A Pintura Viva de Marcos Girão

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Prof. Dr. Manuel Bontempo

A Pintura Viva de Marcos Girão: Filosofando com as tintas, com os desenhos, ideias vanguardistas, tudo passa pela mente deste artista desaguando a sua inquietude não raro no surrealismo ou no abstraccionismo e passa pelo impressionismo ou expressionismo com segurança, conforme o pathos ou a idiossincrasia, e transmite expressivos quadros, numa voz sem arestas gritantes, ora com sobressaltos preconcebidos ora com sossegos laborados em profunda meditação. Irrequieto. Inconformado. Mostra através destes anos todos um filme diversificado pela inter-assimilação da cultura onde fica o seu facie psicológico que fazem de Marcos Girão, um criador nato, mesmo dentro da sua misantropia, que o transporta a afinidades a Braque, Monet, e perpassa amiúde, Chagall e na boémia Maurice Utrillo, no caminhar por trilhos diversos, inquietos, irreverentes, na colheita das ideias, no brotar da pureza das nascentes, na luz incandescente de uma arte rebelde, acordada contra o torpor num amar a arte ou na procura de formas, de fantasiar, em plenos céus da inspiração que lhe granjearam um lugar relevante na pintura portuguesa. Nefelibata. Se parece, por vezes, possuir um ar de loucura (sem interpretação freudiana)), de comentador de fisionomias humanas nas intimas reacções da sua pintura comunicante e desconfiada, como brincasse com a inteligência de cada um de nós, é nas perspectivas libertas que desmistifica a mediocridade e o postiço, numa forma e num conteúdo que sugere a imponderabilidade de sugestão cultural que faz deste artista-nato um agente vivo da nossa cultura. Desde a década de 70 que Marcos Girão tem distribuído pelo país e Espanha o seu individualismo com uma leitura para

entendidos e diletantes, críticos e snobes, em proporções corpóreas como uma rapariga de Corinto já que a sua pintura, arte, tem o sensualismo da mulher linda, lavada, que se deseja e que este pintor nos entrega ora num impressionismo actual e ora num expressionismo de escorreita gramática. As suas exposições têm o seu timbre uma irreverência sadia, alegre, e um meditar da narrativa demonstrativa do humanismo do auto, que pode ser o de cada um, conforme o poder de absorção de quem vê e lê os seus quadros. Neste artista há uma mobilidade constante da cor que lhe fornece uma originalidade de conteúdos, desde a figura, à paisagem, e marca sempre um valor num processus genético do lirismo da tal cor que transpõe as perspectivas para um mundo alongado, de ressonâncias que ficam nos olhos, na sensibilidade, onde a seriedade deste pintor nunca fica em causa com os pormenores bizantinos ou das circunstâncias fortuitas. O sensualismo da forma, ou um determinado exotismo, é a revelação da descoberta que Marcos Girão através dos anos desenvolve tornando-se o seu quid que se cinge a uma esquadria numa tentativa de trânsito para uma sonhada transcendência à iminência, que, por vezes, lhe rouba o fôlego da criação. E é, certamente, nesta antinomia que o pintor se vincula mais à criação na limpidez da linguagem que sofre entorses quando existe momentos de procura intelectualizada que vai ofuscar a profunda consciência pictural do quadro. Mas a forma de conhecimento deste pintor ágil e cerebral adquire a exploração interior e sai com frescura de um ou outro beco pleno de sombras na angústia da criação. Pintor de momentos inolvidáveis e de outros menos conseguidos é um teorizador da pintura, ora num exotismo singular e ora num formalismo de movimentos que equaciona matematicamente a arte, o quadro, para lhe dar a presença que modularmente honra a arte. Pintar é o fado de Marcos Girão. Afaga as tintas, os quadros, dá-lhe vida e solta-os pelo país, Espanha, França, sem trombetas. Talvez seja uma forma de moldar a vida, a existência tipo Husserl, ou mesmo Sartre, de transformar tudo em "essências", ou como Max Scheller, em considerar a pintura como a arte duma cabeça bem organizada e rebelde a preconceitos obsoletos, ou seja criador de quimeras na sua boémia de Utrillo, certo é, este pintor possuir os móbiles da criação humanizada, integrada no nosso mundo abstraindo toda a sexualidade cívica e artística. Espiritualiza a Pintura desnudando a sua Alma, como fosse poeta, ou Torga ou mesmo Manuel Alegre, e afaga os pincéis como o fizesse ao rosto do antigo grego e enterra a sua "clausura", num copo de absinto e nas pinceladas nervosas que dão novos quadros...

Prof. Dr. Manuel Bontempo

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