A transformação em áreas de lazer de espaços anteriormente degradados Análise do Parque da Juventude como estudo de caso

June 4, 2017 | Autor: G. Rocha Formicki | Categoria: Real Estate, Urban Planning, Urban Renewal
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

A transformação em áreas de lazer de espaços anteriormente degradados Análise do Parque da Juventude como estudo de caso

Guilherme Rocha Formicki

Professora Orientadora: Drª Marly Namur

São Paulo 2013

Guilherme Rocha Formicki

A transformação em áreas de lazer de espaços anteriormente degradados Análise do Parque da Juventude como estudo de caso Relatório Final de Pesquisa de Iniciação Científica realizada por meio de bolsa concedida por PIBIC/CNPq/RUSP/PIBITI/SANTANDER.

Professora Orientadora: Drª Marly Namur

São Paulo 2013

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3 OBJETIVOS DO TRABALHO ........................................................................................... 4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 7 1. INSERÇÃO HISTÓRICA E GEOGRÁFICA DA ÁREA ESTUDADA ......................... 9 1.1. A LOCALIZAÇÃO E A HISTÓRIA DO DISTRITO DE SANTANA .......................... 9 1.2 O IMPACTO DO COMPLEXO PENITENCIÁRIO NO ENTORNO ......................... 16 1.3. DO MASSACRE DO CARANDIRU À ABERTURA DO PARQUE DA JUVENTUDE ........................................................................................................................... 18 2. ANÁLISE DO NÍVEL DE INTEGRAÇÃO ENTRE OS FREQUENTADORES DO PARQUE ................................................................................................................................. 35 2.1. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA REGIÃO ........................................................... 35 2.2. ANÁLISE DO USO DOS EQUIPAMENTOS DO PARQUE ...................................... 40 3. ANÁLISE DO IMPACTO DO PARQUE EM SANTANA SOB O PONTO DE VISTA IMOBILIÁRIO ....................................................................................................................... 49 3.1. ENTREVISTA COM CORRETOR IMOBILIÁRIO .................................................... 52 3.2. OBSERVAÇÃO E LEVANTAMENTO DOS ANÚNCIOS DE LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NO ENTORNO IMEDIATO DO PARQUE ............................................... 53 4. INVESTIGAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS DO PARQUE DA JUVENTUDE............... 65 4.1. A SEGURANÇA E A ILUMINAÇÃO ........................................................................ 70 4.2. A MANUTENÇÃO DAS QUADRAS .......................................................................... 76 4.3. A INTEGRAÇÃO DO PARQUE COM O ENTORNO ................................................ 82 4.4. A FALTA DE DIVULGAÇÃO ..................................................................................... 86 5. LEVANTAMENTO DE FUTURAS INTERVENÇÕES NO PARQUE ....................... 90 6. DIRETRIZES PROPOSTAS PARA O PARQUE DA JUVENTUDE .......................... 93 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 101 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 103 ANEXO A .......................................................................................................................... 108 ANEXO B .......................................................................................................................... 119 1

ANEXO C .......................................................................................................................... 122 ANEXO D .......................................................................................................................... 136 ANEXO E .......................................................................................................................... 141 ANEXO F ........................................................................................................................... 142

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INTRODUÇÃO Esse trabalho se propõe a estudar a transformação ocorrida em uma área degradada do Distrito de Santana. Essa área abrigou por muitos anos a Casa de Detenção de São Paulo – mais conhecida como Carandiru. Hoje, no lugar desse presídio – que integrava um grande complexo penitenciário que não foi totalmente desativado – há uma grande área verde chamada de Parque da Juventude. A chegada desse parque não ocorreu à toa. O Complexo Penitenciário do Carandiru – que incluía a Casa de Detenção de São Paulo – constituía uma área extremamente degradada, área essa que não se limitava às muralhas das prisões. Projetada para abrigar no máximo 3.250 detentos, chegou a receber 8.000 presos simultaneamente. O maior reflexo dos problemas a que o complexo estava submetido fez-se sentir em outubro de 1992, quando ocorreu o Massacre do Carandiru. Nessa ocasião, os detentos da Casa de Detenção rebelaramse e 111 deles acabaram mortos em meio a confrontos com policiais militares. Pode-se dizer que esse massacre foi o estopim para a desativação do complexo. Ainda que, efetivamente, apenas a Casa de Detenção tenha sido demolida, pode-se dizer que a desativação e a subsequente implantação do Parque da Juventude foram importantes no sentido de recuperar o Distrito de Santana. Como todo parque, há pontos a serem discutidos, mas, no âmbito geral, a substituição da Casa de Detenção pela área livre estudada foi bastante exitosa. A começar pelo símbolo positivo que este parque se tornou frente ao triste passado de seu local de implantação.

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OBJETIVOS DO TRABALHO Um dos principais objetivos dessa pesquisa é descobrir qual foi o impacto do Parque da Juventude no seu entorno. Investigações acerca de seus efeitos na vida dos moradores da região de Santana, bem como pesquisas que expliquem o impacto desse parque no mercado imobiliário da região são, portanto, conduzidas. O estudo da história do Distrito de Santana, assim como da forma como essa área se estrutura em termos urbanísticos também foram metas de estudo, uma vez que, encontradas as respostas, a análise da inserção do Parque da Juventude poderia ser mais completa. Também se buscou entender quais são os problemas que o Parque da Juventude enfrenta. Afinal, considerou-se que o parque alcançou muitos êxitos. Porém, como qualquer área pública, ele está sujeito a problemas de manutenção, segurança, etc. Dessa forma, propôs-se a elaboração de diretrizes que tentem solucionar os problemas apontados. Em resumo, a grande questão que essa pesquisa se propôs a responder está relacionada a qual é a grande função do parque e se essa área cumpre bem essa função. Certamente, há muitos acertos. Mas poderiam ser esses acertos amplificados?

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METODOLOGIA Tendo em vista os objetivos lançados acima, essa pesquisa estrutura-se em seis capítulos. O primeiro deles (Inserção Histórica e Geográfica da Área Estudada) visa à compreensão do contexto em que o Distrito de Santana está inserido dentro da Cidade de São Paulo. Em seguida, a área do Carandiru passa a ser estudada em especial, para que, por fim, possa-se analisar como se deram as transformações nessa área. Nesse capítulo, o foco são as modificações do projeto do Parque da Juventude ao longo dos anos. O segundo capítulo (Análise do Nível de Integração entre os Frequentadores do Parque) tem como objetivo entender como o uso e a ocupação do solo de Santana influenciam na dinâmica de integração de seus moradores e como isso pode influenciar no movimento do Parque da Juventude. Também se analisam os equipamentos desse parque e como eles também contribuem com a integração de frequentadores do parque. O terceiro capítulo (Análise do Impacto do Parque em Santana sob o Ponto de Vista Imobiliário) foca justamente na compreensão das consequências da chegada do Parque da Juventude a Santana sob a ótica do mercado imobiliário. Desse modo, foi realizada uma entrevista com o corretor de imóveis Derivaldo de Souza Cerqueira (de uma imobiliária de Santana) e também se contabilizaram anúncios de jornal que de alguma forma usassem o Parque da Juventude como chamariz. Alguns imóveis em construção no entorno do parque também foram fotografados. Já o quarto capítulo (Investigação das Deficiências do Parque da Juventude) se baseou em entrevistas feitas à paisagista Rosa Grena Kliass (uma das responsáveis pelo projeto do parque), a Luiz Felipe do Nascimento (um ex-aluno da ETEC Parque da Juventude, que se localiza no parque) e a Ana Lúcia P. de Faria (arquiteta que trabalha na Secretaria de Meio Ambiente, que administra o Parque da Juventude). Também se aplicaram 80 questionários em alunos e professores da ETEC Parque da Juventude. Tudo isso teve como objetivo entender concepções do projeto e a forma como elas se traduziram na realidade, seja de maneira positiva ou negativa. A opinião de atuais ou antigos usuários do parque foram consideradas para que se pudesse levar certas questões à administração dessa área. No capítulo seguinte (Levantamento de Futuras Intervenções no Parque) as entrevistas continuam para que se descubra se há planos de intervenções futuras no Parque da Juventude e quais seriam. 5

Por fim, no sexto e último capítulo (Diretrizes Propostas para o Parque da Juventude), são elaboradas propostas que têm como fim a solução de problemas encontrados ao longo da pesquisa realizada.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Já na década de 1960, a jornalista norte-americana Jane Jacobs defendia um novo modelo de cidade. Na visão dela, era necessário que os centros urbanos deixassem para trás o modelo de “planejamento urbano ortodoxo”, que colocava em voga uma concepção de cidade pouco densa, voltada para o automóvel e permeada por conjuntos residenciais que incentivavam a reclusão de seus moradores. Para Jacobs, era essencial que as cidades dos Estados Unidos por ela estudadas se deixassem tomar por uma grande vitalidade, que, para ela, estava notadamente ausente. A crítica que Jane Jacobs sabiamente fez às cidades americanas pode ser de certa forma direcionada às cidades brasileiras. Afinal, os nossos centros urbanos pouco a pouco também começam a priorizar o automóvel, os condomínios residenciais fechados para a cidade e os shopping centers igualmente fechados para o restante do ambiente urbano. Tanto os condomínios quanto os shoppings possibilitam um convívio restrito e artificial aos seus usuários. Afinal, da política que implementa viadutos no lugar de praças, resultam poucos pontos de encontro que explorem justamente o convívio ao ar livre, que é, portanto, natural, irrestrito e casual. Como resultado, os shoppings e os condomínios residenciais esbanjam uma vitalidade frágil e artificial – quando efetivamente esbanjam alguma vitalidade. Naturalmente, há razões que transcendem o Planejamento Urbano e que contribuíram com a formação de centros como os condomínios fechados e os shopping centers. A violência urbana e a praticidade são duas delas. No entanto, faltou a muitos planejadores de cidades uma postura firme como a da jornalista Jane Jacobs, que soube reconhecer problemas de seu país e que, mais do que isso, levantou a voz para criticar de forma contundente o processo de degradação urbana das metrópoles americanas. Essa degradação que acometeu cidades estadunidenses e brasileiras pode resultar em diversos problemas, tais como o aumento da violência, a falta de confiança e de contato entre vizinhos e uma deficiência e diminuição do lazer em espaços públicos, como ruas, praças e parques – que são pontos de encontro urbano geradores de vitalidade. São justamente esses espaços públicos que precisam de recuperação para que as cidades ganhem vitalidade e para que seus habitantes formem uma comunidade de fato. Uma das tentativas mais recentes de recuperação de um lugar público ocorreu em São Paulo no 7

início dos anos 2000. Parte do Complexo Penitenciário do Carandiru, no Distrito de Santana, deu lugar a um imenso parque. Conhecida como Parque da Juventude, essa área foi dotada de diversos equipamentos, tais como quadras poliesportivas e duas escolas técnicas, que, juntas, visam a atrair um grande número de usuários motivados pela busca de lazer ao ar livre, pela prática de esportes, pelo estudo, e por outros motivos. Aqui, percebe-se o quão adaptável aos tempos um parque urbano pode ser, uma vez que, como fala a arquiteta-paisagista Rosa Kliass, os parques urbanos devem atender a um novo ritmo – o ritmo da cidade industrial1 – ritmo esse que, hoje, talvez tenha se transformado no ritmo da cidade terciária. A população desse tipo de cidade demanda serviços públicos de qualidade – ao menos nas grandes metrópoles brasileiras – e o parque urbano pode surgir como uma resposta a essas demandas. Naturalmente, existem áreas mais carentes dentro de uma mesma cidade. Flávio Villaça já descreve São Paulo como uma cidade cujas rendas mais altas e cuja infraestrutura se concentram em um setor específico da cidade – no caso, o quadrante sudoeste. Como exceção, tem-se, dentre algumas outras áreas, o Distrito de Santana2. Por ser uma área mais beneficiada em meio a regiões esquecidas sob o ponto de vista de investimentos públicos, Santana – e o Parque da Juventude – pode dispor de infraestrutura e acessibilidade que lhe permitam atrair pessoas e serviços. Sem que se esqueça que um parque também tem função de lazer. Porém, lembrando-se que o Parque da juventude pode ter mais do que isso. Apenas o tempo pode dizer que rumo seguirá esse recém-criado parque e o quão exitoso ele será. Sua presença tão emblemática vale, no entanto, um estudo. Este deve considerar os problemas atuais das cidades brasileiras e deve inserir o Parque da Juventude e o Distrito de Santana em um dos dois tipos de áreas que aparecem nas teorias de Jane Jacobs: as áreas decadentes e cheias de problemas ou aquelas cheias de vitalidade, que também têm seus problemas, mas que já encontraram muitas soluções. Esperemos que a área estudada se enquadre no segundo grupo.

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KLIASS (1993) VILLAÇA (2001)

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1. INSERÇÃO HISTÓRICA E GEOGRÁFICA DA ÁREA ESTUDADA 1.1. A LOCALIZAÇÃO E A HISTÓRIA DO DISTRITO DE SANTANA

Figura 1.1. Cidade de São Paulo, com destaque para a área da subprefeitura de Santana/Tucuruvi. Disponível em: Acesso em 27/12/2012

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Figura 1.2. O Distrito de Santana e seu entorno Disponível em: Acesso em 27/12/2012

A área fruto de pesquisa está localizada no Distrito de Santana, que está na Zona Norte de São Paulo. Esse distrito nasceu como uma sesmaria doada à Companhia de Jesus em 1673. Conhecido como Fazenda de Santana, esse pedaço de terra pertenceu aos jesuítas até 1759, quando esta ordem religiosa foi expulsa do Brasil. Por décadas, a Fazenda de Santana produziu gêneros alimentícios cujo fim era abastecer a cidade de São Paulo. Um dos entraves à urbanização da área era o difícil acesso que havia entre o limite setentrional do núcleo urbano paulistano – que era a região da Luz – e a área da Fazenda. Para acessá-la, era necessário transpor os rios Tamanduateí e Tietê por meio da Ponte Pequena e da Ponte Grande, respectivamente. Essas pontes eram constituídas por madeira e estavam em constante mau estado de conservação, chegando inclusive a ser destruídas em anos mais críticos pelas cheias dos rios que atravessavam (TORRES, 1970). O problema de acessibilidade começou a ser resolvido após o começo da operação da linha férrea conhecida como Tramway da Cantareira, em 1901. Esta linha, além de facilitar a conexão ente Santana e o núcleo urbano da cidade de São Paulo, também ajudou a aumentar a ocupação nos arredores de suas estações. A implantação do Tramway da Cantareira tornou o distrito de Santana mais acessível a ponto de possibilitar a atração da Penitenciária do Estado 10

para um grande terreno de várzea na região do Carandiru. Registros do jornal O Estado de S. Paulo do dia 7 de julho de 1909 relatam o “louvável empenho” para se construir um “estabelecimento modelo” em um terreno do bairro de Santana. Além de questões de higiene e de salubridade, o que pesou para a escolha de construir uma penitenciária naquele lugar foi a comunicação feita “com muita regularidade” pelo Tramway da Cantareira entre o bairro de Santana e o restante da cidade. Após escolha do projeto vencedor – do escritório do arquiteto Ramos de Azevedo – as obras iniciaram-se e o presídio foi inaugurado em 21 de abril de 1920.

Figura 1.3. Destaque para uma das manchetes do jornal O Estado de S. Paulo em 7 de julho de 1909. Disponível em: Acesso em 15/11/2012

Figura 1.4. Vista aérea da Penitenciária do Estado. Disponível em: Acesso em 27/12/2012

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Figura 1.5. Planta da Penitenciária do Estado, inaugurada em 1920 na região do Carandiru. Disponível em: Acesso em 27/12/2012

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Figura 1.6. Vista da fachada de um dos edifícios da então recém-inaugurada Penitenciária do Estado. Disponível em: Acesso em 27/12/2012

Figura 1.7. Vista do complexo penitenciário no Carandiru Disponível em: Acesso em 27/12/2012

Na época da gestão Prestes Maia (1938-45), ocorreu a retificação do Rio Tietê, que contribuiu com o fim do isolamento de Santana, uma vez que, além da retificação do rio, o então prefeito construiu as avenidas marginais e pontes que ligavam o Centro à região norte.

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Figura 1.8. Parte do traçado do Tramway da Cantareira em 1950. FONTE:TOURINHO NETO, 2001

Na mesma época em que essas obras eram realizadas, vários loteamentos multiplicavam-se na margem direita do Rio Tietê. Isso se deveu em grande parte à rápida valorização por que passava o centro de São Paulo e que encarecia o custo de vida nessa área. Assim, muitas pessoas fixaram-se nos terrenos vagos de bairros como Santana. A infraestrutura dessas regiões só chegaria anos mais tarde. Em 11 de setembro de 1956, foi inaugurada em Santana a Casa de Detenção, que complementava a já existente Penitenciária. A inauguração da Casa de Detenção elevou a capacidade do complexo presidiário para 3.250 presos. Por anos, a presença do presídio foi considerada um entrave ao desenvolvimento dos arredores.

Figura 1.9. parte da página do jornal O Estado de S. Paulo, do dia 11 de setembro de 1956. Disponível em: Acesso em: 27/12/12

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Figura 1.10. Vista panorâmica do Complexo Penitenciário Carandiru. Disponível em: Acesso em 26/08/2012

Nas décadas seguintes, o distrito de Santana foi se valorizando e sua população, que até então fazia parte da classe baixa, começou a integrar em grande parte a classe média-baixa e a classe média. Possíveis condicionantes à valorização da região foram a inauguração do Metrô (1974) e de centros de comércio e serviços (como o Shopping Center Norte, aberto em 1984), bem como de equipamentos variados, dentre os quais, o Parque Anhembi (1972) e o Terminal Rodoviário do Tietê (1982). Em 1973, foi inaugurada a Penitenciária Feminina da Capital em terreno adjacente àquele da Casa de Detenção e da Penitenciária do Estado. Em 1983, foi a vez do Centro de Observações Criminológicas. Juntos, a Penitenciária do Estado, a Casa de Detenção, a Penitenciária Feminina da Capital e o centro de Observações Criminológicas formaram o chamado Complexo Penitenciário do Carandiru. Em 1992, 111 presos do Carandiru são mortos no evento que ficou conhecido como Massacre do Carandiru. Tendo em vista a situação alarmante a que chegara o presídio superlotado, este foi desativado em 2002. Nos anos seguintes, a área da Casa de Detenção foi transformada no Parque da Juventude.

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1.2 O IMPACTO DO COMPLEXO PENITENCIÁRIO NO ENTORNO

Devido ao fato de o Complexo Penitenciário do Carandiru ter sido um megacomplexo – que, em seu ápice de superlotação chegou a abrigar cerca de 8.000 detentos, número esse que não condizia com sua capacidade –, pode-se dizer que os problemas originários dessa prisão acabavam por ser amplificados. Além de seus problemas internos, como rebeliões e brigas entre detentos, a situação degradante à qual o Carandiru estava submetido logo extrapolou as muralhas do presídio. Os moradores do distrito de Santana viviam especialmente preocupados com as fugas dos presidiários. Uma das fugas mais marcantes já registradas foi a ocorrida em 26 de novembro de 2001, quando 108 presos escaparam por um túnel escavado entre a Penitenciária e a Avenida General Ataliba Leonel.3 (ver figura 1.11.) Devido a esses acontecimentos o distrito de Santana – e, em especial, a região do Carandiru – sofreu com efeitos como a desvalorização de seus imóveis e até mesmo o fechamento de muitos deles. Em reportagem de 5 de outubro de 2002 (data já posterior à desativação da Casa de Detenção), o jornal O Estado de S. Paulo já fazia um balanço dos efeitos negativos da existência do Carandiru ao seu entorno:

[...] Conforme Liquieri, [Alexandre Liquieri, gerente comercial da imobiliária Heleno & Mantovani] o aluguel de um salão comercial de 200 metros quadrados, próximo do Carandiru, saía anteriormente por R$ 1.500,00 por mês. Agora, [depois da desativação da Casa de Detenção] a tendência é que se equipare aos similares da região de Santana, onde o mesmo espaço é oferecido por R$ 2.200,00 por mês. O aumento das fugas e rebeliões no Complexo do Carandiru foi responsável pelo fechamento de vários imóveis na área. Liquieri estima que, em um perímetro de três quarteirões ao redor da Casa de Detenção, 150 imóveis residenciais e comerciais estão fechados. Muitos, inclusive, tiveram as portas e janelas bloqueadas por blocos para evitar invasões. “Mas muitos proprietários já nos procuraram com a intenção de recolocar os imóveis no mercado.” JULIBONI, M. Fim da Detenção valoriza imóveis no Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C3, 5 out. 2002.

3

LOMBARDI, R. e SILVEIRA, E. Fuga recorde do Carandiru: 108 presos escapam. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 33, 27 nov. 2001.

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A mesma reportagem ainda explica que, com a Desativação da Casa de Detenção, a expectativa do mercado imobiliário para a região do Carandiru não era uma alta real nos preços dos imóveis, mas um fim na depreciação do valor destes, que existia em razão das proximidades com a Casa de Detenção.

Figura 1.11. Capa do caderno Cidades do Jornal O Estado de S. Paulo relata fuga em massa do dia 26 de novembro de 2001. Disponível em: Acesso em 23/12/2012

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1.3. DO MASSACRE DO CARANDIRU À ABERTURA DO PARQUE DA JUVENTUDE O acontecimento que mais simbolizou a situação de degradação a que a Casa de Detenção de São Paulo estava exposta é, certamente, o Massacre do Carandiru. De acordo com relatos do jornal O Estado de S. Paulo, esse episódio teve início na sexta-feira, 1 de outubro de 1992, com uma briga entre grupos de traficantes que vendiam drogas dentro do Pavilhão 9 do presídio. Após os líderes desses grupos entrarem em conflito, os respectivos presos que estavam sob seu comando entraram no embate, seguidos dos detentos de toda a

penitenciária. Mais tarde, a Polícia Militar entrou no presídio para

controlar o conflito que se tornara rebelião. O saldo da invasão policial e do consequente conflito desencadeado com os presos foi 111 detentos mortos, 130 presos feridos e 32 policiais lesionados.

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Figura 1.12. Primeira página do Jornal O Estado de S. Paulo, no dia 04/10/1992. Disponível em: Acesso em 26/08/2012.

Após esses acontecimentos, ganha força a ideia de desativação do Complexo Penitenciário do Carandiru. No entanto, já em pelo menos meados da década de 1970, essa ideia era vislumbrada. Sobre esses primeiros planos, o deputado Erasmo Carlos – um de seus responsáveis – declara anos mais tarde: 19

[...] A nossa proposta de desativação do complexo prisional Carandiru-Detenção, na área do Carandiru e do complexo policial da Luz teve entre outros argumentos na época [1976 e 1977, anos em que essa proposta foi apresentada] a baixa demanda do Metrô nessas áreas, constituídas maciçamente da população penitenciária e da população policial. Defendíamos e defendemos que todo aquele complexo, Detenção e Penitenciária, bem como o complexo de aquartelamento entre a Tiradentes e a Cruzeiro do Sul ocupada por instalações policiais militares, fossem desativadas e substituídas por complexos habitacionais, culturais e educacionais compatíveis com região tão nobre e privilegiada, inclusive com Metrô à porta! [...]

CARLOS, E. Política penitenciária-carcerária: depoimento. [17 de fevereiro de 1989]. São Paulo: O Estado de S. Paulo. Depoimento publicado pela coluna Idéias em Debate.

Cabe comentar aqui o cerne da motivação dos primeiros planos expostos de fechamento do Carandiru: a preocupação com o potencial urbanístico mal explorado de áreas do entorno de presídios, em especial daquelas que já contavam com elementos de infraestrutura como o Metrô. Para o deputado responsável pelas declarações acima, a localização de presídios “em região tão nobre e privilegiada” e ainda próxima ao Metrô deveria ser repensada, uma vez que a população carcerária e policial apresentava baixa demanda ao transporte de alta capacidade. Esse transporte poderia estimular outros fins, como o habitacional, cultural e educacional. No ano seguinte ao Massacre do Carandiru, o então governador do Estado de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho, anuncia um plano de desativação do Complexo do Carandiru4. Considerado pela imprensa local como a mais ousada proposta de um conjunto de planos que foram apresentados, esta previa a implantação de conjuntos habitacionais no lugar da penitenciária e da Casa de Detenção. Em fevereiro de 1996, o então recém-eleito governador Mário Covas visita o complexo penitenciário. Após vistorias das condições degradadas do presídio, o governador anuncia a sua intenção de também desativá-lo, bem como de entregar o terreno à iniciativa privada, que, em troca, construiria 25 cadeias espalhadas pelo estado de São Paulo. Somadas, as capacidades desses novos presídios totalizariam 13 mil detentos. Covas diz ainda que, caso a nova Lei de Zoneamento fosse aprovada, poderiam ser construídas instalações mistas como hotéis na área do antigo Carandiru5.

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BRESSAN, S. Pacote de obras lança candidatura Fleury. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. 4, 11 abr. 1993. VENTURA, M. Abandono da Detenção impressiona governador. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C3, 23 fev. 1996. 5

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No mês seguinte à visita de Mário Covas ao presídio, é publicado pela imprensa um artigo que revela planos do vereador Paulo Roberto Faria Lima de se modificar a Lei de Zoneamento do espaço que então abrigava o Carandiru. De acordo com o artigo, vereadores de situação e de oposição passaram a criticar o projeto depois de sua apresentação:

[..] A proposta de Faria Lima muda o zoneamento atual (Z8-003), que só admite usos especiais, para Z-4, que permite prédios comerciais, residenciais e de serviços. As críticas surgiram porque o projeto estabelece só a alteração do zoneamento, sem a exigência de doação de parte da área para parques e a adequação do sistema viário. “Da forma como o projeto foi apresentado, os compradores poderiam construir um mega-shopping com prejuízos incalculáveis para a região”, disse o vereador Maurício Faria (PT). Ele apresentou projeto substitutivo no qual propõe que os compradores da área do Estado doem 128,7 mil metros quadrados para um parque e 14 mil metros quadrados para área institucional, que equivalem a 58% e 3,3% da área total. Quer, também, a doação de 55.250 metros quadrados para a readequação do sistema viário. “Somos favoráveis à desativação do presídio e à mudança do zoneamento, mas não da forma proposta.” [...]

MELLO, F. Carandiru pode virar grande centro comercial. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6, 2 mar. 1996.

Como se pode notar, já aparece aí a ideia de criar um parque no local da penitenciária, ainda que de forma vaga. Vale se observar que a mudança de instrumentos urbanísticos como as leis de zoneamento para que se possa garantir a construção de megaempreendimentos como shopping centers já era uma medida à qual se recorria naquela época. Também chama a atenção o fato de não se exigirem contrapartidas que amenizassem os efeitos da possível construção de grandes empreendimentos na área do Carandiru. Conforme o tempo foi passando, várias propostas e planos foram traçados para a nova função da área. Sugeriu-se inclusive que esta fosse incluída na Operação Urbana Zona Norte 6, operação essa que estava em fase de estudos na época. O fato é que, em 20 de setembro de 1996, o então ministro da Justiça, Nelson Jobim, afirmou durante cerimônia de assinatura do convênio para a desativação da Casa de Detenção, que o “caso do Carandiru” estaria encerrado dentro de um período de 18 a 20 meses7.

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MELLO, F. PPB e PSDB disputam área do Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C9, 25 jun. 1996. NUNOMURA, E. FH critica “escarcéu” sobre a violência. O Estado de S. Paulo, p. C5, 21 set. 1996.

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No dia 15 de maio de 1998, mais um convênio é assinado entre o governo do Estado de São Paulo e o governo federal a fim de desativar a penitenciária8. Mesmo com a desativação cada vez mais próxima de se tornar realidade, o destino que seria dado ao terreno do complexo continuava incerto. A indefinição se justificava pelo fato de que, apesar das garantias financeiras do estado e da União, a prefeitura de São Paulo não havia aprovado a mudança de zoneamento da área para que a iniciativa privada pudesse construir empreendimentos comerciais ou residenciais. Vale lembrar que o terreno da Casa de Detenção do Carandiru era Z-8, o que significava que, nele, só era permitido construir edifícios públicos. Contudo, a ideia de se construir um parque na área continuava sendo considerada, uma vez que, nela, havia uma reserva de aproximadamente 60 mil metros quadrados de Mata Atlântica.

Figura 1.13. Manchete em página do jornal O Estado de S. Paulo (16/05/1998) relata as novas intenções das autoridades com relação à desativação do Carandiru após assinatura de um novo convênio entre Estado e União. Disponível em: Acesso em 30/10/2012 8

PORTELLA, A. Casa de Detenção deve ser desativada em um ano. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C1. 16 mai. 1998.

22

Em julho do ano de 1998, o governo do Estado de São Paulo anuncia a solução encontrada para a questão do Carandiru. Como a mudança no zoneamento não fora aprovada em âmbito municipal, a estância estadual de governo decidiu-se por dar um fim institucional à área (único fim permitido pela lei de zoneamento então em vigor) em vez de mudar sua configuração para residencial e comercial9. Os planos daquele momento eram demolir os pavilhões 9 e 10 e reaproveitar os demais, transformando-os em centros profissionalizantes que oferecessem cursos voltados para a área industrial e de serviços. Os edifícios da Penitenciária Feminina, do Centro de Observação Criminológica e da Academia Penitenciária também seriam desativados e reaproveitados. A Câmara Municipal, no entanto, ainda não havia desistido de mudar o zoneamento e construir um parque na área10. De qualquer forma, em 20 de setembro daquele ano, o primeiro grupo de presos é transferido do Carandiru para cadeias do interior do Estado.11 Em julho de 1999, é anunciado o projeto ganhador do concurso para a reurbanização da área do Complexo Penitenciário do Carandiru.12 O escritório responsável pelo projeto de arquitetura vitorioso foi Aflalo e Gasperini Arquitetos. Já a responsável pelo projeto paisagístico foi Rosa Grena Kliass. Segundo esses projetos, o futuro parque receberia equipamentos como quadras poliesportivas, uma concha acústica, um museu, um pavilhão de convenções e outros pavilhões temáticos, como o Pavilhão da Criança e o Pavilhão das Nações (ver figura 1.6). Contudo, em 2000, ocorre uma reviravolta nos planos de desativação do complexo de presídios. Em setembro daquele ano, o então governador Mário Covas anuncia que, em virtude do aumento do número de detentos que vinha ocorrendo no Estado de São Paulo, não haveria a possibilidade de se desocupar o Carandiru13.

9

LOMBARDI, R. Carandiru vai ser centro profissionalizante. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C4. 18 jul. 1998. 10 LOPES, M. Uso do Carandiru depende de acordo Estado-Município. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C9. 20 ago. 1998. 11 TOMAZELA, J. M. Interior comemora chegada de presídios. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C8, 17 set. 1998. 12 LOPES, M. Carandiru será centro de cultura e integração. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C4., 6 jul. 1999. 13 MORAES, M. Covas desiste da desativação do Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6. 18 out. 2000.

23

Figura 1.14. Planta esquemática do Parque da Juventude retirada de O Estado de S. Paulo (06/07/1999). Disponível em: Acesso em 15/11/2012

Em março de 2001, o governador Geraldo Alckmin anuncia mais uma promessa de desativação do Carandiru. Em reportagem do dia 27 desse mês, o jornal O Estado de S. Paulo detalha os novos planos feitos pelo Governo do Estado: O Carandiru continuará abrigando presos mesmo depois da desativação da Casa de Detenção de São Paulo. O projeto do governo estadual, que será anunciado hoje pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), prevê o fim do maior presídio da América Latina, mas a manutenção de outras quatro prisões do complexo: a Penitenciária do Estado, o Centro de Observação Criminológico (COC), a Penitenciária Feminina da Capital e o Presídio Especial da Polícia Civil. No lugar da Detenção, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, gostaria de erguer um parque para a zona norte de São Paulo, que possui apenas o Horto Florestal. A destinação da área seria decidida pelo governador Geraldo Alckmin. Duas outras propostas estão sendo estudadas pelo governo. A primeira é a cessão da área para a Prefeitura em troca de terrenos do Município para a construção de novos Centros de Detenção Provisória (CDPs) na capital. Esses centros vêm sendo usados pelo governo para receber os presos de distritos policiais – mais de 20 carceragens já foram desativadas. A outra opção seria a construção de um shopping center popular com acesso pela estação Carandiru do Metrô.

24

(...) No Carandiru permaneceriam cerca de 3 mil detentos. O projeto de demolição e desativação da Detenção envolve a liberação de 120 mil metros quadrados do total de 417 mil metros quadrados da área ocupada pelo complexo. Para desativar os outros presídios, o governo enfrentaria dois problemas. Parte do complexo é ocupada por mata atlântica virgem e alguns dos prédios da Penitenciária do Estado, construída na década de 20, são obra do arquiteto Ramos de Azevedo, o que pode impedir a demolição. (...) GODOY, M. Desativação do Carandiru será incompleta. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p C5. 27 mar. 2001.

Assim, poucos meses depois do anúncio feito pelo governador, é divulgado um novo prazo para o início da transferência de presos e para a consequente desativação da Casa de Detenção: março de 200214. Em dezembro de 2001, um grupo de presos é transferido do Carandiru para cadeias da Grande São Paulo e do interior do Estado15 (ver figura 1.15). Em março do ano seguinte, um anexo do presídio começa a ser demolido, o que marca simbolicamente o início da demolição de parte do complexo16. Àquela altura, estava definido que sairiam daquela área a Casa de Detenção e o Instituto de Observação Criminológica. A Penitenciária do Estado e o Presídio Feminino da Capital permaneceriam ali. Em junho de 2002, surge mais uma proposta para a área do Carandiru. A Universidade de São Paulo se manifesta a favor de instalar na área um centro cultural (que abrigaria exposições, peças de teatro, etc..), um núcleo de pesquisas ou até mesmo um novo campus17. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a proximidade com o metrô e com o centro da cidade (a área do presídio está a cerca de 5 quilômetros do centro de São Paulo e está em frente à estação Carandiru do metrô), aliada à política de ampliação de atuação da Universidade faria a proposta interessante.

14

PANDA, R. Carandiru começa a ser desativado em março. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C4.12 jul. 2001. 15

SACOMAN, A. C. Começa a saída de presos. É o fim da Detenção. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6.14 dez. 2001. 16

SOUZA, B. Alckmin inicia demolição de anexo no Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6. 29 mar. 2002. 17

CAFARDO, R. USP quer ocupar complexo do Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. A12. 30 jun. 2002.

25

No entanto, essa proposta acaba por não ser levada adiante. No dia 12 de agosto de 2002, o governador Geraldo Alckmin anuncia, como parte das comemorações do Dia Nacional da Juventude, o nome e os detalhes do parque que seria implantado18. Projeto de autoria do escritório Aflalo e Gasperini, o Parque da Juventude, seria dividido em três partes: o Parque Esportivo, o Parque Institucional e o Parque Central. O Parque Esportivo contaria com dez quadras poliesportivas, pista de cooper e rampa de skate. O Parque Central contaria com os cinco hectares remanescentes de mata atlântica, bancos

Figura 1.15. Página do jornal O Estado de S. Paulo destacando o início da transferência dos presos da Casa de Detenção do Carandiru. Disponível em: Acesso: 29/12/2012

com áreas para descanso e uma concha acústica. No Parque Institucional, seriam demolidos os pavilhões 6, 8 e 9. Os pavilhões 2, 4, 5 e 7 seriam preservados. Esses pavilhões receberiam o Centro Tecnológico Paula Souza, o Centro de Cultura e o Centro de Tecnologia da Informação e Inclusão Digital.

18

AZEVEDO, K. Detenção fica livre dos presos no mês que vem. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6. 13 ago. 2002.

26

Figura 1.16. Perspectiva ilustrativa do Parque Institucional Disponível em: Acesso em 29/12/12

Figura 1.17. Projeto do parque da Juventude. Disponível em: Acesso em 29/12/12

27

Em 15 de setembro de 2002, os 47 últimos presos da Casa de Detenção deixam o local19. Naquele momento, já estava definido que, do Complexo do Carandiru, apenas a Casa de Detenção deixaria a área. A Penitenciária do Estado, a Penitenciária Feminina, o Centro de Observação Criminológica e o Presídio da Polícia Civil continuariam a abrigar de 2.000 a 2.500 presos. Finalmente, em 8 de dezembro de 2002 os pavilhões 6, 8 e 9 são implodidos.

19

GODOY, M. Acabou. Casa de Detenção está vazia. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C1. 13 set. 2002.

28

Figura 1.18. Página do jornal O Estado de S. Paulo no dia 16 de setembro de 2002. Fonte: Acesso: 29/12/2012

29

Figura 1.19. Página do jornal O Estado de S. Paulo destacando a implosão dos pavilhões 6, 8 e 9. Disponível em Acesso: 29/12/2012

30

No dia 21 de setembro de 2003, é inaugurado o Parque Esportivo20. Em 19 de setembro de 2004, é a vez do Parque Central21. Em março de 2005, o governo do Estado anuncia planos de implodir mais dois pavilhões da antiga Casa de Detenção:

(...) A última fase é a mais cara e ambiciosa. Depois da implosão dos antigos Pavilhões 2 e 5,o governo pretende reformar os Pavilhões 4 e 7. O edital para a obra foi publicado no sábado no Diário Oficial do Estado e os interessados têm 30 dias para apresentar as propostas. O governo pretende construir no Pavilhão 4 um centro de informática e uma escola técnica do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. O maior projeto do Pavilhão 7 vai ser tocado pela Secretaria de Cultura. A idéia é fazer uma escola com cursos voltados para quatro áreas culturais: música, restauração, dança e artes cênicas. Vai existir ainda um centro de promoção à saúde, voltado principalmente para a medicina holística. As obras devem ficar prontas em junho de 2006. Duas fases estão previstas para que o projeto do Parque da Juventude fique da forma como foi inicialmente concebido. Mas, para serem tocadas, o governo espera atrair a iniciativa privada, por meio de programas de Parceria Público-Privadas (PPP). Dois grandes prédios serão construídos: um centro de exposições onde era o terreno do antigo Pavilhão 5 e um teatro. (...) MANSO, B. P. Governo vai ampliar parque no Carandiru. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C8. 21 mar. 2005.

20

GANDOLPHO, C. Governador inaugura Parque da Juventude. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C4. 22 set. 2003. 21 ROMANELLI, A. Sumaré: 60 mil pessoas invadem a nova praia. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6. 20 set. 2004.

31

Figura 1.20. Esquema de como ficaria o Parque Institucional. Disponível em:< http://acervo.estadao.com.br/> Acesso em 01/01/2013

Figura 1.21. Esquema das transformações no Parque da Juventude Disponível em:< http://acervo.estadao.com.br/> Acesso em 02/01/13

32

Em 17 de julho de 2005, os pavilhões 2 e 5 foram implodidos22. Em 19 de março de 2007, o Governo do Estado entregou a terceira fase das obras ainda que de forma incompleta23. Naquela data, foram inauguradas uma Escola Técnica Estadual (ETEC) e um posto do Acessa SP (projeto governamental de inclusão digital). Ainda ficaram pendentes as entregas do Pavilhão de Exposições e do Jardim do Teatro, que, até o início de 2013, não tiveram suas obras iniciadas. Em 8 de fevereiro de 2010, é inaugurada a Biblioteca de São Paulo24. O projeto da Biblioteca é do escritório Aflalo e Gasperini em conjunto com Marcelo Aflalo e Dante Della Manna.

Figura 1.22. Foto do prédio que abriga a Biblioteca de São Paulo. Disponível em:< http://www.aflaloegasperini.com.br/> Acesso em 03/01/13

22

MUG, M. Obra para completar parque deve levar 11 meses. O Estado de S. Paulo, São Paulo, p. C6, 18 jul. 2005. 23 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Serra inaugura terceira fase do Parque da Juventude, em São Paulo. Disponível em:< http://www.saopaulo.sp.gov.br/> Acesso em 2 de jan. 2013. 24 GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Serra inaugura biblioteca pública no Parque da Juventude. Disponível em:< http://www.saopaulo.sp.gov.br/> Acesso em 3 jan. 2013

33

Figura 1.23. Vista do interior da Biblioteca de São Paulo. Disponível em:< http://www.aflaloegasperini.com.br/> Acesso em 03/01/13

N

Legenda:

1 - Etec Parque da Juventude 3 - Biblioteca de São Paulo 2 - Etec de Artes 4 - Penitenciária do Estado 5 - Penitenciária Feminina

Figura 1.24. Mapa do Parque da Juventude com destaque a importantes pontos de seu interior e dos arredores Disponível em: Acesso em: 24/02/13

34

2.

ANÁLISE

DO

NÍVEL

DE

INTEGRAÇÃO

ENTRE

OS

FREQUENTADORES DO PARQUE 2.1. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO DA REGIÃO A variedade de usos dos edifícios [nas proximidades de um parque] propicia ao parque uma variedade de usuários que nele entram e dele saem em horários diferentes.

A frase de JACOBS (1961, p. 105), é clara com relação ao quão exitoso um parque pode ser em termos de multiplicação e integração de seus frequentadores. De acordo com a autora, o entorno de um dado parque exerce sobre ele influência vital. Cabe agora analisarmos o caso específico do Parque da Juventude. Esta área verde está inserida em Zonas de Centralidade Polar (ZCp-a e ZCp-b) da Zona Norte de São Paulo - ver figura 2.1.

N

Figura 2.1. Uso e Ocupação do Solo de parte do Distrito de Santana. Disponível em: Acesso em 10/01/13

35

É importante considerarmos nesse momento o que é uma centralidade. Este é um ponto que concentra um grande fluxo de pessoas, que para lá vão em busca de comércio e de serviços. Na centralidade, costuma haver uma confluência de vias e de meios de transporte em geral. Essa confluência viabiliza a grande movimentação de pessoas que se dirigem para essa centralidade. Em uma medida mais ampla, está o subcentro, que tem características de centralidade, porém destaca-se por ter uma maior abrangência do que uma simples centralidade em termos de pessoas que o frequentam. Assim, o subcentro situa-se entre a centralidade de um bairro – para onde vão pessoas desse bairro – e o centro de uma cidade – para onde se dirigem pessoas de toda uma cidade ou até mesmo região metropolitana. Segundo VILLAÇA, 2001, p. 293, o subcentro é uma região de "aglomerações diversificadas e equilibradas de comércio e serviços, que não o centro principal". Não é objetivo dessa pesquisa, no entanto, discutir se Santana é uma centralidade ou subcentro. Como o nome oficial utilizado pelo Plano Regional Estratégico do Município de São Paulo é centralidade, usarei também esse termo. No entanto, o que se pode afirmar categoricamente é que é inegável que a oferta de comércio e de serviços existente no distrito de Santana - em especial na Rua Voluntários da Pátria - confere a essa região uma importância no mínimo equiparável à de uma centralidade. As condições de mobilidade e de acessibilidade da área - que conta com as estações Carandiru e Santana do Metrô e com o Terminal Urbano adjacente ao Metrô Santana – reforçam a característica de centralidade na área. O que também se pode observar é que, seja como for, a área do Distrito de Santana que abrange o Parque da Juventude preenche os requisitos que a classificariam como um polo atrativo de variados e numerosos frequentadores ao longo do dia.

36

N

Figura 2.2. Imagem de satélite de parte do Distrito de Santana, com destaque para a Rua Voluntários da Pátria. Observar a proximidade entre essa rua, o Parque da Juventude e as estações Santana e Carandiru do metrô. Disponível em: Acesso em: 10/01/13

Figura 2.3. Rua Voluntários da Pátria. Disponível em: Acesso em: 19/02/13

37

Sendo assim, o Parque da Juventude está, no mínimo, em condições geográficas de receber essa variedade de usuários à qual Jane Jacobs se refere em sua citação. E esse é o primeiro passo para comprovarmos se há integração entre diferentes níveis socioeconômicos no parque. Seguindo essa linha, sigo essa pesquisa analisando o uso e a ocupação do solo no entorno do Parque da Juventude. Quanto maior a variedade de usos, maior será a variedade de potenciais frequentadores dessa área pública. Como já se sabe, o uso comercial e de serviços ao redor do parque é grande, visto que esse está inserido em uma centralidade. Há também um grande uso residencial no entorno (ver figura 2.4.). Assim, o Parque da Juventude deve atrair frequentadores que não apenas são atraídos pelo forte comércio local, como também atrai visitantes que residem no entorno imediato.

Parque da Juventude

N

Figura 2.4. Uso e ocupação do solo de parte do Distrito de Vila Guilherme. Disponível em: http: Acesso em: 10/01/13

38

Observando-se parte do uso e da ocupação do solo do Distrito de Vila Guilherme (distrito esse que é vizinho do Parque da Juventude a leste e que, portanto, também influi diretamente no parque), nota-se a existência de áreas acinzentadas nomeadas como ZM-3a (Zona Mista de Alta Densidade). Nota-se que essa área cinza abrange inclusive ZEIS-3 (Zona Especial de Interesse Social). Na figura 2.4., percebe-se a existência de ZEIS-1 e de ZEIS-3. Assim, a conclusão a que se chega é que há, no mínimo, diferentes níveis socioeconômicos que residem no entorno do Parque da Juventude. Esses níveis variam de famílias cujo rendimento é baixo – e que habitam ZEIS do entorno imediato ao parque – a famílias de classe média alta que moram no Distrito de Santana.

39

2.2. ANÁLISE DO USO DOS EQUIPAMENTOS DO PARQUE Outro passo importante é conferir se há uma variedade de equipamentos no interior do parque. De acordo com Jane Jacobs, uma das condições geradoras de diversidade urbana é o fato de um distrito atender a mais de uma função de modo que diferentes pessoas o frequentem em diferentes horários e utilizem mais de sua infraestrutura. Adaptando-se essa ideia para um parque, podemos considerar que um parque urbano recebe uma diversidade de frequentadores caso nele se desenvolvam diferentes atividades que atinjam diferentes públicos. Consideremos agora os equipamentos do Parque da Juventude25. São eles:

1) Quadras poliesportivas; 2) Rampa de skate; 3) Lanchonetes; 4) Aparelhos de ginástica ao ar livre; 5) Playground; 6) Biblioteca pública; 7) Escolas técnicas.

As quadras poliesportivas estão distribuídas ao longo do Parque Esportivo. Também existem quadras de tênis.

25

De acordo com a administração do Parque da Juventude, essa área verde recebe cerca de 10 mil pessoas de segunda a sexta e 18 mil pessoas nos finais de semana.

40

Figura 2.5. Quadras poliesportivas. Fonte: Autor

Figura 2.6. Quadras de tênis. Fonte: Autor

41

As quadras, somadas à rampa de skate – que em janeiro de 2013 estava passando por uma reforma – atraem ao Parque Esportivo um potencial de público variado. Ainda que não constem dados específicos nem sobre a frequência de uso desses equipamentos, nem sobre o perfil dos usuários das quadras e da rampa, após algumas visitas pude observar a predominância de uso de um público jovem. Mesmo levando-se em consideração que a maioria das visitas ocorreu durante um período de férias escolares, as quadras foram fruto de um uso que considero intenso, já que estavam todas sempre ocupadas nos horários pelos quais por elas passei (inclusive em dias de semana). Naturalmente, também observei um público adulto nesses equipamentos – em especial nas quadras de tênis. Antes de entrar em reforma, a rampa de skate era constantemente usada pelo público jovem.

Figura 2.7. Rampas para skate. Fonte: Autor

Não se pode deixar de notar a presença de um conjunto habitacional Cingapura nas proximidades do parque. É possível que muitas crianças e adolescentes que fazem uso do 42

Parque Esportivo venham desse conjunto residencial. A proximidade geográfica de sua moradia com relação ao Parque da Juventude facilitaria o uso das opções esportivas desse parque por parte dessas pessoas. Uma cantina, vestiários e sanitários completam as instalações do Parque Esportivo.

Figura 2.8. Vista da cantina, com sanitários e vestiários ao fundo. Fonte: Autor

Na área compreendida pelo Parque Central, está a maior parte da área verde do parque. Por aí há muitos usuários do parque que, além de caminharem, andam de bicicleta e fazem cooper. Notei a presença de muitas famílias nessa parte do parque.

43

Figura 2.9. Área verde do Parque Central. Fonte: Autor.

Figura 2.10. Pista de caminhada no Parque Central. Fonte: Autor.

44

No Parque Institucional, um dos primeiros equipamentos que se notam são os aparelhos de ginástica ao ar livre. Estes são abertos a todos os usuários do parque e, após minhas visitas à área, pude notar que pessoas de todas as faixas etárias o utilizam. Em frente a esses aparelhos, está situado um playground, que é naturalmente direcionado ao público infantil.

Figura 2.11. Aparelhos de ginástica no Parque Institucional. Fonte: Autor

45

Figura 2.12. Playground do Parque da Juventude. Fonte: Autor

Mais adiante, estão instaladas duas escolas técnicas estaduais: a ETEC de Artes e a ETEC Parque da Juventude. A ETEC de Artes não forneceu dados específicos sobre seus alunos, mas informou-me que, de uma maneira geral, estes correspondem a uma faixa etária de 15 a 60 anos e que sua faixa de renda é bem variada. Os cursos oferecidos por essa Etec são: Canto, Dança, Design de Interiores, Eventos, Gestão de Pequenas Empresas, Regência e Secretariado e Assessoria26. A ETEC Parque da Juventude dispõe dos seguintes cursos: Ensino Médio, Administração, Administração Empresarial, Enfermagem, Gestão de Pequenas Empresas, Informática para Internet, Logística, Museu e Secretariado e Assessoria27. O perfil de seus alunos por faixa etária é o seguinte:

26 27

Fonte: Centro Paula Souza. Fonte: Centro Paula Souza.

46

Gráfico 2.1. Perfil dos alunos da ETEC Parque da Juventude por faixa etária28

Ao se analisar o gráfico, é possível observar que a grande maioria dos alunos que frequentam essa instituição (41,73%) tem de 17 a 21 anos de idade. Em seguida, consta o grupo de alunos que têm entre 12 e 16 anos (15,90%) e aqueles entre 22 e 26 anos (14,28%). Os demais grupos, cuja idade parte de 27 anos, são minoritários. Conclui-se que os alunos mais jovens são maioria nessa ETEC. A seguir, consta o gráfico indicador do perfil de renda dos alunos:

28

ETEC Parque da Juventude

47

Gráfico 2.2. Perfil dos alunos da ETEC Parque da Juventude por faixa de renda familiar 29

A leitura desse gráfico permite concluir que não há um grupo de renda familiar predominante. Os dois grupos que talvez mais sobressaiam são os de alunos cuja renda familiar corresponde a três salários mínimos (24,39%) e a seis ou mais salários mínimos (21,12%).

29

Fonte: ETEC Parque da Juventude

48

Figura 2.13. Interior da ETEC Parque da Juventude. Fonte: Autor

Figura 2.14. Interior da ETEC de Artes. Fonte: Autor

49

Ao norte das Escolas Técnicas, está a Biblioteca de São Paulo. Essa instituição recebeu, no ano de 2012, um total de 309.670 pessoas30. A biblioteca em questão dispõe de um perfil de usuários por gênero e por faixa etária, que consta na tabela 2.131. Uma observação dos dados constantes na tabela permitem concluir que 1) há uma predominância de usuários do sexo feminino ante o masculino em todas as faixas etárias e também entre o grupo que não declarou idade; 2) o grupo de pessoas entre 20 e 29 anos é o mais numeroso entre os frequentadores da biblioteca e 3) a faixa etária de pessoas com idade acima dos 80 anos é a menos numerosa. De uma maneira geral, nota-se que a frequência da biblioteca é bem distribuída entre as idades de 10 e 49 anos. Assim, o principal público da instituição é constituído de jovens e de adultos, enquanto crianças e idosos são os menos numerosos. Faixa Etária

Feminino

Masculino

Total

1

--

2.103

2.715

4.818

2

0-9

1.240

952

2.192

3

10 - 19

14.087

9.746

23.833

4

20 - 29

14.772

13.250

28.022

5

30 - 39

9.801

9.021

18.822

6

40 - 49

6.720

5.879

12.599

7

50 - 59

3.520

2.904

6.424

8

60 - 69

1.590

1.085

2.675

9

70 - 79

529

394

923

10

80 - oo

124

105

229

54.486

46.051

100.537

Tabela 2.1. Número de usuários da Biblioteca de São Paulo por faixa etária e gênero.

30 31

Fonte: Biblioteca de São Paulo Fonte: Biblioteca de São Paulo

50

Figura 2.15. Edifício que abriga a Biblioteca de São Paulo. Fonte: Autor

51

3. ANÁLISE DO IMPACTO DO PARQUE EM SANTANA SOB O PONTO DE VISTA IMOBILIÁRIO Um parque pode afetar a região ao seu redor de diversas formas. Uma delas é valorizando os imóveis dessa região. Tendo tal fato em vista, essa parte da pesquisa optou por investigar se ocorreu tal valorização no bairro de Santana após a implantação do Parque da Juventude. Desse modo, um corretor imobiliário da região foi entrevistado com o seguinte propósito: descobrir de uma pessoa que lida diariamente com a comercialização de imóveis os impactos da saída da Casa de Detenção e da consequente chegada do Parque da Juventude. Em seguida, um exercício de observação registrou alguns lançamentos imobiliários recentes que ficam nas proximidades da área verde. Por fim, foi feito um levantamento do número de inserções publicitárias que citam o nome “Parque da Juventude” nas edições recentes do jornal O Estado de S. Paulo.

52

3.1. ENTREVISTA COM CORRETOR IMOBILIÁRIO A seguinte entrevista foi feita com o corretor imobiliário Derivaldo de Souza Cerqueira, da Maxtal Imóveis, imobiliária localizada em Santana. 1. Como a presença da Casa de Detenção afetava o preço dos imóveis na região do Distrito de Santana? Corretor: Afetava por motivo de ser muito próxima da centralidade de São Paulo e acabava desvalorizando em consequência das fugas que eles planejavam. Então, isso acabava afetando os imóveis no geral, principalmente da Zona Norte. 2. A procura por esses imóveis também era baixa em virtude dessas fugas? Corretor: Com certeza. Era muito baixa em relação a esse perigo. Eles se sentiam ameaçados pelos demais que se localizavam em volta desse presídio. 3. A inauguração do Parque da Juventude modificou a questão dos preços e da procura por imóveis em Santana? Corretor: Sim. Sem dúvida. Ela levou a uma grande procura, justamente por consequência da facilidade de acesso ao metrô e também ao shopping. Isso facilitou muito. É uma procura bastante elevada. Ou seja, tem uma procura bastante elevada de 20 a 30%. 4. Isso depois da inauguração? Corretor: É, depois da inauguração. 5. As pessoas que mais procuram imóveis no entorno do parque – Distrito de Santana e de Vila Guilherme – pertencem a que classe econômica? Classe média, média baixa? Corretor: Média baixa. A média alta se dá do Alto de Santana para trás. Não para cá. Para cá é classe média baixa. Alta não. 6. Na sua opinião, a vinda do Parque da Juventude trouxe à região de Santana maior variedade de estabelecimentos comerciais, residenciais ou até mesmo maior infraestrutura? Corretor: Sim. Teve uma alteração boa nesse sentido.

53

7. Especialmente no entorno? Corretor: Isso. Aqui em Santana, principalmente. 8. No geral? Corretor: No geral. Tanto na parte comercial quanto na parte residencial. 9. Qual é, na sua opinião, o maior atrativo oferecido pelo Parque da Juventude? Corretor: Seria o lado do esporte em geral. É o que atrai mais os visitantes. 10. Então seria o esporte? Corretor: O esporte. Para a maioria. Pelo menos é o que eu percebo. Principalmente pessoas próximas daqui. Justamente por essa razão. 11. Então, na sua opinião, o Parque da Juventude foi uma coisa positiva? Corretor: Positiva. E não negativa. O que estava antes era mais negativo do que positivo. 12. Em relação aos imóveis inclusive? Corretor: Isso. Melhorou muito. A procura toda pela Zona Norte. A Zona Norte ficou muito mais procurada. Tanto que o pessoal da Zona Sul já veio muito para cá para Santana em virtude disso. Porque não tem mais aquele transtorno em relação ao presídio. Então, isso já melhorou muito. 13. Então vieram pessoas de outras regiões? Corretor: Isso, de outras regiões. Atraiu bastante. Eu senti muito isso. Eu estou há vinte anos só aqui na Dr. César acompanhando todo esse movimento comercial. Principalmente da venda dos imóveis. Teve um avanço muito grande. Principalmente depois da desativação da Casa de Detenção. E os shoppings em volta são um atrativo também. Inclusive, tem o shopping Parque e virá o Tucuruvi. 14. O bairro melhorou em geral? Corretor: Bastante. A procura tá muito boa. Isso cresceu de 20 a 30%. 15. E o senhor acha que está valorizando no sentido de que muitas pessoas de classe média alta estão vindo para cá? Ou são de todas as classes sociais? 54

Corretor: De todas as classes sociais. De todas. Porque se você for analisar, aqui na região da Zona Norte, o que pertence em volta do metrô é a classe média baixa, que o procura e frequenta. Porque a média alta se refugia mais para a floresta e os mananciais. Esse tipo de coisa. O que acaba atraindo mais. Então, o pessoal gosta de um pouco de sossego... 16. Então, aqui em Santana, mais perto do metrô estaria a classe média baixa? Corretor: Baixa. 17. E mais para o Alto de Santana? Corretor: Aí seria a média alta. 18. Alto de Santana seria onde? Corretor: Seria ali pra cima, na Alameda Afonso Schmidt, Salesiano, Pedro Doll. Ali é onde se concentra a classe média alta. E ali, para o lado da Serra da Cantareira, já não se fala mais. É alto padrão também.

A entrevista nos confirma fatos já esperados e também nos traz à tona novas informações. Primeiramente, o baixo valor dos imóveis no entorno do Carandiru e a baixa procura por eles quando da existência da Casa de Detenção fica confirmada. Essa influência negativa no preço desses imóveis já era apontada em 2002 (ver item 1.2). A valorização que a inauguração do Parque da Juventude levou ao Distrito de Santana também já era esperada e acabou se confirmando. Alguns dados, no entanto, são novos. A estimativa que Derivaldo faz do aumento da procura (que ficou entre 20% e 30%, segundo ele) nos mostra que esse aumento realmente foi sensível e significativo. Tal percepção se fortalece quando o corretor nos informa que há pessoas oriundas de outras áreas de São Paulo (no caso, da Zona Sul) que passaram a procurar a região de Santana após o fim da Casa de Detenção. Após a entrevista, também ficou claro que há uma divisão não oficial no Distrito de Santana. Existe uma área mais valorizada, conhecida como Alto de Santana, e outra menos favorecida sob o ponto de vista imobiliário. Essa segunda área, que, de acordo com Derivaldo, abriga a classe média baixa, é aquela em que está situado o Parque da Juventude. O corretor imobiliário aponta a proximidade com o Metrô como possível causa dessa distribuição da 55

classe média baixa, uma vez que, de acordo com ele, esse grupo socioeconômico utiliza o Metropolitano com mais frequência do que a chamada classe média alta. A meu ver, a área por onde hoje passa o Metrô – e que engloba o atual Parque da Juventude – não concentra uma população de poder econômico inferior por causa da existência desse transporte. Afinal, a infraestrutura de transportes até pode ter um públicoalvo de renda mais inferior, mas ela favorece a população como um todo, de modo que penso que a área por onde essa infraestrutura passa tende a se valorizar quando a recebe. Sabemos que São Paulo é uma cidade com trânsito caótico e que, portanto, a opção do uso do Metrô em detrimento do automóvel agrega rapidez e, assim, qualidade à mobilidade urbana na cidade. A acessibilidade de muitas áreas também melhora com o Metrô. Dessa forma, o que acredito ter acontecido com a região atualmente adjacente à Linha 1 – Azul do Metrô é uma desvalorização anterior à chegada desse modo de transporte. Como apontado no item 1.1, o Distrito de Santana carecia de infraestrutura desde quando era uma fazenda (nos séculos XVIII e XIX), período esse em que realizava seu acesso ao núcleo urbano paulistano por meio de pontes de madeira em constante mau estado de conservação (no caso, a Ponte Grande e a Ponte Pequena). Conforme muitos moradores chegavam e ocupavam loteamentos por volta do ano de 1940, estes se deparavam com falta de infraestrutura no distrito, que, naquela época, tinha sua principal e histórica mancha urbana estabelecida ao longo dos trilhos do antigo Tramway da Cantareira. Esta linha férrea, não por acaso, passava por onde hoje passa grande parte do Metrô em Santana. Assim, nota-se que o núcleo urbano de Santana, que sempre fora marcado pela ausência de infraestrutura, é anterior ao Metrô, e localiza-se exatamente ao longo da área que hoje abriga o Metrô. Quando este meio de transporte chegou, a área já era desvalorizada em relação a outras áreas da cidade como o Centro. Mesmo com a construção de pontes sobre o Rio Tietê que, de certa forma, tiraram parte do isolamento da Zona Norte a partir da gestão Prestes Maia (1938-45), a região do Carandiru e da “parte baixa” de Santana (que estão ao longo da Linha 1 – Azul) continuou desvalorizada por razões como a proximidade com o próprio Complexo Penitenciário do Carandiru (existente desde 1920 e acrescido da Casa de Detenção em 1956). Além disso, como afirma VILLAÇA (2001), a região da cidade de São Paulo que se valorizava em virtude de abrigar as elites e de ser alvo das decisões e das intervenções dessas elites não é o setor norte. 56

[...] em São Paulo, há claras concentrações de classe média na Zona Norte – Santana, Cantareira, Jardim São Paulo, Tremembé -, na Zona Leste – alto da Moóca e Tatuapé. Contudo, a alta burguesia não está ali presente e não se organiza em círculos concêntricos; está concentrada num único setor.

Ainda de acordo com o mesmo autor, o setor privilegiado pelas elites – e onde elas efetivamente estão – é o quadrante sudoeste de São Paulo. Acredito, portanto, que a ocupação histórica de classes mais baixas na região de Santana, aliada a um certo esquecimento da região por parte das autoridades e a fatores internos (como a construção do Complexo Penitenciário) levaram o cerne do distrito em questão a ser habitado pela hoje chamada classe média baixa. É verdade que houve valorização em certos pontos – atualmente designados por Alto de Santana – mas essa valorização não ocorreu de forma homogênea no distrito historicamente.

57

N

Figura 3.1. Parque da juventude e área que o corretor aponta como Alto de Santana. Disponível em: Acesso em: 23/02/13

Frente a essa valorização desigual, creio que o Parque da Juventude surge como um fator que pode tornar a “parte baixa” de Santana mais valorizada e, assim, mais homogênea em relação à parte alta do distrito. Há também outros fatores apontados na entrevista que podem valorizar a região como um todo. O corretor Derivaldo menciona a existência do shopping “Parque” e a chegada do “Tucuruvi”. O primeiro é o Santana Parque Shopping, que foi inaugurado nos últimos anos. Ele fica localizado na região de Lauzane Paulista, no Distrito do Mandaqui. Este distrito, por sua vez, fica dentro da subprefeitura de Santana/Tucuruvi e é vizinho ao Distrito de Santana. O segundo shopping é o Metrô Tucuruvi, que ficará conectado à estação de Metrô homônima. Este shopping center se encontrava em fase final de obras em janeiro de 2013, época da realização da entrevista. 58

A inauguração desses dois empreendimentos comerciais é, na opinião do corretor imobiliário, um novo atrativo para Santana e seus arredores. Mais do que um atrativo, penso que a instalação desses shoppings mostra que o Distrito de Santana e os distritos vizinhos passaram ter uma concentração de moradores com renda mais alta a ponto de tornar economicamente viáveis esses empreendimentos.

59

3.2. OBSERVAÇÃO E LEVANTAMENTO DOS ANÚNCIOS DE LANÇAMENTOS IMOBILIÁRIOS NO ENTORNO IMEDIATO DO PARQUE A partir de 2006, o Brasil viu um intenso fortalecimento da produção e da comercialização de imóveis32. Esse fortalecimento foi sentido em várias regiões de São Paulo, inclusive no Distrito de Santana e, mais especificamente, na região do Carandiru. O aquecimento do mercado imobiliário nessa região já começava a ser sentido alguns anos antes em virtude da desativação da Casa de Detenção, conforme informado no item 1.2. dessa pesquisa. Um simples exercício de observação feito no início de 2013 permitiu-me constatar que os lançamentos imobiliários continuam ocorrendo nos arredores do atual Parque da Juventude.

Figura 3.2. Prédio em fase final de construção nos arredores do Parque da Juventude. Fonte: Autor

32

Informação extraída de Balanço do Mercado Imobiliário 2007. Disponível em: Acesso em 11/02/2013.

60

Na foto anterior, o prédio que aparece em primeiro plano logo atrás das árvores estava em fase final de construção em janeiro de 2013 (data em que a fotografia foi tirada). Essa foto, inclusive, foi feita de dentro do Parque Institucional. Já ao lado do Metrô Carandiru, na Avenida Cruzeiro do Sul (que delimita o Parque Institucional a leste) outra obra estava em curso no início de fevereiro de 2013. Nesta obra, chamava a atenção a presença de uma placa que anunciava que todas as salas comerciais haviam sido vendidas.

Figura 3.3. Obra ao lado do Metrô Carandiru Fonte: Autor

61

Figura 3.4. Destaque para a publicidade da obra. Fonte: Autor

Quando se observa o número de peças publicitárias que fazem alusão ao Parque da Juventude e que foram publicadas no decorrer dos anos em um dos jornais de São Paulo, fica claro que essa área verde consolidou-se a ponto de ser um dos chamarizes dos empreendimentos imobiliários de Santana e dos demais distritos vizinhos ao parque, tais como a Vila Maria e Vila Guilherme. Assim, é possível concluir que o Parque da Juventude realmente valorizou o entorno. Vale observar que, já no ano seguinte à inauguração da primeira área do parque, surgiram anúncios publicitários que mencionavam a área verde como um todo. Esses anúncios continuaram sendo publicados nos anos seguintes (à exceção de 2009) e o são até hoje.

62

2002

Número de anúncios publicitários que mencionam “Parque da Juventude”33 0

2003

0

2004

0

2005

6

2006

3

2007

11

2008

2

2009

0

2010

3

2011

8

2012

4

Ano

Eventos importantes Desativação da Casa de Detenção Inauguração do Parque Esportivo Inauguração do Parque Central

Inauguração do Parque Institucional

Inauguração da Biblioteca de São Paulo

Tabela 3.1. Levantamento do número de anúncios publicitários relativos ao Parque da Juventude a cada ano no jornal O Estado de S. Paulo.

33

Foram considerados apenas anúncios de cunho imobiliário. Inserções de caráter institucional não foram computadas.

63

Imagem 3.5. Anúncio publicitário publicado em 09/12/2011. Disponível em: Acesso em: 16/02/2013

64

4. INVESTIGAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS DO PARQUE DA JUVENTUDE Após a investigação de itens como o impacto exercido pelo Parque da Juventude no mercado imobiliário de Santana, ou o uso e a ocupação do solo nesse bairro e, mais especificamente, ao redor desse parque, cabe o aprofundamento dos estudos dessa área verde em si, estudos esses que devem buscar a identificação dos problemas lá existentes, para que, mais à frente, possa-se propor soluções. Uma das formas de se chegar a conclusões concretas dessa investigação foi a realização de uma entrevista com Luiz Felipe Nascimento, que foi aluno da ETEC Parque da Juventude entre 2009 e 2011. Além disso, foi aplicado um questionário em maio de 2013 em 77 alunos de três classes do terceiro ano da ETEC Parque da Juventude e nos professores dessas três turmas que se encontravam nessas classes no momento da aplicação. Dessa forma, o número total de questionários respondidos foi 80. O objetivo da entrevista e dessa aplicação foi obter uma visão geral e abrangente do que pensam os frequentadores da ETEC Parque da Juventude – que, por conseguinte, acabam frequentando o parque durante um longo período de tempo na semana – acerca dessa área livre. As perguntas do questionário foram endereçadas em especial aos alunos do terceiro ano, uma vez que estes são os alunos que frequentam há mais tempo as dependências do Parque da Juventude e que, portanto, têm condições de fazer uma análise mais abrangente e completa das questões que ao longo do tempo envolvem essa área verde. Também foram feitas entrevistas com Rosa Grena Kliass, paisagista que, junto com o escritório Aflalo e Gasperini, projetou o Parque da Juventude, e com Ana Lúcia P. de Faria, arquiteta que trabalha na Coordenadoria de Parques Urbanos, órgão da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e que cuida da manutenção desse parque, dentre outras áreas verdes. De início, almejou-se estabelecer um perfil dos alunos mencionados anteriormente, de modo que, dessa vez, levasse-se em consideração as regiões onde eles moram – de modo a complementar o dado já fornecido de sua faixa de renda no item 2.2. A pergunta foi: Em que região de São Paulo você mora? Nessa questão, ficou claro que a grande maioria dos entrevistados mora na Zona Norte de São Paulo, porém fora do bairro de Santana, como se pode observar a partir da tabela e do gráfico gerados após a geração dos dados coletados:

65

Região Santana Zona Norte (excluindo-se Santana) Zona Leste Zona Oeste Zona Sul Centro Outras cidades da Grande São Paulo Cidades de fora da Grande São Paulo

Qtde. 5 58 2 1 2 3 6 2

Tabela 4.1. Levantamento das regiões em que os entrevistados moram

Proveniência dos Entrevistados Santana 4% 1%

3%

Zona Norte (excluindo-se Santana)

3% 8%

6%

Zona Leste

2%

Zona Oeste Zona Sul 73% Centro Outras cidades da Grande São Paulo Cidades de fora da Grande São Paulo

Gráfico 4.1. Levantamento das regiões em que os entrevistados moram

Também foi feita a seguinte pergunta: Por que razão você vem ao Parque da Juventude? Essa questão, em cuja resposta se podia marcar mais de uma alternativa, é direcionada a professores e, essencialmente, a alunos e é de se esperar que o principal motivo de visita ao parque seja, dessa forma, o estudo na(s) ETEC(s) – como a tabela e o gráfico que seguem podem atestar. Ainda assim, é interessante notar que o segundo equipamento que mais motiva a ida dos entrevistados ao parque é a Biblioteca de São Paulo, o que denota seu 66

êxito em atrair frequentadores, êxito esse que é inclusive maior que aquele das quadras poliesportivas.

Razão

Qtde.

Para praticar esportes Para estudar na(s) Etec(s) Para usar a Biblioteca de São Paulo Para desfrutar da área verde Outra

18 76 32 15 5

Tabela 4.2. Levantamento dos motivos de visita ao Parque da Juventude

Razões de Visitas ao Parque da Juventude Para praticar esportes 10%

4%

12% Para estudar na(s) Etec(s)

22% Para usar a Biblioteca de São Paulo

52%

Para desfrutar da área verde Outra

Gráfico 4.2. Levantamento dos motivos de visita ao Parque da Juventude

Dada essa introdução ao perfil dos alunos entrevistados, a pesquisa voltou-se à análise de certos itens em específico, a saber: segurança, iluminação, manutenção das quadras e integração do parque com o entorno. Esses itens foram escolhidos por serem aqueles que mais se destacaram em termos de críticas nessa investigação, como se pôde constatar após a seguinte pergunta: O que pode melhorar? [Na manutenção do Parque da Juventude] As respostas, que foram dadas espontaneamente, foram as seguintes:

67

Resposta Quadras Segurança Limpeza Bebedouros Iluminação Banheiros Cuidados com o Gramado Agilidade na Manutenção em Geral

Qtde. 25 17 11 12 9 2 5 5

Tabela 4.3. Indicações de itens que podem ser melhorados no parque

Itens a Serem Melhorados Quadras Segurança 2%

6%

6% 29%

Limpeza

10% Bebedouros 14% 13%

20%

Iluminação Banheiros Cuidados com o Gramado Agilidade na Manutenção em Geral

Gráfico 4.4. Indicações de itens que podem ser melhorados no parque

O item mais lembrado foi a manutenção das quadras poliesportivas. Em seguida, destacou-se a questão da segurança nas imediações do parque e, em terceiro, a iluminação. Também foi feita a pergunta: Como você avalia a manutenção das dependências do parque (como quadras, gramado, biblioteca, etc.)? A avaliação feita pelos que responderam ao questionário foi:

68

Avaliação Muito Boa Boa Satisfatória Ruim Muito Ruim

Qtde. 2 18 38 22 0

Tabela 4.5. Avaliação da manutenção do parque

Avaliação da Manutenção do Parque da Juventude 0% 2% 28%

22%

Muito Boa Boa Satisfatória Ruim

48%

Muito Ruim

Gráfico 4.5. Avaliação da manutenção do parque

Percebe-se aqui que quase metade dos entrevistados considera a manutenção do Parque da Juventude satisfatória. Um fato que chama a atenção é que nenhum deles considera tal manutenção muito boa.

69

4.1. A SEGURANÇA E A ILUMINAÇÃO Na entrevista feita com o ex-aluno Luiz Felipe do Nascimento, a questão de segurança já passa a ser vista como crítica: Havia problemas de segurança no parque? Luiz Felipe: Sim, alguém sempre era assaltado no caminho da Etec até o metrô ou andando pelo parque. A construção do parque foi determinante para a revitalização da área, mas no aspecto social houve poucas mudanças. Os seguranças do parque eram destinados apenas ao cuidado do patrimônio e pouco se importavam com a segurança dos frequentadores. Há muitas áreas no parque que são muito interessantes, como uma parte da muralha do antigo presidio que foi preservada e as fundações de pavilhões que nunca foram construídos. Estas áreas são deslocadas das principais rotas do parque e estão entre árvores, o que faz com que sejam pouco vistas, pouco movimentadas e logo, perigosas. Ainda com relação à segurança, dentro dos próprios edifícios ocorriam problemas: na Biblioteca São Paulo diversos armários para guardar as mochilas de quem entrava na biblioteca foram arrombados e pessoas chegaram a ser roubadas dentro da biblioteca. Nos prédios das ETECs o problema era semelhante, a não ser pela Etec de Artes, que restringia o acesso ao edifício por um segurança e carteirinha.

O questionário respondido pelos demais alunos segue o mesmo caminho. A pergunta feita foi: Como você avalia o nível de segurança do parque?

Avaliação

Qtde.

Muito Boa Boa Satisfatória Ruim Muito Ruim

0 4 18 42 16

Tabela 4.6. Avaliação dos entrevistados quanto à segurança no parque

70

Avaliação da Segurança no Parque da Juventude 0% 20%

5% 22%

Muito Boa Boa Satisfatória Ruim

53%

Muito Ruim

Gráfico 4.6. Avaliação dos entrevistados quanto à segurança no parque

Aqui, fica claro que existe uma grande sensação de insegurança no Parque da Juventude. Afinal, mais da metade dos entrevistados avaliam a segurança do parque como ruim. As outras duas avaliações mais recorrentes foram “satisfatória” e, em seguida, “muito ruim”. Ainda abordando o assunto insegurança, foi feita a pergunta: Você já foi roubado(a) no Parque da Juventude? O resultado foi o seguinte:

Resposta

Qtde.

Sim Não

12 67

Tabela 4.7. Levantamento do número de entrevistados que já foram assaltados no parque

71

Levantamento de entrevistados que já foram assaltados no Parque da Juventude

15%

Sim Não 85%

Gráfico 4.7. Levantamento do número de entrevistados que já foram assaltados no parque

A porcentagem de entrevistados que já foram assaltados dentro do Parque da Juventude aponta uma situação que inspira cuidados, ainda que a maioria não tenha sido alvo desse crime. Essa situação foi apresentada a Rosa Kliass. Sua reação a esse fato está transcrita abaixo: Rosa: Bom. [Momento em que Rosa lê uma das últimas perguntas em voz alta]

“Uma conclusão a que cheguei nessa última parte da minha pesquisa é que há uma grande sensação de insegurança em meio aos alunos da Etec Parque da Juventude. Como o projeto do parque pode ser aproveitado no sentido de combater essa insegurança da região?” Para mim é curiosíssimo que eles sintam insegurança lá. É que eu não trouxe os gráficos. Eu posso até depois passá-los para a senhora. Mais da metade considera como ruim a segurança do parque... Rosa: Mas acontecem coisas lá? 15% dos alunos foram assaltados. [...]

O mesmo fato foi relatado a Ana Lúcia Faria. Seu comentário a respeito foi o seguinte: 72

Após aplicar um questionário com alunos da Etec Parque da Juventude, pude constatar que a sensação de insegurança dentre eles e relativa ao parque é grande. Quais medidas estão sendo tomadas para tentar mudar isso? Ana Lúcia: A Secretaria do Meio Ambiente recebeu a administração do parque em outubro do ano passado. Logo de início, perceberam-se os problemas de manutenção. Fizemos um processo para licitação de manutenção e adequação de pavimento e de elétrica. Esse processo culminou numa contratação que foi realizada em março. A empresa começou o serviço de substituição dos equipamentos de rede de energia e de iluminação em abril. Em maio [data de aplicação dos questionários nos

alunos do parque] era para já terem percebido a melhora na iluminação. Mas, às vezes, a melhora não foi suficiente para essa percepção do usuário. Agora, já está concluída a iluminação na quadra de esportes. E o parque é dividido em alguns setores. E está-se iniciando a substituição dos equipamentos elétricos nas áreas verdes próximas das ruínas. Havia problemas inclusive na infraestrutura de elétrica. A subestação alagava. Alguns cabos tinham sido roubados. Esse é um problema que não é só no Parque da Juventude. Esse é um problema na cidade inteira. As pessoas estão numa tal penúria, que se arriscam a roubar a fiação.

A propósito da questão de iluminação, esta também foi avaliada no questionário. A pergunta lançada foi a seguinte: Como você avalia o nível de iluminação do parque à noite? As respostas estão transcritas a seguir:

Avaliação Muito Bom Bom Satisfatório Ruim Muito Ruim Nunca vim ao parque à noite

Qtde. 0 2 9 27 15 27

Tabela 4.8. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude

73

Avaliação da Iluminação Noturna no Parque da Juventude 0% 2% 11%

34%

Muito Bom Bom 34%

Satisfatório Ruim

19%

Muito Ruim Nunca vim ao parque à noite

Tabela 4.8. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude

Nota-se que um terço dos entrevistados considera ruim a iluminação noturna do Parque da Juventude. Caso se desconsiderem as respostas daqueles que nunca haviam estado no parque à noite, a fração de respostas equivalentes a “ruim” subiria para mais de um meio (como se pode ver na tabela e no gráfico que se seguem). Avaliação Muito Bom Bom Satisfatório Ruim Muito Ruim

Qtde. 0 2 9 27 15

Tabela 4.9 Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude desconsiderando-se aqueles que nunca estiveram aí à noite.

74

Avaliação da Iluminação Noturna no Parque da Juventude 0% 28%

4%

17%

Muito Bom Bom Satisfatório

51%

Ruim Muito Ruim

Gráfico 4.9. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude desconsiderando-se aqueles que nunca estiveram aí à noite.

Nota-se, portanto, que a iluminação supostamente ruim pode ser um dos fatores que levaram à atual sensação de insegurança evidenciada anteriormente. Logo, é de se esperar que melhorias no sistema de iluminação do parque contribuam com um aumento da sensação de segurança nessa área à noite, como diz Ana Lúcia. Mas vale destacar que, conforme a exemplificação de Luiz Felipe Nascimento, há problemas não necessariamente atrelados à iluminação deficiente do Parque da Juventude. A suposta postura dos guardas desse parque, que estariam mais preocupados com a segurança do patrimônio do que com a dos frequentadores, ou o roubo a armários da Biblioteca de São Paulo são um exemplo disso. Há também a questão dos moradores do entorno, que seriam vistos como um possível agente responsável pela insegurança no Parque da Juventude. Esse assunto é complexo, e será abordado mais detalhadamente no item 4.3. É importante pensar também que a insegurança é uma questão presente em toda a cidade de São Paulo. Isso implica a necessidade de se tomarem medidas amplas, logo, não apenas circunscritas à área do parque. Possíveis soluções para a questão serão abordadas no item 6. 75

4.2. A MANUTENÇÃO DAS QUADRAS O principal item de manutenção apontado pelos alunos que merece atenção são as quadras. À pergunta: O que pode melhorar?, 29% dos entrevistados apontaram espontaneamente a manutenção das quadras (ver tabela 4.3. e gráfico 4.4.) Quando questionada sobre isso, Ana Lúcia Faria respondeu: Ana Lúcia: A questão das quadras nesse momento ainda não está sendo prevista. Fizemos alguns reparos. A nossa intenção é ter um dia um contrato de manutenção geral. Tipo zeladoria. Porque um local de público tão intenso como o Parque da Juventude e outros parques administrados pela secretaria precisariam ter uma manutenção constante. Então, ao menor sinal de desgaste, você está reparando. Só que não conseguimos fazer isso ainda. E o que eu estava comentando é que toda previsão orçamentária dos órgãos do governo é feita em julho do ano anterior. O parque veio para a gente quando já tinha sido solicitado o orçamento para o governo do Estado. Ele não tinha uma anotação orçamentária. Então, têm sido feitos ajustes para conseguir isto. Para conseguir melhorar a situação do parque. Essa coordenadoria administra onze parques. É bastante e o recurso tem que ser distribuído. As quadras são muito utilizadas. Mas tem outros locais com quadras utilizadas. O Estado tem que distribuir bem esses recursos todos. Mas eu acho que vai ser contemplado em breve. A gente tem buscado muito parcerias público-privadas. O que é uma coisa muito comum em outros países. Se você vai em outros parques, você vê uma qualidade de manutenção, mas também muitos parques que seriam públicos as pessoas pagam para utilizar. Pagam uma anuidade, pagam uma mensalidade. Eu já estive em lugares nos Estados Unidos em que a comunidade decide: “Vamos investir tanto nesse parque e ele vai ter uma piscina aquecida.” Então, todo mundo custeia um pouco daquela piscina aquecida. Não paga para entrar lá e usar. Mas custeou a implantação. Aqui, a gente não consegue fazer isso. A distribuição não é assim tão fácil. Nesse momento, não vai ser feito nada, mas está no rol das coisas. A gente queria ter, por exemplo, uma empresa que incentiva o esporte e ela vende equipamento esportivo. Faz um evento e repara as quadras. Podia ser bom para ambas as partes. Ela divulga e a comunidade ganha uma quadra reparada. Eu percebo que, passando por lá, tem até muitas propagandas gravadas lá. Talvez pudesse ser tirado algum... Ana Lúcia: Então. Há um decreto estadual que define valores a serem cobrados para isso. Só que você tem custos fixos que a gente fala – despesas de custeio. Da

76

vigilância, da manutenção de áreas verdes. Num país tropical como o nosso, a grama tem que ser cortada a cada dez dias, quinze dias no inverno. Isso custa. As ruas têm que ser varridas. Eu não sei exatamente qual é o montante do custeio do Parque da Juventude. Posso até pesquisar e depois te passar. Mas, se ninguém usar nada, só com a vigilância de lá, as coisas varridas, o banheiro limpo, o mato cortado, o gramado mantido... já custa um certo volume de dinheiro por mês. Eu posso dar uma verificada. Amanhã ou depois você me liga e eu te passo qual é a despesa fixa de manutenção. Sabe, na tua casa quanto você gasta de condomínio, de água, luz... se ninguém fizer nada, já está gastando aquilo? Taxa básica? Eu te passo depois. Aí você vai entender que é um custeio que o Estado arca e essas gravações recolhem pro fundo do Estado. É uma gota d’água no oceano. Mas ajuda. E também, já que eles estão se beneficiando de um bem que é público, o poder público tem que pelo menos ter uma contrapartida. Mas é bem pouco.

Nesse trecho, Ana Lúcia sugere que dinheiro privado possa ser injetado na manutenção do parque e na sua melhoria em geral. Isso pode ser positivo, porém toda injeção de recursos da iniciativa privada pressupõe um retorno do valor investido ao longo do tempo de alguma forma. No caso de parques, pode ser por meio de mensalidades ou anuidades sobre usuários, como cita a arquiteta. O que se deve observar é que a população acabaria arcando com esse retorno de dinheiro à iniciativa privada. Naturalmente, ela seria a principal beneficiária dos investimentos privados. Contudo, essa população já arca com uma grande carga tributária que vai aos cofres públicos. Seria justo que a população continuasse pagando impostos – que de alguma maneira seriam direcionado às áreas verdes – e que, ainda assim, arcasse com o retorno de dinheiro direcionado às mesmas áreas verdes para as empresas privadas? Por outro lado, é consensual que, na maioria dos casos, a manutenção privada é mais eficiente do que a pública. Talvez a experiência de envolvimento de companhias privadas em parques públicos fosse uma experiência interessante sob esse aspecto. Outra iniciativa que poderia se mostrar exitosa é o apoio financeiro de empresas particulares em troca do direito de fazer publicidade dentro de certas áreas. Como empresas de equipamentos esportivos e as quadras, conforme diz Ana Lúcia. Assim, a população não estaria arcando com os custos de manutenção dessas quadras. Porém, nesse caso, seria necessário que se chegasse a um acordo sobre até que ponto o espaço público poderia ser 77

apropriado para que não houvesse um exagero de apropriação desse espaço por entidades privadas. Um fato curioso sobre o projeto das quadras é a presença de um alambrado ao redor delas que não as fecha completamente. Nas palavras da idealizadora Rosa Kliass, não chega a ser um alambrado. Pode-se ver esse elemento nas figuras 4.1. e 4.2.

Figura 4.1. Fechamento das quadras poliesportivas. Fonte: Autor

78

Figura 4.2. Fechamento das quadras poliesportivas. Fonte: Autor

A descrição de Rosa dos motivos que a levaram a pensar nesse fechamento, bem como as reações de diferentes pessoas a sua instalação consta nas linhas seguintes:

[...] Rosa: E a segunda coisa foi que então nós começamos a fazer o projeto para as quadras e é aquela coisa... Quadra esportiva é uma chatice, não é? Sem nenhuma criatividade Como é que é uma quadra esportiva? Você vai desenhar uma quadra esportiva. O que você faz? Você tem que pensar na posição dela para o sol não ficar atrás da rede, para não atrapalhar o goleiro ou quem está chutando... Rosa: Isso. E para quê mais?

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Tem que ter o gradil para a bola não escapar. O alambrado para a bola não escapar... Rosa: E lá tem alambrado? Lá tem, mas é diferente. Não é uma coisa que fecha... Rosa: Então. É isso que eu queria te contar. Essa história. Então o normal é isso. Fazer alambrado em volta das quadras. Eu disse: “Gente, nós estamos saindo daquela prisão e vamos fazer gaiolinhas aqui... Eu não vou pôr alambrado em volta das quadras”. Teve quem falou pra mim: “ Mas, Rosa, como você não vai fazer alambrado?” Você já foi num campo de várzea? Eu já passei perto. Nunca joguei futebol lá... Rosa: Sim. E eu perguntei para a pessoa que me falou aquilo: “Já foi para um campo de várzea?” Lá não tem alambrado. E disse: “O pessoal joga futebol. Por que eu vou pôr alambrado? Não vou pôr, não!” Agora, tem que proteger os transeuntes das boladas. Então vamos bolar um sistema de alambrados para proteger aqueles que não estão jogando. E deu, inclusive, um tema muito bonito, que ficou uma coisa bem bonita, não é? Que inclusive recebeu a iluminação da noite, porque ali era o único lugar que ia funcionar à noite. O parque ia ser fechado. Por isso que tem inclusive a grade e o portão quando você sai dos esportes e vai para o Parque Central, que é fechado. Então esse é o causo das quadras.

Em outro trecho, Rosa Kliass conta mais um pouco sobre o fechamento das quadras:

[...] Rosa: Um dia, veio um professor americano para a FAU. E ele ficou de dar um curso para a FAU. Um professor de paisagismo. Um especialista em desenho com a comunidade. Bem americano. Chama-se Robin Moore. Ele veio e, daí, me telefonaram dizendo: “Olha, o Robin tá aqui e está dando um curso e ele gostaria de dar uma aula lá num parque e nós pensamos que seria interessante no Parque da Juventude. Mas só tinha aquela primeira parte. Falei: “Olha, se ele vai dar dia de semana, ele vai chegar lá e não vai ver nada. O pessoal só vai lá sábado e domingo. Ou então de noite. Então, se vocês quiserem, eu o levo num sábado, ele vê e daí ele decide se quer fazer lá ou não. Aí num sábado eu o levei lá. Aquele pedacinho só, ele ficou três horas comigo lá. A

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primeira coisa que ele disse: “Você consultou a comunidade para não pôr as grades?” Falei: “Não.” “Você não ficou com medo que não desse certo?” Falei: “Não. Se não desse certo, a gente punha as grades.” O que podia ser mais do que isso, está certo? Mas nessa hora, estava passando um guarda. Eu chamei o guarda. Chamei o guarda e disse: “Escuta, me diz uma coisa. O pessoal reclama que não tem alambrado?” Foi naquela hora que ele percebeu que não tinha alambrado. Nunca ninguém tinha reclamado. Bom, caiu o queixo do rapaz, né?

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4.3. A INTEGRAÇÃO DO PARQUE COM O ENTORNO Conforme citado no item 2.1., o Parque da Juventude está inserido em uma área diversa, na qual existem inclusive ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social. A comunidade Zaki Narchi está instalada em um conjunto Cingapura, e é uma ZEIS. Ela está localizada ao longo da Avenida Zachi Narki desde antes da implantação do Parque da Juventude.

Figura 4.3. Vista de satélite do Parque da Juventude e de seu entorno, com destaque para a comunidade Zaki Narchi. Disponível em: Acesso em: 11/08/2013

A relação que essa comunidade mantém com o parque já é relatada por Luiz Felipe do Nascimento:

Qual era o nível de integração entre os alunos das ETECs e os moradores do entorno?

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Luiz Felipe: Havia um certo conflito entre os alunos e os moradores do entorno, especialmente com os da comunidade da Zaki Narchi. Com relação aos moradores de Santana e proximidade a interação era livre de problemas. Os alunos eram frequentadores do parque como qualquer um que estivesse ali para caminhar ou usar os equipamentos do parque. [...] Quais são os outros problemas identificados por você nas dependências do parque? Luiz Felipe: O parque é cortado por um córrego que às vezes exala odor. Esse córrego configura uma passagem entre o parque a avenida Zaki Narchi, onde existe o conjunto e comunidade Cingapura Zaki Narchi. Me lembro de que enquanto estudava na Etec, após inúmeros conflitos de segurança essa passagem foi fechada, para dificultar o acesso dos moradores dessa comunidade ao parque e, teoricamente, os problemas de segurança, que eram associados a ela. Nunca houve uma conversa com os moradores ou uma real tentativa de descobrir de onde vinham os assaltantes.34 A solução para a segurança se resumiu a instalar uma base móvel da polícia, que deveria estar a serviço do bairro em diversos locais mas, que, após tanta pressão por parte da direção da escola permanecia fixa todo o dia, na maioria dos dias da semana. Isso não solucionou, obviamente, os problemas de segurança do parque. Os alunos se sentiam mais seguros onde estavam sob os olhos dos policiais mas assim que viravam a calçada da Zaki Narchi no caminho para o metrô ou quando frequentavam áreas mais ‘escondidas’ do parque o problema de segurança continuava. [...]

Após a identificação dessa questão, o assunto foi levantado com Rosa Kliass. O trecho abaixo se inicia com o questionamento sobre a sensação de insegurança no parque.

Rosa: Mas acontecem coisas lá? 15% dos alunos foram assaltados. Mas aí é uma questão que eu até investiguei um pouquinho mais na entrevista que eu fiz. Porque isso foi no questionário. Eu percebi isso no questionário e na entrevista eu percebi que existia

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Grifo do autor.

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um conflito entre a comunidade Zachi Narchi e os usuários do parque. Ele me falaram isso lá. Porque parece que na verdade os alunos se sentem no direito de usar o parque naturalmente – eles fazem educação física nas quadras e tudo o mais – só que os moradores da região sentem que uma parte deles também foi usurpada. Eles também se sentem no direito de usar o parque e eles se sentem meio à margem. Foi uma impressão que me falaram. Rosa: Não, tudo bem. Eu acho que o pessoal da ETEC é tão dono do parque como os outros moradores. E eles têm algo mais. Meu Deus, a ETEC!

Ana Lúcia Faria, por sua vez, responde da seguinte forma:

Uma questão levantada por um dos alunos é que há um certo conflito entre os moradores da comunidade Zaki Narchi e os demais usuários do parque. Especialmente no que se refere à falta de integração entre esses moradores e o parque. Existe alguma ação que está sendo tomada no sentido de integrar a comunidade dos moradores do entorno do parque aos seus frequentadores que não são desse entorno? Ana Lúcia: Na verdade, em qualquer planeta, eu acho, existe essa coisa do bairrismo. O que é que você que é de fora está fazendo na minha área? Né? Eu sou de uma cidade do interior que tem uma universidade da UNESP e que as pessoas achavam: “O que é que esse aqui de fora tá fazendo na minha área?” Tem uma escola da aeronáutica que vem gente do país inteiro: O que é que esse que é de fora tá fazendo na minha área? Então, isso na verdade é do ser humano. Não cabe ao Estado e à administração fazer essa DR – Discussão da Relação. O que tem é programas que são para todo mundo. O parque não segrega ninguém.

O que se nota segundo relatos é que existe uma possível falta de diálogo entre os moradores do Cingapura e a administração do parque dentre 2009 e 2011, quando do fechamento da passagem entre essa área verde e a Avenida Zaki Narchi. Os problemas de segurança são presentes no Parque da Juventude, porém a tentativa de impedir que moradores de uma comunidade acessem uma área pública que também lhes pode e deve servir é condenável. 84

A função de um parque público é integrar seus usuários e, em linhas gerais, servir de ponto de encontro destes na área em que estão. Qualquer atividade que vá contra isso é incoerente. Até porque, como diz Ana Lúcia, o bairrismo existe em qualquer lugar. E, caso ele esteja presente entre os moradores do Cingapura, não é sua exclusão do convívio com o Parque da Juventude que ajudará esse possível bairrismo a ser superado. Por fim, cabe dizer que, quando se fecha um acesso a uma comunidade inteira por medo de que de lá saiam criminosos, a comunidade inteira se prejudica e paga por alguns que podem ser criminosos, porém que não necessariamente são de lá. E sabe-se que, se uma pessoa realmente estiver mal intencionada, ela entrará no parque para cometer atos criminosos por qualquer entrada. Não sei se essa saída ainda é fechada à comunidade ou se essa ação foi revertida. Mas não vejo como razoável o que, segundo relato de um ex-aluno da Etec Parque da Juventude, foi feito sob esse ponto de vista. No entanto, existe uma razão que pode justificar esse fechamento, razão essa que não está ligada a questões de segurança. Não deve haver, sob o ponto de vista do uso, nenhum favorecimento do espaço do parque a qualquer setor das comunidades vizinhas. Dessa forma, quando se estabelece uma saída para o Cingapura, existe um certo direcionamento do parque para os moradores desse conjunto residencial. Como o Parque da Juventude é uma área pública, não deve haver maior facilidade de acesso ou favorecimento desse acesso a essa ou a qualquer outra comunidade. Seja ela de baixa ou alta renda. O que me parece é que a razão de fechamento desse acesso não foi, no entanto, uma tentativa de se corrigir um possível favorecimento de acesso. Mas uma tentativa de corrigir problemas de segurança. Para tanto, as críticas já feitas continuam valendo.

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4.4. A FALTA DE DIVULGAÇÃO Um fato que chama a atenção no que se refere ao Parque da Juventude é que esse parque, pelo menos aparentemente, não tem sua presença tão divulgada para a população em geral. Essa é uma opinião compartilhada por Rosa Kliass também:

Rosa: [...] Então, o parque tem tudo a ver com a cidade. E eu acho que sim, que o Parque da Juventude deu um valor, vamos dizer assim, urbano muito grande para a região norte. Certo? Agora, eu acho muito curioso, porque eu pretendia que ele fosse metropolitano. Principalmente porque tem o metrô lá. Mas eu computo isso por uma falta de divulgação. Eles divulgam muito pouco. Eu sei que tem propaganda lá que eles filmam, mas eles nunca falam onde é. Rosa: E não é uma coisa divulgada. Vamos dizer assim, nas escolas da cidade, arquitetos nunca foram lá no Parque da Juventude. É normal. Quando eu pergunto: “Você conhece o Parque da Juventude?” “Não.” Ninguém conhece! Mas não é por isso que ele não é usado. Ele é ultra usado! Não é? Mas ele funciona para a região norte. Se bem que ele poderia ter uma abrangência maior. Mas a função dele hoje é essa. E ele cumpre muito bem.

O ponto de vista de Rosa Kliass – do qual também compartilho, já que moro em Santana e pude acompanhar a evolução do parque de perto – foi levada a Ana Lúcia:

Eu tive a chance de entrevistar a paisagista Rosa Kliass – que projetou o parque junto com o escritório Aflalo e Gasperini. Ela levantou uma questão que eu, como morador da região de Santana desde meu nascimento, também pude observar. Em princípio, não há uma divulgação ampla do Parque da Juventude em São Paulo. Talvez por isso, a grande maioria dos usuários do parque venha da Zona Norte. A senhora concorda com essa observação? Ana Lúcia: Não, eu não concordo. Cada vez mais as pessoas que moram em cidades grandes estão procurando atividades ao ar livre. Você vê que mesmo na USP – é que você frequenta a USP há pouco tempo – mas há 30 anos, quando eu estudava lá aos

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sábados e domingos, poucas pessoas corriam. Atualmente, durante a semana e sábados, quando você vai, você tem que esperar às vezes trinta a quarenta minutos para conseguir entrar no estacionamento de carro porque tem muita gente correndo nas ruas. Às 8h da manhã. Então tem muito mais gente frequentando áreas livres. Nos parques, quanto mais a gente arruma o parque, mais gente vem. E eu acho que todos os jornais têm os seus guias dos passeios. Todos incluem os parques da capital. Inclusive o Parque da Juventude e esse aqui. [Parque Villa Lobos, onde a entrevista foi

feita] As revistas de quando em quando lançam reportagens sobre as ciclofaixas dos parques. Então, muita gente frequenta. Você vê que já acabaram as férias e esse parque tá com bastante gente. E ele é grande. O Parque da Juventude também. Agora, as pessoas vão aonde for mais fácil ir. Se a pessoa mora perto do Parque da Juventude, porque ela vai pagar um transporte pra vir passear num parque na Zona Oeste? A gente nota também que o Ibirapuera é uma grande referência. Para os estrangeiros... é um parque de turismo. E, se você olhar nos finais de semana, você vai ver muita gente da periferia, porque às 5h, 6h da tarde, você vai ver os pontos de ônibus lotados. Aquilo não é turista estrangeiro. Então eu vejo que São Paulo tem um sistema de áreas verdes carente. Falta área verde, falta área de lazer livre pública. Se a gente tivesse praia à beira do Rio Pinheiros, ia lotar se a água fosse limpa. A ciclofaixa está sempre lotada. E eu acho que você nota muita gente da Zona Norte lá porque talvez você conheça essas pessoas. Porque eu, quando fui lá, não notei que lá tinha gente da Zona Norte. Porque eu moro na Zona Sul, trabalho na Zona Oeste, e não reconheci ninguém lá. Mas também não procurei muito. E eu conheço pessoas que trabalham com pessoas que eu conheço que vêm de Guarulhos a este parque Villa Lobos na Zona Oeste. Que vêm de Guararema, que vêm de Itaquera até aqui. E conheço gente que vai ao Ibirapuera. E gente que mora perto do Ibirapuera que vem aqui porque acha aqui um pouco mais aberto, que tem mais sol Tem que ter para todo gosto, Guilherme. Às vezes as pessoas reclamam que nesse aqui não tem muita árvore. Mas tem os gramados. Os gramados têm sua função. E tem muitas atividades. Eu acho que o Parque da Juventude é bem divulgado. Ele é muito frequentado. Eu não sinto que seja uma área ociosa. Nas poucas vezes que eu fui lá nos finais de semana e depois a trabalho, sempre notei muita gente utilizando. Certamente, ele não é ocioso. A questão é mais que o que parece são pessoas mais locais... Ana Lúcia: É... a ciclo-faixa que fica perto da minha casa é mais usada por quem mora perto da minha casa. E a ciclo-faixa que fica lá na Marginal Tietê é mais usada por quem mora lá perto. É tranquilo isso. Eu tenho impressão de que faz parte. Principalmente porque, para fazer algum esporte e curtir uma área ao ar livre, quanto

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menos transporte a pessoa tiver que pegar, mais legal. Ir a pé até um local é um pouco de qualidade de vida também. E todos os parques são muito frequentados, eu acho.

Os argumentos que contestam a falta de divulgação do Parque da Juventude são bastante razoáveis. Entretanto, é importante que se entenda primeiramente qual papel esse parque deve exercer na Cidade de São Paulo. Rosa Kliass fala desse papel do Parque da Juventude enquanto parque urbano:

Rosa: [...] Agora, tem uma coisa muito bonita naquele parque. Você, como é frequentador lá, deve ter percebido. Mas, para mim, foi muito emocionante. Eu estava sentada um dia lá, também e vi um grupo de crianças brincando. Eu cheguei perto. E fiquei olhando. Uma menininha de uns quatro anos. Cinco anos, seis anos... Sei lá. Por aí. Ela parecia que tinha saído de uma dessas lojas infantis de roupa, sabe? Aquela camiseta, aquele shortinho, o tênis... Assim , sabe? Estava lá sentada no chão brincando. Tinha um menino que estava brincando do lado dela. A calça dele certamente era uma calça do pai que havia sido cortada. A camiseta era certamente do irmão, sabe aquelas coisas assim? Estava descalço, sem nenhum sapato. E os dois brincando juntos. Para mim, foi emocionante, entende? É uma coisa que você não vê! E que esse parque realmente proporcionou. Sim. Uma vez eu fui lá – eu fui num domingo – e percebi várias famílias até de bolivianos também. São pessoas que geralmente não têm tanto poder aquisitivo para ir a um shopping. E elas têm uma área de lazer lá. É um parque que integra muita gente. Rosa: Exatamente. Vamos dizer, ele cumpre com a função que um parque urbano tem que ter. O parque urbano é para ser usado pela população. E aquilo está sendo usado pela população. É bonito de ver isso. Não só pelas pessoas que não têm dinheiro para ir a um clube. Não! Porque ali, inclusive, é muito mais do que um clube. [...]

Enquanto parque urbano, o Parque da Juventude deve ser usado pela população em geral. Sob esse aspecto ele se aproxima – ou deveria se aproximar – do Parque do Ibirapuera enquanto polo de atração de pessoa vindas de diversas áreas, inclusive da periferia. A vocação 88

do Parque da Juventude não é de fato turística – o que não significa que não possa vir a ser – mas, dado o grande porte do parque e sua complexidade de equipamentos e de usos, ele pode e deve receber muitas pessoas – inclusive em dias de semana. Logo, as pessoas também poderiam visitá-lo a partir do uso de transporte público. De fato, é muito mais conveniente que as pessoas possam visitar uma área de lazer a pé desde suas casas. Mas, se essa área de lazer for mais distante do que uma caminhada e, se, ao mesmo tempo, ela tiver atrativos que valham uma visita, a necessidade de se tomar uma condução de ônibus ou metrô não será um grande empecilho a tal visita. Não é objetivo deste trabalho comparar o Parque da Juventude ao Parque do Ibirapuera. No entanto, se este segundo parque consegue atrair frequentadores de áreas inclusive distantes dele, como a periferia, não há razão para impedir que o mesmo ocorra com o Parque da Juventude, que poderia receber também frequentadores de outras regiões da cidade – como relata Ana Lúcia Faria a respeito do Parque Villa-Lobos. Naturalmente, como também afirma Ana Lúcia, não se deve menosprezar o fato de que o Parque da Juventude é bem mais recente que outros parques da cidade com grande frequência. Por isso, ele é menos conhecido e, em um primeiro momento, pode atrair menos visitantes. Mas esse fato em si deve ser superado com o passar dos anos e não deve ser um obstáculo à possível popularização do Parque da Juventude. (Ver item 6.)

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5. LEVANTAMENTO DE FUTURAS INTERVENÇÕES NO PARQUE O projeto do Parque da Juventude foi sendo modificado ao longo do tempo. Quando indagada sobre os princípios que guiaram o projeto desse parque, Rosa Kliass relata um pouco dessas modificações:

Rosa: Foi um concurso. E o Gasperini, que eu considero um gentleman da arquitetura – raro você encontrar gente como ele –, na ocasião do concurso me chamou. E disse: “Olha, Rosa, eu gostaria que você participasse do concurso com a gente”. Porque naquela ocasião do concurso, o programa era a Penitenciária do Estado, o Presídio Feminino... Tudo ia acabar. Ia acabar completamente o Complexo Penitenciário. E, então, tinha muita coisa de arquitetura. Porque toda a Penitenciária do Estado, que era tombada porque é um prédio histórico, ia receber programas... E depois iam ser construídas coisas... Era um programa imenso de arquitetura. Mas ele disse: “É um parque. E eu acho que tem que ter paisagismo trabalhando junto com arquitetura”. E daí nós fizemos o concurso juntos e ganhamos o primeiro lugar. E, como em todos os concursos brasileiros, nós ganhamos, mas não levamos, e demorou não sei quantos anos... Daí, resolveram não demolir os dois presídios. Iam só demolir as prisões do Carandiru. E chamaram o primeiro colocado – ainda bem – para fazer o projeto. Daí o Gasperini me chamou de novo. E disse: “Olha, Rosa, a gente vai ter que assinar o contrato como ganhador. O meu escritório é que se registrou. Então nós é que vamos ser contratados. Mas, olha, se antes eu achava que tinha paisagismo, agora é um projeto de paisagismo – é um parque – com alguma arquitetura. Então, obviamente, você vai ter o crédito do parque”. E aí, nós trabalhamos juntos e foi assim mesmo. Nós fizemos o projeto do parque e fizemos a arquitetura. Obviamente, tinha momentos em que as coisas se cruzavam, principalmente naquela área que eu chamo de Institucional, que é onde tem aquelas construções todas. Ali realmente é uma área muito interligada. Bom, esse é o histórico, como é que aconteceu.

Como se observa, a mudança de decisão sobre o que seria demolido alterou a concepção do projeto. Já que, como diz Gasperini na paráfrase de Rosa, o projeto, que era essencialmente de arquitetura e, em menor grau, de paisagismo, acaba vendo essa organização invertida. O fato é que, desde que o governo estadual começou a pensar no que substituiria a 90

Casa de Detenção de São Paulo, os planos foram se modificando. Conforme relatado no item 1.3., havia a intenção de se construírem pavilhões temáticos no parque, bem como um palácio de convenções. (ver figura 1.14) Também chegou a constar no projeto a construção de um auditório no Parque Institucional. Esse auditório não foi implantado até os dias de hoje. Ana Lúcia fala cerca dessa e de outras questões relativas a projetos futuros:

Existe algum plano de intervenção futura para a área? Como a implantação do auditório? Ana Lúcia: Sobre a implantação do auditório, eu sei que havia uma previsão, não sei se está previsto por este governo implantar isso em algum momento. Eu não fui informada disso. Eu sei que nós, preocupados com o parquinho e equipamentos de ginástica... Na verdade, no Parque da Juventude, a gente está preocupado em colocar mais brinquedos no playground. Nós já iniciamos um processo de colocar brinquedos em 8 dos parques que a gente está administrando. A Coordenadoria de Parques Urbanos. Inclusive o da Juventude. E só para me atualizar, eu vou olhar aqui... A gente está com a ideia de, além dos dois brinquedos... tem uma área onde tem uma academia indoor que tem equipamentos de ginástica instalados perto ali do Museu Penitenciário. Ali, a gente pretende ampliar essa área de 2 mil metros quadrados e abrir ao público. Lá está fechado, os equipamentos vieram junto com o parque fechados e sem uso. Mas a gente pretende abrir e fazer um paisagismo no entorno para permitir que as pessoas usufruam dessa área. Então, seria colocar mais brinquedos e colocar essa academia indoor para acesso de todo mundo. Ah, e colocar mais dez quiosques com mesas e banquinhos para piquenique. Semelhante aos que temos aqui. É que a gente está fazendo um processo para 50 quiosques. 10 desses 50 irão para o Juventude. A gente tem que pensar em todos os dedos da mão. Está bom? Só uma coisa. Com relação aos brinquedos, até na entrevista que eu fiz com a Rosa Kliass, ela fala que, no projeto inicial, não queria colocar brinquedos no parque. Ela disse que o parque já era um grande playground. Vocês pensam de maneira um pouco diferente? Ana Lúcia: Então. Na verdade, tem lá uns brinquedos que não atendem à norma técnica. Tem balanços que são inseguros, porque eles estão dispostos de três, assim um pode bater no outro. Tem uma norma nova – eu não sei o número certinho – mas essa norma impõe umas regras que aqueles brinquedos não cumprem. Então, substituir alguma coisa. E eu gosto quando a Rosa fala aí dos morrotes. Eu gosto muito

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dessas elevações de terra que permitem muita brincadeira. Aqui atrás tem um brinquedo que eu criei, que é uma casinha na montanha. Tem uma montanhinha e uma casinha padrão. O parque é um grande brinquedo, mas essas pequenas atrações ajudam a concentrar as crianças por ali e facilita a vida da família. Porque a criança tá focada, ela gasta energia ali e o resto da família pode descansar um pouquinho na sombra. Então a gente vai pôr desse tipo e vai pôr um outro que é com torres. Pode ser casinha, pode ser castelo, pode ser forte. É uma instalação, né? E que atende à norma de segurança de brinquedos.

Essa última questão foi levantada em função do seguinte fato relatado por Rosa Kliass:

Rosa: [...] Daí, ele [professor Robin Moore, em uma ocasião de visita ao Parque

da Juventude] olhou as crianças que estavam do outro lado, brincando naqueles dois morrotinhos. Eles brincavam assim: eles fizeram desfile, um atrás do outro, subiam e desciam, brincavam de esconde-esconde, brincavam de rolar... Você não faz ideia do que eles inventavam naqueles dois morrotinhos. Ele olhava assim e dizia: “E nós, lá, nos Estados Unidos, botando aqueles brinquedos de plástico horrorosos!” [risos] Então é isso aí. Então, o grande atrativo do Parque da Juventude é ser um parque... um parque.

Aqui, nota-se que a paisagista prefere fornecer às crianças opções de brincadeiras mais ligadas ao ambiente natural do parque do que à alternativa mais corriqueira – e, de certa forma, mais artificial –, que são os playgrounds. Apesar de todas as modificações, Rosa Kliass afirma não ter havido nenhum ponto de seu projeto que não tenha sido implantado como previsto de início (ver Anexo C).

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6. DIRETRIZES PROPOSTAS PARA O PARQUE DA JUVENTUDE Após o processo de investigação realizado, cabe finalmente indicar medidas que possam solucionar ao menos alguns dos problemas sinalizados. Comecemos considerando um aspecto do projeto original: o auditório. A causa que levou à sua não implantação não ficou muito clara. O fato é que este edifício era previsto antes da inauguração do Parque Institucional, em 2007 (ver figura 1.20). De qualquer forma, sua concretização poderia ser interessante sob vários pontos de vista. Para que essa afirmação fique mais clara, vale a pena observar a figura 6.1., localizada na próxima página. Ela configura um estudo do Parque da Juventude. Nela constam as três entradas desse parque, bem como dois tipos de áreas: aquelas intituladas como “Áreas de Uso Concentrado” e as “Áreas de Uso Disperso”. As Áreas de Uso Concentrado foram assim chamadas, pois uma delas possui equipamentos que lhe conferem um uso específico bem definido – como fazem as quadras na área esportiva – ou porque, em se tratando da segunda Área de Uso Concentrado, esta é delimitada por edificações em alguns de seus lados, de modo que se torna um espaço distinto do restante do parque e, assim, concentra seus ocupantes dentro de seus limites. Essa segunda área é a praça existente entre a Biblioteca de São Paulo e as Etecs. Já as Áreas de Uso Disperso não têm uma função específica definida e, assim, acabam por dispersar seus ocupantes. Isso ocorre na área genericamente chamada de “Gramados”. O mapa da página seguinte ainda mostra dois grandes tipos de fluxos que ocorrem no parque. O maior se dá ao longo do eixo principal dessa grande área livre (fazendo a ligação entre o estacionamento, em um extremo e o Metrô Carandiru, em outro). Um dos eixos secundários conecta uma entrada lateral do parque (pela Avenida Ataliba Leonel) ao eixo principal e o outro liga as Etecs à Biblioteca de São Paulo. Fica claro que os equipamentos do Parque da Juventude se dispõem ao longo do eixo de maior fluxo, que, dessa forma, pode ser considerado como uma espinha dorsal do parque. O auditório seria inclusive implantado ao longo desse fluxo, já em um dos limites da praça configurada como Área de Uso Concentrado. Onde a maioria das pessoas está? Certamente, nas Áreas de Uso Concentrado – que são marcadas pela maior permanência – e ao longo do Fluxo Maior – que configura uma maior circulação.

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94 Figura 6.1. Mapa de Estudos do Parque da Juventude

Assim, dentro dessa área e ao longo desse fluxo, há mais vitalidade e vigilância por parte dos próprios usuários que aí estão. O maior número de pessoas e sua maior concentração permitem a percepção de maior segurança. Não se pode afirmar que essas áreas sejam efetivamente as mais seguras do parque, porém não é absurdo dizer que as pessoas ao menos se sentem mais seguras em lugares movimentados do que em áreas vazias. Tendo isso em vista, a implantação do auditório contribuiria com o fortalecimento da vitalidade do Parque Institucional. Caso funcionasse à noite, parte desse fortalecimento também seria sentido nesse período. Uma observação deve ser feita. É naturalmente impossível imprimir vitalidade e movimento a todas as áreas de um parque do tamanho do Parque da Juventude. Assim, a sugestão de implantação do auditório vem no sentido de tentar melhorar e consolidar uma área crucial para o parque e que já dispunha de um mínimo de condições para que pudesse esbanjar vitalidade. A construção do auditório também seria importante a partir do momento em que poderia significar a oferta de cursos como teatro ou dança, cursos esses que poderiam ser oferecidos a qualquer cidadão, inclusive a membros da Comunidade Zaki Narchi. Vale lembrar que, como foi discutido no item 4.3., algumas medidas foram tomadas no sentido de restringir o acesso dessa comunidade às dependências do parque, o que certamente não colabora com a integração dos moradores do Cingapura com frequentadores do parque e com o parque em si. Por fim, a implantação do auditório seria mais uma oportunidade de convívio entre pessoas e de usufruto de uma importante área pública na Zona Norte de São Paulo. Assim, a primeira diretriz que se propõe é: Implantar o auditório na área para ele reservada originalmente. O mapa-base da figura 6.1. consta no Anexo E. Este mapa-base foi fornecido pelo escritório Aflalo e Gasperini.

Outra diretriz – ou, nesse caso, um conjunto de diretrizes – também está relacionada a planos anteriores à implantação do Parque da Juventude. Como descrito no item 1.3., a 95

intenção original era a de se desativarem todas as unidades carcerárias que configuravam o Complexo Penitenciário do Carandiru. Na prática, isso não ocorreu. Assim, a área do então futuro parque ficou mais modesta em termos de dimensões físicas. Projetos como os pavilhões temáticos acabaram sendo abandonados. O que este trabalho propõe é que se efetive a desativação do complexo penitenciário remanescente. Entretanto, sugere-se que a área a ser ganha seja utilizada de uma outra maneira. Em vez de se construírem os pavilhões citados, recomenda-se que equipamentos de vários tipos sejam lá instalados. Afinal, qual seria a vocação do Parque da Juventude? KLIASS (1993) dá uma pista sobre a função de um parque urbano em geral:

O parque urbano responderá às demandas de equipamentos para as atividades de recreação e lazer decorrentes da intensificação da expansão urbana e do novo ritmo introduzido pelo tempo artificial – tempo da cidade industrial –, em contraposição ao tempo natural, inerente à vida rural. Ao mesmo tempo, o parque vai atender à necessidade de criação de espaços amenizadores das estruturas urbanas, compensando as massas edificadas.

O parque urbano assume funções aparentemente paradoxais: se deve ser um refúgio à cidade sem sair dela, ele também deve servi-la. Afinal, as demandas da cidade devem ser ouvidas e atendidas. O mais interessante é que o lazer não é a única demanda à qual um parque urbano pode atender. Ao prestar diversos serviços à sociedade – como a educação técnica ou o aluguel de livros – o Parque da Juventude confirma esse fato. Uma das conclusões a que se chega nessa pesquisa é que o parque em questão tem uma vocação natural para servir a sociedade que está ao seu redor. E essa vocação pode ser amplificada. Assim, o que se propõe é a implantação de uma série de equipamentos no Parque da Juventude, equipamentos esses que devem ser complementares aos que já estão lá e que devem inclusive se aproveitar da estrutura já instalada. O Mapa de Propostas para o Parque da Juventude, que consta na página seguinte, ilustra melhor quais seriam esses equipamentos e onde eles ficariam. Primeiramente, propõe-se a instalação de uma FATEC em parte do terreno hoje ocupado pela Penitenciária Feminina da Capital. As FATECs são faculdades de tecnologia vinculadas

ao

Governo

do

Estado de São

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Paulo. São

administradas pelo

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Figura 6.2. Mapa de Propostas para o Parque da Juventude

Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS), mesmo órgão que administra a ETEC Parque da Juventude e a ETEC de Artes. A proposta de instalação de mais um centro educacional no terreno abarcado pelo parque seria interessante justamente devido ao fato de que já há ali equipamentos que dão suporte à educação – como a Biblioteca de São Paulo. A presença das ETECs também não pode ser desprezada. Talvez a FATEC proposta poderia oferecer cursos relacionados àqueles que são oferecidos nas ETECs, como Informática ou Logística. Também se propõe a construção de quadras poliesportivas cobertas na área hoje ocupada pelo presídio feminino. Essas quadras seriam cobertas, pois, dessa forma, poderiam servir como alternativa em dias de chuva às já existentes. Além disso, relatos informais já descreveram a existência de problemas entre os alunos das ETECs, que utilizam essas quadras para educação física, e demais usuários do parque. Caso mais quadras fossem construídas, a tendência é que menos conflitos ocorram. Também se sugere a construção de um Poupatempo onde hoje funciona a Penitenciária do Estado. Nesse caso, não haveria demolições, já que o edifício é tombado. O Poupatempo seria uma opção interessante por exercer uma função de grande importância – a emissão de documentos – e pelo fato de que, mesmo assim, não está presente na Zona Norte. A unidade mais próxima do Distrito de Santana é o Poupatempo da região da Luz. Por fim, propõe-se a implantação de uma creche no terreno hoje ocupado pelo Hospital Penitenciário (antigo Centro de Observações Criminológicas). Como as creches são atribuições municipais, esse terreno poderia ser doado pelo Governo do Estado à Prefeitura. Vale observar que o terreno em questão fica próximo ao Cingapura, onde está a Comunidade Zaki Narchi. Acredita-se que uma creche seja importante nessa situação, pois, como o terreno está próximo a essa comunidade, a creche proposta poderia ser utilizada pelos moradores do Cingapura, que provavelmente não teriam renda suficiente para arcar com uma creche particular. E sabe-se que as creches são um tipo de equipamento muito procurado, porém pouco abundante na Cidade de São Paulo. Contudo, uma observação é necessária: essa creche não seria exclusiva à Comunidade Zaki Narchi. Sua implantação levaria em consideração a demanda que existe na comunidade, porém isso não significa que os únicos beneficiados sejam seus moradores.

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Em princípio, a creche seria implantada junto ao Parque Institucional. Isso significa que seu horário de abertura ficaria restrito ao horário de abertura dessa área (das 6h às 18h). Para que houvesse maior possibilidade de atendimento ao público, o terreno da creche poderia não ser efetivamente adicionado ao restante do parque. Dessa maneira, a creche contribuiria com o entorno enquanto equipamento público, mas não se restringiria ao parque. Assim, sugere-se a implantação de equipamentos públicos em áreas hoje ainda tomadas pelo restante do complexo penitenciário. O mapa-base da figura 6.2. consta no Anexo F. Este mapa-base foi fornecido pelo escritório Aflalo e Gasperini.

Outra questão importante é a manutenção das quadras. Esse trabalho propõe que, assim como consta nos planos da Secretaria de Meio Ambiente, implante-se um programa de zeladoria das quadras. Não é possível dizer como exatamente a secretaria está idealizando essa medida, mas essa pesquisa sugere que o programa proposto siga os moldes do Programa de Zeladoria de Praças promovido pela Prefeitura de São Paulo. Segundo informações da própria prefeitura, os beneficiários recebem um auxílio mensal de R$ 711,00 para cuidarem de praças públicas e outras áreas verdes seguindo uma carga horária de 30 horas semanais35. Muitos desses zeladores de praças eram desempregados e passaram por um curso de jardinagem a fim de se tornarem aptos a cuidarem das praças36. Assim, os zeladores das quadras do Parque da Juventude poderiam receber um auxílio pelos cuidados dedicados às dependências dessa área livre. Um dos critérios de escolha poderia ser a proximidade da moradia do zelador em relação ao parque. Desse modo, moradores do entorno – sejam eles da Comunidade Zaki Narchi ou não – poderiam ter prioridade na escolha. Isso permitiria inclusive que houvesse um melhor relacionamento e uma maior integração entre o parque e aqueles que moram ao seu redor.

Com relação à iluminação, talvez o fim dos reparos que substituíram a rede de energia e de iluminação do parque possam já estar sendo sentidos. Mas, no entender desta pesquisa, o 35 36

Informação disponível em: Acesso em 20/08/2013 Informação disponível em: < http://www.exame.abril.com.br/> Acesso em 20/08/2013

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maior movimento de frequentadores inclusive durante a noite é um fato que também pode contribuir com uma melhoria na sensação de insegurança e com parte da insegurança em si. Daí surge a proposta de implantação do auditório.

Já no que se refere à falta de divulgação do Parque da Juventude, acredita-se que, conforme novos equipamentos cheguem a ser implementados na área do parque e ao seu redor, essa área livre acabará atraindo mais usuários – não para fins de lazer em um primeiro momento – que, assim, irão conhecê-la e acabarão por se familiarizarem mais com ela. Seria um tipo de divulgação mais indireta, no entanto eficaz quando se considera que usos diversos atraem usuários diversos. Além disso, nada melhor do que ir ao Parque da Juventude – pela razão que for – para poder se verificara as diversas atrações dessa área pessoalmente.

Em suma, todas as diretrizes propostas surgem como uma tentativa de estabelecer um maior convívio e um maior diálogo entre frequentadores do parque, moradores do entorno e administração. Algumas medidas são mais diretas, enquanto outras surgem como consequência de outras propostas.

100

CONSIDERAÇÕES FINAIS Qual é a grande vocação do Parque da Juventude, afinal? Enquanto parque urbano, ele é um contraponto à massa edificada da Cidade de São Paulo. Mas não apenas isso. Ele deve também responder às necessidades impostas pelo meio urbano, necessidades essas que correspondem ao lazer, à recreação e aos serviços do cotidiano. Pode-se afirmar que um parque como esse pode e deve servir às necessidades da população de maneira satisfatória. Tal fato depende em grande medida de sua rede de equipamentos. Já que, se eles servirem a mais pessoas, o alcance do parque será maior e, consequentemente, mais usuários se integrarão de alguma maneira nas dependências dessa área livre. Naturalmente, pode haver conflitos referentes ao uso de certos equipamentos. Isso ocorre no próprio Parque da Juventude, onde a questão da inserção da Comunidade Zaki Narchi em meio aos demais frequentadores do parque se faz notar. Quem tem prioridade no uso das quadras durante horários de maior movimento? É cabível que haja um acesso direto ao parque a partir dessa comunidade? E é cabível fechá-lo? Quem é responsável pela sensação de insegurança que é relatada por alguns usuários do parque? Uma comunidade inteira? Há essas e tantas outras questões dignas de atenção quando o objeto de análise é o Parque da Juventude. Além da sensação de insegurança que impera dentre a maioria dos usuários ouvidos, há queixas quanto à iluminação noturna da área, bem como à manutenção de suas quadras. Também se nota que o parque ainda é pouco divulgado e pouco conhecido em meio à população de São Paulo. Uma forma de solucionar tais problemas é impulsionar uma que pode ser a grande marca do parque: a oferta de equipamentos públicos. Sua presença mais forte pode tornar a área um grande polo aglutinador de frequentadores. Esse polo atrairá maior movimento e vitalidade ao parque, que, assim, estará se promovendo e se divulgando em meio a tantos potenciais usuários que o estarão visitando primeiramente para fins outros que não o lazer. Em suma, o que se propõe é que o Parque da Juventude seja o grande polo institucional da Zona Norte de São Paulo. Essencialmente, um polo convergente de pessoas. Um polo que as integre.

101

A consolidação de tal polo também seria responsável por uma maior inserção urbana do parque na cidade. Essa inserção seria quase um contraponto a um impacto bem conhecido e resultante da implantação de parques: a valorização imobiliária do seu entorno. No caso do parque em questão, houve mais do que isso. Houve um fim da depreciação do valor de imóveis, bem como um impulso a um boom imobiliário que já se registrava no Distrito de Santana havia alguns anos. Tais fenômenos não são necessariamente ruins, porém estes favorecem mais proprietários e investidores do que a população da área em geral. Vale tomar como exemplo que a valorização de imóveis implica alta de aluguéis, o que, se de um lado, é bom para o dono desses imóveis, de outro, é ruim para o inquilino. Já que se citou o Distrito de Santana, é de grande utilidade mencionar também que a área que já abrigou a casa de detenção mais conhecida como Carandiru sentiu uma melhora após a substituição dessa prisão pelo Parque da Juventude. Esse distrito-chave da Zona Norte paulistana já abriga uma importante centralidade e concentra uma infraestrutura razoável para a consolidação do polo institucional proposto. Assim, é a região mais acessível do norte de São Paulo. Espera-se, portanto, que haja a consolidação proposta. E sempre vale lembrar que as transformações já se iniciaram. O Parque da Juventude já se tornou um grande símbolo de recuperação urbana. Agora só lhe falta confirmar sua grande vocação.

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104

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Acesso em 19/08/13

Acesso em 19/08/13

Acesso em 19/08/13

Acesso em 20/08/13

Acessos em 27/12/2012, 10/01/2013, 19/02/2013, 24/02/2013 e 11/08/2013.

Acesso em 20/08/13

Acessos em 10/01/13 e 27/12/2012. Acesso em 19/08/13 Acesso em 29/12/12. < http://www.saopaulo.sp.gov.br/> Acesso em 02/01/2013. 106

Acessos em 26/08/2012 e 27/12/2012. Acesso em 11/02/2013.

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ANEXO A – QUESTIONÁRIOS APLICADOS NOS ALUNOS E PROFESSORES DA ETEC PARQUE DA JUVENTUDE A folha de perguntas consta na página seguinte. Em seguida, constam os dados gerados na íntegra.

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO QUESTIONÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O PARQUE DA JUVENTUDE 1. Por que razão você vem ao Parque da Juventude? Pode-se marcar mais de uma alternativa. ( ) Para praticar esportes

( ) Para estudar na(s) Etec(s)

( ) Para usar a ( ) Para desfrutar ( )Outra Biblioteca de São Paulo da área verde Qual? _______

2. Em que região de São Paulo você mora? ( ) Santana ( )Zona Norte ( ) Zona Leste ( (excluindo-se Santana)

) Zona Oeste ( ) Zona Sul ( )Centro

( ) Outras cidades da Grande São Paulo

( ) Cidades de fora da Grande São Paulo

3. Como você avalia a manutenção das dependências do parque (como quadras, gramado, biblioteca, etc.)? ( ) Muito Boa

( ) Boa

( ) Satisfatória

( ) Ruim

( )Muito Ruim

4. O que pode melhorar?_____________________________________________________________ 5. Como você avalia o nível de segurança do parque? ( ) Muito Bom

( ) Bom

( ) Satisfatório

( ) Ruim

( )Muito Ruim

6. Você já foi roubado(a) no Parque da Jjuventude? ( ) Sim

( ) Não

7. Como você avalia o nível de iluminação do parque à noite? ( ) Muito Bom

( ) Bom

( ) Satisfatório

( ) Ruim

( )Muito Ruim

( ) Nunca vim ao parque à noite 8. Você acha que a vinda do Parque da juventude melhorou a região de Santana? ( ) Sim

( ) Não

( ) Não conhecia a região antes da inauguração do parque

9. Caso tenha respondido “Sim” à pergunta anterior, especifique em que aspecto Santana melhorou após a inauguração do parque. Pode-se marcar mais de uma alternativa. ( ) Segurança

( ) Oferta de áreas de lazer ( ) Valorização dos imóveis ( ) Outro. Qual? _____________ Obrigado pela colaboração

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1. Por que razão você vem ao Parque da Juventude? Pode-se marcar mais de uma alternativa. Razão

Qtde.

Para praticar esportes Para estudar na(s) Etec(s) Para usar a Biblioteca de São Paulo Para desfrutar da área verde Outra

18 76 32 15 5

Tabela 1.1. Levantamento dos motivos de visita ao Parque da Juventude

Razões de Visitas ao Parque da Juventude Para praticar esportes 10%

4%

12% Para estudar na(s) Etec(s)

22% Para usar a Biblioteca de São Paulo

52%

Para desfrutar da área verde Outra

Gráfico 1.1. Levantamento dos motivos de visita ao Parque da Juventude

2. Em que região de São Paulo você mora?

Região

Qtde.

Santana Zona Norte (excluindo-se Santana) Zona Leste Zona Oeste Zona Sul Centro Outras cidades da Grande São Paulo Cidades de fora da Grande São Paulo 110

5 58 2 1 2 3 6 2

Tabela 1.2. Levantamento das regiões em que os entrevistados moram

Proveniência dos Entrevistados Santana 4% 1%

3%

Zona Norte (excluindo-se Santana)

3% 6%

8%

Zona Leste

2%

Zona Oeste Zona Sul 73% Centro Outras cidades da Grande São Paulo Cidades de fora da Grande São Paulo

Gráfico 1.2. Levantamento das regiões em que os entrevistados moram

3. Como você avalia a manutenção das dependências do parque (como quadras, gramado, biblioteca, etc.)? Avaliação Muito Boa Boa Satisfatória Ruim Muito Ruim

Qtde. 2 18 38 22 0

Tabela 1.3. Avaliação da manutenção do parque

111

Avaliação da Manutenção do Parque da Juventude 0% 2% 28%

22%

Muito Boa Boa Satisfatória Ruim

48%

Muito Ruim

Gráfico 1.3. Avaliação da manutenção do parque

4. O que pode melhorar?

Resposta Quadras Segurança Limpeza Bebedouros Iluminação Banheiros Cuidados com o Gramado Agilidade na Manutenção em Geral

Qtde. 25 17 11 12 9 2 5 5

Tabela 1.4. Indicações de itens que podem ser melhorados no parque

112

Itens a Serem Melhorados Quadras Segurança 2%

6%

6% 29%

Limpeza

10% Bebedouros 14% 13%

20%

Iluminação Banheiros Cuidados com o Gramado Agilidade na Manutenção em Geral

Gráfico 1.4. Indicações de itens que podem ser melhorados no parque

5. Como você avalia o nível de segurança do parque? Avaliação Muito Boa Boa Satisfatória Ruim Muito Ruim

Qtde. 0 4 18 42 16

Tabela 1.5. Avaliação dos entrevistados quanto à segurança no parque

113

Avaliação da Segurança no Parque da Juventude 0% 20%

5% 22%

Muito Boa Boa Satisfatória Ruim

53%

Muito Ruim

Gráfico 1.5. Avaliação dos entrevistados quanto à segurança no parque

6. Você já foi roubado(a) no Parque da Juventude? Resposta Sim Não

Qtde. 12 67

Tabela 1.6. Levantamento do número de entrevistados que já foram assaltados no parque

Levantamento de entrevistados que já foram assaltados no Parque da Juventude

15%

Sim Não 85%

Gráfico 1.6. Levantamento do número de entrevistados que já foram assaltados no parque

114

7. Como você avalia o nível de iluminação do parque à noite?

Avaliação Muito Bom Bom Satisfatório Ruim Muito Ruim Nunca vim ao parque à noite

Qtde. 0 2 9 27 15 27

Tabela 1.7. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude

Avaliação da Iluminação Noturna no Parque da Juventude 0% 2% 11%

34%

Muito Bom Bom 34%

Satisfatório Ruim

19%

Muito Ruim Nunca vim ao parque à noite

Tabela 1.7. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude

Avaliação Muito Bom Bom Satisfatório Ruim Muito Ruim

Qtde. 0 2 9 27 15

Tabela 1.8. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude desconsiderando-se aqueles que nunca estiveram aí à noite.

115

Avaliação da Iluminação Noturna no Parque da Juventude 0% 28%

4%

17%

Muito Bom Bom Satisfatório Ruim

51%

Muito Ruim

Gráfico 1.8. Avaliação do nível de iluminação noturna no Parque de Juventude desconsiderando-se aqueles que nunca estiveram aí à noite.

8. Você acha que a vinda do Parque da Juventude melhorou a região de Santana?

Resposta Sim Não Não conhecia a região antes da inauguração do parque

Qtde. 51 4 25

Tabela 1.9. Opinião dos entrevistados acerca da influência da chegada do Parque da Juventude a Santana

116

Avaliação do Impacto da Chegada do Parque da Juventude a Santana 31%

Sim

64%

Não Não conhecia a região antes da inauguração do parque

5%

Gráfico 1.9. Opinião dos entrevistados acerca da influência da chegada do Parque da Juventude a Santana

Resposta

Qtde.

Sim Não

51 4

Tabela 1.10. Opinião dos entrevistados acerca da influência da chegada do Parque da Juventude a Santana considerando-se apenas aqueles que já conheciam a região previamente.

Avaliação do Impacto da Chegada do Parque da Juventude a Santana 7%

Sim Não 93%

Gráfico 1.10. Opinião dos entrevistados acerca da influência da chegada do Parque da Juventude a Santana considerando-se apenas aqueles que já conheciam a região previamente.

117

9. Caso tenha respondido “Sim” à pergunta anterior, especifique em que aspecto Santana melhorou após a inauguração do parque. Pode-se marcar mais de uma alternativa.

Resposta Segurança Ofertas de áreas de lazer Valorização dos imóveis Outro

Qtde. 3 49 21 1

Tabela 1.11. Indicação de itens que mais apresentaram melhoras em Santana após a inauguração do Parque da Juventude.

Itens que melhoraram em Santana 1% 29%

4% Segurança Ofertas de áreas de lazer 66%

Valorização dos imóveis Outro

Gráfico 1.11. Indicação de itens que mais apresentaram melhoras em Santana após a inauguração do Parque da Juventude.

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ANEXO B – ENTREVISTA COM LUIZ FELIPE DO NASCIMENTO Na sua opinião, o Parque da Juventude é um atrativo para a região de Santana? Luiz Felipe: Sim, a região de Santana possui pouquíssimos espaços de convívio e permanência públicos. As únicas áreas verdes da região localizam-se próximas à Cantareira e são de difícil acesso. O Parque da Juventude atrai muitos moradores de Santana e também de outros bairros da cidade por ser um espaço muito agradável e bem estruturado. Após a construção do parque o desenvolvimento da área é evidente: na avenida Cruzeiro do Sul constroem-se edifícios comercias e aconteceu a reforma de alguns, antes abandonados devido à proximidade com o presídio. Há diversas áreas sobre marquises do parque que, pelo que vivi, serviam como encontro para moradores da terceira idade que promoviam oficinas de dança. Moradores em geral utilizam o arque para práticas esportivas, já que existem muitas quadras, de diversos esportes, na parte esportiva do parque, além dos skatistas, que utilizam muito a pista de skate do parque. Numa região tão pobre de espaços verdes próximos da população, apesar de ter como sua vizinha a Serra da Cantareira, o parque é um verdadeiro ponto de atração para aqueles que buscam momentos ao ar livre. Qual era o nível de integração entre os alunos das Etecs e os moradores do entorno? Havia um certo conflito entre os alunos e os moradores do entorno, especialmente com os da comunidade da Zaki Narchi. Com relação aos moradores de Santana e proximidade a interação era livre de problemas. Os alunos eram frequentadores do parque como qualquer um que estivesse ali para caminhar ou usar os equipamentos do parque. Havia problemas de segurança no parque? Sim, alguém sempre era assaltado no caminho da Etec até o metrô ou andando pelo parque. A construção do parque foi determinante para a revitalização da área mas no aspecto social houve poucas mudanças. Os seguranças do parque eram destinados apenas ao cuidado do patrimônio e pouco se importavam com a segurança dos frequentadores. Há muitas áreas no parque que são muito interessantes, como uma parte da muralha do antigo presidio que foi preservada e as fundações de pavilhões que nunca foram construídos. Estas áreas são

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deslocadas das principais rotas do parque e estão entre árvores, o que faz com que sejam pouco vistas, pouco movimentadas e logo, perigosas. Ainda com relação a segurança, dentro dos próprios edifícios ocorriam problemas: na Biblioteca São Paulo diversos armários para guardar as mochilas de quem entrava na biblioteca foram arrombados e pessoas chegaram a ser roubadas dentro da biblioteca. Nos prédios das Etecs o problema era semelhante, a não ser pela Etec de artes, que restringia o acesso ao edifício por um segurança e carteirinha. Quais são os outros problemas identificados por você nas dependências do parque? O parque é cortado por um córrego que às vezes exala odor. Esse córrego configura uma passagem entre o parque a avenida Zaki Narchi, onde existe o conjunto e comunidade Cingapura Zaki Narchi. Me lembro de que enquanto estudava na Etec, após inúmeros conflitos de segurança essa passagem foi fechada, para dificultar o acesso dos moradores dessa comunidade ao parque e, teoricamente, os problemas de segurança, que eram associados a ela. Nunca houve uma conversa com os moradores ou uma real tentativa de descobrir de onde vinham os assaltantes. A solução para a segurança se resumiu a instalar uma base móvel da polícia, que deveria estar a serviço do bairro em diversos locais mas, que, após tanta pressão por parte da direção da escola permanecia fixa todo o dia, na maioria dos dias da semana. Isso não solucionou, obviamente, os problemas de segurança do parque. Os alunos se sentiam mais seguros onde estavam sob os olhos dos policiais mas assim que viravam a calçada da Zaki Narchi no caminho para o metrô ou quando frequentavam áreas mais ‘escondidas’ do parque o problema de segurança continuava. Além disso na parte esportiva do parque as quadras se encontram em estado deteriorado. Acredito que desde a abertura do parque nunca houve reforma ou manutenção destas áreas. Ou ainda mesmo na parte institucional do parque, nas Etecs e Biblioteca São Paulo, não havia manutenção por parte do governo ou administração do parque. As fachadas se deterioram a cada dia, seja com o efeito da chuva, pichações ou até mesmo modificações feitas pela própria administração das Etecs, como o cercamento de uma área sob pilotis na parte externa da Etec Parque da Juventude para uso da Etec, modificação do átrio dos edifícios e na configuração interna das salas e áreas de apoio.

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Quais sugestões de mudanças ou intervenções você faria? Acredito que o projeto do parque, no geral, é muito bom e eficiente para a população. Os principais problemas são ligados ao entorno, problemas como segurança, degradação da área e iluminação norturna prejudicam o funcionamento e os frequentadores do parque. Com relação aos problemas do parque, a problemática se encontra no nível de detalhes que são muito importantes: assim que inaugurado o parque contava com um lindíssimo e eficiente projeto de iluminação, que não apenas garantia segurança ao parque mas verdadeira vitalidade e beleza, valorizando a arquitetura e a natureza do local. Ao passar dos anos esse projeto de iluminação foi completamente abandonado pela administração do parque, fadado à destruição. Nenhum dos focos de luz sobre as marquises funciona, nem os projetores que iluminavam a fachada dos edifícios. Ainda nos passeios e caminhos do parque, a maioria dos postes de iluminação encontram-se quebrados ou queimados e a iluminação da praça seca, entre os prédios das Etecs e a biblioteca teve sua iluminação, que era belíssima não só pela luz mas também pelos postes de iluminação em si, que têm desenho diferenciado foram esquecidos e a função foi substituída por postes de iluminação comuns à toda a cidade, quem nada tem a fazer com o projeto visual do parque, além de mostrarem-se tão ineficientes quanto antes da sua instalação. Atividades culturais acontecem no parque quase todos os fins de semana, como shows e apresentações. No projeto original era previsto a construção de um teatro, na área do gramado entre a parte institucional do parque e a parte esportiva. Esse teatro nunca foi construído, contradizendo a enorme demanda que esse parque possui. Sempre são montadas estruturas de apresentação e palcos provisórios para as apresentações de final de semana ao invés de realmente construir o teatro do parque.

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ANEXO C – ENTREVISTA COM ROSA GRENA KLIASS Rosa: Quando nós fizemos o projeto do parque, havia um programa. E o programa tinha as quadras esportivas e tinha a área da lanchonete... Bom, o que aconteceu aí? Eu vou contar pra você um pouquinho do histórico da coisa, do projeto. Foi um concurso. E o Gasperini, que eu considero um gentleman da arquitetura – raro você encontrar gente como ele –, na ocasião do concurso me chamou. E disse: “Olha, Rosa, eu gostaria que você participasse do concurso com a gente”. Porque naquela ocasião do concurso, o programa era a Penitenciária do Estado, o Presídio Feminino... Tudo ia acabar. Ia acabar completamente o Complexo Penitenciário. E, então, tinha muita coisa de arquitetura. Porque toda a Penitenciária do Estado, que era tombada porque é um prédio histórico, ia receber programas... E depois iam ser construídas coisas... Era um programa imenso de arquitetura. Mas ele disse: “É um parque. E eu acho que tem que ter paisagismo trabalhando junto com arquitetura”. E daí nós fizemos o concurso juntos e ganhamos o primeiro lugar. E, como em todos os concursos brasileiros, nós ganhamos, mas não levamos, e demorou não sei quantos anos... Daí, resolveram não demolir os dois presídios. Iam só demolir as prisões do Carandiru. E chamaram o primeiro colocado – ainda bem – para fazer o projeto. Daí o Gasperini me chamou de novo. E disse: “Olha, Rosa, a gente vai ter que assinar o contrato como ganhador. O meu escritório é que se registrou. Então nós é que vamos ser contratados. Mas, olha, se antes eu achava que tinha paisagismo, agora é um projeto de paisagismo – é um parque – com alguma arquitetura. Então, obviamente, você vai ter o crédito do parque”. E aí, nós trabalhamos juntos e foi assim mesmo. Nós fizemos o projeto do parque e fizemos a arquitetura. Obviamente, tinha momentos em que as coisas se cruzavam, principalmente naquela área que eu chamo de Institucional, que é onde tem aquelas construções todas. Ali realmente é uma área muito interligada. Bom, esse é o histórico, como é que aconteceu. E qual era o programa? O programa que nos deram era esse. Quadras esportivas – tinha muitas quadras esportivas – e, depois, o que tinha de programa era muito ligado à arquitetura. Depois sobrava o parque. E a concepção do parque foi nossa. Ninguém disse como é que eu tinha que fazer o parque, o que tinha que entrar no parque, etc. E tem duas coisas que eu considero...

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O parque tem três grandes compartimentos. Tem a parte esportiva, que foi a primeira que foi construída. A primeira fase. E porque nós decidimos que as quadras esportivas iam ficar ali? Primeiro que elas tinham que ser todas juntas, porque iam se construir só as quadras esportivas naquele primeiro momento. Então, a gente decidiu que ia ser naquele terreno, que era um terreno baldio, que não tinha nada, e que era na verdade depósito de entulho. Então, era o ideal para se montar quadras esportivas, que, geralmente, você precisa de áreas planas e grandes livres para poder fazer quadras. Então, ali, foi decidido fazer as quadras. E o que tem de interessante ali? A primeira coisa que eu vou te contar, que é um pouco... uma historinha. Nós tínhamos o programa que foi dado... Porque aquilo lá foi um parque feito pela Secretaria de Esportes e Juventude, que era uma secretaria nova, que tinha sido criada. E o secretário era o Lars Grael. Você sabe quem é o Lars Grael? Aquele iatista, né? Sim, aquele iatista. Que perdeu uma perna... Ele era o secretário e, quando nós fomos pela primeira vez lá para conversar na área mesmo, ele veio – ele estava de cadeira de rodas – e, daí, conversamos assim, assado e eu falei: “Secretário, eu queria perguntar para o senhor... Eu vi no programa que tem quadras de basquete, vôlei, futebol de salão... e tem uma quadra de tênis...” Ele olhou para mim: “E a senhora estranhou uma quadra de tênis?” “É, realmente não é usual uma quadra de tênis... Poucos clubes têm quadra de tênis, né?” Ele disse para mim: “E quem disse para a senhora que não vai sair um campeão de tênis daí?” Eu fiquei bem quietinha e disse: “Olha, tem razão. Vamos lá!” E, essa quadra de tênis – você viu lá – é muito usada. Nunca está livre. Por quê? Porque eles dão as raquetes. Você não precisa comprar. A coisa cara são as raquetes! O espaço está lá como qualquer outro! Então, eles dão as raquetes. Eles dão instrutores. Então aquilo não está nunca vazio. Nunca. Esse é um dado interessante para você pensar, não é? Como não pode ter preconceito nas coisas. Como a gente tem que pensar adiante, né? E a segunda coisa foi que então nós começamos a fazer o projeto para as quadras e é aquela coisa... Quadra esportiva é uma chatice, não é? Sem nenhuma criatividade Como é que é uma quadra esportiva? Você vai desenhar uma quadra esportiva. O que você faz? Você tem que pensar na posição dela para o sol não ficar atrás da rede, para não atrapalhar o goleiro ou quem está chutando... 123

Isso. E para quê mais? Tem que ter o gradil para a bola não escapar. O alambrado para a bola não escapar... E lá tem alambrado? Lá tem, mas é diferente. Não é uma coisa que fecha... Então. É isso que eu queria te contar. Essa história. Então o normal é isso. Fazer alambrado em volta das quadras. Eu disse: “Gente, nós estamos saindo daquela prisão e vamos fazer gaiolinhas aqui... Eu não vou pôr alambrado em volta das quadras”. Teve quem falou pra mim: “ Mas, Rosa, como você não vai fazer alambrado?” Você já foi num campo de várzea? Eu já passei perto. Nunca joguei futebol lá... Sim. E eu perguntei para a pessoa que me falou aquilo: “Já foi para um campo de várzea?” Lá não tem alambrado. E disse: “O pessoal joga futebol. Por que eu vou pôr alambrado? Não vou pôr, não!” Agora, tem que proteger os transeuntes das boladas. Então vamos bolar um sistema de alambrados para proteger aqueles que não estão jogando. E deu, inclusive, um tema muito bonito, que ficou uma coisa bem bonita, não é? Que inclusive recebeu a iluminação da noite, porque ali era o único lugar que ia funcionar à noite. O parque ia ser fechado. Por isso que tem inclusive a grade e o portão quando você sai dos esportes e vai para o Parque Central, que é fechado. Então esse é o causo das quadras. Agora, tem uma coisa muito bonita naquele parque. Você, como é frequentador lá, deve ter percebido. Mas, para mim, foi muito emocionante. Eu estava sentada um dia lá, também e vi um grupo de crianças brincando. Eu cheguei perto. E fiquei olhando. Uma menininha de uns quatro anos. Cinco anos, seis anos... Sei lá. Por aí. Ela parecia que tinha saído de uma dessas lojas infantis de roupa, sabe? Aquela camiseta, aquele shortinho, o tênis... Assim , sabe? Estava lá sentada no chão brincando. Tinha um menino que estava brincando do lado dela. A calça dele certamente era uma calça do pai que havia sido cortada. A camiseta era certamente do irmão, sabe aquelas coisas assim? Estava descalço, sem nenhum sapato. E os dois brincando juntos. Para mim, foi emocionante, entende? É uma coisa que você não vê! E que esse parque realmente proporcionou.

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Sim. Uma vez eu fui lá – eu fui num domingo – e percebi várias famílias até de bolivianos também. São pessoas que geralmente não têm tanto poder aquisitivo para ir a um shopping. E elas têm uma área de lazer lá. É um parque que integra muita gente. Exatamente. Vamos dizer, ele cumpre com a função que um parque urbano tem que ter. O parque urbano é para ser usado pela população. E aquilo está sendo usado pela população. É bonito de ver isso. Não só pelas pessoas que não têm dinheiro para ir a um clube. Não! Porque ali, inclusive, é muito mais do que um clube. Quando eles fazem uma caminhada, só uma volta... E a caminhada – com que eu fiquei muito impressionada também , os roteiros das caminhadas são diversos. Tem gente que faz através... Das muralhas? É. Pelo deck que nós fizemos lá em cima. Então muita gente faz a caminhada por ali, entendeu? Mas o ponto que eu acho interessante... Você vai fazer um favorzinho para mim. Pega aquele livro que está na mesa. O que está em cima. [Pausa] Mas, então, o outro ponto é o seguinte: Quando nós fomos fazer o projeto, e nós fomos pela primeira vez lá, a gente já tinha visto uma planta em que dizia que tinha um prédio interrompido... uma construção interrompida, que realmente ia ser demolida. Só falava isso. Quando eu fui lá com o Zé Luís, que foi quem fez o trabalho comigo, nós chegamos e olhamos aquele lugar... Você sabe onde é? Onde tem justamente essas coisas de ferro... Que tem as (?) Perto do rio? É. Mas tem o rio, tem a muralha. É para dentro. E chegando lá... Realmente, tinha aquele prédio inacabado. Quer dizer, tinha umas colunas, uns pilares com uns ferros na espera ali em cima. No chão, era um lastrão ainda de concreto – uma coisa, assim, muito crua e um bosque de tipuanas dentro... Quer dizer, como tinha algumas tipuanas no parque, as sementes dessas tipuanas caíram ali e a força da natureza é tal, que arrebentou o lastro de concreto e nasceu um bosque de tipuanas lá. Eu disse: “Se eu tirar as colunas, vão embora as tipuanas!” E isso é uma coisa que... É um fenômeno que... Porque, na natureza, você não tem bosque de tipuanas. A tipuana está sempre dentro de bosques mistos. E eu falei: “Isso aqui vai ser a arqueologia do contemporâneo. Nós vamos preservar esse fenômeno”. E daí, resolvemos fazer isso. Pusemos, então, decks de madeira por cima, para justamente... Porque o chão estava coberto de vegetação rasteira, coberto. Cobrindo todo o lastro de concreto. Então, fizemos os decks elevados. Então, você pode passear ali vendo essas coisas. 125

Quando nós estávamos fazendo isso, tinha o deck, um caminho no deck, que chegava naquela área onde eram as colunas, que, então, faziam como se fosse compartimentos – quartos. E, então, tinha um deck que ia e chegava nesse ponto. Quando chegava ali, entrava nesses compartimentos. E que eu imaginei que ali eles podiam fazer exposições, pôr esculturas... Quer dizer, era um programa que tinha que ser criado depois. Mas eu estava dando o cenário para ser feito alguma coisa. Mas aí, no fim do corredor, eu disse: “Aqui eu vou pôr um banco”. Ele disse: “Um banco, aqui?” “Não sei. Eu acho que aqui é um lugar para um banco.” E pusemos o banco. Numa das primeiras vezes que eu fui lá para passear eu, chegando lá perto, ouvi uma musiquinha. Era um menino sentado no banco tocando flauta. Eu digo: “O banco se pagou!” Não precisa de mais nada. Só isso já valeu! Mas não é isso, só. Das últimas vezes que eu fui lá agora... Uma vez veio um grupo de argentinos, e eu os levei para ver o parque. Quando nós estávamos chegando lá perto, ouvimos uma música. Fomos chegando e a música foi aumentando. Era um grupo de música antiga que se reúne para ensaios lá. É emocionante, não é? Depois, outra vez eu fui e, outra vez, ouvi música lá. É um grupo de dança que também faz os ensaios lá. Então, quer dizer, você cria um cenário e as pessoas usam, né? Eu fui agora em fevereiro fazer um piquenique lá com amigos e uma das amigas levou um violão e tocou... E tinha outro grupo fazendo a mesma coisa também. Isso é uma coisa real mesmo. E não é? Isso é o apaixonante de a gente fazer projetos urbanos. Eu acho isso muito bacana. Mas aí, então, outro dia eu recebi um telefonema de um fotógrafo francês que ia fazer uma exposição – não sei se você chegou a saber – no MuBE. Teve uma exposição: O Parque na Cidade. Era uma exposição de fotos dele. Então ele me telefonou e disse: “Olha, no ano passado, eu vim para fotografar os parques de São Paulo. Para poder incluir na exposição. E, naquela ocasião, eu fui ao Parque da Juventude. Então, tem umas fotos do Parque da Juventude na exposição e eu gostaria de encontrar você.” Depois, eu não sei o porquê, acabei não indo na vernissage e tal, mas ele telefonou e veio aqui. Ele veio aqui e daí... Ele, na verdade, não fotografa parques. Ele fotografa dentro dos parques. Entende? Você não vê aquele parque... São coisas específicas?

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Tem coisas que chamam a atenção e então ele fotografa. Então aqui o que ele fotografou? [Pausa em que Rosa abre um livro e me mostra as fotos tiradas a partir do parque pelo fotógrafo em questão] Só isso. Mas ele veio aqui para conversar comigo e falou que, quando ele tinha vindo o ano passado, a Aliança Francesa – que é quem promoveu – chamou uma pessoa para ser cicerone dele – e era uma arquiteta. Uma arquiteta jovem. E deram uma lista de parques para eles percorrerem. Aí ele começou – eu não sei exatamente quais os parques que ele viu, mas ele viu o Ibirapuera – eu imagino que sem dúvida nenhuma. E daí, como eles já tinham visto alguns parques, a moça falou para ele: “Olha, não está na lista aí, mas eu acho que você vai gostar do Parque da Juventude.” E ela o levou para lá. Então ele contou para mim que ele chegou e entrou justamente por essa entrada em que tem um estacionamento também lá. Tem um estacionamento principal lá na frente, mas tem um outro...Como é que se chama aquela avenida? Ataliba Leonel? Ataliba Leonel. A entrada por ali. Então, quando ele entrou no parque, ele entrou aqui, né? Então, ele disse: “Eu fiquei impressionado. Sentei. Fiquei olhando. Achei fantástico!” Ele falou, falou e falou. Eu disse: “Que bom. E o resto do parque?” “O resto do parque? Eu fiquei três horas ali! Quando eu saí, eu estava exaurido. Eu não podia nem carregar a minha mala com as máquinas fotográficas. O motorista levou. Não vi mais nada!” Nossa, foi um testemunho! É a pessoa que tem, vamos dizer assim, o olho para essas coisas, né? Então é isso aqui. E veja. Você fala um pouco de francês? Bem pouquinho... Le monde brûle... Você sabe o que é? O mundo queima. Et le jardin, seule le jardin arrêtera le feu. E o jardim, só o jardim, vai parar o fogo. J’offre ces images rebelles avec un grand bonheur... Entendeu? Eu ofereço essas imagens rebeldes com uma grande felicidade... à la paysagiste rebelle. Eu vou te dizer o porquê. Parce que tout que nous voulons faire c’est à vivre. Entendeu? Porque nós dois queremos fazer um mundo para ser vivido. Então, fiquei muito... Agora você vai pegar uma outra coisa para mim. [Pausa em que pego uma revista para Rosa] Eu fui para o Chile. Você não tem horário? Porque eu sou uma contadora de histórias que eu vou te contar! Então, eu fui para o Chile. Para dar umas aulas em uma universidade. Depois, foi inclusive um arquiteto paisagista francês e, quando terminamos as aulas, os 127

professores pediram para nós darmos uma entrevista para o jornal Mercurio. Que é o jornal do Chile. E eles têm no sábado uma revista em que saem essas coisas: decoração, etc. Então era pra eu sair na revista. E eu disse: “Claro. Tudo bem.” Mas eu estou muito habituada a dar entrevistas aqui. É um horror. O jornalista vem e não sabe quem você é. Ele não sabe o que você faz. E faz as perguntas mais idiotas. É horrível. Eu falei: “Está bom. Vamos lá.” Chegou uma mocinha. Ela tinha visto o meu livro. Conhecia todos os meus projetos. Sá fez perguntas pertinentes. Então ela perguntava: “E aquele projeto assim?” Eu falei: “Ah, naquele projeto, o cliente tinha pensado em fazer aquilo porque era um charco. E ele pensou em aterrar tudo para fazer o jardim, né?” E eu disse: “Não, isso é um charco. A gente tem que usar como charco, então vamos fazer assim, assim e assim.” “E aquele parque?” “Aquele parque, quando o prefeito me chamou para fazer, o programa do parque era assim, assim, mas daí eu fui e vi que não, que não devia ser esse o programa...” E daí uma hora ela virou e disse assim para mim: “Siempre le dejan hacer lo que quiere?” Então eu disse assim para ela: “Si no dejan, los dejo.” E daí nós rimos e acabou a entrevista e veio o jornal. Veio a revista. [Pausa em que Rosa me mostra a manchete da entrevista: La paisajista rebelde.] E aí eu contei para ele. A paisagista rebelde. Mas o que significa ser uma paisagista rebelde? Fazer o que a senhora acha mais adequado e não necessariamente o que os outros pedem no programa. É. Então. Eu tenho... O que é isto? Eu digo: O arquiteto. Não só o arquiteto paisagista, mas especialmente o arquiteto paisagista tem que questionar a demanda. Porque para a arquitetura, geralmente o que se pede já é um programa muito... Pode até haver uma colaboração do arquiteto para mexer em alguma coisa, na ideia e tal, mas em paisagismo essencialmente, você tem que questionar a demanda. Eu chego e falo: “Olha, quero isto.” Falo: “Espera aí. Vamos ver se o terreno comporta. Vamos ver se isso é bom para a vizinhança”. Enfim. É o que muitos dos meus colegas não estão fazendo. E estão transformando essa cidade numa coisa horrorosa. Estão se vendendo ao campo imobiliário assim... total. E eu acho que isso... Isso eu não faço. E eu recomendo que não se faça. Porque dá para você trabalhar questionando. Haja vista que eu a vida inteira fiz isso. E continuo sendo chamada e continuo fazendo. Não porque eu questiono: “Ah, não vamos chamar.” Não é. Bom. Então o questionamento foi esse. Todo mundo achava que a gente ia deixar lá uns testemunhos de memória da prisão. Eu disse: “Jamais! As pessoas que vêm aqui têm que 128

esquecer que isso era uma prisão.” “Mas a delegacia está lá do lado. A Prisão Feminina está logo ali.” Mas eu não preciso que se diga: “Aqui era uma prisão.” Não! Mas aquilo que ficou, vamos dizer assim, de memória ganhou um outro sentido. Não é? É uma coisa, vamos dizer assim, de vitória da natureza. É uma coisa muito mais rica. E outra que nós quisemos preservar foi por motivos lúdicos. Claro que isso também ganhou um pouco de sentido memorialista. Que é a muralha do guia. Do guarda. Agora, o passeio do guarda ganhou... As pessoas quando vão fazer caminhadas, vão por ali. Quando eu vi a primeira vez, eu vi uma pessoa andando e perguntei: “O senhor usa o parque?” “Uso.” “E o senhor costuma...” “Imagina! Isso aqui é o meu percurso.” Quer dizer, ganhou outra significação, entendeu? Bom, então essas são as coisas que eu te falei. Aqui está respondido? Sim. E com relação ao histórico da área onde hoje está o parque. Isso também está respondido. Existe algum ponto no projeto da senhora que não pôde ser implantado conforme inicialmente previsto? [Momento em que Rosa lê em voz alta uma das perguntas que preparei] Não. O Parque da Juventude foi implantado em uma importante centralidade da Zona Norte. De que maneira isso influenciou no projeto do parque? [Mais uma vez, Rosa lê uma das perguntas em voz alta] Bom, o Parque da Juventude é um parque urbano. É um parque distrital. Quer dizer, ele é um parque realmente para uma área grande, com um raio de influência muito grande. E foi interessante. Quando o parque estava já pronto para a inauguração, o governador Alckmin foi lá para visitar o parque para ver e para se preparar para a inauguração. E aí, nós viemos lá pelas quadras e daí chegamos naquela parte central que eu chamo. O que é o Parque Central? Qual é a característica desse parque central? Os gramados, não é? É. O que é o Parque Central? Ele tem uma linguagem naturalística. A linguagem naturalística é isto: você usa elementos que existem na natureza para criar outro elemento. Naquilo não tinha nada. Aquilo era uma tábula rasa cheia de entulho. Tudo plano. Toda aquela movimentação foi criada. Então, a intenção era criar um, vamos dizer assim... Eu vou falar um pouquinho mais e você vai entender. O Zé Luís ficou lá dias: “Põe mais terra aqui! Puxa para lá!” Com as máquinas de terraplanagem. Fazia a curva a pé, vamos dizer assim, 129

com o mestre de obras riscando as linhas... Aquilo foi criado realmente... Quando foi nesse dia em que nós saímos com o governador, saímos lá da área das quadras e o governador: “Nossa! Mas isto é um novo Ibirapuera!” Falei: “Não, governador. Isto não é um novo Ibirapuera. Isto aqui é um Central Park.” Nós não chamávamos de Parque Central? [risos]”Isso aqui é um Central Park. Nós temos até, olha lá, as torres gêmeas!” Aqueles dois prédios próximos... O Central Park em Nova York é isto. Você está dentro de um parque, que não é natureza, vamos dizer assim, porque ele foi criado. Você está em rios, montanhas, florestas, rochas... e você vê a cidade. Lá fora. Lá está a cidade. E isso para mim é a definição de parque urbano. Qual é a diferença de uma praça e de um parque? Eu lembro que a gente já viu isso em alguma aula... A praça é um lugar mais de passagem? O parque um lugar mais único e cujo uso seja diferente... Não é um lugar em que você passa, é um lugar em que você vai um pouco mais focado em ficar... É um lugar de mais permanência... Será que seria isso? Olha, paisagisticamente falando, é assim: você tem os espaços livres na cidade. Os espaços abertos. Quais são os espaços abertos da cidade? A rua, a praça, o parque... O sistema viário, as praças e os parques. Esses são os elementos básicos, vamos dizer assim, que todas as cidades têm. O que é a rua? Calçada e leito carroçável. Mas para quê? O que é a rua na cidade? A circulação. Exatamente. A função da rua é circulação. Circulação e acesso. Você circula daqui para lá, mas você vai aqui, vai ali. Tem essas duas funções. Tá certo? E o que é uma praça? Eu acho que é um espaço que está integrado às ruas, que dá um certo valor maior à permanência do que à circulação em si, porque as pessoas... Isso como função. E como espaço? Qual o espaço das ruas? 130

Geralmente é algo reto, não é? Linear. E a praça? Ela é uma reentrância... Enfim, ela é um espaço que não é linear. Ela pode ou não ter atividades. Você pode ter um parque infantil ali dentro daquela praça. Ela não vira parque. Ela é praça. Entendeu? O espaço urbano é uma praça. E o que é um parque? Eu acho que é uma área um pouco maior que uma praça... Pode ser menor também. O que é o parque Trianon? É uma área pequena. E é um parque. Não é? A praça Roosevelt é maior do que o Trianon provavelmente. É o caráter do espaço que faz com que ele seja um parque ou não. E o que é o caráter? Quando você está dentro do Ibirapuera. Onde está a cidade? A cidade... Ah, entendi. A cidade está para fora. Você vê a cidade. Você está dentro do parque. Entendeu? Você entra para o parque. Tem uma segregação espacial um tanto quanto mais sensível, né? É. Então são esses os três espaços livres, abertos que constituem uma cidade. Aí tem outros, o parque pode ser uma feira de exposições... Enfim, dentro do parque você pode ter áreas esportivas, você pode ter um parque que é só esportivo, mas a essência do espaço é essa. E qual foi o primeiro... primeiro não. Existiram muitos parques urbanos. A tradição dos parques urbanos... Tinha os parques orientais e depois, foram os parques ingleses. E depois dos parques ingleses... Ah, desculpa. Os parques franceses. O Lenôtre, os parques de Paris e tudo, os grandes parques de Paris. E depois foi para a Inglaterra. Lá é que os parques passaram a ser mais urbanos mesmo com muros e tudo. E a tradição de parques é essa. Oriente, França, Inglaterra e daí foi para os Estados Unidos. E o parque por excelência é o Central Park. E o relatório do projeto do parque é uma peça incrível. Você sabe quem fez o Central Park? Frederick Law Olmsted. Que é considerado o pai do paisagismo moderno. Mas ele era químico. E ele se chamou landscape architect. Ele criou a arquitetura paisagística, entende? E o relatório dele é uma peça maravilhosa. Ele fala da área dizendo como é que ela 131

seria. E é isso. Vamos preservar as coisas... Então tem rocha que foi preservada. Você já foi para lá? Já. Lembra daquelas rochas que tem? A represa que ele preservou, né? E o resto ele construiu, vamos dizer. Ele desenhou grandes gramados, a coisa toda. E ele descreve tudo isso. Então ele diz: “Aqui, as pessoas vão poder ter a memória do que isto era. Por isso que nós vamos deixar essa rocha, por isso que nós vamos deixar essa represa. Mas, daqui, nós vamos olhar para a cidade que vai crescer.” – porque não tinha nada. Era vazio – “E daqui nós vamos ver as paredes de tijolos e pedra” – porque não tinha concreto. Ele descreve a cidade que ia ser construída em volta do parque. É um negócio lindo. Então, o parque tem tudo a ver com a cidade. E eu acho que sim, que o Parque da Juventude deu um valor, vamos dizer assim, urbano muito grande para a região norte. Certo? Agora, eu acho muito curioso, porque eu pretendia que ele fosse metropolitano. Principalmente porque tem o metrô lá. Mas eu computo isso por uma falta de divulgação. Eles divulgam muito pouco. Eu sei que tem propaganda lá que eles filmam, mas eles nunca falam onde é. E não é uma coisa divulgada. Vamos dizer assim, nas escolas da cidade, arquitetos nunca foram lá no Parque da Juventude. É normal. Quando eu pergunto: “Você conhece o Parque da Juventude?” “Não.” Ninguém conhece! Mas não é por isso que ele não é usado. Ele é ultra usado! Não é? Mas ele funciona para a região norte. Se bem que ele poderia ter uma abrangência maior. Mas a função dele hoje é essa. E ele cumpre muito bem. Sim. E eu acho que, por ser um morador da Zona Norte desde que eu nasci, eu acho que é uma questão até maior do que a do parque. A Zona Norte em geral é muito à margem do resto da cidade. Não que não tenha coisas boas. Mas é que as pessoas não conhecem muito. O Rio Tietê separa. Eu já morei em Santana. Eu morei em Santana quando eu tinha entre onze e quinze anos. Entendi. Em que região de Santana? Na rua Voluntários da Pátria, quase esquina com a Carandiru. 132

Ah, eu moro lá perto. Eu moro na Rua Marechal Hermes, em frente a C.P.O.R. Sabe a rua que dá naquele quartel que tem na Alfredo Pujol? Sim. Então, eu moro numa rua que acaba lá. Eu moro perto. Dá para ver da minha janela aquela região de Santana. Eu morava ali e o Carandiru era uma prisão pequena. Quer dizer, em toda aquela área que é o parque não tinha nada. E tinha chácaras de verduras. E a gente ia comprar verdura ali. Bom. [Momento em que Rosa lê uma das últimas perguntas em voz alta] “Uma conclusão a que cheguei nessa última parte da minha pesquisa é que há uma grande sensação de insegurança em meio aos alunos da Etec Parque da Juventude. Como o projeto do parque pode ser aproveitado no sentido de combater essa insegurança da região?” Para mim é curiosíssimo que eles sintam insegurança lá. É que eu não trouxe os gráficos. Eu posso até depois passá-los para a senhora. Mais da metade considera como ruim a segurança do parque... Mas acontecem coisas lá? 15% dos alunos foram assaltados. Mas aí é uma questão que eu até investiguei um pouquinho mais na entrevista que eu fiz. Porque isso foi no questionário. Eu percebi isso no questionário e na entrevista eu percebi que existia um conflito entre a comunidade Zachi Narchi e os usuários do parque. Ele me falaram isso lá. Porque parece que na verdade os alunos se sentem no direito de usar o parque naturalmente – eles fazem educação física nas quadras e tudo o mais – só que os moradores da região sentem que uma parte deles também foi usurpada. Eles também se sentem no direito de usar o parque e eles se sentem meio à margem. Foi uma impressão que me falaram. Não, tudo bem. Eu acho que o pessoal da ETEC é tão dono do parque como os outros moradores. E eles tem algo mais. Meu Deus, a ETEC! Sim, eles estão lá o dia todo. E a Biblioteca! Aquela biblioteca é um coisa assim... Você se deu conta do que é aquela biblioteca? 133

Sim. É um lugar fantástico. Não só pelos livros, mas pelo prédio também. Não só! A organização. O que ela significa. Você pode imaginar... Você chega numa biblioteca... Você é uma pessoa de classe média, média baixa, tá certo? Você chega num lugar daqueles. E aquele monte de livro. Tudo catalogado. Literatura alemã, francesa... E você vem procurar um livro. E você não encontra o livro. Você chega para a bibliotecária lá e diz: “Olha, eu não achei este livro.” Ela diz: “Ah, realmente não tem, mas eu vou comprar. Semana que vem você vem aqui e você pega esse livro.” Gente! É uma coisa fantástica! Mas não se divulga. Não se divulga! Tem uma biblioteca municipal que é consideradíssima aqui no centro da cidade, mas aquela é a biblioteca... do Brasil. Sei lá. Bom. Enfim. Então eu acho que problema de segurança... eu não vejo lá. Mas eu não sou usuária. Eu nunca vi ninguém se queixar, entendeu? Porque se você for entrevistar os usuários, é que você poderia ter essa pergunta, entende? E eu tenho certeza que ninguém sente insegurança lá. Tenho certeza. A cara das pessoas que estão ali, a liberdade que eles têm de circular, de andar de bicicleta, de fazer corrida, de fazer caminhada, de grupos... Esses grupos todos, eu acho que não têm esse problema. Mas, enfim... Qual é o grande atrativo do Parque da Juventude? Integrar as pessoas, não é? Ele é um parque urbano. Um verdadeiro parque urbano. Uma coisa interessante: eu não te contei. Você viu que tem um parque infantil lá agora, né? No nosso projeto, não tinha. Não tinha, porque nós dizíamos o seguinte: o parque é o playground. Não precisa de brinquedos. E quando nós tínhamos feito só a parte esportiva, não ia ter nada para outros que não fossem jogadores. Então, o que é que nós fizemos? Nós dividimos a área – tem as quadras – e depois, do outro lado, tem uma espécie de parquezinho, com uns estares, árvores, não sei se você está lembrado disso. Isso é ainda na parte esportiva? Na parte esportiva. Tem a avenida principal ali, mas, atrás das quadras, tem uma ruazinha que passa e tem uma espécie de parquezinho. Você lembra? Sim. Então, o que é que nós fizemos ali? Porque, olha, por muito tempo, esse parque vai funcionar só com o que está aqui. Então o pessoal vem para jogar, mas vem família. Você tem que criar um lugar para as famílias ficarem. Então, nós fizemos ali. Pra família com criança. 134

Então, fizemos o quê? Fizemos – o dia em que você for lá, você vai ver – fizemos uns morrotes ali. Vamos dizer assim, quase que separando os parquinhos da parte esportiva. Uns morrotinhos assim. Um dia, veio um professor americano para a FAU. E ele ficou de dar um curso para a FAU. Um professor de paisagismo. Um especialista em desenho com a comunidade. Bem americano. Chama-se Robin Moore. Ele veio e, daí, me telefonaram dizendo: “Olha, o Robin tá aqui e está dando um curso e ele gostaria de dar uma aula lá num parque e nós pensamos que seria interessante no Parque da Juventude. Mas só tinha aquela primeira parte. Falei: “Olha, se ele vai dar dia de semana, ele vai chegar lá e não vai ver nada. O pessoal só vai lá sábado e domingo. Ou então de noite. Então, se vocês quiserem, eu o levo num sábado, ele vê e daí ele decide se quer fazer lá ou não. Aí num sábado eu o levei lá. Aquele pedacinho só, ele ficou três horas comigo lá. A primeira coisa que ele disse: “Você consultou a comunidade para não pôr as grades?” Falei: “Não.” “Você não ficou com medo que não desse certo?” Falei: “Não. Se não desse certo, a gente punha as grades.” O que podia ser mais do que isso, está certo? Mas nessa hora, estava passando um guarda. Eu chamei o guarda. Chamei o guarda e disse: “Escuta, me diz uma coisa. O pessoal reclama que não tem alambrado?” Foi naquela hora que ele percebeu que não tinha alambrado. Nunca ninguém tinha reclamado. Bom, caiu o queixo do rapaz, né? Daí, ele olhou as crianças que estavam do outro lado, brincando naqueles dois morrotinhos. Eles brincavam assim: eles fizeram desfile, um atrás do outro, subiam e desciam, brincavam de esconde-esconde, brincavam de rolar... Você não faz ideia do que eles inventavam naqueles dois morrotinhos. Ele olhava assim e dizia: “E nós, lá, nos Estados Unidos, botando aqueles brinquedos de plástico horrorosos!” [risos] Então é isso aí. Então, o grande atrativo do Parque da Juventude é ser um parque... um parque. Para todos, né? É. Está bom? Está bom. Obrigado!

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ANEXO D – ENTREVISTA COM ANA LÚCIA P. FARIA Após aplicar um questionário com alunos da Etec Parque da Juventude, pude constatar que a sensação de insegurança dentre eles e relativa ao parque é grande. Quais medidas estão sendo tomadas para tentar mudar isso? Ana Lúcia: A Secretaria do Meio-Ambiente recebeu a administração do parque em outubro do ano passado. Logo de início, perceberam-se os problemas de manutenção. Fizemos um processo para licitação de manutenção e adequação de pavimento e de elétrica. Esse processo culminou numa contratação que foi realizada em março. A empresa começou o serviço de substituição dos equipamentos de rede de energia e de iluminação em abril. Em maio [data de aplicação dos questionários nos alunos do parque] era para já terem percebido a melhora na iluminação. Mas, às vezes, a melhora não foi suficiente para essa percepção do usuário. Agora, já está concluída a iluminação na quadra de esportes. E o parque é dividido em alguns setores. E está-se iniciando a substituição dos equipamentos elétricos nas áreas verdes próximas das ruínas. Havia problemas inclusive na infraestrutura de elétrica. A subestação alagava. Alguns cabos tinham sido roubados. Esse é um problema que não é só no Parque da Juventude. Esse é um problema na cidade inteira. As pessoas estão numa tal penúria, que se arriscam a roubar a fiação. Outras queixas recorrentes referem-se à manutenção das quadras O que pode ser feito para melhorar essa questão? A questão das quadras nesse momento ainda não está sendo prevista. Fizemos alguns reparos. A nossa intenção é ter um dia um contrato de manutenção geral. Tipo zeladoria. Porque um local de público tão intenso como o Parque da Juventude e outros parques administrados pela secretaria precisariam ter uma manutenção constante. Então, ao menor sinal de desgaste, você está reparando. Só que não conseguimos fazer isso ainda. E o que eu estava comentando é que toda previsão orçamentária dos órgãos do governo é feita em julho do ano anterior. O parque veio para a gente quando já tinha sido solicitado o orçamento para o governo do Estado. Ele não tinha uma anotação orçamentária. Então, têm sido feitos ajustes para conseguir isto. Para conseguir melhorar a situação do parque. Essa coordenadoria administra onze parques. É bastante e o recurso tem que ser distribuído. As quadras são muito utilizadas. Mas tem outros locais com quadras utilizadas. O Estado tem que distribuir bem 136

esses recursos todos. Mas eu acho que vai ser contemplado em breve. A gente tem buscado muito parcerias público-privadas. O que é uma coisa muito comum em outros países. Se você vai em outros parques, você vê uma qualidade de manutenção, mas também muitos parques que seriam públicos as pessoas pagam para utilizar. Pagam uma anuidade, pagam uma mensalidade. Eu já estive em lugares nos Estados Unidos em que a comunidade decide: “Vamos investir tanto nesse parque e ele vai ter uma piscina aquecida.” Então, todo mundo custeia um pouco daquela piscina aquecida. Não paga para entrar lá e usar. Mas custeou a implantação. Aqui, a gente não consegue fazer isso. A distribuição não é assim tão fácil. Nesse momento, não vai ser feito nada, mas está no rol das coisas. A gente queria ter, por exemplo, uma empresa que incentiva o esporte e ela vende equipamento esportivo. Faz um evento e repara as quadras. Podia ser bom para ambas as partes. Ela divulga e a comunidade ganha uma quadra reparada. Eu percebo que, passando por lá, tem até muitas propagandas gravadas lá. Talvez pudesse ser tirado algum... Então. Há um decreto estadual que define valores a serem cobrados para isso. Só que você tem custos fixos que a gente fala – despesas de custeio. Da vigilância, da manutenção de áreas verdes. Num país tropical como o nosso, a grama tem que ser cortada a cada dez dias, quinze dias no inverno. Isso custa. As ruas têm que ser varridas. Eu não sei exatamente qual é o montante do custeio do Parque da Juventude. Posso até pesquisar e depois te passar. Mas, se ninguém usar nada, só com a vigilância de lá, as coisas varridas, o banheiro limpo, o mato cortado, o gramado mantido... já custa um certo volume de dinheiro por mês. Eu posso dar uma verificada. Amanhã ou depois você me liga e eu te passo qual é a despesa fixa de manutenção. Sabe, na tua casa quanto você gasta de condomínio, de água, luz... se ninguém fizer nada, já está gastando aquilo? Taxa básica? Eu te passo depois. Aí você vai entender que é um custeio que o Estado arca e essas gravações recolhem pro fundo do Estado. É uma gota d’água no oceano. Mas ajuda. E também, já que eles estão se beneficiando de um bem que é público, o poder público tem que pelo menos ter uma contrapartida. Mas é bem pouco. Uma questão levantada por um dos alunos é que há um certo conflito entre os moradores da comunidade Zaki Narchi e os demais usuários do parque. Especialmente no que se refere à falta de integração entre esses moradores e o parque. Existe alguma ação que está sendo tomada no sentido de integrar a comunidade dos moradores do entorno do parque aos seus frequentadores que não são desse entorno? 137

Na verdade, em qualquer planeta, eu acho, existe essa coisa do bairrismo. O que é que você que é de fora está fazendo na minha área? Né? Eu sou de uma cidade do interior que tem uma universidade da UNESP e que as pessoas achavam: “O que é que esse aqui de fora tá fazendo na minha área?” Tem uma escola da aeronáutica que vem gente do país inteiro: O que é que esse que é de fora tá fazendo na minha área? Então, isso na verdade é do ser humano. Não cabe ao Estado e à administração fazer essa DR – discussão da Relação. O que tem é programas que são para todo mundo. O parque não segrega ninguém. Eu tive a chance de entrevistar a paisagista Rosa Kliass – que projetou o parque junto com o escritório Aflalo e Gasperini. Ela levantou uma questão que eu, como morador da região de Santana desde meu nascimento, também pude observar. Em princípio, não há uma divulgação ampla do Parque da Juventude em São Paulo. Talvez por isso, a grande maioria dos usuários do parque venha da Zona Norte. A senhora concorda com essa observação? Não, eu não concordo. Cada vez mais as pessoas que moram em cidades grandes estão procurando atividades ao ar livre. Você vê que mesmo na USP – é que você frequenta a USP há pouco tempo – mas há 30 anos, quando eu estudava lá aos sábados e domingos, poucas pessoas corriam. Atualmente, durante a semana e sábados, quando você vai, você tem que esperar às vezes trinta a quarenta minutos para conseguir entrar no estacionamento de carro porque tem muita gente correndo nas ruas. Às 8h da manhã. Então tem muito mais gente frequentando áreas livres. Nos parques, quanto mais a gente arruma o parque, mais gente vem. E eu acho que todos os jornais têm os seus guias dos passeios. Todos incluem os parques a capital. Inclusive o Parque da Juventude e esse aqui. [Parque Villa Lobos, onde a entrevista foi feita] As revistas de quando em quando lançam reportagens sobre as ciclofaixas dos parques. Então, muita gente frequenta. Você vê que já acabaram as férias e esse parque tá com bastante gente. E ele é grande. O Parque da Juventude também. Agora, as pessoas vão aonde for mais fácil ir. Se a pessoa mora perto do Parque da Juventude, porque ela vai pagar um transporte pra vir passear num parque na Zona Oeste? A gente nota também que o Ibirapuera é uma grande referência. Para os estrangeiros... é um parque de turismo. E, se você olhar nos finais de semana, você vai ver muita gente da periferia, porque às 5h, 6h da tarde, você vai ver os pontos de ônibus lotados. Aquilo não é turista estrangeiro. Então eu vejo que São Paulo tem um sistema de áreas verdes carente. Falta área verde, falta área de lazer livre pública. Se a gente tivesse praia à beira do Rio Pinheiros, ia lotar se a água fosse 138

limpa. A ciclo-faixa está sempre lotada. E eu acho que você nota muita gente da Zona Norte lá porque talvez você conheça essas pessoas. Porque eu, quando fui lá, não notei que lá tinha gente da Zona Norte. Porque eu moro na Zona Sul, trabalho na Zona Oeste, e não reconheci ninguém lá. Mas também não procurei muito. E eu conheço pessoas que trabalham com pessoas que eu conheço que vêm de Guarulhos a este parque Villa Lobos na Zona Oeste. Que vêm de Guararema, que vêm de Itaquera até aqui. E conheço gente que vai ao Ibirapuera. E gente que mora perto do Ibirapuera que vem aqui porque acha aqui um pouco mais aberto, que tem mais sol Tem que ter para todo gosto, Guilherme. Às vezes as pessoas reclamam que nesse aqui não tem muita árvore. Mas tem os gramados. Os gramados têm sua função. E tem muitas atividades. Eu acho que o Parque da Juventude é bem divulgado. Ele é muito frequentado. Eu não sinto que seja uma área ociosa. Nas poucas vezes que eu fui lá nos finais de semana e depois a trabalho, sempre notei muita gente utilizando. Certamente, ele não é ocioso. A questão é mais que o que parece são pessoas mais locais... É... a ciclo-faixa que fica perto da minha casa é mais usada por quem mora perto da minha casa. E a ciclo-faixa que fica lá na Marginal Tietê é mais usada por quem mora lá perto. É tranquilo isso. Eu tenho impressão de que faz parte. Principalmente porque, para fazer algum esporte e curtir uma área ao ar livre, quanto menos transporte a pessoa tiver que pegar, mais legal. Ir a pé até um local é um pouco de qualidade de vida também. E todos os parques são muito frequentados, eu acho. Existe algum plano de intervenção futura para a área? Como a implantação do auditório? Sobre a implantação do auditório, eu sei que havia uma previsão, não sei se está previsto por este governo implantar isso em algum momento. Eu não fui informada disso. Eu sei que nós, preocupados com o parquinho e equipamentos de ginástica... Na verdade, no Parque da Juventude, a gente está preocupado em colocar mais brinquedos no playground. Nós já iniciamos um processo de colocar brinquedos em 8 dos parques que a gente está administrando. A Coordenadoria de Parques Urbanos. Inclusive o da Juventude. E só para me atualizar, eu vou olhar aqui... A gente está com a ideia de, além dos dois brinquedos... tem uma área onde tem uma academia indoor que tem equipamentos de ginástica instalados perto ali do Museu Penitenciário. Ali, a gente pretende ampliar essa área de 2 mil metros quadrados 139

e abrir ao público. Lá está fechado, os equipamentos vieram junto com o parque fechados e sem uso. Mas a gente pretende abrir e fazer um paisagismo no entorno para permitir que as pessoas usufruam dessa área. Então, seria colocar mais brinquedos e colocar essa academia indoor para acesso de todo mundo. Ah, e colocar mais dez quiosques com mesas e banquinhos para piquenique. Semelhante aos que temos aqui. É que a gente está fazendo um processo para 50 quiosques. 10 desses 50 irão para o Juventude. A gente tem que pensar em todos os dedos da mão. Está bom? Só uma coisa. Com relação aos brinquedos, até na entrevista que eu fiz com a Rosa Kliass, ela fala que, no projeto inicial, não queria colocar brinquedos no parque. Ela disse que o parque já era um grande playground. Vocês pensam de maneira um pouco diferente? Então. Na verdade, tem lá uns brinquedos que não atendem à norma técnica. Tem balanços que são inseguros, porque eles estão dispostos de três, assim um pode bater no outro. Tem uma norma nova – eu não sei o número certinho – mas essa norma impõe umas regras que aqueles brinquedos não cumprem. Então, substituir alguma coisa. E eu gosto quando a Rosa fala aí dos morrotes. Eu gosto muito dessas elevações de terra que permitem muita brincadeira. Aqui atrás tem um brinquedo que eu criei, que é uma casinha na montanha. Tem uma montanhinha e uma casinha padrão. O parque é um grande brinquedo, mas essas pequenas atrações ajudam a concentrar as crianças por ali e facilita a vida da família. Porque a criança tá focada, ela gasta energia ali e o resto da família pode descansar um pouquinho na sombra. Então a gente vai pôr desse tipo e vai pôr um outro que é com torres. Pode ser casinha, pode ser castelo, pode ser forte. È uma instalação, né? E que atende à norma de segurança de brinquedos. Está certo. Obrigado!

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ANEXO E – MAPA-BASE PARA A FIGURA 6.1.

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ANEXO F – MAPA-BASE PARA A FIGURA 6.2.

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