A Natureza no Centro do Labirinto
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A Natureza no centro do labirinto1 Emília Ferreira
A história da Mitologia e da linguagem simbólica começou no dia em que os primeiros hominídeos olharam em redor e se surpreenderam com o que viram, ouviram e sentiram. Contemporânea das primeiras interrogações humanas, essa linguagem soube responder, adequadamente, ao desassossego e ao espanto de existir, ao mistério do céu estrelado, da sucessão dos dias e das noites, das inquietantes mas regulares fases da lua, das alterações das estações, do crescimento das barrigas das mulheres ou do admirável bailado das marés. Imaginemos a surpresa desses seres que nada sabiam das leis da natureza e que dela dependiam inteiramente, encontrando-‐se à mercê das intempéries, da fome, da sede e dos ataques de animais de vultuosa estatura. Da terra e das águas se tirava o sustento. A sobrevivência dependia exclusivamente do que se encontrasse, fossem frutos, raízes, caça ou pesca. Um dia, porém, inventou-‐se a agricultura, facilitando a vida, tornando mais previsíveis os ciclos produtivos e mais remota a fome. Mas até a primeira semente ser lançada ao solo com a intenção de esperar o seu crescimento e multiplicação, passaram-‐se infinitos tempos de ansiedade e contemplação, interrogação e análise. E mesmo depois de os ciclos produtivos terem perdido o mistério inicial, muitos outros segredos se mantiveram, muitas interrogações permaneceram tornando imperativas as respostas. O medo do desconhecido traçaria condutas ritualizadas várias, sendo possível envolver todos os momentos da existência em situações rituais. Pensar é atribuir ao mundo uma entidade e identidade que nos ultrapassa; é reconhecer uma existência cujo sentido nos domina sem se nos revelar. Interpelando o mundo, a linguagem simbólica confere-‐lhe um sentido, apazigua a consciência humana, dá-‐lhe utensílios para se ligar ao universo, interpretando-‐o e dialogando com ele. A utilização recorrente de sistemas simbólicos, em todas as sociedades e geografias, foi já suficientemente apontada pela Antropologia. Também Carl Jung os reconheceu como arquétipos comuns a todas as culturas, defendendo que estão de tal modo 1
Texto publicado no catálogo da exposição Natura Artis Magistra, A Natureza Mestra das Artes,
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implantados na mente humana que lhes respondemos instintivamente. Assim, apesar das diferenças específicas de cada geografia, fenómenos estruturais repetem-‐se por todo o mundo. Se é certo que as culturas do deserto desenvolveram mitos com características diferentes daqueles criados pelos povos das florestas, é porém incontornável que fenómenos como as fases da lua ou as tempestades são comuns a todos, independentemente dos locais de nascimento. A sacralização do mundo e a criação de deuses antropomórficos, zoomórficos ou híbridos ligam os universos do desconhecido com o familiar, abolindo barreiras, estabelecendo laços de significado, iluminando as trevas. Se nomear o mundo é reconhecer-‐lhe a existência, atribuir-‐lhe um significado simbólico é criar-‐lhe todo um sentido emocional, poético, que, simultaneamente, o revela e enriquece. Como afirma Mircea Eliade, a função unificadora do símbolo não tem apenas importância religiosa e mágica. Na realidade, ela apenas tem sentido em termos da totalidade da experiência humana. Um símbolo revela sempre, qualquer que seja o seu contexto, a unidade fundamental de várias zonas do real. Será preciso lembrar as imensas «unificações» realizadas pelos símbolos das águas ou da Lua, graças às quais um número considerável de planos e de zonas bio-‐antropo-‐cósmicas se identificam a alguns princípios? Deste modo, por um lado, o símbolo continua a dialéctica da hierofania ao transformar os objectos em cousa diferente do que eles parecem ser à experiência profana: uma pedra torna-‐se o símbolo do «centro do mundo», etc., e por outro lado, ao tornarem-‐se símbolos, quer dizer, sinais de uma realidade transcendente, esses objectos anulam os seus limites concretos, deixam de ser fragmentos isolados para se integrarem num sistema, ou melhor, eles encarnam em si próprios, a despeito da sua precaridade e do seu carácter fragmentário, todo o sistema em questão. 2 Esse processo de identificação e unificação encontra-‐se em todas as culturas e mitologias. Assim, em todas encontramos a forma inicial e iniciática do ovo, ou do andrógino, como mito original, anterior à diferenciação. Logo depois, confrontamo-‐ nos com a sua clarificação em forças femininas e masculinas, complementares no seu diálogo de criação e organização, do caos ao cosmos. Nas culturas antigas, este Almada, Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, Junho/Out de 2001. 2 In ELIADE, Mircea – Tratado de História das Religiões. Lisboa: Edição Cosmos, 1990, p. 531.
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apresenta-‐se com uma face marcadamente maternal, terrível, implacável, frágil e acolhedora: é a deusa Kali dos hindus, a mãe “negra”; a Aranrhod dos Celtas; a egípcia Nekhebet; a Nokomis dos Algonquin; ou a grega Gaia. Este arquétipo feminino sugere a fecundidade, a sobrevivência. Nas representações artísticas a mãe tem como atributos os barcos, as cestas de fruta, os molhos de trigo, as cornucópias e conchas (lembremos O Nascimento de Vénus, de Boticelli), ou ainda as pontes, lagos e oceanos. Também a lua, sobretudo no crescente, remete para a ideia da mulher como animadora e protectora da vida. Igualmente o trovão foi desde logo associado à voz de deus, manifestando justiça ou ira. Os seus múltiplos nomes, atravessando todas as culturas, testemunham da sua omnipresença e importância. Voz de Javé, na tradição Bíblica, é também a do grego Zeus, do romano Júpiter, do celta Tarânis, do asteca Tlaloc, do inca Illapa ou do escandinavo Tor. Sendo inequívoco que a experiência do mundo físico marcou desde sempre o pensamento, todos os aspectos da existência se encontravam irmanados às manifestações e fenómenos da Natureza, fonte de vida e de morte, de energia criadora e destrutiva. Personificações dessa maneira de pensar e de ver o cosmos, os primeiros deuses foram retratados como a representação das forças físicas primordiais nas suas mais diversas manifestações, respondendo aos porquês dos trovões e relâmpagos, da chuva e da seca, do frio e do calor, da fome e da prosperidade, do medo e do poder. Assim, o mundo vegetal foi uma das áreas mais fecundas desta história, com visões muito ricas sobre o nascimento e significado dos seus diversos elementos, das árvores aos arbustos e herbáceas, até às flores e aos frutos, juntando-‐os ao mesmo olhar encantado e temente. Além de um largo número de deusas e deuses cuja anatomia se confundia com as plantas, ou que habitavam as fontes e as demais águas – plácidas ou tormentosas –, também das ervas nasceram diversas entidades fantásticas, como o deus pastor mesopotâmio Dumuzi (Tammuz), ser híbrido que reúne formas vegetais, animal e humana. As figuras paternas, solares, também não se encontram ausentes, surgindo nos panteões associadas ao céu, à autoridade, à razão, ao espírito guerreiro. São Cronos e Zeus, na mitologia grega; ou Júpiter, para os romanos. Vinculados a estas imagens e à sua simbólica, surgiram vários objectos de significado fálico, apanágio da 3
fecundidade, como a flecha, a espada, o cone, a lança, o raio, o archote, o obelisco, o mastro ou o bordão, entre outros. Talismãs fálicos são ainda muito usados por agricultores e pescadores, para a obtenção de colheitas e pescarias abundantes. Nas tradições europeias, o símbolo do falo erecto mantém-‐se presente, nomeadamente no mastro enfeitado para os festejos do 1º de Maio. Outro símbolo masculino, a barba significa virilidade, soberania, dignidade e sabedoria. Por isso, as divindades masculinas são em geral representadas com barba. Mais uma vez, do panteão greco-‐ romano até à imagem do Deus Pai da tradição judaico-‐cristã, dos filósofos até reis e rainhas (no Egipto, elas eram representadas com barba para igualar a autoridade dos reis) a barba sublinha a imagem da idade e do saber que com ela se ganha. Essa ideia permanece bastante actual. Os cuidados dispensados à barba ilustram a importância de quem a ostenta, bem com a sua dignidade e o seu tipo social. Ornamento já dessacralizado nas sociedades ocidentais, conserva reminiscências do seu valor simbólico, ao definir o tipo do seu portador, através da atenção, desenho e cuidados prestados. No seu conjunto, o corpo é, aliás, um dos temas com maiores implicações simbólicas. Desde a representação genérica aos mais variados e particulares aspectos. A nudez pode significar inocência ou maldade; o umbigo significa a fonte de vida, sendo a barriga o centro da vida e da prosperidade, como se pode ler na imagem do Buda. As mãos são símbolo de poder espiritual e temporal, de força, acção e protecção. A omnipotente mão de Deus surge com frequência entre as nuvens, nas pinturas cristãs. Instrumentos de poder, com elas se mata e se abençoa. Quanto à cabeça, a sua figuração apresenta também várias interpretações possíveis. Cortar a cabeça ao inimigo é não apenas aniquilá-‐lo como dominá-‐lo por completo. Representar a boca evoca voracidade ou fala espiritual; os dentes, potência agressiva-‐defensiva ou castração, quando se refere a sua perda; o olho é o elemento vigilante, solar, podendo representar a omnisciência divina, ou a percepção espiritual, a visão interior, a clarividência. Também nas várias imagens do cabelo há múltiplos aspectos a considerar, desde a cor ao comprimento, passando pelo corte e pelo penteado. Cabelos ruivos, cor de fogo, tinham conotação demoníaca. Os escuros eram associados à autoridade terrestre, enquanto os claros ostentavam atributos solares ou régios, daí a Virgem e Cristo serem frequentemente retratados de cabelos claros. 4
Despenteado, pode significar ascetismo ou rompimento com a ordem, como no caso das bruxas. Longos, são sinónimo de poder, mas também de santidade, como ilustra a história de Sansão, ou castidade, como se reflecte na Maria Madalena, de Giotto. O corte do cabelo pode também simbolizar o rompimento com a tradição, como aconteceu no princípio do século XX, quando as mulheres passaram a usar o cabelo curto, reivindicando com isso o direito a um modo de vida mais liberto. Do mesmo modo que todos os povos têm simbologias ligadas ao corpo e aos princípios feminino e masculino também todos eles olharam para a lua. Como refere ainda Mircea Eliade, a Lua é o instrumento de medida universal. Toda a terminologia relativa à Lua nas línguas indo-‐europeias deriva desta raiz [me, em sânscrito mâmi, eu meço]: mâs (sânscrito), mâh (avéstico), mah (velho prussiano), menu (lituano, mêna (gótico), mêne (grego), mensis (latim). Os Germanos mediam o tempo segundo a noite. Vestígios desta medida arcaica encontram-‐se ainda nas tradições populares europeias: certas festas são celebradas de noite, como, por exemplo, a noite de Natal, de Páscoa, de Pentecostes, de S. João, etc. 3. Essa medida de tempo através do ritmo lunar sempre se prendeu com forças vivas, juntando num mesmo quadro de significados uma grande variedade de manifestações como a chuva, as marés, as sementeiras e até os ciclos de fertilidade feminina. Como refere o autor, o «espírito primitivo», tendo penetrado as «virtudes» da Lua, estabelece relações de simpatia ou de equivalência entre estas séries de fenómenos. É assim, por exemplo, que, desde tempos muito recuados, pelo menos desde a época neolítica, ao mesmo tempo que a descoberta da agricultura, o mesmo simbolismo liga entre si a Lua, as águas, a chuva, a fecundidade das mulheres, a dos animais, a vegetação, o destino do homem após a morte e as cerimónias de iniciação. 4
Medindo e unificando, essa síntese lunar, que atribui o mesmo sentido a uma
pluralidade de sinais, ajuda a ler o mundo de modo mais claro e lógico, encontrando um elo que os irmana e explica. Nada afinal existe sem ligação ao todo. O poder das pedras consideradas sagradas ou preciosas ilustra esse princípio, como vimos, não advindo simplesmente do seu ser material mas da sua participação em algo de celeste, sagrado, revelador. O seu carácter venerável ou precioso é devido à 3 4
Idem, p. 196. Idem, p. 196.
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sua cor ou luz, remetendo para uma imagem de revelação, do mesmo modo que os vulgares seixos redondos do caminho podem ser entendidos como manifestação dos deuses, ao evocarem o passar do tempo, o ciclo das estações ou as fases da lua. As plantas medicinais participam também dessa relação existente entre a lua, a água e a vegetação e, por isso, aparte os atributos lunares que as ligam ao tempo e à fecundidade dos céus, concedida pela água da chuva, juntam-‐se as capacidades de regeneração, nascimento, renascimento e morte. Estes dons garantidos pelo elemento vegetal resultam assim nos poderes reconhecidos pelos magos, pelas feiticeiras e, num mundo mais próximo do nosso, dos aspectos medicinais e psíquicos associados aos benefícios do seu uso. Uma simples chávena de chá integra-‐se, portanto, num vastíssimo contexto cultural e simbólico. Por isso mesmo, Wenceslau de Moraes, ao escrever o seu pequeno opúsculo sobre a cerimónia do chá no Japão, deixaria claro que todo esse ritual, bem como as suas palavras explicativas, se dirigiam exclusivamente aos crentes. Como afirma Mircea Eliade, o valor mágico e farmacêutico de certas plantas é devido, igualmente, a um protótipo celeste da planta, ou ao facto de ela ter sido colhida pela primeira vez por um deus. Nenhuma planta é preciosa em si mesma, mas sim pela sua participação num arquétipo ou pela repetição de certos gestos e palavras que, isolando a planta do espaço profano, a consagram. 5 Sinónimo de vida, de fecundidade e renovação, o mundo vegetal deu sempre razões para ser lido como espaço de benesses. A sua simbólica é por isso, embora nunca isenta de ambivalência, claramente positiva. As árvores, pela sua verticalidade associadas às colunas que sustentam o mundo, símbolos de vida, ligação entre o céu e a terra – Axis Mundi –, foram também concebidas como moradas de seres fantásticos, criando-‐lhes deste modo todo um universo de saberes e domínios. Nos seus troncos nasciam e viviam deuses, fadas e bruxas. E duendes e gnomos, criaturas pequenas e sábias, detentoras de segredos e riquezas fabulosas. Participantes da mesma lógica de mistério e salvação, mágicos, os arbustos e as ervas indiciam o conhecimento e a purificação. Entre os seus ramos, caules e raízes, nos meandros escusos das ramagens, de folhas e espinhos, gera-‐se a vida e engendra-‐se a morte. Aí
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Idem, p. 356.
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se abrigam também seres que partilham a sua existência com os humanos e com os dois mundos, subterrâneo e superior. Lembrando-‐nos das fases da vida como as faces da lua, do nascimento à morte, das paixões às náuseas, do encantamento ao terror, as árvores participam da linguagem do Inferno, da Terra e do Céu. Répteis convivendo com a terra, inferiores e demoníacos. Dragões guardando os seus tesouros, vigiando as vias da salvação, como aponta Eliade. Animais terrestres passeando junto aos seus troncos. Mas também pássaros voando entre os seus ramos, solares e celestes. No labirinto verde escuro da floresta, imenso mar vegetal, o mistério das árvores é acentuado. Aí, apenas os iniciados encontram os trilhos conducentes à luz da clareira, do conhecimento, da idade adulta. A imagem inversa da floresta é o jardim. Símbolo do paraíso terrestre, nele as virtudes das plantas são acentuadas. Centro do mundo, morada paradisíaca, o jardim é a natureza no seu estado puro e edénico, e convida à pureza inicial. Essa repetição ritual do arquétipo continua a ser usada. Encontra-‐se nos mundos em miniatura do Extremo Oriente, nos claustros dos mosteiros, nos jardins fechados das casas muçulmanas, onde uma fonte central relembra a água primordial do paraíso. Sinal da força do homem e do seu domínio da Natureza, o jardim é a afirmação da ordem sobre a desordem, a vitória do cosmos sobre o caos, da luz sobre a escuridão. Para os astecas, as flores dos jardins não apenas ornamentavam, servindo para o prazer dos deuses, como representavam vários momentos da criação. Imagem de candura e do amor, da singeleza e da fé, a flor tem contudo também a semente da inquietação e da morte. Frágil, espontânea, sem artifício, ela lembra também a finitude. Sonhos e pesadelos vivendo a par numa realidade de verdes pontuados por flores de amplas paletas. Elas próprias contendo em si tantas promessas como ameaças, entre o perfume, a cor e o veneno. Em conclusão: pintados, esculpidos, expressos na literatura, os símbolos manifestaram-‐se em todas as áreas da vida. A soberania social e política tem também os seus códigos explícitos através do vestuário, ornamentos, cores e formas. Os mais importantes membros de uma comunidade, criaturas que dominam os segredos do fogo, os xamãs, os feiticeiros, os curandeiros, vestiam-‐se de doirado ou vermelho, mimando presenças solares e ígneas. Do mesmo modo, a identificação dos chefes 7
índios da América do Norte com a águia e o uso das penas como sinal de soberania remete para a ascensão, para o céu e o sol, a vitória dos pássaros sobre os répteis, ou seja, da luz sobre a treva. Senhora do ar, a águia esteve sempre presente nas mais diversas mitologias. Símbolo de autoridade, viu-‐se com frequência associada aos deuses, na cultura greco-‐romana, ou à alma, corporizando a ideia de renascimento, sobretudo na tradição hebraico-‐cristã. A sua conotação com a força e o apogeu das capacidades físicas animais, bem como da sua sede de liberdade levou-‐a a permanecer em simbologias mais recentes, como nos Estados Unidos da América ou como emblema desportivo, como acontece entre nós. Os significados atribuídos às cores do vestuário e aos ornamentos são vastíssimos e presentes em todos os momentos da vida. Desde o branco como sinal de participação no divino, nas cerimónias de purificação do baptismo, ao seu uso nos casamentos ocidentais, para significar pureza (qualidade acentuada pela flor de laranjeira), ao preto para significar a morte de um ente próximo, no ritual ainda frequente do luto, passando pela preferência muito generalizada pelas roupas azuis, nos seus mais diversos tons, pela calma e tranquilidade que comporta; mesmo que a maior parte de nós já não lhe atribua valores celestes e divinizantes. Usados para invocar, para dominar, para apaziguar os espíritos, os símbolos foram, desde sempre, em si mesmos, uma poética criadora, pluralizadora dos sentidos. Na posse dessa linguagem unificadora, a arte enriqueceu-‐a com as suas mutações e inquietações próprias. O passar dos séculos e as alterações do pensamento e da criação artística fariam, porém, com que hoje apenas alguns retenham a consciência e o significado desses signos. Isso não testemunha o seu desaparecimento nem a perda do seu sentido. De facto, desde as grutas de Altamira, ou das gravuras de Foz Côa, até aos girassóis do Van Gogh, passando pelos Ícaros de séculos de literatura e pintura, e pelo seu trágico sonho de voar, os símbolos que povoam o nosso imaginário e o recriam a todo o momento permanecem intactos, mesmo que aparentemente mudos. Entre a roda cósmica, o coração, o amor e a humildade, a rosa explica-‐se e reinventa-‐se. O maior relevo dos símbolos continua a ser a sua imensa faculdade de revelar sem esgotar. Uma rosa é uma rosa é uma rosa. Circular e perfeito, o mundo mantém-‐se intacto no seu mistério, no seu modo labiríntico de ser. Dotados de um possível fio de Ariadne, vamos tentando decifrar a Natureza, para 8
melhor entender o universo. Porém, unindo, os símbolos revelam mas também escondem. Ritual mágico e infinito, capacidade maior de partilhar sem dizer. Emília Ferreira
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