A teoria dos jogos como ferramenta de gestão na Polícia Militar

Share Embed


Descrição do Produto

32/Ë&,$0,/,7$5'2(67$'2'(6­23$8/2 &(1752'($/726(678'26'(6(*85$1d$ &$(6³&(/301(/621)5(,5(7(55$´ &8562'($3(5)(,d2$0(172'(2),&,$,6–&$2-,

&DS30-DFLQWKR'HO9HFFKLR-XQLRU

$7(25,$'26-2*26&202)(55$0(17$'(*(67­2 1$32/Ë&,$0,/,7$5'2(67$'2'(6­23$8/2

6mR3DXOR



Cap PM Jacintho Del Vecchio Junior

A TEORIA DOS JOGOS COMO FERRAMENTA DE GESTÃO NA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO

Dissertação apresentada no Centro de Altos Estudos de Segurança, como parte dos requisitos para a aprovação no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais.

Orientador: Prof. Dr. Caetano Ernesto Plastino

São Paulo

2012

32/Ë&,$0,/,7$5'2(67$'2'(6­23$8/2 &(1752'($/726(678'26'(6(*85$1d$ &$(6³&(/301(/621)5(,5(7(55$´ &8562'($3(5)(,d2$0(172'(2),&,$,6–&$2-,

&DS30-DFLQWKR'HO9HFFKLR-XQLRU

$7(25,$'26-2*26&202)(55$0(17$'(*(67­2 1$32/Ë&,$0,/,7$5'2(67$'2'(6­23$8/2 0RQRJUDILD DSUHVHQWDGD QR &HQWUR GH$OWRV (VWXGRV GH 6HJXUDQoD FRPR SDUWH GRV UHTXLVLWRV SDUD D DSURYDomR QR &XUVR GH $SHUIHLoRDPHQWRGH2ILFLDLV

 5HFRPHQGDPRVGLVSRQLELOL]DUSDUDSHVTXLVD  1mRUHFRPHQGDPRVGLVSRQLELOL]DUSDUDSHVTXLVD  5HFRPHQGDPRVDSXEOLFDomR  1mRUHFRPHQGDPRVDSXEOLFDomR

6mR3DXORGHRXWXEURGH

3URI'U&DHWDQR(UQHVWR3ODVWLQR 8QLYHUVLGDGHGH6mR3DXOR  &HO30&DUORV0DJQRGD6LOYD

7HQ&HO30/XL]&DUORV)HUQDQGHV

Dedico este trabalho: à minha mãe Edna, por tudo o que fez poUPLPHPDLVXPSRXFR e ao meu harém: Luíza, Beatriz e Rita, simplesmente por existirem.

Agradecimentos

À minha esposa, Rita, e minhas filhas, Beatriz e Luíza, pelo apoio incondicional, inclusive nos momentos de ausência destinados à realização deste trabalho. À minha mãe, Edna e meus irmãos, Edson e Bianca, pelo incentivo e confiança ininterruptos. Ao professor Caetano Ernesto Plastino, pela valiosa e prestimosa dedicação na orientação para a consecução deste trabalho. Aos membros da Banca, Ten Cel PM Carlos Magno da Silva e Ten Cel PM Luiz Carlos Fernandes, pela disponibilidade e atenção dispensada na avaliação da dissertação. Ao Comando do CPI-2, na pessoa do Cel PM Walter Gomes Mota, e ao Comando do 11º BPM/I, na pessoa do Ten Cel PM Wagner Facchini de Bortolo, pela oportunidade de frequentar o CAO-I/12. Ao meu atual comandante, Ten Cel PM Aloysio Alberto de Queiroz Junior, por suas observações oportunas e apoio de todas as horas. Aos oficiais e praças do 11º BPM/I, pela colaboração e incentivo de sempre. Ao Comando, oficiais e praças do CAES, por toda a dedicação e esforço que possibilitaram a realização deste Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais.

“Creio que, depois de Homo faber e talvez ao mesmo nível de Homo sapiens, a expressão Homo ludens merece um lugar em nossa nomenclatura.” Johan Huizinga

Resumo

A presente dissertação consiste em uma argumentação de cunho técnico e epistemológico, com o intuito de evidenciar a pertinência do emprego da teoria dos jogos como instrumento de análise estratégica para a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Para tanto, a metodologia empregada reside principalmente na pesquisa bibliográfica, de cunho essencialmente exploratório e focada em dados qualitativos. A apresentação sucinta dos princípios, conceitos, modelos e estratégias relativos à teoria dos jogos é realizada com o escopo de demonstrar a compatibilidade entre suas bases epistêmicas e o referencial teórico típico das Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. Por derradeiro, são apresentadas algumas aplicações práticas da teoria dos jogos para cenários interativos, sejam eles atinentes ao nível estratégico (ao estudar as estratégias possíveis da Polícia Militar em face das guardas municipais), ao nível setorial (ao propor um modelo para o tratamento das crises de imagem enfrentadas pela Corporação) e, finalmente, ao nível tático-operacional (com a análise do planejamento operacional para os furtos de veículos, para o tráfico de entorpecentes e para o gerenciamento de ocorrências de alto risco). Diante dos resultados obtidos pela construção desses modelos, conclui-se que a teoria dos jogos pode introduzir melhorias significativas no planejamento estratégico, setorial e tático-operacional realizados na Instituição. Palavras-chave: Polícia Militar. Teoria dos jogos. Análise criminal. Planejamento estratégico.

Abstract

This work is introduced in order to propose a set of technical and epistemological arguments that bring to light the pertinence on employing game theory as a resource of analysis and comprehension of interactive scenarios which are relevant to the Military Police of São Paulo. The concise presentation of principles, concepts, models and strategies related to game theory is done with the scope of demonstrate the compatibility of its epistemic foundations and the theoretical support of Police Sciences of Safety and Public Order. Finally, some practical applications of game theory related to the strategic planning of the Military Police are shown, mainly concerning the strategic planning level properly so called (treating on the attitude of Military police facing the municipal guards), the sectorial planning (suggesting a model of management on image crisis), as well as the tactical level of planning (with the analysis of vehicle stealing, drug dealing, and the management of high risk occurrences which involve hostages). Keywords: Military Police. Game theory. Criminal analysis. Strategic planning.

Lista de abreviaturas e siglas

CACI- Comitê de Administração de Crise de Imagem CPSOP - Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública Def. - Definição PACCI- Planos de Administração de Comunicação de Crise de Imagem PMESP - Polícia Militar do Estado de São Paulo PPI - Plano de Policiamento Inteligente Proerd - Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência SSP/SP - Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo TJ – Teoria dos jogos TEC- Teoria econômica do crime VNMuf - Função de utilidade de von Neumann-Morgenstern.

Sumário

1 Introdução ..................................................................................................................... 12 2 O que esperar de uma teoria científica....................................................................... 17 2.1 “Ciência” e “conhecimento científico”, ontem e hoje.................................................... 17 2.2 Algumas questões epistemológicas ............................................................................ 22 2.2.1 A objetividade da ciência. ......................................................................................... 22 2.2.2 Verdade e ciência. .................................................................................................... 27 2.2.3 “Ciência” e “ciências” ................................................................................................ 31 2.2.4 Valores e autonomia nas ciências ............................................................................ 34 2.2.5 Ciências humanas e ciências policiais. .................................................................... 38 3 Uma breve introdução à teoria dos jogos .................................................................. 42 3.1. A teoria dos jogos ....................................................................................................... 42 3.1.1 Dos jogos à teoria dos jogos .................................................................................... 42 3.1.2 Conceituando a teoria dos jogos .............................................................................. 45 3.1.3 Probabilidade à luz da teoria dos jogos .................................................................... 54 3.2 Conceitos fundamentais .............................................................................................. 57 3.2.1 Notações empregadas ............................................................................................. 57 3.2.2 Tipos e representações de jogos.............................................................................. 58 4 Estratégias à luz da teoria dos jogos ......................................................................... 70 4.1 O conceito de estratégia.............................................................................................. 70 4.2 Três exemplos de jogos............................................................................................... 71 4.2.1 O dilema do prisioneiro............................................................................................. 71 4.2.2 A controvérsia do aborto ........................................................................................... 74 4.2.3 Parque, teatro ou filme? ........................................................................................... 75 4.3 Estratégias em jogos comuns ..................................................................................... 77 4.3.1 Estratégias puras e estratégias mistas ..................................................................... 77 4.3.2 Dominância .............................................................................................................. 78 4.3.3 O equilíbrio de Nash ................................................................................................. 81 4.3.4 Maxmin e minmax .................................................................................................... 84 4.3.5 Outras estratégias .................................................................................................... 85 4.4 Estratégias em jogos de forma extensiva .................................................................... 87 4.4.1 Jogos extensivos de informação perfeita ................................................................. 87 4.4.2 Jogos extensivos de informação imperfeita.............................................................. 90 4.4.3 Jogos recorrentes ..................................................................................................... 95 4.4.3.1 Jogos recorrentes finitos ....................................................................................... 95 4.4.3.2 Jogos recorrentes infinitos..................................................................................... 96 4.4.4 Jogos estocásticos ................................................................................................... 98 5 Teoria dos jogos e ciências policiais........................................................................ 100 5.1. A teoria econômica do crime .................................................................................... 100 5.1.1 A perspectiva marginalista aplicada ao comportamento ilegal ............................... 100 5.1.2 Limitações e dificuldades da teoria econômica do crime.........................................110 5.1.3 Teoria dos jogos e a questão criminológica .............................................................115

5.1.4 Uma nota sobre a teoria da anomia social ..............................................................116 5.2 Sistema de gestão da PMESP .................................................................................. 121 6 Aplicando a teoria dos jogos..................................................................................... 131 6.1 Teoria dos jogos aplicada ao nível tático-operacional ............................................... 131 6.1.1 O problema do furto de veículos ............................................................................ 131 6.1.1.1 Pressupostos....................................................................................................... 133 6.1.1.2 Adequação ao modelo de jogo, estratégias e conclusões ................................... 138 6.1.2 O tráfico de entorpecentes ..................................................................................... 147 6.1.2.1 Pressupostos....................................................................................................... 152 6.1.2.2 Adequação ao modelo de jogo, estratégias e conclusões ................................... 156 6.1.2.2.1 O jogo do assédio do tráfico ............................................................................. 158 6.1.2.2.2 O jogo do mercado do tráfico ........................................................................... 162 6.1.3 O gerenciamento de crises..................................................................................... 164 6.1.3.1 Pressupostos....................................................................................................... 165 6.1.3.2 Adequação ao modelo de jogo, estratégias e conclusões ................................... 170 6.1.3.2.1 O jogo do terrorista ........................................................................................... 171 6.1.3.2.2 O jogo do maníaco-depressivo ......................................................................... 173 6.1.3.2.3 O jogo da crise causada por criminoso comum ................................................ 176 6.2 A teoria dos jogos em nível estratégico e setorial...................................................... 178 6.2.1 O nível estratégico: as guardas municipais e a postura da PMESP ....................... 179 6.2.1.1 Pressupostos....................................................................................................... 179 6.2.1.2 Adequação ao modelo de jogo, estratégias e conclusões ................................... 182 6.2.2 O nível setorial: o gerenciamento de crises de imagem ......................................... 184 6.2.2.1 Pressupostos....................................................................................................... 186 6.2.2.2 Adequação ao modelo de jogo, estratégias e conclusões ................................... 188 7 Conclusão ................................................................................................................... 193 Referências Bibliográficas ........................................................................................... 197

1 Introdução

O presente projeto de pesquisa tem por escopo a propositura de trabalho a ser desenvolvido no Mestrado Profissional em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública (CPSOP, daqui por diante), especificamente na área de concentração de Gestão e Organização. O tema sugerido remete a um estudo de cunho técnico e epistemológico relativo à aplicabilidade da teoria dos jogos (TJ a partir daqui) no âmbito das CPSOP. Tendo em vista que a TJ consiste em um recurso relativamente recente, que apresenta vários aspectos e empregos ainda inexplorados, o trabalho presta-se à tentativa de elucidar suas possíveis aplicações em vários contextos das CPSOP. Por tratar-se de uma ferramenta que tem propiciado resultados notáveis para a compreensão de ambientes interativos que envolvem estratégias de escolha racionalmente elaboradas, e como muitas searas das CPSOP estão inseridas nesse contexto, sugere-se que essa aproximação pode trazer frutos muito profícuos para a Instituição. A importância do tema pode ser corroborada por alguns dos objetivos da área de concentração na qual se encerra, sobretudo como uma contribuição original no que diz respeito à identificação e tratamento adequado de variáveis do ambiente interno e externo de interesse da Corporação, bem como ao fomentar o desenvolvimento e a aplicação de ferramentas de gestão importantes para consecução de seus objetivos estratégicos. O trabalho a ser desenvolvido, portanto, consistirá na busca de sensibilização do Comando da Corporação para a importância de trazer às CPSOP uma nova forma de compreender teoricamente ambientes

interativos,

devido

aos

evidentes

benefícios

que

podem

ser

implementados com a adoção dessa postura, a exemplo das benesses angariadas em outros ramos do conhecimento. Desse modo, a problemática envolvida no presente trabalho remete necessariamente à seguinte questão: em quais circunstâncias um modelo de compreensão de ambientes interativos extremamente bem sucedido em outras áreas das Ciências Humanas, como é o caso da TJ, pode ser aplicado às CPSOP de modo a propiciar uma melhoria de nossas práticas de gestão, por intermédio de ferramentas teórico-conceituais das quais ainda não dispomos?

Introdução

13

Assim, tem-se como objetivo geral ressaltar a viabilidade e a pertinência de modernas técnicas de compreensão de ambientes interativos para diversos contextos de interesse da Polícia Militar do Estado de São Paulo, com base em um estudo de cunho exploratório, a partir do qual se caracterizará a aplicabilidade da TJ a vários nichos do universo das CPSOP. Os objetivos específicos, por sua vez, são principalmente: 1) apresentar os conceitos fundamentais da TJ em suas várias modalidDGHV 2) evidenciar a TJ como instrumento teórico adequado para a compreensão de circunstâncias relevantes do SRQWR GH YLVWD LQVWLWXFLRQDO 3) identificar, de modo geral e esquemático, os modelos teóricos existentes relativos a escolhas racionais que sejam compatíveis com as práticas de gestão da Corporação e 4) promover estudos de caso pormenorizados relativos à aplicação desses modelos teóricos às práticas de gestão estratégica, setorial e táticaoperacional. A justificativa do tema está centrada na crescente preocupação com a qualidade das práticas e com a excelência da gestão da Polícia Militar, princípios que reverberam em praticamente todos os aspectos das atividades cotidianas e da cultura organizacional peculiares à Corporação, algo que impõe como premissa inegociável o desenvolvimento do espírito crítico e a possibilidade de inovação de nossas técnicas e práticas. Obviamente, um posicionamento dessa natureza encontra entraves devido ao apego natural que os indivíduos desenvolvem em relação às antigas certezas e padrões, bem como pela tendência à permanência no âmbito da chamada “zona de conforto”, propiciada pela sedimentação desses procedimentos e técnicas preestabelecidos, sobretudo se bem sucedidos, ou ainda que meramente satisfatórios. Nesse cenário, o grande desafio é não permitir que essa cristalização de padrões eleitos como “os mais adequados” torne-se, na realidade, uma espécie de engessamento a ponto de impedir perspectivas novas e originais, em nome da manutenção de um paradigma reinante. Logo, é papel do gestor compreender qual deve ser sua postura diante da necessária assimilação daquilo que o saber científico pode oferecer, bem como qual seu valor e eficácia. Teorias científicas representam, antes de tudo, modelos a partir dos quais tentamos compreender a realidade. Essa premissa constitui ponto pacífico entre diversas linhas da Epistemologia: pode-se discordar no que diz respeito ao fato

Introdução

14

de nossas teorias explicitarem ou não leis inerentes às próprias coisas (dilema que representa o embate entre epistemólogos realistas e idealistas), de progredirem ou não em direção à “verdade” (teses levantadas, respectivamente, por realistas e relativistas), ou pode-se ainda acreditar, como os instrumentalistas, que as teorias científicas constituem meros artifícios a partir dos quais solucionamos problemas práticos. Todavia, apesar dessas controvérsias, não há dúvida que as teorias constituem “pontes” para a compreensão racional dos fenômenos testemunhados pela experiência. Nesse diapasão, é fato que determinados modelos teóricos são mais compatíveis que outros para a compreensão dos diferentes fenômenos: tende-se a explicar a queda dos corpos a partir da mecânica clássica, enquanto recorre-se ao chamado modelo padrão da física de partículas para explicar o comportamento de bósons e léptons, não obstante ambas as teorias partirem até mesmo de lógicas que são incompatíveis e mutuamente excludentes. A concepção da ciência como um quadro teórico multifacetado - uma tese que encontra guarida sobretudo na prática científica - indubitavelmente é um grande argumento a favor da leitura que toma o conhecimento científico como uma atividade de solução de problemas calcada em pressupostos de racionalidade. Não há como ignorar também que os modelos matemáticos são parte fundamental do que se entende por ciência hoje em dia. Seguindo uma tendência inaugurada já no século XVII, a ciência contemporânea tem por característica premente e como valor intrínseco um processo de crescente matematização, algo evidente não apenas na engenharia, na química e na biologia, mas também na construção das ciências ditas “humanas”: a econometria é uma tendência inegável e irrevogável da economia hodierna, na mesma medida em que a sociometria o é para a sociologia. Assim, as novas demandas do ensino na Corporação não podem estar dissociadas desse contexto, exigindo comprometimento com os preceitos de constante inovação e revisão que caracterizam o conhecimento científico, sob pena de ostracismo, ou de reduzir as “ciências policiais” apenas a um eufemismo. Logo, a adoção de novas formas de interpretação sistemática da realidade que nos cerca é altamente desejável, e um recurso valioso nesse sentido é a teoria dos jogos, um ramo da matemática aplicada que estuda estratégias de escolha e decisão racional

Introdução

15

no contexto de ambientes interativos. Nascida em 1947, a partir de um trabalho escrito por Johann von Neumann e Oskar Morgenstern, a TJ encontrou no final do século XX o momento de maior reconhecimento. John Nash, um de seus autores mais importantes, foi laureado com o Prêmio Nobel de economia em 1994 por suas contribuições voltadas à TJ. De 2000 a 2009, outros três trabalhos foram laureados por inovações também baseadas na teoria em tela, o que demonstra a força e a aplicabilidade desse recurso para a compreensão e o delineamento de estratégias no ambiente econômico. Mas não apenas a economia tem se mostrado um campo privilegiado para a aplicação de algoritmos fundados na TJ. Bons exemplos são os trabalhos de Robert Aumann no sentido de compreender os meandros do processo de paz árabeisraelense por intermédio da referida teoria, ou mesmo a importância atualmente reconhecida aos trabalhos de Bruce Bueno de Mesquita, que tem conseguido resultados espantosos no que diz respeito ao comportamento de agentes políticos no cenário internacional, a ponto de ser considerado por alguns entusiastas como “o novo Nostradamus”. A comparação, todavia, é evidentemente exagerada. Mesquita, professor de política internacional na Universidade de Nova York, não é místico ou adivinho. É um pesquisador que encontrou uma forma interessante e bem sucedida de aplicar a uma base de dados confiável determinados algoritmos que lhe permitem apontar certas tendências com uma precisão até então inédita na seara da política internacional. O fracasso da Conferência de Copenhagen de 2009 foi um exemplo peculiar: a partir de sua análise, Mesquita predissera que não haveria qualquer possibilidade de um acordo bem sucedido sobre o clima em nível internacional naquela oportunidade, o que realmente (e infelizmente) se concretizou (cf. MESQUITA, 2009). Digno de nota também é o trabalho de Ken Binmore no sentido de compreender as instituições políticas sob a perspectiva da TJ (cf. BINMORE, 2009a). Ocorre que, salvo engano, malgrado o imenso impacto que a TJ encontra no âmbito das ciências humanas, nada há que sugira seu emprego em diversas circunstâncias em que, em tese, ela se apresenta como uma alternativa viável e promissora, e que interessa à Corporação diretamente. Procura-se assim, viabilizar essa aproximação, ao sugerir a inserção de novos modelos e mecanismos aptos a

Introdução

16

permitir o desenvolvimento de rotinas e práticas de gestão tanto nos processos de apoio quanto nos processos principais de negócio desenvolvidos pela Instituição. Dentre as hipóteses suscitadas para a elaboração da presente dissertação, pode-se elencar as seguintes: 1) o estudo metódico de ambientes interativos em que atua a PMESP é um esforço pertinente 2) a adoção de um modelo teórico adequado é fundamental para a compreensão desses ambientes interativos 3) o emprego de métodos e processos de gestão implementados pela Corporação em modelos de decisão racional está em harmonia com as diretrizes da PMESP 4) existe a possibilidade de assimilação da TJ em alguns processos de gestão desenvolvidos SHOD ,QVWLWXLomR e 5) a concretização da hipótese supra caracterizará uma contribuição original em várias searas de gestão organizacional da Corporação. No que concerne à metodologia a ser empregada, o trabalho contempla principalmente a coleta de dados teóricos, conceituais e históricos por meio de pesquisa bibliográfica, consistindo, portanto, em uma obra de cunho essencialmente exploratório, focada em dados qualitativos. Os aspectos quantitativos surgirão apenas nos modelos propostos de aplicação da TJ em casos concretos. As traduções realizadas oferecem o texto original em notas de rodapé, para o caso de eventual consulta do leitor, e as fórmulas algébricas e aritméticas foram grafadas com fonte própria, a fim de obter-se o destaque necessário.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.