A topicidade nas colunas do Macaco Simão: listagem de tópicos ou texto coeso?

July 25, 2017 | Autor: Samira Spolidorio | Categoria: Humor, Gêneros Textuais, Linguística Textual (Text Studies)
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A topicidade nas colunas do Macaco Simão: listagem de tópicos ou texto coeso? 1 Samira Spolidório 1. INTRODUÇÃO

Os estudos da linguagem desde sempre despertaram interesse no ser humano. Com seu poder criativo de nomear, descrever e transformar, de trocar experiências, discutir e imaginar, a linguagem é a base de toda e qualquer sociedade, pois é através dela que as relações sociais se constituem e se determinam, sempre por meio da interação. Bastante longa é a trajetória dos estudos a cerca da linguagem, começando com mitos e lendas que primeiramente tentaram desvendar seus muitos mistérios, passando pelos gregos e latinos que se dedicaram avidamente buscando entender o seu funcionamento, até chegar à explosão da descoberta do enorme número de línguas passíveis de serem estudadas nos últimos séculos, e somente a partir da metade do século XIX tais estudos tenham começado a trilhar os rumos que os trouxeram ao patamar que ocupam hoje. A respeito do estudo aqui pretendido, dentro da perspectiva sócio-cognitiva interacionista, o trabalho da Lingüística é estudar a língua, entendida aqui como atividade verbal humana realizada por sujeitos em situações de interação entre eles (KOCH, 1997). As diversas disciplinas lingüísticas se dividem para dar conta das muitas manifestações da linguagem, sendo indispensável que tais estudos sejam feitos baseados em usos reais da língua. Dentre estas disciplinas, Lingüística Textual assume como objeto particular de investigação os textos, tanto orais quanto escritos, nos quais a língua realiza a interação. Além de observar a língua em funcionamento, também é fundamental sempre lembrar que os textos, lugares em que a interação acontece, foram produzidos por sujeitos inseridos em determinados contextos sócio-histórico-culturais que devem ser 1

Artigo produzido como TCC do curso de Graduação em Letras - Língua Portuguesa, sob orientação da professora Dra. Maria Elizabeth Alcantara. Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba, junho de 2007.

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levados em consideração, pois, de acordo com a perspectiva sócio-cognitiva interacionista (KOCH, 2004), estes são fatores elementares para os processos de produção, recepção e compreensão dos textos. Assim, este trabalho, particularmente, tem por objetivo estudar aspectos dos processos de progressão textual, com enfoque na topicidade (JUBRAN, 2006) e a contribuição deste para a construção geral do sentido, fazendo de uma seqüência lingüística, um texto de uso efetivo e interativo. Para isso, o corpus desta pesquisa é composto de colunas humorísticas de José Simão, o Macaco Simão, escritas entre 1989 e 1991, reunidas no livro “Macaco Simão no Cipó das Onze” (ILUMINURAS,1991) e também colunas coletadas do Jornal Folha de S. Paulo, entre 1º de fevereiro e 31 de março de 2007. Dentre elas, analisaremos como maiores detalhes duas colunas retiradas do livro e uma coluna do jornal, nas quais serão, por meio de uma comparação entre as características mais relevantes, investigados os processos acima mencionados e como eles auxiliam na construção de sentido.

2. Referencial Teórico

2.1. Sobre a concepção de linguagem

Primeiramente, faz-se necessário delimitar as bases norteadoras deste estudo como os conceitos-chave sobre linguagem e léxico. Assim, para abordarmos a concepção de linguagem no qual este trabalho está apoiado, mostra-se bastante interessante a diferenciação que Marcuschi (2001) faz em “língua como produto” e “língua como ação”. Para o autor, a visão da língua como “um produto” desconsidera toda e qualquer influência que o contexto possa exercer no ato da comunicação, limitando a língua a um instrumento formal, autônomo e independente, tendo por base apenas os conceitos estruturais e gerativistas da língua estudada. Já a idéia da língua como “ação” busca analisar o funcionamento da língua dentro dos vários contextos e situações de produção, sem negligenciar os diversos fatores relevantes para tal funcionamento como a enunciação, a modalidade, os processos cognitivos, contexto, situacionalidade, etc.

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Marcuschi (idem) apresenta ainda uma outra comparação que ajuda a ilustrar as diferentes concepções de língua, deixando bastante clara sua posição interacionista: “língua como espelho” e “língua como lâmpada”. Em língua como “espelho” trata-se de entendê-la como representação exata do mundo, um reflexo tal e qual e, portanto, concepção ligada à visão de “produto” pronto e imutável já mencionado acima. Já em língua como “lâmpada”, tem-se a ação da luz sobre o mundo, não estática, mas variante, dependendo da posição tanto da luz, quanto do objeto iluminado, assim como a língua depende de vários fatores sócio-histórico-culturais. Assim, o foco da língua como “lâmpada” e, portanto, o da língua como “ação” não está no produto final da comunicação, mas sim nos processos de construção de sentido realizados pelos sujeitos envolvidos no ato da comunicação. Diante disso, Marchuschi (idem) afirma que o uso da língua é ação conjunta é coordenada, na qual os sujeitos envolvidos, os “atores sociais”, se dispõem a colaborar mutuamente para a construção do sentido desejado. Os enunciados produzidos sempre estarão definidos pelos contextos de produção em que estão inseridos. Por isso, Marcuschi (idem) afirma que escrever, falar, ler e ouvir “não são uma atividade autônoma e sim parte de uma atividade pública, coletiva, coordenada e colaborativa” (2001:40). É claro que entender e defender a visão da língua como “ação” ou “lâmpada” não é o mesmo que negar a existência de uma relação entre linguagem e o mundo, mas é considerar que tal relação não é, segundo Marcuschi (2004), “transparente, universal e única para todo o sempre”.

Especificamente a respeito do léxico, Marcuschi afirma que saber que um item lexical designa e nomeia um objeto do mundo não é o mesmo que afirmar que tal item limita-se a apenas identificar aquele único objeto em particular. Na verdade, compreender um item lexical é “fazer uma experiência de reconhecimento com bases num conjunto de condições que foram internalizadas numa dada cultura” (MARCUSCHI,2004). Para o autor, cada uma dessas experiências pode acontecer de inúmeras e diversas maneiras de acordo com vários aspectos interacionistas ligados aos sujeitos participantes e a fatores contextuais.

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Quando pensamos que a língua não é um “produto” fica claro que, consequentemente, o léxico não é simplesmente uma “lista de etiquetas” que tenta nomear os seres e objetos do mundo. Embora ele traga, sim, uma identificação semântica, mas não se resume unicamente a ela. Ressaltando esta visão, Marcuschi afirma que o léxico não é apenas uma lista de mobiliário do mundo a serviço de uma correspondência cujo resultado seria a verdade [e] as categorias com as quais operamos nossas atividades comunicativas não são naturais. (2004: 268)

Dessa forma, cada item lexical não está eternamente “preso” a um único item do mundo e as categorias não são uma simples relação convencional, mas sim, uma relação sócio-histórica, ou seja, uma “negociação” entre os sujeitos. Fica claro, portanto, que os itens lexicais representam, não os chamados objetosde-mundo, necessariamente correspondentes aos seres e coisas existentes, mas têm seu sentido construído pelos interlocutores durante o processo interativo. Tal processo não tem a intenção de “espelhar o mundo”, mas sim de criar os “objetosde-discurso”. Sobre os objetos-de-discurso, Koch & Elias (2006) afirmam que eles “não se espelham diretamente no mundo real, não são simples rótulos para designar as coisas do mundo. Eles são construídos e reconstruídos no interior do próprio discurso de acordo com nossa percepção do mundo” (p.123)

“são altamente dinâmicos, ou seja, uma vez ativados, vão sendo transformados, desativados, reativados, rotulados, recategorizados no curso da progressão textual” (KOCH, 1997, p.19)

Mesmo itens lexicais aparentemente denominadores de objetos-do-mundo não são únicos, invariáveis e idênticos, todo processo referenciação é construída de acordo com os aspectos intersubjetivos e fatores contextuais, uma vez que “cognição distribuída é um trabalho de cognição social”. (MARCUSCHI, 2004). Assim, Marcuschi (2004) afirma que para o problema da cognição distribuída, é importante frisar que o conhecimento lexical se dá não na forma de uma ‘lista de itens’ e sim a forma de uma ‘rede de relações’. O léxico é um todo em que os elementos se integram com a cultura e as ações ali praticadas. (p.275)

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Já sobre o sociocognitivismo, seria bastante difícil tentar entendê-lo apenas como uma linha de pesquisa com um objeto de estudo precisamente determinado e delimitado. Assim, mostra-se mais sensato destacar as principais preocupações e investigações feitas atualmente pelas ciências cognitivas que buscam abordar o estudo da cognição a partir da perspectiva social e interacional. Koch (2004) afirma que enquanto os estudos cognitivistas clássicos insistiam na separação entre corpo e mente e entre fenômenos mentais e sociais, procurando explicar, basicamente, como o conhecimento é estruturado, armazenado e reativado dentro da mente, o sociocognitivismo considera os processos

interacionais

que

levam

a

construção

e

apropriação

desse

conhecimento pelos indivíduos. Para explicar melhor essa construção e apropriação de conhecimentos, Marcuschi (2001) apresenta um interessante exemplo para demonstrar como a interação constrói um conhecimento comum: L1- olhe aqui 9..0 está preto já nas ele ainda tem visgo L2- visgo como? L1- ainda tá grosso assim (..) quando ele tá ralo não presta mais (2001:38)

No diálogo entre duas pessoas relatado acima, Marcuschi (op cit) afirma que o conceito “visgo” é desconhecido por uma delas, mas será construído a partir da interação entre os sujeitos, substituindo, assim, a necessidade de um conhecimento prévio compartilhado. Dessa forma, se, para o cognitivismo clássico, a cultura e a vida social não passavam de um fator do ambiente a ser internalizado pelo indivíduo, sem real importância ou relevância para a cognição, o sociocognitivismo distancia-se da preocupação de dizer se a cognição acontece dentro ou fora da mente dos indivíduos e dedica-se a tentar compreender o complexo processo de interrelação que a possibilita. Ainda segundo Koch (idem), a prova de que a cognição não é apenas uma série de conhecimentos abstratos e padronizados que são armazenados na

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mente dos indivíduos, mas sim fruto de interação social situada, é a diversidade de respostas dos indivíduos de acordo com as diferentes condições e contextos. Assim, o sociocognitivismo apresentado por Koch (idem) concorda com a concepção de língua acima definida por Marcuschi (2001) que concebe a língua como forma de interação por meio da qual os conhecimentos lingüísticos e a própria comunicação se estabelecem socialmente. 2.2. Interação, referenciação e construção de sentido Marcuschi (2006) chama de “construção social da realidade” o importante processo de interação dos sujeitos dentro do contexto social, que possibilita, assim, a referenciação, ou seja, cria objetos-de-discurso e não apenas nomeia seres, coisas ou acontecimentos do mundo real. Segundo Marcuschi (2001) o processo de referenciação está mais relacionado à intenção dos falantes que a constroem do que aos elementos da língua utilizados. Ver a referência unicamente como um item lexical, ou seja, como uma “convenção lingüística” estática, invariável é descartar todos os fatores que, na realidade, tornam possível a criação de uma significação comum entre os sujeitos envolvidos na situação de comunicação, como, por exemplo, o contexto e a interação. Assim, não se pode ver o referente, criado pelo processo de referenciação, apenas como um produto da língua, pois, na verdade, ele faz parte do complexo processo de interação entre sujeitos envolvidos nas atividades enunciativas. Tal processo interacional é sempre seguramente controlado pelos participantes, que conduzem a construção de uma referência em comum entre eles, sendo, para isso, fundamentais fatores como a cognição e a contextualização, entre outros. A referência construída pelos interlocutores durante o processo interativo se apresenta como um “objeto de discurso” e não precisa ser necessariamente correspondente a um “objeto do mundo” já existente, pois, conforme já foi dito, não é sua função ser um “espelho do mundo”, uma imagem perfeita de algo já existente. Além de fatores em comum como cultura, determinadas crenças, valores, e principalmente o contexto situacional e alguns conhecimentos prévios, em uma situação idealizada, seria necessário também que todos os participantes

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pressupusessem a posse de tais conhecimentos nos outros interlocutores, para que não haja explicações desnecessárias na tentativa de construir um referente que já existe para ambos. Conhecer todos os elementos formais da língua (léxico, sintaxe, morfologia, etc) não garante o sucesso do processo de referenciação. Um mesmo enunciado produzido com os mesmos elementos formais pode ter inúmeras e diferenciadas interpretações, tomando por base apenas o contexto enunciativo de cada um deles. A língua e os conhecimentos lingüísticos a ela relacionados são necessários para a interação/comunicação, mas não são suficientemente autônomos para garantir isso, assim como os outros fatores se considerados isoladamente também não o são. É o conjunto e a dinâmica desses vários fatores que importa, pois apenas conhecimento da língua, contexto e conhecimentos prévios não realizam o processo sozinhos. Os conhecimentos comuns ou compartilhados por si só também não dão conta do processo de referenciação, eles são fatores que participam da construção de sentidos dos novos referentes, dentro de um quadro muito mais amplo de variantes. O que importa não é a quantidade de conhecimentos que os sujeitos envolvidos no processo de interação compartilham, mas sim a maneira como fazem isso, selecionando e combinando tais conhecimentos dentro de estratégias definidas para atingir o objetivo de construir o sentido esperado. A significação está, portanto, ligada às variantes do processo de referenciação realizado durante a interação de sujeitos e não apenas dada prontamente por um item lexical. Para Putnam (apud MARCUSCHI, 2006) ‘a referência é parcialmente fixada pelo próprio contexto’, ou seja, a ‘contribuição do contexto’ é essencial para que cheguemos a utilizar nossos itens lexicais de acordo com o que os demais fazem em nosso grupo social.

Portanto, conhecer um objeto-de-mundo denominado por um item lexical, não significa conhecer todos os objetos-de-mundo possíveis, assim como conhecer

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um item lexical e saber usá-lo de maneira correta em seu discurso não é simplesmente associá-lo a um objeto do mundo em particular.

2.3. Topicidade

Em concordância com as linhas de estudo acima apresentadas, Jubran (2006) define o conceito de tópico discursivo como uma seqüência de referentes construídos durante a interação entre os sujeitos, sendo um processo conjunto de elaboração colaborativa a cerca de um domínio comum a ser desenvolvido dentro de contextos sócio-histórico-culturais e situacionais definidos. Tal seqüência consiste na organização linear e hierárquica dos tópicos desenvolvidos em um texto, sendo esta organização fundamental para se avaliar a coesão e coerência do texto em questão, pois é ela que encaminha o leitor pela seqüência tópica, promovendo assim a progressão textual.1 Numa definição básica, pode-se dizer que a delimitação de um tópico discursivo gira em torno de um ponto em comum, um assunto a ser tratado e desenvolvido durante um trecho do texto, em especial com base nos conceitos de centração e organicidade. Sobre a centração, Jubran (idem) afirma que se o tópico discursivo é o conjunto de enunciados criados em torno de um assunto comum de referentes criados ou compartilhados durante a interação, então sua delimitação, ou seja, a sua centração, depende, essencialmente, dos conceitos de “concernência, relevância e pontualização”. Enquanto a concernência e a relevância trabalham na construção da unidade textual, a pontualização é responsável pela delimitação tópica, focalizando o final de um tópico e o início de outro, a partir da marcação desses conjuntos de referente ligados ao assunto desenvolvido no tópico em questão. Se, ainda de acordo com Jubran (idem), a centração é responsável por delimitar o tópico discursivo, a organicidade trata da relação entre os vários tópicos de um mesmo texto, de acordo com os critérios “hierarquia e linearidade”. A hierarquia relacionada a organicidade é a passagem de tópicos com abordagens mais amplas e abrangentes para tópicos mais particulares, indo até recortes mais específicos do assunto tratado. A partir do conceito de hierarquia

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obtêm-se os chamados Quadros Tópicos, sendo o chamado de Super-Tópico o tema mais amplo tratado no texto e de Sub-Tópicos as divisões e particularizações do mesmo assunto. Já a linearidade é a seqüência direta dos tópicos que, dependendo da relação entre eles, pode apresentar “continuidade ou descontinuidade”. A continuidade da linearidade é progressão tópica esperada, com o final de um tópico, delimitado pelo esgotamento do assunto tratado ou por marcas discursivas, seguido pelo início de outro e a descontinuidade é uma interferência na progressão tópica, quando outro tópico é iniciado sem que o anterior tenha sido totalmente finalizado. Além das possibilidades acima mencionadas, a distribuição linear dos tópicos também pode ocorrer por transição e movimentação de tópico, sendo que a transição é uma mudança gradual que se localiza entre a continuidade, caracterizada pelo término de um tópico seguido do início de outro, e a descontinuidade, com a ruptura de um tópico em desenvolvimento para a introdução de novo tópico. Assim a transição não faz parte de nenhum dos tópicos anterior ou seguinte, mas se manifesta como uma ligação entre eles, evitando uma mudança tópica muito rápida que poderia prejudicar a coesão e a coerência do texto. Já a movimentação é caracterizada por um “deslizamento” da centração do tópico para um dos aspectos do tópico, geralmente com estratégias que fazem uso de itens lexicais do mesmo campo semântico (frame), podendo mudar o tipo de abordagem, o ponto de vista, exemplificar, resumir ou analisar, e fazer comparações entre pontos já abordados no tópico. Outra característica do tópico discursivo apontada por Jubran (idem) são as marcas lingüístico-discursivas de delimitação tópica. Embora estas marcas apresentem uma dificuldade para sistematização, elas, em geral, ajudam na delimitação do segmento tópico. Os marcadores discursivos funcionam como conectores e articuladores textuais, ajudando na construção de um texto mais coeso e coerente ao atuar na progressão textual.

3. Análise e Discussão

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O livro “Macaco Simão no Cipó das Onze”, de José Simão (ILUMINURAS: 1991) reúne os textos publicados pelo autor no jornal Folha de S. Paulo entre 1989 e 1991, os quais apresentam certas semelhanças e diferenças em relação à atual configuração de suas colunas. Antes de falarmos sobre as colunas propriamente ditas, é interessante ressaltar que no texto introdutório, “Inspiração Não É Banana”, escrito como prefácio do livro, José Simão tenta explicar e definir sua forma de escrita, seu estilo e sobre os temas tratados: “E esclarecimentos à população: minhas telecolunas sobre televisão não são feitas pra concordar. São feitas pra acordar! E rindo! Eu escrevo rindo! Eu sou pago pra dar risadas. Macaco é assim: vive de gar-galhada em gar-galhada! (...) Eu já acordo em pé! E afiando a língua em amolador de faca! E o meu olho? O meu olho é uma câmera de TV. Apareceu na televisão, caiu na língua do Macaco Simão!” “E eu encaro a TV como encaro o mundo: com poesia e deboche. E nasci com um Erê na cachola. Erê é a entidade-criança que baixa nos terreiros de candomblé. Aquelas crianças bem inconvenientes, assim como eu! (...) E o meu estilo, afinal? É o estilo escracho-chique.” “E os meus fãs e fanáticos me perguntam: você vê TV o dia inteiro? Eu não! A vida não é vidiotia. Essa é a verdadeira trilogia do Macaco Simão: televisão, telefone e rua. Porque palco, tela e rua é tudo show-biz, macacada.” (SIMÃO, 1991:11-12)

A temática, e também um pouco do estilo irônico-sarcástico, das colunas do Macaco Simão acompanha a tendência de outros escritores humorísticos como Millôr Fernandes e Tutty Vasquez que falam, basicamente, sobre atualidades, englobando assim um grande número de assuntos possíveis. Mas diferentemente de José Simão, estes autores separam graficamente cada um dos vários temas tratados em suas colunas. Já nos textos do Macaco Simão, o que podemos observar é uma continuidade gráfica, na qual os diversos assuntos são reunidos em períodos que seguem períodos, formando parágrafos. Dessa forma, é o objetivo deste estudo averiguar como tópicos diferentes podem ser sobrepostos, sendo ou não desenvolvidos no decorrer da coluna, e

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ainda sim, o produto final ser considerado um texto, entendido aqui como uma “unidade de sentido”. Como exemplo para entendermos como se configuravam as primeiras colunas do autor, tomemos a primeira divisão temática que o livro apresenta, “Em Tempos De Collor, Miss-Zélia Pouca É Bobagem”, que traz colunas que tratam, principalmente, do período econômico vivido no início dos anos 90, durante o governo do presidente Fernando Collor de Mello, que tinha como ministra da economia Zélia Cardoso. É claro que apenas o fato de uma coluna estar agrupada dentro de um tema maior, não significa que ela trate única e exclusivamente dele. Desde seus primeiros textos, a grande variedade de tópicos abordados dentro de uma mesma coluna é uma das características mais presentes nos escritos de José Simão. Embora atualmente José Simão tenha encontrado partes formulares para suas colunas, o que hipoteticamente influencia na leitura diária, uma vez que os textos

apresentam vários

elementos composicionais

idênticos

ou

muito

semelhantes (que serão descritos e detalhados mais a frente), no início de sua carreira tal organização não estava presente. Quanto a esta atual forma de composição, quando comparamos as sete colunas que pertencem à primeira divisão temática do livro publicado em 1991, podemos observar que o autor apresenta uma grande variação a respeito da forma e da diagramação dos sete textos. As colunas “PACOTÃO, NÃO! QUERO O MEU DINHEIRO DE VOLTA!”, “O ROMEU DAS JULIETAS BRASILEIRAS É O ROMEU TUMA” e “ESPLENDOR E GLÓRIA, EM TEMPOS DE MISS-ZÉLIA” não apresentam nenhuma mostra das chamadas que se tornariam marca registrada das colunas de José Simão. Nelas, ele inicia a coluna dirigindo-se diretamente ao leitor, como sua forma irreverente de dialogar com seus leitores. “Eu quero meu dinheiro de volta!”, da coluna “Pacotão, Não! Quero o Meu Dinheiro de Volta!” (SIMÃO, 1991:19) “Gente, do mundo nada se leva! Chega de bode!”, da coluna “O Romeu das Julietas Brasileiras é o Romeu Tuma” (SIMÃO, 1991:20) “Cabritas, do mundo nada se leva! Matei a coluna e fui ao show do Caetano”, da coluna “Esplendor e Glória, em Tempos de Miss-Zélia” (SIMÃO, 1991:23)

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Nos exemplos acima, vemos como a fórmula inicial tão marcadamente característica das colunas atuais, ainda não havia se consolidado em meados de 1989 a 1991. Nas colunas acima citadas, o autor começa seus textos de diferentes maneiras que não possibilitam a visualização de uma fórmula inicial fixa, como viria a acontecer posteriormente com, por exemplo, “Buemba! Buemba!”. Já as colunas “HOJE EM DIA, EM BOCA-LIVRE ENTRA ATÉ MOSQUITO”, “TIETA REBOLA MAIS DO QUE MINHOCA EM ANZOL”, “RASPOU, ACHOU, GANHOU, ‘AS TREVAS DO IPOJECA’” e “AMARRA AS MÃOS DO KANDIR QUE ELE FICA MUDO” começam com tentativas de fórmulas fixas que, mais tarde, viriam a se cristalizar nas atuais colunas do autor: “Bom dia flor do dia!”, das colunas “Tieta Rebola Mais do que Minhoca em Anzol” (SIMÃO, 1991:24) e “Raspou, Achou, Ganhou, ‘As Trevas do Ipojeca’” (SIMÃO, 1991:25) “Bomba! Bomba!”, da coluna “Amarra as Mãos do Kandir que Ele Fica Mudo” (SIMÃO, 1991:26)

Sendo a sequenciação das colunas, um fator de grande importância para o processamento textual e, portanto, para a compreensão do conteúdo lido como sendo parte integrante de um todo, vale também ressaltar que outra característica marcante das atuais colunas de José Simão é a existência de uma expressão que indica o encerramento da coluna. Porém, das colunas pertencentes ao livro de 1991, aqui analisadas, somente 5 delas apresentam tal fórmula: “E quem fica parado é poste. Eu quero é tietá. Num sabe?”, das colunas “Pacotão, Não! Quero o Meu Dinheiro de Volta!” (SIMÃO, 1991:19); “O Romeu das Julietas Brasileiras é o Romeu Tuma” (SIMÃO, 1991:20); “Hoje em Dia, em Boca-livre Entra até Mosquito” (SIMÃO, 1991:21); “Tieta Rebola Mais do que Minhoca em Anzol” (SIMÃO, 1991:24); e “Raspou, Achou, Ganhou, ‘As Trevas do Ipojeca’” (SIMÃO, 1991:25)

A forte e marcada influência da oralidade, tanto na grafia das palavras, utilização de citações, expressões e marcadores lingüísticos mais comuns a língua oral (“tá pra nóis”, “num sabe”, “Ué”, entre muitos outros), buscando o efeito de aproximação com o leitor, simulando um diálogo oral, é outra

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característica das colunas atuais que já estava presente nos textos reunidos para o livro: “Bem que o velho guerreiro Chacrinha já balançava as massas e buzinava a pança aos gritos de ‘Olha o pacotão! Olha o pacotão!’” “Xi, aqui na sala ninguém está achando a menor graça nas minha piadas.” (SIMÃO, 1991:19) [grifos meus] “Quáquáquá!” (SIMÃO, 1991:20) [grifos meus] “Oba! Oba! Sorry, periferia e descamisadas.” “Rarará!” (SIMÃO, 1991:21) [grifos meus] “Num to nem aí!” “Tá pra nóis!” (SIMÃO, 1991:23) [grifos meus]

Dessa forma, as marcas de oralidade também integram o processamento textual que auxilia o leitor da coluna e ler e compreender o texto de José Simão como “um todo de sentido”, uma vez que esta busca pelo efeito de aproximação do leitor faz com que o texto seja lido de uma maneira contínua, apesar da rápida mudança tópica, como mostrado nos exemplos acima. Apesar do agrupamento temático já mencionado, nenhuma das colunas realmente se prende a um único tópico. Vale ressaltar também que o título da coluna reporta apenas um dos tópicos abordados e nem sempre diz respeito, necessariamente, ao mais desenvolvido deles. Em geral, o título funciona como uma manchete de notícia ou de reportagem, com a função de destacar o que for mais relevante e/ou mais interessante para o leitor, segundo a visão do autor. As colunas publicadas no livro apresentam um rápido desenvolvimento tópico, passando, por exemplo, de assunto político a um assunto esportivo ou televisivo, entre outros, sem que os tópicos sejam amplamente abordados, mas ao contrário, se sucediam rapidamente. Nas colunas aqui analisadas2, tantos as reunidas no livro quando as publicadas diariamente no jornal, a centração dos tópicos nem sempre obedece à “relação de interdependência semântica entre os enunciados” exigida pela concernência, que na maioria das vezes aborda assuntos e temas diferenciados num mesmo parágrafo, como é próprio do gênero “colunas de variedades”.

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Devido a este “abalo“ nas propriedades de concernência e relevância, muitas vezes a mudança tópica ocorre sem que se estabeleça uma relação ou associação entre eles, baseando-se apenas nos comentários, trocadilhos e as mais variadas espécies de associação que promovem a progressão textual, mas o deslizamento tópico, ou movimento de transição tópica, que é a mudança da centração tópica acontecendo de maneira menos brusca, é mais visível nestas colunas do que nas atuais: (exemplos retirados da coluna “Pacotão, não! Quero o meu dinheiro de volta!”) “(1)Eu quero o meu dinheiro de volta! Dinheiro, dinheiro! D-I-N-H-E-I-R-O! Grana, grana viva. (2) Bem que o velho guerreiro Chacrinha já balançava as massas e buzinava a pança aos gritos de “Olha o pacotão! Olha o pacotão!”. (3) E não era o pacotão do Zé Meyer, não. (4.1) É o pacotão da Zélia. (4.2) A Primeira mulher a mostrar o pacotão no Congresso.” (SIMÃO, 1991:19)

No parágrafo acima, podemos observar a mudança entre tópicos ocorrendo de forma bem pouco brusca, devido a existência da estratégia de deslizamento. Ao começar explorando os sinônimos (1) “dinheiro-grana”, o autor salta diretamente para uma citação atribuída ao apresentador de televisão Chacrinha, seguindo de um comentário próprio sobre (3) “o pacotão do Zé Meyer” e usando-o o como gancho para começar a comentar o (4) “pacotão da Zélia”, referindo-se ao (4.1) “pacote econômico” lançado pela então ministra da Economia, Zélia Cardoso, caracterizado como um subtópico do tópico centrado em “Zélia”, sendo o outro subtópico (4.2) o cometário sobre a “primeira mulher a mostrar o pacotão no Congresso”. Neste trecho podemos observar a existência de 4 tópicos: 3 nãodesenvolvidos (“dinheiro-grana” ; “Olha o Pacotão-Chacrinha” ; “o pacotão do Zé Meyer”); e apenas 1 desenvolvido (“Zélia”), que apresenta 2 sutópicos (“pacotão da Zélia” ; “primeira mulher a mostrar o pacotão no Congresso”. Os 4 tópicos, apesar de não desenvolvidos, observam a propriedade de concernência da centração pois respondem a um suposto supertópico anunciado pelo título da coluna, “Pacotão, não! Quero o meu dinheiro de volta!”, trabalhando a significação do substantivo “pacotão”, tanto para referir-se à medida governamental implantada pela ministra Zélia, quanto a uma parte do corpo do então galã de novelas, José Meyer e o bordão do apresentador Chacrinha.

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Dessa forma, as passagens tópicas são possíveis por causa do valor polissêmico da palavra “pacotão”, que facilita a relação de interdependência semântica entre os tópicos apresentados. A respeito da propriedade de “relevância” da centração, vemos que o exemplo acima não apresenta mostras explícitas das relações de “importância ou proeminência” entres os tópicos que, não necessariamente, dependem uns dos outros do ponto de vista lógico-semântico para serem compreendidos. Enquanto a concernência e a relevância procuram trabalhar a “unidade” dos tópicos, a “pontualização” tem com função a delimitação deles. Nela, os tópicos são delimitados pelo conjunto de subtúpicos a eles pertencentes. Assim, vemos que, no exemplo acima, embora os 4 tópicos apresentem as características da concernência, pois associam-se por meio da polissemia da palavra “pacotão”, a relevância não se assenta em relações lógico-semânticas, uma vez que os tópicos se sucedem sem uma real necessidade de dependência entre eles. Já quanto a pontualização, vemos a delimitação do tópico (4), centrado em “Zélia”, ser delimitado pelos 2 subtópicos a ele relacionados, (4.1) “pacotão da Zélia”, e (4.2) “primeira mulher a mostrar o pacotão no Congresso”. Até aqui vemos que a idéia de texto como unidade de sentido presidida por um tópico, embora com alguma fragilidade, ainda é aplicável, uma vez que os tópicos respondem ao supertópico anunciado no título da coluna, “pacotão”. Porém, tal suposição não se mantém, no parágrafo abaixo: (4.3) Engraçado, eu ouvi a Zélia afirmar para todas as câmeras do Brasil que ela ia continuar aplicando no over. Das duas uma. Ou ela só tinha aplicado Cz$49.999,99. Ou gosta de perder dinheiro mesmo. É masoquista! (SIMÃO, 1991:19)

No segundo parágrafo, o autor desenvolve outro sub-tópico ligado ao tópico (4) “Zélia”, ampliando assim a pontualização do tópico (4) ao discorrer mais um pouco sobre a questão do pacote econômico, mais especificamente sobre a (4.3) “aplicação no over”, também pertencente a delimitação do tópico (4) – “Zélia”. Ainda no subtópico (4.3) – “Engraçado, eu ouvi...” –, o autor encaminha o leitor para a conclusão do parágrafo: “É masoquista!”, que encerra o tópico até então discutido, fechando-o (ou delimitando-o) com os sub-tópicos acima mencionados.

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Na seqüência, temos a ocorrência de mais uma estratégia de processamento textual que auxilia a visualização da coluna do Macaco Simão como uma unidade de sentido: (5) Mais masoquista que aquela famosa tarada dos estádios. Que quando entrou no Maracanã em plena Explosão Fla-Flu e viu a bola sendo chutada pra lá e pra cá, ela não se conteve e gritou roxa de inveja: “Sortuda! Sortuda! Leva chute não de um bofe, mas de vinte. De vinte, não. De vinte e dois bofes. E durante duas horas. Sortuda.” E a coitada foi retirada em camisa-deforça. Por motivos de força maior. (6) E por motivos de força maior acabo de receber um telefonema me desconvidando para jantar fora: “O que é que a gente vai pedir? Água?!” (SIMÃO, 1991:19)

Ao começar o parágrafo, e um novo tópico (5), como uma expressão idêntica a que encerrou o parágrafo, e também o tópico, anterior, “É masoquista! – Mais masoquista que aquela famosa (...)”, o autor cria um gancho de “deslizamento”, ou transição, entre os dois tópicos, supostamente tornando a mudança entre eles, (4) “Zélia” e (5) “famosa tarada dos estádios”, menos brusca. Após desenvolver o assunto do tópico (5), “famosa tarada dos estádios”, um dos mais desenvolvidos da coluna, o autor utiliza novamente a mesma estratégia de deslizamento tópico, trabalhando o final desse parágrafo, “Por motivos de força maior.”, e fazendo-o atuar como um gancho para o próximo parágrafo, “E por motivos de força maior (...)”, que dá início a um novo tópico (6) “desconvite para jantar”.

Atualmente nos textos de José Simão, esse deslizamento tópico, é bem menos comum, pois a sobreposição de tópicos não-desenvolvidos ocorre com uma freqüência muito maior, sendo, inclusive, uma das características mais marcantes de sua coluna no formato atual. Antes de partirmos para a análise de uma coluna atual, podemos verificar, ainda nas colunas antigas, um outro mecanismo utilizado por José Simão para conferir às suas colunas o status de texto e não apenas a condição de vários tópicos sobrepostos. Para isso, podemos citar a coluna “OLHO DE LINCE NO

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LANCE”, também publicada no livro “Macaco Simão no Cipó das Onzes”, na qual a mudança entre os tópicos acontece de maneira acelerada: (1)Prossegue a todo vapor a mais nova seção desta sua telecoluna: “Eu to de olho no adesivo dela”. (2)A loira da Parati metálica afifou. (3)A cegueta do Fuscão preto Malufou. (4)A freira da Kombi, em vez de freiar, freirou. (5)E a peladona do terceiro andar colloriu, descoloriu, afifou, desafifou, encovou, empedreirou, caiu de quatro e nasceu uma carroça atrás. (SIMÃO,1991:101)

No exemplo acima, temos o primeiro parágrafo da mencionada coluna, na qual podemos observar que, além de não apresentar nenhuma das tentativas de fórmula fixa para o início da coluna, o desenvolvimento dos tópicos é quase inexistente. Num único parágrafo, temos 5 tópicos diferentes dos quais, embora, apenas o tópico (5) “peladona do terceiro andar” possui um leve traço de desenvolvimento. A centração destes tópicos, “política”, é bastante ampla e possibilita que a concernência entre eles se mantenha, uma vez que os 5 tópicos aparecem relacionados por trazerem uma certa semelhança entre os sujeitos e os verbos, ironizando os adesivos colocados em carros em épocas eleitorais, ou seja, fazendo um apelo a infêrencia. Na seqüência da coluna, vemos que a mudança tópica continua em um ritmo quase alucinante, sem nenhuma mostra de deslizamento ou desenvolvimento dos tópicos apresentados, nem uma relação lógica ou associativa com os tópicos já relacionados acima, na qual a concernência existente no exemplo anterior não está mais presente: (6)E você sabia que a minha coluna já não agüenta mais tantos exercícios democráticos? (7)E que os candidatos estão pior que a Marta Rocha, que quando aperta, afrocha? (8)E que o horário eleitoral tá pior que a Noite do Havaí, que só dá abacaxi? (9) E que o Gabeira parece bibelô antigo? A gente gosta, mas não tem onde colocar. (SIMÃO,1991:101)

Aqui, mais 4 novos tópicos são apresentados, também enquadrados no supertópico centrado, ampla e vagamente, em “política”, mas nenhum deles retoma ou desenvolve tópicos anteriormente expostos. Eles mantêm uma leve concernência baseada no assunto geral a ser tratado que é a política, porém, o

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autor não se detém um apenas um aspecto deste assunto, abordando-o a partir da crítica a vários políticos. No exemplo acima, ainda mais do que no anterior, vemos que a rapidez da mudança tópica, característica dos textos de José Simão, aparece de maneira ainda mais acelerada do que na coluna anteriormente analisada. A função coesiva, anteriormente atribuída à estratégia de deslizamento tópico, aqui é marcada pela ampla e vaga centração em “política”. Diante disto, e retomando a idéia central deste estudo que é compreender como se dá a progressão tópica numa coluna de variedades, podemos verificar que, apesar de não apresentar os mecanismos de deslizamento e de desenvolvimento tópico, os textos de José Simão não são considerados “amontoados desconexos de material lingüístico” e sim textos efetivos e coerentes. Como já foi mencionado, outras estratégias de processamento textual são utilizadas pelo autor para que essa intenção seja concretizada. Entre elas, o estilo próprio e irreverente, as fortes marcas da oralidade e, no caso da coluna “OLHO DE LINCE NO LANCE”, um tópico bastante amplo centrado em “política”, fazem com que a coluna seja lida pelo leitor como um texto único e não como várias partes soltas. Para organizar e relacionar estes tantos tópicos, temos, ainda que em menor grau que nos textos atuais, mas já presente nas colunas antigas, a ocorrência de conectores “E”, no papel de conjunção aditiva, iniciando a maioria dos períodos para estabelecer (ou, ao menos, indicar) a relação sintático-semântica entre eles, no encadeamento aparentemente desconexos dos tópicos abordados pelo autor, numa estratégia de “amarramento de seqüências textuais”, sem dúvida é um mecanismo que confere às colunas de José Simão o status de “texto”: (exemplos retirados da coluna “Pacotão, não! Quero o meu dinheiro de volta!”) “(6) E por motivos de força maior acabo de receber um telefonema me desconvidando para jantar fora: “O que é que a gente vai pedir? Água?!” (4.4) Não, a gente reúne a macacada toda e vai lá na casa da Zélia. E ela prepara rapidinho coelho na mostarda, seu famoso prato predileto. E ainda bota na conta dela mesma. (7) E o comandante Dário é mergulhador em Mangue Seco. Eu nunca vi mergulhar em Mangue Seco. Só desenho animado. (8) Xi, aqui na sala ninguém está achando a menor graça das minhas piadas. Só tão

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rindo para não perder o amigo. (9) E a Erandy tadinha não tem mais dinheiro pra pagar a segunda prestação da cortina” (SIMÃO, 1991:19)

No parágrafo acima, além dos conectores “E” funcionarem como continuadores do tópico centrado em (4) “Zélia”, eles também promovem a mudança de tópico ao inserir o período sobre (7) ‘Dário-mergulhador em Mangue Seco” e, após uma breve digressão do autor, (8) “Xi, aqui na sala (...)”, ele começa um novo tópico não relacionado com os anteriores sobre (9) “Erandy”. Como podemos observar, nos dois últimos parágrafos acima temos a ocorrência de 4 tópicos diferentes, sendo 3 deles sem nenhuma conexão lógicasemântica com o supertópico anunciado no título da coluna (“pacotão”), e 1 deles, retomando a centração de um tópico anterior, (4) “Zélia”, acrescentando-lhe um novo subtópico (4.4) “jantar na casa da Zélia”. A ampla utilização da conjunção aditiva “E”, na função de conector textual, introduzindo ou não novos tópicos, também é uma das estratégias que ajudam o leitor da coluna “OLHO DE LINCE NO LANCE” a visualizar a enorme quantidade de tópicos diferentes como pertencentes a um único texto: “(6)E você sabia que a minha coluna já não agüenta mais tantos exercícios democráticos? (7)E que os candidatos estão pior que a Marta Rocha, que quando aperta, afrocha? (8)E que o horário eleitoral tá pior que a Noite do Havaí, que só dá abacaxi? (9) E que o Gabeira parece bibelô antigo? A gente gosta, mas não tem onde colocar. (10) E que o Lulalá tá tão obcecado por distribuição de rendas que quer desapropriar o Centro de Artesanatos no Ceará? Ulalá! (11) E reparou que o Afif tem a voz de locutor de baile de debutante? (12) E reparou ainda que o Affonso Camargo criou o vale-transporte e chegou por último nas pesquisas? (13) E que o Enéas é barbudão e careca, e o pai é barbeiro?” (SIMÃO,1991:101)

Nos dois parágrafos acima, vemos a introdução de 8 tópicos, todos introduzidos pelo conector “E”. Durante a leitura da coluna, o conector, que funciona como “amarrador” de porções textuais, busca criar o efeito de coordenação entre os períodos e, assim, supostamente relacionar os tópicos dentro do supertópico da coluna, “política”.

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Quanto a organicidade, ou seja, a articulação das seqüências tópicas, nos parágrafos analisados acima,

podemos ver que os diferentes tópicos se

organizam linearmente, passando de um para outro através da estratégia de deslizamento, num encadeamento dos tópicos apresentados. Na coluna “Pacotão, não! Quero o meu dinheiro de volta!”, temos a organicidade linear estabelecendo, basicamente, por meio da continuidade, na qual os tópicos a partir do (1) – “dinheiro-grana”- vão sucedendo-se até chegar ao tópico (6) – “desconvite para jantar” – quando, ao invés de seguir para o tópico (7) – “Dário” – retoma um tópico anteriormente exposto e desenvolve mais um de seus subtópicos – (4.4) “jantar na casa da Zélia”. Neste ponto, vemos a descontinuidade da organicidade dos tópicos, uma vez que a seqüência dos tópicos é interrompida, retrocedendo ao tópico (4), fazendo em seguida uma digressão, no tópico (8), e depois seguindo para o tópico (9). Já na coluna “Olho de Lince no Lance”, mesmo sem o mecanismo de deslizamento entre os tópicos, podemos observar que a organicidade linear mantém sempre a continuidade, já que os tópicos de (1) a (13) seguem em seqüência, sem que haja entre eles uma interrupção que caracterize a descontinuidade.

Outra marca característica das colunas de Macaco Simão, tanto das atuais como das antigas, é o trabalho de referenciação, no qual o autor cria novos referentes com base em associações, formando-os a partir da mistura ou troca de nomes das personalidades, lugares ou situações tratadas na coluna, criando assim diferentes objetos-de-discurso no decorrer de sua argumentação: (exemplos retirados da coluna “Pacotão, não! Quero o meu dinheiro de volta!”) - “No overmelho” (SIMÃO, 1991:19), formado a partir do cruzamento da expressão “aplicação no over”, umas das possibilidades do plano econômico do confisco do governo Collor, com a cor “vermelho”, que, em relação a contas bancárias, traz a idéia de saldo negativo. - “Aborrecido Moreira” (SIMÃO, 1991:19), é formado a partir do cruzamento do nome do então apresentador do Jornal Nacional, atualmente no Fantástico, “Cid Moreira”, com a palavra “aborrecido”.

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(exemplos retirados da coluna “O Romeu das Julietas Brasileiras é o Romeu Tuma”) - “Gordoidão Jô Soares” (SIMÃO, 1991:20), formado a partir do cruzamento de dois adjetivos associados pelo autor ao apresentador Jô Soares, “gordo” e “doidão”. (exemplos retirados da coluna “Esplendor e Glória em Tempos de MissZélia”) - “Miss-Zélia” (SIMÃO, 1991:23), formado da soma das palavras “Miss”, pronome de tratamento da língua inglesa, e “Zélia”, primeiro nome da então ministra da economia do governo Collor, buscando o efeito humorístico pela aproximação sonora da palavra “miséria”. - “Era-undina” (SIMÃO, 1991:23), formado a partir da separação e alteração do nome da ex-prefeita da cidade de São Paulo (1989-1993) Luiza Erundina, com a palavra “Era”, indicando o período de tempo de governo. (exemplos retirados da coluna “Tieta Rebola mais do que Minhoca em Anzol”) - “Benedito Ruym Barbosa” (SIMÃO, 1991:24), formado a partir do cruzamento do nome do autor de novelas “Benedito Ruy Barbosa” e a palavra “ruim”. (exemplos retirados da coluna “Olho de Lince no Lance”) - “Afifou” (SIMÃO,1991:101), verbo criado a partir do nome do político Guilherme Afif Domingos. - “Malufou” (SIMÃO,1991:101), verbo criado a partir do nome do político Paulo Maluf. - “Colloriu” (SIMÃO,1991:101), verbo criado a partir do nome do político Fernando Collor. Embora atualmente este trabalho de criação lexical seja muito mais recorrente nas colunas de José Simão do que eram nos textos reunidos no livro da editora Iluminuras (1991), ainda sim podemos perceber o grande número de novos objetos-de-discurso criados a partir de um trabalho com palavras já existentes pelo autor, que dão ao texto o caráter dinâmico e humorístico do estilo de José Simão.

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Tendo até aqui verificado como se compunham e estruturavam as antigas colunas do Macaco Simão, podemos agora partir para a análise de um texto atual, comparando-as quando possível para salientar as diferenças e semelhanças encontradas. Para esta nova etapa da análise, utilizaremos como base a coluna “E o Ministério das Perguntas Cretinas?”, publicada no jornal Folha de S. Paulo no dia 18 de março de 2007, acrescida, a título de exemplificação, de trechos retirados de outras colunas. A temática das colunas atuais, como é próprio do gênero colunas de variedades, é bastante variada, tratando de acontecimentos políticos, sociais, televisivos, etc, comentados de forma bem particular pelo autor, com um alto teor crítico baseado principalmente no forte tom irônico. Outra característica que se manteve entre os textos aqui analisados é o estilo do autor, que conta com uma marcante e bem perceptível influência da oralidade. Tal característica aparece sob diversas formas, dando ao texto um aspecto de conversa informal, na qual o autor pressupõe um interlocutor presente e dialoga abertamente com ele em vários momentos, melhor detalhados nos exemplos abaixo. - Na introdução quando o “chama” o leitor, utilizando a fórmula inicial de todas as colunas atuais: “BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!” (FOLHA DE S.PAULO, 18-032007); - Quando ri de suas próprias piadas, utilizando a expressão que aparece em vários momentos do texto de José Simão, indicando as piadas que o autor considera mais engraçadas: “Rarará!” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007); - Quando acrescenta um comentário pessoal a uma citação ou a um acontecimento. No trecho abaixo, depois de citar a declaração do papa, o autor inclui um comentário próprio, “Tudo errado!”: “E a declaração do papa Chico Bento 16: "O segundo casamento é uma praga". Tudo errado!” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007) [grifos meus];

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- Ou quando avisa que vai introduzir a sessão do “Antitucanês” ou da “Cartilha do Lula”, como mostram os exemplos abaixo: “Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que perto de Belo Horizonte tem um bar e restaurante chamado Recanto da Perereca” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007), fórmula utilizada para introduzir uma novo tópico relacionado a temática da sessão “Antitucanês”; “E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante.” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007), fórmula utilizada para introduzir um novo tópico relacionado a temática da sessão “Cartilha do Lula”;

Exatamente como acontecia nas colunas antigas, podemos observar também a influência da oralidade na grafia das palavras e nas expressões lingüísticas que representam marcadores conversacionais, bem como a larga utilização de falas e citações durante o decorrer do texto: - “E avisa pro Lula que o Ponto G do Bush fica no fiofó do Bin Laden” - “‘Ah, CARPINTEIRAS’” - “E aí o Bial perguntou pra uma anta do Big Bagaça Brasil: ‘Qual um dos sete pecados capitais?’. ‘Grand Cannyon’” - “Nóis sofre, mas nóis goza” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007) [grifos meus]

Enquanto a temática e o estilo das colunas atuais mantêm uma grande semelhança com as colunas antigas, a progressão textual apresenta algumas diferenças. Se nas colunas publicadas no livro apresentavam mecanismos como o deslizamento tópico como estratégia para atenuar a rápida mudança tópica, atualmente tal mecanismo é muito pouco usado. Hoje, muito mais do que antigamente, as colunas baseiam-se nos comentários e trocadilhos e são, em sua maioria, apenas articulados pelo conector “E”, já demonstrado na análise das colunas antigas acima, ou seja, na função de “amarrador” de porções textuais. Podemos observar que atualmente o desenvolvimento tópico é ainda mais “acelerado”, passando rapidamente de assunto político a um assunto esportivo, por exemplo, ou de uma atualidade a um evento televisivo, entre outros, sem que

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se estabeleça uma relação lógico-semântica ou uma associação necessária entre eles: (1)E avisa pro Lula que o Ponto G da mulher fica no shopping.(2) E avisa pro Lula que o Ponto G do Bush fica no fiofó do Bin Laden!(3) E a Martox tem tanto botox que vai ser a única ministra IMEXÍVEL! Rarará! (4.1) E a declaração do papa Chico Bento 16: "O segundo casamento é uma praga". Tudo errado! (4.2)O primeiro casamento que é uma praga, o segundo é reincidência! E se casamento fosse bom, não tinha testemunha. Rarará! (4.3)Casamento é sempre assim: começa em motel e termina em pensão. (4.4)E sabe qual a diferença entre casamento e prisão? Na prisão, te deixam jogar bola! Rarará! (5)E esse papa é um inferno: contra transar antes do casamento, contra camisinha, contra os gays, contra o rock. Eu quero ser católico, mas o papa não deixa. Rarará! (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007) [grifos meus]

No exemplo acima, num único parágrafo, o autor introduz 5 tópicos diferentes. Nos três primeiros, José Simão faz uma piada sobre o suposto prazer feminino relacionado às compras e, em seguida, comenta a questão política entre o presidente americano Bush e sua incansável busca pelo terrorista Bin Laden, por meio de uma associação entre o que seria o maior prazer das mulheres, tópico (1), e o maior prazer de Bush, tópico (2). Logo após, no período seguinte, sem que uma associação explícita entre os tópicos já apresentados seja feita, o autor passa a tratar da atual ministra do Turismo Marta Suplicy, tópico (3), comentando a quantidade de aplicações do procedimento estético (botox) e as conseqüências que ele traz como o enrijecimento da pele do rosto e até insensibilidade, se feito em excesso. Ao dizer que Marta será a única ministra “imexível”, o autor também faz uma referência ao famoso pronunciamento do ex-ministro do trabalho, Antônio Rogério Magri, que criou o neologismo “imexível”, proporcionando ao leitor a possibilidade de inferência de “rosto imexível”. Se nos dois primeiros tópicos, podemos ver a concernência da centração baseada na expressão “ponto G”, presente em ambos e relacionando “mulhershopping” e “Bush-Bin Laden”, ao mesmo tempo em que a pontualização limita-os a apenas um período cada, a passagem deles para o terceiro tópico é totalmente

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diferente, sem que exista qualquer tipo de relação entre os dois primeiros tópicos e o terceiro. Saindo da política, o autor passa a falar de atualidades, aproveitando a proximidade da visita do papa ao Brasil e usando uma (4.1) declaração polêmica feita pelo chefe religioso dias antes a respeito da visão da Igreja Católica sobre o segundo casamento, dando início a um novo tópico, (4) “casamento”. Este tópico é o que apresenta o maior desenvolvimento, dividindo-se em outros 4 subtópicos nos quais o autor comenta a declaração, utilizando, piadas da cultura popular, (4.2); (4.3) e (4.4). Na seqüência, ele introduz um novo tópico (5), um ácido comentário pessoal a respeito das doutrinas do pontífice católico, que volta a relacionar-se com o subtópico (4.1) a respeito da “declaração do papa”. A partir dessa retomada entre o tópico (5) e o subtópico (4.1), cria-se uma certa coesão, que contribui para a progressão textual. Como o exemplo acima demonstra, dentre os 5 tópicos apresentados, somente o tópico (4) da declaração do papa e o subtópicos, (4.1), (4.2), (4.3), (4.4), a respeito do casamento são os tópicos mais desenvolvidos da coluna, uma vez que todos os outros são apenas introduzidos, um após o outro ,e praticamente não-desenvolvidos. Em seguida, o autor promove uma nova mudança de tópico passando a tratar de uma série de assuntos televisivos sem nenhuma relação com os tópicos já abordados anteriormente: (exemplos retirados da coluna “E o Ministério das Perguntas Cretinas?”) (6)“E aí uma repórter perguntou para uma drag: "O movimento drag queen começou em Londres ou Nova York?". "Acho que começou aqui em casa mesmo". Rarará! (7.1) E adorei a Claudete Troiano na Band: "Como é mesmo o nome daquelas que ficam chorando em velório? Ah, CARPINTEIRAS". Rarará!(7.2) Vai virar assessora intelectual da Lucianta Gimenez. (8.1)E aí o Bial perguntou pra uma anta do Big Bagaça Brasil: "Qual um dos sete pecados capitais?". "Grand Cannyon". Rarará! (8.2)Essa devia ir pra Cultura do novo Sinistério do Lula. (9)Pro Transportes eu sugiro o Rubinho. Para acelerar a indústria das multas. Passou de cinqüenta quilômetros, multa. Fez ultrapassagem, multa. Ultrapassou gringo, perde a carteira. Rarará! (10)E eu queria criar o Ministério das Perguntas Cretinas.” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007)

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No trecho acima, o autor faz três citações de falas retiradas de programas conhecidos por serem considerados pouco intelectuais da televisão, tendo como única conexão entre si serem respostas absurdas, as chamadas “pérolas da televisão”. Na primeira, tópico (6) o entrevistado ou não entendeu a pergunta ou quis fazer uma brincadeira com a repórter, dando uma resposta diferente da esperada (Londres ou Nova York). Em seguida, outra “pérola” é apresentada, tópico (7.1), na qual a apresentadora de televisão Claudete Troiano confundiu a palavra “carpideira” com “carpinteira”. Esta citação é comentada pelo autor, tópico (7.2), associando-a com outra apresentadora com tendência para gafes, Luciana Gimenez, que sempre marca presença nas colunas de José Simão com suas “pérolas”. Na seqüência, tópico (8.1), a terceira citação vem de uma grande confusão entre os sete pecados capitais, pergunta feita pelo apresentador, com as sete maravilhas do mundo, associação errada feita pela participante, uma vez que o Grand Cannyon também não faz parte das sete maravilhas. Para amarrar tantos tópicos aparentemente desconexos, o subtópico (8.2), volta ao campo político: a briga pelos ministérios do segundo mandado do governo Lula. Nele, o autor ironiza sugerindo que a “ostra marítima” produtora de uma “pérola” tão grande seja indicada a ministério da Cultura, chamado de “Sinistério”, um cruzamento entre as palavras “sinistro” e “Ministério”, melhor explicada abaixo. Dando seqüência a questão de indicações para as pastas governamentais, e utilizando a estratégia de deslizamento para passar de um tópico sobre “política” para um sobre “esportes”, tópico (9), o autor aproveita para ironizar também o piloto de Fórmula 1, Rubens Barrichello, indicando-o para “Transportes” e, por meio de uma crítica, justificando tal indicação pelo “respeito” do piloto pelas leis de trânsito como não ultrapassar e pelo limite de velocidade. Para sintetizar as três citações e associando ao assunto das pastas ministeriais, o autor propõe agrupá-las no “Ministério Perguntas Cretinas”, tópico (10), vindo “amarrar” as perguntas apresentadas nos tópicos (6), (7) e (8), juntamente com a crítica do tópico (9).

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Outra característica já presente nas colunas antigas, porém, mais acentuada atualmente é o processo de criação lexical apresentado pelo autor. No decorrer do texto, novos referentes são criados, com base em associações e a partir da mistura ou troca de nomes das personalidades, lugares ou situações tratadas na coluna, criando assim os diferentes objetos-de-discurso que preenchem e reforçam seu humor, crítica ironia e mesmo o sarcasmo: (exemplos retirados da coluna “E o Ministério das Perguntas Cretinas?”) - “Esculhambador-geral da República”, a partir da junção do verbo “Esculhambar” + “Procurador-geral da República”, associando a função de desmoralizar a qual o autor se dedica ao importante cargo público da República; - “Martox”, a partir da junção do nome de “Marta (Suplicy)”+ “botox”, associando a ministra do Turismo com o procedimento estético, segundo o autor, amplamente utilizado por ela; - “Chico Bento 16”, a partir da relação de “Chico Bento” “Papa Bento XVI”, associando o nome do personagem de história em quadrinhos com o nome do sumo pontífice; - “Lucianta Gimenez”, a partir do cruzamento de “Luciana Gimenez” + “anta”, associando a apresentadora de tv com a idéia pejorativa relativa a falta de inteligência. - “Sinistério”, a partir da cruzamento de “Sinistro” + “Ministério”, incorporando as características do adjetivo ao substantivo. Nas colunas antigas, a criação de palavras por estes procedimentos aparecia em menor grau, enquanto, atualmente este é um recurso humorístico muito utilizado pelo autor. Não só de cunho humorístico, os novos referentes representam boa parte crítica do autor, pois cada novo objeto-de-discurso construído abre possibilidade de uma série de inferências necessárias à compreensão da piada. O forte teor crítico destas criações fica bem marcado, nos exemplos abaixo: (exemplos retirados da coluna “Ueba! Clodovéia dá piti light!”) - “Kassabull”, a partir do cruzamento do nome do prefeito de São Paulo, “Gilberto Kassab” adicionando a terminação “bull”, da palavra “pitbull”, uma raça de cachorro considerada violenta;

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- “Clodovéia”, a partir do nome do deputado Clodovil, trocando final “vil” por “véia”, numa clara alusão a homossexualidade assumida do deputado e também sua idade.;(exemplos retirados da coluna “PAC! Plano de Ajuda ao Corinthians!”) - “Ronaldo Fofômeno”, a partir da famosa expressão “Ronaldo Fenômeno”, substituindo o elemento “Feno” por “fofo”, indicando o comentado sobrepeso do jogador. - “Ronalducho”, a partir do cruzamento do nome do jogador “Ronaldo” com o adjetivo “gorducho”, também aludindo ao excesso de peso do jogador. - “galinhático”, cruzamento de dos adjetivos atribuídos ao jogador, “galinha” e “galáctico”.

Além das semelhanças acima mencionadas, ao compararmos a coluna atual com as colunas antigas, parece indicar que o número de tópicos só introduzidos e não desenvolvidos é muito maior na coluna atual. As importantes estratégias de deslizamento tópico e a tentativa da centração dos tópicos subordinados a supertópico, que auxiliavam o leitor a compreender as colunas antigas de José Simão como um texto, parecem estar mais diluídas e mascaradas na configuração atual das colunas. Nas colunas aqui estudadas, porém, a aparente dimunuição de tais estratégias não implica em considerarmos as colunas do Macaco Simão como um escrito incoerente. Em 17 anos de evolução da escrita do autor, podemos verificar que outras estratégias garantem a unidade de sentido, fazendo com que o leitor aceite a coluna com um texto integro e coeso. Embora a temática e o estilo das colunas tenha se mantido bastantes semelhantes no decorrer dos anos, a grande diferença entre as colunas do início da década de 90 e dos textos atuais de José Simão é a forma de progressão das colunas. Atualmente, a forma praticamente fixa que elas apresentam é uma característica bastante marcante. Esta estrutura funciona com uma “moldura praticamente pronta” para o texto, na qual o autor insere seus tópicos e subtópicos. Todos os textos atuais, sem exceção, começam com a mesma “introdução”, que funciona com o topo de uma moldura para o texto que vai ser desenvolvido a seguir:

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BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da Republica! Direto do País da Piada Pronta!

Em seguida, o autor começa a desenvolver sua coluna por alguns parágrafos, introduzindo muitos tópicos, como analisado acima, e a encaminha para o final também com fórmulas que apresentam algumas variações de acordo com o tema central tratado pelo autor no dia, por exemplo: - “É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz o outro: é mole, mas sobe pra agradar a vizinha!” (FOLHA DE S.PAULO, 01-02-2007), exemplo retirado da coluna ”Buemba! Ronaldo é galinhático!” - “É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz o outro: é mole, mas, se provocar, ressucita!” (FOLHA DE S.PAULO, 04-02-2007), exemplo retirado da coluna ”PAC! Plano de Ajuda ao Corinthians!” -“É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz aquele outro: é mole, mas chacoalha pra ver o que acontece!!” (FOLHA DE S.PAULO, 10-02-2007), exemplo retirado da coluna ”Sampa! Todos de rodo na mão!” -“É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz o outro: é duro, mas desce!” (FOLHA DE S.PAULO, 08-02-2007), exemplo retirado da coluna “Ueba! Clodovéia dá um piti light!”

Essas

fórmulas

usadas

para

sumarizar

os

tópicos

apresentados

anteriormente e sinalizar a proximidade do enceramento da coluna, atuando também como um gancho de ligação para a introdução dos dois últimos parágrafos que trazem também uma série de fórmulas que introduzem dois novos “verbetes” para as sessões denominadas “Anti-tucanês” e “Cartilha do Lula”: (exemplo retirado da coluna “E o Ministério das Perguntas Cretinas?”) “Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Belo Horizonte tem um bar e restaurante chamado O Recanto da Perereca! O Melhor Salgado da Região! Ueba! Mais direto, impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Empapado": companheiro que não agüenta mais declaração do papa. Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês.” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007) [grifos meus]

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Vale ressaltar aqui que chamamos de “sessões fixas” uma série de fórmulas, desconectadas dos tópicos expostos no decorrer do texto, que aparecem todos os dias ao final das colunas atuais. Na “Antitucanês Reloaded”, a lacuna apresentada nos exemplos abaixo é preenchida sempre por tópicos que trazem nomes de lugares e estabelecimentos com alta conotação sexual, supostamente enviados por leitores do Brasil todo: Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Uruçui, no Piauí, tem uma boate chamada Mercado da Piriquita Usada! Parece Dias Gomes. Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! (FOLHA DE S.PAULO, 08-022007) [grifos meus]

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heróica e mesopotâmica campanha "Morte ao Tucanês". Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que um amigo meu estava na rodovia dos Bandeirantes quando viu o outdoor de uma banda de axé chamada PINTADA NA CARA! Mais direto impossível. Viva o antitucanês. Viva o Brasil! (FOLHA DE S.PAULO, 04-02-2007) [grifos meus]

Já a sessão fixa “Cartilha do Lula” na qual a lacuna da fórmula apresenta uma palavra já existente que ganha uma nova resignificação dentro a atual conjuntura política do governo Lula, ou relacionado a fatos do cotidiano ou da atualidade, geralmente apresentando um caráter crítico em relação ao presidente Lula ou a um de seus companheiros de partido e governo. Muitas vezes, esta sessão relaciona-se como algum dos assuntos tratados no decorrer da coluna, como mostra o exemplo abaixo, retomando a questão da visita do papa já exposta na coluna “Ministério das Perguntas Cretinas”, do dia 1802-2007. Vale lembrar que, embora esta ocorrência seja uma possibilidade e esteja presente na coluna principal aqui analisada, não é, de forma alguma, uma regra para todas as colunas: E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Empapado": companheiro que não agüenta mais declaração do papa. Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês.” (FOLHA DE S.PAULO, 18-03-2007) [grifos meus]

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E atenção. Cartilha do Lula! Mais um verbete pro óbvio lulante: "Paquiderme": companheiro gordo que apóia o PAC! Rarará! O lulês é mais fácil que o inglês. (FOLHA DE S.PAULO, 04-02-2007) [grifos meus]

E atenção! Cartilha do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante: "Terra do Fogo": lugar onde os companheiros vivem bêbados. Onde será? Rarará. O lulês é mais fácil que o inglês. (FOLHA DE S.PAULO, 15-02-2007) [grifos meus]

Em seguida, a finalização da coluna também fica por conta dessas fórmulas que se repetem, ou variam dentro de um pequeno grupo dependendo do contexto, fechando assim, a outra ponta da “moldura” que o autor estabelece para seu texto: (exemplo retirado da coluna “E o Ministério das Perguntas Cretinas?”) “Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. No Ponto G!” (FOLHA DE S.PAULO, 18-02-2007) (exemplo retirado da coluna ”Buemba! Ronaldo é galinhático!”) “Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!” (FOLHA DE S.PAULO, 0102-2007) (exemplo retirado da coluna ”Forno global! Bota o fio-dental!”) “Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. No pingolim. Pra ver se bate no teto! (FOLHA DE S.PAULO, 06-02-2007)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É interessante salientar neste momento que a hipótese inicial deste estudo pretendia encontrar uma quantidade muito maior de tópicos não-desenvolvidos nos textos de José Simão, que aproximariam suas colunas de “listagem de tópicos”. A idéia que se tem numa primeira leitura superficial dos textos atuais é que o autor meramente acumula tópicos desconexos uns após os outros, da maneira

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como é característica aos textos de colunas de variedades, sobrepondo assuntos diversos como televisão, política, esporte e atualidades. Como vimos, uma das diferenças principais entre as colunas do Macaco Simão e as de outros colunistas de variedades como Millôr Fernandes e Tutty Vasquez é justamente a diagramação e organização gráfica das colunas que, ao contrário de outros autores, não apresenta nenhuma separação gráfica entre os assuntos tratados, apenas justapondo períodos e parágrafos como se fosse um texto comum. Porém, no decorrer deste estudo e principalmente na comparação entre as colunas de 17 anos atrás e as colunas atuais aqui realizada, podemos ver que existe sim uma organização tópica que responde pela coesão textual das colunas de José Simão e que esta organização tópica, embora diluída e até mesmo mascarada, está mais presente nos textos aqui analisados do que supúnhamos inicialmente. Feita esta ressalta, é pertinente lembrar que o objetivo deste estudo é observar e averiguar como se estabelece a leitura de tantos tópicos seguidos e não-desenvolvidos como pertencentes a “um todo de sentido”, aparentemente contrariando as propriedades apresentadas pelos estudos de Jubran (2006) a respeito da topicidade, que indicavam a obediência dos tópicos apresentados a um suposto supertópico. Como foi apresentado, as colunas aqui analisadas, tanto as antigas quanto as atuais, não se baseiam única e exclusivamente num assunto ou tema a ser desenvolvido, ou seja, nem sempre os tópicos expostos necessariamente estão subordinados à centração de um supertópico. Para provarmos estas hipóteses, na primeira etapa da análise, foram analisadas mais detalhadamente as colunas antigas “Pacotão, não! Eu quero meu dinheiro de volta!” e “Olho de Lince no Lance”, pertencentes ao livro “Macaco Simão no Cipó das Onze” (1991), além de outros trechos de colunas publicadas no mesmo livro, acrescentados a título de exemplificação. Retomando brevemente as principais características encontradas nas colunas antigas analisadas nesta primeira etapa, temos: - grande variedade de assuntos abordados numa mesma coluna;

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- agrupamento dos tópicos em períodos e parágrafos, sem nenhuma separação gráfica entre eles indicando a mudança dos tópicos; - aparente ausência de partes formulares estabelecidas, tão características das colunas atuais ainda não haviam se cristalizado; - forte e marcada influência da oralidade, por meio de citações diretas e indiretas, além de expressões lingüísticas e marcadores conversacionais mais comuns à língua oral que buscam simular o um diálogo com o leitor da coluna; - progressão tópica acelerada, ou seja, mudança da centração tópica acontecendo sem que os tópicos anteriores se desenvolvam; - estratégias de processamento textual como deslizamento tópico, presença de um supertópico com centração bastante ampla (por exemplo, “política”) e marcadores textuais que promovem o “amarramento” seqüências textuais, buscando tornar a mudança tópica menos brusca; - processo de criação lexical a partir de palavras já existentes, buscando ressaltar o teor crítico e irônico-sarcástico do estilo autor; Das características acima listadas, merecem especial atenção as estratégias de processamento textual que são os aspectos mais importantes para a coesão textual das colunas do autor. Dentre elas, temos o deslizamento tópico presente nos exemplos abaixo, tornando a mudança tópica menos brusca, como vimos durante o decorrer da análise. Como já foi dito, estratégias como o deslizamento tópico, seja pela utilização da polissemia da palavra “pacotão”, ou então pelo uso de expressões idênticas ou semelhantes no final e no início dos tópicos, como mostrado nos exemplos da coluna “Pacotão, não! Eu quero meu dinheiro de volta”, buscam tornar a mudança entre tópicos de centrações tão diferentes menos bruscas.

Outra estratégia de processamento textual que auxiliava os primeiros textos de José Simão aqui analisados a manter a coesão textual é a introdução um supertópico com centração bastante ampla. Assim, ainda que muitos tópicos diferentes

sejam

introduzidos

no

decorrer

do

texto,

eles

continuaram

subordinados a um tópico maior e mais amplo, abrindo muitas possibilidades. Tal estratégia foi apresentada e melhor analisada na coluna “Olho de Lince no Lance”, na qual 13 tópicos foram apresentados e embora tratem de

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personalidades e acontecimentos políticos diversos, mantém uma relação lógicoassociativa devido a ampla centração do supertópico: “política”. Em ambas as colunas retiradas do livro, pudemos notar também a estratégia de “amaramento” de porções textuais efetuada pelo articulador textual “E”, que inicia a maioria dos períodos e parágrafos conectando-os por meio do processo de coordenação.

Quando partimos para as colunas atuais aqui analisadas e as comparamos com as antigas, vemos que muitas destas características se mantêm presentes, ainda que apareçam com menor freqüência. Porém, esta aparente diminuição de estratégias de processamento textual não significa, contudo, que os textos atuais sejam menos coesos e coerentes. Ao contrário, no decorrer dos anos José Simão aperfeiçoou tais estratégias e substituiu o uso de algumas delas por outras que também contribuem fortemente para a idéia de um texto integro e coerente. Das características encontradas nas colunas atuais estudadas aqui, elencamos como principais características: - uma variedade ainda maior de assuntos abordados numa mesma coluna, uma vez que a idéia de supertópico não mais se aplica; - a manutenção do agrupamento dos tópicos em períodos e parágrafos, sem nenhuma separação gráfica entre eles indicando a mudança dos tópicos; - a continuidade das marcas de oralidade em seu estilo; - uma progressão tópica ainda mais acelerada, tratando de tópicos com centrações diferentes em seqüência; - ocorrência bem menor da estratégia de processamento textual de deslizamento tópico; - rara presença de um supertópico com centração bastante ampla; - aumento considerável na utilização dos articuladores textuais “E”, na função de “amarradores” de porções textuais; - ocorrência muito maior do processo de criação lexical a partir de palavras já existentes, buscando ressaltar ainda mais o teor crítico e irônico-sarcástico do estilo autor; Além das características acima listadas, outra importante característica desenvolvida por José Simão no decorrer de 17 anos são as fórmulas fixas que

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enquadram seu texto no início e no fim. Tais partes formulares são responsáveis por criar para o leitor uma “moldura fixa” a ser encontrada diariamente nas colunas publicadas no jornal, a qual o autor apenas completa com períodos e parágrafos intermediários. Vista esta diferença crucial entre as colunas antigas e as atuais, podemos afirmar também que, além da idéia de “moldura” criada pela existência de tais partes formulares, é fundamental para a coesão do texto de José Simão a concepção de “gênero textual”. Os leitores sabem e entendem, ainda que não conheçam a terminologia, que o texto do autor é uma “coluna de variedades” e como tal tem a liberdade de tratar diversos assuntos desconectados entre si, sem que isso impeça ou prejudique a compreensão geral do texto. Dessa forma, retomando a pergunta-problema deste estudo, pode-se dizer que não existe apenas um fator responsável pela coesão textual das colunas do Macaco Simão, mas sim uma série de aspectos dentre os quais se destacam a consolidação de características próprias do autor como suas fórmulas fixas e seu estilo irônico-sarcástico e, principalmente, o gênero textual “coluna de variedades”.

_________________________ Notas: 1

Jubran (2006) ressalta ainda deve-se entender que o conceito de tópico discursivo defendido por ela, e

aceito neste estudo, difere do conceito de “tópico e foco” visto como “tema e rema” ou “dado e novo”, pois extrapola o nível frasal, indo além das sentenças simples trabalhadas pelos estudos semânticos. 2

Não foi preocupação deste estudo realizar um levantamento estatístico a respeito de todas as colunas

reunidas do livro ou publicadas no jornal, mas sim, apenas apresentar as colunas nas quais as características encontradas se apresentavam mais claramente.

5. Bibliografia

BENTES, Anna Christina. Lingüística Textual. In: MUSSALIN, F. e BENTES, A. C. Introdução à lingüística 1: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez 2001.

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JUBRAN, Clélia Cândida Abreu Spinardi. Tópico Discursivo. In: Gramática do português culto falado no Brasil. Campinas: UNICAMP, 2006. KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. A inter-ação pela linguagem. São Paulo: Contexto, 2002. _________ Introdução a lingüística textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004. _________ O texto e a construção de sentidos. São Paulo: Contexto, 1997. KOCH, Ingedore Villaça & ELIAS, Vanda Maria. Ler e Compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. LYONS, John. Linguagem. In: Língua(gem) e lingüística: uma introdução. São Paulo: LTC, 1987. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Atos de referenciação na interação face a face. In. KOCH, I. e MORATO, E. (Orgs.). Cadernos de Estudos Lingüísticos. Campinas, Nº.41.jul/dez 2001. _________ O Léxico: lista, rede ou cognição social? In: Sentido e significação – em torno da obra de Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2004. _________ Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: MARCUSCHI, L.A. Gêneros Textuais & Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005. SIMÃO, José. Macaco Simão no Cipó das Onze. São Paulo: Iluminuras, 1991. _________ Buemba! Ronaldo é galinhático! Folha de S. Paulo, versão online de 01 fev. 2007.

_________ PAC! Plano de Ajuda ao Corinthians! Folha de S. Paulo, versão online de 04 fev. 2007. _________Forno global! Bota o fio-dental! Folha de S. Paulo, versão online de 06 fev. 2007.

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_________ Ueba! Clodovéia dá um piti light! Folha de S. Paulo, versão online de 08 fev. 2007. _________ Sampa! Todos de rodo na mão! Folha de S. Paulo, versão online de 10 fev. 2007. _________ Socuerro! O Evo tomou Luftal! Folha de S. Paulo, versão online de 15 fev. 2007. _________ Ministério das Perguntas Cretinas! Folha de S. Paulo, versão online de 18 mar. 2007.

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