A produção do saber científico em Moçambique e os seus desafios

September 5, 2017 | Autor: Luca Bussotti | Categoria: Mozambique
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Descrição do Produto

Sexta 16 de Janeiro 2015 Ano: 01 Número: 43

100MT Director: Nataniel Ngomane Director Executivo: Vitor Gonçalves

A verdade de Chitima

Regresso do campeão à casa dos títulos

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Próximos anos: vai aumentar número de desastres naturais

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Boicote da Renamo “amputa” poderes do parlamento

Deslocados do conflito militar enfrentam fome severa

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Ficha Técnica

ditorial

Por razões diversas, Moçambique e França estão nas manchetes dos jornais desde a semana passada. A Nigéria também. Mas esta é por razões bem diversas, já que vem preenchendo as manchetes dos jornais faz tempo. Ainda assim, tais razões aproximam-se demasiadamente do quadro francês (apesar das respostas díspares a elas dedicadas em cada um dos países): intolerância extrema! No caso de Moçambique, a tomada de posse do novo Presidente da República e, também, da nova Presidente da Assembleia da República, Filipe Jacinto Nyusi e Verónica Nataniel Macamo, respectivamente, são as razões. Junto, a investidura do novo quadro de deputados da 8ª Legislatura. Esta última foi negativamente marcada pela ausência - na sua totalidade - dos 89 deputados eleitos pela bancada da Renamo, por alegado protesto contra os resultados oficias das eleições. Mas o grande motivo por que Moçambique está, desde a semana passada, nas manchetes dos jornais de quase todo o mundo é outro: a tragédia de Chitima. A ela voltamos mais adiante. As mortes de Paris foram despoletadas por caricaturas. Representações burlescas, em forma de desenho, de pessoas ou acontecimentos que tornam o objecto representado, pessoa ou facto, em algo cómico, ridículo, grotesco. Seja pelos seus modos ou pelo aspecto. Dessa óptica, o erro do jornal humorístico francês foi de fazer essas representações sobre a figura de Maomé. Foi, de facto, esse tipo de representações, em forma de desenho, que incendiou a fúria dos matadores de Paris. Já na Nigéria, as mortes em massa têm tido como estopim a criação de um califado no Estado nordestino de Borno, numa espécie de corolário das já antigas rivalidades entre muçulmanos e cristãos naquele país africano. A solução encontrada pelos primeiros parece ser a criação, com base na força, de um Estado Islâmico extremista, regido por leis muçulmanas absolutas e separado do resto da Nigéria. A diferença, aqui – além das razões de base – está no facto de três homens terem perpetrado o ataque ao semanário satírico e social Charlie Hebdo, em Paris, matando 12 pessoas e ferindo outras – o que não só rendeu manchetes em todo o mundo, como também uma manifestação que reuniu 4 milhões de pessoas, incluindo 50 chefes de Estado. Na Nigéria, trata-se de todo um exército que se treina, arma e mobiliza-se para chacinar centenas e centenas de pessoas, quase diariamente, inclusive, através do uso instrumentalizado de meninas-bomba de 10 anos de idade. Já não rende manchetes e, ao que parece, conta apenas uma manifestação dos familiares das 273 meninas raptadas na escola de Chibok, a 15/04/2014, muitas delas, por certo, já mortas. Que diferença!? Ou indiferença? Se, como afirma Cláudio Tognolli – colunista do Yahoo.com.br e Professor da ECA-USP –, a marcha dos 4 milhões em Paris envergonha a América Latina em geral e o Brasil em particular, porque os números brutais de matanças nessas regiões já não mais emocionam os seus habitantes, posto que as mortes a quilo já foram incorporadas nas suas sub-rotinas, e a elas já se acostumaram, o que dizer da Nigéria, em particular, e da África em geral? Aqui, também, parece que as mortes a quilo já fazem parte do quotidiano das pessoas que, igualmente, a elas já se acostumaram. Será mesmo isso? Será por isso que não há mais manifestações contra as mortes em massa nem sequer contra o estado de coisas que as engendra e move? O nada, o vazio…!? Quanto a Moçambique, o motivo de estar nas manchetes prende-se à tragédia de Chitima, onde mais de 70 pessoas perderam a vida em consequência da ingestão de pombe envenenada, nome, em algumas línguas moçambicanas, de uma bebida (cerveja) tradicional preparada na base de mapira ou milho. Em outras regiões do país também se designa doro a essa bebida. A tragédia ocorreu durante uma cerimónia fúnebre, havendo indícios de que o pombe, ou doro, estava envenenado, razão por que a Procuradoria-Geral da República abriu uma investigação, com vista a apurar as reais causas das mortes e do internamento de mais de uma centena de vítimas em risco de vida. Se realmente o pombe, ou doro, estava envenenado, terá havido, no acto do seu envenenamento, a intenção de matar? Ou, pura e simplesmente, a bebida foi “envenenada” no contexto, e em cumprimento, de um preceito tradicional que, lamentavelmente,

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teve consequências trágicas? A ser assim, talvez estejamos perante uma tragédia associada a práticas ritualísticas tradicionais e não perante um assassinato colectivo. Práticas ritualísticas do tipo purificador, por exemplo, que existem das mais diversas, mas cujas consequências, imprevisíveis, foram das mais trágicas. Como reagir a este tipo de fenómeno, de modo a prevenir desastres similares no futuro? Talvez seja o caso de se repensarem formas eficientes de fiscalização de bebidas de fabrico caseiro, no que diz respeito ao controlo de qualidade. Aqui, as unidades sanitárias de fiscalização são chamadas a arregaçar as mangas e fazerem aquilo que já deveria ser uma prática rotineira em todo o país: controlo de qualidade. Sobretudo de produtos alimentares e bebidas – em especial as de fabrico caseiro. No tocante aos produtos alimentares, vem se verificando uma tendência crescente de venda de produtos fora do prazo no mercado moçambicano. É preciso tomar medidas severas contra essa prática, sob o risco de virmos a viver outros efeitos Chitima. Fartas vezes foram relatados casos de cegueira em Tete, resultantes do consumo excessivo de certo tipo de bebida de fabrico caseiro. Portanto, sem a necessária certificação de qualidade. Terá sido a ausência quase crónica deste instrumento de controlo que levou a essa tragédia? Que forma tão triste de constar de manchetes de jornais…

DIRECTOR: Nataniel Ngomane [email protected] DIRECTOR EXECUTIVO: Vitor Gonçalves [email protected] EDITOR DO JORNAL: Xavier da Ilda [email protected] EDITOR DO WEBSITE: Adamo Halde [email protected] REDACÇÃO: Adérito Bié, Benedita Félix, Claudia Muguande, Leonel Albuquerque COORDENADOR DE REDACÇÃO: Manuel Jesus [email protected] ASSISTENTE DE REDACÇÃO: Luís Muzuana CRONISTAS: Mia Couto, Paulina Chiziane, Ungulani Ba Ka Khosa COLUNISTAS: Eduardo Namburete, Eduardo Neves, Ivone Soares, João Figueiredo, Manuel de Araújo e Teodoro Waty. CORRESPONDENTES: Constantino André (Beira), Fidalgo Júnior (Cabo Delgado), Egídio Pascoal (Manica), Josefa Macadona (Niassa), Aunício da Silva (Nampula), Vitor Marrão (Tete), Hamilton Piletiche (Zambézia) WEBSITE: Monstrocriativo: Nuno Henriques e Raquel Prata FOTÓGRAFO: Adiodato Gomes COLABORADORES: Belmiro Adamugy, Tânia Waty, Salim Sacoor e Yara Ngomane (textos) DESIGN E PAGINAÇÃO: Naguib (logotipos) É Comunicação, Lda | comunicar @sapo.mz DISTRIBUIÇÃO NACIONAL: Media Group, S.A. IMPRESSÃO: Minerva Print TIRAGEM: 7 mil exemplares DIRECÇÃO FINANCEIRA: Cristina Pereira DIRECÇÃO COMERCIAL: Raúl Jaime Kadzomba ASSISTENTE ADMINISTRATIVA: Leona Tavares CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO: António Mendes (presidente), Tânia Waty e Vitor Gonçalves (administradores) CONSELHO FISCAL: João Moreira PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA GERAL: Teodoro Waty PROPRIEDADE: MEDIA GROUP, S.A. CONTACTOS: [email protected] +258 82 76 85 294 Rua Consiglieri Pedroso, 66 Maputo Numero de registo: 03/Gabinfo - Dec /2014

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OLÍTICA

Jonh Keittta, correspondente em Manica

Gorongosa

deslocados de guerra com receio de regressar às zonas de origem

Milhares de deslocados de guerra na Gorongosa, principal palco do recém-terminado conflito militar, estão a ser atingidos por fome severa, aliado à insegurança e incertezas de uma paz duradoura. Todavia, as pessoas perspectivam que o novo ano será mais pacífico politicamente e que haverá melhor produção agrícola. Cerca de 6 mil pessoas foram forçadas a viver na condição de deslocados de guerra num centro de trânsito na Vila de Gorongosa, distrito homónimo, na província de Sofala. Os deslocados se recusam a regressar às zonas de origem, por considerarem não estarem criadas condições de segurança, apesar de os confrontos militares entre os membros do exército e guerrilheiros da Renamo terem cessado já há alguns meses. «Primeiro, gostaria que neste ano ficasse resolvida definitivamente a situação político-militar», declara Feliciano Matchisso, que pelo segundo ano consecutivo se encontra a residir no centro de deslocados na Gorongosa. O país alcançou um segundo acordo de paz assinado a 5 de Setembro de 2014 entre o Presidente cessante, Armando Guebuza e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, pondo fim às hostilidades militares, facto que permitiu a realização das V Eleições Gerais a 15 de Outubro. Em 1992 o primeiro acordo pôs fim a uma guerra de 16 anos. Contudo, Moçambique atravessa incertezas e nervosismo pós-eleitoral, porque a

Renamo rejeita os resultados das eleições, validados pelo Conselho Constitucional, que proclamou a vitória da Frelimo e do seu candidato Filipe Nyusi. A Renamo e Afonso Dhlakama ficaram em segundo lugar e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) voltou a assegurar a posição da terceira maior força política do país. «Este ano queremos ficar livre na Gorongosa», afiança Inácio Baera, que tem nove membros no centro de trânsito desde Novembro de 2012 e classifica de não «digna» a convivência no novo lar, onde um conjunto de centena de tendas militares foram erguidas num antigo campo agrícola no bairro Nhataca 2, a sul da Vila da Gorongosa. «Nós queremos voltar para casa e vivermos como antes», precisou Inácio Baera, que se alegra por ter recebido um “cabaz” do Governo – uma dezena de quilos de farinha de milho, grãos de mapira e óleo alimentar. A fonte confessou que passou muito mal as festas de natal e de fim de ano. «Se estivesse em casa teria festas melhores.» Joaquim Inácio, deslocado que fundou uma igreja no local, declarou que «gostava de construir uma casa com as chapas que o Governo ofereceu, pois vejo que não vale continuar a viver nestas condições.» Os refugiados alojados no centro são das regiões de Nhataca, Mucodza, Vunduzi, Chionde, Casa Banana, Mussicadzi, Piro e Domba.

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Constantino André

Dhlakama refuta ideia de dividir Moçambique a partir do Save O largo dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), na cidade da Beira, foi pequeno para acolher o número de pessoas que afluíram ao local para ouvir o discurso do líder da Renamo.  O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse que o Conselho Constitucional foi obrigado pela Frelimo a validar os resultados que deram vitória à Frelimo e o seu candidato Filipe Jacinto Nyusi. Para Dhlakama, a decisão do Conselho Constitucional constitui «um insulto ao povo moçambicano.»  O líder da Renamo anunciou a criação da República do centro e norte de Moçambique, da qual vai ser Presidente, não reconhecendo o Governo da Frelimo saído das últimas eleições gerais. «A Renamo vai formar os governos provinciais nas seis províncias e eu, Afonso Dhlakama, passarei a ser o Presidente da República do centro e norte de Moçambique», declarou o líder do maior partido de oposição moçambicano, assegurando porém que não pretende dividir o país nem criar a independência desta região, mas

dar-lhe autonomia política e económica. Sem avançar datas, Afonso Dhlakama disse que vai nomear governadores e administradores nas províncias de Sofala, Tete, Zambézia e Manica (centro) e Niassa e Nampula (norte), cedendo à Frelimo, partido no poder em Moçambique, a província nortenha de Cabo Delegado, de onde provém o Presidente da República eleito, Filipe Nyusi. O comício de Dhlakama foi interrompido várias vezes por gritos do povo que diziam: «vamos cortar o país a partir do Rio Save.» Todavia, o presidente da Renamo rejeitou a ideia de dividir o país a partir do Save, tendo referido que «vamos governas juntos.» No mesmo comício, os presentes disseram ao líder da Renamo que estão cansados de promessas e que chegou a hora de agir.  Dhlakama prometeu que nas províncias onde ganhou os professores, enfermeiros e outros funcionários públicos vão ter salários dignos e regalias em função das competências de cada um. «Não vamos fazer guerra, nem dividir o país.

O povo é que vai agir em função dos resultados daquilo que fizeram em Outubro.» Cidadãos ouvidos pelo SOL DO INDICO na cidade da Beira disseram que os pronunciamentos do líder da Renamo estão a inquietar o povo. Maurício Francisco, funcionário da empresa Pescamar, é de opinião que o líder da Renamo deve autorizar os seus membros para que tomem posse nas Assembleias Províncias e no parlamento. Para a fonte, o líder da Renamo deve fazer tudo para que Moçambique continue a desenvolver e num ambiente de paz. «É na casa do povo que os problemas deve ser resolvidos, porque dividir o país não vai nos ajudar em nada.  Queremos paz, trabalho para fazer crescer os nossos filhos e desenvolver Moçambique», disse. Marta Alberto, estudante universitária, afirmou estar «chocada» com os pronunciamentos das pessoas que apoiam a ideia de dividir o país a partir do Rio Save. «Isso não é bom, porque a guerra mata e destrói infra-estruturas», observou.

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Governo de Tete teme aumento de mortes em Chitima Chitima ontem desconhecida, hoje entrou no registo da imprensa mundial. Tudo por conta da bebida envenenada e que tirou a vida de muitos cidadãos nacionais na província de Tete. Na pacata Vila de Chitima já não se pode falar de Phombe, bebida tradicional muito consumida naquelas bandas. Aliás, na zona sul da província de Tete, o Phombe é tomado em momentos de festas e de consternação.

É a informação que chocou o país nesta semana, a par das inundações no distrito de Mocuba. Em Chitima, na província de Tete, a vida das populações sofreu uma alteração profunda, tudo por causa da bebida tradicional que até ao fecho da edição (13) tinha ceifado a vida de 71 pessoas. No total 196 pessoas foram internadas desde sábado devido à ingestão de phombe, a bebida tradicional de fabrico caseiro à base de mapira, farelo de milho e açúcar. As vítimas participaram de uma cerimónia fúnebre na passada sexta-feira (09) na casa vizinha onde a bebida foi produzida. «Aqui tinha falecimento, então, a dona do phombe trouxe a bebida e começou a vender. Depois ofereceu uma botija de 20 litros à casa onde havia falecimento», disse Manuel Binda, uma testemunha ocular ouvida pelo SOL DO INDICO. Binda conta que os que beberam no período da manhã não tiveram problemas, mas o que consumiram depois do funeral não tiveram a mesma sorte. «Às 13 horas, a senhora parou de vender, foi participar do funeral e deixou o tambor tapado. Quando voltamos, reiniciou a venda e novamente em jeito de solidariedade ofereceu 40 litros à família enlutada», conta Binda. Aliás, a Polícia da República de Moçambique confirma a história contada por Binda. O próprio Binda revelou que escapou, porque nestes dias não está a beber álcool por se encontrar a medicar. O porta-voz da PRM em Tete, Luís Nudia, conta que logo que tomou conhecimento da situação enviou uma equipa da Polícia de Investigação Criminal para o apuramento dos factos. A polícia confessou que vai ser difícil desvendar os reais contornos do caso, tudo porque a proprietária da bebida acabou também por perder a vida.

Dificuldade de tratamento dos doentes Neste momento, as autoridades da saúde e da justiça procuram a origem do veneno usado. O Ministro da Saúde, Alexandre Manguele, chefia uma brigada de sete médicos que na noite do último domingo (11) escalou a província de Tete. Na segundafeira, o ministro da Saúde visitou algumas casas das famílias afectadas e disse que o seu pessoal estava a ter dificuldades de tratar os doentes com eficiência. «Não podemos tratar com eficiência os doentes, porque ainda não sabemos ao certo que tipo de veneno foi usado. Sabemos que foi um veneno muito forte», disse Alexandre Manguele, acrescentando que «pedimos a colaboração de todos para a identificação do tipo de veneno que possa ter sido usado na bebida.» Os primeiros casos dos doentes envenenados foram atendidos no Centro de Saúde de Chitima, mas «como tem limitações de espaço e condições de intervenções, transferimos alguns doentes para o Hospital Rural de Songo, que fica a 20 quilómetros», revelou Carla Mosse, directora Provincial de Saúde de Tete. Para além da falta de condições para internamento, o Centro de Saúde de Chitima até a manhã do último domingo (11) tinha ficado pequeno para receber tantos corpos que não paravam de entrar. A nossa reportagem se fez a Chitima nas primeiras horas do domingo, à chegada no local tinham sido contabilizados 51 corpos, mas em menos de uma hora o número tinha subido para 56. Luto tomou conta de Chitima A dor e consternação é o que marca a Vila de Chitima. Várias famílias ficaram desestruturadas por conta desta tragédia.

Aliás, há crianças que ficaram órfãs. Noutras famílias a morte levou entre 3 e 4 elementos. As ruas da pacata Vila de Chitima estão num abandono total. São visíveis várias viaturas transportando corpos para as cerimónias fúnebres. Choros, lamentações e desesperos tomaram conta das famílias naquela vila. Os doentes que haviam tido alta retornam ao hospital já em estado grave. O SOL DO INDICO testemunhou que vários doentes que haviam sido dispensados pelos médicos, porque apresentavam um estado de saúde estável, retornavam ao hospital graves, transportados em macas improvisadas, em carrinhas de mão, motos, alguns até em carroças de boi. Jorge Cupita vinha acompanhar o seu irmão mais velho. Em conversa com o SOL DO INDICO contou o drama que viveu com seu irmão. «Ele foi atendido sábado e disseram-lhe para regressar a casa. De repente começou a vomitar e a ter diarreia. Perdeu força. Quando saímos de casa ainda falava, mas agora já não consegue falar», contou Cupita, com lágrimas nos olhos. Gilda Almeida perdeu a mãe, a cunhada e um irmão. «Morreram todos aqueles que cuidavam de mim. Mas a pessoa que fez isso um dia terá de pagar na justiça», desabafou. Número de óbitos pode subir O governo provincial receia que o número de mortos venha a subir. O SOL do INDICO sabe que algumas pessoas compraram aquela bebida e deslocaram-se para as machambas com o objectivo de fazer a sementeira ou a sacha. «Temos que ficar a monitorar a situação, porque alguns dos nossos concidadãos compraram a bebida e dirigiram-se às suas machambas, pelo que algumas mortes podem não estar a

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Victor Simbarove

chegar aos nossos registos», disse Samuel Buanar, Secretário Permanente Provincial de Tete. «Lamentamos estas mortes, o governo reitera o seu apoio para com as vítimas. Neste momento, todo tipo de apoio é importante», reiterou Buanar. Na enfermaria do Centro de Saúde de Chitima ficamos a saber que na terça-feira (13) se encontram na sala de cuidados intensivos 11 doentes. Uma fonte daquela unidade hospitalar, que pediu o anonimato, disse que a situação daqueles internados era «crítica.» Buanar anunciou que para as cerimónias fúnebres o governo disponibilizou caixões e uma pá electro-escavadeira para ajudar na abertura das campas. Políticos solidarizam-se com as vítimas O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, interrompeu o trabalho político que tem vindo a realizar na zona centro e deslocou-se nesta terça-feira à Vila de Chitima para visitar as famílias afectadas. Para além do líder da Renamo, o partido Frelimo enviou a Tete uma equipa parlamentar chefiada pela Chefe da Brigada Central de Assistência a Tete, Margarida Talapa. O SOL do INDICO soube que uma equipa do Movimento Democrático de Moçambique também está a caminho do Chitima, para prestar a sua solidariedade para com as vítimas da tragédia. Na segunda-feira, o Presidente da República cessante, Armando Guebuza, pediu aos parlamentares para que prestassem um minuto de silêncio em memória das vítimas mortais de Chitima.

Cavaco Silva solidário com povo moçambicano O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, enviou na segunda-feira uma mensagem de condolências ao Chefe do Estado de Moçambique pelas dezenas de vítimas da intoxicação registada na província de Tete. «Nestes momentos difíceis, o nosso pensamento está com o povo moçambicano, em particular, com as famílias das vítimas, a quem pedimos que vossa excelência se digne transmitir as nossas mais sinceras condolências», lê-se na mensagem divulgada no site da Presidência da República de Portugal. O estadista luso classificou o evento de Chitima de «trágico acontecimento», por causa do elevado número de vítimas mortais. «Quero transmitir a vossa excelência e ao povo moçambicano, em nome do povo português e no meu próprio, os sentimentos do nosso profundo pesar e a expressão da nossa muito sentida solidariedade», também se pode ler na mensagem enviada pelo Chefe do Estado português, Cavaco Silva, ao seu homólogo moçambicano, Armando Guebuza.

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EM LÁ MENOR

PINIÃO

E Agora?

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Fala-se de zonas de penumbra por não terem sido convincentemente esclarecidas algumas questões. Embora, o seu extenso Acórdão, tenha esclarecido, muitas mentes não foram convencidas para serem vencidas. Só esse pecado pode ser subjectivamente encontrado no último tratado do direito eleitoral moçambicano.

Em 2014 apresentei-me para a sua leitura reflexões sobre “ e agora?’ Como já lá foi o tempo, importa recordar de que tratava. Disse, como por certo se recordará que na teoria política e constitucional povo deixava de ser um conceito claramente operacional para transformar-se numa grandeza pluralística, um sujeito com prerrogativas e responsabilidades, detentor da soberania democrática de que emanam todos os poderes e que, por aí, fazia sentido a vox populi e a vox dei. Para a sua comodidade consultei li e interpretei o Artigo 2 da nossa Magna Carta e entendi que a soberania pressupõe o exercício do voto democrático, na base de um sistema eleitoral assente no “sufrágio universal, directo, igual, secreto, pessoal e periódico” supervisado por uma “comissão nacional de eleições, órgão independente e imparcial, cuja composição, organização, funcionamento e competências são fixados por lei”. Falei de vozes credenciadas, proclamando que, não obstante as irregularidades, as eleições tinham sido ordeiras, pacíficas e transparentes. Convidei quem me faz o favor de me ler a fazer fé nos órgãos competentes que à luz da lei eleitoral devem divulgar e proclamar os resultados, porque sendo olhos diferentes, as posições seriam diferentes com pesos diferentes. Falei da aristotélica distinção entre vontade geral e a vontade de todos. Disse, então, que a soma das vontades particulares e a vontade expressa no número de votos não pode determinar interesse comum que une, e que cada qual deve submeter-se, necessariamente, às condições que impõe aos outros. Embora não tenha sido conclusivo, deixei espreitar a convicção de que os moçambicanos, saídos de um século que conheceu os extremos de totalitarismos e demagogias, que aprenderam a terrível ciência do medo e da desconfiança, podem ter dificuldades de aceitar a soberania absoluta de ninguém e têm medo de ser esmagados em nome da lei e do interesse nacional. O anúncio do Conselho Constitucional parece não ter convencido alguns, não poucos, sobre o por quê daqueles resultados. Fala-se de zonas de penumbra por não terem sido convincentemente esclarecidas algumas questões. Embora, o seu extenso Acórdão, tenha esclarecido, muitas mentes não foram convencidas para serem vencidas. Só esse pecado pode ser subjectivamente encontrado no último tratado do direito eleitoral moçambicano. Talvez por esse pecado venial, ontem li num dos jornais que se fala, à boca cheia, de uma região autónoma em Moçambique que abarcaria as seis províncias do centro e norte onde se imagina terem sido vencidas as eleições e, ao que parece, em resposta às exigências de uma divisória de Moçambique feita pelo Rio Save. Esta nova exigência parece ser menos extremista do que essa, a da proclamação de Moçambique do Norte e de Moçambique do Sul. Fala-se já de apenas uma regionalização do País. Na verdade, em direitas contas, regionalizar Moçambique é menos grave do que a sua cessão, como seria menos grave do que as duas, um governo de gestão. Parece claro que a ideia de dois Moçambique – do Sul e do Norte, já não habita o imaginário dos que outrora nela ousaram sonhar. O novo sonho da Região Centro-Norte não correspon-

Teodoro Waty

de, ao se diz, a uma independência, para dividir o País, mas tão somente a uma autonomia governativa, política e económica. Isso pressuporia uma emenda constitucional que seria inteligentemente negociada com o Governo. A questão de base que se colocará para a emenda constitucional seria a de saber quais os critérios que devem presidir à constituição das regiões ou da região. Ao que parece estaríamos a falar de uma regionalização flutuante desenhada em função das manchas azuis pingadas no Mapa vermelho de Moçambique. Não parece ser errado pensar-se que a prevalência do voto expressivo verde, azul ou vermelho, não significa apenas uma vontade aleatória, nos espaços a essa cor manchados, mas a vontade do Povo soberano que neles vive, cuja voz é de a Deus encarnado. Quem pode pensar que os cidadãos que fazem o Mapa de Moçambique prevalentemente vermelho não têm uma vontade soberana e própria? As manchas a que me tenho vindo a referir fazem de Moçambique pluricolor, belo e majestoso. Esquartejá-lo é um acto grosseiro e irreflectido. Será que consigo convencer alguém desta análise? Claro! Convenço os que estão predispostos a ouvir este raciocínio. O que devo fazer para convencer e vencer os outros? Pedindo aos que concordam comigo para acompanhar o raciocínio dos casmurros. Parece que eles pensam assim: (i) eu não ganhei as eleições porque não foram justas, nem transparentes; (ii) os órgãos eleitorais não foram imparciais; (iii) logo, onde não ganhei não reconheço os resultados e onde ganhei reconheço. Teria sido, pois, necessário convencer que as (i) as eleições foram justas e transparentes; (ii) porque os órgãos eleitorais foram imparciais; (iii) e que todos os resultados devem ser reconhecidos. Qual é o resultado do reconhecimento dos resultados? Como garantir que mais do que não ser não parece não ser daltónico na apreciação das cores do mapa? Não parece ser esta a questão? Não ao grito do save! Não o governo de gestão! Não a regionalização! Sim a quê? A uma governação que saiba que existem essas ideias desunialistas. Sim, a uma governação de inclusão destas ideias! E agora?

Teodoro Waty* [email protected] (*) Doutor em Direito, Professor Universitário e Advogado

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OCIEDADE

Risco de desastres tende a aumentar em Moçambi Todos os anos as notícias se repetem, os cenários são quase os mesmos. São deslocações da população, desabamento de pontes, infra-estruturas ameaçadas, circulação interrompida, revoltas populares, lamentações, gastos em dinheiro e em matéria-prima, intervenções dos órgãos competentes. Desta recorrência de fenómenos, apenas oscilam os dados. São episódios que colocam, segundo o Banco Mundial, Moçambique como o único país em África com alto risco de ocorrência dos três eventos climáticos: chuvas, secas e ciclones. Arrancou a época chuvosa, já se sabe o que se espera. Esta semana o centro das atenções e intervenções foi o distrito de Mocuba, na Zambézia, onde até ao fecho desta edição, um grupo de 18 das 25 crianças que participavam nos ritos de iniciação eram dadas como desaparecidas, presumindo-se que tivessem sido arrastadas pela fúria das águas do rio Licungo. Houve informações que colocavam a possibilidade destas crianças estarem numa ilha, porém, a violência das águas não permitia buscas através de embarcações, segundo informou à

Lusa, Teresa Mauaie, Administradora de Mocuba. Ela informou que as águas inundaram várias zonas e desalojaram, até então, 15 mil famílias, assegurando que se espera pela melhoria de condições da fúria do rio para começarem as buscas, sobretudo em zonas onde as pessoas recorreram ao tecto das casas para se salvarem. Entretanto, segundo avalia o director de Coordenação do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), Bonifácio António, cenários de deslocações e mortes já estiveram mais críticos nos anos anteriores. «A mudança de comportamento é um processo, mas penso que hoje estamos melhores do que estávamos há 10, 20 anos. Houve mudança de atitude. Essa mudança pode se notar pela redução do número de mortes devido a esses eventos climáticos. Estamos a partir de um cenário extremo que andava a volta de 700 mortes em 2000 para menos de 100 nas últimas inundações. Dificilmente atingimos a casa dos 50 óbitos nos últimos quatro anos. Mesmo no número de pessoas

vulneráveis, estamos a partir 5 milhões de pessoas para cerca de 400 mil deslocados. Há um progresso, mas não estamos satisfeitos, queremos chegar à fasquia zero.» Na tentativa de interpretar a classificação feita pelo Banco Mundial, Bonifácio António explicou que Moçambique está localizado numa das três regiões de África mais expostas à influência de eventos climáticos, desastres naturais como ciclones, cheias, epidemias e cismo. Para além disso, a vulnerabilidade de Moçambique a riscos de desastres é agravada pelo facto de ter uma extensa região que é atravessada pelo Vale do Rift, parte do Lago Niassa e desce até à zona de Manica, que muitas vezes tem sido susceptível a abalos sísmicos, embora de pequena magnitude. Considera-se também o facto de Moçambique estar numa zona que sofre influências daquilo que são depressões tropicais, sem contar que cerca de dez bacias internacionais cruzam o nosso país antes de desaguarem no Oceano Indico. Portanto, conclui o coordenador, tudo o que

acontece em termos de precipitação que cai dentro do país como nos países da região acaba afectando aquilo que é o caudal desses rios. Alguns não têm nenhuma protecção natural, outros têm protecções artificiais: diques e barragens. Mas, no caso de barragens, maior parte delas não foi construída para controlar inundações, foi sim para fins agrícolas ou para efeitos de produção de corrente eléctrica. Por outro lado, ele explica que nos últimos anos constatou-se que o número de eventos em risco de desastres têm a tendência de aumentar ou ocorrer com alguma frequência. Tal constatação levou o INGC a realizar estudos detalhados para tentar perceber o que se estava a passar. A primeira fase decorreu de 2008-9 e envolveu cerca de 35 pesquisadores, entre nacionais e internacionais, de várias áreas. Foi feito um diagnóstico exaustivo daquilo que é o impacto das mudanças climáticas. «Não é possível mudar-se o cenário, mas temos de nos adaptar e viver com elas», recomendou. Actualmente, está-se na fase de apropriação das medidas e implementação de

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Cláudia Muguande

e ique algumas soluções não muito acentuadas. As conclusões tiradas na primeira fase do estudo indicaram que o risco de desastres, sobretudo de origem natural continuará a aumentar ao longo dos próximos anos em Moçambique. As prováveis saídas para os problemas identificados no estudo foram estruturadas em áreas temáticas (9) e consistem na identificação de soluções através da conjugação de medidas de redução do risco de desastres e adaptação às mudanças climáticas. Uma das áreas temáticas diz respeito à protecção costeira, algumas até já estão a ser implementadas na Costa do Sol, em Maputo. “Preparar cidade” é um outro tema, por se pensar que as cidades precisam estar prontas para esse tipo de riscos que será acentuada. «Quando quisermos construir infraestruturas de utilidade pública ou socioeconómicas será preciso olhar para o tipo de vulnerabilidade que cada cidade tem. Se for uma cidade vulnerável a ciclones, o tipo de infra-estruturas a implantar deve ser uma que não lhe permita sofrer com o impacto.

Deve-se criar uma robustez adequada ao ciclone. Quando há uma subida do nível do mar, que as infra-estruturas não fiquem afectadas. Protecção costeira também é muito importante, saber em que zona plantar mangais, onde se deve fazer a reposição dos solos, da areia.» Ainda a respeito dos fenómenos climáticos, uma análise feita a partir da década 70 até ao ano passado, concluiu-se que todos os principais eventos que normalmente afectam o país têm tendências de aumentar de forma exponencial. Nessa análise, dividiu-se um período de 28 anos em duas metades, sendo que na primeira houve uma média de cinco ciclones, e na segunda ocorreram 11 ciclones tropicais e todos eles intensos. Também constatou-se que houve aumento da temperatura numa média de 0.6oC. Registou-se também a questão da intrusão salina (influência da água do mar sobre os rios). Só na bacia do Limpopo a intrusão salina pode ocorrer numa distância de quase 29 quilómetros, facto que prejudicaria o cultivo.

«Isso leva-nos a dizer que há necessidade de se começar a fazer incorporação das acções de gestão de riscos de desastres nos planos de desenvolvimento socioeconómico. É também fundamental que a sociedade esteja preparada para conviver e lidar com esses riscos.» Criar “amizade” com a água dos rios Falando a respeito das “inundações” que têm ocorrido também em algumas cidades do país, Bonifácio António explicou que, de princípio as cidades foram estruturadas para acomodar um determinado número de habitantes, nível de serviços e pressão. Entretanto, houve factores que fizeram com que não se obedecesse a isso, entre eles o fenómeno da migração. Nas zonas urbanas, algumas pessoas acabaram se acomodando de forma não adequada. «Num cenário desses, é normal que tenha havido, nalgumas situações, mau ordenamento. E quando há chuvas, isso afecta

imediatamente as pessoas. Diferente das zonas rurais, as urbanas não têm muitas alternativas de deslocamento. Mas com um plano de restruturação pode-se melhorar.» O responsável observa que Moçambique é um país de predominância agrícola e maior parte da população foi educada a saber que deve produzir para a sua subsistência. Foi instruída que os vales e as bacias são os locais mais férteis. Por conta disso, todo o mundo aglomera-se ao longo das principais zonas produtivas, e por coincidência onde passam os grandes rios. No meio desse processo, no lugar de as pessoas usarem as referidas áreas só para o cultivo, foram lá habitar, para estarem próximas das suas machambas. «E o resultado é esse. Não se teve em conta os períodos de pico da época chuvosa e obstruiu-se alguns sítios que eram canais apropriados para a passagem dos cursos de água. Isso contribui para que nalgum momento os rios sejam “maus”», considerou.

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PINIÃO

A corneta (1) do Diabo

Homo Homini Lupus

Fundamentalistas e radicalistas islâmicos são as expressões comumente atribuídas a certos energúmenos vampiristas comandados por psicopatas e sociopatas para executarem acções execráveis e abomináveis a coberto de uma confissão religiosa e em nome de um deus cruel (contrariamente a um islamismo são), suaves demais para qualificarem assassinos e predadores que integram o novo pesadelo mundial: o terrorismo. Segundo certos historiadores o fundamentalismo islâmico estaria provavelmente ligado a um tal Ib Taymiyyah que teria introduzido ou reintroduzido o jyadismo como forma de purificar os crentes muçulmanos que estariam a ser abandonados por Deus (Allah) por não cumprirem integralmente os seus preceitos e abandonarem a verdadeira religião (?),razão por que, apesar do imenso poder financeiro ilimitado (agora sustentado pela indústria petrolífera) não detinham conhecimentos: para construírem pontes recorriam aos alemães, para adquirirem carros visitavam a Detroit americana, etc. Ao mesmo tempo que se esqueciam do verdadeiro objectivo que era impor o islamismo em todo o universo como vinha acontecendo nos séculos VII e VIII mormente com o Califa Omar. Este pensamento teria sido dado seguimento por um líder religioso que se teria associado ao emir da Arábia, Saud, para combater os turcos que ocupavam desde 1517 o Próximo e Médio até à sua derrota em 1918, no fim da Primeira Guerra Mundial. Saud ficou com a direcção executiva do futuro reino e o líder religioso Wahab, com a direcção religiosa.

João Vaz (Zito)

Daí até hoje a potência petrolífera da Arábia e do mundo (75 % do petróleo mundial provém de seus dois campos) se chama Arábia Saudita e a religião Wahabita. Essa mesma secção do islamismo que continuam com o fundamentalismo (inspiradora de Bin Laden) e o disseminou por várias partes do globo onde constrói e patrocina madraças e mesquitas fundadas no seu perfil fundamentalista. Recentemente um país nórdico-escandinavo recusou-se a permitir a implementação de uma mesquita no seu território por recear criar um viveiro entre portas. Adiante Bin Laden ao fundamentar a sua famigerada e de má memória Al Qaeda pretendia, ipisis verbis, estender a Sharia (uma espécie de direito islâmico) por todo o mundo, incluindo um restabelecimento do antigo califado de Córdova, na Península Ibérica (exactamente na Espanha) onde os muçulmanos (então mouros) permaneceram 800 (oitocentos) anos antes de serem expulsos por Carlos Martel (o avô de Carlos Magno). Essas pretensões imperialistas-religiosas estão sendo advogadas pelos jyadistas. O estado Islâmico não aspira apenas a conquistar o Médio Oriente, e por fim, o resto do mundo. Na verdade pretendem uma maior “limpeza religiosa” da História da Humanidade. Condena como infiéis todos os que não subscrevem a sua versão sunita radical do Islão. Chacinar os xiitas (1) seguidos pelos aderentes de todas as religiões restantes incluindo hindus yazidis, ateus e politeístas. Apenas os membros das outras “religiões do Livro”- judeus e cristãos- serão permitidos continuar a existir desde que paguem um tributo islâmico anual equivalente a algumas centenas de dólares. Para um não crente (99% dos muçulmanos são crentes) a única oportunidade é o arrependimento voluntário e conversão voluntária ao “islão verdadeiro”. Ele ou ela devem fazê-lo antes que o seu país seja conquistado. Vamos continuar a ter escravidão e decapitações. Faz parte da nossa religião. Muitos escravos converteram-se ao Islão e foram então libertados – fim da citação (2). Esta é a génese do Estado Islâmico (Síria e Iraque, onde constituíram um califado, Boko Haram (Nigéria),Al Shabbab (Somália e Quénia) Tuaregues (Mali),Al Qaeda do Magrebe (Líbia) e Al Quaeda (Iémen) (1) Confissão religiosa islâmica seguidora do quarto profeta iluminado, Ali, opositora dos sunitas. Os xiitas são do Irão, partes do Iraque e Líbano. (2) Jurgen Todenhofer, jornalista que com o filho passou dez dias em Mossul no pretenso Estado Islâmico – Jornal Notícias.

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CONOMIA

Instituições de ensino procuram harmonização com o mercado de trabalho As instituições de ensino e o mercado de trabalho têm tendência a ajustarem-se no que tange à oferta e à procura, apesar de, esporadicamente, as ofertas de empregos surgirem em número significativo em áreas correspondentes aos cursos menos concorridos nas universidades. A verdade é que ultimamente tem havido uma tendência positiva nas relações entre os dois sectores. A falta de harmonia entre as instituições de ensino e o mercado de trabalho é um fenómeno bastante antigo em Moçambique, que de alguma forma tem estado por detrás dos altos níveis de desemprego, cuja expectativa do Instituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (INEFP) apontava para uma redução de 4,8 pontos percentuais, uma descida dos 18 por cento registado em 2011 para 14,8 por cento verificados no final do ano transacto. Espera-se que a Lei de Educação Profissional, aprovada em Março de 2014, possa conferir novas relações de coerência entre a procura e oferta e, consequentemente, entre o Sistema Nacional de Educação (SNE) e o mercado de trabalho, uma vez que este último sector passará a influenciar directamente as instituições de ensino no que respeita às especialidades para a formação. Esta semana o SOL DO INDICO apurou, junto do gestor do “emprego.co.mz”, um dos maiores websites de anúncio de oferta de trabalho no país, Frederico Silva, que em 2014, parte considerável das empresas moçambicanas e estrangeiras [que se encontram em Moçambique] pretendiam profissionais paras as áreas de Gestão e Assessoria, Administração e Secretariado, Finanças e Contabilidade, Transportes e Logística, Manutenção e Técnica, Comercial e Vendas, Saúde e Farmacêutica, Informática e Programação, Auditoria e Consultoria. Sucede que, em algumas instituições de ensino superior, como por exemplo, na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), os cursos mais concorridos, neste ano, são exactamente os correspondentes a estas áreas de formação, nomeadamente a Administração Pública com 2541 candidatos, Medicina (2251) Contabilidade e Finanças (2039) e Economia com 1553 candidatos. O curso de “Direito” foi o segundo mais concorrido naquela instituição académica (com 2385 candidatos), havendo, entretanto, pouca procura pelos profissionais desta área. Contudo, em alguns casos, parece que as universidades vão na dianteira, oferecendo cursos que, até ao momento, a procura é visivelmente reduzida.

A título ilustrativo, só no ano transacto a UEM introduziu três cursos ligados às áreas mineira e petrolífera, nomeadamente a Cartografia e Pesquisa Geológica, Geologia Aplicada

e Engenharia de Petróleos. A indústria extractiva emergente e o desempenho económico de Moçambique tem vindo a colocar novos desafios para

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Leonel Albuquerque

as instituições de formação no que toca às exigências do mercado de trabalho. “Emprego.co.mz” concebido para democratizar o mercado de emprego Frederico Silva afirma que o “emprego.co.mz” foi concebido para democratizar a informação sobre emprego no mercado laboral moçambicano e cumprir com seu papel de responsabilidade social, pois o propósito é fornecer informação gratuitamente aos quem pretendem ingressar no mercado de trabalho. «Nós trabalhamos numa vertente de empreendedorismo social. Quando começamos a conceber o site, nos apercebemos de que havia uma lacuna muito grande no mercado moçambicano, especialmente na divulgação de oportunidades de trabalho. A lacuna consistia basicamente no formato como estas oportunidades eram divulgadas nos jornais e com um máximo de 15 mil exemplares. Tal situação excluía muitos outros cidadãos moçambicanos que não tem acesso a estes veículos de comunicação», explicou. Segundo Silva, o “emprego.co.mz” visou também apoiar alguns gestores estrangeiros que se encontram em Moçambique, pois, vezes sem conta, apresentavam erros ortográficos devido à falta de domínio da língua portuguesa. Neste contexto, os responsáveis do website em alusão, numa

primeira fase, passaram a colectar informação de domínio público disponíveis em jornais, assim como nos sites de diversas empresas com a qual alimentaram o “emprego.co.mz”, também passaram a fazer a revisão editorial de todos os anúncios que lhes chegavam à plataforma online. Acessos rondam os 15 mil diários Actualmente, o maior site de emprego do país regista em média, entre os 12 e 15 mil acessos diários. O maior número de acessos registado deu-se a 3 de Fevereiro de 2014, ao atingir 18 mil, um feito que os gestores consideram histórico. Todavia, a procura pelo emprego começa a reduzir entre os meses de Outubro e Dezembro, quando os níveis de acesso rondam os 3 mil por dia. O cenário ascendente em termos de visita ao “emprego. co.mz” começa a notar-se na primeira semana de Janeiro, havendo ligeiro abrandamento em meados do ano e uma queda substancial nos últimos meses. Em 2012, período do lançamento do website, os meses de Maio e Julho, registaram um número de visitas reduzido, com 268 e 131 acessos diários respectivamente. Em 2013, a plataforma online de informação sobre o emprego recebeu mais visitas em Março e Dezembro, com 314 e 201 acessos diários respectivamente, um cenário que mudou

Adiodato Gomes

negativamente no mês de Setembro (com 237 acessos) e Dezembro (144 Dezembro) de 2014. Fora o maior website de emprego no país, os gestores da plataforma conceberam um software destinado a facilitar o processo de recrutamento nas empresas. Também pretendem lançar um novo projecto denominado “Biscate”, que visa facilitar a integração dos agentes que operam no mercado informal para o formal. «Criamos um software de pré-selecção de candidatos para optimizar o processo de recrutamento por parte das empresas e isso fez com que conseguíssemos ganhar uma carteira de clientes. Portanto, uma série de grandes empresas que pagam para usar os nossos serviços», explicou a fonte. Silva explicou ainda que, com o software concebido «a empresa que pretende recrutar tem uma forma simples de seleccionar os candidatos, ou seja, não há necessidade de colectar e rever todos os curricula enviados. Os candidatos podem ser filtrados consoante o interesse do empregador e segundo certas qualificações, que podem ser o nível académico, experiência profissional e outras exigências. Portanto, com 6 clicks é possível seleccionar um bom candidato.» Neste momento, como fruto da eficiência e eficácia do software, Silva disse contar com grandes empresas de recrutamento na qualidade de cliente.

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P

rincipal

Ausência da Renamo “amputa” poderes da Assembleia da República A Renamo cumpriu com a promessa e nenhum candidato eleito para deputado da Assembleia da República compareceu para a tomada de posse nesta segunda-feira. Mas o boicote dos 89 eleitos a deputados pela Renamo não foi suficiente para impedir a realização da Primeira Sessão da VIII Legislatura do parlamento moçambicano.

Dos 250 deputados que compõem o parlamento, estiveram presentes 159 deputados, sendo 142 da Frelimo (dos 144 eleitos) e 17 do Movimento Democrático de Moçambique. Houve quórum [mais da metade dos 250 deputados], razão pela qual o então Presidente da República, Armando Guebuza, ordenou que a sessão tivesse lugar. Todos os 89 candidatos a deputados da “perdiz” têm menos de um mês para tomar posse, caso contrário irão perder os seus mandatos. Diversas personalidades ouvidas pelo SOL DO INDICO apelaram a “perdiz” para tomar os seus assentos no parlamento, pois entendem ser o único lugar para exercer as suas reivindicações de uma forma legítima. O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, reiterou que nenhum membro do seu partido irá tomar posse, porque não reconhece os resultados eleitorais validados pelo Conselho Constitucional a 30 de Dezembro de 2014. No escrutínio de 2009, Dhlakama ordenou os seus membros para que não tomassem posse, mas houve quem se atreveu a desafiar o comando e foi ao parlamento para ser investido como deputado.

Em 2015, o cenário foi totalmente diferente, todos os membros acataram literalmente a decisão do partido. Ninguém compareceu. Entre os juristas é unânime a ideia que o parlamento tem todas as condições legais para levar a cabo as suas actividades, no entanto, para o reforço da democracia é necessário que as três forças políticas eleitas estejam presentes. O jurista e presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos, Custódio Duma, entende que não é tempo para alarmismos, visto que ainda há tempo para que os deputados da Renamo possam tomar posse no parlamento. «Ainda não há condições para estabelecimento de uma crise, a não ser que passe o período de 30 dias. Há quórum para que este parlamento possa deliberar sobre as principais acções», observou. No entanto, chama atenção para a necessidade de mais ideias no parlamento no momento das discussões, daí que a ausência da Renamo pode ter um impacto negativo na legislatura. Caso os candidatos eleitos ao posto de deputado pela Renamo não compareçam no período previsto por Lei, Custódio Duma entende que a Assembleia da República não pode fun-

cionar com menos de 250 deputados. Por isso, seria necessário a realização de eleições legislativas para preencher as vagas da Renamo. «Os espaços são da Renamo, se eles não tomarem posse não podem ser entregues à Frelimo ou MDM. Tem que se fazer eleições para ver quais são os cidadãos que podem tomar aqueles lugares», analisou. Opinião contrária tem o advogado José Caldeira, para quem não é necessário a realização de eleições para colmatar a ausência dos integrantes da Renamo. «A Assembleia da República pode funcionar, porque existe número de deputados suficientes. A maior parte das decisões podem ser tomadas», constatou José Caldeira. A Constituição da República no seu artigo 187, artigo 1, estabelece que: «A Assembleia da República só pode deliberar achando-se presentes mais de metade dos seus membros.» Assim sendo, o jurista analisou que o parlamento tem condições para tomar todas as «decisões correntes» para o funcionamento do país, mas não poderá decidir sobre todas as matérias que requerem «maioria qualificada» para a sua aprovação. Por

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Benedita Félix

exemplo, na actual composição do parlamento, os deputados não podem discutir a revisão da Constituição da República, as matérias referentes ao estatuto da oposição. Parlamento deve fortalecer o Estado de Direito Democrático O Presidente da República, Armando Guebuza, disse que com a tomada de posse dos deputados e reeleição da presidente da Assembleia da Presidente, Verónica Macamo, inicia um novo ciclo político concorrente para contínuo aprofundamento dos alicerces da democracia multipartidária. «Este acto é também um símbolo de crescimento e afirmação do Estado de Direito e Democrático de Moçambique», sublinhou. Verónica Macamo foi reeleita para o segundo mandato somente com os votos dos deputados da Frelimo (142) e os do MDM apresentaram votos em branco, mostrando que não estão em sintonia com a proposta apresentada pelo partido Frelimo. A candidata da Frelimo foi a única concorrente para a sua

própria sucessão, razão pela qual a sua recondução ao cargo foi somente um procedimento administrativo. Armando Guebuza agradeceu aos deputados e os dirigentes que cessaram as funções, por terem dado o seu contributo para o país e os encorajou a continuar a trabalhar para o desenvolvimento do país. No que diz respeito às suas funções como presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo prometeu manter isenção, objectividade e bom senso na coordenação dos trabalhos na magna casa do povo. Afirmou ainda que o mandato que se inicia representa «um desafio a inteligência e imaginação dos novos empossados para a consolidação do Estado de Direito.» A presidente da Assembleia da República desafiou a todos os deputados a terem uma postura ética e irrepreensível. «Que os deputados sejam a imagem que representa a verdadeira vontade popular, produtores do bem-comum. Também exortamos aos órgãos de comunicação para que continuem a ser fiéis difusores das realizações da Assembleia da República e das preocupações do cidadão,» apelou Verónica Macamo.

Frelimo e MDM confiantes na melhoria de produção legislativa Os deputados empossados manifestaram a vontade de melhorar a imagem do parlamento moçambicano, prometeram trazer debates para melhorar a qualidade de funcionamento das instituições públicas. O deputado da Frelimo Hermenegildo Infante mostrou-se confiante em relação aos trabalhos que irão ser desenvolvidos na VIII Legislatura, tendo referido que os problemas do povo moçambicano devem estar na ordem do dia das discussões parlamentares. «Estamos para representar os moçambicanos, não podemos defraudar as expectativas que foram depositadas em nós», considerou. Por seu lado, o deputado do MDM, Venâncio Mondlane, defendeu a necessidade de existir uma maior colaboração entre a Assembleia da República e as Assembleias Provinciais, para que haja uma maior concertação ao nível das políticas sectoriais. Para Mondlane, é preciso criar mecanismos para que os constantes défices orçamentais do parlamento possam ser «transparentes e acima de tudo sustentáveis.»

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Negócios de sucesso em tempos de crise

Mesmo em tempos de crise, há negócios que funcionam e se tornam autênticos casos de sucesso. Saiba quais são e como resistem a este período mais conturbado da história. Em tempos de crise o mercado aperta, o poder de compra das pessoas diminui e há inúmeras empresas, lojas, projectos que acabam por morrer neste longo caminho.  No entanto, é em tempos de crise que também surgem negócios de sucesso. Mal ou bem, os padrões sociais sofrem uma viragem e os negócios que antes funcionavam, poderá agora já não ter lugar. Mas há espaço para novos negócios de sucesso que podem revelar-se verdadeiras oportunidades. Isto deve-se ao facto das necessidades das pessoas também sofrerem alterações em época de crise. Dá-se prioridade a outras coisas que acabam por gerar oportunidades de negócio. Para quem tenha alguma visão de mercado e dinheiro para investir, é de aproveitar aquilo que a crise permite.   Quatro negócios rentáveis a considerar em tempos de crise Os negócios de sucesso não se prendem a uma só área

de negócio, mas sim a várias. O que importa é descobrir o nicho de mercado certeiro onde possa valer a pena criar um negócio. As áreas de negócio mais seguras para se investir em tempos de crise são as do lazer, saúde, turismo, roupa, outsourcing e todo o tipo de negócio que tenha o cunho low cost. 1. Negócios na área da saúde Pode parecer contraditório, mas é com a crise que as pessoas tendem a cuidar mais de si. Procuram soluções mais baratas, é certo, mas interessa continuar a ter preocupações em estar bem, nomeadamente para ir a entrevistas de emprego ou para enfrentar o desconhecido. As clínicas de estética, por exemplo, apostaram em pacotes low cost, o que se assume como um negócio de sucesso. 2. Restauração A verdade é que mesmo em tempos de crise, as pessoas não deixam de comer. Como consequência da crise, fecham muitos restaurantes e cafés, mas o mercado

também absorve muitos espaços novos que se têm revelado um sucesso. Neste ramo, a aposta passa pela diferença, pela oferta de coisas alternativas e pelos preços acessíveis. A qualidade também é mais valorizada hoje em dia. 3. Outsourcing Crise? Sim, é verdade, mas as empresas que ficam têm de continuar a produzir e a contratar. A diferença aqui está no facto do panorama ter sofrido fortes alterações. Hoje em dia, como as empresas reduziram os seus quadros, são obrigadas a solicitar mais serviços em regime de outsourcing. Aqui está uma boa oportunidade para um negócio de sucesso. Em quase todas as áreas.  4. O negócio low cost Este conceito tem explodido em todas as áreas. Desde a roupa às viagens, passando pela restauração, é certo que qualquer conceito low cost possa entrar para as listas dos grandes negócios de sucesso em tempos de crise.

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5 dicas para ocupar os tempos livres se está desempregado Saiba o que pode fazer para tirar o máximo partido do seu tempo livre. Mesmo estando desempregado há várias coisas que pode fazer para ocupar o tempo livre e que podem ajudá-lo a encontrar o seu próximo emprego. Nem só de candidaturas a emprego é feita a vida de um desempregado. Aliás, se está desempregado e se limita apenas a responder a ofertas de emprego saiba que pode estar a adiar o seu sucesso. Tem dúvidas? A verdade é que quem se encontra numa situação de desemprego, tem como grande objectivo encontrar trabalho o mais depressa possível. Mas nesta ânsia, muitos acabam por desperdiçar uma óptima oportunidade para enriquecerem os seus Curricula Vitae  (CV). Como? De várias maneiras. Ora veja as nossas dicas para ocupar o seu tempo livre se estiver desempregado. Desempregado: a procurar emprego e não só! Se está desempregado, é natural que a sua prioridade seja procurar trabalho, mas não é necessário ser um especialista para saber que nos tempos que correm nem só a formação académica ou a experiência profissional captam a atenção dos recrutadores. Por isso, se está desempregado aproveite o tempo de que dispõe para se tornar um candidato ainda mais “apetecível” aos olhos dos recrutadores e, em simultâneo, aproveite para fazer algo que vindo a adiar. 1. Faça voluntariado Verdade seja dita, tempo não lhe falta e nos dias que correm são

cada vez mais os recrutadores que valorizam as experiências de voluntariado. Através destas experiências pode adquirir não só competências pessoais mas também técnicas, que podem ter um impacto forte no seu desempenho laboral. 2. Aposte na sua formação Sabe aquele workshop que tanto queria fazer? Ou aquela pós-graduação que já traz debaixo de olho há séculos mas na qual nunca teve tempo sequer para se inscrever? Ou aquele curso de um dia sobre um determinado software que gostaria de aprender a utilizar? Agora já pode tratar disso. Aproveite o seu tempo livre para melhorar os seus conhecimentos ou adquirir novas competências, seja através de formações presenciais ou online. Ofertas não faltam. E antes que use os preços das formações como “desculpa”, saiba que existem imensos cursos gratuitos ao seu dispor. Actualmente tem ao seu dispor várias plataformas que disponibilizam vários cursos gratuitos e de boa qualidade. Embora os cursos online não lhe confiram diplomas, são uma boa forma de adquirir conhecimentos e competências adicionais que o podem ajudar-se a destacar-se num processo de recrutamento futuro. 3. Faça trabalho freelance  O trabalho em regime freelance é cada vez mais comum no mundo laboral. E, dada a situação do mercado de trabalho nos dias que correm, esta pode ser uma boa forma de se manter ocupado e

atualizado, enquanto aproveita para ganhar algum dinheiro extra no final do mês. E se acha que é difícil encontrar trabalho freelance, saiba que o pode fazer no conforto da sua casa. 4. Crie o seu próprio blog  Porque não? Tem tempo livre e um computador, só precisa de se sentar e escrever. E se estiver a perguntar-se: escrever sobre o quê?! É simples: escreva sobre o que quiser, seja o seu hobbie ou a sua área profissional por exemplo. Criar um blog é fácil e gratuito. E as vantagens são várias. Além de lhe permitir estar ocupado, pode ser uma boa forma de se tornar “visível” até para os seus recrutadores. 5. Cuide do seu corpo e da sua mente Já que tem tempo livre cuide da sua saúde. Aproveite para fazer os exames médicos que adiou nos últimos meses (ou anos) e, já agora, para fazer exercício. Lembre-se que deve tentar manter-se o mais positivo possível e para isso nada melhor que cuidar de si. Tempos livres mas ocupados Se está desempregado, o essencial é que não se afectar pela pressão de encontrar emprego e muito menos que se deixe arrastar para uma depressão. Aproveite o tempo livre para se manter ocupado. Parece contraditório, mas não é. No fundo, trata-se de tentar tirar partido da sua situação. Aproveite para fortalecer e/ou aumentar as suas competências. Vai ver que os seus esforços serão recompensados e ainda lhe podem valer um novo emprego.

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PINIÃO

A produção do saber científico em Moçambique e os seus desafios Na edição de 28 de Novembro de 2014 o “Sol do Índico” publicou uma interessante reportagem sobre o 5° Seminário Nacional de Divulgação dos Projectos Financiados, em que, entre os outros, a editora-chefe da revista científica da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Aida Mussagy, declarou o seguinte: «Há qualquer coisa que falta para que os investigadores escrevam e publiquem artigos, tanto nas revistas nacionais como nas internacionais. A fase mais activa da publicação dos nossos investigadores é quando estão a fazer doutoramento. Eles são obrigados a publicar, sob pena de não conseguirem o grau.» A Professora Aida Mussagy tocou um ponto fraco das universidades moçambicanas, inclusive a UEM, de longe ainda a melhor sob todos os pontos de vista. Fraco mas não novo. Já em ocasião do segundo seminário de pesquisa organizado pela UEM em Maputo, em 28-30 de Abril de 1998, os principais intervenientes, entre os quais o então Reitor, Brazão Mazula, destacaram a necessidade de dar passos significativos em prol de uma produção científica mais rica e rigorosa. As razões principais foram encontradas, entre as outras, no facto de a pesquisa ocupar uma posição marginal na vida académica, basicamente por causa de falta de controlos e de um corpo de avaliadores capazes de dar um ponto de vista científico aos trabalhos que a comunidade universitária ia apresentando. Alguns anos depois, um texto  publicado em 2003 (M. Mário/P. Fry/L. Levey/A. Chilundo, Higher Education  in Mozambique, Imprensa e Livraria Universitária, Maputo, 2003) assim conclui: ‘Our opinion is that we are observing in Mozambique what in Brazil has been called the cultures of repetition’. “Cultura da repetição”: o pior dos males para produzir um saber original e útil para o país. Hoje, a responsável da revista científica da UEM vai constatando que a produção académica dos investigadores moçambicanos termina, na prática e com raras excepções, com o seu doutoramento. Situação lastimável, mas que tem de ser compreendida para, de uma análise prévia, desencadear acções que possivelmente tragam melhorias significativas nesse fulcral âmbito da vida de uma comu-

nidade nacional. As questões relativas à produção de saber devem ser colocadas no interior de um quadro mais amplo, o da sociedade em que as instituições de ensino superior e de pesquisa inserem-se. Moçambique não faz excepção neste sentido. A sociedade moçambicana teve, na última década, um crescimento exponencial do número de universidades e institutos superiores um pouco por todo o país. Não gostaria de questionar sobre a qualidade do ensino que elas, as privadas assim como as públicas, conseguiram proporcionar. Entretanto, a universidade moçambicana foi chamada a desempenhar uma tarefa fundamental: fazer com que as pessoas que o queriam ou que tinham as condições económicas para o querer pudessem ter acesso ao ensino superior. Dito por outras palavras, a função principal que elas desempanharam foi relacionada com a actividade de docência. Esta situação, sempre mais virada para garantir in loco cursos de pós-graduação até a abertura de cursos de doutoramento, deixou fortemente marginalizada a pesquisa científica. Consequentemente, nenhuma universidade, nem a UEM, elaborou mecanismos capazes de fomentar à produção científica por parte dos seus docentes. Refiro-me, aqui, a mecanismos de vária ordem: desde fundos para participar em congressos internacionais a recursos para publicar, preferivelmente em revistas mas também em livros, até a eleboração de mecanismos contratuais de prémios-punições para quem consegue (ou não) produzir e publicar textos relevantes. Por exemplo, nos contratos dos docentes, em nenhuma universidade moçambicana tem uma cláusula que os obriga a publicar pelo menos um artigo científico por ano. Assim como não existem, que eu saiba, mecanismos que premiam – por exemplo – os melhores artigos publicados pelo corpo docente duma certa instituição. Em suma, se nas prioridades das insituições de ensino superior não for prevista nenhuma forma de incentivar os melhores e punir os negligentes, dificilmente a pesquisa

poderá avançar. Tais mecanismos devem pressupor pelo menos uma condição prévia: que cada universidade possua uma sua revista científica, possivelmente publicada on -line e disponível para todos na modalidade open access. Essa mudança de prioridades implica uma radical revisitação de toda a organização interna, assim como da mentalidade dos investigadores: no caso da UEM, a abertura de uma revista científica é iniciativa louvável (outras universidades estão no mesmo caminho), mas será que cada faculdade, cada departamento, cada docente tem a concreta possibilidade de publicar os seus trabalhos nessa revista? Quando falo de possibilidade refiro-me a aspectos muito práticos. Por exemplo, se um docente tem um monte de horas de aulas muito elevado, dentro e fora da instituição de pertença a caça de um salário condigno (“professor-turbo”), será que ele ou ela tem as condições para fazer publicações? Outro elemento prende-se com questões financeiras e com a angariação de fundos: é notório que, hoje em dia, em quase todos os domínios científicos fazer pesquisa significa montar uma equipa que, embora mínima, tem de fazer o trabalho de campo, elaborar dados, procurar a bibliografia adequada e por ai fora. Pelos vistos, as uni-

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Luca Bussotti

versidades moçambicanas têm uma disponibilidade praticamente nula a este propósito. Se as públicas sofrem de uma constante carência de fundos, as privadas – quase todas ou mesmo todas – consideram o investimento na investigação como um custo desnecessário e, portanto, inútil para alcançar o seu objectivo fundamental, a obtenção do lucro. Um controlo mais rigoroso por parte do Ministério competente seria, nesse sentido, estremamente urgente e necessário. Mas a fraqueza na iniciativa de angariação de fundos deriva também da falta de iniciativa ou do escasso conhecimento das possibilidades que, hoje em dia, estão sempre mais abertas ao nível internacional. Só para dar um exemplo: o Codesria (a principal insituição de pesquisa em África nas ciências sociais, com sede em Dakar) todos os anos lança um edital para investigações de grupos nacionais e também de grupos transnacionais. Os fundos disponibilizados podem ser modestos, mas garantem trabalho de campo, seminários metodológicos, a publicação do trabalho final, se este estiver em condições. A participação das universidades moçambicanas a esses editais é extremamente fraca. No ano passado o Codesria pediu-me para avaliar algumas das propostas dos grupos nacionais de pesquisa. Só havia uma universidade (pivada) moçambicana que tinha apresentado uma proposta.

Por outra, são raríssimos os investigadores nacionais envolvidos em projectos de pesquisa transnacionais, coerentemente (e infelizmente) com aquilo que acontece no contexto dos PALOPs. Outros projectos podem provir das universidades brasilerias, com o programa ProÁfrica, que obrigam as instituições de ensino superior daquele país a procurar parceiros nos PALOPs. Mas esses dois que acabo de mencionar são apenas exemplos, muitos outros podem ser procurados e finaizados, de acordo com os interesses e a iniciativa de cada departamento ou investigador. Há um outro aspecto que tem a ver com o problema que a Professora Aida Mussagy tem destacado no citado Seminário. Ela defende que, por um lado, os moçambicanos costumam fazer pesquisa porque obrigados na altura do doutoramento e depois largam essa actividade; por outro, que, muitas das vezes, os textos corrigidos pelos pares geralmente não são entregues na sua forma final devido ao facto de os autores não aceitarem as críticas. Porque é que isso acontece? Primeiro: na mentalidade da larga parte dos colegas moçambicanos, a obtenção do doutoramento significa o fim da carreira investigativa e o começo de uma profissional, virada pela chefia ou pela consultoria; ou pelas duas. Nada de mal, aliás, se trata de

mecanismos facilmente compreensíveis, uma vez que uma e outra conseguem garantir entradas económicas relevantes, incomparáveis com as de um simples professor. Consequência: eles, que deveriam representar a nata da intelectualidade nacional, deixam de fazer investigação, tornando-se burocratas de alto nível. Segundo: a não-aceitação – que a Professora Aida Mussagy denuncia – das críticas provenientes dos “pares” (académicos de reconhecido valor que, de forma anónima, avaliam textos também anónimos) por parte dos autores de textos representa a maior aberração que um cientista possa cometer. Hoje em dia, não existe revista internacional que não tenha adoptado este processo, dito de peer-review (“revisão dos pares”). Isso significa que o princípio de autoridade deve deixar espaço ao princípio de competência. Todos os autores, mesmo o mais importante dos catedráticos, devem se submeter a este processo de forma anónima, esperando pelas observações dos avaliadores. Fora disso, até hoje, não existe outra modalidade aceite no mundo científico para validar trabalhos de pesquisa. Essas condições, juntamente com muitas outras que foi impossível recordar aqui, constituem a base mínima para incentivar e estimular um sério trabalho de investigação. Será que Moçambique está pronto para aceitar esse desafio?

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nternacional

Presidente angolano assume fim de ciclo de mal entendidos com Portugal O Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Rui Machete, reuniu-se com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, que anunciou o fim de um ciclo de mal entendidos entre os dois países. «O senhor Presidente [de Angola] disse algo que eu fiquei particularmente grato. Ele acentuou que se encerrava um ciclo em que tinha havido um ou outro mal-entendido e que agora as coisas estavam naturalmente límpidas e caminhando muito bem», afirmou a jor-

nalistas Rui Machete, no palácio presidencial, em Luanda. O governante português visitou esta semana Angola, naquela que foi a primeira que realiza enquanto ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, assumindo o propósito encontrar «soluções cada vez melhores» nas relações entre os dois países. Esta visita tem em pano de fundo o anúncio, feito a 15 de Outubro de 2013 pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, do abandono do estabelecimento de uma par-

ceria estratégica com Portugal. Na altura estava agendada, para Fevereiro de 2014, uma cimeira entre os dois países, que já não se realizou e que continua sem qualquer data prevista.

«Isso aí é um problema que não é da minha competência pronunciar-me sobre isso», disse ainda Rui Machete, questionado pelos jornalistas sobre um eventualmente reagendamento da cimeira.

Grupo Banco Mundial avalia projecto de 942 milhões de meticais para fábrica de cimento em Bissau O Grupo Banco Mundial está a avaliar a possibilidade de financiar um projecto de uma fábrica de cimento em Bissau com capacidade de produção de 200 mil toneladas por ano. Os promotores pediram um empréstimo de 11 milhões de euros (462 milhões de meticais), metade do valor do projecto, e a decisão deve ser tomada até final de Fevereiro, acrescenta. O projecto é liderado por Maxime Cardoz, investidor privado do Senegal, e a firma Scancem, subsidiária da HeidelbergCement, empresa alemã de cimento e materiais de construção, uma das maiores cimenteiras mundiais. O objectivo passa por substituir o cimento existente no mercado guineense, que é todo importado, que por vezes chega a esgotar-se e cujos preços sofrem de elevados preços de transporte, refere o sumário da International Finance Corporation

(IFC) - parte do Grupo Banco Mundial que está a analisar o projeto. Os promotores acreditam que o mercado da Guiné-Bissau vai continuar a crescer e apontam a possibilidade de a fábrica poder vir a fornecer regiões de países vizinhos, como o sul do Senegal e norte da Guiné-Conacri. O investimento está previsto para uma zona nos arredores de Bissau, com fornecimento de matéria-prima de origem calcária através do porto da capital - dada a ausência de jazidas para explorar no país, refere o documento. Prevê-se também que haja criação de emprego e transferência de tecnologia com efeitos benéficos para o país e que podem servir de exemplo para outros investimentos. Está previsto que a fábrica possa empregar 40 pessoas por turno, de acordo com a informação disponibilizada.

De acordo com a IFC, a moagem de matéria-prima e produção de cimento será feita a frio, sem combustão de gases e com uma utilização muito reduzida de água, minimizando o impacto ambiental. Outros aspectos, ao nível ambiental e social, estão protegidos, de acordo com o projecto apresentado e deverão ser auditados ao longo do processo, refere a IFC, por forma evitar impactos negativos. O projecto conta com a instalação de uma rede de energia elétrica na Guiné-Bissau ligada à barragem de Kaleta, na Guiné-Conacri, que deverá começar a fornecer electricidade em Agosto. Caso contrário, está considerada a hipótese de instalar geradores com dois megawatts de capacidade para garantir o fornecimento de energia à fábrica.

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Descida nas receitas do jogo em Macau prejudica análise de crédito - Moody’s A descida nas receitas do jogo em Macau no ano passado é negativa para a economia e prejudica a análise de crédito, considerou a agência norte-americana de notação financeira Moody’s num relatório. De acordo com uma análise da agência de rating, uma das três maiores do mundo, «a descida nas receitas é negativa para o Governo do ponto de vista da análise de crédito, dado que a indústria do jogo tem um papel central na contribuição para a forte posição das contas públicas e da posição externa» de Macau. Na análise, os peritos da Moody’s sublinharam que apesar da queda das receitas (30,4% em Dezembro face ao período homólogo de 2013 e 2,6% no conjunto do ano), o que aconteceu pela primeira vez desde 2002, a região tem argumentos para manter uma sólida posição financeira. «Apesar da diminuição das receitas do sector do jogo irem prejudicar a economia e as finanças públicas de Macau, os seus activos

financeiros substanciais, a falta de dívida pública e os altos níveis de reservas oferecem uma almofada orçamental suficiente», considerou a Moody’s na nota de análise. A economia de Macau está assente nos ser-

viços com o sector do turismo, especialmente o jogo em casino, a afirmar-se como a principal fonte de receita pública devido aos impostos directos de 35% cobrados sobre as receitas brutas apuradas nos espaços de jogo

e de 4% de indirectos canalizados para fins diversos como a promoção turística. A indústria do jogo representa 46% do Produto Interno Bruto, seguido do sector imobiliário, com 9%. Os analistas e comentadores atribuem a queda das receitas de jogo à campanha anti-corrupção que está a ser levada a cabo na China, e que afecta diretamente o volume de investimento dos jogadores chineses nos casinos macaenses. As receitas devem, acrescentou a Moody’s, “continuar pressionadas à medida que a indústria do jogo atinge a maturação e enquanto a campanha anticorrupção se mantiver na China”. O Presidente chinês, Xi Jinping, reconheceu aliás esta realidade quando visitou o território em meados do mês passado, exortando as autoridades a apostarem na diversificação económica para contrabalançar a excessiva dependência do setor do jogo, que sustentou crescimentos de 14,3% do PIB, em média, entre 2009 e 2013.

Diplomata conservadora eleita primeira mulher Presidente na Croácia A antiga ministra dos Negócios Estrangeiros, Kolinda Grabar Kitarovic, conservadora, foi eleita Presidente da Croácia, na segunda volta das presidenciais. Kitarovic é a primeira mulher Presidente nos Balcãs eleita por sufrágio universal. «Kolinda Grabar Kitarovic venceu uma luta democrática e felicito-a», disse, ao reconhecer a derrota, o Presidente cessante, o social-democrata, Ivo Josipovic. «Prometo que a Croácia será um país próspero e rico, um dos países mais desenvolvidos da União Europeia (UE) e do mundo», disse aos apoiantes a Presidente eleita, de 46 anos, de mão dada com o marido. Grabar Kitarovic obteve 50,4% dos votos, contra 49,6% para Josipovic, de acordo com os resultados depois de contados 99,3% dos sufrágios, indicou a comissão eleitoral central. No final da primeira volta, há duas semanas, Josipovic, de 57 anos, jurista de formação e compositor de música clássica, que se candidatou ao segundo mandato de cinco anos, ven-

ceu à justa a antiga chefe da diplomacia croata (2005-2008). O resultado da primeira volta representou um duro golpe para Josipovic, candidato da coligação de esquerda no poder (SDP), que as sondagens davam inicialmente como grande favorito. Antiga república jugoslava, independente desde 1991, a Croácia tornou-se, em 2013, o 28.º país-membro da União Europeia. Primeiro, ministra da Integração Europeia e depois dos Negócios Estrangeiros (2003-2008), Grabar Kitarovic ocupou o cargo de embaixadora em Washington até 2011. Em seguida, assumiu o posto de adjunta do secretário-geral da NATO (Organização do Tratado Atlântico Norte, em português) para as informações públicas, antes de se tornar Presidente da Croácia, quarta chefe de Estado eleita depois da independência da ex-Jugoslávia em 1991. Política dinâmica, sempre sorridente, fez campanha sob o slogan “Por uma Croácia Melhor”, com um programa para

relançar a economia vacilante do país, membro da UE desde julho de 2013 e em recessão quase permanente desde há seis anos. «Nunca renunciei às minhas convicções e sempre tive os mesmos valores: a pátria e a família são a minha escolha de vida», declarou esta mãe, que descreve o marido como «papá de profissão». O casal tem dois filhos. Filha de um talhante, Grabar Kitarovic nasceu numa aldeia, perto do porto adriático de Rijeka (noroeste). A diplomata lembra frequentemente as suas origens humildes e descreve com paixão a infância passada no campo. Grabar Kitarovic personifica a ala moderada da União Democrática Croata (HDZ, conservadores). Durante a campanha eleitoral, afirmou que daria o seu apoio caso um dos filhos se assumisse como homossexual e autorizaria a utilização de marijuana para fins medicinais. Católica praticante, assegurou, sobre o aborto, que «cabe à mulher a decisão» de ter, ou não, uma criança.

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São João, Universitário de Coimbra e Lisboa Norte são os três melhores hospitais    Os Centros Hospitalares de São João (Porto), o Universitário de Coimbra e o de Lisboa Norte são os primeiros três classificados no ranking do internamento nos hospitais públicos, coordenado por um investigador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP). Os resultados definitivos desta avaliação do desempenho dos hospitais públicos (internamento) em Portugal continental, em 2013, realizada por especialistas da ENSP, identificaram as dez melhores instituições na resposta que deram a 17 conjuntos de doenças. Depois dos centros hospitalares de São João (Porto), do Universitário de Coimbra e do de Lisboa Norte, que ocupam o primeiro, segundo e terceiro lugar no ranking, respectivamente, surge nesta avaliação ao desempenho global o Hospital Beatriz Ângelo (Loures), na quarta posição. Seguem-se os centros hospitalares do Porto e de Lisboa Central, a Unidade Local de Saúde (ULS) de Matosinhos, os centros hospitalares de Tondela-Viseu, do Tâmega e Sousa e o Hospital de Braga. Este ranking resulta da avaliação dos episódios de internamento para as doenças do aparelho ocular, cardíacas e vasculares, digestivas, endócrinas e metabólicas, ginecológicas e obstétricas, infeciosas, músculo-esqueléticas, neoplásicas, neurológicas, órgãos genitais masculinos, dos ouvidos, nariz e garganta, pediátricas, da pele e tecido celular subcutâneo, respiratórias, dos rins e aparelho urinário, do sangue e órgãos linfáticos e hematopoéticos, traumatismos e lesões acidentais. O Centro Hospitalar de Setúbal foi o melhor classificado para as doenças do aparelho ocular, enquanto o de São João (Porto) lidera para as doenças cardíacas e vasculares e para as doenças digestivas. Nas doenças endócrinas e metabólicas, o primeiro lugar é ocu-

pado pelo Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que também lidera a avaliação para as doenças ginecológicas e obstétricas. O Centro Hospital de São João está igualmente em primeiro lugar para as doenças infeciosas. O Centro Hospitalar de Tondela e Viseu é o primeiro classificado para as doenças músculo-esqueléticas. Nas doenças neoplásicas, o melhor classificado foi o Centro Hospitalar de São João, seguido do IPO do Porto, os centros hospitalares de Coimbra e de Lisboa Central e, em quinto lugar, o IPO de Lisboa. O Centro Hospitalar de São João lidera ainda no internamento para as doenças neurológicas, bem como para as doenças dos órgãos genitais masculinos. O IPO de Coimbra está em primeiro lugar para as doenças dos ouvidos, nariz e garganta. Nas doenças pediátricas lidera o Hos-

pital Beatriz Ângelo (Loures), com o Centro Hospital de São João a aparecer em primeiro lugar para as doenças da pele e do tecido celular subcutâneo e as patologias respiratórias. Para as doenças dos rins e do aparelho urinário, o primeiro lugar é ocupado pelo Centro Hospitalar de Lisboa Norte, enquanto o de São João lidera para as doenças do sangue e dos órgãos linfáticos e hematopoéticos. O Centro Hospitalar de Tondela Viseu está em primeiro para os traumatismos e lesões acidentais. Para a elaboração desta tabela foram considerados os hospitais responsáveis pelo tratamento de 99% do total de doentes internados, não fazendo dela parte os hospitais com um volume de produção reduzido. O documento é subscrito por Carlos Costa e Sílvia Lopes, da ENSP, instituição que não é vinculada ao documento.

Empresas portuguesas recuperam dinâmica anterior à assistência financeira O tecido empresarial português recuperou em finais de 2014 a dinâmica anterior ao Programa de Assistência Económica e Financeira, tendo registado o valor mais baixo de encerramentos desde 2007, segundo o barómetro anual Informa D&B. De acordo com as conclusões do barómetro, o ano de 2013 «mostra, pela primeira vez, uma inversão da tendência de subida das insolvências verificada desde 2007», sendo notória uma descida «ainda mais acentuada» em 2014, de -20,6%. Em 2013 e 2014 verificou-se também um dos valores mais altos desde 2007” no que respeita à criação de novas empresas, para um total de 35 mil, sendo que no ano passado, por cada empresa que encerrou, nasceram 2,5 novas entidades, o rácio mais elevado desde 2007.

«A dinâmica do tecido empresarial português recuperou, segundo números do final de 2014, para valores semelhantes aos que registava antes do Programa de Assistência Económica e Financeira (PAEF), após um período de convulsão especialmente acentuado em 2011 e 2012», destaca a Informa D&B, que cruzou informação sobre constituições, encerramentos e insolvências das empresas com a análise do seu desempenho nos últimos anos. Durante os primeiros anos do PAEF, recorda, tinha-se registado uma considerável subida de encerramentos, com as insolvências a atingirem os valores mais altos desde 2007. Contudo, em 2014 registaram-se já 35.568 constituições de novas empresas, em linha com o já verificado em 2013, e 13.952

encerramentos, o que representa um decréscimo de 13,2% face a 2013. Já as insolvências registaram uma «descida significativa» de 20,6%, passando de 5.545 para 4.401, o que permitiu atingir em 2014 o rácio de nascimentos/encerramentos mais elevado desde 2007: por cada empresa que encerrou atividade, nasceram 2,5 novas entidades. Segundo a Informa D&B, o sector de alojamento e restauração destacou-se pela subida registada na constituição de empresas, sendo no final de 2014 o terceiro sector com mais empresas criadas, a seguir aos serviços e ao retalho, e tendo conquistado ao setor da construção o terceiro lugar desde 2011.

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José António Saraiva, [email protected] in semanário Sol, 12/01/2015 16:48:16 Política a Sério

Cinco perguntas a Sócrates E stá na moda fazer perguntas a José Sócrates, que na semana passada respondeu da prisão a questões postas por escrito pela TVI. Nessas respostas, para lá de acusações à Justiça e aos jornais, Sócrates usou alguns truques.  Considerou “ignominiosa” a prática da corrupção (para afastar a ideia de poder tê-la praticado), considerando que as suspeitas da Polícia decorrem de “uma cascata de presunções”. Sócrates agarrou-se a isto (esquecendo a fraude fiscal e o branqueamento de dinheiro) por estar convencido de que a corrupção será a acusação mais difícil de provar.  De facto, se eu fizer um favor ao senhor A, e o senhor A me der mil euros, ‘presume-se’ que esta quantia foi o pagamento desse favor; mas, sem outro elemento de prova, não se pode garantir taxativamente que o foi. É a situação de Sócrates.  Ele confirmou que recebeu dinheiro do amigo Carlos Santos Silva, que era administrador do Grupo Lena; mas acha que a Justiça não conseguirá provar por A+B que o dinheiro era a paga de favores feitos por ele ao Grupo Lena.  Além disso, afirma que esse dinheiro não era oferecido mas sim entregue pelo amigo a título de “empréstimo”.  Voltaremos a este tema. Outro truque usado por Sócrates foi desmentir certas notícias incorrectas que saíram na imprensa - como a das malas de dinheiro supostamente enviadas a Paris através do motorista - para induzir a ideia de que, como isso é falso, todas as outras notícias serão também inventadas. Ora, o SOL já tinha escrito (por duas vezes) que a história das malas não era verdadeira. Mas repare-se: Sócrates não desmentiu, por exemplo, que Perna lhe levasse envelopes com dinheiro, nem que lhe pagasse despesas, como a do funeral do irmão, que ele reembolsava em dinheiro vivo… E, relativamente a outros factos, Sócrates foi sub-reptício. Quando falou dos ‘empréstimos’ do amigo Santos Silva, disse achar natural que um amigo ajude outro em “dificuldades”, com “muito ou pouco” dinheiro.  Ora, isto não foi dito assim por acaso. Não foi por acaso que Sócrates falou em “muito ou pouco” dinheiro: é que estão em causa, de facto, enormes quantias. E se é natural que um amigo empreste a outro umas centenas ou até milhares de euros numa situação de aperto, não é nada natural que lhe passe para as mãos milhões de euros para o outro fazer uma vida de luxo. Finalmente, Sócrates afirmou que a sua prisão tem objectivos políticos e até sugeriu que poderá ter implicações futuras para o PS. A intenção foi afastar a ideia de que é suspeito de um crime

de delito comum - e, ao mesmo tempo, envolver o PS no caso, procurando arrastá-lo para sair cada vez mais em sua defesa.   Mas vamos às perguntas que as respostas de Sócrates à TVI me suscitaram:      1. Se o dinheiro entregue por Carlos Santos Silva foi ‘emprestado’, onde está o registo dos montantes? Se a sua intenção era liquidar a dívida, como diz, Sócrates tem de saber quanto recebeu…  2. A conta donde saía o dinheiro para os empréstimos a Sócrates, que nominalmente pertencia a Santos Silva, era usada por este para outros fins - ou só era movimentada para ‘emprestar’ dinheiro a Sócrates? 

3. É verdade que os movimentos dessa conta eram ‘ordenados’ por Sócrates a Santos Silva, ou seja, Sócrates não pedia ao amigo para lhe ‘emprestar’ dinheiro antes lhe dava instruções para fazer isto ou aquilo, como resulta das escutas telefónicas? 4. Se os empréstimos não tinham nada de mal, por que razão não eram feitos às claras, em normais transferências bancárias, mas sim em envelopes fechados com notas, transportados pelo motorista João Perna, como este confirmou?  5. Se Sócrates vivia em Paris com “dificuldades”, ao ponto de precisar de pedir dinheiro emprestado, como se justifica que fizesse uma vida de luxo?  Daquilo que já se conhece do caso, estas perguntas permitem os seguintes comentários: 1. Se não existir registo dos ‘empréstimos’ , o dinheiro não foi ‘emprestado’ mas sim dado. Ninguém - nem o melhor amigo - empresta quantias enormes (supostamente, dois milhões de euros) sem nenhum registo. 2. Se aquela conta bancária só era usada para ‘emprestar’ dinheiro a Sócrates, ela pertenceria mesmo a este. Se fosse de Carlos Santos Silva, ele usá-la-ia para outros movimentos. 3. Se Sócrates dava ordens a Santos Silva para fazer entregas de dinheiro, esse dinheiro era efectivamente dele; ninguém dispõe totalmente de dinheiro que não é seu. 4. Se os ‘empréstimos’ fossem transparentes, as transferências seriam feitas às claras. Os envelopes e outros estratagemas provam a existência de negócios obscuros a esconder. 5. Se vivesse com dinheiro emprestado, Sócrates faria outra vida. Ninguém necessitado de pedir empréstimos viaja sempre em classe Executiva, compra fatos Armani, tem um carro topo de gama com motorista, frequenta restaurantes caros, faz férias em Formentera (numa moradia que custava dois mil euros por dia) ou vai ao Brasil só para assistir à inauguração do Mundial de Futebol.  Na entrevista à TVI, Sócrates usou o seu habitual estilo de reagir agressivamente às acusações, partindo depois para o contra-ataque. Mas isso já não pega, porque as explicações que dá para os factos conhecidos são completamente inverosímeis. Usa o estratagema de desmentir notícias pitorescas (como a das malas de notas) para esconder acusações graves (como usar o motorista para branquear dinheiro). E, quanto ao facto capital - as entregas de milhões feitas pelo amigo -, a ‘explicação’ de que se trata de ‘empréstimos’ não convenceria nem uma criança de seis anos. A propósito, faz-me muita impressão o ardor com que Mário Soares defende Sócrates.  Independentemente de tudo o resto, a vida de luxo e ostentação que Sócrates levava devia ser chocante para qualquer socialista.  

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ESPORTO

«Quero valorizar mais os jogadores moçambicanos para o estrangeiro» Há uma semana em Maputo, Litos Carvalha já trabalha como treinador principal da Liga Desportiva de Maputo, clube com o qual venceu uma edição do Moçambola, uma Taça de Moçambique e duas Supertaças entre os anos de 2012 e 2013. Entrevistado pelo SOL DO INDICO, o técnico português assumiu que um dos seus principais objectivos é de potenciar jogadores moçambicanos para o mercado europeu. Quais são as reais motivações que pesaram para o regresso de Litos Carvalha a Moçambique? Foi o desejo de voltar para o clube que me respeitou e me tratou bem, atraído pelo país que sempre me recebeu com muito carinho. Pesou na minha decisão o facto de eu ter sentido que ficou algo por fazer na temporada passada, embora no fim todos tenham ficado felizes com a revalidação do título. O regresso de Litos não poderia ser pela porta de um outro clube moçambicano? Eu decidi regressar para o clube que me dá possibilidades de ganhar títulos.

O ano sabático de Litos em Lisboa foi voluntário ou inevitável? Eu tive enormes propostas em Portugal. Nenhuma foi da Primeira Liga, é verdade, sabido de antemão que aquela prova é restrita para certos empresários e treinadores. Tive um convite vindo de Angola, que só não aceitei porque não conseguimos chegar a um acordo no que diz respeito ao número de elementos que deveriam compor a minha equipa técnica. Em suma, eu recuei em todas as propostas que tive durante o ano passado porque alimentava a esperança de regressar a Moçambique. Disse que a Liga Desportiva dá-lhe possibilidades de vencer títulos… Com a manutenção da espinha dorsal do ano passado, acho que estamos em condições de ter uma excelente época ao nível interno. Aliás, é nossa obrigação vencer títulos, ainda que muitos clubes estejam também a investir seriamente nos seus respectivos planteis e a formar boas equipas. Eu já transmiti aos meus jogadores e colegas da equipa técnica que, neste ano, não podemos fugir das nossas responsabilidades.

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David Nhassengo

Temos de honrar o historial do clube, até porque nos são oferecidas boas condições de trabalho e temos um grupo de trabalho capaz de lutar por grandes coisas. Muita coisa foi dita no passado acerca da saída de Litos da Liga Desportiva. Independentemente das razões, significa que as diferenças do passado foram sanadas? Quando não me sinto bem num determinado local, saio e nem peço indemnização. As pessoas que me conhecem sabem perfeitamente disso. Eu nunca me sinto preso a ninguém, assim como o clube não se pode sentir para comigo. Quando não me dão as condições ideais para ter sucesso ou quando as minhas ideias não são aceites pelos jogadores eu me sinto a mais e faço as minhas malas. Mas espero que isso não aconteça desta vez, até porque as pessoas já me conhecem o suficiente e sabem como sou. Acredito que haverá harmonia em todos os departamentos e o clube continuará a trilhar os caminhos do sucesso. Que fique claro que estou de alma e coração na Liga Desportiva de Maputo. «Sempre estive a par de tudo no ano passado» É do conhecimento do SOL DO INDICO que Litos Carvalha dava conselhos à equipa técnica que no ano passado revalidou o título de campeão nacional. Ou seja, que afinal nunca esteve distante. Dava as tácticas? Olha, preparei a equipa por dois meses no ano passado. Acreditámos, naquela altura, que tínhamos um plantel em condições de ganhar as provas internas, todavia capaz de ir um pouco mais longe na Taça de Moçambique, visto que foi eliminado por um adversário da segunda divisão. Ao nível internacional não tínhamos muitas opções, pois encarámos o Kaizer Chiefs, um conjunto poderoso. Nos primeiros meses, após a minha saída,

distanciei-me do clube, naturalmente para deixar as pessoas que estavam aqui a trabalhar mais à vontade, sem me intrometer em qualquer assunto que fosse. Passei a comunicar-me com alguma intensidade a partir do momento em que a Liga foi diminuindo a vantagem sobre o segundo classificado. A pedido de algumas pessoas fui passando a minha mensagem de incentivo aos técnicos, bem como aos jogadores, visto que era importante que o clube estivesse neste ano nas competições africanas. No próximo dia 8 de Fevereiro, a Liga vai disputar o jogo da Supertaça diante do Ferroviário da Beira. Como é que é encarar o regresso disputando um título? É certo que o trabalho que estamos a fazer nesta pré-época tem em vista o futuro, ou seja, lutar por todos os títulos possíveis. Mas é óbvio que estamos bastante focados na Supertaça, que é mais um troféu que queremos ganhar a curto prazo. E quais são as outras ambições para a presente época? Revalidar, pela segunda vez, o título de campeões nacionais; vencer a Taça de Moçambique; Ir mais longe possível nas competições africanas; e valorizar mais os jogadores moçambicanos para que, como no passado, sejam vendidos no mercado europeu para que o clube tenha excelentes encaixes financeiros. Está satisfeito com a equipa que tem neste momento para lutar por todos os títulos nacionais? Nós treinadores nunca estamos satisfeitos com o plantel que temos. Gostaríamos de ter sempre mais. Ao nível interno acho que foi feito tudo o que era possível para colmatar algumas lacunas. No que diz respeito aos reforços estrangeiros, neste momento, estamos a observar alguns jogadores, pelo que no fim desta semana tomaremos decisões.

Adiodato Gomes

Mas qual é a real situação dos reforços estrangeiros da Liga Desportiva? Uns vão permanecer e outros não. Estou numa situação embaraçosa pois, ao nível interno, há um limite de três jogadores dentro do rectângulo do jogo e dois no banco de suplentes, diferentemente das provas internacionais onde poderemos utilizar o maior número possível de uma só vez, caso os mesmos estejam em condições. Os reforços da Liga Desportiva para a presente época foram “chancelados” por si? Nada daquilo que os responsáveis da Liga fizeram foi a meu pedido. Mas compreendese. As novas contratações foram feitas depois de se chegar ao acordo para o meu regresso a Moçambique e aqui, como se sabe, as coisas devem ser tratadas cedo para que haja essa possibilidade de contratar. Só tive acesso às coisas já no capítulo das dispensas. Quais são as posições nas quais a Liga continua com lacunas? Estamos ainda a observar os jogadores que temos disponíveis, pelo que até este fim-desemana tomaremos uma decisão. Haviam dois tipos de jogadores que deveriam ser contratados no estrangeiro, já que internamente não era possível por estarem todos eles comprometidos, nomeadamente um ponta-de-lança e um defesa central. Qual é o seu esquema táctico preferencial? Eu não abdico nunca do meu 4 – 3 – 3. É evidente que dentro dessa formatação e durante um jogo possa vir a alterar para o 4 – 4 – 2 ou 4 – 1 – 3 – 2 porém, o mais importante é ter jogadores polivalentes e capazes de se adaptarem rapidamente em qualquer posição. Não me tenho dado mal com essa forma de jogar e o mais importante para mim, é, ao longo do ano, criar os automatismos próprios desta nossa forma de jogar.

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ULTURA

Leonel Matusse Jr

Adiodato Gomes

Samito Tembe afina “Açúcar Castanho” para adocicar ouvidos em 2015 O percussionista Samito Tembe está a preparar o seu projecto musical intitulado “Açúcar Castanho”. Para o presente ano, programou concertos ao vivo em jeito de ensaio para o álbum. É comum em famílias moçambicanas ter na refeição matinal uma chávena de chá, pão com manteiga. O chá é adocicado pelo açúcar castanho. O percussionista e baterista Samito Tembe foi buscar este adoçante para intitular o seu projecto musical. A escolha do título é consequência das vivências, tendo em conta que cresceu tomando chá com açúcar castanho. Samito Tembe é percussionista há mais de doze anos. Já foi membro da Banda Kakana, para além de ter passado por vários outros grupos como: Mahamba, Voz Verde, N`tysso, Tchikulu e Xitende. Com este último, tocou no Xima Bar, onde, segundo cont, «aprendi a tocar música ligeira com nomes como Camal Givá, Salimo Mohamed e Wazimbo.» O percussionista trabalha como independente e é um dos mais requisitados da cidade de Maputo. Ao longo da sua carreira adquiriu muita experiência, daí que no “Açúcar Castanho” pretende «exteriorizar o que fui colhendo ao longo de todos os anos com os diversos músicos» que trabalharam com ele. No seu jeito humilde, revelou que pretende trabalhar com músicos moçambicanos no seu projecto e que o guitarrista Childo Tomás, radicado na Espanha, está no topo da sua lista. «Gostaria de tocar com o Childo», afirmou. O guitarrista incentivou Samito a fazer este trabalho e mostrou-se disponível a colaborar. «Ele [Childo] quando veio para cá disse: tu podes liderar, estar em frente de uma banda. Era bom nós podermos gravar qualquer coisa juntos», contou Samito. O trabalho é baseado em mutimba, um ritmo tradicional moçambicano, da região sul do país. Para além de Samito na (composição, percussão, bateria e voz), a banda é constituída por Sérgio Mudjidji (baixo), Timóteo Cuche (saxofone e clarinete) e Nicolau Cauaneque (piano). O elenco possui influências muito fortes de jazz. Antes da gravação, a banda vai realizar concertos pelas casas de pasto de Maputo, com o intuito de os integrantes conhecerem bem as músicas e o público se familiarizarem com o que poderão encontrar no álbum. Samito Tembe manifestou o desejo de fazer «os concertos de dia nas periferias», e justificou dizendo que «à noite só os que têm dinheiro é que vão», enquanto a sua intenção é que a música chegue a todos.

Há poucas escolas de música O percussionista lamentou o número insuficiente de escolas de música. No seu entender, é o elemento que falta para o desenvolvimento desta arte no país. «Se nós tivéssemos escolas, estaríamos num outro nível. Ser autodidata é bom, mas escola é melhor. Para entrarmos pela porta, não pelo muro. Há que educar as pessoas. Aqui só estudam para ter dinheiro e não para aprender», observou. O começo de tudo Nasceu e cresceu no Bairro Central, no centro da cidade de Maputo, depois a sua família mudou-se para o bairro de Maxaquene. Chegado a Maxaquene, experimentou ser bailarino, fez amizades com gente envolvida na área musical e que lhe indicou um grupo onde poderia aprender mais, Mahamba. «Nesse grupo aprendi dança tradicional, um pouco adulterada. Afinal, estamos na era moderna», disse. Por desentendimentos com alguns membros acabou abandonando o grupo. Mas o jovem não desistiu. Continuou a trilhar o seu caminho, visto que o seu desejo era viver de música. Por causa da sua arte teve uma bolsa de estudo para a [Universidade] A Politécnica, mas não fui. «Lá não tinha música», justificou Samito. A experiência do “velho continente” Entre os anos 2008 e 2010 foi viver para a Noruega, com o propósito de ensinar percussão numa escola de cultura, onde trabalhou com gente de todas idades. Na sua estada naquele país europeu fundou o “Monoswezi Project”, banda que teve a participação de artistas de Moçambique, Noruega, Suécia e Zimbabwe. O projecto tinha como principal objectivo criar uma ponte cultural entre os artistas dos referidos país. Monoswezi Project realizou diversos espectáculos e que culminaram com a gravação de um álbum intitulado “Monoswezi”. Como membro da Banda Kakana, em 2005, participou do Festival Music-Crossroads, onde ganhou o prémio de melhor percussionista e foi participar no Ethno Music Fest na Suécia. Na sua lista de parcerias constam grandes nomes da música nacional, entre os mais jovens e os da velha vanguarda: Jimmy Dludlu, Ras Haitrm, Isabel Novella, Neyma, Xixel Langa, Djakkas, Sérgio Muiambo, Roberto Isaías, Zoco Dimande, João Cabral, Miguel Xabindza, Tony, Simba/Milton Gulli, Silita, Childo Tomás, Deodato Siquir, Neco Novellas e Cremildo Caifás. Recentemente participou do álbum “Memórias” de Chico António.

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ULTURA

Marcolino Vilanculos

Kay Brito expõe “Cores Móveis” em Maputo Encerra amanhã, na Mediateca do BCI, a exposição fotográfica da artista plástica Kay Brito. A exposição é composta por 34 telas, onde predomina a cor e o movimento registado em vários momentos. A artista frisou que a escolha do título deve-se ao facto de os «conceitos serem diversos e terem em comum o uso da cor e do movimento.» Kay Brito pretende chamar atenção de todas as coisas pequenas como as paredes velhas, vidros partidos, assim como tudo que consegue verificar ao seu redor. «Temos que ver a beleza nas coisas pequenas. Por outro lado, pretendo criar uma nova técnica entre a fotografia e pintura, para depois ver a reacção das pessoas.» A exposição é resultado de um trabalho produzido durante três meses. Com influência africana, americana e europeia, a

artista referiu que escolheu Maputo para apresentar a sua primeira exposição pelo facto de si sentir moçambicana. «Sou “moçambicana”, vivi fora durante 4 anos. Então, queria que a minha primeira exposição tivesse lugar aqui», afiançou. Kay Brito avançou que tem acompanhado o trabalho de outros artistas moçambicanos. «Conheço Naguib, Malangatana, que é a minha fonte de inspiração e os artistas Nelsa e Ricardo.» “Cores móveis” fora de Maputo A artista salienta que gostaria de apresentar “Cores Móveis” em outros locais, com vista a divulgar o seu trabalho. «”Cores Móveis” não é especificamente para Maputo», afirmou, para de seguida acrescentar que já está a pensar na sua segunda exposição.

Com vista a ter mais conhecimento das artes plásticas, em particular feita pelos jovens, Brito manifestou a vontade de trabalhar com artistas do Núcleo de Arte e da Feira de Arte, Flores e Gastronomia de Maputo (FEIMA). Kay Brito nasceu em 1993, em Fort Collins, nos Estados Unidos da América. Em 1994, veio com seus pais viver para Maputo, onde viveu até aos 15 anos. Aos 14 anos de idade recebeu a primeira máquina fotográfica, o que fez com que descobrisse a paixão pela arte de fotografar. Em 2010, Brito estudou em Paris, em 2012, frequentou a Escola de Arte Willem de Kooning, em Roterdão, na Holanda, tendo feito vários cursos em artes plásticas. Em 2013 voltou a Paris para frequentar a Parsons The New School of Design. ano passado, Kay Brito decidiu regressão ao país.

GENDA TV Dia 16

JimJam 05:15 - Barney And Friends

Fox Movie 19:46 – Honey 2: A Dança Continua

Fox E 15:00 - Os Simpsons Dia 17

JimJam 01:55 - Fireman Sam

Fox Movie 10:33 - Real Desatino

Fox E 21:21 - Sob Suspeita Dia 18

JimJam 00:40 – Connie The Cow

Fox Movie 14:21 - Dupla Sedução

Fox E 07:14 - Casos Arquivados Dia 19

JimJam 04:10 – Tiny Planets

Fox Movie

AXN White

18:11 - Terapia Para Casais

# Hart of Dixie

Fox E

Estreia: Terça feira 20 de Janeiro Género:  Comedy, Drama, Romance Ano : 2013 Realizador: Josh Schwartz

10:04- Flashpoint Dia 20

JimJam 07:20 - What’s The Big Idea?

Elenco: Rachel Bilson, Jaime King, Cress Williams, Wilson Bethel, Kaitlyn Black, Tim Matheson, Scott Porter

Fox Movie 23:15 - Ned Kelly

Fox E 08:28 - Dexter Dia 21

JimJam 074:50 – Igloo Gloo

Fox Movie 17:46 - Espécie Mortal III

Fox E 15:50 - Hawai Força Especial

Dstv Pipoca

# Sangue do Meu Sangue

Estreia: Sexta feira16 de Janeiro Ano : 2011 Género: Documentário, Thriller, Drama Realizador: João Canijo

Dia 22

JimJam

Elenco: Rafael Morais, Rita Blanco, Anabela Moreira

06:05 – Rubbadubbers

Fox Movie 17:19 - Jerry Maguire

Fox E 10:45 - Ossos

Márcia (Rita Blanco) é mãe de Cláudia (Cleia Almeida) e Joca (Rafael Morais) e irmã de Ivete (Anabela Moreira). Mãe solteira, vive numa casa no Bairro Padre Cruz, em Lisboa, com Ivete que a ajudou a criar os filhos e os ama como se fossem seus. O que ninguém esperava é que duas tragédias chegassem para marcar aquela família: Cláudia apaixona-se por um dos seus professores da faculdade, casado, e Joca, um pequeno traficante cadastrado, contrai uma dívida com um homem perigoso. Márcia e Ivete preparam-se para o pior, mas o seu amor incondicional é capaz de tudo...

Hart of Dixie acompanha a história da Dra. Zoe Hart, uma médica recémformada que acaba aceitando o convite de um estranho e vai morar no Alabama. A virada em sua vida se dá após perder uma bolsa de estudos em Nova York, por acharem que ela trata os pacientes como objetos e não pessoas. Porém, a vida na pequena cidade de Bluebell não é tão simples assim. Além de ter problemas com o outro médico da cidade, Zoe ainda percebe que de pacata Blueball não tem nada. Ali ela encontra não apenas um caminho para sua vida, mas descobre mais sobre seu passado e entende melhor a relação conturbada existente entre seus pais e ela.

16 de Janeiro 2015

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CTUAL

Arlindo Fidalgo Jr, correspondente em Pemba

Chuvas em Chiúre: população clama por ajuda urgente Mais de 80 casas construídas com recurso a material precário ficaram total ou parcialmente destruídas no distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado, região norte do país. A destruição tem como causa única as intensas chuvas, acompanhadas de ventos fortes que estão a fustigar aquele ponto do país. As chuvas deixaram sem abrigo cerca de mil famílias, sendo que 270 precisam urgentemente de apoio multiforme para se refazerem da situação. O Comité de Gestão de Calamidades de Chiúre já está no terreno para apoiar as famílias que perderam os seus bens devido à fúria das chuvas.

Segundo apurou o SOL DO INDICO naquele distrito, a situação poderá se prolongar nos próximos dias face aos registos meteorológicos, que indicam o aumento da queda das chuvas para toda a província de Cabo Delgado. Maria Justina Tauabo, coordenadora do Comité de Gestão de Calamidades de Chiúre, disse que as vítimas das enxurradas beneficiaram de meios auxiliares como tendas, produtos alimentares, como também de utensílios de uso doméstico. «A chuva, que pensávamos que era moderada nos primeiros dias da descarga, causou esses danos. Nos preocupa bastante, porque não estávamos a

prever essas consequências», lamentou a fonte, num breve contacto telefónico que manteve connosco. Questionada se a situação não estava a comprometer a campanha agrícola em Chiúre, Maria Justina Tauabo foi sintéctica e afirmou que era prematuro dar uma resposta sobre a imagem numérica dos campos afectados, no entanto, certificou que as chuvas que continuam a cair estão a devastar as áreas agrícolas dos camponeses. «Neste momento não posso precisar o número das machambas destruídas. Acreditamos que as machambas dos camponeses não foram poupadas desta acção ambien-

tal. Actualmente, estamos a prestar assistência à população e de seguida vamos reparar este lado agrícola», disse a coordenadora do Comité de Gestão de Calamidades de Chiúre, acrescentado que as vítimas das enxurradas fazem parte das comunidades de Mahipa e Chimoio, no Posto Administrativo de Ocua, e a comunidade municipal de Milamba, na vila sede do distrito. De recordar que alguns rios da província já estão a mostrar indícios de transbordo, como é o caso de Montepuez e Messalo. A situação poderá piorar entre os meses de Fevereiro e Março, facto que está a colocar as autoridades de Chiúre em estado de alerta máximo.

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