A Parceria Trans-Pacífica e Desafios da Economia Global em Recuperação

June 26, 2017 | Autor: C. Pereira da Sil... | Categoria: International Economics, International Relations, International Trade, International Political Economy, European Union, International Economic Relations, Political Economy of International Trade, Trade, History of Brazilian Foreign Relations, Brazilian Foreign policy, World Trade Organization, Multilateralism, Free trade agreements, BRICS, Regional Trade Agreements, Relações Internacionais, História da Política Externa Brasileira, Politics and International relations, Regionalism and Multilateralism, Bretton Woods, Comercio Exterior, Emerging powers, Global power shift, Rise of BRICS Countries, Foreign Trade, Comercio Internacional, TRANSPACIFIC CONTACTS, Transpacific Studies, Relations Internationales, Multilateral Institutions, European Economic and Monetary Union, International trade agreements , Transpacific Partnership, New Development Bank, International Economic Relations, Political Economy of International Trade, Trade, History of Brazilian Foreign Relations, Brazilian Foreign policy, World Trade Organization, Multilateralism, Free trade agreements, BRICS, Regional Trade Agreements, Relações Internacionais, História da Política Externa Brasileira, Politics and International relations, Regionalism and Multilateralism, Bretton Woods, Comercio Exterior, Emerging powers, Global power shift, Rise of BRICS Countries, Foreign Trade, Comercio Internacional, TRANSPACIFIC CONTACTS, Transpacific Studies, Relations Internationales, Multilateral Institutions, European Economic and Monetary Union, International trade agreements , Transpacific Partnership, New Development Bank
Share Embed


Descrição do Produto

A Parceria Trans-Pacífica e os Desafios da Economia Global em Recuperação1 Carlos Frederico Pereira da Silva Gama2 O anúncio da conclusão da Parceria Trans-Pacífica (em inglês, TPP) foi a grande novidade da economia internacional em 2015. Prometida há duas décadas pelo então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, suas negociações atravessaram diversas crises internacionais e estavam paralisadas desde a crise de 2008, que afetou duramente alguns de seus integrantes. O maior acordo regional de comércio e investimentos une o NAFTA (a Área de Livre Comércio da América do Norte – Canadá, EUA e México) aos países com maior PIB per capita da Ásia (Brunei, Cingapura, Japão), a países recentemente industrializados daquela região (Malásia, Vietnã), às duas grandes economias da Oceania (Austrália e Nova Zelândia) e países da América do Sul (Chile e Peru). A TPP inclui um grupo de países integrantes ao mesmo tempo da OCDE e do G-20 (Austrália, Canadá, Japão, México, EUA). Esse mix transregional de países desenvolvidos e economias recentemente industrializadas traz dois recados fortes. O primeiro recado é claro e se endereça aos BRICS. Em 2015 dois BRICS verão suas economias diminuírem mais de 3%. Aventuras militares de Vladimir Putin tiveram efeito devastador na economia da Rússia, “premiada” com sanções internacionais. No Brasil, o declínio econômico pós-eleições é o pano de fundo de uma grave crise política que ameaça a continuidade do mandato presidencial da reeleita Dilma Rousseff. Também imersa numa crise política e tendo decrescido em 2014, a África do Sul crescerá pouco mais de 1% em 2015. As locomotivas do grupo (China e Índia) crescerão abaixo dos 8%. A parceria econômica entre grandes economias de três continentes ocorrerá tendo os BRICS como vizinhos em crise3. O segundo recado pode ser endereçado para o brasileiro Roberto Azevêdo, Diretor-Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em sua gestão, Azevêdo buscou avançar as negociações da Rodada de Doha, incluindo questõeschave (negociações agrícolas, serviços, a Agenda de Desenvolvimento de Doha) que persistem em aberto. A OMC opera de acordo com normas multilaterais4 – indivisíveis, baseadas em reciprocidades difusas e que operam via decisões consensuais e públicas. Impasses envolvendo pequenos grupos de países rebaixaram as expectativas: ao invés da convergência global de mecanismos institucionais, pequenas concessões para facilitar o comércio obtidas em Bali, 2013. As concessões ficaram aquém do impulso que a recuperação global pós-2008 demanda. O processo expôs as fragilidades do G-20 – pensado como mecanismo inovador capaz de institucionalizar a cooperação entre desenvolvidos e emergentes, reativando as normas multilaterais (OMC inclusa) no enfrentamento da crise. 1

Publicado no SRZD em 14 de Outubro de 2015. http://www.sidneyrezende.com/noticia/256015 Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e pesquisador voluntário do BRICS Policy Center 3 Gama, C.F.P.S. De Volta para o Futuro: O Brasil de Dilma Rousseff entre a Rússia e os Estados Unidos. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/251817 . Acesso em: 13 de Julho de 2015. 4 Ruggie, J.G., “Multilateralism: the anatomy of an institution”, International Organization, Vol. 46, No. 3 (Summer 1992), pp. 561-598 2

O TPP indica o esgotamento de um ciclo de tentativas de regular a economia internacional no século XXI através de organizações internacionais de membrezia aberta guiadas por normas multilaterais. As instituições de Bretton Woods (o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional – FMI) foram criadas durante a Segunda Guerra Mundial a partir de normas multilaterais disseminadas pelas principais economias capitalistas aliadas (EUA, Reino Unido, França). A criação de uma organização similar para regular o comércio internacional (proposta em 1948) foi abortada pela Guerra Fria e por processos de integração regional (o mais bem-sucedido deles foi o embrião da União Europeia). A opção possível à época foi o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (em inglês, GATT): um conjunto de concessões recíprocas que, em 47 anos, incorporou a maioria das grandes economias do planeta. A queda do Muro de Berlim fortaleceu o modelo de Bretton Woods e possibilitou a criação da OMC a partir do GATT. O futuro imaginado na época previa a universalização das normas multilaterais que regularam o comércio entre Europa Ocidental, América do Norte e Japão na Guerra Fria5. A expectativa de uma globalização liberalizante baseada em mercados sem fronteiras bateu de frente com uma sequência de crises globais (que paralisaram a OMC) até chegar a 2008. O crash nas economias desenvolvidas desacreditou o Banco Mundial e o FMI. A relutância dos desenvolvidos em reformar essas instituições pós-crise motivou os emergentes mais afluentes (os BRICS) a criar instituições alternativas não-multilaterais – caso do Novo Banco de Desenvolvimento (“Banco dos BRICS”), que começa a funcionar em 2016 seguindo as mais bem-sucedidas práticas dos emergentes no enfrentamento da crise de 20086 (o “Consenso de Beijing”). Ao reunir um pequeno número de grandes economias e emergentes, o TPP reforça a tendência de contestação minilateral através de pequenos grupos de países (clubes)7. Em contraste com a busca da OMC por tornar mais livre o comércio entre as nações com a queda de barreiras e a criação de mecanismos globais (de incentivos e punições) em negociações públicas, o TPP (criado longe dos olhos da opinião pública) promete gerenciar o comércio e os investimentos entre seus integrantes8, abrindo margem para medidas excepcionais e para a persistência de assimetrias institucionais. O novo acordo nasceu sob acusação de ser uma ferramenta de poderosos lobbies industriais loteados nos parlamentos de seus estados-membros.

5

Rosenau, J.N. & Czempiel, E. Governance without Government – Order and Change in World Politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. 6 Gama, C.F.P.S. A Aliança Brasil-China num Sistema Internacional em Transformação. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/249738 . Acesso em: 27 de Maio de 2015. 7 Gama, C. F. P. S. “Assemblages of a Shifting World Order: The Rise of BRICS and Multilateralism”, trabalho apresentado na 2013 Annual Conference da British International Studies Association, Birmingham, 20-21 Junho, 2013. 8 Stiglitz, J.E.& Hersh, A.S. The Trans-Pacific Free-Trade Charade. Disponível em: https://www.projectsyndicate.org/commentary/trans-pacific-partnership-charade-by-joseph-e--stiglitz-and-adam-s--hersh-201510 . Acesso em: 5 de Outubro de 2015.

O Brasil sentiu a direção da transformação. Após fechar acordos comerciais e de investimentos com China9, EUA10 e Alemanha11 à distância segura dos colegas do Mercosul, o governo Dilma acaba de fechar um acordo comercial automotivo com a Colômbia12, economia que mais cresceu na América do Sul nos últimos anos. O pragmatismo comercial da diplomacia brasileira no segundo governo Rousseff13 mostra um revigoramento do Itamaraty após rusgas com a Presidência no primeiro mandato. Concessões recíprocas acordadas com os colombianos (em área historicamente importante para o Mercosul) lembram termos do TPP e acordos que a Colômbia tem com México e EUA. Deixam claro que o Brasil não vai esperar a recuperação econômica portenha para iniciar o resgate do próprio crescimento. Às voltas com turbulências domésticas, a Argentina é um dos países que dificulta um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia – um dos objetivoschave de Dilma. A liberalização comercial global pós-Guerra Fria criou incentivos para Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai (países em redemocratização) acelerarem a abertura entre si14. Esse processo de aproximação política envolveu setores industriais e burocracias estatais e culminou, em junho de 1991, no Acordo do Jardim de Rosas entre EUA e Mercosul. Os anfitriões ficaram surpresos: tinham preparado cinco cadeiras para a negociação e foram informados de que os membros do Mercosul usariam, rotativamente, apenas uma15. Com a reversão de tendências globais de liberalização multilateral (e sua substituição por clubes com diferentes configurações normativas em sobreposição e confronto), o destino do Mercosul é incerto. É possível que numa rodada de negociações futura os EUA se surpreendam ao encontrar Brasil e Argentina em cadeiras diferentes.

9

Gama, C.F.P.S. A Aliança Brasil-China num Sistema Internacional em Transformação. Gama, C.F.P.S. De Volta para o Futuro: O Brasil de Dilma Rousseff entre a Rússia e os Estados Unidos. 11 Gama, C.F.P.S. Celebração Inacabada: Nos 70 anos da ONU, Brasil e Alemanha propõem reformas. Disponível em: http://www.sidneyrezende.com/noticia/253844. Acesso em: 24 de Agosto de 2014. 12 http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-e-colombia-fecham-acordo-de-livre-comercio-parao-setor-automotivo,1777394 13 Gama, C.F.P.S., Conquistas e Desafios da Política Externa de Dilma Rousseff. Disponível em: http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Conquistas-e-Desafios-da-Politica-Externa-de-DilmaRousseff/4/32244. Acesso em: 16 de Novembro de 2014. 14 Amorim, C, “A integração sul-americana”, DEP, N.10 (Outubro/Dezembro 2009), pp. 5-26. 15 Idem, p.9 10

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.