A ruptura modernista em Mario e Oswald de Andrade

June 1, 2017 | Autor: Ceci Penido | Categoria: Brazilian Literature
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A ruptura modernista em Mário de Andrade e Oswald de Andrade

Parte I – Oswald de Andrade
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. Segundo Lucia Helena em Modernismo brasileiro e vanguarda, o Manifesto antropófago de Oswald de Andrade, escrito em 1928, manteve grande diálogo com as vanguardas artísticas europeias da época – em especial o Surrealismo e o Dadaísmo – mas ainda assim pode ser considerado inovador, no âmbito da linguagem, pois o autor possuía visão crítica ligada à cultura de seu país. Isto pode ser notado através da observação dos textos deste momento do autor, em que o mesmo utiliza fragmentos, paródias e blagues com o intuito de recuperar as fontes primitivas da cultura brasileira reprimidas pela influência dos teóricos europeus. Como, por exemplo, na frase "Tupy, or not tupy that is the question" (1928, 3) que também constitui o manifesto. Nesta, o autor faz uma paródia da frase de Shakespeare "To be, or not to be", utilizando elemento forte de nossa cultura, a língua Tupy.
Publicado no primeiro número da Revista de Antropofagia, o manifesto questiona a estrutura política, econômica e cultural implantada pelos colonizadores portugueses no Brasil, bem como a sociedade patriarcal, a imitação dos padrões europeus de metrópole e o indianismo ufanista e romântico. Como forma de demonstrar as afirmações precedentes, seguem outros trechos do manifesto:

Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses. Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista.


Lucia Helena, novamente, afirma: "A antropofagia a que se refere Oswald é uma
metáfora, um diagnóstico e uma medida terapêutica. Metáfora do que deveríamos repudiar, assimilar e superar em prol de nossa independência cultural; diagnóstico da sociedade brasileira reprimida por uma colonização predatória; e terapêutica porque vista como forma eficaz de reação contra a violência praticada pelo processo colonizador.". Para demonstrar essa constatação, um bom exemplo é o seguinte poema do livro "Manisfesto da poesia pau-brasil" também da autoria de Oswald:
Lucia Helena, novamente, afirma: "A antropofagia a que se refere Oswald é uma
metáfora, um diagnóstico e uma medida terapêutica. Metáfora do que deveríamos repudiar, assimilar e superar em prol de nossa independência cultural; diagnóstico da sociedade brasileira reprimida por uma colonização predatória; e terapêutica porque vista como forma eficaz de reação contra a violência praticada pelo processo colonizador.". Para demonstrar essa constatação, um bom exemplo é o seguinte poema do livro "Manisfesto da poesia pau-brasil" também da autoria de Oswald:










Erro de português

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português

O primeiro verso do poema se refere à chegada dos portugueses ao Brasil. O ato de "vestir" e de "despir" expostos nos versos acima sugere a relação de poder entre o povo dominante e o povo dominado. Vestindo os indígenas, o colonizador tinha a intenção de impor sua cultura: catequese, língua, vestimentas, etc. O poema refere-se também às condições da chegada dos portugueses: "debaixo duma bruta chuva", que é usada para simbolizar tempos sombrios. Dessa forma, reforça a ideia de quebra e ruptura com os moldes acadêmicos europeus, tanto pela linguagem, como pela ideia de não sujeição.
Segundo Haroldo de Campos em "Uma poética da radicalidade", ao propor uma mudança na linguagem poética vigente – o parnasianismo acadêmico, pedante, intelectualizado e elitizado – no país, Oswald de Andrade introduz uma poética inovadora, que busca as raízes da língua brasileira, seus regionalismos, e influências de outras línguas, como japonês, italiano, que faziam parte do cenário cosmopolita paulista em que vivia o intelectual. Para o primeiro, o segundo o faz através de uma volta na história, em que busca uma raíz indígena, através de uma lógica um pouco cartesiana, de eliminar tudo aquilo que veio depois da colonização. O estudo foi feito a partir da análise dos comentários de Pero Vaz de Caminha em suas cartas sobre o Brasil. Segue, abaixo, exemplo de um dos poemas supracitados.
Pero Vaz Caminha
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha

Parte II – Mário de Andrade
Antes dos livros de Oswald, Mário já havia lançado dois, Há uma gota de sangue em cada poema (1917) e Paulicéia desvairada (1922) que instigaram o próprio Oswald na busca da nova estética e linguagem brasileiras no início do século passado. No entanto, sua linguagem inicial ainda é muito influenciada pelo parnasianismo, adquirindo apenas em seu segundo livro uma estética representativa, com alguns poemas que buscam, como Oswald, quebrar as estruturas sociais, políticas, econômicas e filosóficas então reinantes no país, como em seu poema Ode ao burguês, em que o autor critica a estrutura burguesa em todas as suas características. Segue o poema:
Ode ao burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!
Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
Um colar... Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"
Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!
Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burgês!...


Em Mário de Andrade, além das suas convergências com Oswald, ao buscar uma linguagem nacional, através do folclore e outros temas, também é possível notar a quebra, a ruptura, em sua temática da cidade, algo nunca tratado na poesia lírica, por seu caráter caótico, híbrido e fragmentado, e, sobretudo no Brasil da época, com o início da industrialização. O autor escreve: "São Paulo, comoção da minha vida".







Referências bibliográficas:

HELENA, Lucia. Modernismo brasileiro e vanguarda. Editora Ática, 2003.
ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. Revista de Antropofagia. São Paulo, 1 de maio de 1928.
ANDRADE, Oswald de. Manifesto da Poesia Pau Brasil. São Paulo: Editora Globo, 2003.
CAMPOS, Haroldo de. Uma poética da radicalidade. São Paulo. 1965.



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