A Obra de Marcos Girão aos olhos de: Joaquim de Matos Chaves

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Prof. Dr. Joaquim de Matos Chaves e Agustina Bessa-Luís (2ª Bienal Vila Nova Cerveira)

"A obra de Marcos Girão é fundamentalmente uma pintura do signo, uma caligrafia. O traço, o desenho, um desenho cromático, o gesto de que uma marca fica sobre a superfície, são determinantes ao conjunto do seu vocabulário plástico. Quer quando sobre um fundo monocromo dois ou três traços, ou manchas, afirmam o seu laconismo ou a sua estridência, quer quando ensaia soluções AliOver. Neste caso forma e fundo deixam de perceber-se como tais e surgem indivisíveis, com a subversão compositiva que daí advém. É em aspectos como a linha, o plano, a composição, a textura, a obra de Marcos Girão resolve-se em termos que não sendo totalmente novos, são de uma coerência indiscutíveis. A sua poética expressionista e a sua estilística informal dispõem de uma genealogia que se identifica com facilidade, mas não é isso que basta para lhe recusar o seu valor. O seu valor comparece não pela originalidade mas pelo modo de tratar a matéria pelo seu caracter de sistema, logo linguagem e pelo facto de representar, no panorama de Coimbra, um passo em frente muito nítido. Do dito anteriormente pode haver quem se sinta tentado a pensar esta pintura como uma pintura meramente decorativa. Será uma dedução e uma abordagem da obra superficial. Com efeito, se

privilegiei as dimensões formais, sintácticas, isso não pode ser entendido como prova de que a pintura de Marcos Girão está desprovida de significados, é um vazio semântico. Na linha da abstracção lírica em que se integra a área da semântica define-se em significados que se subtraem aos ditames da representação documental ou reconstituinte e a uma disposição criteriada logicamente. As verdades, as certezas, os sentidos, os valores decorrem de premissas alógicas, não racionais e sobretudo provenientes de estados anímicos espontâneos. A significação, a vasta e rica significação dos gestos, a energia que são capazes de desencadear, a sua força existencial, procuram estabelecer-se como uma autenticidade que está aquém e além de razões. Os signos convulsos, agitados denunciam dramatismo; o traço severo, denso, em conjunção com a cor: mostra um lirismo melancólico ou alegre. A cor é umas vezes signo lúgubre, outras é na sua pureza hino ou cântico vital. Vitalismo eis uma palavra que parece convir ao espírito que informa a maior parte das obras expostas. Há ainda na obra de Marcos Girão muito por encontrão. Para que esse encontrão aconteça é necessário muita procura. Recorro deliberadamente às palavras um dia usadas por Picasso e exactamente com o sentido oposto. Mas Picasso foi um génio não foi uma norma, e por isso estas suas palavras, mesmo se correspondem á realidade o que duvido, não podem ser entendidas como mandamento. O que não pode é recusar-se à obra de Marcos Girão um sentido afirmativo, coerente, um estilo, porque o trajecto já cumprido é suficientemente nítido e pode ser apresentado como garante." Prof. Dr. Joaquim de Matos Chaves Prof. História e Crítica de Arte (The Text and the Image – Presence of Prf. Joaquim de Matos Chaves at Galeria do Turismo em Coimbra - 1981)

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