A possibilidade da impossibilidade como capacidade da incapacidade

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A possibilidade da impossibilidade como capacidade da incapacidade. Inês Alves | [email protected] Boletim dos Arquitectos | Março 2013

Impossibilidade & Incapacidade A inevitável alteração paradigmática das últimas décadas, caracteriza-se por duas faces da mesma moeda. Por um lado a situação económica actual protagonizada pelo mundo ocidental, e por outro, uma realidade traduzida por uma abundante quantidade de arquitectos formados nas últimas duas décadas. Inicialmente, a 2ª das faces foi sendo atenuada pela capacidade autodidacta e multidireccional desde sempre mantida pelo profissional de Arquitectura. Porém, nos últimos anos, a 1ª das faces foi ganhando peso e impossibilitando que o auto-emprego por si só fizesse frente à situação económica que vivemos. Hoje podemos considerar que ambas as faces desta moeda se encontram escurecidas e esbatidas, uma vez que perderam rubustez, como uma daquelas moedas negras que persistem habitar o fundo da carteira. Hoje facilmente encontramos arquitectos desempregados, explorados ou ‘deslocados’ da sua área de formação. Não penso ser condição essencial, pensarmos a necessidade do emprego na área de formação e a sua digna remuneração, mas essencialmente pensar como colocar esta condição à disposição, não apenas de uma comunidade “desempregada, explorada ou deslocada”, mas também de uma sociedade que deixou de ter como primeiras necessidade abrigo e consumo. As taxas exorbitantes de imóvel construído e a compra em detrimento da cultura do arrendamento, vieram por uma data de anos camuflar a produção de jovens arquitectos na máquina académica, questão que aos poucos se foi invertendo, nomeadamente com a queda das condições dos mercados financeiros e posterior incapacidade frente às condições de crédito e finalmente a oficialização da compra. E o arquitecto foi deixando uma condição de auto-suficiência, deposta pela da sobrevivência. Possibilidade & Capacidade O background em arquitectura, não me fez necessariamente profissional ‘em’ arquitectura, sendo que a prática da mesma não faz inequivocamente parte do quotidiano de um inquestionável arquitecto, formado e com cotas à OA em dia. A deslocação disciplinar surge simplesmente como um expandir de um espectro luminoso e que ao se ampliar vai tocar e transgredir barreiras de espectros vizinhos.

Nada de tão inovador quanto isso. Toda a vida a profissão do ‘pedreiro que aprendeu latim’, se contaminou de múltiplos saberes. Mas hoje, e talvez porque esses múltiplos saberes ‘contaminadores’, terem permanecido por tantas centenas de anos envolvidos por uma névoa inquestionável, deparamo-nos com uma total estranheza frente a correntes de conhecimento com pontos de contacto em comum, ‘fertilizações cruzadas’ e inúmeras possibilidades. Ao bater de frente com a situação da ‘moeda negra’ - que acima nomeei temos o dever de agarrar todo o saber contaminado que temos, e partir para uma contaminação iniciática, invertendo o processo inicial. Agora sim, cabenos a nós contaminar, com aquele background de que falava à pouco e da entendida ‘não prática’ da disciplina. Pensar arquitectura e rever o entendimento da sua formatação, será uma actividade de ‘não prática’? Ou deveremos abrir o espectro a outros entendimentos úteis para uma revisão da actividade do arquitecto sejam repensado? Entre aqueles “desempregados, explorados ou ‘deslocados’, não serão aqueles que de pé assente numa mescla de ‘borderlines’ disciplinares que deverão ser encarregues de pensar um novo propósito para a arquitectura?

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