A Necrópole Romana do Porto dos Cacos (Alcochete)

July 1, 2017 | Autor: Jorge Raposo | Categoria: Roman Necropolis, Roman Archaeology
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A necrópole romana do Porto dos Cacos (Alcochete) José Luís Monteiro 1 e Jorge C. Raposo 2 1

[email protected]

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Centro de Arqueologia de Almada, [email protected]

Em memória de Armando Sabrosa (1965-2006)

A necrópole romana do Porto dos Cacos situa-se na herdade de Rio Frio, concelho de Alcochete. O sítio arqueológico foi descoberto em 1984 e sobre ele incidiram seis campanhas de escavação, entre 1985 e 1990, realizadas no âmbito de projecto de investigação coordenado pelo Centro de Arqueologia de Almada, que contou com vários apoios institucionais. Estas permitiram identificar um complexo industrial oleiro, com três fornos confirmados, onde, pelo menos de meados do século I às primeiras décadas do século V, se produziram maioritariamente ânforas para envase de preparados de peixe e, provavelmente, de vinho, mas também loiça doméstica muito diversificada.

Figura 1 Planta da área escavada.

Na campanha de 1987, foi reconhecida uma necrópole em cabeço anexo à olaria, separada desta por uma linha de água sazonal, confirmando que uma comunidade se terá ali estabelecido de forma permanente. Os trabalhos revelaram 37 sepulturas, das quais foram escavadas 26. Maioritariamente, são construídas em tijoleiras e/ou tegulae, com cobertura em forma de duas águas. Das restantes, uma é em mensa e três têm a cobertura estruturada com ânforas dispostas na horizontal, com orientação perpendicular ao defunto. Os rituais funerários situam a necrópole num período de lenta integração do Cristianismo, em paralelo com a persistência de manifestações pagãs, ilustrando uma diacronia de ocupação do território entre os séculos IV e V da nossa Era. MONTEIRO e RAPOSO

Necrópole do Porto dos Cacos

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Figura 2 Planta da área escavada na necrópole.

O conjunto sepulcral organiza-se em cinco grupos tipológicos, dois deles ainda subdivisíveis: – Grupo A: sepultura em vala simples, não estruturada. Inclui as sepulturas 15, 25, 26 e 27; – Grupo B: sepultura em vala simples, coberta com ânforas dispostas horizontalmente, lado a lado mas com orientação alternada das bocas e fundos. Inclui as sepulturas 23, 28 e 29; – Grupo C: sepultura com vala ou cobertura estruturada com tijoleira. – Subgrupo C1: sepultura em vala simples, coberta por tijoleira em duas águas. Inclui as sepulturas 14 e 31; – Subgrupo C2: sepultura idêntica a C1, mas com a caixa estruturada em tijoleira, à excepção do fundo. Inclui as sepulturas 1, 3, 5, 6, 8, 12, 20, 24, 30 e 33; – Subgrupo C3: sepultura idêntica a C2, mas com o Figura 3 Tipologia dos grupos sepulcrais identificados na necrópole.

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fundo revestido a tijoleira. Inclui as sepulturas 2 e 16; – Grupo D: sepultura com vala ou cobertura estruturada com tegulae. Necrópole do Porto dos Cacos

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– Subgrupo D1: sepultura em vala simples, coberta por tegulae colocadas horizontalmente. Inclui a sepultura 10; – Subgrupo D2: idêntica a D1, mas com cobertura em duas águas. Inclui a sepultura 32; – Subgrupo D3: sepultura com caixa estruturada com tegulae, à excepção do fundo, com o mesmo material em cobertura de duas águas. Inclui as sepulturas 7 e 36; – Grupo E: vala aberta no solo, estruturada lateralmente com tijolos sobrepostos e coberta por falsa cúpula, também em tijolo; acima desta estrutura, uma cobertura com pedras, eventualmente rematada com camada de opus signinum. Inclui a sepultura 37, que será um sepulcro do tipo mensa, coevo das mensae de Tróia (Grândola) e Cartagena (Espanha).

Figura 4 Sepultura 16 (grupo C3, à esquerda), sepultura 28 (grupo B, em cima) e sepultura 37 (grupo E, em baixo).

MONTEIRO, J. L. (2012) – Necrópole Romana do Porto dos Cacos (Alcochete, Portugal). Dissertação de Mestrado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. RAPOSO, J. M. C. (1990) – “Porto dos Cacos: uma oficina de produção de ânforas romanas no vale do Tejo”. In ALARCÃO, A. e MAYET, F. As Ânforas Lusitanas: tipologia, produção, comércio. Paris: Museu Monográfico de Conimbriga / Diff. E. de Boccard, pp. 117-151. RAPOSO, J.; SABROSA, A. e DUARTE, A. L. (1995) – “Ânforas do Vale do Tejo. As olarias da Quinta do Rouxinol (Seixal) e do Porto dos Cacos (Alcochete)”. In Actas do 1º Congresso de Arqueologia Peninsular. Porto, 1993. Vol. VII, pp. 331-352 (Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Vol. 35, n.º 3). SABROSA, A. J. G. (1996) – “Necrópole Romana do Porto dos Cacos (Alcochete)”. In FILIPE, G. e RAPOSO, J. (eds.). Ocupação Romana dos Estuários do Tejo e do Sado. Lisboa: Câmara Municipal do Seixal / Publicações Dom Quixote, pp. 283-300. MONTEIRO e RAPOSO

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