A presença minimalista como efeito memético em (re) produções de cartazes cinematográficos na web The minimalist presence as in memetic effect in (re) production of cinematographic posters on the web

June 5, 2017 | Autor: Marcio Jokowiski | Categoria: Poster Design, Memes, Estética, Remix, Minimalismo
Share Embed


Descrição do Produto

A presença minimalista como efeito memético em (re) produções de cartazes cinematográficos na web Márcio Luiz Jokowiski Márcio Luiz Jokowiski é Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Linguagens, linha de pesquisa Processos Mediáticos e Práticas Comunicacionais (UTP-PR); Mestre em Comunicação e Linguagens (UTP-PR); Especialista em Marketing Integrado (UNICENP-PR) e Bacharel em Publicidade & Propaganda (PUC-PR); Membro do grupo de pesquisa Interações Comunicacionais, Imagens e Culturas Digitais (INCOM); Docente na instituição FAE-PR.

Resumo. O presente artigo tenciona apresentar de que forma o redesign de cunho minimalista desencadeia um tensionamento entre efeitos de presença e sentido em cartazes cinematográficos, bem como articular a relação entre produção e reprodução quando estes pôsteres são compartilhados na internet. Dentre as proposições levantadas abrem-se as possibilidades de que o formato minimalista de organização da informação (Bonsiepe), baseado nos efeitos de presença (Gumbrecht) permite uma produção de sentido (Floch) mais significativa do que a obra original (Benjamim), quando estes pôsteres são remixados e memetizados em plataformas de interação social na internet (Lemos). O instrumental metodológico apresenta um caráter híbrido, desdobrado em pesquisa bibliográfica, observação tanto de abordagem assistemática, de estrutura livre e exploratória, quanto do tipo experimental, sistemática, com amostragem nãoprobabilística, intencional por julgamento e de campo (netnografia). Palavras-chave. Estética, minimalismo, pôster cinematográfico, remixagem, memes.

The minimalist presence as in memetic effect in (re) production of cinematographic posters on the web

Abstract. This article intends to present how the minimalist nature of redesign unleashes a tension between presence and meaning effects in movie posters, as well as joint approach between production and reproduction when these posters are shared on the internet. Among the proposals raised open up the possibilities for the minimalist format of information organization (Bonsiepe), based on the effects of presence (Gumbrecht) enables a more meaningful sense (Floch) of the production of the original work (Benjamin), when these posters are remixed and memetized in social interaction platforms on the Internet (Lemos). The methodological instrument has a hybrid character, deployed in literature, observing both unsystematic approach, free and exploratory structure, as the experimental type, systematic, with non-probability sampling, intentional by judgment and field (netnography). Keywords. Aesthetics, minimalism, film poster, remixing, memes.

Preliminares Parece uma prática recorrente a utilização do conteúdo imagético como forma de expressão na maioria das redes de interação social em ambiente digital. A grande quantidade de fluxo informacional, bem como a diversidade e velocidade de atualização destas informações, possibilita um terreno fértil para mensagens que valorizam o texto não-verbal. A presença de um design visual, de cunho mais minimalista, em alguns conteúdos que circundam as redes sociais da internet tende a provocar interações comunicacionais entre os usuários destas plataformas. A estética minimalista acaba assumindo o modus operandi para a reconfiguração e potencialização de certos objetos comunicacionais. No âmbito desse contexto está inserido o aspecto memético onde as informações são difundidas, de uma certa maneira, epidemicamente, alcançando vários atores sociais tanto no online quanto no offline. A reflexão a que se propõe este breve questionamento advém de algumas observações de cunho netnográfico realizadas na internet, em particular em plataformas digitais de interação social online onde é possível o compartilhamento de imagens. Ausente do rigor escolástico de uma classificação prévia, bem como da pretensão de elaborar uma extensa taxonomia própria, as obras trazidas à tona nesse breve discurso possuem um caráter duplo: originalidade e influência no nível artístico, produção e reprodução no âmbito comunicativo. Há duas particularidades que unem grande parte

destas obras: a influência de uma certa estética minimalista e a possibilidade desta abordagem ser um redesign de uma peça (filme ou pôster cinematográfico) já existente. Esta dualidade talvez seja um preceito devido ao ambiente onde trafegam estes objetos: a web, onde há uma possibilidade tanto de dispersão quanto à circulação da informação redundante e extremamente quantificada.

Spreadeable Media O conceito de meme, muito utilizado por alguns teóricos para a compreensão da transmissão de informações nas redes sociais na internet, teve sua consolidação com Dawkins (2007) que compara a cultura como um replicador de ideias compartilhadas por todos os cérebros que as compreendem, tal qual o gene da teoria darwiniana. Recuero (2001) propõe uma classificação dos memes baseada no pensamento de Richard Dawkins, visto que a difusão da cultura não opera apenas no âmbito da imitação e da automatização, ela traz consigo objetos comunicativos preciosos. Inclusas na taxonomia de Raquel Recuero estão algumas classificações que são pertinentes a esta breve explanação, principalmente no que tange à fidelidade da reprodução (metamórficos), à longevidade (persistentes), à fecundidade (fecundos) e ao alcance (locais) dos memes. Os memes de reprodução metamórfica estão sujeitos a uma maior possibilidade interativa, muitas vezes aparecem inseridos em um determinado contexto específico onda a informação não é meramente repassada, ela é discutida, recombinada e transformada. Devido estes aspectos que eclipsam suas características originais não são facilmente rastreáveis. Já os memes de característica persistente são menos efêmeros, mantendo um certo nível de importância, principalmente em comunidades de interação social na web mais segmentadas, onde assumem também um papel de memes fecundos e, em última instância, possuem um alcance local quando propagados por usuários que interagem nestas comunidades afins. Ainda em Recuero (2001), tem-se o indicativo de valores tais quais a autoridade, a popularidade, a visibilidade e a reputação que, associados ao capital social, são de suma importância para transmissão de informações. O capital social voltado para as redes sociais na internet opera com uma confluência de pensamentos de Pierre Bordieu, James Samuel Coleman, Robert David Putnam, sintetizados por Bertolini e Bravo (2001), onde as autoras entendem o capital social sob a ótica da disponibilidade de recursos de um grupo de indivíduos, representados por características específicas da estrutura social e que auxiliam na busca de interesses e objetivos. O capital social de

teor relacional - onde se pressupõem a valorização da sociabilidade da rede que difunde a informação, bem como a ampliação da mesma e o imbricamento dos laços sociais - e o cognitivo – transmissão e aquisição de conhecimento na iteração entre os atores/usuários - são os de significativa afluência nas plataformas de interação online quando associados aos valores supracitados.

Uma Possível Estética Minimalista Faz-se mister apresentar alguns apontamento a respeito do design de estética minimalista. Pode-se dizer que as escolas artísticas e de design precursoras do movimento minimalista foram a De Stijl (1917), a Bauhaus (1919), o Construtivismo Russo (1924), o Estilo Internacional (1930) e a HfG Ulm (1953). Desencadeado nos anos 60, a partir do ensaio Minimal Art, do filósofo R. A. Wollhein (1923-2003), o termo minimalismo foi associado a artistas como C. Andre (1935), D. Flavin (19331996), D. Judd (1928-1994), F. Stella (1938) S. LeWitt (1928-2007) e R. Morris (1931), embora o respectivo manifesto de Wollhein mencione Duchamp (1887-1968), Mallarmé (1842-1898) e Rauschenberg (1925-2008), não relaciona nenhum dos artistas minimalistas supracitados. (BATCHELOR, 1999) Paralelamente aos artistas envolvidos com a Minimal Art é prudente inserir os trabalhos do artista gráfico americano Saul Bass (1920-1996), que foi influenciado pela escola Bauhaus e pelo Construtivismo Russo, transparecendo em suas obras, de uma certa forma, a estética minimalista. A partir da década de 40, Bass teve uma atuação mais incisiva na área de design gráfico, tendo vários projetos de comunicação visual para empresas como AT&T, Quaker Oats e United Airlines. Em 1952, na cidade de Los Angeles fundou o seu próprio escritório onde começou a trabalhar no que seria a sua especialidade: o Title Designing, ou seja, a comunicação visual para sequências e créditos cinematográficos, sempre sobre uma forte influência do design gráfico de cunho minimalista, aplicado em um ambiente cinético. Bass também era responsável por storyboards de algumas películas e desenvolvia a programação visual para peças promocionais de obras cinematográficas, como pôsteres e afins. (Figura 1)

Figura 1- Montagem com alguns pôsteres de cartazes promocionais de autoria de Saul Bass. Fonte: www.saulbassposterarchive.com

Um conceito pertinente sobre a arte minimalista, embora um tanto reducionista, serve de parâmetro para as observações dos cartazes cinematográficos redesenhados. Para Zabalbeascoa & Marcos (2001) uma produção artística de geometria elementar, vagamente austera, com um certo monocromatismo, de aparência abstrata e, por vezes, com elementos em repetição pode ser rotulada de minimal. Uma obra minimalista seria então uma composição simples, de formas retilíneas e/ou regulares, sem efeitos de composição ou ornamentais com um habitual apelo ao negativo da imagem, onde se procura “indicar o que não é para aproximarem-se do que é”. (ZABALBEASCOA; MARCOS, 2001, p.18)

REDEsign A resultante da interseção entre a estética minimalista, já apresentada anteriormente, e a estética da remixabilidade pode configurar-se como o objeto comunicativo deste ínfimo estudo. Mediante esta possibilidade, cumpre enumerar alguns aspectos sobres essa outra estética. O termo cunhado por Manovich (2006) opera com uma nova linguagem híbrida e, em sua essência, visual. É a lógica da remixabilidade, não somente o conteúdo apresentado nos diferentes suportes midiáticos nem apenas os princípios estéticos, mas suas técnicas fundamentais, formas de produção e finalidades. A protocooperação entre diferentes linguagens em um mesmo ambiente origina um novo espaço de produção midiática, uma metamídia, onde as técnicas peculiares de diferentes suportes, associados ou individualemente, fluem com mais liquidez.

A maioria das práticas de remixagem são fundamentas na hibridização cultural, ora já anunciada por diversos autores, tal qual Bordieu (2004), como a premissa de adaptar métodos e práticas já consagradas em um determinado ambiente aos materiais pertencentes a um diferente suporte, com a deliberada intenção de criar um nova funcionalidade. Há produtividade quando determinado espaço oferece mais vantagens competitivas em detrimento a outrem e quando possui um estatuto inferior àquele. Lemos (2006, p.1) ao fazer uma relação com o ciberespaço aproxima a ideia de hibridização com as redes: “As novas tecnologias de informação e comunicação alteram os processos de comunicação, de produção, de criação e circulação de bens e serviços nesse início de século XXI, trazendo uma nova configuração cultural .” Há ainda mais um elemento que suplanta o seu caráter techne intrínsico para assumir uma função mais próxima da praxis comunicativa quando inserido na dita Ciber-Cultura-Remix (LEMOS, 2006): o design. Como as análises a posteriori envolvem obras onde se debate a ação (ou passividade) do designer (ou remixador) como sujeito actante no processo comunicativo, é de bom alvitre, tecer alguns comentários a respeito do design para situar a relação do mesmo com as new media. Bonsiepe (1997) orienta que design é o domínio das relações entre usuário e produto que visam facilitar ações efetivas, ou seja, essencialmente opera com interfaces. Desta forma, distancia-se um pouco dos conceitos de forma, função e necessidades e insere o design no quadro de ação social. É possível comparar a interface, de uma maneira bem simplista, a uma semiose, onde signos transformam-se em informação interpretável e presença física em disponibilidade, revelando-se então o caráter dos objetos e o conteúdo comunicativo das informações. Ao se utilizar de alguns aparatos da tecnologia digital, o designer pode passar de mero ‘embelezador’ a organizador de informações para os ambientes eletrônicos ou digitais. A simples transposição de conteúdos visuais tende a ser substituída por uma atuante e autoral organização da informação: o infodesign, termo cunhado por Maldonado (1992) e Bonsiepe (1997). Comunicação efetiva em espaços onde ocorrem um hibridização cultural requer a seleção, organização e representação das informações e esta operação cognitiva pertence à ordem do infodesign, caso contrário existe um risco da mera tradução de conceitos predefinidos.

Uma Visão Sinóptica

O caráter assumidamente assistemático, de estrutura mais livre, exploratório e contemplativo das observações das obras permitiu uma tour de force por dezenas de cartazes exibidos em diversas redes sociais na internet. No entanto como aponta Rudio (1997) estes procedimentos orientam na realização do ato reflexivo, isto é, a operação discursiva de nossa mente. Como a circulação dos cartazes remixados envolve vários atores sociais (nodos) conectados em diferentes níveis de laços sociais, optou-se por um recorte de natureza apenas contextual. Este levantamento de caráter netnográfico é o que demanda mais esforço para análise, de tal sorte que o esboço a seguir é uma partícula da pesquisa da qual este ensaio é um experimento. Como aponta a Figura 2, o recorte escolhido foi a rede social online de compartilhamento de imagens e vídeos Pinterest. Dentro da plataforma ocorreu uma busca orgânica com o termo Minimalist Movie Poster Vertigo, sendo encontrados 53 cartazes remixados para o filme Vertigo (Um Corpo que Cai), dentre estes optou-se pelo pôster que aparecia postado pelo maior número de atores sociais (cinco) da rede Pinterest. O redesign do cartaz escolhido era de autoria de Kate Whelan, que em seu perfil no microblog tumblr, onde a obra está postada desde fevereiro de 2011, não há nenhum comentário a respeito da mesma. Só depois de disseminar na rede, a obra consegue um relativo alcance: no Pinterest a obra remixada já conta com 967 seguidores, no tumblr Minimal Movie Poster tem um alcance de 375 seguidores,

além

hitchcocksvertigo.com.

de

estar

nos

sites:

design-caster.com,

indulgy.com,

Figura 2- Resultado de uma das buscas orgânicas na plataforma social online de compartilhamento de imagens e vídeos Pinterest, utilizando as tags Minimalist Movie Posters Vertigo na plataforma. Fonte: www.pinterest.com

Mesmo com este parco vislumbre pode-se apontar que o escolhido redesign do pôster possui algumas características: meme persistente (quatro anos de espalhamento na rede) e fecundo, já que a disseminação deu-se pelos atores sociais e não o autor; meme metamórfico, devido a uma interessante e pertinente recombinação de conteúdo; quanto ao alcance pode–se dizer que tem tendências locais, devido aos sites segmentados em que a releitura foi compartilhada, mas em termos quantitativos a rede social online Pinterest supera o tumblr segmentado. Já quanto à construção de capital social o remix adquire valores de reputação – devido ao apelo estético menos redundante face as outras obras redesenhadas e pelo significativo compartilhamento em um ambiente segmentado (o tumblr Minimal Movie Poster) - e popularidade, já que dentro de uma amostragem específica teve um relativo grau de compartilhamento. Toda criação mimética é também uma incursão na metalinguagem do meio em questão, que assume uma aparência ao senso comum, ocultando seu ponto de ruptura. Por atuar no limite do improvável, tomar de assalto uma audiência crédula e questionar diretamente nosso poder individual de discerner sobre o “verdadeiro” e o “falso”, estas ações podem ser muito mais eficazes quando se trata de aproximar uma discussão crítica. Quando se descobre o caráter mimético de uma ação artística, há uma nova atenção em jogo. E é justamente a partir desta nova compreensão que nasce seu poder reflexivo (NUNES, 2012, p.51).

Desta feita os processos de difusão de informações nas redes sociais na internet, operam com as tipologias da informação transmitidas e as motivações dos atores partícipes, seara esta para o surgimento de uma terminologia mais contemporânea: o de spreadeable media. Neste modelo de mídias espalháveis os atores exercem uma função de vertedouro em detrimento à passividade hospedeira da mídia viral, suas escolhas e ações determinam o que gera valor no novo ambiente midiático. (JENKINS, 2009) O epílogo deste apanhado de questionamentos é um movimento panorâmico acerca da amplitude da experiência que o recorte empírico pode desencadear no prosseguimento do estudo. As Figuras 3, 4 e 5, servem como gatilho para uma reflexão mais profunda. Tem-se a imagem original do pôster para o filme Vertigo de autoria de Saul Bass (Figura 3), seguida do redesign Aidan Nolan (Figura 4), e finalmente a releitura Rafal Topolski (Figura 5), respectivamente.

Figura 3- Pôster original do filme Um Corpo que Cai por Saul Bass. Fonte: www.saulbassposterarchive.com

Abre-se aqui um viés para comentário sobre a presença da ora denominada estética minimalista. No que tange aos formantes plásticos de nível cromáticos, as três obras apelam para um certo monocromatismo: a supremacia das matizes de laranja nas obras de Bass e de Nolan; e o preto em Topolski. Há também uma economia cromática nos demais elementos constituintes dos três cartazes: duotônicas (branco e preto) para elementos tipográfico e alguns grafismos. Quanto aos formantes eidéticos estes apelam para formas elementares e regulares: como os traços circulares nos grafismos de Bass e Nolan e os elementos geométricos seriais em Topolski. Finalmente o formante topológico é avistado em uma certa simetria dos blocos de composição em Bass e Nolan, com uma massa imagética e uma outra verbal distintas e concentradas, bem como na repetição ad infinitum do elemento geométrico (‘degraus’ retangulares) em Topolski. A semiótica plástica caracteriza-se, de um lado, pelo fato que é o sistema semissimbólico que rege a semiose – a relação significante-significado em si – e, por outro lado, certamente, pelo fato que a substância da expressão é visual. (FLOCH,1987, p. 17).

Figura 4- Pôster redesenhado e disseminado na rede de autoria de Aidan Nolan. Fonte: designspiration.net/andstudio

Neste ponto o estado da questão procura discutir em que medida o redesign transcende a presença do design de traço minimalista do artista gráfico Saul Bass para gerar possíveis efeitos de sentido. A influência de Bass parece mais presente na releitura laranja, contudo efeito de sentido, da perspectiva vertiginosa em abismo no remix do pôster noir, também é desvelado. Em contrapartida o cartaz de Nolam opera o sentido de vertigem de forma diferente do original de Bass e, nesse embate quase dicotômico há no pôster de Topolski a presentificação do aturdido ‘protagonista’ do filme: a escada. Outra questão subjacente, já aventada em uma seção anterior, entra em cena: a obra cinematográfica original, aurática, que pode ser na realidade a versão primária que sofre sucessivas reproduções.

Figura 5- Pôster remixado e disseminado na rede de autoria de Rafal Topolski. Fonte: lafarposters.tumblr.com

Diante destes apontamento fica evidente a figura do remixador como infodesigner. Explorar a tensão entre verbal e não-verbal requer uma certa cognição. Para tanto, a seleção, organização e apresentação das informações em tecnologias digitais devem possibilitar uma comunicação efetiva, sem enveredar pelo caminho fácil das tendências e da mera tradução de informações. (BONSIEPE, 1997)

À Guisa de Sugestão

Na confluência dessas asserções, Bastos (2005) parece condensar o objeto das conjecturas apresentadas neste texto, preparando-o para um aprofundamento. A remixagem de produtos culturais não se equipara à reciclagem de bens materiais. Na reciclagem de resíduos sólidos, por exemplo, o produto resultante pode ser perfeitamente reaproveitado. Na remixagem de bens de caráter cultural, pode ocorrer justamente o contrário: como o processo de reaproveitamento é quase ilimitado e atende a infinitos contextos, principalmente na rede, há possibilidade destes produtos culturais sofrererem um esgotamento ou até esvaziamento comunicativo na internet. Existe sobrevida na Ciber-Remix-Cultura apenas para as práticas criativas que entendem e exploram a liquidez das linguagens, exercendo uma postura crítica (ou irônica) no

tratamento destes novos suportes. As transformações sociais provocadas pela tecnologia reconfiguram a natureza do saber. (LYOTARD, 2006) No que tange a uma possível estética baseada na arte minimal, a mesma aparece como um elemento que está no limiar entre presença e sentido quando empregada no redesign dos referidos pôsteres. O dito minimalismo tende assumir uma condição presente, quando há gradações, traços do artista gráfico Saul Bass nas respectivas releituras, vide Benjamim (1983, p.13): “( …) a autenticidade escapa a toda reprodução que o desenvolvimento intensivo de alguns processos técnicos de reprodução permitiram fixar graus e diferenciações dentro da própria autenticidade”. A referida estética minimal também poderia abarcar uma condição sensível, operando nos níveis mais elementares desta experiência, com aponta Gumbrecht (2010): A presença e o sentido, prolongado a partir desta, são indissociáveis. A trilha do conhecimento necessita de uma certa materialidade para atingir o nível da interpretação, de tal sorte que os efeitos de significado devem considerar as condições de presença de produção deste sentido, ou seja cada suporte midiático afeta o sentido comunicativo que leva consigo.

Referências ADORNO, Theodor. Introdução à controvérsia sobre o positivismo na sociologia alemã. In. BENJAMIN, HABERMAS, HORKHEIMER, ADORNO. Os Pensadores. São Paulo: Abril, 1983 BASTOS, Marcus Vinicius Fainer. ex-Crever? literatura, linguagem, tecnologia/ Marcus Vinicius Fainer Bastos. São Paulo: CID/PUCSP, 2005. 143 fl.(Tese de doutorado). BATCHELOR, David. Minimalismo. São Paulo, Cosac & Naify, 1999 BERTOLINI, S.; BRAVO, G. Social Capital, a Multidimensional Concept. Disponível em Acesso em 23 ago 2015. BONSIEPE, Gui. Design: do material ao digital. Florianópolis: Fiesc/Iel, 1997. BORDIEU, Pierre F. Para uma Sociologia da Ciência, Lisboa: Edições 70, 2004 DAWKINS, Richard. O gene egoísta . São Paulo: Companhia das Letras, 2007. FLOCH, Jean Marie. Semiótica plástica e linguagem publicitária. Tradução: José Luiz Fiorin. In: Significação: revista brasileira de semiótica. São Paulo, no 6, p. 29- 60, jan. 1987

GUIMARÃES, César. Experiência estética e vida ordinária. Revista E-Compós, edição 1, dezembro de 2004. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir. Rio de Janeiro: Contraponto, Ed. PUC-Rio, 2010. HAROCHE, Claudine. A condição sensível: Formas e Maneiras de Sentir no Ocidente. Rio de Janeiro: Ed. Contra Capa, 2008. JENKINS, Henry. If it doesn’t spread, it’s dead (part one): media viruses and memes. Confessions

of

an

Aca-Fan

,

11

fev.

2009.

Disponível

em:

http://henryjenkins.org/2009/02/if it doesnt spread its dead p.html Acesso em: 6 Jan. 2015. LEMOS, A. "Ciber-cultura,-remix". In: ARAÚJO, D. C. (ed.). lmagem (Ir) realidade. Comunicação e cibermídia. Porto Alegre, Sulinas. 2006. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. MACEDO,

Flávia

Lacerda

Oliveira.

Arquitetura

da

Informação:

aspectos

epistemológicos, científicos e práticos/ Flávia Lacerda Oliveira de Macedo. Brasília: CID/UnB, 2005. 190 fl.(Dissertação de mestrado). MANOVICH, Lev. After effects, or velvet revolution in modern culture. Part l. Disponível

em:http://manovich.net/content/04-projects/050-after-effects-part-

1/50_article_2006.pdf Acesso em: 7 Jan. 2015. MARCONDES, Danilo. A linguagem e as ciências humanas. In: Filosofia, linguagem e comunicação. São Paulo: Cortez, 2012. MALDONADO, Tomás. Reale e Virtuale. Feltrinelli: Milano, 1992. NUNES, Fabio O. O Fake na Web Arte: Incursões Miméticas na Produção em Arte Etecnologia na rede Internet In..Anais do Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas [Recurso eletrônico] / Sheila Cabo Geraldo, Luiz Cláudio da Costa (organizadores). – Rio de Janeiro: ANPAP, 2012. PEIRCE, Charles S. Semiótica 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999, p. 220 (Coleção debates). RECUERO, Raquel. Redes sociais e internet . Porto Alegre: Sulina, 2009. RUDIO, F. V. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 21.ed. Petrópolis: Vozes, 1997. ZABALBEASCOA, Anatxu; MARCOS, Javier Rodriguez. Minimalismos. Barcelona: Editorial Gili, 2001.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.