A prosódia das interrogativas totais na fala carioca: fala espontânea versus leitura

December 22, 2017 | Autor: Vivian Paixão | Categoria: Speech Prosody, Prosodia
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Universidade Federal do Rio de Janeiro

A PROSÓDIA DAS INTERROGATIVAS TOTAIS NA FALA CARIOCA: FALA ESPONTÂNEA VERSUS LEITURA

Vivian Borges Paixão

2014

UFRJ

A prosódia das interrogativas totais na fala carioca: fala espontânea versus leitura Vivian Borges Paixão

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas, na Área de Concentração Língua Portuguesa.

Orientador: Dinah Callou Co-orientadora: Dolors Font-Rotchés

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

A prosódia das interrogativas totais na fala carioca: fala espontânea versus leitura

Vivian Borges Paixão

Orientadora: Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou (UFRJ) Co-orientadora: Professora Doutora Dolors Font-Rotchés (Universidad de Barcelona)

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras (Letras Vernáculas), Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas, na Área de Concentração Língua Portuguesa.

Examinada por: ______________________________________________________________ Presidente, Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou (UFRJ) – Orientadora _______________________________________________________________ Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra (UFRJ) _______________________________________________________________ Professora Doutora Flaviane Romani Fernandes Svartman (USP) _______________________________________________________________ Professor Doutor João Antonio de Moraes (UFRJ) – Suplente _______________________________________________________________ Professora Letícia Rebollo Couto (UFRJ) – Suplente _______________________________________________________________

Rio de Janeiro Fevereiro de 2014

Paixão, Vivian Borges. A prosódia das interrogativas totais na fala carioca – fala espontânea versus leitura/ Vivian Borges Paixão- Rio de Janeiro: UFRJ/ FL, 2014. xiv, 141f. Orientador: Dinah Callou Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras / Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2014. Referências Bibliográficas: f. 93-98. 1. Prosódia. 2. Interrogativas. 3. Fala espontânea e leitura. I. Callou, Dinah. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. A prosódia das interrogativas totais na fala carioca – fala espontânea versus leitura.

"Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas há também aqueles que o fazem porque tiveram mais sorte do que podiam suportar."

Ítalo Calvino

Agradecimentos

Uma dissertação de Mestrado pode, muitas vezes, passar a impressão de ser um trabalho solitário. Para que esta dissertação fosse concluída, no entanto, muitos foram aqueles que colaboraram comigo, e a quem dedico aqui alguns agradecimentos: À Professora Dinah Callou, que desde a iniciação científica me deu motivação para prosseguir com a pesquisa acadêmica. À Professora Dolors Font-Rotchés, que acreditou em minha capacidade e me auxiliou desde a construção do projeto desta pesquisa de Mestrado. Aos membros da banca examinadora desta dissertação por terem aceitado o convite, pela leitura e avaliação do trabalho, bem como pelos comentários e contribuições vindouros. Além disso, agradeço à Professora Carolina Serra também por toda a orientação e apoio que me deu ao longo do mestrado; e à Professora Flaviane Svartman pela confiança depositada ao aceitar prontamente o convite mesmo sem ter conhecimento prévio de meu trabalho. Aos informantes e ouvintes-juízes que gentilmente aceitaram “ceder um tostão de sua voz” (ou de seus ouvidos) para a pesquisa científica, pela disponibilidade e boa vontade em participar das gravações e testes de percepção. À Capes, pelo importantíssimo incentivo financeiro, já que nem só de conhecimento vive um estudante de pós-graduação. À Professora Silvia Brandão, minha primeira orientadora de iniciação científica, responsável por me encaminhar no campo da pesquisa em fonética; aos professores João Moraes e Cláudia Cunha pelas fundamentais contribuições e estímulo. À secretária do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Urânia Marinho, pela infinita paciência, e à Professora Célia Lopes, incrível como docente, como coordenadora do PPG e como ser humano. A meu tio José Antonio Borges, pesquisador do NCE/UFRJ, verdadeiro ídolo para mim. Aos amigos frequentadores da sala F-312, cuja participação neste trabalho é inegável: à minha amiga, confidente e eterna companheira de aventuras Priscila Guimarães Batista; à amiga e parceira de empreitadas Erica Almeida; à pessoa que primeiro me apresentou

ao fantástico mundo da Fonética Acústica, Luana Machado; às bolsistas de iniciação científica Aline Farias e Ingrid Oliveira, que me prestaram tão valiosa ajuda; enfim, a todos os professores e colegas com quem convivi no dia-a-dia da pesquisa ou no tradicional amigo oculto de final de ano. À querida Aline Ponciano, sempre tão prestativa e disponível nos momentos de dúvidas – fossem elas de cunho científico ou existencial. À amiga e colega de faculdade Thaís Seabra e ao amigo Paulo Nascimento, o Pirula (“um sujeito chamado Pirula!”), com quem compartilhei tantos dramas de pósgraduando; aos amigos e companheiros de mestrado Camila Duarte, Carolina Medeiros e Thiago Laurentino; ao meu “migs” Guilherme Gonçalves, às amigas de infância Amanda Freitas e Natália Fontam; ao querido Erick Castillo, por todo o companheirismo; ao Gustavo Betoni, pela leitura; e à amiga de longe (mas sempre perto do coração) Juliane Venturelli, principalmente pela atenciosa revisão do texto e sugestões. À Liliane Machado, minha professora, “tutora” e maior responsável pelo meu ingresso na Faculdade de Letras. Aos amigos e colegas do Google, por todo o aprendizado (e diversão!) que me proporcionaram durante os seis meses em que trabalhamos no projeto Speech Data Ops: Andréia Rauber, Carolina Souza, Felipe Iszlaji, Larissa Rinaldi, Melanie Angelo e Vinícius Castro. À minha família – em especial, a meus pais, Marta e Roberto, e a meu irmão, Rodrigo, que sempre incentivaram em meus planos e projetos de vida.

A todos que me auxiliaram, no âmbito acadêmico, prático, técnico, burocrático, financeiro ou emocional, deixo aqui meu mais sincero afeto e minha profunda gratidão.

Sinopse

Análise acústica e perceptiva de interrogativas totais na variedade carioca do português brasileiro a partir do Método de Análise Melódica da Fala (MAS). Comparação

entre

espontânea e leitura.

as

modalidades

de

fala

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................

15

1. APRESENTAÇÃO DO TEMA ......................................................................

18

1.1. Os estudos em prosódia e suas aplicações ..................................................

18

1.1.1. Conceitos de prosódia e entoação ...................................................

18

1.1.2. A aplicabilidade dos estudos em prosódia ......................................

20

1.2. Estudos sobre o tema ....................................................................................

22

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA .............................

38

2.1. Pressupostos teóricos .................................................................................

38

2.2. O corpus ....................................................................................................

40

2.2.1. Seleção dos informantes ..................................................................

42

2.2.2. Gravação de fala espontânea ...........................................................

43

2.2.3. Gravação de leitura ..........................................................................

44

2.2.4. Seleção dos enunciados ...................................................................

45

2.3. Metodologia de análise ...............................................................................

46

2.3.1. Fase acústica ....................................................................................

47

2.3.1.1. Classificação dos enunciados de acordo com a inflexão final.

51

i. Inflexão final ascendente-descendente .........................................

52

ii. Inflexão final ascendente .............................................................

53

iii. Inflexão final de núcleo elevado (high nucleous) .......................

53

iv. Inflexão final descendente ..........................................................

54

2.3.2. Fase perceptiva ..........................................................................

55

3. ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................

60

3.1. Análise acústica ...........................................................................................

60

3.1.1. Resultados referentes à fala espontânea ..........................................

70

3.1.2. Resultados referentes à leitura .........................................................

73

3.2. Testes de percepção ....................................................................................

76

4. DISCUSSÃO ....................................................................................................

81

4.1. O predomínio da IF circunflexa e a maior nitidez de padrões na leitura .....

81

4.2. A influência da expressão de atitudes ..........................................................

87

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................

90

REFERÊNCIAS ..................................................................................................

93

RESUMO .............................................................................................................

99

ABSTRACT .........................................................................................................

100

Anexo 1: Ficha do informante ..............................................................................

101

Anexo 2: Transcrição das gravações dos jogos na íntegra ....................................

102

i. Informante T.S. (sexo feminino) ............................................................

102

ii. Informante T.M. (sexo feminino) .........................................................

107

iii. Informante I.O. (sexo feminino) ..........................................................

110

iv. Informante P.B. (sexo feminino) ..........................................................

114

v. Informante R.M. (sexo masculino) .......................................................

122

vi. Informante C.F. (sexo masculino) ........................................................

127

vii. Informante G.G (sexo masculino) .......................................................

130

viii. Informante T.A. (sexo masculino) .....................................................

135

Anexo 3: Formulário do teste de percepção ..........................................................

139

LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS

FIGURAS Figura 1: Padrão de final ascendente – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES, 2006. p. 2) .............................................................................................................

24

Figura 2: Padrão de subida interna – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta confirmativa (MORAES, 2006. p. 2) .........................................................................................

24

Figura 3: Padrão de subida tardia – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado com atitude de descrédito (MORAES, 2006. p. 2) .............................................................................................................

25

Figura 4: Padrão de dupla subida – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES, 2006. p. 2) .............................................................................................................

26

Figura 5: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................

27

Figura 6: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................

28

Figura 7: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta incrédula (MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................

29

Figura 8: Mapa de macrorregiões dos falares brasileiros por Silva (2011) ..........

34

Figura 9: Frase “A pessoa que tá internada vai sair hoje?” dita por informante jovem do sexo masculino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102) ........... 35 Figura 10: Frase “A minha alta vai ser hoje?” dita por informante jovem do sexo feminino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102) ............................. 36 Figura 11: Forma de onda do enunciado “Você é de, sei lá, de uma história inventada?”, excluído da análise devido à hesitação (FE) .................................... Figura 12: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 100 a

45

200 Hz) .................................................................................................................. 49 Figura 13: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 100 a 200 Hz) ......................................................................................................................... 50 Figura 14: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz) .................................................................................................................. 50 Figura 15: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz) ......................................................................................................................... 50 Figura 16: Diagrama das três partes do contorno melódico segundo o MAS ....... 51 Figura 17: Modelo de inflexão final ascendente-descendente ..............................

52

Figura 18: Modelo de inflexão final ascendente ...................................................

53

Figura 19: Modelo de inflexão final de núcleo elevado (high nucleous) .............. 54 Figura 20: Modelo de inflexão final descendente .................................................

54

Figura 21a: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e curva de pitch .................................................... 56 Figura 21b: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch para manipulação acústica ................................

56

Figura 22a: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e curva de pitch ........................................................................................................

57

Figura 22b: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch selecionados no centro de cada sílaba ................................................................... 57 Figura 23: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme?” (FE) ...........................................................................

85

Figura 24: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme?” (LE) ...........................................................................

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GRÁFICOS Gráfico 1: Curva estandardizada do enunciado “Ele é o protagonista” (LE) .......

48

Gráfico 2: Classificação dos dados de fala espontânea e leitura ........................... 68 Gráfico 3: Enunciado “Ele envelhece no filme?” (FE) ......................................... 69 Gráfico 4: Enunciado “As mulheres acham ele bonito?” (LE) .............................

69

Gráfico 5: Enunciado “Tem direito a dica?” (FE) – IF ascendente-descendente .

71

Gráfico 6: Enunciado “É de uma novela?” (FE) – IF ascendente ......................... 71 Gráfico 7: Enunciado “É famoso?” (FE) – IF de núcleo elevado .........................

72

Gráfico 8: Enunciado “Idade Moderna?” (FE) – IF descendente .........................

72

Gráfico 9: Enunciado “Você é de desenho animado?” (LE) – IF ascendentedescendente ...........................................................................................................

74

Gráfico 10: Enunciado “Ele é um mágico?” (LE) – IF ascendente ......................

74

Gráfico 11: “Ele tem vida eterna?” (LE) – IF de núcleo elevado …..................

75

Gráfico 12: Enunciado “Uma personagem real?” (LE) – IF descendente ............

75

Gráfico 13: Enunciado “Ele usa terno?” (FE) ....................................................... 83 Gráfico 14: Enunciado “Ele usa terno?” (LE) ......................................................

84

Gráfico 15: Enunciado “Do nosso país?” (FE) .....................................................

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TABELAS Tabela 1: Padrões entoacionais das interrogativas do português do estado de São Paulo (adaptado de Mendes, 2013, p. 96) ......................................................

31

Tabela 2: Relação dos enunciados analisados ....................................................... 61 Tabela 3: Resultado da análise acústica – classificação dos enunciados de FE e LE de acordo com a inflexão final ........................................................................

67

Tabela 4: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente ..... 77 Tabela 5: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendentedescendente e de núcleo elevado ..........................................................................

78

Tabela 6: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF descendente ... 79 Tabela 7: Relação de enunciados utilizados como grupo controle .......................

80

Tabela 8: Média de subida da F0 na vogal tônica final por modalidade de fala e sexo do informante ................................................................................................ 86

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ASR – Automatic Speech Recognition (Reconhecimento Automático de Fala) dB – decibéis F0 – frequência fundamental FE – fala espontânea IPO – Institute for Perception Research (Instituto de Pesquisa em Percepção) Hz – Hertz IF – inflexão final L2 – língua estrangeira LE – leitura MAS – Melodic Analysis of Speech Method (Método de Análise Melódica da Fala) ms – milissegundos PB – português do Brasil / português brasileiro TTS – Text-to-Speech (Síntese de Fala) s – segundos

INTRODUÇÃO

As chamadas interrogativas totais ou questões totais são aquelas que, em termos de estrutura sintática, se assemelham às declarativas, diferenciando-se delas apenas através da prosódia, e podendo ser respondidas com um “sim” ou um “não”. Outros autores referem-se a esse tipo de sentença como interrogativas absolutas (FONTROTCHÉS & MATEO-RUIZ, 2011), interrogativas globais (MATA, 1992) ou perguntas sim/não (REINECKE, 2007). Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise acústica e perceptiva da entoação das interrogativas totais na fala carioca, confrontando dados de leitura (LE) com dados de fala espontânea (FE). Tenciona-se estabelecer padrões fonológicos para as interrogativas totais na fala carioca, observando as diferenças (no nível fonético ou fonológico) entre os estilos de fala aqui referidos como FE e LE, e traçar comparações com outros trabalhos realizados sobre a prosódia no português e em outras línguas românicas, colaborando assim para a descrição de uma gramática entoacional do português brasileiro. O principal aspecto que diferencia o presente trabalho de outros já realizados sobre a prosódia das interrogativas no português brasileiro, e, mais especificamente, na variedade do Rio de Janeiro, é a comparação sistemática entre esses dois estilos de fala (FE e LE) e o emprego de um método diferenciado (MAS, explicitado mais adiante). Para a pesquisa, foi utilizado um corpus elaborado com a finalidade específica de obter interrogativas espontâneas e lidas que contivessem exatamente o mesmo conteúdo estrutural, podendo assim ser comparadas.

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Nesse ponto, é importante fazer uma consideração sobre o uso do termo “fala espontânea” neste trabalho. Chamamos aqui de fala espontânea uma amostra, composta especificamente para esta pesquisa, em que os informantes são induzidos, indiretamente, a produzir determinado tipo de enunciado (interrogativas). É possível questionar o grau de espontaneidade desse corpus, que poderia também ser definido como de fala semiespontânea – por não ser tão espontâneo quanto, por exemplo, uma conversação livre. No entanto, entende-se que o grau de espontaneidade / monitoramento da fala não é uma categoria dicotômica, e sim um continuum, havendo, nas diversas situações de fala, inumeráveis gradações nesse aspecto. Sabe-se, por exemplo, que nem mesmo na entrevista sociolinguística típica a espontaneidade da fala é total, como salienta Labov (1972) ao tratar do paradoxo do observador. Tendo em mente esse continuum e levando em conta outros trabalhos que estudaram a entoação em dados de fala semiespontânea, como o de Silva (2011), optou-se, por comparação, por chamar de espontânea a fala dos participantes do jogo de adivinhação. A dissertação está organizada da seguinte maneira: no primeiro capítulo, faz-se uma breve apresentação do tema: na seção 1.1, são revistos os conceitos de prosódia e entoação (1.1.1) e discorre-se sobre as possibilidades de aplicação prática dos estudos na área de prosódia (1.1.2). Já na seção 1.2, é feita uma revisão dos trabalhos acerca da prosódia das interrogativas e da comparação entre FE e LE no português do Brasil utilizados como fonte de estudo para a realização desta pesquisa. No segundo capítulo, apresenta-se a fundamentação teórico-metodológica do trabalho. Incluem-se aqui os pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa (seção 2.1), a descrição detalhada do corpus (seção 2.2) e da metodologia empregada – O Método de Análise Melódica da Fala (seção 2.3). Esse método divide-se nas fases de

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análise acústica e perceptiva dos dados, cujos procedimentos são descritos nas subseções 2.3.1 e 2.3.2, respectivamente. Em seguida, no capítulo 3, apresentam-se os resultados das análises dos dados, tanto de FE quanto de LE: os resultados da etapa acústica da análise encontram-se na seção 3.1 e os resultados do teste de percepção estão na seção 3.2. No quarto capítulo, discutem-se os resultados da análise, comparando-se as duas modalidades estudadas. Ainda neste capítulo, na seção 4.2, são feitas considerações sobre a influência da expressão de atitudes motivadas por situações pragmáticodiscursivas muito específicas no contorno melódico dos enunciados analisados. Por fim, no capítulo 5, são apresentadas algumas considerações finais sobre a pesquisa e os resultados obtidos.

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1. APRESENTAÇÃO DO TEMA

1.1. Os estudos em prosódia e suas aplicações

1.1.1. Conceitos de prosódia e entoação

Em seu livro, em preparação, Introdução à Prosódia, Moraes esclarece que o termo “prosódia” surge na língua portuguesa em fins do século XVIII, com um sentido bastante amplo que engloba todos os meios fônicos usados para a acentuação na linguagem, bem como a representação gráfica dessas características na escrita. O termo adquiriu também uma acepção mais específica, referente à métrica do verso, ou seja, à musicalidade da linguagem poética (metrificada). Atualmente, nos estudos em linguística, a prosódia é a parte da fonética / fonologia que diz respeito aos aspectos suprassegmentais, isto é, os elementos da fala que não podem ser submetidos à segmentação em fones ou fonemas, representados na escrita pelos grafemas ou letras. O aspecto segmental da fala depende da diferenciação dos fonemas de uma língua entre si. Já a prosódia diz respeito a questões como melodia, ritmo, velocidade e volume, ou seja, à configuração “musical” que se dá à cadeia de fones. Embora os aspectos segmental e suprassegmental da linguagem possam ser estudados separadamente, estão intrinsecamente relacionados, sendo elementos constitutivos de todos os enunciados das línguas naturais. Tanto os aspectos segmentais quanto os suprassegmentais da fonética e fonologia de uma língua podem ser estudados através da observação precisa, por meio de ferramentas computacionais, das ondas sonoras. Em termos físicos, isto é, no que 18

concerne às ondas acústicas, são quatro os parâmetros que se podem analisar para estudar os sons da fala: a altura melódica, auferida através da frequência fundamental (F0) e cuja unidade de medida são os Hertz (Hz); a intensidade ou volume, que consiste na amplitude da onda e é medida em decibéis (dB); a duração, medida em unidades de tempo como segundos (s) ou milissegundos (ms); e o timbre, de verificação um pouco mais complexa, uma vez que se refere à qualidade ou textura de cada som e depende da configuração das várias frequências simples que formam uma onda complexa (por isso mesmo chamadas frequências formantes, ou simplesmente formantes). Este último parâmetro é mais utilizado na fonética para o estudo das vogais, que diferem entre si pelas frequências formantes. Já para o estudo dos fenômenos prosódicos, observam-se os parâmetros de altura, intensidade e duração. Se o termo “prosódia” engloba todos os aspectos não segmentáveis dos sons da fala, o termo “entoação” diz respeito, mais especificamente, às modulações da altura melódica ao longo dos enunciados. Desde o início do século XX, diversos estudiosos já teorizaram acerca das funções que a entoação desempenha na linguagem. Em seu Traité de phonetique, Grammont (1946) estipula três funções básicas para a entoação: a função idiossincrática, que diferencia línguas; a função expressiva, que expressa emoções do falante; e a função modal, que diferencia tipos de frases (afirmações de perguntas, por exemplo). Posteriormente, vários outros autores como Frantiseck Danes (1960), Hist & DiCristo (1998), Couper-Khulen (1986), Fónagy (1981, 1993), Ladd (1996) e Hirschberg (2002), estipularam funções para a prosódia, com maior ou menor grau de especificidade em suas categorizações, mas sempre abarcando uma face linguística (relacionada ao significado do enunciado propriamente dito) e uma face não linguística (relacionada a questões pragmático-situacionais e a características individuais do falante) da entoação. 19

Vale observar que nos ativemos, aqui, a uma conceituação de prosódia calcada nos correlatos acústicos. Dentro de uma perspectiva fonológica, autores como Selkirk (1984) e Nespor & Vogel (1986; 1994) estudam a prosódia do ponto de vista de seus domínios, isto é, da hierarquização da estrutura fonológica, caracterizando uma abordagem mais abstrata dos fenômenos prosódicos.

1.1.2. A aplicabilidade dos estudos em prosódia

Tendo em vista o papel fundamental desempenhado pela entoação na comunicação humana – seja determinando diretamente a modalidade da frase ou agregando nuances expressivas a ela –, é possível afirmar que, dentre os quatro parâmetros acústicos, a altura, mensurada através da frequência fundamental (F0), é aquele mais comumente observado nos estudos sobre a prosódia da fala. A grande importância da entoação na construção de sentido dos enunciados faz com que os estudos na área da prosódia tenham aplicabilidade prática em diferentes âmbitos. No ensino de língua estrangeira (L2), esse é um aspecto frequentemente negligenciado, embora o valor da contribuição desses estudos para o processo de ensino-aprendizagem de L2 já tenha sido estudado em várias línguas, como mostram, por exemplo, Gilbert (2008) e Miller (2002), no caso do inglês. Mendes (2013, p.14) assim justifica a necessidade de um olhar mais atento à entoação pelos professores de língua estrangeira:

“[...] ainda que o aluno de LE acredite que sua identidade como estrangeiro esteja expressa em sua fala e, por uma questão patriótica, não queira utilizar a mesma entonação que um nativo da língua, os problemas

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relacionados à entonação e/ou à pronunciação de determinada frase são reais e afetam as relações interpessoais na relação cotidiana da língua. Assim, mesmo que o aluno tenha um bom desempenho na gramática e saiba utilizar bem o léxico da língua-alvo, sem a entonação correta, seu interlocutor nativo pode não conseguir identificar sua real intenção comunicativa, o que irá gerar inúmeros mal-entendidos.”

Dentre os inúmeros trabalhos sobre prosódia que visam a melhorias no ensino de línguas, estão aqueles vinculados ao projeto Modelos de Entonação de Espanhol e Português para o Ensino de Língua, ao qual se relaciona o presente trabalho, na medida em que utiliza a mesma metodologia de pesquisa e colabora para uma descrição acústica do português do Brasil. Esse projeto foi desenvolvido em três países, Brasil, Espanha e Cuba, sob a coordenação geral do Professor Doutor Francisco José Cantero Serena, da Universidade de Barcelona, e tendo como coordenador íbero-americano e brasileiro o Professor Doutor Enrique Huelva Unternbäumen, da Universidade de Brasília. O caráter interseccional entre a linguística e a música que se faz notar na própria etimologia do termo “prosódia” faz com que os estudos nessa área tenham também aplicações no campo das artes – tanto como instrumento de interpretação da obra pelo ouvinte quanto como ferramenta de aprimoramento de performance, como mostra Mattos (2006) em estudo sobre a música popular brasileira. No que tange à prosódia da fala, a linguística conversa também com as ciências da saúde, na medida em que os estudos nessa área também são aplicados à reeducação de voz e terapia fonoaudiológica. Um bom panorama geral sobre o tema está em Levitt (1993), que estuda a aquisição de padrões prosódicos em crianças com transtorno de fala a partir da análise dos parâmetros de frequência, duração e intensidade. Além disso, é notável a aplicabilidade dos estudos sobre a entoação no desenvolvimento de novas tecnologias de fala, como os sistemas de síntese – Text-to21

Speech (TTS) – e os de reconhecimento automático de fala – Automatic Speech Recognition (ASR) –, revelando um ponto de diálogo entre a ciência linguística e as ciências da computação / engenharia de software. O desenvolvimento desse tipo de sistema envolve diferentes áreas da linguística, como a fonologia (inclusive no nível segmental), a sintaxe e a lexicologia; mas destaca-se o aspecto prosódico, uma vez que o reconhecimento e reprodução automáticos dos diferentes padrões prosódicos de uma língua ainda são um grande desafio. A literatura sobre o tema não se restringe às publicações oriundas da pesquisa acadêmica em linguística, mas também inclui diversos artigos resultantes do trabalho de desenvolvimento desse tipo de sistemas. Dentre outros autores importantes, pode-se citar Hirschberg, que já estudou a automatização de realização de fronteiras prosódicas em sistemas de TTS (HIRSCHBERG, 1991; HIRSCHBERG & PIETRO, 1994); e mais recentemente a percepção e produção de emoções humanas aplicadas às tecnologias de fala (HIRSCHBERG, 2002; 2003). Vale mencionar também os trabalhos de Stergar & Erdem (2010) que apresentam uma proposta de adaptação e aplicação de padrões prosódicos das línguas naturais para TTS; e Ostendorf et al (2003), que sugerem a aplicação de modelos prosódicos nos sistemas de ASR no sentido de tentar aumentar sua acurácia com inputs de fala espontânea.

1.2. Estudos sobre o tema

A literatura sobre a prosódia do português brasileiro vem crescendo bastante desde a década de 70, já contando com um volume considerável de pesquisas sobre diversas variedades e sob diferentes escopos teóricos. Essa diversidade de abordagens, notações e terminologias é justamente o que Tenani (2002) ressalta como sendo uma

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“dificuldade em se constituir urna descrição do que possa ser denominado de 'gramática entoacional' do PB” (p. 14). Há um conjunto de trabalhos ligado à tradição britânica de modelos entoacionais preconizada por Halliday (1970), dentre os quais pode-se mencionar, principalmente, os de Geabra (1976), Cagliari (1981) e Rizzo (1981). Já os trabalhos de Moraes (1982; 1984; 2006; 2008) e seus orientandos, como Cunha (2000), representam outro conjunto importante de análises, que se relacionam com a escola francesa de análise entoacional proposta por Fónagy (1981; 1993). Mais recentemente, trabalhos que utilizam o modelo de hierarquia prosódica de Nespor & Vogel (1986; 1993), relacionados à percepção de fronteiras prosódicas e a interface sintaxe-prosódia vêm sido desenvolvidos, como os de Freitas (1995), Frota & Vigário (1999; 2000), Frota (2011), Tenani (2002), Fernandes (2007) e Serra (2009). Diversos trabalhos já foram realizados acerca da prosódia das interrogativas no português brasileiro, com enfoques teóricos e tipos de corpus diferentes. Cagliari (1981), ao analisar os contornos entoacionais do português brasileiro, classifica-os como simples (descendente, ascendente, nivelado) ou complexos, isto é, quando combinam mais de uma característica dos contornos simples. O autor estabelece o padrão ascendente como típico das interrogativas totais, caracterizadas por um ataque e corpo em nível médio e um ascenso final. Há ainda um padrão para a interrogativa com expressão de surpresa, que conta com uma subida antes da última sílaba tônica, mas, ainda assim, conserva a inflexão final ascendente. O trabalho de Moraes (2006), cujo corpus consiste em enunciados isolados gravados em laboratório, é uma importante referência na área, e revela quatro padrões diferentes para as questões totais no PB, a saber:

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(i) padrão de final ascendente, tipicamente associado com interrogativas totais neutras, isto é, perguntas para as quais o falante não tem uma resposta esperada. Esse padrão caracteriza-se por um onset de nível médio sobre a última sílaba tônica (Figura 1).

Figura 1: Padrão de final ascendente – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES, 2006. p. 2)

(ii) padrão de subida interna, associado a perguntas confirmativas, isto é, para as quais se espera uma resposta positiva do falante (concordando com o conteúdo proposicional da sentença). Esse padrão caracteriza-se por uma subida em um nível melódico alto na primeira sílaba tônica, com uma subida contínua ao longo do enunciado, incluindo a sílaba pré-tônica final, com queda na sílaba tônica final (Figura 2).

Figura 2: Padrão de subida interna – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta confirmativa (MORAES, 2006. p. 2)

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(iii) padrão de subida tardia, associado à atitude de descrédito ou dúvida em relação ao que foi dito pelo interlocutor, e, portanto, sugerindo discordância com conteúdo proposicional da sentença. O que distingue esse padrão é o fato de que a subida melódica na última sílaba tônica só se inicia no seu segundo terço, criando uma subida de formato ligeiramente côncavo (Figura 3). Embora o autor categorize os padrões (i) e (iii) separadamente, devido à expressão de atitude, é possível questionar se a diferença entre essas duas melodias está no nível fonético ou fonológico, uma vez que os padrões são bastante parecidos.

Figura 3: Padrão de subida tardia – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado com atitude de descrédito (MORAES, 2006. p. 2)

(iv) padrão de dupla subida, que ocorre em diversas situações discursivas, dentre as quais estão pedidos e perguntas que carregam uma intenção retórica com uma resposta esperada no sentido oposto do conteúdo proposicional da sentença. Esse padrão é caracterizado por uma subida na primeira sílaba tônica e uma segunda subida, mais fraca, antes da última sílaba tônica, onde se inicia o descenso final (Figura 4).

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Figura 4: Padrão de dupla subida – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES, 2006. p. 2)

No tocante à metodologia de pesquisa, é importante mencionar que Moraes (2006; 2008) utiliza também o recurso da ressíntese para fazer uma descrição fonética e análise fonológica de alguns contornos melódicos relacionados a expressões de atitude no português do Brasil (PB). A partir dos resultados obtidos na análise dos dados, sentenças

originalmente

pronunciadas

como

declarativas

são

manipuladas

acusticamente a fim de se encaixarem nos padrões estabelecidos para os diferentes tipos de perguntas, e posteriormente submetidas a testes de percepção no intuito de confirmar a validade dos resultados. O autor mostra que o contorno prosódico do enunciado varia significativamente de acordo com a intenção comunicativa do falante, ou seja, a expressão de atitudes e a polaridade da pergunta, isto é, a expectativa por uma resposta positiva ou negativa. Em trabalho posterior (MORAES, 2008), em que analisa uma grande variedade de contornos melódicos do PB, o autor enquadra todos os tipos de perguntas sim/não estudadas (neutra, retórica e incrédula) em um mesmo grupo geral, o de contornos ascendentes, e distinguindo-as a partir da sua configuração interna, como detalhado a seguir:

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(i) pergunta sim/não neutra: caracterizada por uma subida melódica na primeira sílaba tônica, situada em nível médio, ligeiramente mais alto do que o observado em afirmativas. Essa subida costuma atingir a sílaba pós-tônica e é seguida por uma queda contínua até a sílaba pré-tônica final, situada em nível baixo, e por uma subida na sílaba tônica final, caindo novamente nas eventuais sílabas pós-tônicas (Figura 5).

Figura 5: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES, 2008, p. 5)

Os testes perceptivos revelaram que, fonologicamente, o acento nuclear é que determina o contraste entre este tipo de sentença e as assertivas, de forma que a tendência a um nível mais alto no acento pré-nuclear das perguntas é considerada uma variação do contorno padrão. Por outro lado, o que diferencia este tipo de contorno do das perguntas retóricas ou pedidos, como será visto seguir, é a subida melódica entre a sílaba prétônica e a tônica finais, alinhada tardiamente, à margem direita da vogal tônica.

(ii) pergunta sim/não retórica: foneticamente, tem comportamento similar ao dos pedidos, apresentando a sílaba pré-tônica em nível baixo, subida na sílaba tônica final e queda na(s) sílaba(s) pós-tônicas. O que diferencia esse contorno daquele das perguntas

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totais neutras é que o pico de F0 na última sílaba tônica está localizado no começo da vogal, e não no final, o que faz com que sua configuração intrassilábica seja descendente, em vez de ascendente. Além disso, outros dois pontos distinguem os padrões de pergunta neutra e retórica: a subida final atinge um nível mais alto na pergunta neutra, e a primeira sílaba tônica está em nível muito mais alto na pergunta retórica ou pedido, revelando similaridade com as perguntas parciais (Qu-) (Figura 6).

Figura 6: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES, 2008, p. 5)

Os testes de percepção mostraram que a forma descendente da última sílaba tônica é que distingue este padrão daquele das perguntas neutras. O alinhamento do pico de F0 é, portanto, relevante para a caracterização desse padrão melódico, bem como o acento pré-nuclear em nível alto, similar ao das perguntas Qu-.

(iii) pergunta sim/não incrédula: distingue-se da pergunta neutra por quatro aspectos: (a) a sílaba pré-tônica final em nível mais alto, (b) uma subida tardia na sílaba tônica final, que começa na segunda metade da vogal, (c) um nível mais baixo no final da última sílaba tônica e (d) um maior prolongamento dessa sílaba. Em ambos os padrões, o pico de F0 na sílaba tônica final está alinhado à margem direita da vogal tônica (Figura 7).

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Figura 7: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta incrédula (MORAES, 2008, p. 5)

Os testes de percepção revelaram que nem o prolongamento nem o nível melódico mais baixo na vogal tônica são relevantes para a identificação fonológica deste padrão. O que de fato o diferencia dos outros padrões é a presença de um vale na primeira metade da vogal tônica final, e secundariamente pela vogal pré-tônica final em nível alto. Ainda no que concerne a trabalhos sobre a entoação das interrogativas totais, é importante mencionar aqueles que utilizam o mesmo método aqui empregado. Os autores Cantero & Font-Rotchés, desenvolvedores do Método de Análise Melódica da Fala (MAS, cf. seção 2.3), bem como outros professores e estudantes ligados ao mesmo grupo de pesquisa, têm publicados trabalhos acerca dos padrões prosódicos de diversos tipos de sentenças em diferentes línguas; visando, principalmente, à aplicação dos estudos no aprimoramento do ensino de línguas estrangeiras. No catalão, Font-Rotchés (2008) utiliza corpus extraído de programas de debate na televisão, e estabelece três padrões diferentes para as interrogativas absolutas. No espanhol, Font-Rotchés & Mateo-Ruiz (2011) utilizam a mesma metodologia, e fazem uma análise detalhada das interrogativas totais (absolutas), estabelecendo cinco diferentes padrões para esse tipo de pergunta. 29

Em trabalho recente, Cantero & Font-Rotchés (2013) descrevem, de um ponto de vista fonético, três padrões de interrogativas totais (absolutas) obtidas de um corpus do estado de Goiás. Os padrões observados foram os de inflexão final (IF) ascendente, IF ascendente-descendente e IF de núcleo elevado (high nucleous final inflection) – todos encontrados também nos dados desta pesquisa, e descritos mais detalhadamente na subseção 2.3.1.1. No trabalho sobre as interrogativas no estado de Goiás, foi realizada a análise e estandardização de 55 enunciados, além da verificação da validade dos resultados com um teste de percepção. De todos os 55 enunciados analisadas, 45 se enquadraram nos padrões acima relacionados. Os outros dez dados fazem parte do grupo de sentenças que, na segunda fase da pesquisa, não foram reconhecidas pelos juízes como interrogativas quando ouvidas de forma descontextualizada. Assim, foram contabilizadas na análise dos três tipos de contorno apenas 45 enunciados. Dentre estas, 37,8% apresentaram o contorno de IF ascendente, 33,3% o de IF ascendente-descendente e 28,9% o de IF de núcleo elevado. Mendes (2013), pertencente ao mesmo grupo de pesquisa de Cantero & FontRotchés, estudou as interrogativas no estado de São Paulo a partir de um corpus de fala espontânea retirado de programas de televisão do tipo reality show, como o Big Brother Brasil. A autora encontrou cinco padrões diferentes para os 140 enunciados analisados, sendo três deles classificados como padrões /+ interrogativos/ e dois como /interrogativos/, isto é, perguntas relativas, que necessitam de outros elementos da língua para serem reconhecidas como interrogativas. Os padrões /+ interrogativos/ são os de IF ascendente, IF com núcleo elevado (podendo ser de corpo plano ou corpo ascendente) e IF ascendente-descendente. Os padrões /- interrogativos/ são os de IF ascendente e IF plana. A autora sintetiza os padrões encontrados para a variedade paulista no quadro a 30

seguir (Tabela 1), e ressalta que “seis enunciados analisados (4,3%) não comportavam características de nenhum dos padrões apresentados nesse trabalho, porém, sua análise tampouco incorreu em um novo padrão” (p. 97).

Padrões

Representação

Enunciados

%

35

25%

28

20%

5

3,6%

15

10,7%

20

14,3%

(1) IF ascendente (+20% ~ +30%)

(2a) IF com núcleo elevado e corpo plano /+I/ (2b) IF com núcleo elevado e corpo ascendente

(3) IF ascendentedescendente

(4) IF /-I/

descendente (-20% ~ 40%)

31

(5) IF plana (-15% ~

31

22,1%

+15%)

Tabela 1: Padrões entoacionais das interrogativas do português do estado de São Paulo (adaptado de Mendes, 2013, p. 96)

No escopo da geolinguística, há trabalhos que trazem importantes contribuições para o estudo da entoação das interrogativas no PB. São importantes referências os trabalhos de Cunha (2000, 2006), utilizando o corpus de fala espontânea do projeto Norma Urbana Culta (NURC) e um corpus de leitura complementar; e, posteriormente, utilizando o corpus de fala semiespontânea do projeto Atlas Linguístico Brasileiro (ALiB), coletado a partir de um questionário realizado em diversas cidades brasileiras. A autora faz uma descrição geral dos diferentes padrões frasais do PB, incluindo todos os tipos de sentença, e, assim como no presente trabalho, realiza uma comparação entre fala espontânea e leitura. A autora encontra diferenças significativas nos movimentos tonais que ocorrem no interior dos enunciados nas diferentes regiões do Brasil, estabelecendo uma clara oposição entre as capitais do nordeste e as do sul. Além disso, mostraram-se interessantes as diferenças observadas entre fala espontânea e leitura, em especial no Rio de Janeiro: nessa cidade, a análise dos dados de FE teve resultados similares àqueles obtidos para São Paulo, enquanto os dados de LE aproximaram-se mais da fala das capitais nordestinas. A tese de Lira (2009) também é uma importante referência no que diz respeito à entoação regional do PB, e, em especial, das interrogativas. A autora faz uso de outro corpus de fala semiespontânea, o do Projeto Internacional AMPER, e descreve o

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comportamento da frequência fundamental em enunciados assertivos, questões parciais, disjuntivas e totais em cinco localidades do nordeste brasileiro. Com relação às questões totais nas cinco localidades estudadas (Recife, Fortaleza, Salvador, João Pessoa e São Luís), a autora encontra algumas diferenças nos movimentos tonais da segunda parte do enunciado (a partir do acento nuclear até o final do enunciado). Essas diferenças, no entanto, não podem ser muito claramente atribuídas à variação regional, já que as diferentes variações do padrão interrogativo total se alternam em uma mesma cidade. As duas possibilidades de realização do contorno melódico final encontradas são (i) sílaba tônica final alta seguida de postônica baixa e (ii) sílaba tônica baixa seguida de postônica alta., sendo este último desdobrado em duas subvariações, que se apresentam em proporções diferentes nas cidades estudadas: o início da subida final pode estar na tônica (alinhado mais à esquerda) ou na postônica (alinhado mais à direita). Tendo em vista o objeto de estudo desta pesquisa, dentre os trabalhos realizados sobre a prosódia na perspectiva da variação regional, destaca-se o de Silva (2011), que integra o projeto ALiB e descreve, a partir do corpus do referido projeto, a entoação das interrogativas totais em 25 capitais brasileiras. A autora estabelece padrões específicos para cada uma das capitais estudadas e traça uma linha imaginária que divide o mapa do Brasil em duas grandes macrorregiões dialetais no que concerne à entoação das interrogativas totais. Essa divisão corresponde em parte àquela estabelecida por Antenor Nascentes no início do século XX, e consiste em dois grandes grupos de falares: a região que engloba o norte e nordeste do país, caracterizada por um contorno de acento nuclear ascendente, e a região que engloba o centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, de acento nuclear descendente e padrão circunflexo (cf. Figura 8).

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■ Regiões norte e nordeste:

■ Regiões centro-oeste, sudeste e sul:

Acento nuclear ascendente

Acento nuclear descendente

Padrão ascendente

Padrão circunflexo

L+H* ___L+!H*H

L+!H*___L+H*L

Figura 8: Mapa de macrorregiões dos falares brasileiros por Silva (2011, p. 126)

No que se refere especificamente à fala do Rio de Janeiro, a autora encontrou a seguinte configuração para as questões totais: pico inicial na primeira sílaba tônica seguido de uma descida ao longo do enunciado e uma inflexão final circunflexa. Essa IF é subdividida pela autora em dois tipos, podendo contar com um pico melódico antecipado seguido de uma descida ou com um movimento de subida seguido de pico melódico atrasado. Em ambos os casos, o que caracteriza o segundo pico (aquele 34

referente ao acento nuclear) é que este alcança valores de F0 mais altos do que os do primeiro pico. Os dois tipos de contornos encontrados para o dialeto carioca estão ilustrados nas figuras 9 e 10, a seguir, que representam a curva melódica das sentenças “A pessoa que tá internada vai sair hoje?” e “A minha alta vai ser hoje?”. Ambos os enunciados possuem o pico inicial na primeira sílaba tônica e o pico da última sílaba tônica mais proeminente que o primeiro. A diferença é que, na primeira frase, há um movimento de subida com o pico melódico à direita dessa sílaba (pico atrasado), e na segunda o pico ocorre no início da tônica, seguido por um movimento de descida.

Figura 9: Frase “A pessoa que tá internada vai sair hoje?” dita por informante jovem do sexo masculino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102)

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Figura 10: Frase “A minha alta vai ser hoje?” dita por informante jovem do sexo feminino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102)

Podem-se citar ainda outros trabalhos que contribuem para uma visão geral sobre o tema da prosódia das interrogativas. No português europeu, Mata (1992) descreve três tipos de contornos (descendente, ascendente e estacionário), registrados em proporções diferentes entre as interrogativas – estas se dividem em perguntas globais, parciais, alternativas e confirmativas. O trabalho, que se dá no escopo da Fonologia Prosódica, demonstra que há uma significativa variedade de contornos entre as interrogativas. Há ainda trabalhos que tratam da prosódia (inclusive das interrogativas) do ponto de vista da aprendizagem e transferência linguística em língua estrangeira (Pinto, 2009) e do contato entre línguas (Santos, 2008). No que se refere especificamente às interrogativas na fala espontânea do Rio de Janeiro, encontramos apenas o trabalho resultante de pesquisa de iniciação científica de Souza (1995), que utiliza o corpus do projeto NURC para analisar três tipos de perguntas (totais, disjuntivas e parciais). Quanto às perguntas totais, os resultados 36

obtidos apontam diferenças em relação àquelas produzidas em contexto de leitura, analisadas por Moraes (1984). O trabalho de Souza mostra que, no contexto de FE, as interrogativas não seguem um padrão melódico tão regular quanto as produzidas em contexto de LE, e dá margem a uma investigação mais aprofundada acerca de quais seriam os fatores determinantes dessas diferenças.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

2.1. Pressupostos teóricos

A partir de enfoques teóricos como o da escola holandesa – a teoria conhecida como IPO (sigla para Institute for Perception Research), apresentada em t’Hart, Collier & Cohen (1990) –, desenvolveu-se toda uma linha de análise da entoação a partir de uma perspectiva instrumental e perceptiva que visa à objetividade da descrição. De acordo com a IPO, os contornos melódicos são idealizados como sequências de movimentos de pitch e conexões entre segmentos pontuais na linha melódica. O modelo assume que alguns movimentos de pitch são interpretados como relevantes pelo ouvinte, e que tais movimentos são gerados por comandos discretos que o cérebro do falante envia às cordas vocais e que, portanto, devem ser recuperáveis pelo ouvinte a partir de eventos discretos no contorno melódico. Assim, de acordo com a teoria, a variação que ocorre na linha melódica ao longo de um enunciado consiste basicamente na diferença entre tons relativamente baixos e tons relativamente altos. Essa noção de distinção básica entre tons altos e baixos é que sustenta o sistema binário de análise de tons melódicos defendido por Pierrehumbert (1980) na Teoria Autossegmental. O arcabouço teórico em que se constrói a IPO inspira um método cujos pormenores procedimentais podem variar, mas que consiste essencialmente em aferir a F0 do sinal acústico e reduzir a curva tonal resultante aos movimentos essenciais, aqueles que dão origem a uma curva estilizada, que deve passar por testes de percepção para que seja validada como um padrão fonológico de entoação.

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O presente trabalho toma por base Método de Análise Melódica da Fala (MAS), cujos procedimentos se enquadram nessa descrição geral, e serão abordados de forma mais detalhada na seção 2.3. Essa metodologia de trabalho constitui-se a partir de alguns pressupostos teóricos básicos que se aproximam da Teoria Autossegmental e Métrica formalizada por Ladd (1996), na medida em que enxergam os sons da fala como uma cadeia hierarquicamente organizada. O elemento central dessa hierarquia, núcleo da fonação e do discurso, sempre é uma vogal, o único som cuja F0 é controlada conscientemente pelo falante e ao redor do qual se organizam os demais sons da fala (consoantes e glides). A vogal (tônica ou átona) é o núcleo da sílaba, a vogal tônica é o núcleo da palavra e a vogal tônica em que se identifica a inflexão final é o núcleo do enunciado, tendo papel definitivo na caracterização dos padrões melódicos. A pressuposição dessas ideias acerca da hierarquia fônica fica clara na metodologia empregada para análise dos dados no MAS, que se utiliza do conceito de segmento tonal. Segmento tonal é cada valor de F0 considerado relevante para a melodia. Uma vez que o som mais importante do discurso é sempre a vogal, núcleo de cada unidade fônica (sílaba, grupo rítmico, grupo fônico), é evidente que o valor de F0 da vogal será mais relevante que o de qualquer outro som, como um glide ou consoante sonora. Isso é ainda mais evidente no caso das vogais tônicas, que conservam sua identidade tímbrica, enquanto as átonas são muitas vezes neutralizadas. Assim, na análise melódica de um enunciado segundo o MAS, o que interessa são os valores vocálicos, exclusivamente, cada um dos quais constitui um segmento tonal da melodia. Somente em casos em que a duração da vogal é significativamente maior, permitindo a percepção de um movimento de subida ou descida melódica que também deve ser significativo, é que se considera que a vogal constitui não um, mas dois segmentos tonais. 39

Outro pressuposto teórico que alicerça o método é a distinção fundamental entre F0, melodia e entoação: a F0 é o parâmetro físico em que se baseia a percepção do tom, e por tanto informa os variados fenômenos linguísticos como o acento e a entoação. A sucessão de valores de F0 em um enunciado ou discurso constitui uma melodia na qual devem estar incluídos os traços tonais que formam tanto o acento quanto a entoação. A melodia, desse modo, não equivale diretamente à entoação: esta última é um fenômeno linguístico, enquanto a primeira é um fenômeno físico – uma relação paralela àquela existente entre fonema e fone: um é uma unidade abstrata e funcional, enquanto o outro é uma unidade física. Assim, pode-se afirmar que a entoação é a interpretação linguística na melodia. Em outras palavras, a análise da melodia é uma análise fonética, enquanto a análise da entoação é uma análise fonológica. Embora a diferença entre fonética e fonologia não resida na dicotomia da produção (e realização física da fala) e percepção; no método, essa diferenciação acaba coincidindo com as duas etapas de trabalho: a primeira, de análise acústica (física) dos enunciados e a segunda, de análise da percepção dos ouvintes quanto aos enunciados estudados, que determina a relevância fonológica das diferenças entre os contornos melódicos.

2.2. O corpus

As pesquisas na área da prosódia costumam enfrentar algumas dificuldades no que concerne à coleta de dados, em especial quando se deseja analisar a fala espontânea. Para que a análise acústica, feita através de software especializado, seja satisfatória, a qualidade das gravações deve atender a um padrão técnico relativamente alto. Infelizmente, a maior parte das gravações dos grandes corpora de fala disponíveis, como as do projeto Norma Urbana Culta (NURC), apresenta ruídos e sobreposição de 40

falas que comprometeriam a análise, e, portanto, não pode ser aproveitada para esse tipo de estudo. Levando-se em conta o objetivo desta pesquisa específica, há outro problema que impede o uso dos corpora de fala gerais: em geral, estes são compostos por entrevistas entre informante e documentador, e dificilmente ocorrem interrogativas, e ainda menos frequentemente interrogativas totais. Além disso, o objetivo de se comparar fala espontânea (FE) com leitura (LE) exige que se disponha de duas amostras similares – ou seja, cujos dados sejam estruturalmente idênticos – mas que difiram quanto à modalidade de fala (FE e LE). Em virtude dessas particularidades, fez-se necessária a coleta de uma nova amostra. Para a obtenção das interrogativas na modalidade de fala espontânea, é preciso que os informantes estejam inseridos em uma situação comunicativa particular que favoreça o aparecimento de perguntas. Elaborou-se, para tanto, um jogo de adivinhação em que os participantes interagem fazendo perguntas um ao outro, como explicaremos com mais detalhes adiante. A ideia é inspirada na estratégia adotada por Pinto (2009), de sugerir aos informantes um “jogo da verdade”. O método chamou atenção por se tratar de uma situação lúdica, que propicia uma fala mais descontraída e menos monitorada por parte dos informantes e ao mesmo tempo os impele a produzir o tipo de enunciado desejado para a análise. A proposta de um jogo permitiu a obtenção dos dados de fala espontânea. Para a obtenção dos dados de leitura, adotou-se uma estratégia similar à de Serra (2009) em estudo sobre o fraseamento prosódico na fala espontânea e na leitura do PB. A pesquisadora preocupou-se em construir um corpus de LE com base no corpus de FE, solicitando aos mesmos informantes que fizessem a leitura daqueles dados que produziram espontaneamente. Assim, as amostras são comparáveis entre si, isto é, 41

elimina-se a possibilidade de outros fatores que não a modalidade (FE / LE) influenciassem na prosódia das sentenças. Foi construído, portanto, um corpus específico, constituído de um total de 256 enunciados. A amostra conta com dados de FE e LE com conteúdo estrutural idêntico e informados pelos mesmos indivíduos: são, portanto, 128 interrogativas espontâneas e 128 enunciados lidos. As gravações foram realizadas por um gravador de alta performance, modelo Sony PCM-D50 com capacidade de 96KHz/24bit, em uma sala com isolamento acústico adequado.

2.2.1. Seleção dos informantes

A pesquisa contou com um total de oito informantes, todos jovens na faixa etária de 20 e 25 anos, estudantes de diversos cursos de graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Uma vez que o objeto de estudo é a fala carioca, todos os participantes são nascidos e passaram a maior parte da vida na cidade do Rio de Janeiro. Embora não haja, na literatura, indícios de que o grau de escolarização seja fator determinante para a prosódia, eliminou-se a possibilidade de a diferença de grau de escolarização estabelecer diferenças nos resultados, já que todos os indivíduos eram estudantes universitários. Além da origem regional e da escolarização, controlou-se também o sexo dos informantes: foram quatro participantes homens e quatro mulheres, a fim de verificar diferenças no nível fonético entre os gêneros, uma vez que já se sabe que todos os falantes de uma língua seguem os mesmos padrões fonológicos.

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Todos os participantes da pesquisa preencheram uma ficha com suas informações pessoais e assinaram um termo concordando com a utilização das gravações para fins acadêmicos (cf. Anexo 1).

2.2.2. Gravação de fala espontânea

Para a gravação da amostra de fala espontânea, os informantes participaram de um jogo de adivinhação em duplas, elaborado com a intenção de obter interrogativas com a maior espontaneidade possível. Conforme já se observou na seção de introdução deste trabalho, é fato que o grau de espontaneidade desse corpus não é tão alto quanto o de uma conversação livre prototípica, mas a denominação “fala espontânea” é empregada aqui devido ao fato de a amostra revelar um grau bastante razoável de espontaneidade se comparada a corpora de fala semiespontânea como o do ALiB, bem como em oposição à leitura. Cada jogador escolheu livremente uma personagem (real ou fictícia), cuja identidade deveria ser descoberta pelo outro participante. Foram oferecidos também alguns perfis de personagens previamente descritos em forma de fichas de informações pela pesquisadora. Para descobrir quem é a personagem da vez, o jogador “B” deve fazer perguntas ao jogador “A”, mas este último só pode responder “sim” ou “não” – ou ainda, em caso de perguntas inesperadas, pode dizer que não sabe ou que aquela informação é irrelevante. A título de ilustração, segue um diálogo hipotético em que Marilyn Monroe é a personagem que “B” está tentando adivinhar. B: Você é um homem? 43

A: Não. B: Você é loira? A: Sim. B: Você tem irmãos? A: Irrelevante. B: Você é brasileira? A: Não. (E assim sucessivamente, até que “B” descubra quem é a personagem de “A”.) Vale observar que nem todos os participantes dos jogos forneceram, efetivamente, dados para a análise. Alguns colaboraram apenas respondendo às perguntas do colega, ou seja, desempenhando papel do jogador “A” na situação acima.

2.2.3. Gravação de leitura

Para obtenção dos dados de leitura, primeiramente foi realizada a transcrição grafemática dos diálogos obtidos com o jogo de adivinhação (cf. Anexo 2). Dias depois, solicitou-se aos mesmos informantes que lessem as transcrições, reproduzindo as mesmas sentenças que haviam dito espontaneamente. Dessa maneira, evitam-se as interferências de fatores estruturais e das características idioletais nos resultados da pesquisa no que se refere à comparação entre fala espontânea e leitura.

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2.2.4. Seleção dos enunciados

A gravação do jogo de adivinhação resultou em um número bem maior de enunciados do que aqueles que de fato passaram à fase de análise acústica (aproximadamente 600, somando-se FE e LE). Muitos desses dados, porém, apresentavam problemas que poderiam interferir na análise, como, por exemplo, falas sobrepostas, ruídos diversos e, principalmente, risadas. Essas sentenças foram, portanto, excluídas da análise, bem como aquelas em que havia muita hesitação, com prolongadas pausas ao longo do enunciado. Nesses casos, em que o informante pensava muito para formular uma pergunta, considerou-se que o enunciado não possuía o grau de fluidez desejado, havendo rupturas na linha melódica que poderiam atrapalhar a análise. Na figura 11, a seguir, está ilustrado um exemplo de dado excluído da análise devido à hesitação do falante.

Figura 11: Forma de onda do enunciado “Você é de, sei lá, de uma história inventada?”, excluída da análise devido à hesitação (FE)

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2.3. Metodologia de análise

A metodologia empregada na análise dos dados baseia-se no Método de Análise Melódica da Fala (MAS) desenvolvido pelos professores Francisco José Cantero e Dolors Font-Rotchés, da Universidade de Barcelona e aplicado em diversos trabalhos (CANTERO, 2002; FONT-ROTCHÉS, 2007; CANTERO & FONT- ROTCHÉS, 2009, 2013, entre outros). O método permite analisar com bastante rigor os enunciados no nível acústico, e utiliza-se dos testes de percepção para confirmar o estatuto fonológico dos padrões melódicos. Oferece um critério de segmentação das melodias da fala exclusivamente fônico, desenvolvido com o objetivo de analisar dados de fala espontânea, e apresenta um sistema de processamento dos dados que permite obter valores acústicos relativos em porcentagem para classificar, analisar e submeter os dados a experimentos com síntese melódica, sendo ao mesmo tempo uma medida mais intuitiva que o semitom musical. O método, cujo protocolo está detalhadamente descrito em Cantero & FontRotchés (2009), é dividido em duas fases: a fase acústica, que consiste na preparação e análise acústica dos dados; e a fase perceptiva, em que os resultados obtidos na fase acústica são validados a partir de testes de percepção com ouvintes-juízes nativos da mesma variedade linguística estudada.

46

2.3.1. Fase acústica

Na fase acústica da análise, é feita, primeiramente, a preparação dos dados: os enunciados a ser estudados são recortados, a partir das gravações originais, em pequenos arquivos de áudio; e organizados em uma tabela em que constam o número do dado, a transcrição do enunciado, iniciais e sexo do informante. A essa mesma tabela foram acrescidas, mais tarde, as classificações quanto à inflexão final (cf. Tabela 2, p. 57). Em seguida, para a análise propriamente dita, foi realizada a segmentação das frases em sílabas e a medição da F0 das vogais de cada sílaba, isto é, aferição dos valores absolutos em Hz de um ponto central da vogal. Naqueles casos em que, dentro da mesma sílaba, havia um aumento ou diminuição de mais de 10% no valor de F0, considerou-se a diferença como significativa e mediram-se dois pontos dentro da mesma sílaba, de acordo com o protocolo estabelecido para o MAS. Nesses casos, a sílaba em questão é representada, no gráfico, de forma “prolongada”, marcada com um asterisco no segundo ponto de medição da F0, como se pode conferir na sílaba tônica de “protagonista” no enunciado “Ele é o protagonista?”, representado no Gráfico 1. Após a medição em Hz da F0 de um ponto central de cada sílaba, foi feita a estandardização – construção de um gráfico a partir da distância tonal em porcentagens entre uma vogal e a seguinte, começando pelo número arbitrário 100 (cf. Gráfico 1).

47

150

100

50

E Hz 203 Perc. 100,0 C. Est. 100

le é o pro ta go nis nis* ta? 203 193 189 184 190 232 184 0,0% -4,9% -2,1% -2,6% 3,3% 22,1%-20,7% 100 95 93 91 94 114 91

Gráfico 1: Curva estandardizada do enunciado “Ele é o protagonista” (LE)

Na linha dos valores de Hz, logo abaixo da transcrição do enunciado, temos os valores absolutos de F0. Logo abaixo, na linha intitulada “Perc.”, estão os valores de diferença percentual entre sílabas vizinhas. O ponto de partida é a sílaba inicial do enunciado, para a qual é sempre atribuído o valor de 100%. Na segunda sílaba, a porcentagem refere-se à diferença proporcional do valor de F0 em relação à primeira sílaba (no caso do gráfico 2, esse valor é de zero por cento na sílaba “le é o” pois não há diferença de F0 entre as duas primeiras sílabas). Na terceira sílaba, o valor em porcentagem refere-se à diferença entre esta e a segunda sílaba, e assim por diante – o cálculo é sempre feito com base na diferença entre o valor de F0 de uma sílaba e a sílaba imediatamente anterior a ela. Assim, se o movimento entre uma sílaba e outra for ascendente, o valor fica positivo; se for descendente, fica negativo. Finalmente, na última linha (“C. Est.”), encontram-se os valores que servem de base para a construção da curva estandardizada. A primeira sílaba do enunciado sempre corresponde ao número 100, escolhido arbitrariamente e, a partir dele, são descritos os movimentos de subida ou descida da curva: por exemplo, entre a segunda e a terceira

48

sílabas do enunciado “Ele é o / protagonista?”, houve um decréscimo de 4,9% no valor de F0. O valor da curva, portanto, passa de 100 para 95, depois de 95 para 93, e assim sucessivamente, permitindo gerar um gráfico padronizado. O procedimento de estandardização é um ponto chave na metodologia: uma vez que a utilização de medidas relativas é o que permite a comparação de dados de diferentes informantes, independentemente do sexo, idade ou altura média da voz, além de permitir a comparação de enunciados de durações distintas. Esse passo se faz necessário porque a percepção da entoação se dá de maneira proporcional, e não absoluta. Por exemplo, se um homem de voz grave fala na faixa dos 100 Hz e produz uma subida para 200 Hz, essa subida representa uma diferença de 100% na F0. No caso de uma mulher cuja voz esteja na faixa dos 200 Hz, seria necessária uma subida para 400 Hz para resultar no mesmo efeito perceptivo, isto é, em uma diferença tonal de 100% na linha melódica. Essa equivalência está ilustrada, a seguir, a partir da reprodução da linha de pitch vista no programa Praat (Figuras 12 e 14) e da curva estandardizada (Figuras 13 e 15) de duas subidas melódicas: uma de 100 para 200 Hz e outra de 200 para 400 Hz. Embora a inclinação da linha de pitch seja visivelmente maior na subida de 200 para 400 Hz, o gráfico estandardizado é idêntico nos dois casos, mostrando que as duas subidas correspondem fonologicamente à mesma entoação.

49

Figura 12: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 100 a 200 Hz)

Figura 13: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 100 a 200 Hz)

Figura 14: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz)

Figura 15: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz)

50

2.3.1.1. Classificação dos enunciados de acordo com a inflexão final

Segundo a metodologia adotada, a sentença se divide em três partes, conforme se observa na figura 16, abaixo: a anacruse, isto é, “sílaba ou conjunto de sílabas que [...] precedem a sílaba forte que marca o acento métrico” (Dicionário Aulete Digital); o primeiro pico, o corpo e a inflexão final, que corresponde ao acento nuclear do enunciado. É importante mencionar que nem todos os enunciados possuem anacruse e o pico inicial. Nesses casos, o chamado “corpo” inclui desde a primeira sílaba até a sílaba tônica final. A parte mais importante do contorno é justamente a sílaba tônica final (núcleo) e aquelas que se seguem a ela; já que a direção da inflexão final e os valores percentuais dos movimentos tonais associados a ela é que são os critérios básicos para estabelecer os diferentes tipos de padrões melódicos.

Figura 16: Diagrama das três partes do contorno melódico segundo o MAS

Trabalhos anteriores que utilizam o MAS, como o já mencionado trabalho de Cantero & Font-Rotchés (2013), apontam três padrões melódicos para as interrogativas, os quais também foram encontrados por Mendes (2013) para o português São Paulo e 51

Araújo (2014) para Minas Gerais. Ocorre, ainda, um quarto padrão, característico de assertivas e, portanto, de traço /-interrogativo/; mas que pode aparecer em perguntas quando o contexto permite identificá-las, tornando o contorno melódico interrogativo prescindível. Na análise acústica dos 256 dados desta pesquisa, foram encontrados dados compatíveis com os quatro padrões previstos no método, e, portanto, os enunciados analisados foram classificados de acordo com sua IF em três tipos:

i. Inflexão final ascendente-descendente Neste tipo de contorno, também chamado de contorno final circunflexo, não há necessariamente um primeiro pico, o corpo é plano ou levemente descendente. A iflexão final começa na última sílaba tônica, o núcleo, e tem dois movimentos, um ascendente e outro descendente (entre 15% e 75%), com retorno da curva para um ponto próximo de onde começou (cf. Figura 17);

Figura 17: Modelo de inflexão final ascendente-descendente

52

ii. Inflexão final ascendente: Este padrão caracteriza-se pela presença de um primeiro pico, corpo ligeiramente descendente e inflexão final com subida entre 30% e 50%, aproximadamente, podendo ser ainda maior nos casos em que há ênfase (cf. Figura 18).

Figura 18: Modelo de inflexão final ascendente

iii. Inflexão final de núcleo elevado (high nucleous): Este contorno é caracterizado por uma anacruse opcional, com uma subida entre 30% e 40% até o primeiro pico, uma queda suave até a sílaba pré-tônica final e outra subida, de amplitude bastante variável (entre 10% e 50%), até chegar ao núcleo na última sílaba tônica. Em seguida, há uma descida até o ponto mais baixo da curva melódica no final do enunciado, após o acento nuclear. A principal característica deste contorno, e que o distingue da IF ascendente-descendente ou circunflexa é que, neste caso, o pico melódico se encontra em um ponto elevado e a linha melódica tem direção descendente. (cf. Figura 19).

53

Figura 19: Modelo de inflexão final de núcleo elevado (high nucleous)

iv. Inflexão final descendente: O contorno descendente é típico das assertivas ou de perguntas parciais (iniciadas por um pronome interrogativo), e por isso é caracterizado pelo traço /interrogativo/, ou seja, não imprime à frase o status pragmático de pergunta. Apesar disso, alguns dados do corpus apresentaram esse tipo de IF, como veremos mais adiante. Nos dados de Mendes (2013) e Araújo (2014), este contorno também aparece, mas em pouquíssimos casos ele se refere a questões totais. Quando isso ocorre, as autoras justificam a ocorrência dessa IF pelo contexto pragmático, em que ficava muito claro que o enunciado só poderia ser uma pergunta.

Figura 20: Modelo de inflexão final descendente

54

2.3.2. Fase perceptiva

Após a análise acústica dos enunciados, deu-se início aos testes de percepção para validar os resultados obtidos na primeira etapa da pesquisa. Para a realização desses testes, foram produzidas cópias ressintetizadas dos enunciados utilizando o método

PSOLA

(Pitch

Sincronous

OverLap

Add),

que

elimina

variações

micromelódicas dos enunciados. De acordo com o procedimento padrão desse método, os valores de pitch de um enunciado são apagados e substituídos por valores estandardizados, por meio da manipulação da melodia original pelo programa Praat. Utilizando a função “To Manipulation” do programa, edita-se a melodia do enunciado original (cf. Figuras 21a e 21b), removendo-se todos os pontos na curva de pitch que não aqueles pontos centrais de cada sílaba, considerados para a formulação dos gráficos na fase de análise acústica. Obtém-se, dessa maneira, uma melodia ressintetizada, que corresponde precisamente aos gráficos elaborados para a classificação dos contornos a partir da estandardização dos valores percentuais de variação de F0 (cf. Figuras 22a e 22b).

55

Figura 21a: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e curva de pitch

Figura 21b: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch para manipulação acústica

56

Figura 22a: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e curva de pitch

Figura 22b: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch selecionados no centro de cada sílaba

Dessa maneira é possível verificar se a análise melódica está correta e se reflete a melodia original sem variações micromelódicas e com os valores normalizados. A 57

partir dessa padronização, podem-se distinguir os traços melódicos dos contornos, no nível fonético, dos traços fonológicos, que permitem estabelecer diferenças modais entre as sentenças, diferenciando, por exemplo, perguntas e declarativas. Os traços fonológicos são /± interrogativo/, /± enfático/ e /± suspenso/. Outros trabalhos que utilizaram o MAS mostraram que esses três traços, combinados, foram suficientes para classificar todos os contornos de um corpus de 2500 enunciados do espanhol peninsular produzidos por mais de 600 informantes (Ballesteros, 2011, Mateo, 2014) e 580 enunciados do catalão produzidos por 160 informantes (Font-Rotchés, 2007). Participaram do teste de percepção seis indivíduos de ambos os sexos, todos falantes nativos da variedade carioca do português brasileiro e que não haviam participado de nenhuma das gravações. Um grupo de frases foi escutado pelos juízes, que avaliaram se aqueles enunciados lhes pareciam como perguntas autênticas do português (traço /± interrogativo/), se estavam terminados ou não (traço /± suspenso/) e se eram exclamações ou não (traço /± enfático/). Ao classificar como interrogativos, enfáticos ou suspensos enunciados acusticamente manipulados e com diferentes valores de movimento de F0, os ouvintes determinaram onde se encontravam as mudanças significativas nos traços melódicos. Os traços melódicos são, por sua vez, as características dos elementos funcionais do contorno: a anacruse, o primeiro pico, o corpo e a inflexão final. A descrição desses elementos, e especialmente da IF, permite definir o contorno melódico e margens de dispersão, isto é, os valores mínimo e máximo dos movimentos tonais referentes a cada padrão melódico. Foram selecionadas, para o teste, 30 interrogativas totais, sendo 15 de FE e 15 de LE, as quais foram aleatoriamente misturadas a outros enunciados retirados das próprias gravações do corpus, que serviram de grupo controle. Foi tomado o cuidado de selecionar apenas enunciados cujo conteúdo proposicional não permitisse a 58

identificação da modalidade da frase de forma descontextualizada. Ou seja, sem a entoação ou a presença de sinais de pontuação, todos os enunciados poderiam ser interpretados como perguntas, exclamações ou enunciados em suspenso (cf. exemplos 1 e 2). (1) “ mas tem tanto rock brasileiro conhecido” (enunciado do grupo controle) (2) “ele canta música sertaneja” (enunciado interrogativo)

Também foi observado o tipo de inflexão final e o percentual de subida no acento nuclear: foram selecionadas 18 enunciados de IF ascendente-descendente, quatro de IF ascendente, quatro de IF de núcleo elevado e quatro de IF descendente, com diferentes graus de inclinação da curva no acento nuclear. Cada ouvinte escutou um total de 40 enunciados, entre interrogativas e enunciados-controle, podendo ouvir cada gravação até no máximo três vezes. Para cada enunciado ouvido, os juízes eram questionados, a partir de um formulário (cf. Anexo 3) quanto a dois dos traços fonológicos em questão, solicitandose que marcasse um “X” naquela opção que correspondesse, na sua opinião, ao enunciado. Quando não soubesse responder, o ouvinte podia deixar em branco. Para as perguntas de IF ascendente, eram colocadas as possibilidades de “pergunta” e “enunciado incompleto”, a fim de averiguar as margens de dispersão entre enunciados interrogativos e suspensos. Para os enunciados de IF ascendente-descendente e de núcleo elevado, as possibilidades eram de pergunta ou exclamação; e para os enunciados de IF descendente, pergunta ou enunciado neutro.

59

3. ANÁLISE DOS DADOS

Conforme foi esclarecido na seção 2.3, a análise dos dados se dividiu em duas etapas: a análise acústica propriamente dita e a realização de testes de percepção. Neste capítulo, apresentam-se os resultados de ambas as fases da pesquisa, para as modalidades de fala espontânea e leitura.

3.1. Análise acústica

Todos os enunciados analisadas foram classificadas de acordo com os quatro padrões de IF apresentados na seção 2.3.1.1. A relação completa de enunciados com suas respectivas classificações está na Tabela 2, a seguir.

60

Dado # Transcrição do enunciado

Inf.

Sexo

FE

LE

001

Ele é o protagonista?

T.S.

F

AD

AD

002

Ele contracena com outro ator famoso?

T.S.

F

AD

AD

003

O ator é bonito?

T.S.

F

AD

AD

004

As mulheres acham ele bonito?

T.S.

F

AD

A

005

O ator é americano?

T.S.

F

AD

AD

006

Ele contracena com alguma criança?

T.S.

F

AD

AD

007

O personagem fica velho?

T.S.

F

AD

AD

008

O personagem é criança?

T.S.

F

D

AD

009

O ator tem cabelo loiro?

T.S.

F

AD

AD

010

Ah ele é um personagem tipo desenho?

T.S.

F

AD

AD

011

O personagem tem filho?

T.S.

F

AD

AD

012

O personagem é casado?

T.S.

F

AD

AD

013

O personagem morre no filme?

T.S.

F

AD

AD

014

O personagem se fantasia?

T.S.

F

AD

AD

015

Ele tem um cavalo?

T.S.

F

AD

AD

016

Ele usa terno?

T.S.

F

AD

AD

017

Eu já vi o filme?

T.S.

F

AD

N

018

Ele tem cabelo grande?

T.S.

F

AD

AD

019

O filme é americano?

T.S.

F

AD

AD

61

020

A roupa preta é um uniforme?

T.S.

F

AD

N

021

O personagem é um super-herói?

T.S.

F

A

A

022

O personagem é um conquistador?

T.S.

F

A

A

023

Ele envelhece no filme?

T.S.

F

AD

AD

024

Ele tem vida eterna?

T.S.

F

AD

N

025

Ele é um mágico?

T.S.

F

AD

A

026

Ele é um pirata?

T.S.

F

AD

N

027

É mulher?

T.M.

F

A

A

028

É homem?

T.M.

F

D

D

029

É famoso?

T.M.

F

N

AD

030

É real?

T.M.

F

A

A

031

É histórico?

T.M.

F

AD

AD

032

Faz fez parte da história?

T.M.

F

AD

AD

033

É um herói?

T.M.

F

A

A

034

É, é cabeludo?

T.M.

F

AD

AD

035

É político?

T.M.

F

AD

AD

036

Posso repetir pergunta?

T.M.

F

AD

AD

037

É desenho?

T.M.

F

AD

AD

038

É político?

T.M.

F

AD

AD

039

É importante?

T.M.

F

AD

AD

040

É cantor?

T.M.

F

A

A

041

Ele canta música sertaneja?

T.M.

F

AD

AD

042

Posso chutar?

T.M.

F

A

A

043

É homem?

I.O.

F

AD

N

044

É real?

I.O.

F

A

A

045

É um personagem?

I.O.

F

AD

N 62

046

De um livro?

I.O.

F

AD

AD

047

De um filme?

I.O.

F

AD

D

048

Quadrinho?

I.O.

F

AD

AD

049

Folclore?

I.O.

F

AD

AD

050

É criança?

I.O.

F

AD

AD

051

É de uma novela?

I.O.

F

A

AD

052

Tem a ver com a televisão?

I.O.

F

A

A

053

É antigo?

I.O.

F

AD

AD

054

Muito antigo?

I.O.

F

AD

AD

055

De desenho?

I.O.

F

AD

AD

056

É um homem normal?

I.O.

F

AD

AD

057

É sobrenatural o personagem?

I.O.

F

D

N

058

Tem poder?

I.O.

F

A

A

059

Seu personagem é real?

P.B.

F

A

A

060

Seu personagem é do sexo feminino?

P.B.

F

AD

AD

061

Ele participa de desenho animado?

P.B.

F

AD

AD

062

Esse desenho animado é antigo?

P.B.

F

AD

AD

063

Esse desenho animado passa na Globo?

P.B.

F

AD

AD

064

Esse personagem é um animal?

P.B.

F

A

A

065

Um desenho animado da televisão?

P.B.

F

A

A

066

É de gibi?

P.B.

F

A

A

067

É um personagem da literatura?

P.B.

F

AD

AD

068

É um personagem… folclórico?

P.B.

F

AD

AD

069

Tem direito a dica?

P.B.

F

AD

AD

070

Esse personagem é bem famoso?

P.B.

F

AD

AD

071

Mas esse personagem passa em algum

P.B.

F

A

N 63

programa de televisão? 072

Esse personagem é um super-herói?

P.B.

F

A

A

073

É um personagem de revista?

P.B.

F

AD

AD

074

É uma animação infantil?

P.B.

F

AD

A

075

Você é mulher?

R.M.

M

A

A

076

Você é homem?

R.M.

M

AD

AD

077

Você tem uma profissão?

R.M.

M

AD

AD

078

Eu posso desistir?

R.M.

M

A

A

079

O intérprete desse personagem é famoso?

R.M.

M

AD

AD

080

Isso se refere à família?

R.M.

M

AD

AD

081

Você é de desenho animado?

C.F.

M

AD

AD

082

Você é de filme?

C.F.

M

AD

N

083

Você é de série?

C.F.

M

AD

AD

084

Você é de videogame?

C.F.

M

AD

AD

085

Você é de livro?

C.F.

M

AD

AD

086

Você é de novela?

C.F.

M

AD

AD

087

Você é da história?

C.F.

M

AD

AD

088

Você é de uma história real então?

C.F.

M

D

A

089

Você nasceu na Idade Média?

C.F.

M

AD

AD

090

Idade Moderna?

C.F.

M

D

AD

091

E você tava na Revolução Industrial?

C.F.

M

AD

AD

092

Você tava na Revolução Francesa?

C.F.

M

AD

AD

093

Você tava… na Independência?

C.F.

M

AD

AD

094

Você tava na Independência do Brasil?

C.F.

M

D

AD

095

Você é um filósofo?

C.F.

M

AD

AD

096

Você pensou a sociedade de alguma

C.F.

M

D

AD 64

maneira? 097

É um personagem?

G.G.

M

AD

AD

098

É um personagem real?

G.G.

M

N

D

099

É um personagem brasileiro?

G.G.

M

AD

AD

100

Americano?

G.G.

M

AD

AD

101

Europeu?

G.G.

M

A

N

102

Asiático?

G.G.

M

AD

N

103

Da selva?

G.G.

M

AD

AD

104

É um personagem de filme?

G.G.

M

AD

AD

105

Da literatura?

G.G.

M

AD

N

106

Do teatro?

G.G.

M

AD

AD

107

É um personagem real?

G.G.

M

A

A

108

É um personagem real que foi ficcionalizado

G.G.

M

N

N

G.G.

M

AD

AD

em alguma manifestação artística? 109

Esse personagem virou por exemplo personagem de um filme?

110

É um político?

G.G.

M

AD

N

111

É um artista?

G.G.

M

AD

N

112

É um personagem fictício?

G.G.

M

AD

AD

113

É homem?

T.A.

M

AD

AD

114

É um personagem histórico?

T.A.

M

AD

AD

115

É de ficção?

T.A.

M

A

A

116

Em termos de aparência física tem é, é

T.A.

M

AD

N

negro? 117

É branco?

T.A.

M

AD

N

118

É loiro?

T.A.

M

AD

AD

119

Não tem cabelo?

T.A.

M

D

AD 65

120

Tem cabelo?

T.A.

M

AD

AD

121

De alguma forma marcou a história do país?

T.A.

M

D

D

122

Do país?

T.A.

M

A

A

123

Do nosso país?

T.A.

M

D

D

124

Tem cabelo… cabelo preto?

T.A.

M

AD

AD

125

É algum personagem assim tipo

T.A.

M

N

AD

revolucionário? 126

Fez algum feito revolucionário?

T.A.

M

AD

AD

127

Foi presidente?

T.A.

M

N

AD

128

Tá ligado à política?

T.A.

M

AD

N

Tabela 2: Relação dos enunciados analisadas

Conforme se pode observar na tabela 3 abaixo, o contorno de inflexão final ascendente-descendente foi claramente predominante, correspondendo a 70,3% dos dados de fala espontânea e 63,3% dos dados de leitura. O padrão de IF ascendente foi encontrado em 18% dos dados de FE e 18,8% dos dados de LE, e o de IF de núcleo elevado em 3,9% dos dados de FE e 14% dos dados de LE. Já o padrão descendente, típico das assertivas, foi encontrado em 7,8% dos dados de FE e 3,9% dos de LE. Ao contrário do que se esperava, houve maior discrepância do padrão na modalidade de LE, embora a regularidade tenha sido grande em ambos os corpora.

66

Inflexão Final

/+ int./

Fala espontânea

Leitura

Ascendente-

n

90

81

Descendente

%

70,3%

63,3%

n

23

24

%

18,0%

18,8%

n

5

18

%

3,9%

14,0%

n

10

5

%

7,8%

3,9%

Ascendente

Núcleo Elevado

/- int./

Descendente

Legenda: n = número de enunciados

Tabela 3: Resultado da análise acústica – classificação dos enunciados de FE e LE de acordo com a inflexão final

No gráfico 2, a seguir, é possível visualizar a proporção em que cada um dos contornos aparece no corpus como um todo (incluindo os dados de FE e LE). As barras estão divididas em blocos que representam cada um dos quatro tipos de inflexão final encontrados nos dados, sendo as barras de cor azul referentes aos dados de fala espontânea e as de cor vermelha referentes aos dados de leitura.

67

90 81

FE LE

23 24

18 5

Asc-Desc

Asc

N Elev

10

5

Desc

Gráfico 2: Classificação dos dados de fala espontânea e leitura

Apenas dois dados chamaram especialmente a atenção por apresentarem grande variação na curva de F0 ao longo do corpo do enunciado. Esses dois enunciados, ilustradas nos gráficos 3 e 4, não foram, no entanto, consideradas fora dos padrões estipulados. Apesar de seus gráficos serem visualmente discrepantes dos demais, ainda preservam a característica fundamental do contorno ascendente-descendente (no caso do enunciado no gráfico 3), que é o retorno, após o pico melódico alinhado à direita da última tônica, da linha de F0 a um ponto próximo daquele do início da frase; e do contorno ascendente (no enunciado do gráfico 4), que é a presença de um primeiro pico e subida final com valor próximo a 30%.

68

150

100

50

le en Hz 198 226 Perc. 100, 14,1 C. Est. 100 114 E

lhe * 277 213 264 22,6 -23, 23,9 140 108 133 ve

lhe

me ? 173 241 198 232 172 -34, 39,3 -17, 17,2 -25, 87 122 100 117 87 ce

no

fil

fil*

Gráfico 3: Enunciado “Ele envelhece no filme?” (FE)

150

100

50

cha m Hz 183 185 196 206 186 236 206 Perc. 100,1,1%5,9%5,1% -9,7 26,9 -12, C. Est. 100 101 107 113 102 129 113 As mu lhe res

a

a*

e(le ni*(t bo ni ) o)? 173 181 195 232 -16, 4,6%7,7%19,0 95 99 107 127

Gráfico 4: Enunciado “As mulheres acham ele bonito?” (LE)

Em ambos os casos, a peculiaridade dos contornos parece se dever à ênfase dada às palavras “envelhece”, no primeiro caso, e “acham”, no segundo. Essa ênfase, no entanto, não alterou o reconhecimento das sentenças como pertencentes ao padrão fonológico das interrogativas, como foi verificado mais tarde com o teste de percepção. 69

3.1.1. Resultados referentes à fala espontânea

Nos dados de fala espontânea, os enunciados classificados como IF ascendentedescendente representaram a grande maioria: 70,3% (total de 90 ocorrências). Em segundo lugar, estão os de IF ascendente, que correspondem a 18% dos dados (23 ocorrências); seguidas pelos de contorno /-interrogativo/, isto é, IF descendente, que representaram 7,8% dos dados (dez ocorrências). Os enunciados de IF de núcleo elevado corresponderam a apenas 3,9% dos dados (cinco ocorrências). Aferiu-se ainda a média da subida melódica da tônica final em relação à sílaba imediatamente anterior, por ser um evento fonético muito relevante no enunciado, relacionado ao acento nuclear. Considerou-se, para isso, a medida percentual (apresentada na segunda linha dos gráficos) correspondente à sílaba tônica final, e fezse uma média aritmética simples desses valores em todos os enunciados. Nos dados de FE, essa subida foi de, em média, 24%. Nas informantes mulheres, a média foi de 27%, enquanto nos homens foi de 21%. Os gráficos de 5 a 8, a seguir, exemplificam cada um dos contornos encontrados no corpus de fala espontânea.

70

150

100

50

Tem di rei to a di di* Hz 215 212 212 204 198 222 268 Perc. 100,0 -1,4% 0,0% -3,8% -2,9% 12,1%20,7% C. Est. 100 99 99 95 92 103 125

ca? 213 -20,5 99

Gráfico 5: Enunciado “Tem direito a dica?” (FE) – IF ascendente-descendente

150

100

50

É de u ma no ve ve* la? Hz 193 193 190 188 201 246 284 Perc. 100,0 0,0% -1,6% -1,1% 6,9% 22,4% 15,4% C. Est. 100 100 98 97 104 127 147

Gráfico 6: Enunciado “É de uma novela?” (FE) – IF ascendente

71

150

100

50 Hz Perc. C. Est.

É 184 100,0% 100

fa 196 6,5% 107

mo 221 12,8% 120

so? 190 -14,0% 103

Gráfico 7: Enunciado “É famoso?” (FE) – IF de núcleo elevado

150

100

50

I Hz 132 Perc. 100,0% C. Est. 100

da 137 3,8% 104

de 130 -5,1% 98

Mo 137 5,4% 104

der 132 -3,6% 100

na? 118 -10,6% 89

Gráfico 8: Enunciado “Idade Moderna?” (FE) – IF descendente

72

3.1.2. Resultados referentes à leitura

Os enunciados de IF ascendente-descendente também foram maioria nos dados de leitura, embora com uma representatividade um pouco menor do que no caso da fala espontânea: foram 63,3% dos dados, totalizando 81 enunciados. Os enunciados de IF ascendente, por sua vez, foram encontrados em número praticamente igual nas duas modalidades: na LE representaram 18,8% dos dados ou 24 enunciados, contra os 18% (23 dados) da FE. Nos dados de leitura, porém, o contorno de IF de núcleo elevado foi encontrado em maior proporção, correspondendo a 14% dos dados (18 ocorrências). Já o contorno de IF descendente e traço /-interrogativo/, mais recorrente na FE, representou na LE apenas 3,9% dos dados (cinco ocorrências). Nos dados de LE, a média de subida da tônica final em relação à sílaba anterior foi de 29%, sendo 32% entre as mulheres e 26% entre os homens. A diferença não é tão grande em relação aos dados de FE (24%), mas já revela uma subida melódica típica do padrão interrogativo mais saliente na leitura. Nos gráficos 9 a 12, abaixo, estão ilustrados com exemplos retirados do corpus de leitura os quatro tipos de contornos.

73

150

100

50

nh oa Hz 158 174 168 166 143 129 130 Perc. 100 10, -3, -1, -13 -9, 0,8 C. Est. 100 110 106 105 91 82 82 Vo cê

é

de

de

se

ma * 128 143 170 -1, 11, 18, 81 91 108 ni

ma

do ? 147 -13 93

Gráfico 9: Enunciado “Você é de desenho animado?” (LE) – IF ascendentedescendente

150

100

50

E (le) é Hz 195 191 Perc. 100,0% -2,1% C. Est. 100 98

um 189 -1,0% 97

má má* gi(co)? 182 224 268 -3,7% 23,1% 19,6% 93 115 137

Gráfico 10: Enunciado “Ele é um mágico?” (LE) – IF ascendente

74

150

100

50

E le tem vi da e ter Hz 204 205 212 195 194 217 Perc. 100,0 0,5% 3,4% -8,0% -0,5% 11,9% C. Est. 100 100 104 96 95 106

ter* na? 178 163 -18,0 -8,4% 87 80

Gráfico 11: “Ele tem vida eterna?” (LE) – IF de núcleo elevado

150

100

50

U Hz 144 Perc. 100,0 C. Est. 100

ma per so na gem re al? 144 147 143 143 142 144 127 0,0% 2,1% -2,7% 0,0% -0,7% 1,4% -11,8 100 102 99 99 99 100 88

Gráfico 12: Enunciado “Uma personagem real?” (LE) – IF descendente

75

3.2. Testes de percepção

As respostas fornecidas pelos ouvintes que participaram dos testes de percepção foram contabilizadas nas tabelas 4, 5 e 6 abaixo, em que está relacionado também o percentual de subida (ou descida) do acento nuclear na cópia ressintetizada de cada enunciado. Nos enunciados de IF ascendente, o reconhecimento do traço /+interrogativo/ foi categórico nos dados cujo percentual de subida no acento nuclear era maior que 30%. Nos dados em que o ascenso era menos evidente, houve maior dúvida da parte dos juízes, que reconheceram o padrão de pergunta em metade dos casos (cf. Tabela 4).

76

Legenda referente às tabelas 4, 5 e 6: Mod. = modalidade (FE ou LE) “?” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma pergunta.” “...” = número de juízes que marcaram a opção “Esta frase está inacabada.” “!” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma exclamação.” “Ø” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma declaração neutra.”

Enunciado

Inf.

Sexo

IF

Mod. % subida

?

...

as mulheres acham ele bonito

T.S.

F

A

LE

19%

3

3

P.B.

F

A

LE

24%

3

2

posso chutar

T.M.

F

A

LE

32%

6

0

europeu

G.G.

M

A

FE

38%

6

0

eu posso desistir

R.M.

M

A

FE

40%

6

0

um desenho animado da televisão

Tabela 4: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente

Nos enunciados de contorno circunflexo, isto é, de IF ascendente-descendente ou de núcleo elevado, o reconhecimento das perguntas foi ainda maior. Apenas alguns poucos dados que possuíam um ascenso muito baixo (menor que 20%) não foram reconhecidos por todos os juízes, sendo confundido algumas vezes com o padrão enfático (cf. Tabela 5).

77

Enunciado

Inf.

Sexo

IF

Mod.

% subida

?

!

é histórico

T.M.

F

AD

FE

16%

5

1

é político

T.M.

F

AD

FE

18%

6

0

é branco

T.A.

M

AD

FE

18%

5

1

o ator é bonito

T.S.

F

AD

LE

20%

6

0

é desenho

T.M.

F

AD

FE

20%

6

0

é uma animação infantil

P.B.

F

AD

FE

20%

6

0

tem direito a dica

P.B.

F

AD

LE

21%

6

0

ele canta música sertaneja

T.M.

F

AD

FE

22%

6

0

ele é o protagonista

T.S.

F

AD

LE

23%

6

0

é um personagem de filme

G.G.

M

AD

FE

24%

6

0

o ator é americano

T.S.

F

AD

LE

25%

6

0

americano

G.G.

M

AD

LE

25%

6

0

da selva

G.G.

M

AD

FE

27%

6

0

da literatura

G.G.

M

N

LE

27%

6

0

é criança

I.O.

F

AD

LE

28%

6

0

é um personagem real

G.G.

M

N

FE

29%

6

0

folclore

I.O.

F

AD

LE

30%

6

0

foi presidente

T.A.

M

N

FE

33%

6

0

quadrinho

I.O.

F

AD

FE

35%

6

0

é um artista

G.G.

M

N

LE

40%

6

0

isso se refere à família

R.M.

M

AD

LE

43%

6

0

Tabela 5: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente-descendente e de núcleo elevado

78

Nos enunciados de IF descendente, que fogem ao padrão interrogativo, a identificação dos dados como perguntas não foi tão alta: os juízes ficaram bastante divididos entre os padrões interrogativo e neutro, havendo ainda algumas abstenções. Vale observar que o descenso, nos dados manipulados, era bem sutil, chegando a um máximo de 4% (cf. Tabela 6).

Enunciado

Inf.

Sexo

IF

Mod.

% descida

?

Ø

o personagem é criança

T.S.

F

D

FE

2%

4

2

Idade Moderna

C.F.

M

D

FE

4%

2

4

T.A.

M

D

LE

1%

3

2

T.A.

M

D

LE

2%

2

2

de alguma forma marcou a história do país do nosso país

Tabela 6: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF descendente

Além das cópias ressintetizadas de perguntas genuínas, foram incluídas no teste algumas cópias de outras frases, retiradas da própria gravação dos jogos de adivinhação, que funcionaram como grupo controle. Esses enunciados foram manipulados acusticamente para se enquadrar nos padrões prototípicos de sentenças enfáticas, suspensas ou afirmações neutras, e tiveram 100% de reconhecimento do padrão esperado.

79

Enunciado

Inf.

Sexo

mas tem tanto rock brasileiro conhecido

T.A.

F

é irrelevante

T.S.

F

e usa um capacete

T.S.

F

você é um líder

C.F.

M

não é Dom Pedro I

C.F.

M

ela mora com o pai

G.G.

M

a mãe dela não existe

G.G.

M

tem mais de quinze

P.B.

F

alguma coisa diferente

I.O.

F

o meu é mais difícil

I.O.

F

Tabela 7: Relação de enunciados utilizados como grupo controle

80

4. DISCUSSÃO

A partir dos resultados apresentados no capítulo anterior, discutiremos aqui o que os dados indicam sobre os padrões melódicos das interrogativas totais na fala do Rio de Janeiro.

4.1. O predomínio da IF circunflexa e a maior nitidez de padrões na leitura

A curva de inflexão final circunflexa, isto é, que conta com uma subida e uma descida da F0 no final do enunciado, engloba os padrões aqui referidos como de IF ascendente-descendente e de IF de núcleo elevado. Na metodologia adotada, esses dois padrões são separados por poderem apresentar diferença fonológica em algumas línguas ou variedades, como no espanhol peninsular estudado por Cantero & Font-Rotchés (2008). Dessa forma, a observarção dos resultados, em termos quantitativos, para FE e LE (cf. Tabela 3, p. 63 e Gráfico 2, p. 64), sugere que a fala espontânea apresenta maior regularidade, uma vez que há menos ocorrências de padrões alternativos ao de IF ascendente-descendente. No corpus aqui estudado, no entanto, as diferenças entre esses dois tipos de contornos parece estar apenas no nível fonético, como foi demonstrado a partir do teste de percepção: ambos os padrões foram igualmente reconhecidos como possuidores de traço /+ interrogativo/. Assim, ainda que tenham sido classificados sob rótulos diferentes, os enunciados de IF ascendente-descendente e de núcleo elevado compõem um mesmo grupo de contornos de IF circunflexa. 81

Apesar disso, não se pode ignorar que houve um número maior de ocorrências de IF de núcleo elevado na leitura (18 dados contra apenas cinco na FE). Como, ao que parece, esse tipo de contorno não se diferencia do ascendente-descendente em termos fonológicos, pode-se dizer que uma sutil tendência a um alinhamento mais atrasado do acento na última tônica das interrogativas totais é uma das características que diferencia a LE da FE no corpus estudado. É preciso observar também que a quase totalidade dos dados classificados como sendo de IF ascendente se referem a frases terminadas em palavras oxítonas, quando não há mais conteúdo segmental após a última sílaba tônica para que ocorra a queda na linha de F0. Apenas três ocorrências fogem a essa regra: os enunciados “As mulheres acham ele bonito?” e “Ele é um mágico?” lidos e o enunciado “É de uma novela?” dito espontaneamente. Dessa forma, percebe-se que, no corpus estudado, o contorno de inflexão circunflexa é maioria absoluta, sendo encontrado em quase todos os dados de contorno /+interrogativo/ que possuem uma ou mais sílabas pós-tônicas finais. É fato que alguns enunciados, independentemente da tonicidade da última palavra que os compõe, apresentaram contorno descendente (total de dez dados na FE e cinco na LE). Esses enunciados, no entanto, não foram amplamente reconhecidos como perguntas nos testes de percepção, o que confirma o caráter /- interrogativo/ do contorno descendente, e nos leva a analisar estes casos de maneira diferenciada, como se discutirá adiante, na seção 4.2. Também é notável que, embora o padrão circunflexo seja majoritário em ambas as amostras, a média da subida no acento nuclear, mais alta nos dados de LE (29%) do que nos de FE (24%), nos mostra que há, na leitura, uma tendência à realização mais nítida dos padrões interrogativos. Corrobora para essa afirmação o fato de que, no caso do contorno de IF ascendente-descendente, em que o primeiro pico não está 82

necessariamente presente, ele aparece com maior frequência nos dados de LE do que nos de FE. Nos gráficos abaixo temos este fato exemplificado na comparação entre os enunciados “Ele usa terno?” proferidos nas duas modalidades: na FE (Gráfico 13), não há subida de F0 na primeira sílaba tônica e a subida no acento nuclear é mais sutil, enquanto na LE (Gráfico 14) o primeiro pico aparece, além de o acento nuclear ser bem mais saliente. 150

100

50

E le u Hz 211 205 Perc. 100,0% -2,8% C. Est. 100 97

sa 197 -3,9% 93

ter 211 7,1% 100

ter* no? 248 195 17,5% -21,4% 118 92

Gráfico 13: Enunciado “Ele usa terno?” (FE)

150

100

50

E Hz 211 Perc. 100,0% C. Est. 100

le u 230 9,0% 109

sa ter 201 195 -12,6% -3,0% 95 92

ter* no? 284 182 45,6% -35,9% 135 86

83

Gráfico 14: Enunciado “Ele usa terno?” (LE)

A observação das curvas de pitch e dos gráficos estandardizados dos enunciados de FE e LE revela que, por vezes, há uma diferença na configuração interna dos contornos. Nos dados de FE, especialmente em enunciados mais longos, há menor variação da F0 no nível micromelódico: a leitura conta com mais oscilações, de maneira que a curva faz pequenos movimentos de subida e descida ao longo do enunciado. Esses movimentos, no entanto, são sutis, e não interferem nos acentos pré-nuclear e nuclear. Nas figuras 23 e 24 é possível observar essa diferença na modulação da voz, que oscila de forma um pouco mais visível na leitura.

Figura 23: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme?” (FE)

84

Figura 24: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme?” (LE)

Uma possível explicação para essa tendência é o fato de que os enunciados de LE são, no geral, mais longos que na FE, dando ao falante mais tempo para articular os sons e produzir tais oscilações melódicas. Aferindo-se a medida da druação total de cada enunciado e fazendo, em seguida, uma média aritmética simples, obteve-se uma média de duração dos dados de FE de 665 ms, enquanto para LE foi de 1025 ms. Isso significa que os enunciados lidos são, em média, 54% mais longos do que aqueles ditos espontaneamente. Com relação às diferenças entre os dados produzidos entre informantes homens e mulheres, é preciso observar o seguinte: sabe-se que a língua falada por homens e mulheres é a mesma, e, portanto, falantes de ambos os sexos compartilham dos mesmos padrões fonológicos para os diferentes tipos de frases. Apesar disso, foi feita uma análise, em separado, dos dados produzidos por homens e mulheres, na intenção de 85

observar possíveis diferenças no nível fonético. Conforme já se esperava, não houve diferença expressiva entre os sexos: as mulheres produziram, na média, subidas na última tônica um pouco mais salientes que os homens, como se pode conferir na tabela 8, abaixo. Essa diferença, no entanto, não parece relevante do ponto de vista fonológico, já que tanto mulheres quanto homens produziram enunciados com inflexões finais dentro das margens de dispersão estabelecidas para cada padrão.

Média Homens

Média Mulheres

Média Geral

Fala Espontânea

21%

27%

24%

Leitura

26%

32%

29%

23,5%

29,5%

26,5%

Tabela 8: Média de subida da F0 na vogal tônica final por modalidade de fala e sexo do informante

Além disso, uma comparação entre os padrões descritos pela literatura para as diversas expressões de atitudes e emoções, somada a uma análise holística dos dados, possibilita atribuir a pequena diferença entre os dados produzidos por homens e mulheres a questões outras que não o sexo dos informantes em si. A maior variação da F0 entre as informantes do sexo feminino parece se dever a características individuais dos informantes desta pesquisa: as mulheres que participaram do jogo tiveram, em geral, uma postura muito mais expansiva do que os homens, sendo responsáveis pela maioria dos enunciados com expressão de atitudes como interesse ou empolgação. Os homens, por sua vez, foram responsáveis pela maioria dos enunciados de contorno /interrogativo/: dos 15 enunciados de IF descendente encontrados no corpus, dez foram produzidos por homens (sete em FE e três em LE). Essa questão, porém, está relacionada a características de personalidade dos informantes e, consequentemente, à 86

expressão de atitudes e emoções, e não ao sexo propriamente dito do indivíduo. A diferença encontrada entre os dados de informantes homens e mulheres, dessa forma, não permite afirmar que haja distinção entre os padrões produzidos pelos dois sexos para as interrogativas totais no português; mas colabora para a discussão acerca da influência de atitudes e emoções nesses contornos, como se verá na seção 4.2, a seguir.

4.2. A influência da expressão de atitudes

Moraes (2006, 2008) já demonstrou a importância da expressão de atitudes na prosódia das interrogativas do português em experimentos com fala controlada, mostrando que o contorno da sentença pode ser totalmente alterado a depender da intenção comunicativa do falante: uma pergunta retórica, por exemplo, tem configuração descendente, similar à das assertivas. Antunes (2007) também estuda a expressão de atitudes em perguntas no português, com um corpus de gravações de televisão do dialeto de Belo Horizonte, e divide as questões totais em três grupos: perguntas retóricas, pedidos de confirmação e questões totais propriamente ditas ou verdadeiras. Dentro dessas categorias, a autora identifica valores diferenciados para o movimento da linha de F0 de acordo com expressão de atitudes, distinguindo perguntas neutras, com interesse, dúvida, crítica, indutiva, com provocação e com incredulidade. A observação do contexto pragmático de produção dos enunciados que fogem ao padrão ascendente-descendente no corpus aqui estudado leva a crer que o principal fator

87

determinante dessa diferenciação é justamente a expressão de atitudes, que, já se sabe, pode influenciar totalmente a prosódia de uma sentença. Fónagy (1993) apresenta crítica a uma metodologia de coleta de dados similar à nossa – a do jogo da verdade – por resultar em muitos dados de perguntas do tipo “questionário”. Ao fazer muitas perguntas repetidas, o caráter interrogativo dos enunciados poderia ficar subentendido na própria situação, levando o inquiridor a pronunciá-los de forma mais “desleixada”, isto é, sem se preocupar em dar à pergunta a entoação que seria necessária, em outro contexto comunicativo, ao entendimento por parte do interlocutor de que aquele enunciado se trata de uma interrogativa. Embora a situação do jogo tenha permitido obter bastantes interrogativas espontâneas, constatou-se que os falantes acabavam, em alguns momentos, produzindo padrões melódicos que se afastavam daqueles de traço /+ interrogativo/. Observando o contexto de produção desses enunciados, percebeu-se que os enunciados estavam, geralmente, inseridos em contextos pragmáticos específicos que favoreciam o entendimento do caráter interrogativo da sentença independentemente de sua entoação, como, por exemplo, no enunciado “Você pensou a sociedade de alguma maneira?”. A maioria dos enunciados classificados como sendo de IF descendente – em outras palavras, cujo contorno melódico possui traço /- interrogativo/ – possuía respostas óbvias, aproximando-se das perguntas confirmativas descritas pela literatura. Essas perguntas ocorrem, geralmente, quando o participante já tem quase certeza de quem é a personagem, ou quando já deduziu a resposta a partir da exclusão prévia de outras possibilidades. Por exemplo, se ele já perguntou “Você é mulher?” e a resposta foi “não”, sabe que a resposta para a pergunta “Você é homem?” muito provavelmente será “sim”. Esse é o caso, por exemplo, do enunciado representada no gráfico 12 (p. 71)

88

– “Uma personagem real?” – já que, tendo excluído anteriormente a possibilidade de a personagem ser fictícia, a resposta para essa pergunta era bastante previsível. Outro exemplo está no gráfico 15, abaixo, em que o jogador, após perguntar se a personagem “marcou a história do país”, receia não ter sido claro quanto ao país a que se referia, e pergunta, a título de confirmação: “Do nosso país?”. 150

100

50

Do Hz 103 Perc. 100,0% C. Est. 100

nos 115 11,7% 112

so 115 0,0% 112

pa 113 -1,7% 110

ís? 100 -11,5% 97

Gráfico 15: Enunciado “Do nosso país?” (FE)

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, buscou-se descrever a prosódia das interrogativas totais na variedade carioca do português brasileiro, fazendo ainda uma distinção entre as modalidades de fala espontânea e leitura e verificando a relevância fonológica das diferenças observadas entre os padrões encontrados. Tenciona-se, assim, contribuir para uma descrição acústica acurada do PB, que se acredita ser necessária para a aplicação dos conhecimentos linguísticos – e, mais especificamente, prosódicos – em áreas diversas, como o ensino de línguas, a terapia fonoaudiológica e o desenvolvimento de tecnologia de fala. 89

Os resultados da pesquisa mostram que, nos dados estudados, há prevalência de um contorno de final circunflexo para as interrogativas no Rio de Janeiro. O trabalho corrobora, assim, os padrões obtidos por Silva (2011), com dados de fala semiespontânea, para as cidades Rio de Janeiro e Florianópolis, diferindo dos padrões encontrados por essa autora para outras capitais brasileiras. A comparação com os trabalhos dos autores responsáveis pelo desenvolvimento do MAS, Cantero & Font-Rotchés (2007, 2013), bem como com o trabalho de Mendes (2013) para o português do estado de São Paulo, revela uma diferença significativa: os autores defendem a prevalência do contorno de IF ascendente, enquanto nesta pesquisa encontrou-se prevalência do contorno de IF circunflexo. Essa diferença, no entanto, pode ser devida à diferença no grau de espontaneidade das amostras utilizadas em cada um dos estudos. Conforme já foi observado, o corpus utilizado neste trabalho, embora receba a denominação de fala espontânea, refere-se a uma situação de fala bastante diferente dos programas de televisão utilizados por Cantero & Font e Mendes. É possível, portanto, pensar que a diferença na prevalência de um ou outro padrão deve-se ao estilo e grau de espontaneidade / monitoramento de fala; mas que os padrões encontrados para as interrogativas são, no geral, similares nos trabalhos sobre o português. É interessante também ressaltar que padrões similares são encontrados no espanhol e catalão, porém com valores diferentes para as margens de dispersão. Isso significa que os padrões apresentam configuração semelhantes, mas com valores diferentes de movimentos tonais. Para que um falante do espanhol compreenda, por exemplo, um enunciado de IF ascendente como uma pergunta, é necessário que esta apresente um ascenso final de mais de 70%. Uma subida tão acentuada seria, provavelmente, interpretada por um falante do português brasileiro como pertencente a

90

um enunciado enfático, uma vez que o padrão de IF ascendente, no PB, conta com um ascenso final entre 30% e 50%. Com relação aos estudos feitos com dados de fala controlada, os resultados diferem, em parte, daqueles obtidos por Moraes (2006), já que o autor encontra predomínio do padrão final ascendente. Por outro lado, a observação do contexto pragmático dos enunciados de contorno descendente confirma o que o autor revela sobre a influência da expressão de atitudes na prosódia das interrogativas, mais especificamente no tocante às perguntas confirmativas. A comparação entre fala espontânea e leitura mostra que os padrões são os mesmos nas duas modalidades, mas os falantes tendem a produzir um contorno nuclear ligeiramente mais acentuado em LE, revelando uma maior preocupação em produzir a melodia característica de uma pergunta quando lendo um texto. Algumas vezes, os informantes chegavam a interpretar o texto de forma um pouco teatral. Além disso, a leitura também foi mais suscetível a variações micromelódicas ao longo dos enunciados, fato que pode ser explicado pela maior duração dos enunciados nessa modalidade, proferidas mais lentamente.

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RESUMO O trabalho tem por objetivo analisar a prosódia das interrogativas totais – perguntas cuja estrutura assemelha-se à de declarativas, que podem ser respondidas com “sim” ou “não” –, comparando duas amostras de fala do Rio de Janeiro: uma de fala espontânea (FE) e uma de leitura (LE). O corpus consiste em (i) gravações de um jogo das personagens e (ii) na leitura, dias depois, dos diálogos entre os participantes do jogo pelos mesmos indivíduos. Os enunciados que compõem as duas partes do corpus contêm, portanto, o mesmo conteúdo proposicional, de maneira que qualquer diferença prosódica existente entre eles se deve unicamente à diferença entre FE e LE. A análise acústica e realização de testes de percepção baseou-se no Método de Análise Melódica da Fala de Cantero & Font-Rotchés (2009). Na pesquisa, observou-se que tanto as interrogativas espontâneas quanto as lidas confirmam a tendência geral de um padrão circunflexo para as perguntas no Rio de Janeiro, conforme descreve a literatura, embora na LE haja mais oscilações micromelódicas ao longo do contorno. Verificou-se que na FE houve maior predomínio do padrão de inflexão final ascendente-descendente, com menor ocorrência dos padrões alternativos. Além disso, nos dados de LE, a média de subida no acento nuclear foi maior do que na FE, revelando uma subida melódica mais saliente na leitura; e o padrão descendente, característico de assertivas ou perguntas parciais, minoritário em ambas as amostras, é um pouco mais recorrente na FE. Observou-se ainda que a ocorrência de contornos que fogem ao padrão estabelecido para as interrogativas está relacionada, geralmente, à expressão de atitudes ou situações pragmático-discursivas bastante específicas.

Palavras-chave: interrogativas, prosódia, comparação entre fala espontânea e leitura

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ABSTRACT

The work aims to analyze the prosody of yes/no questions, the structure of which resembles that of declarative sentences and may be answered with "yes " or "no", comparing two samples of speech from Rio de Janeiro: one of spontaneous speech and one of reading. The corpus consists of (i) recordings of a “characters game” and (ii) the reading of the dialogues between the participants of the game by the same individuals, days later. The sentences that compose the two parts of the corpus, therefore, contain the same propositional content, so that any prosodic difference between them is probably due to the difference between spontaneous speech and reading. Acoustic analysis and perception tests were done based on the Melodic Analysis of Speech method, from Cantero & Font-Rotchés (2009). It was observed that, in both speech styles, interrogatives confirm the general trend of a circumflex pattern for questions in Rio de Janeiro, as described in the literature, although, in the reading style, they show more micromelodic oscillations along the contour. Also in spontaneous speech there was a higher prevalence of the rising-falling final inflexion pattern, with fewer occurrences of alternative patterns. Furthermore, in reading data, the average increasing in the nuclear accent was higher than in spontaneous speech, revealing a more salient melodic rising for reading; and the descending pattern, typical of assertions or partial questions, is a little more recurrent in spontaneous speech. We also observed that the occurrence of non-interrogative patterns is often related to the expression of attitudes or to very specific pragmatic-discursive situations.

Keywords: prosody, interrogatives, questions, spontaneous speech versus reading

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ANEXO 1:

Ficha do informante e termo de aceitação

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ANEXO 2:

Transcrição das gravações dos jogos na íntegra

i. Informante T.S. (sexo feminino):

T.S.: É homem? R.M.: Sim. T.S.: É famoso? R.M.: Sim. T.S.: É velho? R.M.: Irrelevante. T.S.: É um personagem? R.M.: Sim. T.S.: De desenho animado? R.M.: Não. T.S.: Da novela? R.M.: Não T.S.: De uma campanha publicitária? R.M.: Não T.S.: De um livro? R.M.: Não. T.S.: De uma série? R.M.: Não. T.S.: De um filme? R.M.: Sim. T.S.: É um filme sobre guerra? R.M.: Sim. T.S.: É um filme famoso? R.M.: Sim T.S.: É... peraí. Não é famoso o filme? R.M.: Não. Sim, sim, sim! T.S.: Deixa eu pensar num filme. Tem guerra né? Tá. Tem uma história de amor no filme? 101

R.M.: Sim T.S.: Ele é o protagonista? R.M.: Não, mas depois a gente discute a questão. T.S.: Ele contracena com outro ator famoso? R.M.: Sim. T.S.: É um filme sobre a vida de alguém? R.M.: Não. T.S.: Não é sobre guerra, não é sobre alguém famoso. É ficção científica, o filme? R.M.: Sim. T.S.: O ator é bonito? Dizem que ele é bonito? Assim, as mulheres acham ele bonito? R.M.: Não sei. T.S.: Não sabe. Brincadeira. Essa pergunta era fundamental. Ele é americano? R.M.: Sim T.S.: Faz diferença pra mim, na verdade, se eu não sei a nacionalidade? PESQUISADORA: O ator ou o personagem? T.S.: Ah, isso é complicado, né? R.M.: Eu já tinha esquecido dessa questão. T.S.: O ator é americano? R.M.: Sim. T.S.: E o personagem? R.M.: Não. T.S.: Peraí. Ele contracena com alguma criança? R.M.: Não. T.S.: Não? Ele é alguém mais velho? Ele foi criança no filme e depois vira alguém mais velho ou...? R.M.: Sim. T.S.: Pô, ele não é bonito? (risos) Ele foi criança e aí depois vira adulto. Mas, eu vou perguntar agora outro personagem. O personagem fica velho? R.M.: Sim T.S.: E o personagem é criança? R.M.: Sim. T.S.: Eu quero saber se ele envelhece. Eu quero saber se o personagem envelhece ao longo do filme, se ele era criança e ele fica velho ou ao contrário, era criança, sei lá, era velho, virou criança. Ficção científica né? 102

R.M.: Não, não fez isso. T.S.: O ator tem cabelo loiro? R.M.: Não sei. T.S.: Ah, ele é um personagem tipo desenho? R.M.: Não. T.S.: Não. É um personagem de história em quadrinho? R.M.: Não. T.S.: Não? O personagem tem filho? R.M.: Sim. T.S.: Personagem é casado? Eu tô falando do personagem porque eu sei, já entendi que existe uma diferença. É irrelevante. Tá. R.M.: É irrelevante. T.S.: O personagem morre no filme? R.M.: Sim. T.S.: Peraí, rapidinho. PESQUISADORA: Há controvérsias. R.M.: É muito complexo. T.S.: O personagem se fantasia? R.M.: Sim T.S.: Se fantasia de preto? R.M.: Sim T.S.: Ele tem um carro? Ai, meu Deus! Eu perguntei se ele tem um carro especial. R.M.: Não T.S.: Ele tem um cavalo? R.M.: Não. T.S.: O personagem se fantasia de preto. Calma aí, é um filme, envelhece, se fantasia de preto. T.S.: Ele usa terno? R.M.: Não. T.S.: Peraí. O ator que interpreta ele não é famoso? R.M.: Não. T.S.: Eu já vi o filme? Brincadeira. R.M.: Não sei. T.S.: Ele se veste de preto, certo? Ele tem cabelo grande? 103

R.M.: É irrelevante. T.S.: É um filme de vampiro? R.M.: Não. T.S.: Nunca se sabe né? O filme é de ficção científica? R.M.: Sim. T.S.: E esse personagem é uma pessoa, representa uma pessoa no filme? R.M.: Sim. T.S.: Representa um cantor? R.M.: Não. T.S.: Outro ator? R.M.: Não. T.S.: O filme é americano? R.M.: Sim. T.S.: É sobre um escrito? R.M.: Não. T.S.: Sobre um político? R.M.: Não. T.S.: A roupa preta é um uniforme? R.M.: Sim. T.S.: O personagem é um super-herói? R.M.: Não T.S.: Aí é que dificulta. O personagem é um conquistador? R.M.: Não. T.S.: Conquistador de mulheres? R.M.: Não. T.S.: O personagem, o filme desse personagem tem, narra uma história real? R.M.: Não. T.S.: É ficção científica? R.M.: Sim. T.S.: E esse personagem entra numa aventura, no filme? R.M.: Sim. T.S.: Assim, uma aventura, não sei, vou dar um exemplo: pro futuro? Não? R.M.: Como assim? T.S.: Ué, não sei. Ele envelhece no filme? 104

R.M.: Sim. T.S.: Mas o personagem aparece criança, mesmo que interpretado por outro ator? R.M.: Sim. T.S.: O filme que ele aparece é a interpretação de algum romance? R.M.: Não. T.S.: Deixa eu pensar. No filme o personagem morre jovem? R.M.: Não. T.S.: Ele tem vida eterna? R.M.: Não. T.S.: Ele é um mágico? R.M.: Não. T.S.: Ele é um pirata? R.M.: Não. T.S.: Um personagem histórico? R.M.: Não. T.S.: Ele faz uma descoberta? R.M.: Não. T.S.: Ele constrói uma casa? R.M.: Não. T.S.: Esse personagem, a profissão do personagem é ator? R.M.: Não. T.S.: O personagem é contador de histórias? R.M.: Não. T.S.: O personagem é cozinheiro? R.M.: Não. T.S.: O personagem tem uma arma? R.M.: Sim. T.S.: A arma é uma espada? R.M.: Sim. T.S.: Peraí. Tem outros personagens famosos no mesmo filme? R.M.: Sim. T.S.: É um filme? R.M.: Sim.

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T.S.: Peraí. Ele tem uma espada né? E se veste de preto. Peraí, se veste de preto, tem uma espada. Ele virou vídeo game depois? R.M.: Sim. T.S.: Então ferrou. PESQUISADORA: O que é que não virou vídeo game? T.S.: É verdade, tudo vira vídeo game. A história se passa nos Estados Unidos? R.M.: Não. T.S.: O filme se passa, o filme que eu digo não o filme, a história mesmo onde o personagem está inserido se passa na Espanha? R.M.: Não. T.S.: Se passa no deserto? R.M.: Não. T.S.: No espaço? R.M.: Sim! T.S.: O personagem é mau? R.M.: Sim! T.S.: A espada dele é um negócio que tem uma luz? R.M.: Sim. T.S.: Peraí. Meu Deus, e agora que eu sei mas não sei qual o nome dele. Peraí. É daquele negócio das estrelas, é? R.M.: Sim. T.S.: Peraí. Caraca, eu não via isso. Peraí. Sei que ele é mau né? E usa um capacete. R.M.: Sim. T.S.: Não adiantava. Eu não sei se o nome que eu vou dizer, eu vou chutar, mas eu não sei se esse nome corresponde ao personagem porque eu não, não vi. É o Darth Vader. R.M.: Sim.

ii. Informante T.M. (sexo feminino):

T.M.: É uma mulher ou um homem? A.S.: É sim ou não. T.M.: Ué, não entendi. 106

A.S.: Só pode ter uma resposta ‘sim’ ou ‘não’. T.M.: Entendi. É mulher? A.S.: Não. T.M.: É homem? A.S.: Sim. T.M.: É... famoso? A.S.: Sim. T.M.: É de desenho animado? A.S.: Não. T.M.: É real? A.S.: Sim. T.M.: É histórico? A.S.: Depende de que ponto de vista, não sei. T.M.: Fez parte da história? A.S.: Não. T.M.: É um herói? A.S.: Não. T.M.: É cabeludo? A.S.: Sim. T.M.: Gente, eu não sei mais o que perguntar... É de... age em conjunto? A.S.: Sim... T.M.: É político? A.S.: Não. T.M.: Eu já, eu já esqueci todas as perguntas que eu fiz! (risos) É... posso repetir pergunta? PESQUISADORA: Pode. T.M.: É desenho? A.S.: Não. T.M.: É histórico, né? A.S.: Não, não é histórico. T.M.: Não? É... É real, né? A.S.: É real, sim. T.M.: É político? A.S.: Não! (risos) T.M.: É porque... real, hist-, real assim... É importante? Ele... 107

A.S.: Pra mim é. T.M.: É cantor? A.S.: Sim. T.M.: Aaah, já mudei um pouquinho a minha, meu pensamento! Ele canta música sertaneja? A.S.: Não. T.M.: Olha, eu sou péssima com, com música, hein! (risos) Ele canta? A.S.: Sim. T.M.: Ele faz carreira solo? A.S.: Não e depois sim. T.M.: Tem uma banda? A.S.: Não. T.M.: Não? É só o nome dele? A.S.: Não e depois sim. Tô te dando dica ainda, né. T.M.: É nome composto? A.S.: Não. T.M.: Gente... Não é sertanejo? A.S.: Não. T.M.: É... rock? A.S.: Sim. T.M.: É brasileiro? A.S.: Sim. T.M.: É famoso? A.S.: Sim. T.M.: Conhecido? A.S.: Sim. T.M.: Toca em novela? A.S.: Sim. T.M.: Gente, mas tem tanto rock brasileiro conhecido. Eu posso chutar os nomes ou eu tenho que continuar até chegar o final? PESQUISADORA: Pode, mas eu acho que é mais difícil, né, você tentar chutar os nomes. T.M.: É porque tem muitas bandas assim, sei lá, que são muito parecidas, aí pode ter várias, as respostas vão ser as mesmas. A.S.: Não. T.M.: Não? Tem diferencial? 108

A.S.: Sim. T.M.: Ele tá vivo? A.S.: Não. T.M.: Humm... É, é um só? Não é uma banda. A.S.: Sim. T.M.: Posso chutar? PESQUISADORA: Uhum. T.M.: Charlie Brown Jr.? A.S.: Não. T.M.: É antigo? A.S.: Sim. T.M.: Tá vivo? Não, né. A.S.: Não. T.M.: Ai, tem tantos... Toca... rock, né? Não MPB. A.S.: Sim, também. T.M.: É... Ele... morreu... de, sei lá, alguma doença, algo trágico? A.S.: Sim. T.M.: Posso continuar chutando? Cazuza? A.S.: Sim! T.M.: Aaaah! A.S.: Não foi difícil!

iii. Informante I.O. (sexo feminino):

I.O.: É homem? S.S.: É. I.O.: É real? S.S.: Não. I.O.: É um personagem? S.S.: Sim. I.O.: De um livro? S.S.: Não. 109

I.O.: De um filme? S.S.: Não. I.O.: Quadrinho? S.S.: Não. I.O.: Folclore? S.S.: Não. I.O.: É um bicho, não? S.S.: Não. I.O.: É criança? S.S.: Não. I.O.: É duma novela? S.S.: Não. I.O.: Tem a ver com a televisão? S.S.: Tem, tem. Tem a... I.O.: É antigo? S.S.: Sim, sim. I.O.: Muito antigo? S.S.: Sim. Muito. I.O.: De desenho? S.S.: Não. I.O.: É um homem normal? S.S.: Não. I.O.: É sobrenatural o personagem? S.S.: Não, não é sobrenatural. I.O.: Tem poder? S.S.: Não. I.O.: Não é normal... É um objeto? S.S.: Não. I.O.: É uma pessoa? S.S.: Sim. I.O.: É um E.T.? S.S.: Não. I.O.: Então é uma pessoa. Mas tem alguma coisa de diferente. Alguma coisa diferente. S.S.: Sim. 110

I.O.: Personagem... da TV? Aparece na TV? S.S.: Sim. PESQUISADORA: Também. Mas não surgiu na TV. S.S.: É... é. PESQUISADORA: Não é exclusivamente da TV. I.O.: Aparece em livros? S.S.: É menos, é menos da TV... pode fa-, é menos da TV, tem mais a ver com outra coisa que TV. I.O.: É de livros? S.S.: Não. I.O.: Aparece o quê, nas ruas? S.S.: Sim. I.O.: Um personagem antigo que aparece nas ruas... S.S.: Sim. I.O.: Não entendi agora a definição de personagem... Ele é, ele é tipo um personagem único ou é tipo uma definição de alguma coisa? S.S.: Não tem como eu dizer isso... I.O.: É um personagem? É um, um mesmo... S.S.: Sim, sim. I.O.: É uma coisinha, não é tipo “ah, a pessoa que faz isso”, é UM personagem? S.S.: Sim, sim. I.O.: Que existe há muitos e muitos anos. PESQUISADORA: Tem até nome. S.S.: É. I.O.: Ok. Então, não é do folclore, gente? S.S.: Não. I.O.: É o Papai Noel? S.S.: Não. (risos) I.O.: Tem a ver com Papai Noel? S.S.: Não. I.O.: O meu é mais difícil... PESQUISADORA: É, eu acho que o seu é mais difícil mesmo. I.O.: Eu não tô conseguindo imaginar que tipo de criatura que é... Na TV, tá, ele aparece em, em algum filme? 111

S.S.: Não. I.O.: Tá, então ele aparece numa novela? S.S.: Não. I.O.: Nos, nos programas de televisão? S.S.: Não. I.O.: Então aparece... nos comerciais? S.S.: Sim. I.O.: Ah, tá bom, melhorou. Tá. Existe um ator por trás do personagem? S.S.: Sim. I.O.: Ah, podia ser desenho. S.S.: Não. PESQUISADORA: É, acho que existem as duas coisas. S.S.: E, é, sim. PESQUISADORA: Acho que existem as duas versões. I.O.: Aparece nos comerciais... Um comercial só? S.S.: Sim. I.O.: De uma marca? S.S.: Sim. I.O.: Aah, tá. É aquele cara do comercial da C&A? S.S.: Não. (risos) I.O.: Esse não é tão velho assim... Muito, muito antigo, tipo, já morreu? O ator? S.S.: Não. I.O.: O ator morreu? S.S.: Não. Não. É, como é que... I.O.: Vários atores fizeram esse personagem? S.S.: Não sei. PESQUISADORA: Creio que sim, não sei. I.O.: Quando foi criado, vê aí. S.S.: Já vi, só não posso falar. PESQUISADORA: É, ela não pode falar. I.O.: Tá, mas... uma pessoa pode tá viva com esse tempo aí? S.S.: Sim. I.O.: De uma marca de... De uma marca específica, né? S.S.: Sim. 112

I.O.: É uma marca de um produto... É um produto? Pra vender, pra consumo? S.S.: Sim. I.O.: Roupa? S.S.: Não. I.O.: Algum produto doméstico? S.S.: Não. I.O.: Livros? S.S.: Não. I.O.: Vende plano de saúde? S.S.: Não... PESQUISADORA: É algo tão corriqueiro... I.O.: Luz? Água? Telefone? Internet? S.S.: Não, não, não... PESQUISADORA: É muito mais corriqueiro que tudo isso. I.O.: Pra vender uma coisa... S.S.: Pra, pra ela então... I.O.: Comida?! S.S.: Sim. (risos) I.O.: Vende comida... É o Ronald?! S.S.: É! I.O.: Aaaai! Ah, não foi tão... Né? Foi rapidinho!

iv. Informante P.B. (sexo feminino):

P.B.: Seu personagem é real? G.G.: Não. P.B.: Seu personagem é do sexo feminino? G.G.: Sim. P.B.: Ele participa de desenho animado? G.G.: Sim. P.B.: Esse desenho animado é antigo? G.G.: Não. 113

P.B.: Esse desenho animado passa na Globo? G.G.: Não. P.B.: É... Esse personagem é um animal? G.G.: Não. P.B.: É... Esse personagem... Não sei mais, gente. G.G.: Que nervoso. P.B.: Ele não passa na Globo, eu não vejo televisão... É... Ele é um personagem, ele é, de desenho animado, né? G.G.: Isso, sim. P.B.: Um desenho animado da televisão? G.G.: Não. P.B.: É de gibi? G.G.: Não. P.B.: É um personagem da literatura? G.G.: Não. P.B.: É... Não é de gibi, não é da literatura, não passa na televisão... (risos) É um... personagem... folclórico? G.G.: (risos) Não! P.B.: O que acontece se eu não adivinhar? PESQUISADORA: Eu pego o Bis de volta! (risos) P.B.: Esse personagem... Tem direito a dica? PESQUISADORA: Só se estiver muito difícil. G.G.: Tá indo pelo caminho errado. P.B.: Esse personagem é bem famoso? G.G.: Sim. P.B.: Mas esse personagem passa em algum programa de televisão? G.G.: Não, não. P.B.: Gente, eu não sei brincar... É... Esse personagem é um super-herói? G.G.: Não. P.B.: Gente, eu não conheço esse personagem, não é da televisão, nem de revis-, nem de livro, nem de gibi. G.G.: Tem uma coisa que você não falou. P.B.: É um personagem de revista? G.G.: Não. (risos) 114

P.B.: De filme? G.G.: Siiim. (risos) P.B.: É uma animação infantil? G.G.: Siiim! P.B.: É... Esse personagem... é... verde? G.G.: Não. P.B.: Não? Esse personagem é... Essa animação é recente? G.G.: Não. P.B.: É, ele não é um animal? G.G.: Não. P.B.: Esse... Esse personagem... Dá uma dica. G.G.: Continua nessa linha. P.B.: Então ele é de fi, de animação, antiga... Esse personagem... é... luta nessa animação? G.G.: Não. P.B.: Você conhece essa animação? G.G.: Sim. (risos) PESQUISADORA: Ele conhece todas as animações! (risos) P.B.: É uma menina, né? G.G.: Siiim. Ai, é muito fácil. P.B.: Esse filme... É um filme, né? G.G.: Sim. P.B.: Esse filme ganhou algum Oscar? G.G.: Não sei agora! (risos) PESQUISADORA: Acho que não. G.G.: Acho que não também. P.B.: Então eu não conheço a animação. É bem conhecida a animação? G.G.: Sim. P.B.: É, esse personagem... come macarrão no filme, nessa animação? G.G.: Não. (risos) P.B.: Esse personagem usa vestido vermelho? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem... Não é antigo, né? G.G.: Não. P.B.: Ah, não! Peraí, é antigo ou não é? 115

G.G.: Não. P.B.: Não é antigo. PESQUISADORA: É melhor você fazer uma pergunta mais precisa... G.G.: É! (risos) PESQUISADORA: “Antigo” pode ser um pouco subjetivo... P.B.: Ah, é. Antigo pra mim não é antigo pra D. Né? G.G.: (gargalhando) P.B.: Esse personagem... Essa animação tem mais de dez anos? G.G.: Sim. Sim. P.B.: Tem mais de quinze? G.G.: Sim. P.B.: É um clássico? G.G.: Sim. P.B.: É... Esse personagem participa do... De “Alice no País das Maravilhas”? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem participa do Mágico de Oz? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem... participa de... Esse personagem deve ser da minha infância? G.G.: Sim. P.B.: Esse personagem usa sapato rosa? G.G.: Não. P.B.: Gente, eu não... PESQUISADORA: Continua nessa linha. P.B.: Esse personagem usa sapato vermelho? G.G.: Não. P.B.: Então não é a Dorothy. Esse personagem... Esse personagem é loiro? G.G.: Não. P.B.: Não? Esse personagem é da Disney, essa animação é da Disney? G.G.: Sim. P.B.: Esse personagem é uma das Princesas? G.G.: Sim. P.B.: Esse personagem namora uma Fera? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem... é... tem uma madrasta má? 116

G.G.: Não. P.B.: Esse personagem... vive... namora o... Aladdin? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem usa vestido amarelo? G.G.: Não. P.B.: Esse personagem é uma sereia? G.G.: Não. P.B.: É uma das Princesas? G.G.: Sim. PESQUISADORA: É? Não sei, é? G.G.: Sim! P.B.: Esse personagem dorme muito? (risos) G.G.: (gargalhando) Não. Tá faltando uma. P.B.: Esse personagem... peraí. Esse personagem tem trança grande? Não, ela não é uma princesa. G.G.: Não. P.B.: É... Aurora... O nome desse personagem não começa com C? G.G.: Não. P.B.: O nome desse personagem começa com A? G.G.: Não. P.B.: O nome desse personagem começa com B? G.G.: N ão. P.B.: O personagem é principal na animação? G.G.: Sim. P.B.: Ah é, porque é uma das Princesas. Não começa com A, não começa com B. Não começa com A. Não começa com R? G.G.: Não. P.B.: Não começa com... A? G.G.: Não. (risos) Não começa com A? P.B.: Porra... Acabaram as minhas... PESQUISADORA: Tá faltando alguma... G.G.: Faltou a única. PESQUISADORA: Tem certeza que ela é uma das Princesas? G.G.: Tenho. 117

P.B.: Pô, as Princesas que eu conheço são: a Aurora, a Branca de Neve, a Cinderela, a Bela... A Bela namorou a Fera, então... a Ariel... Acabou. PESQUISADORA: É, eu não sei, assim, eu não sei se é uma das Princesas pelo menos desses produtos que tem agora das Princesas... G.G.: É. PESQUISADORA: Mas é uma dessas personagens aí. PESQUISADORA: Tem até uma outra também que você não falou, que não é a resposta mas que você também não lembrou. G.G.: Ah, é verdade. Já sei qual você tá falando... Você esqueceu as duas na verdade. E as duas tem uma característica em comum. P.B.: Essa princesa... PESQUISADORA: Ela tem algo de bem diferente das outras. G.G.: Exatamente. P.B.: É feia? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa é negra? G.G.: Não... Mas vai por aí. P.B.: Essa princesa não é a do Aladdin, não é a Jasmin. G.G.: Não. PESQUISADORA: Pergunta sobre as características físicas dela. P.B.: Essa princesa é gorda? G.G.: Não. (risos) P.B.: Essa princesa é... não é preta. G.G.: Não. (risos) P.B.: Essa princesa... tem cabelo curto? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa... foi transformada em um brinquedo? G.G.: Não. P.B.: Não? Ó... Essa princesa... não é feia? G.G.: Não. P.B.: Gente, me mata, porque... Essa princesa é má? G.G.: Não. PESQUISADORA: O problema é que você tá pensando nas opções que você já lembrou. Só que você ainda não lembrou dela... 118

G.G.: Você esqueceu duas, na verdade. PESQUISADORA: Você tem que ir fazendo perguntas pra você lembrar dessa. Você ta tentando perguntar já direcionado pras que cê tem na cabeça. P.B.: Eu sou muito ruim nisso. G.G.: Eu vou demorar uma hora também. P.B.: Essa princesa tem cabelo laranja? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa tem cabelo verde? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa tem o cabelo colorido? G.G.: Não. (risos) P.B.: Tem certeza que ela não pinta o cabelo? PESQUISADORA: Tenho certeza que ela não pinta o cabelo! G.G.: Absolutíssima! P.B.: Essa princesa tem cabelo branco?! G.G.: (risos) Não. P.B.: Essa princesa tem cabelo preto? G.G.: Sim. P.B.: Essa princesa é morena? G.G.: Sim. P.B.: Mas não é negra? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa beija um sapo? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa... é morena...Essa princesa tem um namorado? G.G.: Sim. P.B.: O namorado dessa princesa... Essa princesa trabalha? G.G.: Não... Sim, na verdade sim. P.B.: Trabalha? Essa princesa... G.G.: Trabalha ela? PESQUISADORA: É... Trabalha. P.B.: Essa princesa é prostituta? (risos) Sei lá, vocês tão duvidando do trabalho dela... É uma princesa diferente. G.G.: Princesa da rua! 119

PESQUISADORA: Ela trabalha, ela só não ganha dinheiro em troca. G.G.: É, exatamente. P.B.: Ela não limpa o chão? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa é cozinheira? G.G.: Não. Continua no namorado. PESQUISADORA: Ou na, ou no trabalho. G.G.: É. P.B.: Essa princesa... tem um namorado pobre, não? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa se torna princesa porque casa com o namorado rico? G.G.: Não. P.B.: Cara, eu sou muito idiota... A gente tem que ficar perguntando até adivinhar? PESQUISADORA: Não, se você quiser desistir... Mas é que ta tão perto! G.G.: Quando conseguir adivinhar você vai ficar muito puta. P.B.: Essa princesa É da Disney? PESQUISADORA: Pára de pensar que ela é uma princesa, porque... Acho que ela não é, ela não se torna princesa exatamente,né? G.G.: Não, ela já é. PESQUISADORA: Ah, é, ela já é princesa... Ce sabe, vê que de animação ele entende, as histórias ele sabe de cabo a rabo. P.B.: Mas eu não sei. Vou até mudar meu personagem pra ficar mais difícil. É, essa princesa... hum... deixa eu pensar... G.G.: Eu acho que pelo príncipe tava mais fácil. Pelo namorado. Pelo namorado não é mais fácil? PESQUISADORA: Talvez... Tanta coisa que ela pode perguntar... Sobre o local onde ela mora, por exemplo. G.G.: É, acho que esse mataria, talvez. P.B.: Mataria se eu tivesse ideia de quem seja a princesa. Essa princesa é brasileira? G.G.: Não. P.B.: Essa princesa mora na selva? G.G.: Sim. P.B.: Essa princesa... essa, o namorado dessa princesa faz “Ô-ô-ôôôô”? (gargalhadas) 120

G.G.: Não... P.B.: Porra, essa princesa não... Essa princesa não é a Jane? A Jane não é uma princesa. Mas ela mora na selva? G.G.: Sim. P.B.: Essa princesa vai à luta? G.G.: Sim. P.B.: Se faz de homem pra ir à luta? G.G.: Não. PESQUISADORA: Não, agora você lembrou da outra! G.G.: Lembrou da outra! P.B.: Essa, o nome dessa princesa começa com P? G.G.: Sim! P.B.: Com “Po”? G.G.: Sim. P.B.: É a Pocahontas?! G.G.: Graças a Deus!

v. Informante R.M. (sexo masculino):

R.M.: Você é mulher? D.G.: Não. R.M.: Você é homem? D.G.: Sim. R.M.: Uma pessoa? D.G.: Não. R.M.: Um personagem? D.G.: Sim. R.M.: De filme? D.G.: Não R.M.: Desenho animado? D.G.: Não. R.M.: Literatura? 121

D.G.: Não. R.M.: Quadrinhos? D.G.: Não. R.M.: É um animal? D.G.: Não. R.M.: É uma coisa? D.G.: Não. R.M.: Eu não faço ideia do que você é? D.G.: Sim! (risos) R.M.: Teatro? D.G.: Não. R.M.: Não faço ideia. Homem já perguntei, né? Qual sua profissão, se tiver? PESQUISADORA: Ele só pode responder “sim ou não”. R.M.: Ah, tá! É verdade. Esqueci. Você tem uma profissão? Uma ocupação? D.G.: Sim. R.M.: Esquisito. É um personagem de ficção? D.G.: Sim. R.M.: É um personagem bíblico? D.G.: Não. R.M.: Isso é horrível. PESQUISADORA: Tenta fazer outras perguntas, sobre outras coisas, pra ver se de repente não... R.M.: Tô tentando. É um personagem, não sei, da televisão? D.G.: Sim. R.M.: Seriado? D.G.: Não. R.M.: Algum programa? D.G.: Não. R.M.: Minissérie? D.G.: Não. R.M.: Baseado num personagem real? Eu tô olhando... D.G.: Não. R.M.: Tem algum bordão famoso? D.G.: Não. 122

R.M.: Você fala? D.G.: Sim. R.M.: Nacional? D.G.: Não. R.M.: Americano? D.G.: Sim. R.M.: É humorístico? D.G.: Sim. R.M.: Tem parentes? D.G.: Não sei. R.M.: Que bom. Você acabou de se inventar? D.G.: Não. R.M.: Eu posso desistir? PESQUISADORA: Pode, mas não é tão difícil assim né? R.M.: Não tá parecendo. PESQUISADORA: É famoso, é famoso. A gente pode dar essa dica. D.G.: Era essa pergunta que eu queria que você fizesse. R.M.: Eu imaginei. PESQUISADORA: Já te dei uma dica, é famoso. R.M.: É de novela? Não, claro que não. Nem filme, nem seriado. PESQUISADORA: Nossa, o Rafael tá tão nervoso que parece que tá valendo a vida dele. R.M.: Questão de honra agora. R.M.: É um personagem antigo? D.G.: Sim. R.M.: Século XX? D.G.: Sim. PESQUISADORA: Desiste? D.G.: Faz perguntas. PESQUISADORA: É, não desiste não. Não é tão difícil assim. R.M.: Isso não é de filme, isso não é de série... PESQUISADORA: Tenta fazer... D.G.: Então, você já excluiu tudo, falta só uma coisa que você não falou. R.M.: Eu não tô lembrando. Já perguntei teatro... PESQUISADORA: Tenta fazer outras perguntas aleatórias assim. 123

R.M.: É difícil fazer perguntas aleatórias sobre uma coisa que eu não sei bem o que que é. PESQUISADORA: Pergunta sobre a aparência física. R.M.: É alto? D.G.: Sim. R.M.: Uma pessoa, né? Morena? D.G.: Não. R.M.: Tem cabelo? D.G.: Sim. R.M.: Loiro? D.G.: Não. R.M.: Ruivo? D.G.: Sim. R.M.: O intérprete desse personagem é famoso? D.G.: Não. R.M.: Eu devia ter almoçado antes. Tô me sentindo mal. D.G.: Esse tá mais divertido, né, que o anterior? R.M.: Eu também tô achando. Tem alguma outra característica bastante específica além do cabelo ruivo? D.G.: Sim. R.M.: Se refere ao vestuário? D.G.: Sim. R.M.: Em termos de vestuário, usa cores vivas? D.G.: Sim. R.M.: Algo como um terno? D.G.: Não. R.M.: Cobre o corpo todo? D.G.: Sim R.M.: Preferia fazer prova de Port. Interage com algum outro personagem tão famoso quanto? D.G.: Não. PESQUISADORA: Uma dica? Deixa ver uma dica que não logo entregue tudo. R.M.: Vai pensando aí. PESQUISADORA: Ele interage com outros personagens sim, mas não tão famosos quanto. R.M.: Alguma parte do seu corpo é, não sei, maior que as demais, chama a atenção? 124

D.G.: Sim. R.M.: Não é de desenho animado? D.G.: Não. R.M.: Não é? Tá. Deixa eu desistir, não aguento mais. PESQUISADORA: Tá bom, pode desistir se quiser. D.G.: Dá a dica pra ele de onde ele aparece. PESQUISADORA: Tá, ele é um personagem fictício que é garoto propaganda de uma empresa. D.G.: Era isso: propaganda. R.M.: Jamais ia pensar nisso. D.G.: Mas é muito famoso. R.M.: Personagem americano? D.G.: Isso. R.M.: Vende um produto americano? D.G.: Isso R.M.: É um produto doméstico? D.G.: Não. R.M.: É um produto físico? D.G.: Sim. PESQUISADORA: Pergunta mais sobre o produto que você chega lá. Não, tô ajudando porque se não a gente não sai daqui hoje. R.M.: Já falei? PESQUISADORA: Não, é importante assim, é que sabendo o produto ele descobre rápido quem é o garoto propaganda. R.M.: É eletrodoméstico? Ou algo do tipo? D.G.: Não. R.M.: Roupa? D.G.: Não. Vou dar uma dica: é o que a gente mais deseja. R.M.: Comida? D.G.: Isso! Sim! PESQUISADORA: R. não tá com fome. R.M.: É um restaurante? D.G.: Sim. R.M.: Uma lanchonete? 125

D.G.: Sim. R.M.: É o Ronald Mcdonald. D.G.: É! (risos)

vi. Informante C.F. (sexo masculino):

C.F.: Você é de desenho animado? P.C.: Não. C.F.: Você é de filme? P.C.: Não. C.F.: Você é de série? P.C.: Não. C.F.: Você é de videogame? P.C.: Não. C.F.: Você é de livro? P.C.: Não. C.F.: Você é de novela? P.C.: Não. C.F.: Você é... da História? P.C.: Também. C.F.: Você é de... sei lá, de uma história... inventada? P.C.: Não. C.F.: Você é de uma história real então? P.C.: Sim. C.F.: Você nasceu na Idade Média? P.C.: Não. C.F.: Idade Moderna? P.C.: Sim. C.F.: Você tava na Revolução Industrial? P.C.: Não. C.F.: Você tava na Revolução Francesa? P.C.: Não. 126

C.F.: Você tava... hum... na Independência? P.C.: Não. C.F.: Você tava na Independência do Brasil? P.C.: Não. C.F.: Você tava na... você é um autor de livro? P.C.: Não. Não sou nenhum escritor. C.F.: Você... É um filósofo? P.C.: Não. C.F.: Você é... você pensou a sociedade de alguma maneira? P.C.: Sim. C.F.: Você... escreveu algum livro? P.C.: Não. C.F.: Você fez algum ato? P.C.: Não. C.F.: Você fez... Você viajou? P.C.: Não. C.F.: Você é da Europa? P.C.: Não. C.F.: Você é da América Latina? P.C.: Sim. C.F.: Você é da América Latina da parte dominada pelos espanhóis? P.C.: Não. C.F.: Você é da América Latina, do Brasil? P.C.: Sim. C.F.: Você é da região sul? P.C.: Sim. C.F.: Você... Você é Anita Garibaldi? P.C.: Não. C.F.: Você... Você é homem? P.C.: Sim. C.F.: Você lutou em alguma causa? P.C.: Não. C.F.: Eu não sei se eu to indo bem... (risos) Você... tá, você não lutou em nenhuma causa, você... Você não participou de nenhum movimento de revolução? 127

P.C.: Sim. C.F.: Você... fez uma, você participou de um movimento cultural, econômico... Cultural? P.C.: Não. C.F.: Econômico? P.C.: Sim. C.F.: Tá. Você inventou algum produto útil? P.C.: Não. C.F.: Você... Você era de algum movimento separatista? P.C.: Não. C.F.: Você... Você não era de um movimento separatista, você era do sul do Brasil... Idade Moderna, mais de mil e oitocentos? P.C.: Sim. C.F.: Mil oitocentos e... setenta? P.C.: Não. C.F.: Mil e novecentos? P.C.: Por aí. C.F.: Mil e novecentos... Você foi presidente? P.C.: Sim. C.F.: Você... Você é o Juscelino? P.C.: Não. (risos) C.F.: Você foi presidente do Brasil? P.C.: Sim. C.F.: Você... foi o... Você só teve um mandato? P.C.: Não. C.F.: Você teve dois mandatos? P.C.: Não. C.F.: Você teve mais de dois mandatos? P.C.: Sim. C.F.: Você teve três mandatos? P.C.: Sim. C.F.: E você fazia parte de alguma oligarquia? P.C.: Sim. C.F.: Você... Você... Você fez algum plano? Econômico, com o dinheiro...? Com moeda? P.C.: Não, não. 128

C.F.: Você... É homem, você foi presidente da nação, você é sulista... Gente, não sei. Você é um líder. Você foi importante pra história do Brasil? P.C.: Muito. C.F.: Foi muito importante pra história do Brasil. Tá. Você... Você foi presidente do Brasil? P.C.: Sim. C.F.: Tá. (risos) Você... Você não foi Tancredo Neves? P.C.: Não. C.F.: Tá. Você... Você é da República? P.C.: Sim. C.F.: Tá. Você... não é D. Pedro I... P.C.: Não. C.F.: Você não é D. Pedro II... P.C.: Não. C.F.: Você... Você não foi um ditador? P.C.: Sim. C.F.: Ah, você é Getúlio? P.C.: Sim! C.F.: Getúlio é mais de 1900, Pedro! P.C.: Eu falei sim! Eu falei POR AÍ! C.F.: Ah, eu pensei menos...

vii. Informante G.G. (sexo masculino):

G.G.: É um personagem? P.B.: Sim. G.G.: Personagem real? P.B.: Real. G.G.: É um personagem brasileiro? P.B.: Não. G.G.: Americano? P.B.: Não. G.G.: Europeu? 129

P.B.: Não. G.G.: Asiático? P.B.: Não. G.G.: Da selva? P.B.: Não. G.G.: Da Oceania não é, né? P.B.: Não. G.G.: É um personagem de um filme? P.B.: Não. G.G.: Da literatura? P.B.: Não. G.G.: Pô... É... Do teatro? P.B.: Não. G.G.: Uma personagem real? P.B.: Como é que a gente vai definir o real? (risos) G.G.: A teoria do real! (risos) P.B.: É, é um real, é um real. G.G.: É um personagem real que foi... ficcionalizado em alguma manifestação artística? P.B.: Faz pergunta mais fácil por favor? (risos) G.G.: Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme? P.B.: Não. G.G.: É um político? P.B.: Não. G.G.: É um artista? P.B.: Não. Ah, então, é fictício, fictício. (risos) G.G.: (risos) É um personagem fictício? P.B.: É. G.G.: Não é da literatura... P.B.: Não. G.G.: Não é do cinema... P.B.: Não. G.G.: Não é do teatro? P.B.: Não. G.G.: Novela? 130

P.B.: Não. G.G.: É um, esse personagem tem nacionalidade? P.B.: Hum? G.G.: Tem nacionalidade esse personagem? P.B.: Tem. G.G.: É homem? P.B.: Não. G.G.: É mulher? P.B.: Sim. G.G.: Ela é alta? P.B.: Não. G.G.: Ela é baixa? P.B.: Sim. G.G.: Loira? P.B.: Não. G.G.: Morena? P.B.: Sim. G.G.: Bonita? P.B.: Isso é subjetivo. G.G.: Não é a Dorothy não, né? P.B.: Não. G.G.: Você falou da Dorothy... Deixa eu pensar... Ela mora com alguém? P.B.: Mora. G.G.: Com marido? P.B.: Não. G.G.: Filhos? P.B.: Não. G.G.: Animais? P.B.: Não. G.G.: Mãe, pai? P.B.: Peraí, faz uma pergunta de cada vez. G.G.: Com a mãe? P.B.: Não. G.G.: Com o pai? 131

P.B.: Sim. G.G.: Cinderela? Não, não é do filme. P.B.: É, ela não é de um filme. G.G.: Ah é, desculpa. Ela mora com o pai. Personagem fictício e mora com o pai. E a casa dela é grande? P.B.: Não. G.G.: Ela é pobre? P.B.: É. G.G.: Ela mora com o pai, uma mulher morena que mora com o pai e é pequena. E é pobre. P.B.: É. G.G.: Classe C, né? P.B.: É. Talvez. (risos) G.G.: Não é brasileira? P.B.: Não. G.G.: Africana? P.B.: Não. G.G.: Mas ela tem uma nacionalidade? P.B.: Sim. Todo mundo tem uma nacionalidade. G.G.: Mas essa nacionalidade é... real? De um país que existe? P.B.: Sim. G.G.: Esse país tá na Europa? P.B.: Não. G.G.: Vou voltar aos continentes. Na América? P.B.: Sim. G.G.: Do Sul? P.B.: Sim. G.G.: É uma personagem argentina? P.B.: Sim. G.G.: É a Mafalda. P.B.: Não. A Mafalda mora com o pai? G.G.: Sei lá. (risos) É... P.B.: Você faz umas perguntas muito difíceis. G.G.: Mais simples, tem que simplificar? P.B.: Uhum. 132

G.G.: Tá... Ela fala, essa personagem? P.B.: Sim. G.G.: E ela tem amigos? P.B.: Tem. G.G.: Ela é jovem? P.B.: É. G.G.: Estuda? P.B.: Sim. G.G.: É a Mônica? P.B.: Não. G.G.: Magali, não, né? P.B.: Não. G.G.: Ela tem algum animal de estimação? P.B.: Não. G.G.: A mãe dela morreu? P.B.: (silêncio) G.G.: A mãe dela não existe. P.B.: É. G.G.: E ela tem outros parentes? P.B.: Não. G.G.: Não é um personagem de... televisão? P.B.: É. G.G.: Ah, é de televisão? P.B.: É. Você não tinha perguntado se era de televisão. G.G.: É. Não é de novela? P.B.: Não. G.G.: É de desenho? P.B.: Não. G.G.: De uma série? P.B.: Sim. G.G.: De uma série brasileira? P.B.: Não. G.G.: É do Chaves, é um personagem do Chaves? P.B.: Sim. 133

G.G.: É a Chiquinha! (risos)

viii. Informante T.A. (sexo masculino):

T.A.: É... É homem? W.M.: Sim. T.A.: É um personagem histórico? W.M.: Sim. T.A.: Bom, a sua pergun-, a sua resposta não foi... foi uma coisa, mas sua cara fez outra, então... (risos) É... é de ficção? W.M.: Não. T.A.: Tá. Ficou claro. É... Em termos de aparência física, tem é... é negro? W.M.: Não. T.A.: É branco? W.M.: Sim. T.A.: É loiro? W.M.: Essa eu não sei responder. T.A.: Não tem cabelo? Tem cabelo? W.M.: Sim. T.A.: De alguma forma marcou a história? W.M.: Sim. T.A.: Do país? (...) Do país? W.M.: Sim. T.A.: Do nosso país? W.M.: Não. T.A.: Tem limite de perguntas ou... PESQUISADORA: Não, pode perguntar o quanto você quiser. T.A.: O problema são as perguntas. W.M.: Uhum. T.A.: Que não tá me dando dica boa. W.M.: Por isso que eu deixei você primeiro.

134

T.A.: Ah-ah, esperto! É... Meu Deus. Você disse que é branco mas que não é loiro, tem cabelo. Cabelo preto? W.M.: Não sei. T.A.: Esse personagem é histórico... É... Alguma coisa a ver com, é algum personagem assim tipo revolucionário, fez algum feito revolucionário...? W.M.: Sim. T.A.: Foi... presidente? W.M.: Não. T.A.: Tá ligado à política? W.M.: Não. T.A.: Tá ligado à... à arte? W.M.: Sim. T.A.: À arte literatura? W.M.: Não. T.A.: Não? À arte... era pintor? W.M.: Sim. T.A.: Era... francês? W.M.: Não. T.A.: Era... quer dizer, ou é, né, não sei. Ele tá vivo? W.M.: Não. T.A.: É americano? W.M.: Não. T.A.: É brasileiro? W.M.: Não. T.A.: (risos) É alemão? W.M.: Não. T.A.: É... espanhol? W.M.: Sim. T.A.: Espanhol? O negócio é eu não conhecer nenhum pintor espanhol (risos). (...) É um pintor espanhol. Agora é o problema, quem é? (...) É... Não vou tentar fazer perguntas de, da arte dele porque não adianta que eu não vou saber. PESQUISADORA: Talvez você até saiba. T.A.: Tipo se era... PESQUISADORA: É que você não tá lembrando, porque agora ficou fácil. 135

T.A.: É, eu não tô, não me vem à mente nenhum. PESQUISADORA: Quando você descobrir você vai ficar assim “Ah, tava muito fácil!” T.A.: (risos) Meu Deus... W.M.: Você perguntou se tinha a ver com política, né? T.A.: Isso. W.M.: Sim. T.A.: Ele é espanhol? Sim, né. Espanhol de, tipo, da Espanha, mesmo? W.M.: Sim. T.A.: Nossa. (...) Eu não sei, acho que não vou conseguir daqui pra frente, não vou lembrar de nenhum nome aqui. Não dá nem pra chutar. Não vai adiantar se eu perguntar várias coisas que eu não vou conseguir ir lembrando. Então se não for... PESQUISADORA: Bom, eu acho que você consegue acertar, agora, se você também não quiser de-, achar que quer desistir, não tem problema. Mas eu se fosse você tentava mais um pouquinho, porque já tá, já chegou perto da resposta. T.A.: Então eu vou, vou começar já a apelar, no caso, pra... É... A letra do nome dele começa com A? (risos) Eu vou o alfabeto inteiro. (risos) Pra ver se me dá uma pista. W.M.: Não. T.A.: B? W.M.: Não. T.A.: Não, tô zoando, não vou fazer isso, o alfabeto inteiro. Mas aleatório eu vou. É... F? W.M.: Não. T.A.: É... Ele é conhecido só pelo primeiro nome? W.M.: Não. T.A.: Nome e sobrenome? W.M.: Sim. T.A.: É... Pintou algum quadro assim, famoso, importante? W.M.: Sim. T.A.: Ele é espanhol mesmo? W.M.: Sim. PESQUISADORA: Pergunta sobre a época em que ele viveu. T.A.: Então... Eu faço a pergunta dela (risos). Que é, é, ele viveu na... Eu não lembro se você falou, ele tá vivo? W.M.: Não. T.A.: Não, né? Mas já... faleceu há muito tempo? 136

W.M.: Sim. T.A.: Tipo, é bem... Não sei, eu não vou conseguir lembrar, lembrar. Se ficar perguntando eu não vou... lembrar o nome, nem o nome. Vou ficar fazendo perguntas e vou acabar não lembrando. PESQUISADORA: Bom, você que sabe. Se você quiser desistir, pode desistir. Imagina, vou obrigar ele a ficar aqui até ele acertar! Até amanhã. T.A.: Peraí, eu vou tentar mais um... mais um pouquinho. PESQUISADORA: Tá. T.A.: Só mais um pouquinho. É... tô, sei lá, vou... vou jogar o alfabeto de novo, não sei. Pra ver se ele tipo, me lembra. É, com... com D? W.M.: Não. T.A.: F? W.M.: Não. T.A.: G? W.M.: Não. T.A.: H? W.M.: Não. T.A.: I? W.M.: Não. T.A.: J? L? W.M.: Não. T.A.: M? N? W.M.: Não. T.A.: O? W.M.: Não. T.A.: P? W.M.: Sim. T.A.: Espanhol... Com P... Picasso? W.M.: Sim. T.A.: (risos) Pablo Picasso!

137

ANEXO 3:

Formulário de respostas do teste de percepção

08. o ator é bonito 01. é irrelevante

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma declaração neutra. 09. tem direito a dica 02. um desenho animado da televisão

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada. 10. ele é o protagonista 03. eu posso desistir

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada. 11. da selva 04. é criança

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma exclamação. 12. é um personagem de filme 05. é histórico

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma exclamação. 13. o ator é americano 06. é político

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma exclamação. 14. americano 07. ela mora com o pai

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada.

138

15. da literatura

23. as mulheres acham ele bonito

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Ito é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada.

16. é um personagem real

24. o personagem é criança

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma declaração neutra.

17. folclore

25. europeu

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada.

18. tem mais de quinze

26. de alguma forma marcou a

( ) Isto é uma pergunta.

história do país

( ) Esta frase está inacabada.

( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma declaração neutra.

19. foi presidente

27. ele canta música sertaneja

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma exclamação.

20. quadrinho

28. do nosso país

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma declaração neutra.

21. é um artista

29. mas tem tanto rock brasileiro

( ) Isto é uma pergunta.

conhecido

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma declaração neutra.

22. isso se refere à família ( ) Isto é uma pergunta.

30. e usa um capacete

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma declaração neutra.

139

31. é branco

39. alguma coisa diferente

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma exclamação.

( ) Esta frase está inacabada.

32. você é um líder

40. o meu é mais difícil

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma pergunta.

( ) Isto é uma declaração neutra.

( ) Esta frase está inacabada.

33. não é Dom Pedro I ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma declaração neutra.

34. posso chutar ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Esta frase está inacabada.

35. Idade Moderna ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma declaração neutra.

36. é uma animação infantil ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma exclamação.

37. é desenho ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Isto é uma exclamação.

38. a mãe dela não existe ( ) Isto é uma pergunta. ( ) Esta frase está inacabada.

140

141

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