A universidade como fomentadora de pautas sobre C&T nos periódicos da Fronteira Oeste do RS

September 11, 2017 | Autor: Phillipp Gripp | Categoria: Divulgação Científica, História, Ciência, Universidade, Ciência & Tecnologia
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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo III Encontro Nacional de Jovens Pesquisadores em Jornalismo Brasília – Universidade de Brasília – Novembro de 2013

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A universidade como fomentadora de pautas sobre C&T nos periódicos da Fronteira Oeste do RS Liziane WOLFART1 Phillipp GRIPP2 Tamara FINARDI3 Thaís LEOBETH4 Joseline PIPPI5 Heleno NAZÁRIO6

Resumo: O presente artigo evidencia a presença de textos jornalísticos envolvendo a temática Ciência & Tecnologia (C&T) no jornal bissemanal Folha de São Borja, da cidade fronteiriça São Borja – RS. A partir do mapeamento de 11 anos do tablóide (2000-2010) se constatou a existência de 436 textos com menções à temática C&T, evidenciando que tais assuntos são também visibilizados na imprensa do interior e a contribuição da instalação de um campus de uma universidade federal na cidade. Busca-se com este estudo demonstrar o crescimento numérico de textos sobre o assunto no decorrer do período analisado, como resultado da influência da presença da universidade na decisão de pautas no jornal analisado. Palavras-chave: Ciência & Tecnologia; Divulgação científica; Áreas científicas; Folha de São Borja; Universidade.

1. Introdução 1

Acadêmica do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa e pesquisadora no GP ComC&TS, email: [email protected]. 2 Acadêmico do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa e pesquisador do Grupo de Pesquisa Comunicação, Ciência & Tecnologia e Sociedade (ComC&TS), email: [email protected]. 3 Acadêmica do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa e pesquisadora no GP ComC&TS, email: [email protected]. 4 Acadêmica do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa e pesquisadora no GP ComC&TS, email: 5 Orientadora do trabalho. Professora do curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal do Pampa e líder do GP ComC&TS, email: [email protected]. 6 Assessor de Comunicação Social da Universidade Federal do Pampa e pesquisador do GP ComC&TS, email: [email protected].

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O presente artigo faz parte da pesquisa “Quando a ciência é notícia na fronteira?”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Ciência & Tecnologia e Sociedade, que, a partir de ideais relacionados às funções e objetivos do jornalismo científico estabelecidas por Calvo Hernando (1977), além do ideal de democratizar o conhecimento científico, retratado também por Bueno (1988), mapeia as condições de produção noticiosa envolvendo assuntos sobre C&T nas cidades do interior do RS, nas cidades de abrangência da Unipampa no período de 2000 a 2010. Esta pesquisa evidencia que no interior, especificamente nas cidades fronteiriças analisadas, a presença da temática ciência e tecnologia (C&T) é bastante escassa, quer pelo contato restrito ou inexistente com instituições produtoras de conhecimento, quer pela falta de incentivo dos editores à produção de notícias sobre ciência. O assunto é pouco abordado e quando vira pauta não recebe tratamento jornalístico adequado, resultando em textos superficiais, incoerentes e muitas vezes incompreensíveis. Percebemos ainda a reprodução na íntegra de material noticioso oriundo de assessorias de imprensa ou de outros veículos de comunicação, que replicam sua lógica divulgadora, ofertando o material informativo pronto e inibindo o desenvolvimento de uma cultura de apuração jornalística adequada ao assunto nas redações. O recorte escolhido se baseou no panorama da instalação de uma universidade federal na região da Campanha e fronteira oeste do Rio Grande do Sul, a qual possibilita que esse espaço se torne um pólo de conhecimento, ciência e tecnologia, produzido com financiamento público e, por conta disso, torna-se um assunto de interesse também público. A Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) foi criada em 2006 já sendo multicampi, com presença nas cidades de Alegrete, Bagé, Caçapava do Sul, Dom Pedrito, Itaqui, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja, São Gabriel e Uruguaiana. De inicio, durante sua fase de implantação, foi determinada como Consórcio Universitário da Metade Sul do RS, consolidando-se como UNIPAMPA em 2008, pela Lei 11.640. A universidade surgiu a partir da necessidade que a região apresentava de ter um desenvolvimento mais expressivo, devido a uma estagnação econômica, levando em consideração que a educação é uma forma de promover o progresso esperado. Além, ela veio para sanar a deficiência de acesso ao ensino superior, tendo em vista que os jovens 2

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da região acabavam se deslocando para outras cidades ou à capital para ingressar na universidade, logo a implantação da Unipampa veio como um atrativo para o vestibulando se manter na região. Atualmente a universidade está consolidada e em crescimento, com 61 cursos de graduação em atividade, além de novos que continuam sendo implantados anualmente. Desde 2010 a Unipampa Participa do Sistema de Seleção Unificada (SISU) criado pelo Ministério da Educação, o qual utiliza a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o ingresso do estudante no ensino superior. Com esse novo método de ingresso alunos oriundos de outros estados começaram a fazer parte da realidade dos 10 campi da Unipampa, movimentando cada campus e a economia das cidades. Como a pesquisa ainda se encontra em fase de análise de dados, optou-se por referendar no presente artigo as informações referentes ao jornal Folha de São Borja, tablóide bissemanal que circula na cidade fronteiriça com a Argentina, na região da Fronteira Oeste do RS. O recorte temporal abrange 11 anos (2000-2010), período no qual foram publicados cerca de 989 periódicos, dos quais foram mapeados e analisado 456 texto – os quais integram o corpus da pesquisa.

2. Quando C&T é noticiada na fronteira É com a chegada da Universidade Federal do Pampa em cidades da Região da Campanha e da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul que essa pesquisa procurou se estabelecer, já que desde 2006 os dez campi produzem conhecimento e geram informações relacionadas às áreas científicas e tecnológicas, transformando a região num pólo universitário e abrindo espaço para que o tema C&T fosse retratado nos periódicos. A pesquisa está evidenciando quais as fontes de informação são agenciadas em pautas sobre o assunto e onde, quando e de que forma a imprensa regional visibiliza a ciência através da análise de conteúdo, conforme as considerações de Bardin (1979). Além, verifica se o papel da universidade como fomentadora da produção de conhecimento e incentivadora de ações de divulgação científica e tecnológica está sendo exercida nas comunidades onde está inserida. É interessante salientar que não existe estudo algum semelhante que se proponha a mapear e qualificar a cobertura sobre C&T 3

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na imprensa de fronteira no RS, e que está fornecendo dados concretos que poderão ser utilizados no intuito de elaborar políticas de divulgação de ciência e tecnologia adequadas ao contexto onde a Universidade está inserida. Nos primeiros meses da pesquisa, foi feito o contato com todos os veículos de comunicação das dez cidades em que a universidade está inserida, montando assim um mailing list, que contém os contatos, informações sobre a equipe de produção, periodicidade do produto, região de circulação, existência e condições dos arquivos das empresas. Na etapa seguinte, foi feito o levantamento dos exemplares do jornal Folha de São Borja, eleito como primeiro veículo a ser mapeado pela proximidade física com os integrantes da pesquisa. Todos os exemplares do recorte foram lidos em busca de notícias e outros textos concernentes ao escopo da pesquisa. Os documentos pertinentes constituíram o inventário de análise, montado de forma que cada documento fosse facilmente encontrado posteriormente, catalogando os itens conforme data da publicação, edição, título, autor, editoria/sessão e página da matéria e registrando apontamentos textuais básicos, como a abordagem, assunto, tipologia, fontes de informação e a presença de imagens. Todos os itens coletados nas edições do jornal (totalizando onze anos de um jornal bissemanal) foram mapeados e escaneados, preservando e facilitando o manuseio do inventário de análise. Concluído o mapeamento da Folha de São Borja, 436 documentos foram registrados. Concomitantemente, o formulário preliminar de análise de conteúdo foi construído, com a realização de um pré-teste da ferramenta em uma amostra aleatória de dois itens por ano, descartados do inventário final de análise. Após a conclusão do pré-teste um novo formulário foi elaborado para sanar os vazios do antigo e assim poder ser aplicado no restante dos casos identificados. Este artigo toma como base a coleta de dados realizada em São Borja, realizada no jornal Folha de São Borja. Através do mapeamento foi possível quantificar as notícias de C&T durante o período de 2000 à 2010 e identificar as áreas de conhecimento abordadas nas notícias. Para expressar os dados obtidos na pesquisa foram gerados gráficos através do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS).

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3. Contextualização teórica Com origem no latim, o termo Ciência (scientia) remete a um conhecimento adquirido através de um processo metodológico, que tem por finalidade comprovar algo. Logo, atribuir o título de Científico a alguma afirmação, pesquisa ou procedimento significa lhe confiar uma credibilidade de algo acertado e que, portanto, pode ser digno de confiança. A divulgação de material jornalístico acerca da temática Ciência & Tecnologia (C&T) em jornais e revistas é fato tão antigo quanto o surgimento dos primeiros periódicos, em meados do século XVIII. A divulgação científica, como explica Fabíola de Oliveira, está presente na mídia desde o início imprensa no século XV: O conhecimento e a discussão sobre a ciência há muito deixou de ser privilégio de cientistas e pesquisadores presos no laboratório, trabalhando muitas vezes distanciados da realidade social (...). Os livros de história da ciência dão como certo que a difusão da impressão na Europa nessa época [meados do século XV] acelerou a criação de uma comunidade de cientistas, fazendo com que as ideias e ilustrações científicas se tornassem disponíveis a grande número de pessoas (OLIVEIRA, 2010, p. 17).

Percebemos, então, que a C&T sempre foi material de pauta e que o assunto é abordado com recorrência nos periódicos, tendo em vista que é direito da população saber o que é produzido, já que os órgãos de fomento à pesquisa e demais trabalhos de teor científico são financiados por instituições públicas. Informar sobre os avanços científicos e tecnológicos e sua importância social são atos políticos que contribuem para o desenvolvimento sócio-cultural dos cidadãos. Na região de fronteira, mais precisamente a Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul e a Campanha, não seria diferente, também se produz C&T. Mas em qual ritmo? Afinal, são áreas que experimentaram um processo histórico de subdesenvolvimento e que têm sua economia baseada na agricultura, agropecuária e agronomia. A população recebe as informações de interesse público no âmbito da produção científica dos locais onde moram? De que forma estes conhecimentos são noticiados? Eles são acessíveis e de fácil entendimento por qualquer receptor da informação? E, ainda além, eles atingem

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os objetivos e funções que o jornalismo científico se propõe com o intuito de democratizar o conhecimento? O Jornalismo Científico tem um papel além do que apenas o de informar leigos sobre assuntos que envolvem o conhecimento de áreas específicas, as quais têm linguagem e objetivos próprios, tem a função social de levar o conhecimento à população e, através de uma linguagem entendível pelas pessoas, levando em consideração as identidades culturais e individuais de cada um (HALL, 2005), proporcionar uma aprendizagem sobre o assunto abordado, logo, educar o receptor (BUENO, 1988; 2007; HERNANDO, 2005), com o claro propósito de ampliar a possibilidade de participação cidadã na discussão de temas relacionados à temática. Manuel Calvo Hernando (1977 apud BUENO, 1988) atribui seis funções específicas ao jornalismo científico: 1) a função informativa, que se relaciona à divulgação de fatos e informações, apresentando ao leitor as descobertas e novidades científicas; 2) a educativa, com a intenção de formar uma opinião pública a partir da oferta de informação crítica; 3) a social, que contextualiza a informação, incorporando debates sobre o assunto; 4) a cultural, a qual valoriza as questões culturais da informação; 5) a econômica, a qual relaciona, criticamente, o desenvolvimento da ciência ao setor produtivo; e 6) a político-ideológica, que analisa com criticidade, quem produz ciência e como o conhecimento científico está sendo aplicado na sociedade. Além disso, Calvo Hernando também apresenta cinco objetivos fundamentais do jornalismo científico: 1) criação de uma consciência nacional e continental de apoio e estímulo à investigação científica e tecnológica; 2) divulgação dos novos conhecimentos e técnicas, possibilitando o seu desfrute pela população; 3) preocupação com o sistema educacional que fornece recursos humanos qualificados para desempenhar a tarefa de investigação; 4) estabelecimento de uma infra-estrutura de comunicação e consideração das novas tecnologias e conhecimentos como bens culturais, medidas que objetivam democratizar o acesso a posse da ciência e da tecnologia e 5) incremento da comunicação entre investigadores (1977 apud BUENO, 1988, p. 26)

A C&T, por conta disso, torna-se um complexo material de pauta, haja vista a densa produção de reportagens, já que a função do jornalismo científico é informar leigos sobre assuntos que envolvem o conhecimento de áreas específicas, as quais têm linguagem e objetivos próprios, além de ter funções e objetivos singulares na produção 6

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noticiosa. A partir disso, podemos nos apoiar na diferenciação entre Comunicação Científica e Divulgação Científica, sugerida por Bueno: A comunicação científica não precisa fazer concessões em termos de decodificação do discurso especializado porque, implicitamente, acredita que seu público compartilha os mesmos conceitos e que o jargão técnico constitui patrimônio comum (...). A divulgação científica está tipificada por um panorama bem diverso. O público leigo, em geral, não é alfabetizado cientificamente e, portanto, vê como ruído – o que compromete drasticamente o processo de compreensão da C&T – qualquer termo técnico ou mesmo se enreda em conceitos que implicam alguma complexidade. Da mesma forma, sente dificuldade para acompanhar determinados temas ou assuntos, simplesmente porque eles não se situam em seu mundo particular e, por isto, não consegue estabelecer sua relação com a realidade específica em que se insere (2010, p. 3).

Logo, percebemos que para se fazer jornalismo científico é necessário fazer com que o texto converse com o seu público, utilizando uma linguagem acessível, ou seja, de fácil entendimento por aqueles que não estão habituados com as linguagens específicas de cada área científica. A partir desse painel teórico e ideal sobre a produção de textos de divulgação científica, apresentamos, a seguir, os resultados iniciais da pesquisa, referente ao jornal Folha de São Borja, da cidade de São Borja, fronteira com Santo Tomé Argentina. Durante o período de 11 anos foram encontradas no 436 textos relacionados à temática da C&T no periódico.

4. Resultados O gráfico da página seguinte (Figura 1) expõe, de forma sistematizada, a organização dos 436 textos publicados em 290 edições da Folha de São Borja. Como podemos observar no gráfico acima, os maiores índices de casos ocorreram nos anos de 2002, 2008, 2009 e 2010. Em 2002, especificamente, houve um aumento de notícias sobre Ciência e Tecnologia em virtude das colunas semanais de saúde e agricultura que o jornal possuía na época. Percebe-se através do gráfico, que a quantidade de notícias de C&T aumentaram consideravelmente nos últimos três anos do recorte que compreende a pesquisa.

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(Figura 1 - Distribuição de itens pelo período de interesse)

Esses dados que concernem à quantidade serão relacionados, a seguir, à incidência das áreas de conhecimento analisadas a cada ano. Para realizar a análise dos dados as grandes áreas de conhecimento foram divididas nas seguintes categorias: Ciências Agrárias; Ciências da Saúde; Ciências Biológicas; Ciências Sociais Aplicadas; Ciências Humanas; Ciências Exatas e da Terra; Engenharias; e Letras, Linguística e Artes e Interdisciplinar, quando o texto retrata duas ou mais áreas científicas. A divisão por áreas científicas foi embasada na Tabela de áreas do conhecimento, produzida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), da Secretaria Especial de Desenvolvimento Industrial do Ministério do Desenvolvimento Industrial (SDI/MD), da Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (Sesu/MEC) e da Secretaria de Indústria e Comércio, Ciência e Tecnologia 8

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do Estado de São Paulo. A tabela tem o objetivo de possibilitar uma sistematização ágil e funcional às instituições e indivíduos que trabalham com C&T.

(Figura 2 - Presença de áreas de conhecimento [casos X ano])

Através da ilustração acima (Figura 2), fica evidente que a grande área de Ciências Agrárias se destaca em quase todos os anos, assim como Ciências da Saúde, as quais chegam a representar mais de 90% dos gráficos dos referidos anos. Justifica-se que a primeira área tenha uma incidência consideravelmente maior, pois a cidade de São Borja tem sua economia voltada para a agricultura, enquanto a área da saúde tem grande representatividade pelas colunas de saúde, assinadas por médicos da cidade, nas quais eles prescreviam orientações médicas aos leitores. No caso de 2009, especificamente, houve epidemias de leishmaniose e a gripe H1N1, o que também justifica um aumento no número de notícias relacionadas a esta área neste ano.

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A partir dos dados apresentados graficamente, é possível perceber que os anos de 2000 e 2001, além de apresentarem uma quantidade baixa de notícias de C&T, abordam poucas áreas de conhecimento, com destaque apenas para as Ciências Agrárias e da Saúde. No período de 2002 a 2004 há um aumento expressivo na quantidade de notícias de C&T. As áreas de agrárias e saúde continuam se destacando, porém também é possível perceber uma diversidade maior das áreas de conhecimento. Agrárias e Saúde, que em 2000 e 2001 ocupavam mais de 90% dos gráficos, passam a ocupar cerca 70% entre 2002 e 2005. Nesse período a área de Ciências Biológicas começa a se destacar consideravelmente em decorrência da tendência de um colunista que falava sobre apicultura (estudos feitos a partir da criação de abelhas) abordar seus textos enfocando em questões biológicas. No ano de 2002 são encontradas as primeiras notícias com mais de uma área científica abordada, representada na pesquisa pela área Interdisciplinar. Depois de 2002 a área Interdisciplinar incide em todos os anos. Acreditamos que a implantação da Unipampa na cidade no ano de 2006 foi o principal motivo pelo qual a temática C&T foi pouco abordada no periódico, levando em consideração que o surgimento da instituição federal de ensino superior no município era a principal pauta noticiada. É perceptível que a inserção da universidade causou uma mudança na representação das áreas científicas no jornal. A partir disso há uma maior diversidade no que é noticiado sobre ciência e tecnologia. Com a instituição na cidade está havendo um desenvolvimento social e econômico, os estudantes que aqui chegam se envolvem em projetos que os insere na sociedade local. Isto também interfere nos veículos de comunicação locais, tendo em vista que a quantidade de notícias sobre C&T aumentaram significativamente a partir de 2008. Além disso, começam a surgir notícias sobre áreas da ciência que antes não ganhavam destaque, como a área de Letras, Linguística e Artes. A área de Ciências Sociais Aplicadas toma um espaço maior dos gráficos a partir de 2006. Esse aumento está ligado ao fato de que o campus da Unipampa implantado em São Borja é o das Ciências Sociais (que atualmente oferece os cursos de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Relações Públicas, Serviço Social, Ciência Política, e Ciências Humanas). Com isso, percebemos que a instalação de uma universidade federal na cidade fez evidenciar uma área da ciência que não tinha destaque no jornal. Notícias a respeito 10

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de pesquisas e seminários científicos realizados na Unipampa passam a ocupar o espaço do jornal da cidade. Dessa forma, desde 2006 a área de Ciências Sociais Aplicadas mantém um número estável e representativo de notícias, uma média de 8% das notícias de C&T são dessa área. A partir de 2006 as duas áreas com maior número de notícias, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias, passam a representar em média 40% da quantidade de notícias sobre essas áreas. O que se constata a partir dessas considerações é que os gráficos começam a ter um espaço mais equilibrado entre as áreas em relação aos anos anteriores a 2005. A partir de 2008 a quantidade de notícias de C&T aumentam expressivamente. Só nesses três anos foram mapeadas 226 notícias de C&T no jornal Folha de São Borja. Esse cenário se justifica com a criação da Assessoria de Comunicação Social da Unipampa, que atende aos 10 campi da universidade, e está instalada em São Borja. Por estar na cidade, a proximidade com os veículos de comunicação local foi inevitável. O fato de a Assessoria divulgar os trabalhos de todos os campi contribuiu para diversidade das áreas de Ciência divulgadas na cidade e, consequentemente, publicadas no jornal Folha de São Borja. Através da análise de conteúdo feita das notícias durante a pesquisa é possível comprovar a relação direta entre a Assessoria de Comunicação Social da Unipampa e o jornal Folha de São Borja, pois a pesquisa mapeia quais as fontes das notícias sobre C&T. Com esses dados se verifica que a partir de 2008 a Assessoria de Comunicação da Unipampa é a fonte que mais aparece nos dados da pesquisa, e que, inclusive, as notícias eram publicadas no jornal tal qual se apresentavam no site da Unipampa ou eram enviadas em forma de release ao periódico. O ano de 2010 teve o maior índice de notícias sobre Ciência e Tecnologia, com 88 casos analisados. Outro fator que inferiu para esse aumento foi a implantação de outra instituição federal no município, o Instituto Federal Farroupilha ( IFFarroupilha). Além das outras instituições que aqui já estavam antes da chegada da Unipampa, a Universidade da Região da Campanha (Urcamp) e a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), que já eram fonte de informação sobre C&T. São Borja conta hoje, então, com três universidades e um Instituto. Esse sem dúvida é um dos principais fato-

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res, que aliado ao setor primário da economia e as colunas de saúde, configuram o que é notícia de C&T em São Borja.

5. Considerações A pesquisa exploratória “Quando a ciência é notícia na fronteira?", através dos dados já recolhidos na cidade de São Borja, possibilita a realização de um estudo específico dos fatores que influenciaram na presença de notícias sobre C&T na cidade, no que compreende o recorte de 2000 a 2010. Durante os 11 anos analisados, se constata uma série de fatores que interferem na produção de pautas relacionadas ao assunto em São Borja. Fatores esses que estão ligados a características locais (como o fator o predominante na economia ser relacionado à agropecuária e agricultura) e acontecimentos de âmbito regional (como o surto de leishmaniose em 2009). Mudanças na cidade também exercem influência nos conteúdos jornalísticos de C&T. Uma das mudanças mais significativas, sem dúvida, foi a instalação da universidade federal em 2006. A implantação de uma universidade é feita para que ela possa cumprir o seu papel social e educacional. A Unipampa, em São Borja, trouxe a perspectiva de uma realidade diferente para a cidade da fronteira oeste, a partir do momento em que se vislumbrou novas formas de renda e um desenvolvimento social do municipio. As modificações não ficaram só nesses dois âmbitos: percebe-se que aumentaram os números de notícias sobre C&T e áreas científicas, que antes mal tinham representatividade, hoje estão em evidência.

Referências BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BUENO, Wilson da Costa. Comunicação, Jornalismo e Meio-Ambiente. São Paulo: Majoara, 2007.

_____. Jornalismo científico no Brasil: aspectos teóricos e práticos. São Paulo: Comunicação Jornalística Editorial, 1988.

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_____. Comunicação Científica e Divulgação Científica: aproximações e rupturas conceituais. in. Informação & Informação. Londrina, v. 15, n. esp, p. 1 - 12, 2010.

CALVO HERNANDO, Manuel. Periodismo Científico y Divulgación de la Ciencia. Madrid: Acta y Cedro, 2005.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 10ed. Rio de Janeiro: Dp&a, 2005.

OLIVEIRA, Fabíola de. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.

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