a lei e a separação de poderes. Mas, segundo o Sindicato dos Guardas Prisionais, o antigo primeiro-ministro recebe tratamento privilegiado. O antigo Presidente já “sentenciou” a sua total inocência, mesmo antes de um julgamento o declarar culpado ou inocente. O que ambos parecem questionar é a legitimidade do próprio regime que Soares ajudou a fundar… cachecol, mas as botas de cano alto e o edredon continuam proibidos. No fim-de-semana, contudo, o Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional voltou à carga, reivindicando agora novas regras para impedir que os reclusos tenham acesso a telemóveis e reforçar o controlo das visitas nos estabelecimentos prisionais.

Évora ofusca o Rato

Um dos aspectos mais mediáticos da manutenção de José Sócrates na cadeia de Évora tem sido, precisamente, a procissão de visitas a que as televisões dão ampla cobertura, mantendo aos portões da prisão um autêntico batalhão de câmaras e microfones. Depois de semanas e semanas a filmarem personalidades socialistas que entravam e saíam, os repórteres tiveram no último fim-de-semana uma novidade para mostrar: uma pitoresca excursão de covilhanenses, mobilizados por um empresário amigo do detido n.º 44, que chegaram em autocarros e se manifestaram, “em marcha silenciosa”, à porta do estabelecimento Prisional. Desde que deu entrada na cadeia de Évora, José Sócrates recebe quase todos os dias visitas das mais variadas figuras do mundo socialista. Mário Soares tem sido um “habitué”, mas perante o antigo governante já compareceram também quase todos os nomes grados do PS. O problema, no entanto, é que existe um limite de visitas e de tempo alotado às mesmas e, segundo o Sindicato dos Guardas Prisionais, Sócrates tem tido direito a um número muito mais elevado do que o permitido aos restantes reclusos. Nos tempos da velha monarquia feudal, o local onde o monarca se encontrava era onde se situava a capital; e a corte, composta pelos áulicos e vassalos, seguia-o pelo país

O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional diz que Sócrates estará a receber "tratamento desigual" fora. Hoje, pelos vistos, a “capital” do PS é em Évora. Nas notícias da hora do jantar, António Costa e a sede do PS no Largo do Rato, em Lisboa, saem ofuscados pelos portões da cadeia de Évora. O actual líder do PS bem se esforça por “esquecer” que um seu antecessor (e chefe de um governo a que ele próprio pertenceu, como “número dois”) está preso em Évora. Mas de nada vale o esforço. As romarias continuam. E as declarações de Mário Soares também.

“Certeza” religiosa

Desde que Sócrates foi preso, Mário Soares jura a pés juntos que o antigo primeiro-ministro é um

homem inocente. Esta não é a primeira vez que Soares defende um amigo até ao fim. Como já foi recordado por O DIABO, Mário Soares manteve-se solidário com Bettino Craxi, político italiano acusado de corrupção, até este morrer, exilado na Tunísia, em fuga às autoridades italianas. Soares, que faz gala em afirmar-se “republicano, socialista e laico”, parece ter alguma dificuldade em compreender que todos os cidadãos são iguais perante a lei. O antigo Presidente da República, hoje nonagenário, não se conforma com a permanência de Sócrates na prisão e, apesar de não ter estado presente nos interrogatórios que determinaram a

DR

A denúncia partiu do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional: José Sócrates estaria a receber “tratamento desigual” face aos restantes presos da cadeia de Évora. Em carta enviada à ministra da Justiça, os guardas prisionais afirmavam que a situação de privilégio estaria a criar um perigoso ambiente insurreccional dentro da prisão. Os restantes detidos de Évora, alguns dos quais membros das Forças de Segurança (a aguardar julgamento ou a cumprir pena), estariam insatisfeitos com os privilégios de Sócrates, e os guardas prisionais daquele Estabelecimento Prisional, queixosos de uma grave falta de efectivos, afirmavam mesmo que, em caso de motim, seria difícil manter a ordem. “Receamos que, a manterem-se estas situações, os comportamentos se alterem e o número de guardas e a sua capacidade não sejam suficientes para travar os reclusos”, lia-se no ofício enviado à governante. Ainda segundo o Sindicato, Sócrates teria direito a fazer telefonemas no conforto do gabinete do director-adjunto do Estabelecimento Prisional, em vez de usar a cabine telefónica, como todos os outros reclusos. Regulamentarmente, cada preso só tem direito a cinco minutos de chamadas por dia, controlados por via de um cartão. De acordo com a denúncia dos guardas prisionais, outros pequenos “luxos” permitidos a Sócrates foram o uso de botas de cano alto, de um edredon de cama e de um cachecol de um clube de futebol – tudo, aparentemente, proibido pelas regras prisionais. O mal-estar a propósito dos alegados privilégios concedidos a Sócrates teve novos desenvolvimentos na semana que findou. Segundo o semanário ‘Sol’, ao antigo secretário-geral do PS foi, afinal, permitido conservar consigo o reconfortante

medida de prisão preventiva, nem (supostamente) conhecer o processo, já decretou a sentença: “não há razão nenhuma” para a detenção de José Sócrates. Logo aquando da primeira visita, Mário Soares tinha afirmado que a prisão de Sócrates era uma “infâmia” contra um “primeiro-ministro que foi exemplar” – afirmação que apenas reflecte a sua opinião pessoal, já que, no caso da avaliação de competência enquanto governante, José Sócrates foi julgado pelo tribunal da opinião pública em 2011, ano em que foi afastado do poder por via de eleições livres e transparentes. Mas a inocência de Sócrates parece ser uma “certeza” quase religiosa

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

3

Política

são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”?

republicana e socialista entre uma parte dos socialistas de elite. Maria Barroso, por exemplo, considerou que “uma pessoa desta qualidade e honestidade só pode estar inocente” Já em Janeiro, Soares voltou à ofensiva com alegações ainda mais duras. Segundo o ex-PR, José Sócrates é um “preso político” e a sua prisão preventiva “é muito, muito estranha” – não tendo, porém, esclarecido as razões de tal “estranheza”. O próprio José Sócrates parece acreditar nessa vasta e sinistra “cabala” contra si. Numa carta aberta (que os mesmos órgãos de comunicação social que ele ataca reproduziram na íntegra), Sócrates afirma-se vítima da “cobardia dos políticos” bem como da “cumplicidade de alguns jornalistas” e do “cinismo das faculdades e dos professores de Direito”. O antigo secretário-geral do PS refere-se ainda ao “desprezo que as pessoas decentes têm por isto tudo”, ignorando possivelmente o facto de uma sondagem do matutino ‘Correio da Manhã’ indicar que 63% dos portugueses acreditam que Sócrates é culpado, enquanto apenas 16,8% acreditam na sua inocência (os restantes 20% não tiveram opinião formada). Segundo a sondagem, apenas 37,8% dos eleitores do seu próprio partido acreditam na sua inocência. Já José Lello, deputado do Partido Socialista, preferiu referir-se, compungido, ao frio que se sente na prisão de Évora, bem como ao clima depressivo do estabelecimento, reforçando a “narrativa” de Sócrates como um mártir fechado num calabouço medieval, ou mesmo num “Gulag” soviético, em vez de numa prisão de um moderno Estado ocidental. Em Dezembro, José Alho, presidente da Associação Socioprofissional Independente da Guarda, lamentou as condições dos calabouços de Évora que, nas suas palavras, “não são as melhores”, tratando-se de uma “prisão pequena, que está sobrelotada”. Mas seria difícil, ou mesmo impossível, descobrir uma cadeia em Portugal que não esteja sobrelotada. Em 2011, as prisões portuguesas tinham 99% de taxa de ocupação, e algumas estavam mesmo sobrelotadas com 122% de taxa de ocupação, segundo dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais. Estas são as condições que todos os presos, até mesmo os presos preventivos, têm de suportar.

Soares já deu a sua sentença: a prisão de Sócrates é uma "infâmia" contra um "primeiro-ministro que foi exemplar" Longe da realidade de um “Gulag”, Sócrates tem direito a uma cela individual numa cadeia para presos especiais (entre eles membros das Forças de Segurança) que dispõe de ginásio, sala de actividades, biblioteca e campo de futebol. Ao contrário de outros Estabelecimentos Prisionais, o ambiente é considerado calmo e pacífico. É nestas condições que o cidadão José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa está preso preventivamente, indiciado pelos alegados crimes de corrupção, fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção. Para todos os efeitos, o tratamento concedido a Sócrates não é de todo diferente do que foi dado

a outras figuras públicas e políticas que também passaram pela Justiça. Duarte Lima, ex-deputado do PSD, foi detido preventivamente durante vários meses, por ordem do mesmo juiz que mandou deter Sócrates. Foi julgado e foi condenado com base nas provas apresentadas. O mesmo aconteceu com Isaltino Morais, também do PSD. Nessa altura, no entanto, pouco se falou de “prisões políticas”, Mário Soares certamente não considerou os dois casos como “uma infâmia”. Dois pesos e duas medidas? Longe de ser vítima de um regime especialmente opressivo, José Sócrates encontra-se submetido à mesma lei que rege os restantes

cidadãos do País. Foi alvo de uma medida da coacção legal, determinada por um magistrado em pleno poder de funções. Se for acusado, será sujeito a um julgamento justo, em regime de igualdade com todos os restantes concidadãos e com pleno direito a apresentar a sua defesa. É necessário também referir que José Sócrates é suspeito de ilegalidades que alegadamente terá cometido, conforme previsto na legislação: não está em Tribunal a responder pela sua ideologia ou pelas suas escolhas políticas.

Pai do regime

Mas, de todas as formas, Mário Soares pediu a intervenção política

DR

Igual aos outros

de Cavaco Silva, visto considerar que a detenção de Sócrates é um assunto que interessa a “um país inteiro”. Poucos dias depois, não tendo obtido qualquer reacção de Belém, Soares chamou ao actual Presidente da República “salazarista convicto” – alegação que até comentadores da própria esquerda já vieram lamentar, por não ser verdadeira e por não ficar bem na boca de um antigo Chefe do Estado. Fica por compreender o que Mário Soares pretende do regime que ele próprio ajudou a fundar. Justa ou injustamente, Mário Soares tem sido geralmente considerado “o pai” do actual regime, com um grau de intervenção muito superior ao de outros líderes políticos como Francisco Sá Carneiro. Embora tenha nascido do golpe de 25 de Abril de 1974, a III República como existe hoje é fruto da Constituição de 1976, texto elaborado e aprovado por Mário Soares e pelo seu PS, além de outros, com excepção do CDS-PP. Surpreendem, assim, as posições assumidas por tantos elementos do PS e pelo próprio Soares, que contradizem as suas origens. Ao exigir uma tomada de posição do Presidente da República, Mário Soares está a pedir a anulação de um dos mais básicos princípios constitucionais: a separação entre o Poder Judicial, o Poder Executivo e o Poder Legislativo. Das duas, uma: ou Mário Soares e José Sócrates acham que merecem tratamento preferencial, ou então consideram que a República actual é um regime em que a justiça e a democracia não existem. No segundo caso, tal reconhecimento constituiria, para o histórico dirigente socialista, um duro golpe: seria admitir, por fim, que o regime que ele criou foi mal concebido. Seria admitir que a República que ele liderou, e da qual foi Presidente, é um falhanço nacional. No primeiro caso, seria admitir o paradoxo sintetizado por George Orwell no livro “O Triunfo dos Porcos”: que “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”. No meio de tudo isto, o actual líder socialista, António Costa, tenta não perder o pé. Apesar de ter visitado Sócrates uma (única) vez, quando lhe perguntaram se acreditava na inocência do antigo secretário-geral, esquivou-se às “certezas absolutas” e respondeu, com palavras medidas, que Sócrates ia “lutar pelo que acredita ser a sua verdade”. ■

4

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Política

A conjuntura é cada vez menos favorável a António Costa

Já soam os alarmes no Largo do Rato

O PS parece manter-se, assim, como que petrificado pela prisão do ex-primeiro-ministro, pelos maus resultados nas sondagens e pelos bons resultados apresentados pelo Governo PSD/CDS. Nas últimas semanas, a perplexidade parece ter tomado conta de António Costa, que se vem “fazendo de morto”, nada dizendo de relevante. Alguns dirigentes socialistas preferem usar a palavra “sono”. O PS tem dias em que “parece adormecido”, criticou o ex-ministro de Sócrates, Augusto Santos Silva, em declarações ao semanário ‘Sol’. Também o ex-ministro Correia de Campos escreveu na imprensa que “o PS tem de acordar”.

Sondagens desastrosas, estratégia errática, ausência de ideias e de propostas válidas – o rol de queixas não pára de aumentar no PS. António Costa, que chegou à liderança com rugidos de leão, é cada vez mais contestado no partido.

Desconforto

DR

As sondagens, como se costuma dizer, valem o que valem. Mas neste momento, para o líder socialista António Costa, valem pelo menos uma fortíssima dor de cabeça. As previsões mais recentes são demolidoras: segundo a Eurosondagem, a vantagem do PS (que há escassos dois meses aspirava a uma maioria absoluta nas eleições legislativas de Outubro próximo) é de apenas 3,1% sobre a coligação PSD/CDS; segundo a Aximage, o resultado é ainda pior, com um insignificante avanço de 1,3% em relação ao bloco de centro-direita. Vários dirigentes socialistas mais chegados a António Costa tentam desvaloriz a queda nos abismos de um empate (ou mesmo de uma derrota, no pior cenário para o PS), interpretando os resultados das sondagens de forma pelo menos original: o que é surpreendente é que os socialistas não tenham sido ainda mais penalizados pela prisão de José Sócrates, dizem uns; ainda falta muito tempo para as eleições, dizem outros. Mas os argumentos não convencem. E, apesar de garantir que até a “ala segurista” está “de boa fé” a tentar ajudar Costa a ganhar o sufrágio, Álvaro Beleza já reconhece: “é uma constatação que o PS tem tido dificuldade em descolar”. Os maus resultados nas sondagens colocaram António Costa ao pior nível de António José Seguro, o anterior líder que o actual acusava de… não obter resultados. Em termos práticos, o PS regressou aos índices de (escassa) popularidade de Janeiro do ano passado. Mais grave ainda para António Costa: não só o PS desceu, como o PSD subiu ligeiramente e o CDS se manteve firme na sua habitual percentagem de sete por cento. Não é preciso ser matemático para fazer contas e admitir que, por este caminho, o eleitorado português se prepara para renovar a sua confiança (ainda que reticente ou crítica) na actual coligação de governo, face à

“alternativa” pouco ou nada consistente de António Costa.

Pior a emenda que o soneto

A evolução das intenções de voto dos portugueses é significativa. Logo a seguir à eleição de Costa como secretário-geral, o PS registou uma subida acentuada, ao mesmo tempo que o PCP e o Bloco de Esquerda desciam. Esta tendência manteve-se quando o líder do PS passou a “namorar” franjas de “independentes” bem-pensantes e a referir-se a temas “fracturantes”. Mas as suas “propostas” não passaram de intenções pueris, debitadas sem convicção num estilo populista que já passou de moda: aumentar o salário mínimo, repor as pensões ao nível de 2011, apostar na cultura… Ainda assim, apesar de toda a retórica populista, o estado de graça pouco durou. A prisão do antigo líder José Sócrates, em Novembro passado, fez a opinião pública repor os pés no chão e juntar dois mais dois. O discurso de Costa, ao mesmo tempo, tornou-se mais labiríntico e menos focado nos temas

da actualidade político-económica – aqueles que verdadeiramente interessam à massa dos eleitores. As últimas sondagens, feitas já durante o mês de Janeiro, são o reflexo lógico de meses de deslizes e palavras ocas: a perspectiva de uma maioria absoluta desapareceu do horizonte, a possibilidade de uma maioria relativa baixou consideravelmente – e a coligação PSD/ CDS recupera a passos pequenos mas seguros. Na última semana, António Costa tentou emendar a mão, mas a emenda foi pior do que o soneto. Para surpresa geral, voltou a insistir numa “regionalização” que deixa o País indiferente ou incrédulo; defendeu a “suavização” do Tratado Orçamental europeu (isto é, o aumento do défice) precisamente quando o BCE anunciava a compra de dívida; e sugeriu um corte na taxa moderadora dos centros de saúde, um contra-senso que um simples contabilista seria capaz de lhe explicar. Como cereja em cima do bolo, Costa voltou a baralhar o “dossier” das presidenciais, deixando ainda mais inquieto o povo socialista. De-

pois de um período em que parecia apoiar decisivamente uma candidatura de António Guterres, o actual líder referiu-se em tom elogioso ao antigo comissário europeu António Vitorino, exactamente o mesmo tom em que já se pronunciara sobre o académico Sampaio da Nóvoa.

Sono profundo

A conjuntura, de resto, é cada vez menos favorável a António Costa. O desemprego está em queda, o crescimento económico voltou a números positivos, o défice aponta para os 4 por cento, o défice das administrações públicas baixou quase dois mil milhões de euros, o BCE acabou de aprovar um pacote de apoios que é capaz de relançar em força a economia e a ministra das Finanças anunciou que Portugal estará em condições de pagar a dívida mais cedo do que estava previsto. Por fim, a estratégia de Costa face ao “caso Sócrates” tem vindo a ser sistematicamente “furada” pelos deslizes de Mário Soares e de outros dirigentes socialistas que participam no “circo mediático” de Évora, criando em torno do antigo secretário-geral um insuportável ruído de fundo.

Estas manifestações exteriores reflectem um crescente mal-estar nas fileiras socialistas. Numa reunião da bancada parlamentar do PS, há dias, vários deputados criticaram a apatia do partido e o risco de perder o sentido das realidades em ‘dossiers’ bizantinos como a adopção por “casais gay” e em temas consensuais como a violência doméstica, não apresentando ao eleitorado uma alternativa válida à actual coligação PSD/CDS. É expectável que todo este desconforto venha à superfície na reunião da Comissão Política do partido marcada para a próxima quinta-feira, dia 29. Um dos temas de agenda será a regionalização, que António Costa transformou nos últimos dias num “ponto de honra” que poucos socialistas entendem. O deputado transmontano Ascenso Simões já afirmou publicamente que “colocar na agenda a regionalização, sem reinventar o municipalismo e sem reponderar a divisão administrativa, é um buraco do tamanho da dívida pública”. E o embaixador Francisco Seixas da Costa, cuja opinião é ouvida com respeito no PS, perguntava há dias na blogosfera: “Será minha impressão ou o PS mete-se numa imensa alhada ao seleccionar, em ano eleitoral, um tema ‘fracturante’ como a regionalização?”. Dois dias depois, no Sábado, reúne-se a Comissão Nacional do partido. Aí, o nome de António José Seguro será necessariamente mencionado, pois estará em discussão a realização de eleições directas para a escolha de candidatos a deputados. Seguro defendia abertamente este modelo, mas Costa prefere que as comissões distritais do “aparelho” tenham uma palavra na escolha. O tema será, ao que O DIABO apurou, aproveitado pela oposição “segurista” para estragar a unanimidade de que Costa tanto parece gostar. Uma única vitória averbou António Costa desde que está à frente do PS. Mas essa foi conseguida na Grécia, pelo Syriza… ■

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

“Os radicais sabem que não podem cumprir as suas promesas”

5

Internacional

Sei que estavas em festa, pá! Pedro A. Santos

seria de “apenas” 403 milhões. Um valor pesado, mas não catastrófico para as entidades envolvidas. O responsável pela estratégia de dívida do gigante financeiro Alemão Commerzbank, David Schnautz, considerou mesmo que Portugal poderia ser quase imune aos efeitos da possível irresponsabilidade radical.

Os extremistas rejubilam: o partido “Coligação das Esquerdas Radicais”, mais conhecido como Syriza, venceu as eleições do último Domingo na Grécia. Mas em breve serão confrontados com as duras realidades da vida…

Austeridade, sim, mas de esquerda...

Tsipras, o homem de todas as promesas

Atenas vai tentar renegociar a dívida Foram aniquilados nas eleições de 2012, onde perderam quase todo o seu eleitorado para os conservadores do “Nova Democracia” e para os radicais do “Syriza”, uma espécie de “Bloco de Esquerda” grego. Agora, em 2015, os radicais de esquerda colhem os frutos nas urnas. E tudo indica que seguirão o caminho do PASOK: muitas promessas, a mesma governação de sempre.

Promete agora, nunca cumpras

“First we take Manhattan, then we take Berlin” (primeiro tomamos Manhattan, depois tomamos Berlim). Foi com este excerto de uma canção de Leonard Cohen que o líder do Syriza convidou o líder

do “Podemos” Espanhol a subir ao palco durante o último congresso pré-eleitoral do partido grego. A mensagem que queriam passar ao público era clara: “votem em nós e nós faremos frente à Alemanha”. O problema é que a União Europeia não se resume à Alemanha: os restantes países da União Europeia poderão ter pouco interesse em apoiar uma mudança de rumo tão radical como o Syriza deseja. Este partido quer a imediata renegociação da dívida de forma a não pagar metade do valor que o país ainda deve. Este é um negócio extremamente prejudicial para os Estados cumpridores, como Portugal. O nosso país foi obrigado, tal como todos os outros, a con-

tribuir com uma parcela para os vários resgates financeiros gregos; agora, se o novo governo de Atenas decidisse não pagar, Portugal seria penalizado, no próximo ano, com um buraco-extra de 1,2 mil milhões nas suas contas. No total, a Grécia deve 254 mil milhões de euros aos Estados da União Europeia, e o Syriza quer apenas pagar metade dessa verba. Se assim acontecesse, o calote grego praticamente alcançaria a dimensão de toda a nossa economia nacional. Estarão os vários países europeus dispostos a abdicar de tanto dinheiro? Aqui, as opiniões dos técnicos dividem-se. Há quem pense que um “perdão” parcial da dívida grega não é admissível, dada a possibilidade de risco sistémico que um “default” grego acarreta. Mas há também quem considere que, para além do dinheiro emprestado pelos vários Estados (cuja metade pode já estar perdida), não existe risco suplementar, uma vez que ao longo dos últimos anos os bancos e as empresas europeias foram-se livrando da dívida e património que detinham na Grécia. No caso português, em 2009 os nossos bancos podiam perder 9,8 mil milhões de dólares em caso de uma bancarrota grega; hoje, a perda

DR

que na verdade não era de 6%, mas sim de 15%. Quando os gregos mais precisavam do Estado, concluíram que ele estava falido. Iludidos pela mensagem utópica da esquerda, os gregos deram então uma maioria absoluta ao “Movimento Socialista Pan-Helénico”, mais conhecido em Portugal por PASOK, ou seja, o “PS” grego. O problema é que o “PS” grego só sabia usar a táctica adoptada pelos partidos socialistas e social-democratas europeus durante o tempo das “vacas gordas”: prometeu mundos e fundos, esperando contrair dívida para pagar os votos. Só que o crédito externo secou, e tanto Berlim como Bruxelas adoptaram uma postura firme, levando a que os socialistas locais não conseguissem cumprir quase nada daquilo que prometeram em 2009.

DR

Como se previa, os eleitores gregos escolheram o Syriza para os governar nos próximos anos. Mas muitos dos extremistas que hoje cantam vitória vão ficar, a breve trecho, desiludidos com a escolha: o governo de “bloco de esquerda” que elegeram vai ter de transformar-se, inevitavelmente, num “partido socialista” obrigado a negociar com Bruxelas. A verdade é que o Syriza não poderá pôr em prática aquilo que pregava até há poucos dias. E tem plena noção disso. A Grécia vive momentos de horror económico. O desemprego permanece no valor catastrófico de 27%, os ordenados estão em queda, o tecido social está a desagregar-se rapidamente. O PIB grego não pára de cair desde o dealbar da “grande recessão” e o país vai agora no seu sétimo ano consecutivo de profunda depressão. A economia grega perdeu 14% do seu valor total, só entre 2011 e 2012, mas o governo pró-alemão de Atenas, inábil, só soube atirar mais achas para a fogueira com um programa de austeridade que sufocou a economia e agravou a crise. Os radicais do Syriza, partidários do “quanto pior, melhor”, esfregaram as mãos e encheram as ruas com manifestações. O deficit de 2013 chegou aos 12,2% (em comparação, Portugal ficou-se pelos 4,9%) e a dívida atingiu 176% do PIB em 2014. A crise grega ultrapassa, em muito, a crise europeia. Ficou a dever-se, antes de mais, à irresponsabilidade dos governantes do “centrão” que falsificaram constantemente os dados económicos do país. A primeira grande fraude consistiu em mascarar os números da dívida e do deficit para permitir a entrada do país no Euro. Depois de apetrechados com a nova moeda, os políticos gregos puderam contrair dívida a preços muito baixos e, tal como em Portugal, houve uma festa de esbanjamento que culminou com a organização das caríssimas Olímpiadas de Atenas. A irresponsabilidade foi escondida por métodos “criativos” de contabilidade, razão pela qual o deficit de 2009 foi revisto várias vezes, descobrindo-se

Assumindo que a União Europeia aceitaria o calote, mesmo dentro do Syriza há quem acredite que Tsipras nunca conseguirá colocar todo o seu programa utópico em funcionamento. Giannis Dragasakis, o nome mais consensualmente apontado como provável ministro das Finanças, admite que, mesmo com a renegociação da divida ou com um calote parcial, as reformas estruturais exigidas pelos credores teriam de continuar. Note-te que aqui já temos uma mudança de narrativa: o que há dias era “austeridade desumana” já passou a “reformas estruturais”… O problema é clássico: ao aperceberem-se de que vão ser chamados a governar, a assumir responsabilidades, vários dirigentes do Syriza começam a admitir que as contas do programa do partido não fazem sentido. Tsipras prometeu restaurar todos os subsídios e pensões para os níveis de 2008, algo que iria custar ao país mais de 12 mil milhões de euros. Infelizmente, o deficit continua fixo nos 12%, logo não há qualquer margem orçamental para cumprir a promessa. Políticos como Dragasakis sabem-no, como o sabe Tsipras, possível futuro primeiro-ministro. A inevitável “domesticação” do Syriza não é apenas uma possibilidade: já está em curso. Há escassos meses, o partido ainda defendia a pés juntos a saída da Grécia da União Europeia e do Euro e a recusa absoluta de pagamento da dívida. Quando perceberam que provavelmente seriam governo, os dirigentes do Syriza recuaram: a pureza ideológica, pelos vistos, está reservada para quando se é oposição. Hoje, essa saída (apelidada nos mercados mundiais como “Grexit”, mistura de “Greece” e “exit”) parece quase impossível, sobretudo depois de Mário Draghi ter carregado no botão da “bazuca” dos incentivos monetários. Certamente que os radicais não irão recusar o bom e suculento dinheiro europeu que aí vem. Muda o disco, toca o mesmo. ■

6

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Internacional

Caminhamos para uma Europa a duas ou mais velocidades?

A mudança na Grécia e o futuro da União Europeia

DR

O Syriza, da extrema-esquerda, venceu pela primeira vez as eleições legilativas gregas

DUARTE BRANQUINHO

Nem só as esquerdas se congratularam com a vitória do Syriza. Para Armando Marques Guedes, “com a insensatez que os caracterizam, as Marine Le Pens, os Vladimir Putins, Victor Orbans e quejandos devem ter ficado encantados com estes quase 40% dos votos da auto-denominada ‘esquerda radical’ grega”. Isto porque, segundo ele, “o ‘script’ do Syriza é tentador… Lá, tal como cá, para as nossas ditas ‘esquerdas’ e, por paradoxal que possa parecer, ‘direitas’. Porque para todos eles, nesta como noutras conjunturas, quanto pior melhor”. E alerta: “É bom que acordemos de uma vez por todas.” O que pode fazer um Governo liderado por Alexis Tsipras, que no seu discurso vitorioso declarou que “a era da troika acabou”, num dos países que mais tem sentido as chamadas políticas de austeridade? Para Armando Marques Guedes, “a

vitória do Syriza nas eleições gregas nunca pode vir a ter um desfecho bom para a Grécia. Ou cumprem as promessas eleitorais e acabam por levar o país a uma rápida insolvência que a todos os gregos ferirá; ou as quebram e a sua credibilidade doméstica desmorona”. E em relação aos impactos externos? O professor considera que “nenhum destes desenlaces favorece a União Europeia ou os países que tentam sair de crises semelhantes. Nem favorecem, de maneira que se vislumbre, a Europa ou o ‘Ocidente’ enquanto entidades com pesos histórico, político e económico globais”. Mas estará a UE em risco? Armando Marques Guedes considera que, “embora, ao contrário dos partidos de ‘direita’ populista franceses, britânicos, húngaros, holandeses, ou eslovacos o partido Syriza não seja anti-UE, as consequências desta sua vitória têm o potencial de lesar

seriamente os gregos e toda a gente em todas essas frentes. A História mostra-nos, sem quaisquer dúvidas, que irresponsabilidades populistas podem saber bem, mas tendem por via de regra a correr mal”.

Cenários possíveis

Neste caso concreto, que resultados podemos esperar? Armando Marques Guedes afirma que “o primeiro cenário, no limite, é o de uma rápida bancarrota, seguida de uma eventual saída do euro e da UE – o que pode levar a um golpe militar num país que os tem tido. Num segundo cenário, será de prever uma subida em flecha da conflitualidade civil interna, caso em que uma intervenção castrense se torna numa hipótese ainda menos remota. Um ‘perdão’ da dívida, total ou parcial, ou mesmo uma sua ‘renegociação’ em força, caso ocorram, não deixarão, decerto, de

resultar em invocações de precedentes pelas ‘esquerdas’ italiana e espanhola, ou pelas ‘direitas’ que tanto variam por aí. Com todos os efeitos de ‘descolamento’ de um ‘sul’ em consequência cada vez mais ‘iliberal’ e menos ‘democrático’, a que credores e mercados não deixariam de reagir negativamente”. Perante tais perspectivas, qual o melhor cenário? O professor diz que é o de “uma definitiva consolidação de uma Europa a duas ou mais velocidades. A que a Rússia e a China, chamariam um figo. E à qual os Estados Unidos não irão, decerto, reagir bem – a não ser para beneficiar de um cenário de ‘várias Europas’ em que o dólar se vê reforçado”. E o pior, o cenário mais catastrófico? Para Armando Marques Guedes é “o de uma partilha dos restos por vizinhos apostados numa dissolução que lhes dê, a eles, o pro-

DR

A vitória do Syriza, da extrema-esquerda, nas eleições legislativas na Grécia fez estremecer o edifício da União Europeia. O que podemos esperar desta mudança? Quais os impactos para a Europa e que alterações produzirá no cenário político internacional? O DIABO falou com Armando Marques Guedes, professor na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e no Instituto de Estudos Superiores Militares, especialista em Geopolítica e assuntos internacionais, que analisou a situação.

Para Armando Marques Guedes, a vitória do Syriza nas eleições gregas nunca pode vir a ter um desfecho bom para a Grécia tagonismo que tanto nos invejam. Interdependência, ao que nos levas... Curiosamente, à polarização e a coincidência crescente entre os extremos. Num ‘fast forward’: acabou o espectro politico convencional que contrapôs, durante dois séculos, a ‘esquerda’ e a ‘direita’. O pragmatismo ao poder, em vez da paz e estabilidade idealizadas em tratados para uma Europa sem guerras? Seguramente não vamos voltar ao passado. Entrámos na incerteza”. ■

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

7

Sete Dias

São nomes de peso: A Sony, a Emirates, a Castrol, a Continental e a Johnson & Johnson deixaram de patrocinar o organismo que rege o futebol a nível mundial. Perdas de peso para Joseph Blatter, o actual líder da FIFA que ficou famoso entre os portugueses pela sua alegada postura anti-Cristiano Ronaldo e anti-Portugal. As empresas envolvidas não esclareceram publicamente as suas razões, mas segundo vários jornais ingleses a causa provável é a o desejo das instituições evitarem ficar conotadas com os escândalos de corrupção que têm abalado o mandato de Blatter enquanto presidente da FIFA. Estima-se que o rombo total nos cofres desta entidade seja de 1.3 mil milhões de euros. A atribuição do Campeonato Mundial de Futebol à Rússia em 2018 e ao Qatar em 2022 suscitaram enormes protestos dentro e fora da organização. O Qatar, em especial, é considerado o caso mais controverso, visto que as temperaturas durante o Verão atingem valores não adequados a jogos profissionais de futebol. Os opositores do actual presidente acusam a organização de ter sido subornada. Outro dos pontos de discórdia é a recusa constante de Blatter em aprovar o uso de aparelhos electrónicos e repetição vídeo para eliminar grande parte dos erros de arbitragem do chamado desporto-rei.

Extrema-esquerda vence na Grécia

DR

Patrocinadores de peso abandonam FIFA

A “Coligação das Esquerdas Radicais”, mais conhecida como Syriza, venceu as eleições legislativas Gregas e irá agora formar governo. Apesar de ter obtido um resultado abaixo dos 40 por cento dos votos, o sistema eleitoral Grego atribui um bónus de 50 deputados ao partido mais votado, o que inflaciona o resultado.

DR

a Alemanha voltou a pedir a renegociação da divida Grega, mas com a contrapartida da saída do pais do Euro. Nos próximos dias, o Syriza irá formar governo, mas terá de decidir rapidamente que rumo quer que a Grécia siga, visto que fontes do Fundo Monetário Internacional indicam que o Estado grego só terá dinheiro até Agosto. Alguns especialistas, no entanto, indicam que a bancarrota grega acontecerá em Março caso o Syriza anule todos os cortes que foram feitos durante os governos anteriores. ■

DR

George Papandreou, não conseguiu ultrapassar a barreira dos 3 por cento para ter assentos no parlamento. Papandreou foi o terceiro primeiro-ministro com este apelido, sendo descendente de uma poderosa família política que dirigiu os rumos da Grécia durante vastos períodos de tempo tanto durante a monarquia, como durante a república. Os vários partidos eurocépticos europeus tanto de esquerda como de direita aguardam com expectativa os resultados. O Alternativa para

DR

DR

O partido conservador “Nova Democracia” apenas conseguiu pouco mais de um quarto dos votos e os nacionalistas do Aurora Dourada terão alcançado o terceiro lugar. No total, entre o Syriza, o Aurora Dourada, o Partido Comunista local e os Independentes Gregos haverá uma larga maioria eurocéptica no Parlamento Helénico. Já o PASOK, que anteriormente à crise foi um dos maiores partidos gregos, ficou em sexto. O Movimento para a Mudança, partido criado pelo ex-primeiro-ministro

Estado Islâmico anuncia morte de mais um jihadista português

Lei de programação militar prevê gastos de 960 milhões de euros

Nacionalistas renovadores apresentam cabeças-de-lista

Preço das vacinas para crianças dispara no mundo

Tinha 23 anos, e caso o auto-denominado Estado Islâmico esteja a dizer a verdade, o luso-descendente Mikael Batista morreu durante uma operação militar organizada pela coligação internacional liderada pelas forças militares dos EUA. O jovem, que vivia em Paris, juntou-se ao grupo terrorista no Verão de 2013 e chegou a dar uma entrevista ao jornal “Expresso”, onde afirmou o seu prazer em matar. No seu twitter, a mulher de Mikael comentou: “Que Alá vos destrua, bando de porcos. Eles não morreram. Apenas se anteciparam a nós para desfrutar do Paraíso”. Na mesma rede social, a última mensagem do jihadista apelava à perseguição dos “infiéis”.

O financiamento será usado em quatro anos e destina-se a modernizar o equipamento das Forças Armadas, que em muitos casos se deixou chegar à obsolescência. No caso da Marinha vão ser comprados dois novos navios de patrulha oceânicos e as cincos fragatas portuguesas, os navios capitais da Armada, vão ser renovadas com equipamento mais moderno. No caso do Exército, a veterana espingarda automática G3 está de saída, para ser substituída por um modelo ainda a escolher. A Força Aérea, por sua parte, irá renovar os sistemas de navegação nos aviões de transporte C-130, actualmente obsoletos, e o ‘software’ dos caças F-16.

O Partido Nacional Renovador (PNR), apresentou os cabeças-de-lista pelo círculo da capital nas próximas eleições legislativas. Quase cem pessoas marcaram presença para participar no almoço-convívio, ao que se seguiu uma sessão de esclarecimento com José Pinto-Coelho, presidente do partido, e Humberto Nuno de Oliveira, que encabeçou a lista nacionalista renovadora nas últimas eleições europeias. João Pais do Amaral, vice-presidente do PNR, traçou depois as metas para o acto eleitoral que se segue e apelou ao esforço de todos para que o PNR atinja os 50 mil votos. O evento terminou com os participantes a cantar o hino nacional.

Entre 2001 e 2014, o preço das vacinas aumentou 48 vezes mais para os rapazes e 68 para as meninas, segundo os Médicos Sem Fronteiras. O pacote estandardizado de vacinas geralmente usado passou de 0,57 cêntimos para 27,72 euros no caso dos rapazes, e 39,38 euros no caso das meninas. Para a organização, estes novos preços das farmacêuticas deixam muitos países subdesenvolvidos à beira de uma catástrofe humanitária, visto que geralmente são os que têm menos recursos para subsidiar os medicamentos. A discrepância entre países nota-se, por exemplo, no facto de as vacinas serem mais baratas em França do que em países como Marrocos ou a Tunísia.

8

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Entrevista

“Há quarenta anos que o País vem sendo

“Salazar representa um grande, forte, soberano DUARTE BRANQUINHo

O DIABO – Quando se fala nas influências no pensamento de Salazar, a referência a Charles Maurras é inevitável. Mas é um tema que ainda não tinha sido aprofundado. Concorda? Marcos Pinho de Escobar – Sim. Fala-se muito nesta influência, mas, em geral, as referências são breves, curtos comentários, indicações esquemáticas, no máximo alguns parágrafos ou poucas páginas. De que forma Maurras influenciou Salazar? Penso que Maurras foi uma influência decisiva, estrutural mesmo, na formação do pensamento político salazarismo. A marca maurrasiana está muito presente na formulação de conceitos fundamentais como a Ordem, a Autoridade, o Estado, a Nação. Mas também na noção do ‘politique d’abord’ e no método do empirismo organizador, bem como na crítica implacável do demo-liberalismo. O ‘politique d’abord’ e o empirismo organizador são caracteristicamente maurrasianos. Pode dar exemplos de como foram usados por Salazar? ‘Politique d’abord’ é uma fórmu-

la maurrasiana que, como sabe, foi objecto de controvérsia e interpretação equívoca. Por alguns interpretada – erroneamente – como a primazia da política sobre a moral, o que o filósofo contra-revolucionário tinha em mente era que a acção política tem uma prioridade exclusivamente cronológica, ou seja: o meio para atingir um fim deve preceder este fim! A posição de Salazar relativamente a este conceito maurrasiano começa por uma rotundo rechaço (1934), evoluindo gradualmente à aceitação resignada mas completa (1946). No seu íntimo Salazar sentia aversão pela política, entendida esta como pugna pelo poder. Não acreditava que a solução dos problemas que afligiam o género humano pudessem ser solucionados pela política. Em definitivo, se aceitava a política como um meio, não o considerava prioritário. Mas os factos, a realidade, começam por aproximá-lo de Maurras: não considerando a política um meio suficiente, passa a considerá-la um meio necessário. Em 1946, recorde-se que o chefe da Action française encontrava-se preso em França, Salazar adere indiscutivelmente ao ‘politique d’abord’, ao reconhecer a relevância do factor político na vida portuguesa, indicando

Marcos Pinho de Escobar: "O interesse por Salazar tem crescido na Argentina"

que nenhum problema nacional poderia ser solucionado sem a prévia solução do problema político. A verdade é que na génese do Estado Novo verifica-se o princípio do ‘politique d’abord’. Se Salazar no seu íntimo recusava a preponderância do factor político para a solução dos problemas nacionais, se confiava na virtudes da acção não-política, i.e., externa ao Estado, a verdade é que foi necessário derrubar a I república para criar as condições que vão tor-

nar possível a construção do Estado Novo. Salazar pautou-se por um agudo sentido de oportunidade. Não buscou o Poder, mas aceitou-o quando os militares vitoriosos no 28 de Maio o foram buscar e garantiram as condições da sua actuação. Não contribui nem activa nem passivamente para a queda do regime de partidos, mas soube assumir no momento oportuno a construção de uma nova ordem política. O empirismo organizador, como o ‘politique d’abord’, está associado a Maurras como marca registada. Sem dúvida é um dos pilares sobre os quais se assenta o seu edifício político. Maurras entende a política como uma ciência experimental, cujo objectivo é identificar as constantes e as leis que regem a

sociedade. E o instrumento para atingir tal meta é o empirismo organizador. O que deseja é encontrar as verdades políticas que são confirmadas pelos factos. Este seu método deriva de uma dupla fonte: por um apoia-se na reflexão de Maurras sobre a condição social do homem (a sua ‘politique naturelle’, em frontal oposição às teses rousseaunianas), por outro, no seu exame crítico da História, em outras palavras, o inventário das experiências positivas e negativas acumuladas. Não há dúvida de que Salazar, à imagem de Maurras, possui a clara noção de que a política comporta o verdadeiro e o falso. Ambos almejam encontrar a verdade política e sabem que a esta se chega a partir da observação dos factos, das suas causas e das suas consequências. Em Salazar nota-se, como em Maurras, o apego ao real, o rechaço da abstracção. Pois na busca da verdade política Salazar segue os passos do Mestre francês, já que é na

O DIABO

Marcos Pinho de Escobar gosta de dizer que é “filho da Terra de Santa Maria, também chamada Portugal”. Licenciou-se em Ciências Económicas na Universidade Católica do Rio de Janeiro, fez o Master em Relações Internacionais na George Washington University, nos EUA, e doutorou-se em Ciência Política, em 2013, na Universidade Católica Argentina, em Buenos Aires. Viveu em vários países exercendo funções na banca internacional, mas há alguns anos que se dedica ao estudo do pensamento e obra de Salazar, bem como temas relacionados com a contra-revolução e o tradicionalismo. Divide o seu tempo entre a Argentina e Portugal e tem escrito dezenas de artigos para publicações nacionais e estrangeiras, colaborando esporadicamente no nosso jornal. A sua tese de doutoramento, sobre a influência do teórico francês do nacionalismo integral Charles Maurras (1868 –1952) no pensamento e acção de Salazar, foi publicada recentemente na Argentina com o título “Perfiles maurrasianos en Oliveira Salazar” (“Perfis maurrasianos em Oliveira Salazar”) e é uma obra que urge traduzir e publicar no nosso país. O DIABO entrevistou-o.

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

Entrevista

Defendeu a sua tese na Argentina. Porquê? Vivia na Argentina e lá encontrei um marcado interesse por Salazar – homem e obra –, em muitos círculos, desde o chamado nacionalismo católico ao meio académico. Desde o momento em que vi, na montra de um reputado livreiro-antiquário de Buenos Aires, uma excelente biografia de Salazar, escrita por um argentino, não parei de encontrar admiradores do estadista luso. Ali encontrei uma ampla variedade de textos e, até mesmo, vários trabalhos de investigação sobre Salazar e o Estado Novo, alguns realizados na década de trinta, quando Salazar assentava as primeiras pedras do edifício... Cumpre referir, igualmente, que a Argentina contou – e ainda conta – com grandes especialistas da obra maurrasiana, além de bibliotecas, editoras e livrarias com edições primeiríssimas e até mesmo traduções realizadas mal os textos eram publicados em França. O interesse por Salazar tem crescido na Argentina? Julgo que sim. Organizar uma tertúlia, uma conferência sobre Salazar, seja desde a óptica do pensamento político, da acção política, do modelo de governante católico ou do exemplo de gestão financeira, é certeza de uma grande assistência. O descalabro moral e material que assola tantas sociedades, a descrença mais do que justificada na política dos negócios e no negócio da política, fazem com que as pessoas

saiam em busca de modelos históricos de inteligência, integridade e dedicação. Sente que em Portugal há o mesmo interesse? Infelizmente sou obrigado a dizer que não. Enquanto na Argentina, mesmo depois de tantas crises e de tanta decadência, existe uma parte da nação que resiste com uma força vital realmente impressionante, e que procura ser o que sempre foi, em Portugal tem-se a impressão que o ser nacional cansou-se de viver e já não oferece resistência às forças da dissolução. Salazar representa um Portugal que foi grande, forte, soberano e – sobretudo – português. Há quarenta anos que os governantes portugueses têm-se esmerado para que o País seja exactamente o contrário. Agora pergunto: quantos têm oferecido resistência? Creio que poucos. A acomodação à decadência parece ter cristalizado. É pena, é triste, mas é assim. Como vê a actual situação política portuguesa?

Vejo com grande preocupação. Há quarenta anos que o País vem sendo desmantelado por um poder político anti-português. Alienaram-se os suportes da nossa existência como nação independente, implantou-se um regime de divisão, de luta intestinal e fratricida, estruturalmente corrupto e demagógico, promoveu-se um materialismo doentio e um endividamento irresponsável, aboliram-se as fronteiras, abdicou-se da soberania e esmeram-se em destruir a nossa identidade com requintes de crueldade. E o mais impressionante é que os portugueses parecem resignados – condenados? – a seguir legitimando tal estado de coisas e os responsáveis pelo suicídio nacional que se aproxima. Não nos iludamos: aproximamo-nos rapidamente do ponto de não retorno. Publicou a sua tese em livro na Argentina. É um trabalho a ser traduzido e publicado noutros países, nomeadamente em Portugal e em França? Tenho tido vários contactos com editoras em ambos os países, mas

creio que será publicado em França antes de Portugal. Como foi a recepção do livro na Argentina? Foi muito boa, melhor do que inicialmente esperara, já que se trata de uma tese de doutoramento publicada integralmente como tal. Houve várias editoras interessadas na publicação e tive o privilégio de contar com três catedráticos de nomeada para a apresentação do trabalho. Deram-me a oportunidade de falar um pouco sobre a investigação em entrevistas a jornais e canais de televisão. Fiquei igualmente satisfeito com o facto de o livro ter despertado o interesse de pessoas de várias idades e origens diversas. Uma dessas entrevistas foi com o filósofo argentino Alberto Buela, que esteve em Portugal em 2012 e foi entrevistado por O DIABO. Um académico que tem salientado a importância de Salazar. Como correu? O Professor Buela é um dos académicos que tem um real interesse

DR

Portugal que foi e português”

em Salazar. A entrevista focou sobretudo na formação de Salazar, na génese do Estado Novo e no substrato doutrinal que lhe era subjacente. Tivemos a oportunidade de falar um pouco sobre o Professor Arturo Sampay, “arquitecto” da Constituição peronista de 1949. Na sua obra “La Crisis del Estado liberal-burgués”, o eminente jurista argentino analisa laudatoriamente a nossa Constituição de 1933. Houve também uma influência de Salazar na Argentina... Sem dúvida. Se é certo que o nacionalismo argentino vai beber em fontes espanholas e italianas, o nacionalismo católico vai orientar-se em grande medida pelo Mestre Maurras e, também, por Salazar. Basta consultar obras publicadas nos anos 30 e 40 pelos principais referentes doutrinais do sector para nos apercebermos do interesse que despertava a noção tão salazariana do Estado como um “ministro de Deus para bem comum”. Para os argentinos Salazar é o arquétipo do estadista católico. ■

Charles Maurras e António de Oliveira Salazar. Para Marcos Pinho de Escobar, "Maurras foi um influência decisiva, estrutural mesmo, na formação do pensamento político do salazarismo"

DR

desmantelado por um poder político anti-português”

História e nas experiências políticas concretas que vai proceder ao exame crítico dos conceitos políticos, encontrar verdades imutáveis, verificar acertos e erros, separar o essencial do acessório. Em chave maurrasiana Salazar passa em revista a História de Portugal, inventariando os seus momentos de apogeu, relacionando causas e efeitos, comparando ideias, procedimentos e resultados. E assim vai encontrando as constantes e as leis que nos permitiram prosperar, quando observadas, e decair, quando ignoradas. Aí está: empirismo organizador maurrasiano.

9

10

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Economia

“A compra da dívida pública pelo BCE vai ter efeitos posítivos, diz Pires de Lima”

Receita fiscal reflecte recuperação da economia Passos receava pronunciar-se sobre algo que não podia garantir. Com a vida económico-financeira a reagir favoravelmente e com a decisão do Banco Central Europeu de comprar dívida aos países em aflição, o cenário mudou.

O Estado arrecadou em 2014 mais 1.768 milhões em receita fiscal do que no ano anterior. A maior subida registou-se no IRS, o que reflecte um maior rendimento das famílias.

DR

De acordo com a Direcção-Geral do Orçamento (DGO), o total de impostos arrecadados em 2014 alcançou os 37.100 milhões de euros. Segundo a síntese da execução orçamental até Dezembro, divulgada pela DGO, a receita fiscal líquida do Estado nos 12 meses do ano passado representaram um crescimento de 2,3% face aos 36.272,9 milhões amealhados em 2013. No entanto, o valor arrecadado em impostos no ano passado ficou 7,4 milhões de euros abaixo do antecipado pelo Governo, que previa que a receita fiscal ascendesse a 37.118,4 milhões de euros em 2014, de acordo com estimativas publicadas no Orçamento do Estado de 2015. Mesmo assim, e comparando com o objectivo previsto no segundo Orçamento Rectificativo para 2014, o crescimento da receita líquida acumulada em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) “foi superado”, aponta a DGO, que justifica o aumento com “a melhoria das condições do mercado de trabalho e o impacto positivo decorrente das medidas de combate à fraude e à evasão fiscal nos impostos directos”. Já no que diz respeito ao Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas (IRC), a receita proveniente deste imposto diminuiu 11,3%, de 5.095 milhões de euros para 4.517,2 milhões. Excluindo os efeitos do RERD e do Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento, “a receita fiscal cresceu [em sede de IRC] 4,1% face a 2013”. Com um PS em crise de confiança, após os resultados desastrosos nas últimas sondagens, o Bloco de Esquerda aproveitou o vazio e foi o único partido a comentar ne-

Redução em 2016

gativamente os resultados fiscais. A crítica dos bloquistas, contudo, não passou dos habituais “chavões”, com o seu líder parlamentar, Pedro Filipe Soares, a considerar que a consolidação orçamental foi feita “à custa de enormes sacrifícios”. “Nunca se pagou tantos impostos no nosso País no que toca a IRS e a IVA, mas já vemos a redução do IRC, e por isso estes dados mostram mais desigualdades”, afirmou Pedro Filipe Soares.

CDS aproveita

Na opinião pública, porém, tanto os comentadores políticos como os analistas económicos consideraram os bons resultados na cobrança fiscal como sinal de que a economia, finalmente, começa a “mexer”, já que os impostos a reflectem proporcionalmente. O facto de o principal aumento de receita fiscal se ter verificado no IRS significa que foi maior o rendimento das famílias ao longo de 2014. Um ligeiro alívio,

Impostos sobre combustíveis continuam altos A queda do petróleo tem levado à redução do preço dos combustíveis, mas a descida poderia ser ainda maior caso a fiscalidade em Portugal não fosse tão elevada. Na gasolina, os impostos já representam 63% do total que os consumidores pagam nas bombas. O País está em 7.º lugar neste ‘ranking’, liderado pela Holanda, e a reforma da fiscalidade ambiental vai agravar esta tendência. É que dois terços do que se paga já vão para o Estado. No gasóleo, Portugal está a meio da tabela, com uma carga fiscal de 51%.

quando se comparam os números do ano transacto com o período negro iniciado com o Orçamento de 2009. Agora que a economia parece recuperar e os sinais financeiros começam a ser positivos, o CDS-PP mostra-se disposto a retomar a sua velha ideia de aliviar o peso dos impostos na vida dos portugueses. Paulo Portas sempre defendeu uma solução fiscal menos pesada, embora ressalvando que isso só poderia ser conseguido quando as contas públicas o permitissem. Parece ter chegado o momento de

aliviar o cinto que tanto apertou os portugueses nos últimos anos – e, como é da praxe na política portuguesa, é possível que o Governo tire da cartola algumas novidades antes das eleições marcadas para Outubro. As afirmações de Paulo Portas chegaram a ser vistas como “discordância” em relação à táctica de Passos Coelho, mas O DIABO sabe que a única desafinação na coligação, a propósito dos impostos, residiu na oportunidade das declarações: Portas achava que o tema devia ser abordado como indutor de confiança junto da opinião pública,

O ministro da Economia, Pires de Lima, declarou há dias que estão reunidas as condições necessárias para uma redução da carga fiscal em Portugal. Pires de Lima disse no Fórum da TSF que na última semana se juntaram três factores fulcrais para que o Governo possa reduzir a pressão dos impostos: a compra de dívida por parte do BCE, a consequente redução dos juros da dívida para novos mínimos históricos e o anúncio da ministra das Finanças sobre a antecipação do pagamento ao FMI. O ministro da Economia defendeu recentemente – e mais uma vez – que o País vai no caminho certo para que seja possível “castigar” menos as famílias. No Orçamento do Estado de 2015, o Governo assumiu o compromisso de devolver em 2016 a sobretaxa do IRS se durante este ano a cobrança de IRS e IVA for melhor do que a meta fixada pelo Executivo. Além disso, comprometeu-se a que todos os ganhos com redução de despesa sejam canalizados para baixar impostos. Na semana passada, a ministra das Finanças disse pela primeira vez que o Governo está confortável com o défice de 2014 e assegurou – também pela primeira vez – que os bons resultados já não se devem apenas ao aumento de receita. “A despesa ficou abaixo do orçamentado”, revelou Maria Luís Albuquerque no mesmo dia em que anunciou o reembolso antecipado do empréstimo português ao FMI. Quanto à medida do BCE, há dias anunciada, o ministro da Economia considera que a compra de dívida pública por parte desta instituição vai ter efeitos positivos na economia portuguesa. Pires de Lima, alerta, no entanto, para os cuidados que devem ser postos na maneira como este dinheiro vai ser gasto. ■

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

Uma questão fundamental que importa discutir

11

Análise

Estados Unidos da Europa ou Europa das Nações? Vejamos, então, no que consiste esta dialéctica entre as posições federais vs. posições intergovernamentais aos níveis económico, social e político. É uma questão, na minha opinião, insuficientemente discutida junto da opinião pública e mesmo nos corredores da política, sendo uma velha luta, de pelo menos 60 anos, entre as pessoas que defendem um modelo federal para a Europa e as que defendem um modelo de cooperação intergovernamental. Estas são as duas grandes balizas da discussão de fundo (poder dos Estados e sua distribuição), embora no seu intervalo existam posições intermédias. As gerações que atravessaram as guerras queriam compreensivelmente chegar a uma plataforma de entendimento, no continente, que permitisse alcançar uma situação de paz perene. Por isso, percebe-se que, nalguns casos, o medo de não se conseguir esse objectivo levou algumas dessas pessoas a tentarem encontrar um “remédio” que fosse definitivo para a situação europeia. Entre outros “remédios”, a federação aparecia-lhes como uma entidade que, por ser supranacional, não permitiria a existência de conflitos, já que o seu poder se exerceria perante todos os integrantes. Noutros casos, as pessoas, desejando a paz, acharam que não se podia destruir séculos de história de formação de nacionalidades, de Estados independentes, em prol de uma entidade terceira. Tinham medo de poder haver convulsões sérias, que pusessem em perigo o equilíbrio necessário entre os países e que isso acabasse com a paz. Preferiam, portanto, defender um outro modelo – o da cooperação inter-governos. Ainda outros, mais próximos da linha federalista, mas percebendo que as coisas não podem, ou não

devem, andar muito depressa, sobretudo em matérias tão sensíveis como as questões dos símbolos nacionais e das soberanias, preferiram seguir a via de uma integração progressiva, sector a sector, esperando que surgisse o fenómeno do ‘spillover’. Isto é, que a integração, sector a sector, fosse empurrando a Europa para uma união que integrasse cada vez mais sectores, até acabar numa união federal. São os neofuncionalistas, inspirados por um Jean Monnet da segunda fase, e que têm influenciado todo o processo de construção europeia, desde há 50 anos para cá. Recorde-se que, por exemplo, Jean Monnet começou por defender a federação a todo o custo, e

acabou por defender a federação a prazo mais dilatado, através da integração por sectores. Por uma questão de rigor, passo, em seguida, a descrever as abordagens mais comuns a este tema, da natureza e do modelo de que se deve revestir a construção europeia. Basicamente, existem quatro abordagens teóricas, em termos de modelo: A abordagem pluralista, que defende a Europa das Pátrias, a Europa da Cooperação Intergovernamental; A abordagem funcionalista, que defende que as relações técnicas e económicas levarão os Estados a cooperar mais estreitamente; A abordagem neofuncionalista, que diz que a dimensão me-

ramente técnica e económica é redutora, ou insuficiente, e que a construção europeia exige uma dimensão política; A abordagem federalista, que defende a constituição formal de uma federação de Estados, governada por órgãos centrais, supranacionais. Em primeiro lugar, creio que o pecado original desta discussão, não no seio dos fundadores, mas nos seus “herdeiros”, é a mistura que se faz entre os temas sociais, económicos e políticos. Adopta-se mentalmente um modelo e esse torna-se geral para todos os segmentos da vida em comunidade. A solução que defendem para um dos campos, defendam-na para os outros todos.

Ora, se existe um entendimento, quase generalizado, pelo menos enquanto não surgir a tal crise, de que a integração – leia-se federação económica e financeira – é uma boa ideia, porque não assumi-la sem arrastar outros segmentos da vida em sociedade? Se quisermos extrapolar esse modelo de organização, de carácter económico-financeiro, para outros âmbitos, a questão já não é tão pacífica, ao menos nos países onde este tema é abertamente discutido. O que não é o caso de Portugal, onde estas questões fundamentais não são discutidas. ■ * Doutorado em Estudos Europeus (dominante: Economia) pela Universidade Católica Portuguesa.

DR

MIGUEL MATTOS CHAVES*

A propósito das eleições gregas e do défice democrático da União Europeia, proponho aos leitores uma reflexão sobre um problema de fundo da organização a que pertencemos desde 1986, que todavia não está resolvido; e, bem pior, está, nas costas das populações, a ser alvo de maquinações no sentido de a fazer encaminhar no sentido da Federação, repito, sem a devida autorização dos Povos dos diversos Estados-Nação da Europa.

12

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Memória

“O processo o regicídio teve um

Há 107 anos, o R Faz esta semana 107 anos, a 1 de Fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe foram assassinados a tiros de carabina e de pistola no Terreiro do Paço. Os regicidas foram abatidos no local, mas o processo perdeu-se — e os mandantes do crime nunca chegaram a ser chamados à responsabilidade. ano, isto é, uma semana antes da implantação da República. Os cinco volumes do processo foram guardados num cofre, no gabinete do ministro da Justiça do novo Governo provisório, Afonso Costa. Desconhece-se o que lhe aconteceu a seguir. Um relatório sobre as conclusões da investigação, feito em 1911, foi entregue à rainha D. Amélia, exilada em França. Mas essas conclusões não esclarecem o essencial: quem foi responsável pelo regicídio? Na fase final da monarquia portuguesa, a corrupção era geral. Começava no mais humilde funcionário público e chegava às elites e até à própria corte. Os chefes dos principais partidos do regime, Hintze Ribeiro e José Luciano de Casto, não alternavam só na chefia do governo: quando um estava no poder, o outro presidia ao conselho de administração do Crédito Predial, um dos principais bancos da época. O rotativismo - a al-

O rei D. Carlos

D. Manuel II e a rainha-mãe D. Amélia pouco depois do regicídio da Carbonária e faziam parte dos grupos civis armados organizados para participarem na revolução republicana, aguardada a todo o momento. Apesar do horror do crime, o processo judicial do regicídio teve um destino bem português: desapareceu. Foi aberto logo a seguir aos acontecimentos, a 3 de Fevereiro de 1908, e dado por terminado pelo juiz Almeida Azevedo em Setembro de 1910. O magistrado entregou os autos ao primeiro-ministro Teixeira de Sousa a 27 de Setembro daquele

ternância no poder de Regeneradores e Progressistas - tinha desacreditado a política monárquica. Quando D. Carlos tentou acabar com o rotativismo e nomeou primeiro-ministro um dissidente do Partido Regenerador, João Franco, a classe política ficou alarmada. E quando João Franco, em 1906, pediu ao rei que dissolvesse o Parlamento, sem convocar novas eleições, choveram os apelos à revolução contra a "ditadura". Na viragem do século XIX para

DR

mio pelo seu talento como atirador. Deixou dois filhos pequenos. Alfredo Luís da Costa tinha sido empregado do comércio, era director de um jornal sindical e editor de panfletos revolucionários. Armado com uma pistola automática Browning de 1900, saltou sobre a carruagem que transportava a família real e disparou sobre o rei e o príncipe moribundos, atingindo ainda num braço o infante D. Manuel. Foi Costa quem levou com o ramo de flores empunhado por D. Amélia, na ânsia de tentar proteger o marido e os filhos. Ferido pelos tiros disparados por D. Luís Filipe, Costa foi também atingido à espadeirada na cabeça e na cara pelo tenente Figueira, que escoltava o rei. Levado para a esquadra da polícia instalada no edifício da Câmara Municipal, a dois passos do local do crime, foi ali abatido a tiro à queima-roupa, por um desconhecido. Os dois regicidas eram membros

DR

Na tarde daquele sábado, o rei D. Carlos, a rainha D. Amélia e o Príncipe Real D. Luís Filipe desembarcaram no Terreiro do Paço vindos de Vila Viçosa. Aguardava-os uma extensa comitiva encabeçada pelo infante D. Manuel (que ficara em Lisboa) e o chefe do Governo, João Franco. O clima na capital era de grande tensão. D. Luís Filipe sabia-o e por isso trazia à mão o seu revólver de oficial do Exército. Apesar das ameaças, o rei quis fazer passar um sinal de tranquilidade e exigiu um landau, uma carruagem aberta. D. Amélia sentiu o perigo no ar. Passados poucos minuto, quando a família real chegava perto do lado ocidental da praça, ouviram-se tiros. Um homem de longas barbas fez pontaria com a carabina que trazia escondida por baixo da capa e acertou no pescoço do rei. O caos instalou-se a multidão entrou em pânico. O assassino voltou a disparar e atingiu o ombro do rei. Outro atirador ficou o pé no landau e disparou uma pistola sobre o monarca tombado. A rainha gritava: «Infames!» e batia com um ramo de flores no homem que disparava contra a sua família. D. Luís Filipe ergueu-se e puxou do seu revólver. Ainda disparou sobre o atacante, imediatamente antes de receber um tiro no peito. Logo a seguir foi atingido no rosto por um tiro de carabina. A bala saiu pela nuca. O irmão mais novo, D. Manuel, ainda tentou estancar o sangue da cara do irmão, mas sem êxito. Portugal acabava de perder o rei e o príncipe herdeiro num atentado terrorista. Os dois regicidas foram abatidos durante a confusão. Manuel dos Reis Buíça, chamado “o homem do capote” por trazer um capote de varino, escolhido para esconder a carabina Winchester (moderníssima: de 1907) que provocou os ferimentos mortais no rei e no herdeiro, foi morto a tiro depois de ter sido ferido à espadeirada pela polícia. Era professor do “ensino livre”, isto é, de uma escola privada laica, e tinha sido sargento do exército, onde recebera um pré-

o século XX, tanto o Partido Regenerador como o Partido Progressista foram fraccionados por graves cisões. Em 1905, a dissidência progressista, chefiada por José Maria de Alpoim, tornou-se uma força política em derrapagem acelerada para a esquerda, defendendo uma “monarquia democrática”. Desde a revolução fracassada de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, que os republicanos tinham iniciado uma campanha de propaganda, aproveitando as divisões dos monárquicos

Costa sobreviveu apenas alguns e os escândalos políticos e financeiros para comprometerem a imagem do rei - e com ela o próprio regime monárquico. Quando o Governo de João Franco enveredou pela repressão – apreensão e proibição de jornais, prisão de bombistas e de destacados repu-

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

13

Memória

destino bem português: desapareceu”

blicanos e anarquistas – facilitou a formação de uma aliança improvável. Saudosos do rotativismo, dissidentes dos partidos monárquicos, republicanos, anarquistas e carbonários juntaram-se numa conspiração. A 21 de Janeiro de 1908, a prisão de alguns cabecilhas dessa conspira-

O regicida Buíça, abatido pouco depois do crime ção, como António José de Almeida, João Chagas, França Borges e o chefe da Carbonária, Luz de Almeida, precipitou as coisas. Os conspiradores que tinham escapado marcaram o dia 28 de Janeiro para o golpe que ficou conhecida como “do elevador da Biblioteca”.

DR

s minutos às suas vítimas

DR

O primeiro-ministro João Franco Os chefes revolucionários tinham marcado encontro para o elevador da Biblioteca (já desaparecido), que ligava a Praça do Município à biblioteca pública junto à actual Faculdade de Belas Artes, perto do Chiado. A revolta falhou e a polícia prendeu 120 insurrectos. Os principais responsáveis, vendo a confusão, entraram para o elevador, que não estava a funcionar. Um polícia habituado a patrulhar as redondezas, sabendo que o elevador estava avariado, estranhou ver gente no interior. Quando reconheceu o mais notório líder republicano, o deputado Afonso Costa, o "cívico" não hesitou em dar voz de prisão a todo o grupo. Entre os presos do elevador da Biblioteca estavam também Egas Moniz (Prémio Nobel da Medicina em 1949) e o visconde da Ribeira Brava. Na sequência do “golpe do elevador da Biblioteca”, o governo de João Franco publicou um decreto prevendo a expulsão do reino dos acusados de crimes políticos. Os visados fizeram espalhar que o "ditador" se preparava para os mandar para o degredo em Timor e Angola. Ao

DR

DR

D. Manuel II viu morrer o pai e o irmão e foi ferido no atentado

DR

O atentado de 1 de Fevereiro de 1908 foi reproduzido graficamente em jornais e revistas de todo o mundo

D. Carlos e D. Luís Filipe em câmara ardente na igreja de S. Vicente de Fora promulgar o decreto, em Vila Viçosa, D. Carlos terá comentado: “Estou a assinar a minha sentença de morte.” A sentença de morte do rei já estava decidida muito antes. Um livro que circulou nas semanas anteriores ao regicídio, intitulado 'Marquês da Bacalhoa’, era a caricatura do Portugal da época. Além de acusações injuriosas para o rei e a rainha, passava a mensagem de que para acabar com

tal estado de coisas não bastava matar o ministro Nunes (João Franco): era preciso liquidar o marquês (o rei) e “acabar com a raça” matando os “Bacalhoasinhos”. A obra revelou-se profética: os conspiradores tinham concluído que não bastava derrubar o governo, o seu objectivo passou a ser assassinar o rei e a família real. A 1 de Fevereiro de 1908 passaram ao acto. ■

DR

O príncipe herdeiro D. Luís Filipe

DR

Regicídio

14

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Viver

Fuja!

Sofrível

Interessante

Bom

Muito Bom

SUGESTÕES

LIVROS

IV Ciclo de Conferências do Colóquio Nacional sobre Raul Lino em Sintra Data: 4 e 5 de Fevereiro Local: Palácio de Seteais e Centro Olga Cadaval

A nova ordem mundial

A iniciativa realça a intervenção do arquitecto Raul Lino (1879-1974) em Sintra e em Portugal, decorrendo em 4 ciclos de conferências ao ritmo das 4 estações. O I ciclo teve lugar a 3 e 4 de Abril no Palácio de Seteais, o II ciclo a 25 e 26 de Junho na Casa dos Penedos, o III ciclo aconteceu no Paço Real da Vila de Sintra e no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas a 17 e 18 de Outubro e o IV ciclo de Inverno tem lugar no Palácio de Seteais e no Centro Cultural Olga Cadaval a 4 e 5 de Fevereiro de 2015. A Capital do Romantismo, Património da Humanidade na Categoria única de Paisagem Cultural habitada, acolheu ainda visitas, itinerários e convívios culturais em lugares icónicos, celebrando assim 2014 como ano simbólico da presença de Raul Lino em Sintra, ao assinalar os 40 anos do seu falecimento e os 100 anos da inauguração da Casa do Cipreste, um dos cerca de 700 projectos assinados pelo arquitecto da Casa Portuguesa. As inscrições são gratuitas e limitadas, devendo ser feitas para o endereço electrónico: [email protected]

JOÃO VAZ

A Paz de Vestefália e as suas consequências são o ponto de partida de “A Ordem Mundial”. De uma Europa Central arrasada por trinta anos de conflito, saiu uma nova ordem internacional que se foi progressivamente estendendo às mais díspares regiões do globo e que acabaria por ser posta em causa alguns séculos mais tarde. Inicialmente confinada à Europa, a única realidade que interessava, acabaria exportada para o Extremo Oriente por um Japão apostado em ficar com o melhor da modernidade, mas sem se afastar da identidade cultural própria. Depois, faria carreira em África e na Ásia após as descolonizações, feitas em grande parte por líderes educados no Ocidente e familiarizados com as suas produções ideológicas que transplantaram até às suas paragens. Feliz ou infelizmente, a paz conseguida em 1648 não foi perpétua e os sonhos kantianos demoram a realizar-se. Os grandes conflitos do século XX estilhaçaram equilíbrios arduamente conseguidos e trouxeram para o palco novos actores, entre os quais alguns pouco ou nada previsíveis, como é o caso do Estado Islâmico, alvo da atenção de Henry Kissinger. A posição dos EUA face a tais actores, emergentes ou consolidados, é um dos pontos de maior interesse deste trabalho. A política

externa da cidade sobre a colina é aqui dissecada, assistindo o leitor à progressiva evolução da mesma, desde um isolacionismo proclamado pela doutrina Monroe e seguido de forma mais ou menos intransigente, mesmo quando Theodore Roosevelt fez questão de mostrar a força desta nação abençoada, até ao intervencionismo pós-Segunda Guerra Mundial levado a cabo por praticamente todos os presidentes. Naturalmente, tal protagonismo conduziu a conflitos inevitáveis com estados igualmente desejosos de ocupar aquele que consideram ser o seu lugar no mundo, daí que encontremos também nestas páginas a história já contada da Guerra Fria, apesar de tudo marcada por uma racionalidade comum

Excelente

aos seus intervenientes, a mesma que falha quando entram em jogo as forças que não se adaptaram ou que não viveram o iluminismo ocidental. Nesse âmbito, a relação dos norte-americanos com o Irão há-de ser sempre um exemplo a reter, a passagem de um país aliado e com um líder desejoso de modernização a uma república teocrática e assente em categorias distintas da modernidade ocidental e, por isso, aparentemente estranhas a uma liderança ocidental imbuída de pensamento racionalista que seria rejeitado do lado de lá. Curioso nestas análises de Henry Kissinger, e revelador da perda de importância da Europa, é o espaço concedido ao velho continente. Aparece aqui completamente secundarizado pelo Oriente, nomeadamente pelos colossos chinês e japonês e pelo mundo árabo-islâmico. Nós, europeus, para nosso mal, somos hoje uma realidade periférica e com um peso cada vez menor no mundo, fruto de sucessivas lideranças incapazes, como ainda se viu recentemente a propósito dos ataques terroristas de Paris. Goste-se ou não, nos anos trinta e quarenta o Ocidente teve Churchill e Roosevelt no combate contra os totalitarismos e hoje temos Obama e Cameron. Seria risível se não fosse dramático. Nós, europeus, somos hoje uma entidade sem alma e sem memória, onde só vale a magia do capital, seja exterior ou injectado pelo BCE, de forma a produzir milagres e amanhãs que cantam pelas mãos destes socialistas reciclados que, até ao pé do autor desta “Nova Ordem”, não passam de pequenos anões do ponto de vista intelectual. ■ Livro

“Versos de boa qualidade, versos de má qualidade e o caos”. Os três tipos de versos existentes. Mesmo para o verso livre é preciso conhecer a arte da versificação, pois aquele não se pode definir apenas pela negativa. O que leva à questão da arte, a uma das questões: para realizar qualquer inovação é preciso conhecer e dominar a tradição. É por isso que as revoluções de outrora eram conseguidas e marcantes. É por isso que as actuais não são mais que ficções mal encenadas. Não se conhece a tradição. Fazê-lo exigiria trabalho e perseverança. E os nossos dias são de “arte” instantânea, de fama a alta velocidade, desprovida da reflexão cujos frutos amadurecem lentamente. Ora, isso é algo que seguramente Baudelaire conhecia. Tal como a noção de pecado, tão transversal à sociedade – “a inflação é o pecado – diria Soljenitsine. Hoje em dia, pelo contrário, já não há pecados, apenas questões de gosto, apesar de este andar tão

mal educado, de se pensar que tudo pode ser legítimo, que tudo pode ser arte. Não pode, evidentemente, e como escreve Roger Scruton, um dos mitos actuais é precisamente esse, o do progresso nessa área. Se tal conceito já é muito discutível nas ciências sociais (a não ser para os infelizes que se doutrinam em certos institutos e por lá continuam a fazer “obra” à custa do erário público), ainda mais o é nas artes. Aqui, naturalmente, um dos problemas é o analfabetismo que grassa entre os seus artífices (e chamar-lhes assim já é honrá-los), os quais produzem sem conhecerem o que foi o mundo antes deles. Tamanha falha percebe-se bem ao lermos autores como T. S. Eliot ou Ezra Pound. Basta estes dois para percebermos o que perdemos quando deixámos este mundo: ambos foram inovadores, mas com os pés bem assentes na tradição. Dificilmente haverá um monumento comparável aos “Cantos” na poesia do século XX, mas a solidez das suas fundações é algo de admirável. Tal como o é a produção de T. S. Eliot, que disserta de forma capaz sobre Baudelaire, Wordsworth ou Coleridge – embora, natural-

mente, de forma sujeita a discussão (mas se se pode discutir é, precisamente, por existir conteúdo na sua análise) –, como reflecte sobre a essência de uma comunidade cristã, num debate que bem útil seria à Europa dos nossos dias, tão carente de uma identidade própria, ou melhor, carente de redescobrir essa identidade, pois ela está lá. O resto são clássicos, é Dante, é Yeats, é o sentido da cultura, da grande e valiosa cultura, aquela de que eram feitos os nossos ancestrais e não dessa cultura de pacotilha que hoje enche

T. S. Eliot livrarias e televisões, num mundo onde nunca se escreveu e produziu tanto e com tão pouco talento associado. ■ J.V. Livro

DR

Ensaios de T. S. Eliot

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

15

Viver CINEMA

SUGESTÕES

A Menina Júlia PAULO FERRERO

Miss Julie Título original: Miss Julie Realização: Liv Ullmann Com: Colin Farrell, Jessica

Morton

Chastain, Samantha

NOR/GB, 2014, 129 min. Estreia: 15 de Janeiro de 2015.

“Miss Julie”, realizado pela norueguesa e bergmaniana Liv Ullmann (e que bem que isso aqui se nota) e tal como a peça que lhe

serve de musa, condensa todo o imaginário, ou quase todo, do genial autor sueco (universal) que foi August Strindberg, cuja pena tremendamente dramática, cruel, tantas vezes misógina e masoquista (como desta vez), roça, não poucas vezes, a loucura e um pessimismo degenerativo como que diabólico. A diferença de classe social, o fanatismo religioso, etc., personagens marionetas de uma espécie de pantomina consciente permanente, à qual a Natureza e Deus servem de contraponto; eis a mira da sua escrita anti-convencional e arrojada, politicamente incorrecta, como agora se diz.

Nessa perspectiva, o filme cumpre integralmente, através de uma encenação meticulosa e perfeita, que privilegia a palavra e a expressão, não fossem a palavra e a emoção elementos distintivos da escrita superlativa do sueco: “Miss Julie” é, portanto, um filme da palavra e de actores. Só que a Irlanda não é a Escandinávia (mau grado a austeridade da mansão senhorial onde as cenas se passam, e da beleza fria, mais outonal do que estival, dos cenários naturais), nem Colin Farrell mais o seu sotaque irritante chegam sequer aos calcanhares (pelo menos desta feita) de Jessica Chastain e Samantha Morton, ambas a merecerem aqui, claramente, nomeações aos prémios da Academia (a primeira, pelo seu melhor e mais difícil papel até hoje, e a segunda tirada a papel químico de um filme de Carl Dreyer – haverá melhor elogio?). É um filme manco, que fica aquém do que podia ser: a versão definitiva, em cinema, de “Miss Julie”. Mesmo assim há momentos sublimes, como a cena da sedução, logo do começo, a da consumação no quarto do criado, e da erupção violenta, na cozinha, com uma Jessica Chastain magnificamente desamparada entre a culpa e o desespero, o arrependimento e a perdição. Como magnífico é aquele portão, símbolo-fronteira entre o público e o privado, o íntimo e o ostensivo, a menina e a mulher. ■ Filme

EXPOSIÇÕES

“O Nacional está a arder!”

DR

entender o impacto que teve esta calamidade na cidade de Lisboa e no País, para além das consequências que é possível detectar quer no funcionamento da companhia residente, quer no longo interregno que marca a sua reconstrução e reabertura, em 1978. Realizada a partir das colecções existentes na Biblioteca-Arquivo do TNDM II e em várias outras bibliotecas, arquivos e instituições nacionais detentoras de fontes documentais relativas à história do Teatro Nacional D. Maria II, a exposição coloca em paralelo o registo dramático do incêndio e o que viria a ser o princípio do fim para a sua companhia residente, até ao momento em que o governo determina a imediata reconstrução

Já há algum tempo que não tínhamos notícia de um super-grupo, formado por nomes bem conhecidos da música que mais gostamos. Mas b9 InViD (dos Et Nihil), Thomas Nola, Erin Powell (dos Awen) e David E. Williams juntaram-se para alterar esse cenário e criar os The Muskets, que têm já um primeiro disco para apreciarmos. Falamos de “Allegiance to no Crown” lançado pela Old Europa Cafe, que paradoxalmente conta com a participação especial do Britânico Andrew King. De qualquer forma este vinil de 10’’ é suficientemente interessante para sobreviver a qualquer paradoxo. Temos aqui o recuperar de músicas de batalhas do período pré-independência dos Estados Unidos, tratadas com um toque contemporâneo dado pela mistura de ‘dark folk’, ‘pop’ marcial e psicadelismo que cada membro deste colectivo imprime na sonoridade que apresentam pela primeira vez. Como seria de esperar, é um trabalho com momentos épicos de encorajamento, mas também com espaço para a melancolia dos camaradas perdidos. Um disco curioso que importa descobrir, nem que seja pela importância dos seus autores. A edição é limitada apenas a 300 exemplares, em vinil vermelho. H.P. Disco

Dream Awakening Intérprete: Oberon Editora: Prophecy Productions

Até 31 de Julho está patente no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, a exposição “O Nacional está a arder!” O incêndio de 1964 e o fim de uma época, programada no âmbito do projecto Memória (1964), que recupera imagens e testemunhos que nos permitem entender o impacto que teve esta calamidade na capital e no País. A entrada é livre. Em 1964 o Teatro Nacional foi palco de um terrível incêndio que destruiu praticamente a totalidade do edifício. O ataque ao fogo foi rápido e eficaz mas todo o palco e a sala se perderam, incluindo o teto pintado por Columbano em 1894. Também ardeu o vasto guarda-roupa da Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, concessionária do Teatro desde 1929, acelerando o declínio desta empresa. Salvou-se o arquivo histórico, retirado à pressa por uma porta lateral, as paredes exteriores, o átrio de entrada e o salão nobre. A cidade ficou em choque com o desaparecimento de um espaço tão cheio de memórias, situado num local tão visível e importante como a Praça do Rossio. Em 2014, ano em que se assinalaram 50 anos sobre o incêndio que destruiu o Teatro Nacional D. Maria II, na madrugada do dia 2 de Dezembro, o TNDM II recuperou imagens e testemunhos que nos permitem

Allegiance to no Crown Intérprete: The Muskets Editora: Old Europa Cafe

do edifício e se colocam em cima da mesa várias questões – técnicas e financeiras, mas também políticas e socioculturais –, que viriam a revelar-se polémicas e a promover amplos debates. Segundo a comissária da exposição, Cristina Faria, a iniciativa procura mostrar as implicações do incêndio “no edifício e na vida da sua companhia residente, através de documentação de arquivo e de testemunhos orais de quem conheceu e habitou o espaço em momentos distintos – antes e depois do sinistro – procurando ‘reconstruir’ as narrativas possíveis sobre o acontecimento e manter viva a memória do que não pode voltar a acontecer”. ■

Foi no longínquo ano de 1997 que o EP auto-entitulado dos Oberon se tornou num dos primeiros lançamentos da recente Prophecy Productions. Mais de 15 anos depois, tendo-se tornado uma das maiores e melhores editoras cobrindo também os estilos musicais que mais apreciamos, seria no mínimo lógico que o regresso às edições dos Oberon fosse também feito aí. “Dream Awakening” é o primeiro disco dos Oberon em cerca de 13 anos, tendo lançado alguns trabalhos depois do referido EP de estreia. Mas o hiato era já demasiado longo, que este disco vem finalmente terminar. Misturando elementos de ‘neofolk’, ‘artrock’ e ‘avant-garde’, os Oberon apresentam-se em forma para esta “segunda vida”. O disco explora a quimera do Homem para se conhecer a ele próprio, e figura-se como um muito bom regresso às edições por parte do projecto norueguês. H.P. Disco

16

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Opinião

Gente boa TOCAR A REBATE

Eduardo Brito Coelho

O nosso país tem, e sempre teve, gente boa. Vivemos hoje tempos difíceis, em que muitos de nós sobrevivem amargurados, sujeitos a uma classe intermediária de políticos parasitas e de ‘boys’ que tomaram conta do aparelho de Estado, das empresas públicas, da comunicação social “de referência”, da banca, etc. No meio deste sufoco e das constantes lavagens ao cérebro que nos tentam fazer, “vendendo gato por lebre”, esquecemo-nos, por vezes, de prestar a devida homenagem a alguns dos nossos melhores. É com este sentimento que aqui recordo três bons portugueses, que nos deixaram recentemente: Nella Maissa, casada com o judeu português Renato Maissa e ela própria judia sefardita, instalou-se permanentemente no nosso país em 1939. Pianista de grande mérito, senhora de uma cultura ímpar, ninguém como ela soube divulgar, em Portugal e no estrangeiro, a música erudita portuguesa. Recordo aqui, em particular, as gravações que Nella Maissa efectuou para a etiqueta Portugal Som (já desaparecida) das sonatas e concertos de João Domingos Bomtempo (1775-1842). Foi desta forma que muitos portugueses (em que se inclui o autor destas linhas) tomaram conhecimento e passaram a apreciar a música de Bomtempo e de outros compositores portugueses. O Eng.º Sousa Veloso preparou e apresentou durante 31 anos (de 1959 a 1990) o programa TV Rural na RTP. Pessoa que irradiava simpatia, o Eng.º Sousa Veloso batalhou contra o esquecimento do mundo rural, mostrando a importância do mesmo para o desenvolvimento do nosso país, divulgando o que de melhor se fazia em Portugal em termos de agricultura, indústria agro-alimentar, silvicultura, etc, assim como o que poderia ser melhorado, e apontando pistas neste sentido. O Eng.º Sousa Veloso privilegiou sempre a perspectiva técnica, evitando demagogias e subordinações ao pensamento único, mesmo no período do PREC e da Reforma Agrária. Anthimio de Azevedo, o “explicadinho” da meteorologia, foi também uma referência televisiva em termos de simpatia e de profissionalismo. Curioso de tudo o que tinha a ver com as Ciências Geofísicas, Anthimio de Azevedo era um excelente comunicador e divulgador científico. Ao ouvi-lo, percebia-se facilmente que estava na sua natureza aprender (sempre, toda a vida!) e ensinar (de forma rigorosa mas clara, com respeito pelos conhecimentos e crenças de quem o escutava). Era um regalo ouvi-lo sobre temas tão aliciantes, mas também preocupantes, como o aquecimento global, as mudanças climáticas, a poluição atmosférica, o futuro da Terra, etc. ■

DR

Coronel Engº (res)

Para onde vai o chucrute? Manuel Silveira da Cunha Em tempos idos viajava-se a pé, carroça ou carruagem; o viajante, ignoto ou distinto, não tinha os confortos de hoje, de forma que tinha de se aliviar nas bermas das pouco movimentadas estradas. Segundo Umberto Eco diz, no seu Cemitério de Praga, divertindo-se claramente com a alusão, sabia-se perfeitamente quando o viandante vindo de outras paragens, como a França ou Itália, entrava em territórios dos povos alemães. O volume descomunal das poias que ornamentavam as bermas era prova bastante de que o povo era tedesco! Segundo Eco, os alemães alimentando-se sobretudo de doses industriais de salchichas, regadas com hectolitros de cerveja e, sobretudo, comendo barris pantagruélicos de couves fermentadas, o célebre chucrute, defecavam em proporções homéricas. Esta constatação de facto sobre as características do povo alemão persiste até hoje. Existem dois tipos clássicos de germânicos, o boçal defecador e o intelectual angustiado e profundo. Mesmo que este também se abolete com couves, salchichas e cervejas, deve-se-lhe, e para gáudio de todos nós, grande parte da filosofia, música e literatura europeias. Schütz, Bach, Wagner, Kant, Schopenhauer, Nietzsche, Goethe, Schiller, Heine, Marx, Beethoven, Mozart, Wittgenstein, Gauss, Einstein, são génios alemães e austríacos, distinção aliás bem recente. Infelizmente, apesar de uma elite sublime, a maioria do povo alemão pertence à classe dos comedores avantajados de chucrute e defeca-

dores implacáveis. Infelizmente, é essa casta maioritária de descendentes dos alemães que povoavam as bermas das estradas de antanho com dejectos olímpicos. Infelizmente, a política alemã recente foi forjada precisamente pela segunda classe alemã. Uma classe de arrivistas que chegou ao poder ao arrepio das lições de Frederico o Grande, homem que falava com o confessor em latim, com a corte e ministros em francês e em alemão com o cavalo. Foi assim que a Europa pós Adenauer e Koll tem sido marcada por uma geração de comedores de chucrute. Os ideais da solidariedade europeia têm sido substituídos pelo princípio do stock de chucrute. Desde que exista chucrute em quantidade nos estômagos alemães e, sobretudo, nas barrigas dos banqueiros alemães, a actual classe dirigente alemã está feliz. Não existe memória, não existe lembrança na Alemanha de como os europeus foram solidários para com a Alemanha. A Alemanha, que nos atormentou desde o império romano, responsável por um sem número de guerras, provações, extermínios e pestes, das quais as duas últimas guerras mundiais são acontecimentos demasiado recentes, continua persistindo numa senda de crescimento à custa da miséria alheia. Dirá o leitor (eu próprio já o pensei): mas a Alemanha, trabalhadora e honesta, que soube poupar a tempo, qual formiga, apenas está a cuidar do que poupou. As cigarras mandrionas do sul da Europa, as tais cigarras cujas defecações modestas não retiravam aos cronistas de viagens de antanho exclamações de gáudio e respeito, merecem o castigo da sua vadiagem, merecem sofrer o castigo de viverem acima das suas possibilidades no Verão, que agora é do nosso descontentamento, uma vez chegado o Inverno da crise. Analisando bem o assunto, e escutando

os especialistas, sabendo que Paul Krugmann não é um perigoso comunista, chegamos à conclusão de que, mais uma vez, a Alemanha, entregue à classe do chucrute, não é inocente. A crise calhou muito bem, os empréstimos a juros agiotas serviram, sobretudo, para resgatar a banca alemã, a braços com uma esmagadora crise. Em vez de se fazer como nos Estados Unidos, em que a impressão maciça de dinheiro serviu para salvar a finança primeiro, mas acabou por chegar à economia depois, no caso da Europa não se salvaram os Estados devedores sem exigir uma austeridade suicida, não se imprimiu dinheiro, algo que desvalorizaria a banca alemã, credora de muitos biliões de euros. Uma política que afundou a Europa na deflação e na crescente desvalorização do Euro. No fundo, algo que se esperava desde que esta União Europeia deixou de ser uma verdadeira união mas uma espécie de colonização dos outros estados pela Alemanha, sempre à espreita da hegemonia histórica desde que as tribos germânicas tentaram destruir a civilização latina. Ou seja, desde que os comedores de chucrute tomaram conta do poder na Alemanha. Os ventos de mudança na Grécia podem ser decisivos, uma vez que em países como Portugal não existem elites dirigentes, antes pelo contrário, existem apenas traidores, cobardes e corruptos. Hoje, Domingo, quando escrevemos, não sabemos quem mandará na Grécia. Esperamos que seja a esquerda radical, porque essa, pelo menos, parece ter espinha dorsal e faz frente aos comedores de chucrute regada a cerveja que dominam a Europa de hoje, apesar das reticências e da verdade da real politik que se seguirá e nos faz duvidar das reais intenções dessa esquerda. O que é certo é que é tempo de reduzir o stock de chucrute nos bancos alemães. ■

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

“O governo português tem de sair da sua modorra cobardolas”

17

Opinião

Defesa e Segurança – curtas e grossas (IV) BRANDÃO FERREIRA Tenente-Coronel Piloto-Aviador

A Espanha, único país com o qual voltámos a ter fronteiras desde a conquista de Ceuta, em 1415, continua a fazer-nos má vizinhança por causa das Ilhas Selvagens. A questão última gira à volta de uma área de 10.000 Km2, que uma proposta do Estado Espanhol sobre o alargamento da Plataforma Continental das Canárias nos iria “roubar”, caso seja aprovada. Está na altura de o que resta do governo português sair da sua modorra cobardolas, a que normalmente se remete, e fazer qualquer coisa com verdadeiro significado político. Dou alguns exemplos. Colocar a resolução do problema de Olivença em cima da mesa da próxima cimeira Luso-Espanhola (não “Ibérica”). Enviar uma ou duas fragatas e instalar, temporariamente, um pelotão de fuzileiros e uma bataria de mísseis antiaéreos nas Selvagens (o que só lhes fazia bem: respiravam ar puro e observavam a natureza no seu esplendor – caso ainda haja dinheiro para lhes pagar as ajudas de custo, bem entendido). Em simultâneo, uma esquadrilha de F-16 “voaria” até Porto Santo onde faria umas missões de treino aos “abibes” (filhotes dos Falcões – nome dado aos pilotos em treino na esquadra do mesmo nome). Tal não parece má ideia, mesmo que pudesse causar alterações do foro psicossomático aos deputados do Bloco de Esquerda, dado o seu conhecido credo pacifista. Tinha ainda a vantagem de aproveitar as horas de voo disponíveis à pala da venda dos 12 F-16 à Roménia – quando os romenos se forem embora, a esquadra fecha… Finalmente aproveitava-se para fazer um exercício de mobilização parcial dos cidadãos até aos 35 anos, que estejam na “reserva territorial”, o que sempre dava para

explicitar, à luz do dia, o caos que uma tal decisão provocaria! Etc.. Acredito, porém, que nada disto se venha a passar; inclino-me, por outro lado, que se estabeleçam, à sorrelfa, umas conversações quaisquer em que os governantes “tugas” vão ceder em toda a linha, inventando-se uma contrapartida piedosa, para salvar a face. ***** Abandonado que foi, por um governo, o programa dos “Navios de Patrulha Oceânica” da Classe Viana do Castelo, que foi uma concepção da Armada Nacional, por via do encerramento dos estaleiros sitos na cidade que lhe deu o nome, vai agora comprar-se quatro patrulhas (“Stanflex 300)”, em segunda mão, à Marinha do Reino da Dinamarca. Tal desiderato já foi aprovado na revista Lei de Programação Militar – sendo bom lembrar que, até hoje, nunca uma lei destas foi cumprida na sua plenitude, estando constantemente a ser revistas, significando na prática ir-se cortando ou cancelando programas… É lamentável que tudo isto tenha acontecido. Primeiro, porque a Marinha não vai obter o que pretendia e melhor cumpria os requisitos operacionais estabelecidos; depois, porque é material já usado, com uma expectativa de vida operacional limitada e implica mais um sistema logístico dispendioso; por último, porque o país vai perdendo toda a capacidade de construção naval e de manter conhecimentos nesta área. Ficamos, assim, sem qualquer autonomia e inviabilizando qualquer capacidade de exportação futura. A cegueira estratégica das “elites” governantes anda ao nível das fossas abissais. ***** A saga dos submarinos continua. A confusão também. Esta confusão é, aliás, muito conveniente a quem, neste âmbito, não tem bons propósitos. Uma distinção é prioritária fazer à cabeça: a de que a necessidade e a qualidade dos submarinos não têm

nada a ver com eventuais actos de corrupção ou atropelos legais, na fase da sua aquisição. Ora esta distinção não aparece clara nem ninguém fala nela, o que parece ser de propósito. É preciso deixar bem claro, e assentar, que os submarinos são absolutamente necessários aos interesses nacionais; ao conceito estratégico de defesa nacional, aprovado, e às missões, dispositivo e sistema de forças que dele decorrem. Aliás, deviam ser três submarinos e não dois, como inicialmente aprovado. É necessário ainda não haver dúvidas de que a qualidade dos submersíveis nunca esteve em causa, pois são do melhor que se fabrica e permitem às FA cumprirem um leque alargado de missões, com uma flexibilização táctica notável e, até, com alguma capacidade estratégica. O seguinte ponto a esclarecer é que, os militares nada têm a ver com o negócio da compra dos submarinos, pois há muito que o poder político teve o “cuidado” de retirar os organismos militares do circuito da compra e venda de equipamento militar. Por último, o que parece ter corrido bastante mal é o processo das contrapartidas que são oferecidas/negociadas, a fim de tornar o contrato mais atraente e, desse modo, influir na decisão. Estas contrapartidas costumam tomar a forma de investimentos, ou compras noutras áreas de negócio; transferência de tecnologia; incorporação de componentes subcontratados a empresas nacionais, etc.. Acresce, neste caso, o facto de o financiamento da compra dos submarinos ter sido feito através de bancos em sistema de “leasing”. Enfim, entre decisão e negócio o assunto arrastou-se por cerca de duas décadas… Se no meio disto tudo foram pagas “luvas” ou “comissões” indevidas, a pessoas singulares ou para eventuais “sacos azuis” partidários ou, por via disso, houve qualquer outro dolo, ou dano; se houve má-fé nas contrapartidas, ou estas apenas serviram de “cortina de fumo” para “inglês ver”, ou qual-

quer outro ilícito, cabe às autoridades judiciais investigarem e actuarem em conformidade. Haver empenhamento político para que as coisas se esclareçam; emendar procedimentos/legislação (ou não) e castigar eventuais infractores, é o normal que se deve exigir. Até lá, deixem os submarinos em paz e a Marinha operá-los e mantê-los. Tenha-se esperança que nunca seja necessário usar as suas armas em termos reais, mas que não se hesite em fazê-lo caso seja necessário. É que já não há pachorra! ***** Com a constante fuga de pessoal navegante da Força Aérea do serviço activo, pois de uma verdadeira fuga se trata, as esquadras que operavam os helicópteros EH 101 (e não só) – uma excelente, complexa e, naturalmente, cara aeronave – ficaram muito decapitadas de pilotos, nomeadamente comandantes de bordo. Tal facto levou, por exemplo, à incrível situação de o helicóptero (deviam ser, no mínimo dois) que está destacado no Arquipélago da Madeira não tivesse a tripulação completa, sendo o comandante de bordo transportado de Lisboa (de Falcon) em caso de emergência SAR (busca e salvamento). Caso houvesse disponibilidade de avião e de piloto, acrescentamos nós. A FA conseguiu, ao fim de seis meses, formar um novo comandante de bordo, obviando-se assim à situação. Devido às restrições orçamentais continuadas e outras, a FA encontra-se, já há muito, a viver três paradoxos: o de haver poucos pilotos que voam “de mais”; haver outros tantos que voam de menos (ou pura e simplesmente, não voam) e, mais grave de tudo, está quase sem capacidade para formar novos pilotos, nem de regenerar as qualificações dos existentes. Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. ***** Na sequência do escândalo dos “vistos gold”, veio à tona uma suspeita de actuação de elementos do Serviço de Informações de

Segurança (SIS), que andariam a “limpar” provas de um dos detidos, mais concretamente o ex-director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Outros casos e suspeitas existem de actuação menos consentânea e até de ligações perigosas entre membros do SIS e negócios. Passadas algumas semanas, o primeiro-ministro, algo discretamente, demitiu o director do SIS, suspeito de ligações à Maçonaria, substituindo-o pelo seu número dois, igualmente suspeito de pertencer à mesma agremiação. Aliás, confrontado com uma pergunta directa e pública de uma deputada do PSD – pergunta que não foi, certamente, inocente – o novel director, aos costumes disse nada.Nesta questão de evitar que qualquer figura que vá ocupar um cargo público seja confrontado e tenha de responder a esta questão – o que seria do mais elementar bom senso e conveniência política – anda muito empenhado um antigo ministro socialista, também ele membro da “confraria do avental”, e já com especiais responsabilidades na matéria, no seu curriculum. Pergunta-se: porque é que o PM não aproveitou a ocasião para ir mais além, no “saneamento” dos serviços? Porque se continua a manter possíveis membros de sociedades secretas/discretas à frente de organismos de especial relevância, sem tirar tal facto a limpo? Porque é que, aparentemente, as obediências maçónicas têm tanto empenho em “infiltrar” elementos seus nos serviços secretos (serviços que, desde 1974, são uma questão mal arrumada e, ou não funcionam, ou deixam muito a desejar)? No estado em que estão as coisas, quando algum governo quiser endireitar os Serviços de Informação, vão ter que lá meter um militar, general ou não, que seja isento. O que não se vislumbra que vá acontecer, já que esta gente dos Partidos, a começar no PSD, têm os militares na pior das contas. E, de resto, não descansaram enquanto não os tiraram de lá. ■

18

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Cultura

Evocação e celebração da memória do filósofo portuense Sampaio Bruno

Ciclo de Tertúlias Bruninas

2015 será um ano de evocação e celebração da memória do filósofo portuense Sampaio Bruno, considerado por Álvaro Ribeiro como o pai da Filosofia Portuguesa. Falecido em Novembro de 1915, assinala-se este ano o centenário da sua exaltação, esperando-se por isso que esta efeméride sirva de mote para a recuperação de uma das personalidades mais fascinantes e complexas da cultura portuguesa na viragem do século XIX para o século XX. Portuense ilustre, Sampaio Bruno começou por destacar-se na imprensa da sua época, bem como pelas funções que desempenhou como director da Biblioteca Pública Municipal do Porto tendo, juntamente com Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Basílio Teles, entre outros intelectuais, animado a vida cultural nacional de finais do século XIX e inícios do século XX. Autor de obras seminais como “Brasil Mental”, “A Ideia de Deus” ou “O Encoberto”, foi uma das principais referências para personalidades como Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra, Teixeira Rego, Fernando Pessoa, entre inúmeros outros. Não obstante todas as marcas deixadas pela sua produção intelectual, bem como pela presença vívida que impunha à sociedade da sua época, a figura de Sampaio Bruno acabou por precipitar-se, tal como a sua obra, no frio esquecimento da vasta maioria dos portugueses. Uma realidade trágica que, inevitavelmente, acabou por afectar a própria percepção de todo o século XX português. Republicano, mas patriota, passou pelo exílio em França

após o seu envolvimento na tentativa não lograda de implantação da República ocorrida na cidade do Porto a 31 de Janeiro de 1891. Abandonando gradualmente o racionalismo opressor e estrangeirado de que padecia a sociedade portuguesa, embarcou na construção de uma corrente de pensamento de inspiração mística e esotérica, situada nos antípodas da primeira fase da sua produção intelectual. Tal como Basílio Teles e outros republicanos de feição patriótica e não jacobinos, acabou por afastar-se das hostes republicanas que cedo percebeu incorrerem num pérfido antagonismo face à tradição portuguesa. Foi sobretudo durante esse período compreendido entre o seu exílio e a saída do Partido Republicano Português que, Sampaio Bruno, como tão bem descreveu Pedro Sinde em “Sete Sábios Portugueses”, se terá tornado ainda mais “secreto, aliás, deliberadamente secreto” e “propositadamente obscuro”. De forma a homenagear a vida e obra de tão cativante e enigmática personalidade, o Ateneu Comercial do Porto – instituição histórica indissociável da

vida cultural da cidade Invicta e da qual Sampaio Bruno foi sócio –, irá promover um ciclo de tertúlias ambientadas no vasto universo brunino. Com uma periodicidade mensal, estes encontros iniciam-se já no próximo Sábado, dia 31 de Janeiro, pelas 17h, com uma intervenção de Paulo Samuel a propósito do papel de Sampaio Bruno no 31 de Janeiro de 1891. Estas sessões prolongar-se-ão até ao próximo mês de Novembro, contando com as participações de Pedro Sinde, Henrique Manuel Pereira, Joaquim Domingues, Paulo Borges, José Marques, Edward Luiz Ayres d’Abreu, Renato Epifânio, Carlos Aurélio e Rodrigo Sobral Cunha. Co-organizado pelo MIL e a Nova Águia, este Ciclo de Tertúlias Bruninas conta ainda com as parcerias institucionais da Fundação Lusíada, Círculo António Telmo, Ordem de Ourique, MPMP e revista Glosas. A participação nestas sessões será sempre livre e aberta a toda a comunidade. Para mais informações acerca da programação recomenda-se uma visita à página oficial do Ateneu Comercial do Porto. ■

Sampaio Bruno

DR

JOSÉ ALMEIDA

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

19

Opinião

Uma Europa de povos livres Nas redes sociais, testemunhei com algum divertimento o incómodo de pessoas ligadas ao Bloco de Esquerda pelo apoio de Marine Le Pen e outros dirigentes europeus da chamada extrema-direita ao Syriza, partido grego aliado do BE. O paradigma político alterou-se finalmente, mas ainda há quem não esteja – e provavelmente jamais estará – preparado para lidar com a política num mundo onde os objectivos concretos e o pragmatismo contam mais que as ortodoxias ideológicas e filosóficas. O anti-fascismo e o anti-comunismo primários são disparates ultrapassados que só sobrevivem nos ódios pessoais daqueles que ainda não conseguiram adaptar-se às realidades do século XXI. Há muitos anos, houve quem profetizasse este mundo. Era eu ainda um jovem estudante radical que ocupava as funções de correspondente e tradutor do jornal

Humberto Nuno de Oliveira

Não é por isso de estranhar que o Podemos espanhol e o Syriza grego sejam elogiados e agraciados pela Frente Nacional francesa ou a italiana Liga do Norte. No grande panorama político do século XXI estão todos a combater pelos direitos e pela sobrevivência dos seus povos. Assistimos hoje, ao vivo, à ultrapassagem de velhos ódios e clivagens em nome do pragmatismo. Aproveitemos o momento, pois tal não durará para sempre. A minha costela pessimista (ou realista) testemunhou sempre, ao longo dos anos, o triunfo dos ódios e da pequenez ideológica daqueles que ainda julgam travar a Guerra Fria ou até mesmo a Segunda Guerra Mundial. Desta vez espero estar errado e que, no final, a liberdade dos nossos povos triunfe sobre o ódio. Mas, nunca fiando... ■ [email protected]

Uma noite no Hot Club Com toda a naturalidade

É verdade que fazia frio cá fora e que uma chuvinha itinerante nos massacrava lentamente a paciência, enquanto nos acotovelávamos boamente sob beirais, varandins e guarda-chuvas alheios, aguardando que as portas se abrissem. Revíamos rostos amigos e até reencontrávamos inesperada e surpreendentemente pessoas que, por muitas que sejam as calendas passadas, nunca deixam de ser nossas, de tal modo os nossos belos conluios prosseguem vivos nos nossos espíritos (ao olhar agora para trás, que gostoso ver os trilhos que então foram construídos...). Entrando-se, por fim, a sala ia ficando cada vez mais quente, tornando-se numa

Jorge Reis espécie de casulo, de favo repleto do mel luminoso do que ali a todos reunia. É verdade que não te vi ali connosco. Mas também é verdade que te senti ali connosco e que por mais de uma vez ouvi o teu saxofone nitidamente a sobressair de quantas vozes os teus talentosos amigos delicada, ternamente, nos faziam chegar. Os teus instrumentos voltaram a soar melodias tuas e juro que senti o teu olhar pousado orgulhosamente sobre cada um

DR

Luísa Venturini

de nós que ali estava contigo. O clube quente e cheio como um ovo inspirava e expirava ao ritmo da recordação, da saudade, do amor, do respeito e de mil cumplicidades, tornado num único ser muito presente e muito vivo. Claro que só podia ser assim. Era o Hot Club de Portugal. Era o Concerto para o Jorge Reis – o teu concerto – e era o dia do teu aniversário. Até jazz, meu amigo. ■

Mais de quatro décadas corridas sobre o tenebroso 25A, parece-me que, com a maior objectividade que me é possível, apenas trouxe de bom uma maior liberdade (mesmo assim, não plena e mitigada: desde logo nunca foram permitidos todos os partidos, nem a discussão da forma de regime). É tempo, pois, de discorrer sobre este precioso bem. Hoje, só acredita que vive em liberdade quem for cego (perdoem-me os invisuais, mas a cegueira de espírito é bem mais grave). A liberdade, ou melhor as liberdades, são total e completamente condicionadas pelo politicamente correcto. Quantos da minha geração não se lembram, nos tempos da “tenebrosa ditadura”, de brincadeiras e ditos que hoje são banidos, quando não passíveis de pena de prisão? Pois é, parece que, hoje como ontem, as liberdades dependem não da ideia da liberdade absoluta, mas da conjuntura que os enforma. Quantas vezes, em plena “liberdade”, não se sentiram mais constrangidos que na ditadura? Eu já, muitas vezes! Se no passado a comunagem se queixava de falta de liberdade, hoje é a dita direita (não aquela “direita” que todos os dias é referida nos noticiários, claro está) que se encontra destituída de liberdade, manietada nos seus valores e impedida de proclamar as suas ideias. Mas isso, claro está, nestes tempos de aberrações politicamente correctas não parece preocupar ninguém, antes pelo contrário. Claro que os massacres, por que motivo sejam, não encontram justificações, mas querem apostar que se o tal ‘hebdo’ fosse um ligado à Frente Nacional não teria motivado, nem de longe nem de perto, a onda de consternação que se gerou por ser um ‘hebdo’ de extrema-esquerda e anarquista, que abundantemente critica o cristianismo e o islamismo mas que se auto-proíbe (não obstante tanta proclamada liberdade) de criticar, por exemplo, aqueles cujo deus, o nome se não deve pronunciar. Porque será? Como se vê, parece que, como para os animais, há liberdades que são mais do que outras e só não vê isto quem não quer ou pretender enfiar a carapuça… [email protected]

DR

Flávio gonçalves

da trincheira

DR

finis mundi

moscovita “Limonka” (“Granada-de-Mão” numa tradução livre) e já esse mítico jornal exibia no seu cabeçalho uma citação de Eduard Limonov: “já não existem esquerda e direita, existem o sistema e os inimigos do sistema”. O que na altura parecia ser uma utopia e uma loucura impulsionada por umas centenas de intelectuais europeus e russos (esta visão só muito recentemente angariou alguns adeptos nos Estados Unidos, o país bipolar por excelência), parece ter-se concretizado no século XXI, mais concretamente após as Eleições Europeias de 2014, onde obtiveram grandes ganhos os movimentos ditos “eurocépticos”. Sem nada que os una para lá da oposição às políticas económicas de Bruxelas e o desejo de verem nascer uma Europa de povos livres, estes partidos e movimentos, dependendo dos países onde triunfaram eleitoralmente, vão da extrema-direita à extrema-esquerda, passando por um amplo centro libertário ou inclusivamente apolítico, por mais paradoxal que possa parecer.

Liberdade…

20

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Viver

horóscopo

esfinge n.212 - Cruzadas e Charadas 1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

Palavras Cruzadas

Original de “Aldimas” – Mouriscas

1

Horizontais 1. Pilhagem; Atrelar. 2. Papa-mel; Praça principal. 3. A planta rústica; Espécie de choupo da família das salicíneas (pl.). 4. Capela;Curto espaço. 5. Aparvalhara. 6. Governanta. 7. Éter; Aprova; A ti. 8. Ruminante africano, semelhante à cabra, largamente representado em Angola; Perder o juízo. 9. Embeleza; Expressão para incitar as bestas a caminhar. 10. Nome de homem; Guarnecei de ameias. 11. Ombros; Mistura.

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

Soluções Esfinge n.211

Verticais 1. Que possui muitos bens; Dia de descanso (entre os judeus). 2. Fêmea alada do cupino; Redram. 3. Erva tintória do Amazonas; Brinco. 4. Irritada; Perfurais. 5. "Sódio"; Possuidor de lâmpada encantada. 6. Alúmen. 7. Vergara; "Amerício". 8. Quartzo translúcido de cores variadas; Em má hora. 9. Congro; Elegante. 10. Essência odorífera; Quebras. 11. Sem tacão (o sapato); Mulher bela e sedutora.

PALAVRAS CRUZADAS

CHARADAS

1. Calar; Lapa. 2. Alimes; Lata. 3. Balas; Tosaso. 4. Arar; Rosado. 5. Z; Sabor; Las. 6. S; Rolar; S. 7. Cos; Loras; P. 8. Atados; Pato. 9. Legar; Lalas. 10. Orar; Badala. 11. Rosal; Rosar.

1. Enjogo 2. Engrolo 3. Esquina 4. Garapa 5. Insula 6. Rotolas 7. Jumento 8. Jumenta 9. Junceira 10. Combói

Charadas Dez Charadas Sincopadas 1 – E ra ESPERTALHÃO mas também muito CORAJOSO. 3, 2 2 – E ra PESADO e muito sólido o EMBRULHO. 3, 2 3 – BANANAS era o pricipal alimento do MAGO. 3, 2 4 – E ra muito PEQUENINO, quando nasceu, o meu IRMÃO. 3, 2 5 – F oi a MOLEZA do autor que provocou o ATRAZO. 3, 2 6–O  que se encontragva no CALDEIRÃO era uma grande MENTIRA. 3, 2 7 – E ram TOLOS e transformaram tudo em CACARECOS. 3, 2 8–O  MALUCO infelizmente nem na vida teve SORTE. 3, 2 9 – A FARDA fazia-a muito GORDA. 3, 2 10 – O  GAIATO passava o seu tempo a brincar com o TARECO. 3, 2

da

maya

Av. Inf. Santo, 2  R (recuado) - 2º Dt. – 1350-178 Lisboa Telf: 213530831 • Fax: 213530853

CARNEIRO Carta da semana: XX O JULGAMENTO

O JULGAMENTO alerta-o para a necessidade de avaliar os acontecimentos em todas as vertentes. AMORES: Esta semana tendem a surgir novos interesses, pode ter surpresas muito agradáveis. DINHEIRO: A conjuntura fornece-lhe boas bases de trabalho e decisão. SAÚDE: Tome cuidados especiais com a pele.

TOURO Carta da semana: X A RODA DA FORTUNA

Está sujeito a algumas movimentações rápidas e quase inesperadas. AMORES: Tendem a surgir alterações à vida sentimental que acabarão por o surpreender. DINHEIRO: Podem surgir novas oportunidades provenientes de pessoas ou sectores improváveis. SAÚDE: Alguma queda pode provocar problemas a nível da bacia.

GÉMEOS Carta da semana: IV O IMPERADOR

Esta semana vai mostrar-se bastante empenhado em tratar de questões antigas. AMORES: Terá pouco tempo para se dedicar a este sector. DINHEIRO: Não deve mostrar qualquer tipo de receio pois o sucesso está garantido. SAÚDE: Tendência a estados de grande stress.

CARANGUEJO Carta da semana: XIV A TEMPERANÇA

A TEMPERANÇA define uma semana de evoluções lentas mas muito positivas. AMORES: Conjuntura estável e de evoluções favoráveis. DINHEIRO: Período favorável para fazer economias, devendo evitar a todo o custo fazer despesas ou investimentos desnecessários. SAÚDE: Tome especial atenção ao estômago.

LEÃO Carta da semana: XVII A ESTRELA

O Diabo em casa

Não estrague a sua semana sendo negativo ou fomentando hostilidades. AMORES: Semana preciosa; as relações em curso tendem a viver momentos de harmonia e ternura. DINHEIRO: Faça uma gestão sensata do seu património e aceite opiniões ou críticas. SAÚDE: Não durma mais do que o necessário.

Assinar O DIABO é receber comodamente em sua casa, todas as semanas, o mais independente semanário do País. Com um custo mais baixo do que pagará em banca, não deixe que o incómodo da chuva e do frio impeça a leitura de reportagens, das notícias e da opinião independentes, rigorosas e livres.

VIRGEM Carta da semana: III A IMPERATRIZ

Semana de conjuntura favorável. AMORES: Se tem algo a pedir este é o melhor momento para fazê-lo. DINHEIRO: Não deixe que as suas ideias fiquem só no seu pensamento; positive-as. SAÚDE: Tendência a problemas de estômago transitórios.

BALANÇA Carta da semana: VI O AMOROSO

O AMOROSO define uma semana intensa em que todos os comportamentos estão marcados pela paixão. AMORES: Possibilidade de os seus sentimentos serem completamente renovados. DINHEIRO: Se estiver envolvido em atos de representação ou de cariz público, sair-se-á muito bem. SAÚDE: Aspectos favoráveis.

Assine já o seu O DIABO que, há mais de 35 anos, sem falhas, lhe oferece o retrato real do País e do Mundo.

ESCORPIÃO Carta da semana: XV O DIABO

910 666 111

Ligue já ou envie-nos um email para [email protected]. Pode ainda destacar, preencher e enviar-nos o cupão abaixo.

Semana marcada pela instabilidade e dificuldade em gerir tempos e recursos. AMORES: Tendência a surgirem perturbações neste campo. DINHEIRO: Não dê ouvidos a tudo o que ouve no seu local de trabalho. Controle os gastos pois terá tendência a gastar exageradamente. SAÚDE: As emoções estão descontroladas.

SAGITÁRIO Carta da semana: VII O CARRO

O Carro é uma carta de progressos e superação de dificuldades. AMORES: Dê continuidade a compromissos assumidos; não falte injustificadamente a encontros ou reuniões, em especial de âmbito familiar. DINHEIRO: Faça por se explicar correta e detalhadamente. SAÚDE: Altere alguns hábitos alimentares.

CAPRICÓRNIO Carta da semana: XIII A MORTE

Esta semana poderá marcar uma viragem profunda na evolução da sua vida. AMORES: Está numa fase decisiva; estão criadas condições para tirar da sua vida preocupações ou afectos perturbadores. DINHEIRO: Todas as atividades exigem clareza e transparência. SAÚDE: Dedique mais tempo a um desporto.

AQUÁRIO Carta da semana: I O MAGO

Esta semana terá muita versatilidade. AMORES: Em caso de conflito ou relações tensas, tente amenizar o ambiente, levando a vida com humor e evitando criar maiores atritos. DINHEIRO: Tudo indica que vai conseguir superar problemas importantes. SAÚDE: Tendência a dores do foro reumatológico.

PEIXES Carta da semana: II A PAPISA

910 666 111

A PAPISA marca uma conjuntura positiva mas em que deve ser muito cauteloso. AMORES: Passará por conflitos inesperados mas que serão fundamentais para poder clarificar sentimentos. DINHEIRO: Perspectiva-se o fim de um ciclo de trabalho e início de um período mais positivo. SAÚDE: Saúde em boa fase.

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 •

21

Viver LIDES

Balanço do ano taurino A associação Prótoiro acaba de divulgar os dados estatísticos referentes à actividade do sector cultural taurino na temporada de 2014. Para este estudo, a Prótoiro cruzou dados fornecidos pela Associação Nacional de Toureiros e pela Associação Portuguesa de Criadores de Toiros de Lide. Foram também consideradas as informações compiladas pela Inspecção-Geral das Actividades Culturais, embora estas não retratem cabalmente a realidade taurina, uma vez que só contabilizam os espectáculos por si licenciados no Continente, estando excluídos os Açores e outros espectáculos com lide de reses que não carecem de autorização oficial. Eis uma síntese do balanço: Ao longo da temporada de 2014, tiveram lugar em Portugal 250 espectáculos tauromáquicos, dos quais 66 por cento foram corridas de toiros (os restantes 44 por cento correspondem a novilhadas, festivais taurinos e outros). Aos 250 espectáculos realizados assistiram, em praça, 454 mil espectadores. A média de público por espectáculo foi de

Guilherme Guimas/Wikimedia Commons

Mais corridas, mais público, mais visibilidade televisiva com três milhões de telespectadores – eis o balanço da temporada de 2014.

2.240 pessoas (superior a 2013, em que a média se cifrara em 2.145 pessoas). Sete das corridas tiveram transmissão televisiva e foram vistas por um total de três milhões de telespectadores (em 2013, apenas três corridas tinham sido transmitidas pela RTP). No que respeita à taxa de ocupação das

praças, as corridas de toiros foram responsáveis por 63 por cento do total. Em comparação com outros espectáculos, as corridas de toiros superaram largamente o cinema e o teatro, que em 2013 haviam registado apenas 22 e 126 espectadores por sessão, respectivamente. Em distribuição geográfica por regiões,

o Alto Alentejo registou grande número de espectáculos, seguindo-se o Algarve, Lisboa, Ribatejo e Açores. No escalfón de actuação de cavaleiros, Joaquim Bastinhas liderou claramente no número de espectáculos realizados, seguindo-se (em ordem decrescente) Luís Rouxinol, Sónia Matias, Rui Salvador, Tito Semedo, Filipe Gonçalves, António Telles, Ana Baptista, João Moura, Vítor Ribeiro, Marcos Bastinhas e Marcelo Mendes. Entre os matadores de toiros, destacaram-se no número de espectáculos (pela mesma ordem decrescente) Nuno Casquinha, Paco Velásquez, António João Ferreira, Parreirita Cigano, Sérgio Santos Parrita e Pedrito de Portugal. Entre os grupos de forcados: Ribatejo, Cascais, Vila Franca, Montemor, Beja, Alcochete, Évora, Coruche, Santarém, São Manços e Coimbra. Bandarilheiros: Josué Salvado, João Belmonte, Ricardo Raimundo, Ricardo Pedro, José Russiano, António Telles Bastos, David Antunes. Jorge Alegrias, Cláudio Miguel e Gonçalo Veloso. Entre os novilheiros, teve mais actuações Manuel Dias Gomes, seguido de José Augusto Moura. A ganadaria com mais toiros lidados em Portugal foi a de Murteira Grave, seguindo-se Passanha, Casa Prudêncio, Pinto Barreiros, Varela Crujo, Fernandes de Castro, Carlos Falé Filipe, Sesmarias Velhas do Guadiana, Canas Vigoroux e Veiga Teixeira. ■

COCKPIT Peugeot 308 GT e GT Line

Apresentação internacional decorre em Portugal Um dos maiores sucessos da Peugeot ganhou o apelo desportivo que faltava à gama. A marca francesa escolheu a zona de Cascais e a parte norte do distrito de Lisboa para apresentar à imprensa internacional as versões mais desportivas da gama 308. Disponível em carroçarias de cinco portas ou carrinha, o Peugeot 308 GT vem equipado com o motor a gasolina 1.6 Turbo de 205 cv, com caixa manual de 6 velocidades, ou com o diesel 2.0 HDi de 180 cv, dotado da nova transmissão automática de seis velocidades. Apesar dos impressionantes valores de potência e binário (400 Nm), esta unidade a gasóleo garante um consumo misto de 4,0 litros e emissões CO2 de somente 103 g/km. Com um extraordinário binário de 285 Nm disponível entre as 1750 e as 4000 rpm, a mesma economia é mantida pelo motor a gasolina: 5,6 l/100 km de média para emissões de 130 g/km. Exteriormente, desde logo, 308 GT berlina e station wagon distinguem-se pela grelha exclusiva (que passa a incorporar o leão ao centro, enquanto nas restantes versões está colocado

no capot), iluminação led (com “pisca-pisca” sequencial), jantes exclusivas de 18’’ e, na parte traseira, dupla saída de escape. Além da introdução de uma nova tonalidade azul magnética, evocativa do passado desportivo dos automóveis franceses, o Peugeot 308 GT rebaixa ligeiramente a altura ao solo: 7 mm à frente e 10 mm atrás. As melhorias mecânicas incluem suspensões e barra estabilizadora mais rijas, bem como discos de travão de maior diâmetro.

A personalidade desportiva bastante vincada no exterior é acompanhada de um interior onde o preto se conjuga com o vermelho e tonalidades de alumínio escovado. Este último material está presente no punho das mudanças, em parte do volante e, como não poderia deixar de ser, nos pedais tipicamente desportivos. Linhas vermelhas debruam os revestimentos escuros de elevada qualidade, mas esta cor acentua-se depois de premido o pequeno botão que liga o modo “sport”. Quando o “Driver

Sport Pack” está activo, além de alterações na cartografia da direcção e na reactividade da caixa automática e do pedal do acelerador, o painel de instrumentos avermelha-se e passa a mostrar barras de visualização da potência e do binário, da pressão da sobrealimentação e das acelerações longitudinal e transversal. Correspondendo a este maior empenho dinâmico, a sonoridade do motor é também amplificada. Com acréscimo de equipamento, os novos “GT” passam a representar o topo da gama 308. Tem preços de 32.310 e 33.460 euros no caso da carrinha, enquanto com o motor diesel são de 39.880 e 41.030 euros, respectivamente. As variantes “GT Line” partilham algum equipamento e praticamente todos os pormenores desportivos. Assim, os 308 (5 portas) e 308 SW (carrinha) “GT Line” acompanham o aspecto exterior do “GT”, mas motores 1.6 HDi (120 cv) e 1.2 Puretech de 130 cv permitem à gama “GT Line” um preço de venda mais acessível: começa nos 28.630 euros com o motor a gasolina e nos 30.500 euros na versão a gasóleo. Mais informações e imagens no sítio habitual: cockpitautomovel.com ou na respectiva página do facebook. ■

22

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Registo

NA INTERNET www.jornaldiabo.com

Editorial

Academia tomada Num artigo de opinião intitulado “Doutores em delinquência”, publicado no “Observador”, Gabriel Mithá Ribeiro pôs mais uma vez o dedo na ferida, ao considerar que “o centro de investigação de Boaventura de Sousa Santos e de José Manuel Pureza serve-se da ciência e utiliza o erário público para legitimar, sofisticar e exportar a violência social e política”. Em causa está uma investigação sobre a delinquência juvenil nas cidades da Praia, em Cabo Verde, e de Bissau, na Guiné-Bissau, financiada pelo Estado português, através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), cuja responsabilidade científica coube ao Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. Os resultados

do estudo foram publicados, em 2012, no livro “Jovens e trajectórias de violências: os casos de Bissau e Praia”. O que interessa neste caso e na sua louvável denúncia é dar um exemplo concreto do que apenas se passa, como muito bem escreve Mithá Ribeiro, “graças ao controlo, ao longo de décadas, de certos meios universitários pelas extremas-esquerdas”. De facto, antes do golpe de 25 de Abril de 1974, as esquerdas infiltraram-se nas instituições de ensino público numa perspectiva gramsciana, na qual um controlo da cultura pelos meios intelectuais deve preceder a tomada do poder político. O resultado dessa estratégia é bem conhecido, tal como

O Papa Francisco e o Señor Bergoglio Parece-me que a generalidade dos crentes católicos tem tido perante o novo Papa a mesma atitude que eu: esperança e paciência. Esperança num Pontificado sábio e sereno, que um dia há-de vir; e paciência para as ‘gaffes’ que se sucedem, atribuindo-as caridosamente à falta de experiência no cargo. Nisto andamos desde que Sua Santidade tomou posse, de forma que a esperança começa a esmorecer e a paciência a esgotar-se. Há pouco tempo, a caminho das Filipinas, o Papa usou uma linguagem um pouco estranha ao sugerir que quem ofendesse a sua mãe “levaria um soco”. É uma maneira de dizer, claro, e todos nós fechámos os olhos e fizemos por esquecer a ‘boutade’, tanto mais que o Sumo Pontífice se apressou a esclarecer, no dia seguinte, que estava a usar uma linguagem figurada. Mas logo depois o Papa Francisco afirmou que os casais católicos não devem “reproduzir-se como coelhos”. A expressão infeliz saiu-lhe, talvez, devido ao cansaço. Mas saiu-lhe, o que quer dizer que é mesmo isso que o Sumo Pontífice pensa. Perante a estupefacção da cristandade, no dia seguinte lá veio a correcção, com Francisco a garantir que não queria referir-se às famílias numerosas que

recebem os filhos como uma dádiva de Deus. Mas o mal estava feito, deixando uma desagradável sensação de imprudência e desbocamento da parte de quem tem a obrigação de ser sábio e contido. A verdade é que, com duas “graçolas”, Sua Santidade pôs em causa dois princípios fundamentais da Igreja: primeiro, o de dar a outra face quando nos ofendem; segundo, o de não interferir no processo divino da procriação. Ou já nada disto vale? Na sua ânsia latino-americana de ser “moderno” e “engraçado”, o actual Papa anda por aí aos saltinhos, largando frases que ele pensa que conquistam os corações dos fiéis, quando só os assustam. Como muitos crentes que conheço, tenho evitado fazer juízos, sobretudo à frente de não-crentes, mas está a chegar o momento de sugerir a Sua Santidade que se cale um bocadinho. Já se percebeu que o bom senso e o juízo nem sempre habitam o homem chamado Bergoglio, esse que vive debaixo da pele do simpático Papa Francisco. Esperemos apenas que, nesta contradição entre o Bispo de Roma e o falador argentino Señor Bergoglio, ganhe o primeiro. Que Deus Nosso Senhor o ilumine. Mário X. de Lemos, Porto

as consequências desastrosas do seu sucesso... Décadas depois, continuamos a assistir passivamente a uma Universidade refém dos autoproclamados “donos da verdade” e à utilização do erário público para a promoção da sua ideologia. Por quanto tempo? Felizmente, têm surgido cada vez mais sinais de que esse domínio está a esmorecer. Mas interessa não baixar os braços num combate cultural essencial para despertar o nosso país, há muito adormecido pelos que continuam a prometer, qual vendedores de banha da cobra, “os amanhãs que cantam”. Duarte Branquinho [email protected]

Se o ridículo matasse… Acabo de ver na internet uma fotografia que me fez desmanchar a rir. Mostra António Costa a conversar com o político açoriano Vasco Cordeiro. O curioso da imagem está na figura de António Costa, sentado num sofá em “pose de estadista”, a imitar os presidentes quando recebem personalidades estrangeiras para um cafezinho. Costa aparece num plano um pouco superior ao do visitante, quando a verdade é que Vasco Cordeiro, de pé, tem mais dois palmos do que o secretário-geral do PS. Costa está a fazer um sorriso ligeiramente paternalista, de perna traçada como convém a um imponente anfitrião.

Todo o ambiente é “oficial”, vendo-se ao canto da sala um conjunto de bandeiras – da União Europeia, da República portuguesa e do PS. Ora, como todos sabemos, as imagens enganam. Neste caso, trata-se, não de um estadista a receber o presidente do governo regional dos Açores (como se pretende que pareça), mas sim do mero chefe de um partido a receber um camarada (como na realidade é). Neste jogo de espelhos entre a ilusão e a realidade, conclui-se que a “estratégia de comunicação” de António Costa é, de facto, tudo aquilo que ele tem para oferecer aos portugueses. Truques de ilusionismo.

O aparato ridículo com que se fez fotografar destina-se a fazer passar a ideia de que já está no poder, rodeado de todos os símbolos do poder, quando não passa de um político banal com ânsia de lá chegar. É um truque semelhante àquele que usa quando fala como se as eleições já tivessem acontecido e ele já tivesse ganho, faltando-lhe apenas tomar posse. Patético! Entretanto, nas sondagens, António Costa aproxima-se cada vez mais do recorde negativo do seu antecessor, o desaparecido “Tozé” Seguro. É que o povo não se deixa enganar tão facilmente assim… Sérgio Esteves, Loures

O papel da Mulher Como parece acontecer ciclicamente, os movimentos radicais voltam a insistir nas “quotas” femininas para cargos públicos. Nos últimos dias vi surgirem referências muito indignadas porque em Portugal apenas 34% das mulheres ocupam cargos dirigentes na política ou na administração; porque apenas 9% dos membros das administrações das empresas cotadas na Bolsa de Lisboa são mulheres; e até porque apenas 11% dos gestores de Silicon Valley são mulheres. Um jornal “de referência” chegou mesmo a afirmar que “foram precisos 172 anos para a revista The Eco-

nomist ter uma directora”. Insiste-se numa lamentável confusão, que só serve os inimigos declarados da Família: a de que a Mulher tem de desempenhar, obrigatoriamente, as mesmas funções do Homem. Esta estranha “lógica”, se levada às últimas consequências, poderia levar-nos também a protestar porque a percentagem de homens que engravidam e têm filhos é de zero por cento. Haja igualdade! Não pensam essas pessoas que a Mulher tem, na Família e na sociedade, um papel insubstituível, até biologicamente insubstituível, de assegurar a perpetuação da

espécie, o que nem sempre é compatível com o exercício de outras actividades. Que importa que só xis por cento de mulheres façam isto ou aquilo, desde que quem o faz o faça com competência? Porquê querer insistir numa “igualdade” impossível? Porquê querer afastar a mulher da sua vocação natural e universal? Nada tenho contra o exercício feminino de qualquer profissão. Mas querer transformar isso em “quotas” obrigatórias é um completo disparate. A Mulher tem um papel na vida. E esse é mais importante do que todos os outros. Teresa Gonçalves, Oeiras

ERC n.º 104 231 Fundadora Vera Lagoa Director Duarte Branquinho Texto A. Marques Bessa, Brandão Ferreira, Eduardo Brito Coelho, Flávio Gonçalves, Francisco Lopes Saraiva, Francisco Moraes Sarmento, Frederico Duarte Carvalho, Godinho Granada, Guido Bruno, Henrique Pereira, Henrique Silveira, Hugo Navarro, Humberto Nuno de Oliveira, José Almeida, José Serrão, Luísa Venturini, Manuel Cabral, Manuel Silveira da Cunha, Paulo Ferrero, Pedro A. Santos, Pinharanda Gomes, Rogério Lopes, Soares Martinez, Vítor Luís Rodrigues Fotografia António Luís Coelho, Rui Coelho da Silva Grafismo Ana Sofia Pinto Redacção Azinhaga da Fonte, 17 1500-275 LISBOA Telefone: 217 144 315 / 910 666 111 [email protected] ASSINATURAS Telefone: 217 144 315 [email protected]

Semanário O DIABO Propriedade do título Texto Principal Unipessoal Lda. Editor Texto Principal Unipessoal Lda. NIPC 509 307 205 Administrador da Texto Principal Fernando de Brito Cabral Impressão FIG-Indústrias Gráficas, SA, Parque industrial de Eiras, Rua Adriano Lucas 3020-265 Coimbra. Telefone: +351 239 499 922 Distribuição Vasp-Soc. Transportes e Distribuição, Lda. MLP: Media Logística Park Quinta do Granjal, Venda Seca - 2739 Agualva, Cacém. Telefone: 214 337 000. Fax: 214 326 009. Mail: [email protected] Tiragem média do mês anterior 25.000 exemplares Depósito Legal n.º 1968/83

O Diabo, 27 de Janeiro de 2015 • 23

A fechar

A Via Lusófona

Memórias d’o Diabo

RENATO EPIFÂNIO

Elogio (im)possível de São Paulo

Cartoon de Augusto Cid publicado na edição de O DIABO de 20 de Novembro de 1979. ■

A propósito do salário mínimo MÁRIO CASA NOVA MARTINS

A “apropriação” em Portugal das “conquistas dos trabalhadores” é feita fundamentalmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN), correia de transmissão do Partido Comunista Português (PCP), o qual mantém forte implantação no meio sindical português, para o bem e para o mal. A influência do PCP na CGTP-IN gera ciclicamente um conjunto de greves de cariz leninista, com a finalidade de destruir a economia nacional e criar a insatisfação no povo face aos governos, de que são exemplo as greves no sector dos transportes, da educação e da saúde, com o objectivo final de criar as condições para a tomada do poder, leninista, através da revolução. Nada que a História do século XX já não tenha escrito. De facto, é importante para a economia de um país a existência do indicador económico que é o valor do denominado salário mínimo. A sua aplicação é de grande importância. Todavia, o salário mínimo cresce à custa do salário médio, isto é, o salário mínimo cresce em termos reais mais acentuadamente do que o salário médio.

DR

Quando se fala em “conquistas dos trabalhadores”, uma que é muito referida é a da existência do “salário mínimo”.

Esta realidade tem consequências no consumo, na produção e na oferta de trabalho. E, assim sendo, os riscos do aumento do salário mínimo serão maiores do que os benefícios que geraria. É que um aumento do salário mínimo leva as empresas a ajustar em baixa os seus custos de produção, através da redução do número de empregados e na correcção em baixa dos salários médios, gerando uma quebra, ou quanto muito uma estagnação no consumo, o oposto do que se quereria e desejava. Para se não falar no desincentivo que representa a novos investimentos. Neste tempo de “vacas magras” em que Portugal vegeta, será contraproducente qualquer aumento do salário mínimo, por muito que moralmente justa seja a ideia. ■

São Paulo não é apenas a maior cidade brasileira – é a maior cidade lusófona, uma das maiores cidades do mundo. A sua população excede a própria população portuguesa e isso, por si só, impressiona: imaginar todo um país confinado a uma só cidade. O primeiro impacto é pois, como não poderia deixar de ser, violento, mesmo para quem está habituado ao frenesim urbano. O trânsito, em particular, exige uma paciência mais do que infinita. Há uma espécie de guerra civil entre automóveis e motociclos, com sucessivas provocações mútuas, e nem as mais desesperadas formas de diminuir o trânsito (conforme o número da matrícula, há dias em que não se pode circular, por exemplo) parecem ter efeito visível. Subterraneamente, o metro lá vai conseguindo fazer circular as pessoas, mas a rede ainda precisa de se expandir muito mais. São Paulo é, também nesse plano, um excelente espelho do país que é o Brasil: um país imenso, um país continental, que parece estar ainda a meio caminho não se sabe ainda bem do quê. Se há zonas de São Paulo que impressionam pela sua sofisticação e requinte, outras há que ainda chocam pela pobreza e mesmo pela miséria. O traço urbano é igualmente contrastante: há ainda imensas zonas degradadas, lado a lado com áreas que fazem de São Paulo uma das mais belas cidades do mundo, ainda que com um estilo algo indefinido. Sente-se, por um lado, um certo mimetismo em relação às grandes metrópoles norte-americanas, mas, por outro, alguma nostalgia da velha Europa. Também nesse plano, São Paulo reflecte bem a encruzilhada em que o Brasil se encontra, face às várias possibilidades que se lhe deparam no plano geoestratégico – ou alinhar-se preferencialmente com o gigante do Norte (leia-se: Estados Unidos da América), ou circunscrever-se à América Latina, ou apostar mais numa ligação com Portugal e os demais países lusófonos. Como sempre, a melhor escolha não será decerto uma escolha única, que implique a recusa de todas as outras. Decerto, o Brasil terá que ter sempre relações privilegiadas com os restantes países americanos, em particular com os países da América do Sul. Estamos, porém, convictos de que isso não implicará uma menor aposta na ligação com Portugal e os demais países lusófonos. Apesar do gigantismo do Brasil, que lhe poderá dar a ilusão de uma auto-suficiência à escala global, os brasileiros mais lúcidos sabem que, a essa escala, juntos seremos bem mais fortes. A esse respeito, a tomada de posse da Presidente reeleita, no primeiro dia deste ano de 2015, não terá sido o melhor sinal. Dilma Rousseff, manifestamente, privilegia as relações com os países vizinhos da América do Sul. O candidato derrotado, Aécio Neves, seria decerto diferente, mas mais pela ligação aos Estados Unidos da América. Nenhum dos dois me pareceu defender uma via realmente pró-lusófona. A outra candidata derrotada, Marina Silva, teve um discurso mais auspicioso no que concerne à aposta na CPLP: Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas ainda sem grande eco. Veremos o que acontecerá nas próximas eleições. ■ Post-Scriptum: 31 de Janeiro, no Ateneu Comercial do Porto, às 17h: início de um Ciclo mensal de Conferências sobre o filósofo Sampaio Bruno, no centenário do seu falecimento, coordenado pelo MIL-Norte.

24

• O Diabo, 27 de Janeiro de 2015

Paulo Portas. O vice-primeiro-ministro revelou que 2014 foi “o melhor ano de sempre das exportações”, com um crescimento de “pelo menos 2 por cento” face a 2013. Boas notícias para a crescente internacionalização das empresas portuguesas.

Céu &Inferno

Mário Soares. O ex-Presidente da República continua com as suas tiradas inacreditáveis. Na semana passada, num ataque disparatado, afirmou que Cavaco Silva foi um “salazarista convicto”, o que qualquer minimamente informada sabe que não é verdade.

Instantâneo

DR

Em choque

A Frase

Um leitor enviou-nos a fotografia que tirou perto de sua casa, na Rua Aníbal Bettencourt, em Lisboa, ao longo da qual existem três postes de madeira no meio do passeio, com diversos fios caídos a altura dos peões e pousados em cima dos muros e sebes dos muros das casas particulares. Depois de denunciar a situação à Câmara Municipal de Lisboa, recebeu como resposta que “a ocorrência não tem enquadramento na plataforma municipal Na Minha Rua, porque os postes em causa são da Portugal Telecom. Sugere-se o contacto directo com a referida concessionária e/ou com a Polícia de Segurança Pública”. Diz-nos que ficou “em choque” com esta reacção.

“Não consigo desligar o estado em que a PT se encontra da intervenção do engenheiro Sócrates”

Circo

Daniel Bessa in “Observador”

•“Moderno”

Na semana passada, aconteceu algo inédito na história da monarquia espanhola, um rei foi capa de uma revista destinada à comunidade LGTB, acrónimo que significa Lésbicas, Gays, Transexuais e Bissexuais. Felipe VI foi o protagonista da mais recente edição da “Ragap Magazine” e já é apresentado como imagem dos tempos modernos da realeza. O novo rei de Espanha quer à viva força ser “moderno” e já se percebeu que está disposto ao mais inacreditável. Nesta caminhada progressista, pelo que se vê, vale mesmo tudo. É esta a imagem que quer dar de uma instituição milenar? Será que tem perfeita noção das consequências?

•Lusofonia?

O secretário-geral do Partido Socialista, António Costa, defendeu na Cidade da Praia, em Cabo Verde, a edificação de um “pilar da cidadania” no espaço lusófono, destinado a corresponder ao que são as necessidades sentidas pelos cidadãos da CPLP. Traduzido por miúdos, o edil de Lisboa quer a livre circulação no espaço da CPLP, uma espécie de “Schengen lusófono”, como for caracterizado por alguns. Para além da proposta ser praticamente impossível de concretizar, recordem-se os problemas com os vistos em Angola, por exemplo, e o facto de Portugal pertencer à União Europeia, demonstra uma noção muito irresponsável de lusofonia.

•Ilusões

No seu registo habitual, Jerónimo de Sousa, o secretário-geral do PCP, disparou para a direita e para a esquerda, afirmando num comício: “Sabemos que não é tarefa fácil, também porque este também é um ano onde não faltarão os vendedores de ilusões, iminente que está a derrota política e social do actual governo e da sua maioria parlamentar”. Sabemos bem que os “vendedores de ilusões” são os que mais frequentam o palco da política e que, infelizmente, ainda há quem vá no seu discurso estafado. Mas será realmente possível imaginar maior ilusão que o comunismo? Ainda por cima em pleno século XXI!

Pergunta d’o Diabo

Responde João Branco Martins, Presidente da Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro (APEFI).

DR

Como comenta o aumento do consumo dos portugueses registado no início deste ano?

•Queda

A queda acentuada das receitas com petróleo está a provocar um novo choque económico em Angola desde 2009. A situação alarma as empresas portuguesas, já que o nosso país é o principal fornecedor da antiga província ultramarina, que terão que lidar com descidas nas vendas, cancelamentos de obras e mais atrasos nos pagamentos. Uma situação deveras preocupante, porque diz directamente respeito à nossa economia, mas também uma lição muito importante para aqueles que desde há uns anos acreditaram ter encontrado naquelas paragens um ‘el dorado’, que iria durar para sempre. A crise chega a todos os países...

Parece-me um aumento mais do que esperado, pois existem diversos factores a contribuírem para este efeito. Um dos mais notórios tem indirectamente a ver com a recente decisão do BCE de colocar as impressoras a funcionar e imprimir mais de 1 trilião de euros. Não que seja por esse motivo que os portugueses consumiram mais, o dinheiro ainda nem saiu, muito menos está disponível. Mas uma das razões do maior consumo foi a de alguns bens ficarem mais baratos, quase no limiar da deflação, essa sim a razão primordial para o trilião de euros que pacientemente aguardamos. Só nos combustíveis, devido à baixa de preços, consumiu-se em Dezembro último mais 10% que no ano passado. Nos medicamentos aconteceu o mesmo, um aumento significativo no consumo dos mesmos, seja pela onda de gripes, seja por qualquer outra razão. Por fim, temos também uma ligeira melhora no emprego, factor que introduziu dinheiro vivo na economia familiar da nação, e canalizou algum do rendimento disponível para o consumo também.

Cerca de uma centena de pessoas da zona da Covilhã concentraram-se, no passado domingo, à entrada do Estabelecimento Prisional de Évora, numa manifestação de solidariedade para com o ex-primeiro ministro, José Sócrates, que ali se encontra detido preventivamente. A excursão foi organizada por José António Pinho, um empresário da Covilhã, “amigo de longa data” de Sócrates, que considerou a manifestação como “uma onda de solidariedade, absolutamente apartidária, pacífica e respeitadora”. Sendo “absolutamente apartidários”, os presentes cantaram “Grândola, Vila Morena” e gritaram palavras de ordem como “Sócrates amigo, o povo está contigo” e “Presos políticos nunca mais”. Alguém explique a estes senhores, de preferência devagarinho, que há uma diferença substancial entre um preso político e um político preso. O circo não arreda pé de Évora... FRA DIAVOLO 01987

5 603653 272715

7 8 9 1 . d e

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.